INTRODUÇÃO

Propaganda
INTRODUÇÃO
Tabela 02: Valores de pK e H de resíduos de aminoácidos ionizáveis
Grupo
Ácido
Base
Ácido Aspártico
Ácido Glutâmico
Histidina
-N terminal
Cisteína
Tirosina
Lisina
-C terminal
pK médio
H(kcal/mol)
3,51,2
0  1,5
4,20,9
0 ± 1,5
6,61,0
+6,9 – 7,5
7,70,5
+10 – 13
6,82,7
+6,5 – 7,0
10,31,2
+6,0
10,51,1
+10 – 12
3,30,8
0 ± 1,5
Adaptado de [46, 47]
Deve-se levar em consideração que para a determinação dos valores
de pKa, é recomendável que o substrato usado não tenha nenhuma ionização
significante no intervalo de pH analisado [20].
A definição da dependência do pH na catálise enzimática é também
importante para prover informações da região do perfil de pH onde a enzima
está operando com eficiência ótima e que não há eventos de dissociação.
Esta região também é importante para estudos de efeito isotópico do solvente
de deutério ou do efeito de inibidores análogos do estado de transição [20].
A dependência do pH de uma enzima pode ser obtida pela observação
da catálise de um determinado substrato e os valores das constantes dos
51
INTRODUÇÃO
parâmetros cinéticos obtidos são plotados em uma curva de acordo com a
equação mais adequada, ou seja, a atividade de uma enzima pode depender
de um ou mais grupos ionizáveis [24, 45]. Por exemplo:
k ( Limit )10 pH  pKa1
k
102 pH  pKa1 pKa 2
A equação apresentada se encaixa com o modelo de curva de pH no
qual a atividade da enzima depende de dois grupos ionizáveis (dois valores
de pKa obtidos), onde k(Limit) refere-se ao valor da constante catalítica
máxima independente do pH e k1 e k2 são as constantes de dissociação dos
componentes catalíticos nos limbos ácidos e básicos respectivamente.
Relative activity
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
4
5
6
7
8
pH
9
10
11
Figura 17: Esquema de uma curva de pH com dois grupos ionizáveis.
52
INTRODUÇÃO
1.7 EFEITO ISOTÓPICO CINÉTICO DO SOLVENTE (Solvent Kinetic
Isotopic Effect –SKIE)
Em muitos casos, a relação entre as constantes cinéticas de uma
reação é influenciada pela troca de isótopos tanto de um átomo do solvente
quanto de um reagente. Tal efeito é chamado efeito isotópico cinético do
solvente, que pode ocorrer, por exemplo, quando o solvente água (HOH/H2O)
é trocado por óxido de deutério (DOD/D2O).
A introdução de átomos de deutério no lugar de prótons nos sítios de
hidrogênio da água e sua subsequente substituição em resíduos de enzimas e
substratos produzem efeitos no comportamento cinético e nas constantes de
equilíbrio associadas à reação enzimática. Há muitos estudos envolvendo
proteases e outras enzimas baseados neste fenômeno, encontrando-se os
princípios teóricos e a dedução do modelo matemático na revisão de Schowen
e Schowen, 1982 [48].
Os efeitos isotópico do solvente são obtidos comparando-se a relação
entre as constantes cinéticas de uma reação em água (HOH) e em óxido de
deutério (DOD). Eles são geralmente resultantes da transferência de próton
entre átomos eletronegativos nas etapas de formação e quebra entre os
átomos mais pesados na reação e fornecem dados importantes para o estudo
dos mecanismos de reação envolvidos.
A característica mais imediata
observada no efeito isotópico do solvente é a sua direção: se a velocidade de
reação observada é maior em HOH ou em DOD.
