Arquitetura – Estudos Sócio-econômicos Prof. Charles Chelala [email protected] UNIDADE II A Formação Econômico-Social I. Os Fatores Determinantes do Nível de Vida da Sociedade As sociedades são diferentes entre si, algumas apresentam qualidade de vida de sua população superiores a outras. Estas disparidades podem ser observadas pelo aspecto econômico (quando observamos o PIB – Produto Interno Bruto, ou verificamos a quantidade de indústrias instaladas, por exemplo); pelo aspecto social (indicadores de saúde, de escolarização, de saneamento); ou ainda por aspectos culturais, tecnológicos, ambientais, etc. As formações sociais também se diferenciam no tempo. A sociedade de hoje não é igual a de um século atrás, assim como as cidades e os campos também se transformaram. Nesta primeira unidade se buscará compreender quais são os fatores determinantes da fisionomia da sociedade, ou em outras palavras, o que faz com que a sociedade esteja em determinado nível de desenvolvimento e que fatores diferenciam uma das outras. Inicialmente serão observadas duas teorias insuficientes para elucidar as causas dos formatos das sociedades. São os modelos que justificam o desenvolvimento como um fato gerado em função da geografia ou da população. I.1. Determinismo geográfico Seria o fator geográfico a causa determinante para explicar a sociedade? Vários autores acham que sim e, para isso, traçam algumas faixas no Mapa-múndi e tentam demonstrar que as sociedades mais desenvolvidas se encontram entre aquelas latitudes. Esta corrente de pensamento é denominada “determinismo geográfico”. As condições geográficas, a saber: o clima, o relevo, o solo, os recursos naturais, realmente, são muito importantes e influenciam no desenvolvimento das sociedades, favorecendo-o ou retardando-o. Entretanto, essas condições não são suficientes para explicar o processo. Evidentemente, é muito mais difícil desenvolver um país em um ambiente geográfico hostil, como uma área desertificada, por exemplo. No entanto, os avanços da técnica permitiram que Israel se estabelecesse e se tornasse um dos mais desenvolvidos países do Oriente Médio em pleno deserto. Há também o exemplo da cidade de Las Vegas nos EUA. Igualmente podem ser citados o Japão, cuja ilha é inóspita e carente de terras agriculturáveis e recursos minerais; ou a Austrália, bem distante do centro geográfico de poder no norte do globo. O Japão é a segunda maior economia do mundo e a Austrália é também um país desenvolvido. Além disso, as sociedades se desenvolvem em um ritmo muito superior às lentas transformações do meio geográfico. O mais comum é a sociedade alterar o meio ambiente como vimos nos exemplos acima, para superar os obstáculos naturais e explorá-lo com maior eficiência1. Deve se ressaltar que não se pode menosprezar o papel do ambiente geográfico para a análise de uma sociedade, mas este não é o fator decisivo. I.2. A População (fator demográfico) Este é outro aspecto muito importante nas sociedades, pois a quantidade de pessoas habitando um local, a densidade dessa população, o seu ritmo de crescimento, a sua distribuição espacial, o seu nível de formação, a quantidade de pessoas economicamente ativas2, entre outros, podem realmente facilitar ou dificultar o desenvolvimento social. É relevante destacar que, tanto a escassez quanto o excesso populacional podem trazer graves dificuldades para a sociedade. Com uma população muito reduzida podem faltar braços para o crescimento e com um excesso populacional surgem o desemprego, a violência, as condições de vida subumanas, entre outras mazelas. Entretanto, tampouco se pode afirmar que a população seja o fator determinante do nível de vida social. Como explicar o fato de o Canadá ser uma das maiores nações em extensão territorial do planeta e ter uma população similar à do Estado de São Paulo? Ou seja, um caso típico de escassez relativa de população. Ou o contrário, novamente como o exemplo o Japão, que possui em um pequeno território a expressiva população de cerca de 130 milhões de habitantes, uma das maiores densidades demográficas do planeta. Ambos os casos, Japão e Canadá são países desenvolvidos, apesar de apresentarem estruturas demográficas bem diferentes. A história tem demonstrado, como será estudado em unidades posteriores, que há um forte processo de migrações, tanto internas (mais fluidas e freqüentes), quanto externas (entre países, mais controladas e obstaculizadas) que tenta equilibrar o excesso e a escassez de habitantes. Este equilíbrio, muitas vezes, não é alcançado. 