1 UFSCar – Licenciatura e Bacharelado em Matemática. Questões de Estruturas Algébricas 1 Prof. João C.V. Sampaio. 3 de abril de 2002. 1. Seja A um conjunto não vazio e sejam f, g ∈ M(A), sendo M(A) o monóide das transformações de A, ou seja, o monóide das funções de A em A. (a) Mostre que se f ◦ g = IA então g é injetora e f é sobrejetora. (b) Mostre que se g é injetora então existe uma transformação ϕ ∈ M(A) que é inversa à esquerda de g, isto é, satisfazendo ϕ ◦ g = IA . (c) Mostre que se f é sobrejetora então existe uma transformação ψ ∈ M(A) que é inversa à direita de f , isto é, satisfazendo f ◦ ψ = IA . 2. Sendo N o conjunto dos números naturais, considere o monóide M(N), das transformações do conjunto N, isto é, das funções de N em N, munido da operação composição, ◦. Considere as funções f, g ∈ M(N), definidas por f (x) = x + 1 e g(x) = 0, se x = 0 x − 1, se x ≥ 1 (a) Mostre que g ◦ f = IN , e portanto f é uma transformação inversa à direita de g (e g é uma transformação inversa à esquerda de f ). (b) Verifique que f e g são transformações não invertı́veis e que, portanto, nem f possui uma transformação inversa à direita, nem g possui uma transformação inversa à esquerda. 3. Seja (A, ∗) um monóide no qual a equação a ∗ x = b tem solução, ∀a, b ∈ A. Mostre que (A, ∗) é um grupo. 4. Mostre que o conjunto constituı́do das três permutações 1 2 3 1 2 3 1 I= , σ= eτ = 1 2 3 2 3 1 3 2 3 1 2 munido da operação de composição, constitui um grupo. 5. Dadas as permutações 1 2 3 4 f1 = 3 4 2 1 5 5 e f2 = 1 2 3 4 2 5 calcule (a) f12 = f1 ◦ f1 (d) f2−1 (b) f13 = f12 ◦ f1 (e) f1 ◦ f2−1 (f) f22 (c) f14 = f13 ◦ f1 4 5 1 3 2 6. Mostre que cada uma das estruturas algébricas dadas abaixo é um grupo. Classifique cada grupo como sendo abeliano ou não. Nota. Em cada um dos itens abaixo você deverá mostrar: (1o ) que · (ou ◦) é de fato uma operação no conjunto G dado, isto é, que x ∈ G e y ∈ G ⇒ x · y (ou x ◦ y) ∈ G (2o ) que a operação definida em G é associativa e possui elemento neutro em G; (3o ) que cada elemento x ∈ G possui um elemento inverso na operação dada e que esse inverso é um elemento de G. (a) (G, ◦), sendo G = {fa,b | a, b ∈ R e a 6= 0} em que, para cada a ∈ R, a 6= 0, e cada b ∈ R, fa,b é a função R → R definida por fa,b (x) = ax + b e ◦ é a operação composição de funções. [Sugestão simplificadora: Admita, a priori, que a composição de funções é associativa]. (b) (S 1 , ·), sendo S 1 = {z ∈ C | z = cos θ + isen θ, θ ∈ R} e · é a multiplicação de números complexos. [Sugestão simplificadora: Admita, a priori, que a multiplicação de números complexos é associativa]. 7. Mostre que se a, b e c são elementos de um grupo (G, ∗), e a ∗ b = a ∗ c, então b = c. 8. Mostre que se G1 e G2 são grupos multiplicativos, então G1 × G2 , com a operação definida por (a, b) · (c, d) = (ac, bd), é um grupo. 9. Verifique, em cada um dos itens abaixo, se H é subgrupo de G. n o cos θ sen θ (a) H = −sen θ ∈ R , (G, ∗) = (GL(2, R), ·), sendo GL(2, R) o grupo θ cos θ multiplicativo das matrizes invertı́veis 2 × 2 de números reais. (b) H = {z ∈ C | |z| = 1}, (G, ∗) = (C∗, ·), sendo C∗ = C − {0} e · a multiplicação em C. (c) H = {0, 3, 6, 9, 12}, (G, ∗) = (Z15 , +). 3 10. Sendo (G, ·) um grupo de elemento neutro e. Mostre que se x2 = e, para cada x em G, então G é abeliano. [Sugestão: Note que x2 = e ⇒ x−1 = x. Tome dois elementos quaisquer a e b em G e comece escrevendo ab = (ab)−1 =. . . ] 11. Seja G um grupo finito e seja H um subconjunto não vazio de G. Mostre que H é subgrupo de G se e somente se H é fechado na operação de G. [Sugestão: Mostre que, para cada elemento a ∈ H, existe um inteiro positivo n tal que an = e.] Mostre que esta propriedade não se mantém se G é infinito. 