Simplificando, quando um próton é transferido de ou para um átomo
pesado, tal como carbono, oxigênio ou nitrogênio, o efeito isotópico é
53
INTRODUÇÃO
creditado principalmente à diferença na energia vibracional da ligação átomo
pesado-hidrogênio (X-H) e entre a energia da ligação átomo pesado-deutério
(X-D). Como a frequência de vibração é menor entre um átomo de massa
maior, a energia da ligação X-D é menor do que uma ligação X-H. Uma vez
que há mais energia vibracional na ligação X-H, menos trabalho é necessário
para quebrá-la.
O efeito isotópico é então determinado através destas
diferenças de energia, que são perdidas na formação do estado de transição
enquanto o átomo de hidrogênio ou deutério move em direção ao seu aceptor.
Assim,
quando
um
núcleo
isotópico
apresenta
menor
ligação
e
consequentemente menor restrição no estado de transição do que no estado
reagente, o isótopo mais leve vai reagir mais rápido que o pesado [49] de tal
forma que um efeito é classificado como “normal” quando V HOH/VDOD > 1 e
“inverso” quando esse valor é menor que 1, indicando a retenção dos
hidrogênios no estado de transição.
No caso de enzimas proteolíticas, diferentes comportamentos são
esperados dependendo do tipo de mecanismo catalítico e resíduos envolvidos.
Todavia a relação VHOH/VDOD não indica o número de sítios envolvidos na
reação analisada, onde cada efeito pode ser resultado de um ou vários sítios
contribuindo para o efeito global observado. Para essa distinção, o efeito do
solvente isotópico entre seus componentes de diferentes sítios nos estados de
transição e reagente, pode ser realizado através de estudos cinéticos do efeito
do solvente isotópico em uma série de misturas de HOH e DOD na
metodologia denominada Inventário de Prótons.
O
Inventário
de
Prótons
é
baseado
na
distinção
dos
sítios
hidrogeniônicos em sítios  e Z. Sítios  constituem elementos estruturais da
54
INTRODUÇÃO
própria enzima, de tal forma que o potencial de ligação do hidrogênio difere
substancialmente do potencial em um sítio do solvente, sendo substancial a
sua contribuição para o efeito total. Os sítios hidrogeniônicos em moléculas
de água ou ainda na proteína, nos quais o potencial de ligação do hidrogênio
é muito próximo ao do solvente são denominados sítios Z. Neste caso, como
o efeito isotópico individual é baixo, sua contribuição só é mensurada quando
o efeito agregado torna-se significante, podendo ainda ser interpretado como
reorganização do solvente durante o processo [50].
Os parâmetros cinéticos são expressos como kn(n) funções da fração de
deutério n presente no solvente isotópico, e testados nos diversos modelos
teóricos de reação (ver quadro I) derivados da equação geral (I) permitindo a
obtenção de informações sobre o número de sítios de hidrogênio contribuintes
para o efeito global e ainda sobre a magnitude dos efeitos isotópicos
individuais ou fator de fracionamento.
(I)
N
Fração de Deutério no solvente
Vn
Velocidade observada na fração n de deutério
V0
Velocidade observada em água
TS
Estado de Transição
RS
Estado Reagente
T
Fator de Fracionamento do Estado de Transição
R
Fator de Fracionamento do Estado Reagente
O modelo mais simples é obtido quando apenas um sítio hidrogeniônico
determina todo o efeito do solvente isotópico: se o sítio está no estado de
transição, kn(n) é uma função linear; se o sítio está no estado reagente, kn-1(n)
55
INTRODUÇÃO
é linear. De forma similar, se dois sítios no estado de transição determinam o
efeito, kn(n) é uma função quadrática; caso sejam três, cúbica; etc.
Uma consideração importante na interpretação mecanicista é justamente
a correta definição da natureza da constante de velocidade analisada em cada
Inventário de Próton. Por exemplo, no caso das reações catalisadas por serino
e cisteíno peptidases, os parâmetros cinéticos kcat e kcat/KM tem os seguintes
estados de reagente e de transição:
• kcat: O estado de reagente é acil-enzima; o estado de transição é
relativo ao processo de deacilação.