1 Os excessos dessa exploração, como é hoje bastante claro, tem levado a se buscar maneiras de utilização dos recursos disponíveis de forma a garantir a possibilidade de também serem usufruídos pelas gerações futuras. 2 PEA – População Economicamente Ativa, é um conceito usado para definir a parcela da população de determinado local em idade e em condição de trabalhar. 1 Arquitetura – Estudos Sócio-econômicos Prof. Charles Chelala [email protected] Uma vez mais, pode-se afirmar que o fator demográfico é relevante e necessário, mas nem determinante e nem suficiente para explicar o nível de desenvolvimento de uma sociedade. I.3. O Modo de Produção Se não se pode explicar a sociedade isoladamente pelo fator geográfico e nem pelo fator demográfico, talvez fosse útil tentar analisá-los em conjunto. Como se estabelece a unidade entre o homem (demografia) e o meio natural (geografia)? Através do trabalho, da produção. A história da humanidade é a história da produção das condições materiais para existência humana, desde as necessidades mais básicas, como alimentos e roupas, até as mais complexas e “supérfluas”, como as jóias e o telefone celular. A produção de bens e serviços indispensáveis à sobrevivência tem uma característica que distingue os seres humanos dos animais irracionais (que também interagem com a natureza, só que de modo intuitivo). Essa característica é que a produção humana é sempre uma atividade social, em grupo. Desde uma comunidade na idade da pedra até uma moderna fábrica de softwares, por exemplo, os seres humanos sempre produziram de forma social. Ë importante não confundir produção com o consumo, pois este pode ser individual, como quando um indivíduo se dirige a uma loja e adquire um produto qualquer. Esta é a esfera da circulação (distribuição e consumo) e não da produção. A produção é o momento decisivo, pois não se pode conceber consumo sem produção. É desta unidade dialética, entre o ser humano e o meio natural, através do trabalho para a produção dos bens e serviços demandados pela sociedade, que se pode compreender o estágio de desenvolvimento das sociedades, sua fisionomia e sua diferenciação. Mas para isso, é necessário aprofundar no conceito de “Forças Produtivas e Relações de Produção”. II. II.1. Forças Produtivas e Relações de Produção Forças Produtivas Para se produzir, em qualquer época ou estágio tecnológico, é necessário utilizar alguns componentes como a matéria prima, os instrumentos de trabalho, o próprio trabalho humano, o nível de conhecimento e experiência, os recursos naturais. É esse conjunto de elementos que se denominam “forças produtivas” ou, de acordo com outra abordagem, “fatores de produção3”. Como é fácil de se observar, essas forças produtivas não são imutáveis, estão em constante desenvolvimento e aperfeiçoamento. Dentre estes elementos, o fator mais dinâmico, que determina o estágio do desenvolvimento geral das forças produtivas, é o fator “instrumentos de produção”. Este é o componente que vai determinar o número de pessoas envolvidas e o tempo necessário para determinada produção. Por exemplo pescar com uma linha e um anzol é muito menos produtivo do que se utilizar um barco pesqueiro dotado de redes de pesca, radares, guindastes, etc. A própria divisão das eras da história é marcada pelo nível de desenvolvimento dos instrumentos de produção. A idade da pedra lascada, da pedra polida, do metal até a era da tecnologia informatizada da atualidade. Evidentemente, o aperfeiçoamento dos instrumentos, das máquinas, passa a exigir o desenvolvimento das demais forças produtivas, como por exemplo o trabalho, que tem que se qualificar para poder utilizar os novos instrumentos. Estas transformações progressivas nas forças de produção também induzem à divisão social do trabalho, onde as pessoas passam a se especializar cada vez mais em determinados setores de produção. Assim, os caçadores e pescadores se diferenciam dos agricultores e criadores, bem como os agricultores se diferenciam dos artesãos e manufatureiros. Essa divisão vai também originando progressivamente o surgimento das cidades e a diferenciação entre a vida camponesa e urbana, como será analisado em unidades posteriores. O nível de desenvolvimento das forças produtivas de determinada época ou de determinada sociedade pode informar muito sobre o seu estágio, mas também precisa de um complemento: a análise das relações de produção. II.2. Relações de Produção Como já foi visto, a produção é uma interação do ser humano com a natureza, nunca isoladamente, mas sempre em grupo. Se a produção é social, para se produzir é necessário que os seres humanos estabeleçam entre si relações de produção. 