12. Seja G um grupo finito de elemento neutro e, e seja a ∈ G, a 6= e. (a) Mostre que existe um inteiro positivo k tal que ak = e; (b) Seja n o menor dos inteiros positivos k satisfazendo ak = e. Mostre que hai = {e, a, . . . , an−1 }, e que portanto o(a) = n. [Sugestão: Mostre que, para cada inteiro m, existe um inteiro r ∈ {0, 1, . . . , n − 1} tal que am = ar , e também que se 0 ≤ i < j ≤ n − 1 então ai 6= aj ]; (c) Mostre que se as = e então n|s; (d) Mostre que as = at ⇔ s ≡ t (mod n). 13. Sejam G um grupo multiplicativo e seja H um subgrupo de G. Mostre que se x ∈ G, então xHx−1 é também um subgrupo de G, sendo xHx−1 = {xhx−1 | h ∈ H}. 14. Escreva (456) ◦ (567) ◦ (671) ◦ (123) ◦ (234) ◦ (345) como produto de ciclos disjuntos. 15. Seja G = {a1 , a2, . . . , an } um grupo abeliano. Mostre que sendo x = a1 · a2 · · · an , então x2 = e. 16. Considere um polı́gono P no plano R2 . Uma simetria desse polı́gono é uma isometria f : P → P, ou seja, uma função bijetora f : P → P que preserva distâncias: se P1 e P2 são pontos quaisquer do polı́gono P, então dist(P1 , P2 ) = dist(f (P1 ), f(P2 )). Assim sendo, se f é uma simetria do polı́gono regular P, então f leva vértices em vértices, arestas em arestas, e arestas consecutivas em arestas consecutivas. Portanto, cada simetria de P pode ser representada por uma permutação α do conjunto de vértices (embora nem toda permutação dos vértices corresponda a uma simetria). Considere no plano R2 o quadrado H de centro na origem, tendo o ponto A = (1, 0) como um de seus vértices. (a) Represente as simetrias desse quadrado por permutações de seus vértices. Enumerando os vértices consecutivos, no sentido anti-horário, por 1 (vértice A), 2, 3, e 4, escreva cada simetria do quadrado como produtos de ciclos disjuntos de S4 . (b) Mostre o conjunto das simetrias do quadrado é um subgrupo do grupo S4 , considerando S4 como todas as permutações dos vértices {1, 2, 3, 4}. 4 (c) Sejam σ a rotação de Q de 90◦ no sentido anti-horário, e τ a reflexão de Q em relação à uma linha diagonal ligando os vértices 2 e 4. Verifique que σ e τ satisfazem às seguintes relações: σ 4 = τ 2 = (1); στ = τ σ −1 . (d) Mostre que o grupo de simetrias de Q é constituı́do dos seguintes elementos: (1), σ, σ 2, σ 3, τ, στ, σ 2τ, σ 3τ (e) Dê exemplos de permutações dos vértices de Q que não são simetrias. Explique porque não o são. Quantas permutações dos vértices não são simetrias de Q? (f) Escreva a reflexão de Q em torno do eixo y na forma σ i τ j , com 0 ≤ i ≤ 3 e 0 ≤ j ≤ 1. 17. Considere no plano R2 o triângulo equilátero 4, de centro na origem, tendo o ponto A = (1, 0) como um de seus vértices. Mostre que o grupo das simetrias de 4, interpretado conforme as convenções do exercı́cio anterior, é o grupo S3. 18. O teorema de Lagrange afirma que: Se (G, ∗) é um grupo finito e H é subgrupo de G então |H| divide |G|. (Para todo grupo G, |G| (= ordem de G) denota o número de elementos de G). Usando o teorema de Lagrange, mostre que se (G, ∗) é um grupo finito e |G| = p, com p primo, então (a) os únicos subgrupos de G são G e {e}. (b) G é um grupo cı́clico, isto é, existe a ∈ G tal que hai = G. 19. Mostre que todo grupo de ordem 4 é abeliano. [Sugestão: Para cada elemento a ∈ G, a 6= e, tem-se, pelo teorema de Lagrange, que o(a) | 4, logo o(a) = 2 ou 4. Considere as duas possibilidades: (1a ) existe a ∈ G tal que o(a) = 4; (2a ) ∀a ∈ G, a 6= e, tem-se o(a) = 2.] 20. Dê exemplos de dois grupos de 6 elementos, sendo um abeliano e outro não.