• kcat/KM: O estado de reagente é definido por enzima e substrato livres; o
estado de transição é relativo ao processo de acilação.
Para a interpretação mecanicista é, portanto necessária a correta definição
da natureza da constante de velocidade analisada em cada Inventário de
Próton.
Quadro I – Modelos teóricos de reação e suas respectivas equações.
Informação Obtida
Equação
TS1
Vn = Vo (1 – n + n1)
TS1 + Sítios Z
Vn = Vo (1 – n + n1). zn
2TS1
Vn = Vo (1 – n + n1)2
2TS1 + Sítios Z
Vn = Vo (1 – n + n1)2zn
TS1 + TS2
Vn = Vo (1 – n + n1). (1 – n + n2)
TS1 + TS2 + Sítios Z
Vn = Vo (1 – n + n1). (1 – n + n2) zn
TS + RS
Vn = Vo (1 – n + n1)/ (1 – n + nR)
56
INTRODUÇÃO
1.8 SUBSTRATOS SINTÉTICOS
O estudo das atividades proteolíticas das peptidases tem sido realizado
principalmente através do uso de substratos peptídicos sintéticos, que
comparados aos substratos protéicos naturais, apresentam vantagens como
maior sensibilidade e facilidade de ensaio, permitindo ainda a variação de
aminoácidos e a análise do efeito destas substituições [11].
Os ensaios utilizados para monitorar a atividade catalítica de peptidases
com substratos sintéticos são os colorimétricos, fluorimétricos ou de radiação,
sendo que todos possuem limitações, seja devido a procedimentos onerosos,
baixa sensibilidade ou à necessidade do uso de isótopos radiativos [51].
Dentre os substratos sintéticos que permitem o monitoramento da
reação enzimática de forma contínua em aparelhos de espectrofluorimetria, os
substratos fluorogênicos empregam as aminas aromáticas tais como as 7amino-4-metilcoumarinas.
A clivagem de uma ligação amida por uma
peptidase é acompanhada por um aumento na fluorescência, monitorada no
comprimento de onda adequado. Na maioria destes tipos de substratos, o
grupo fluorescente é conjugado a um peptídeo pequeno.
Como o grupo
fluorescente clivado ocupa o sitio de especificidade S1’, os substratos são
mais úteis para peptidases cuja especificidade é predominantemente
determinada pelo lado não-linha [51]
Muitas peptidases, no entanto, requerem os lados não-linha e linha
ocupados por aminoácidos, e as enzimas não clivam eficientemente os
substratos do tipo 7-amino-4-metilcoumarina. Como alternativa, os peptídeos
FRET (Fluorescence Energy Resonance Transfer), substratos com supressão
57
INTRODUÇÃO
intramolecular de fluorescência, constituem uma ferramenta apropriada
permitindo a análise da catálise com a presença de aminoácidos no lado linha,
além de proporcionar como vantagem um método prático e rápido para a
determinação da atividade enzimática em fluídos biológicos, extrato bruto de
tecidos ou na superfície de cultura de células [52].
Nos substratos FRET, o grupo doador de fluorescência ligado a um dos
resíduos de aminoácidos do peptídeo transfere energia ao grupo aceptor de
fluorescência ligado a outro resíduo da sequência de aminoácidos seguindo o
mecanismo de ressonância descrito por Förster (1948) [53]. Este processo
ocorre toda vez que o espectro de emissão do fluoróforo se sobrepõe com o
espectro de absorção do aceptor [54].