3 Uma visão corriqueira em economia costuma agrupar esses fatores em três grandes grupos; Terra, Trabalho e Capital. 2 Arquitetura – Estudos Sócio-econômicos Prof. Charles Chelala [email protected] Por “relações de produção” se entende a forma pela qual os homens se relacionam para poder produzir, através do trabalho (interação com a natureza por intermédio de instrumentos de produção), os bens materiais e os serviços que necessitam para sua sobrevivência. Estas relações podem ser de colaboração mútua, como quando os “homens da caverna” se juntavam para abater uma caça; ou pode ser de coerção, quando um grupo mais forte obriga um outro grupo a trabalhar, como nas plantações de açúcar com mão-de-obra escrava no Brasil colonial. Estas relações de produção originaram no decorrer dos tempos, algumas formas de produção típicas como: II.3. Comunidade primitiva – forma de produção baseada na cooperação entre os indivíduos, existente nos primórdios da humanidade e ainda hoje em algumas tribos indígenas menos aculturadas; Escravismo – baseada na coerção violenta de um grupo mais forte e poderoso contra outro grupo mais numeroso, porém menos desenvolvido o que o torna impotente para reagir. Existiu predominantemente na antiguidade (Império Romano, por exemplo) até o início da idade média. Foi retomado em algumas colônias, como o Brasil, no início da idade moderna e ainda hoje se encontra em lugares isolados4. Feudalismo – modo de produção baseado na servidão, segundo o qual a pessoa deve destinar parte de seu tempo (normalmente a maior parcela) ou parte de sua produção para a classe dominante. Foi hegemônico na idade média, mas ainda subsiste isoladamente, como nos “meeiros” 5. Capitalismo – relação de produção baseada no pagamento, por meio de um salário, pela utilização da força de trabalho de alguém. É o modo de produção atual, hegemônico desde a grande Revolução Francesa. A Propriedade dos Meios de Produção Com já foi visto, a humanidade precisa produzir para subsistir. Para tanto, mobiliza forças produtivas e estabelece relações sociais de produção. Desta unidade entre o nível de desenvolvimento das forças produtivas e o formato das relações de produção, pode-se identificar uma sociedade, ou melhor, uma Formação Econômico-Social. No entanto, uma questão não ficou suficientemente clara: qual a razão que faz com que alguém seja coagido a trabalhar para outra pessoa? Para se compreender, é necessário fazer uma diferenciação entre as forças produtivas, separando os “meios de produção” da “força de trabalho”. Ambos os aspectos são forças produtivas, mas possuem uma diferenciação fundamental para entender a sociedade dividida em classes sociais. Os meios de produção são aqueles fatores utilizados pelo trabalho na produção, como a matéria-prima, os recursos naturais, as ferramentas de trabalho, as máquinas, os galpões das fábricas, os transportes, a comunicação, etc. A força de trabalho é a capacidade física e intelectual do ser humano em interagir com o meio para produzir bens e serviços para a satisfação de suas necessidades. A posse, ou a propriedade dos meios de produção, irá determinar como serão as relações de produção. Assim, em uma aldeia indígena, onde os meios de produção pertencem a todos, as relações de produção serão de colaboração mútua. Já em uma cidade, onde as empresas têm proprietários, aqueles que não são donos de unidades produtivas são obrigados a vender sua força de trabalho em troca de um salário, se quiserem sobreviver. A propriedade dos meios de produção é a origem da divisão da sociedade em classes sociais. De acordo com o lugar que cada um ocupa nas relações de produção e conforme sua posse ou não dos meios de produção, a pessoa pertencerá a uma das classes existentes na sociedade. Com isso, apesar de haver duas grandes classes, uma chamada “dominante”, por possuir o meio de produção e outra chamada de “dominada”, que possui apenas a força de trabalho, não se pode simplificar a sociedade a apenas essas duas, mas compreendê-la em sua complexidade e diversas nuances existentes (camponeses, profissionais liberais, excluídos, etc). III. A Superestrutura O que já foi estudado até aqui corresponde à estrutura socioeconômica de uma sociedade, pode-se dizer, sua base produtiva. Mas a sociedade não se resume a esta base. Há alguns outros elementos que a compõem, como os governos, as leis, os organismos internacionais, a polícia, etc. 4 Ver as constantes denúncias de trabalho escravo em fazendas do sul do Pará, por exemplo. Acordo muito usado por agricultores familiares, que ocorre quando, por exemplo, se entrega a alguém alguns filhotes para criar para que sejam compartilhados quando estejam em peso ideal para o abate. 