Os peptídeos FRET exibem supressão interna de fluorescência quando
intactos, porém a clivagem de qualquer ligação peptídica entre o par
doador/aceptor libera fluorescência que pode ser detectada continuamente,
permitindo a medição quantitativa da atividade enzimática. Os mecanismos
dos substratos fluorogênicos e FRET são esquematizados a seguir:
Baixa fluorescência
380 380
nm nm
4620nm
460nm
Ponto de clivagem
Grupo f luorescente
Grupo bloqueador-
Suc/Cbz/Boc
MCA (-7-amino-4-metilcoumarina-hidrocloreto)
Peptideo
+ Protease
Hid rólise
Grupo bloqueador-
+
Grupo f luorescente
Suc/Cbz/Boc
MCA (-7-amino-4-metilcoumarina-hidrocloreto)
380 nm
460nm
Alta fluorescência
Figura 18 – Representação da catálise de substratos fluorogênicos. Adaptado de [52].
58
INTRODUÇÃO
Transferência de energia
Baixa fluorescência
320 nm
420nm
Ponto de clivagem
Grupo fluorescente
Abz:ácido ortoaminobenzóico
Gln: presença constante
– estratégia de síntese
Grupo apagador
Peptideo
EDDnp:N-[2, 4-dinitrofenil]etilenodiamino
Hidrólise
320 nm
420nm
Alta fluorescência
Figura 19 - Representação do mecanismo de supressão intramolecular da fluorescência
devido à transferência de energia dos substratos FRET Abz-peptideo-EDDnp. Adaptado de
[52].
59
INTRODUÇÃO
2. PEPTIDASES CARBOXÍLICAS INSENSÍVEIS A PEPSTATINA
Como descrito anteriormente nesta tese, existem inúmeras enzimas
proteolíticas presentes em todos os organismos e estas apresentam
diferentes tipos de mecanismos de ação, especificidade e estrutura entre
outras características.
Dentre as chamadas proteases carboxílicas ou ácidas, cuja grande
maioria atua na faixa de pH 2-6, as mais estudadas são as aspártico
peptidases e por muito tempo, acreditou-se que todas as proteases ácidas
seriam pertencentes a esta classe.
Além da presença de Asp no sítio catalítico, uma das características
das aspártico peptidases é que com exceção de algumas proteases, quase
todas as famílias de proteases pertencentes a esta classe são inibidas por
moléculas do tipo pepstatina, um hexa-peptídeo de aproximadamente 685 Da
que contém um aminoácido não usual, a estatina (Sta, (3S,4S) ácido 4-amino3-hidróxi-6-metilheptanóico) com a sequência Isovaleril-Val-Val-Sta-Ala-Sta
(pepstatina A) ou Ac-Val-Val-Sta-Ala-Sta (S-PI).
Estes peptídeos foram
isolados de espécies de bactérias Actinomicetos no início dos anos de 1970
por dois grupos de pesquisa japoneses [12, 55].
A inibição das aspártico peptidases pela pepstatina é do tipo reversível
e a faixa de inibição é de 10-8-10-12M, numa ligação firme “tight binding” entre
enzima-inibidor [11, 56]. O mecanismo de inibição pela pepstatina não está
totalmente esclarecido, porém muitos estudos que visam o desenvolvimento
de inibidores derivados da pepstatina, específicos para algumas aspártico
proteases têm sido realizados assumindo-se a hipótese de inibição por
60
INTRODUÇÃO
análogos do estado de transição, no qual estruturas estáveis semelhantes ao
estado de transição de uma reação enzimática, neste caso a estatina, se
ligariam mais fortemente à enzima do que o substrato [56].
Estas
características fazem da pepstatina um dos inibidores mais usados no estudo
de proteases, sendo seletivo para as aspártico peptidases [13].
Com a aplicação da pepstatina como inibidor de aspártico peptidases
iniciou-se
também
a
descoberta
de
novas
proteases
carboxílicas,
prospectadas principalmente em microrganismos como parte do trabalho dos
co-descobridores da pepstatina Sawao Murao e Kohei Oda [55].
Porém, para algumas destas novas proteases que apresentavam
atividade em pH ácido, quando testadas com a pepstatina não havia o efeito
inibitório, sendo estas então qualificadas como proteases carboxílicas
insensíveis à pepstatina e, devido à falta de informações, durante muitos anos
acreditou se que estas proteases seriam aspártico peptidases [2].
Há apenas uma década atrás, através de novos dados com relação à
estrutura e mecanismo catalítico é que as proteases carboxílicas passaram a
ser classificadas em dois tipos distintos: o das sensíveis à pepstatina, no qual
se encontram as aspártico peptidases e o das insensíveis à pepstatina, que
possui dois representantes, o primeiro grupo das serino peptidases
carboxílicas e o outro das glutâmico peptidases [55].
61
INTRODUÇÃO
A
B
Figura 20: (A) Estrutra da pepstatina A e (B) pepstatina complexada com pepsina. Adaptado
de [57].
2.1 Serino peptidases carboxílicas
As serino peptidases carboxílicas foram propostas como um grupo novo
de proteases em 2001.
Existem atualmente 11 proteases caracterizadas
como serino peptidases carboxílicas catalogadas no banco de dados Merops,
a maioria identificada em microrganismos: em archaeas, bactérias, fungos,
leveduras e amebas e entre os vertebrados, estas peptidases já foram
identificadas em anfíbios, peixes e mamíferos [12].
A primeira serino peptidase carboxílica foi isolada da bactéria
Pseudomonas sp.101 por Oda e colaboradores (1987) e foi inicialmente
chamada de proteinase carboxílica de Pseudomonas insensível a pepstatina
(Pseudomonas
pepstatin-insensitive
carboxyl
proteinase
-
PCP).
Posteriormente, outras enzimas com as mesmas características foram
isoladas de Xanthomonas sp. T-22 (XCP), da bactéria termofilica Bacillus novo
sp. MN-32 (KCP ou KSCP) e do Bacillus coagulans foi isolada a proteinase J4, que é resistente a etanol [58].
62
INTRODUÇÃO
Além de não apresentarem inibição por pepstatina, estas proteases
possuem
a
atividade
ótima
em
pH
ácido,
massa
molecular
de
aproximadamente 40 kDa e uma pró-região amino terminal longa constituída
de cerca de 200 resíduos de aminoácidos. Quase todas as serino peptidases
carboxílicas apresentam ainda a inibição por um inibidor chamado de
tirostatina, isolado de microrganismos, cuja estrutura química é formada pela
sequência isovaleril-tirosil-leucil-tirosinal [59].
Devido a estas características em comum, estas enzimas foram
inicialmente agrupadas como aspártico peptidases insensíveis à pepstatina na
família A7 de clã desconhecido [60]. Entretanto, esta classificação começou a
ser questionada a partir da descoberta da protease lisossomal CLN2p em
humanos, identificada também como tripeptidil peptidase I (TPP-I) por Sleat e
colaboradores em 1997, cuja mutação leva a ocorrência de uma doença
neurodegenerativa fatal, a lipofuscinose ceróide neuronal infantil tardia
clássica ou doença de Batten [61].
A peptidase carboxílica TPP-I/CLN2p apresentava características em
comum com as demais proteases de microrganismos citadas acima, porém a
primeira tentativa de classificação desta enzima foi como serino peptidase no
clã SB, que consistia apenas da família de enzimas do tipo subtilisinas (S8).
A dúvida em relação à classificação destas peptidases carboxílicas só
foi esclarecida com a obtenção das estruturas dos cristais da proteinase
carboxílica de Pseudomonas em 2001 [62] e da proteinase da bactéria
termofilica Bacillus novo em 2002 [63]. Através da resolução da estrutura
destas proteases pode se observar que elas apresentam um único domínio
63
INTRODUÇÃO
com configuração do tipo subtilisina e sítio ativo composto pela tríade Ser-GluAsp, também confirmada por mutagênese sítio dirigida [64].