5 3 Arquitetura – Estudos Sócio-econômicos Prof. Charles Chelala [email protected] Para poder entender esta outra dimensão da sociedade, é importante rever o conceito de “ideologia”, que poderia ser definida como um conjunto de visões de mundo particulares de uma determinada classe social. Esta concepção de uma parte da sociedade, tem a pretensão se afirmar como verdadeira e válida para toda a sociedade. Quando obtém êxito nesta tarefa (o que é comum) pode-se falar que a ideologia conseguiu ser hegemônica, pois acaba sendo aceita como correta e verdadeira mesmo por aquelas classes que nada tem a ganhar com essa visão de mundo. Para afirmar sua hegemonia, a ideologia dominante se utiliza de alguns “aparelhos ideológicos”, que são bastante conhecidos como: O Estado: que é uma estrutura antiga na sociedade, existente desde a divisão do trabalho e o surgimento de classes sociais. Sua função principal é manter a “ordem”, ou seja, as relações sociais vigentes. Para isso o Estado possui o monopólio da norma (através das Leis) e o monopólio da força (polícia e exército); Educação: As escolas, as Universidades, os livros didáticos, ensinam à população que esta forma de relação social é legítima e correta, preparando as pessoas para assumirem seus postos na produção; Os meios de comunicação: também utilizam seu grande poder (cada vez maior, diga-se de passagem) para referendar a forma vigente de sociedade, retratando-a de maneira a demonstrá-la como a única possível, que deve ser aceita por todos; Os partidos políticos: que disputam entre si o domínio do poder estatal, sem sair dos marcos bem definidos dos pleitos eleitorais6 e a manutenção da ordem social; A cultura, a religião, as ciências, etc, quecumprem também, cada uma de acordo com suas características, funções semelhantes de legitimação da ordem vigente. O papel principal desta superestrutura é legitimar as relações de produção vigentes, ou seja, manter o status quo. Estas instituições, organismos, leis, idéias, propagandas, interagem diretamente na sociedade fortalecendo as relações de classe e atuando para manter a ordem. Mas nem sempre é assim, como será visto a seguir. IV. Formação Econômico-Social Todos os elementos estudados até aqui compõem o se define como Formação Econômico-Social, que poderia ser sucintamente resumida assim: A interação entre as Forças Produtivas e as Relações de Produção constituem a estrutura básica (econômica) da sociedade. Sobre esta estrutura ergue-se uma “superestrutura” ideológica (legal, institucional) para legitimá-la e fortalecê-la, também interagindo intensamente na base sócio-econômica. É importante ressaltar que as fronteiras entre a estrutura e a superestrutura não são bem demarcadas. Elas confundem-se, pois o processo é dinâmico e dialético. O gráfico a seguir ilustra uma Formação Econômico-Social em fase de normalidade. Gráfico 1: A Formação Econômico-social A IV.1 Fase de Normalidade A Superestrutura Base Econômica Real Relações de Produção F. Produtivas F. Produtivas Meios de Produção Força de Trabalho Terra, Operários, Máquinas, Servos, Ferramentas, Escravos Fábricas, 6 Há algumas exceções de partidos políticos que realmente tentam subverter a ordem vigente, mas essas são tão raras que só fazem Matérias confirmar a regra. Primas 4 Arquitetura – Estudos Sócio-econômicos Prof. Charles Chelala [email protected] ATransformação da Formação Econômico-Social Como já dizia Cazuza, “o tempo não pára”. As forças produtivas nunca param de se desenvolver, em especial por seu elemento mais dinâmico: os instrumentos de produção. Os seres humanos têm sempre novas necessidades, que se ampliam continuamente, o que leva as empresas a produzirem sempre mais e de melhor forma, na busca do atendimento a esta demanda. Este processo de desenvolvimento das Forças Produtivas, em determinado momento, passa a não “caber” mais nas Relações de Produção envelhecidas, momento em que são exigidas novas formas de se relacionar no processo produtivo. Alguns exemplos podem ser citados. O desenvolvimento das técnicas de navegação (bússola, astrolábio, caravela) ampliaram enormemente a disponibilidade de mercadorias e incrementaram o comércio na Europa feudal. O feudalismo mantinha as pessoas presas à propriedade rural e distante das cidades, pois os feudos eram praticamente autônomos entre si. No entanto, o crescimento do comércio exigia o crescimento urbano e isto atraía os servos para as cidades. Esta contradição acirrou-se e acabou por destruir a relação de produção feudal, substituindo-a por relações de produção assalariadas (capitalistas). A tese também pode ser demonstrada