A
B
Figura 21: (A) Estrutura da sedolisina na presença de inibidor.
Adaptado de [62].
(B)
Superposição dos resíduos catalíticos de CLN2p/TPP-1 (azul), kumamolisina (vermelho) e
sedolisina (laranja) sobre o modelo da CLN2p/TPP-1. A alta similaridade estrutural do centro
catalítico das três proteases ocorre pela presença e posição dos mesmos resíduos catalíticos.
Adaptado de [65].
Baseado nas informações estruturais, estas peptidases foram então
reclassificadas como serino peptidases no mesmo clã da subtilisina (clã SB),
porém em uma nova família, a S53 [59].
Após a confirmação da nova classificação, algumas destas peptidases
foram também renomeadas e a atual nomenclatura é:
 serino peptidase carboxilica de Pseudomonas sp 101 (PCP)  sedolisina
 serino peptidase carboxilica de Xanthomonas sp. T-22 (XCP)  sedolisina-B
 serino peptidase carboxilica de Bacillus novo sp.MN-32 (KCP/KSCP) kumamolisina
 serino peptidase carboxilica de Bacillus coagulans (J-4)  kumamolisina-B
 serino peptidase carboxilica de Alicyclobacillus sendaiensis (ScpA)kumamolisina-As
O nome sedolisina, dado a protease protótipo desta família é uma
alusão ao sítio catalítico destas enzimas constituído pela tríade Ser-Glu-Asp
(SED), sendo as enzimas deste grupo também conhecidas como peptidases
do tipo SEDolisinas [55]. Além das enzimas citadas acima, que foram as
64
INTRODUÇÃO
inicialmente descritas, outras SEDolisinas tem sido identificadas em fungos
como a aorsina de Aspergillus orizae, grifolisin de Grifola frondosa e
scytalidolisin de Scytalidium lignicolum e as Sed A, B, C e D de Aspergillus
fumigatus [12].
A partir do mixomiceto Physarum polycephalum, foram
isoladas a physarolisin e physarolisin II [12]. Baseados na sequências de
genes existem outras possíveis serino peptidases carboxílicas presentes em
diversos organismos [12].
Todas as SEDolisinas conhecidas até então atuam em pH ácido e
possuem especificidade diversificada.
Dentre estas proteases, algumas
apresentam atividade exopeptidásica de tripeptidil peptidase (CLN2p/TPP-I e
Sed B, C e D) [66]. As SEDolisinas apresentam ainda estrutura muito similar
entre si [55, 65].
O mecanismo catalítico proposto para as serino peptidases carboxílicas
(Ser, Glu, Asp) foi sugerido em analogia ao mecanismo catalítico da subtilisina
(Ser, His, Asp), no qual há formação de intermediário covalente, éster ou tioéster e o estado de transição e do intermediário tetraédrico é acompanhado
por separação de cargas [62, 67].
Além das evidencias estruturais, o
mecanismo catalítico das SEDolisinas foi também verificado por estudos de
modelagem computacional de mecânica quântica/ dinâmica de mecânica
molecular (QM/MM) e simulações de energia livre, provendo informações a
respeito da etapa de acilação [68, 69].
Na catálise das SEDolisinas propõe-se que a Ser287 (numeração da
sedolisina) age como nucleófilo atacando o carbono da carbonila da ligação
peptídica do substrato para formar o intermediário tetraédrico, o Glu80 age
65
INTRODUÇÃO
como base geral recebendo o próton da Ser287 e depois como ácido para
protonar a saída da porção C-terminal do substrato, a cadeia lateral do Asp84
auxiliaria estabilizando o intermediário tetraédrico da reação e na criação do
segundo intermediário. A porção N-terminal do substrato (acilada) é liberada
pelo ataque de uma molécula de água à enzima (catálise ácida específica) via
um segundo intermediário tetraédrico formado por outro resíduo ácido, Asp170
(análogo a Asn155 das subtilisinas) [59].
Complexo enzima-substrato
(ES)
Acilenzima
(AE)
Estado de transição 1
(TS1)
Intermediário tetraédrico
(TI)
Estado de transição 2
(TS2)
Figura 22: Mecanismo catalítico das sedolisinas. Adaptado de [58]
Além do potencial biotecnológico apresentado por estas proteases
devido a atuação em pH ácido e em alguns casos em altas temperaturas
como a kumamolisina (temperatura ótima ~70ºC), é importante ressaltar a
presença de uma destas enzimas, a CLN2p/TPP-I, em humanos e outros
vertebrados [2].
66
INTRODUÇÃO
A CLN2p/TPP-I está distribuída pelo corpo humano, com altos níveis de
expressão no cérebro. Embora os substratos naturais e a função biológica
desta enzima ainda sejam elusivos, sugere-se que as mutações descritas para
o gene cln2/tpp-I, que resultam em deficiência da peptidase, estão diretamente
relacionadas ao acúmulo de lipopigmentos autofluorescentes constituídos da
subunidade C do complexo mitocondrial ATP sintase (F0F1-ATPase) no
lisossomo [70-72].
Este acúmulo é uma característica patomorfológica clínica típica da
Lipofuscinose Ceroide Neuronal Infantil Tardia (Late-Infantile Neuronal Ceroid
Lipofuscinoses - LINCL), uma doença genética neurodegenerativa que é fatal
e ocorre durante a infância [73, 74]. Por outro lado, a superexpressão da
CLN2p/TPP-I assim como outras peptidases lisossomais, já foi reportada em
câncer de mama, esôfago e coloretal, sugerindo-se também uma relação da
CLN2p/TPP-I na metástase [75, 76].
A CLN2p/TPP-I possui predominantemente atividade de tripeptidil
exopeptidase, ocorrendo em pH ótimo ~5,0, catalisando a liberação de
sequências de tripeptídeos da região amino terminal dos substratos e também
uma atividade endopeptidásica fraca com pH ótimo de ~3,0 [77-79].
A
preferência de hidrólise de tripeptídeos em blocos pela CLN2p/TPP-I é
explicada através da estrutura do cristal pela presença de interações que
supostamente ocluiriam o subsítio S4 [65].
67
INTRODUÇÃO
2.2 Glutâmico peptidases
O outro grupo de proteases carboxílicas insensíveis à pepstatina é o
das glutâmico peptidases que foi estabelecido em 2004. Assim como para as
serino peptidases carboxílicas acreditava-se que as primeiras proteases desta
classe seriam do tipo aspártico peptidases [2].
A primeira glutâmico peptidase foi isolada de Scytalidium lignicolum, um
fungo decompositor de madeira em 1972 por Murao e colaboradores. Esta
enzima inicialmente chamada de scytalidopepsin B, possuía pH ótimo de
aproximadamente 3,0, levando os pesquisadores a acreditarem que esta
também pertencia à família 1A das aspártico peptidases [2, 55].
Mais tarde descobriu-se que a scytalidopepsin B apresentava
resistência à inibição pelos inibidiores pepstatina e diazoacetil-DL-norleucina
metil ester, porém era inibida por 1,2-epoxi-3-(p-nitrofenoxi) propano, além de
ser também menor (~21 kDa) que as demais aspártico peptidases da família
1A, o que causou dúvidas em relação a sua classificação [23].
Assim, a
scytalidopepsin B passou então a ser classificada numa outra família de
aspártico peptidases, família 4A do clã AX. Neste ínterim, outras peptidases
que apresentavam as mesmas características foram sendo isoladas de
diferentes fungos filamentosos por outros grupos de pesquisa e foram também
tentativamente classificadas na família 4A [2, 12, 80].