quando a maior parte da produção de bens (com exceção da agricultura) era realizada por artesãos isolados. Por exemplo, os tecidos eram produzidos por teares manuais. A evolução deste instrumento de produção, o tear, que passou a ser mecânico, possibilitou a reunião de vários artesãos num único espaço – a fábrica embrionária, o que fez com estes trabalhadores se tornassem operários assalariados e não mais artesãos, ou seja, uma nova relação de produção. A transformação da estrutura econômico-social abala toda a superestrutura, que acaba por desmoronar e ceder lugar a uma nova. Isto ocorre porque as leis, as instituições, o aparato ideológico, etc, deixam de ser estímulos e passa a ser entraves ao desenvolvimento das forças produtivas e da instituição de novas relações de produção. Lembrem-se que a superestrutura surge como maneira de legitimar uma relação social, mas isso só ocorre até um determinado tempo. Quando as instituições “caducam”, elas acabam sendo transformadas impiedosamente. A história está repleta de exemplos, como no caso do surgimento do modo de produção capitalista: O Estado absolutista, do monarca soberano, cedeu lugar à república e à Constituição. A educação, um privilégio dos nobres, passa a ser massificada, pois os operários que manejam máquinas necessitam de um saber mínimo; a religião, que considerava que o lucro e a usura eram pecado, passa por profundas transformações, como a reforma protestante e a própria evolução da Igreja Católica, e já não mais condena aquelas práticas como inadequadas para o bom cristão. O gráfico 2 demonstra uma fase de revolução da sociedade. Gráfico 2: A Transformação da Formação Fase de Revolução Econômico-social Superestrutura F. Produtivas Meios de Produção Terra Máquinas, Ferramentas, Fábricas Matérias Primas Base Econômica Real Relações de Produção F. Produtivas Força de Trabalho Operários, Servos Escravos 5 Arquitetura – Estudos Sócio-econômicos Prof. Charles Chelala [email protected] Em seu célebre prefácio à obra “Contribuição à Crítica da Economia Política”, o filósofo alemão Karl Marx sintetiza sua visão das Formações Econômico-Sociais: “Na produção social de sua subsistência, os homens estabelecem determinadas relações necessárias entre si, que são independentes de sua vontade; relações de produção, que correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento de suas forças produtivas, materiais. “O conjunto dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas de consciência social determinadas. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual, em geral. Não é consciência dos homens que determina seu ser, mas, pelo contrário, é o seu ser social que determina a consciência. Num certo estágio de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, com o que não são senão a expressão jurídica disso, com as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam movido até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas que eram, essas relações tornam-se seus entraves. Abre-se então uma época de revolução social. A transformação da base econômica revoluciona, mais ou menos rapidamente, toda a enorme superestrutura. Quando se estuda tais revoluções, é preciso distinguir sempre entre as transformações materiais ocorridas nas condições econômicas de produção – que podem ser verificadas com o rigor próprio das ciências naturais – e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os homens tomam consciência desse conflito e lutam por resolvê-lo. “Assim como não se pode julgar um indivíduo pela idéia que ele faz de si mesmo, também não se pode julgar uma tal época de revoluções pela consciência que ela tem de si mesma. Pelo contrário, é preciso explicar essa consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela pode suportar e nunca aparecem novas relações superiores de produção antes que as condições materiais de sua existência tenham amadurecido no ventre da sociedade antiga.” 7 V. Bibliografia de Aprofundamento BESSE, Guy & CAVEING, Maurice – Princípios Fundamentais de Filosofia. Ed. Hemus. São Paulo. S/D HUBERMAN, Léo - História da Riqueza do Homem – Ed. LTC. Rio de Janeiro.1986 MARX, Karl. O Capital. Livro I Vol I e II – Bertrand Brasil. Rio de Janeiro 1988. MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política In Obras Escogidas de Marx y Engels Tomo I. Editorial Ayuso. Madrid – 1975 SANTOS, Theotônio dos – Forças Produtivas e Relações de Produção. Ed. Vozes. Petrópolis. 1986 SINGER, P. Capitalismo, sua evolução, sua lógica e sua dinâmica. São Paulo. Contexto, 2000. 7 Marx, Karl. In Obras Escogidas de Marx y Engels Tomo I. Editorial Ayuso. Madrid - 1975 6