Somente anos depois da primeira tentativa de classificação destas
proteases, com a obtenção do cristal da então denominada scytalidopepsin B,
verificou-se que a estrutura e a díade catalítica formada por resíduos de Glu e
Gln eram inéditas entre as proteases, justificando a criação de um novo grupo
68
INTRODUÇÃO
[16, 81].
Assim, a atual nomenclatura da antiga scytalidopepsin B é
scytalidoglutâmico peptidase e além dela existem outras oito enzimas
pertencentes à mesma família G1, clã GA e uma peptidase pertencente à
recém-criada família G2, clã GB [12].
2.2.1 Família G1, clã GA
As glutâmico peptidases da família G1, clã GA possuem a díade
catalítica formada por ácido glutâmico Glu (E) e glutamina Gln (Q) e por isso
são também conhecidas como “EQolisinas”.
A maior parte da bibliografia
referente a estas peptidases é focada na caracterização desta nova classe
estudando-se principalmente as enzimas isoladas de Scytalidium lignicolum
(SGP) e Aspergillus niger var. macrosporus (AGP).
Até o momento, quase todas as glutâmico peptidases conhecidas foram
isoladas de espécies de fungos filamentosos do filo Ascomycota:
 Scytalidium lignicolum  scytalidoglutâmico peptidase (SGP)
 Aspergullus niger var. macrosporus  aspergiloglutâmico peptidase (AGP)
 Penicillium marneffei  PMAP-1
 Talaromyces emersonii  TGP1
 Cryphonectria parasitica  EapB
 Cryphonectria parasitica  EapC
 Sclerotinia sclerotiorum  Acp1
 Botrytis clinerea  BcACP1
 Aspergillus fumigatus  AfuGprA
Há nesta família apenas uma protease isolada de bactéria:
 Alicyclobacillus sp  PepG1
69
INTRODUÇÃO
Com exceção do fungo Talaromyces emersonii e da bactéria
Alicyclobacillus sp, os demais fungos são classificados como parasitas de
plantas ou animais, incluindo humanos.
Apesar da escassez de informações a respeito do papel das glutâmico
peptidases da família G1, sabe-se que após a infecção por Sclerotinia
sclerotiorum ocorre um aumento considerável da secreção de Acp1 durante a
fase de necrose do cotilédone do girassol, sugerindo a importância desta
protease na progressão da patogenia [82].
Rolland e colaboradores (2009) também sugerem o papel da BcACP1
ligado à patogenicidade do fungo, já que esta protease é secretada durante a
infecção de tecidos de plantas por Botrytis clinerea [83].
A proteólise de
proteínas de plantas forneceria nutrientes essenciais quando não houvesse
outra fonte disponível, relacionando-se então a expressão destas glutâmico
peptidases à fase de colonização do fungos [84].
Já a PMAP-1 é a principal peptidase ácida secretada pelo fungo
Penicillium marneffei, nativo do Sudeste Asiático, cuja infecção considerada
rara até alguns anos atrás tem se tornado mais frequente e é associada ao
aumento do número de casos de pacientes imunodebilitados vítimas da AIDS
e terapias imunossupressivas pós transplante de órgãos ou quimioterapia. O
papel da PMAP-1 na patogenicidade do fungo, todavia, ainda não foi
esclarecido [85].
A TGP1 secretada durante a fase de proliferação do fungo termofílico
Talaromyces emersonii, que além de não patogênico é de interesse
biotecnológico por secretar diversas hidrolases como xilanases e celulases no
70
INTRODUÇÃO
processamento de biomassa em combustível, têm atividade essencial no
crescimento do fungo provavelmente providenciando fonte de nitrogênio
através de degradação de matéria orgânica [86].
A última glutâmico peptidase de fungos descrita é a AfuGprA, secretada
pelo fungo Aspergillus fumigatus, ascomiceto presente no solo, que pode se
comportar como patógeno oportunista e é o principal agente causador de
aspergilose invasiva em pacientes, geralmente imunodebilitados, que
apresentam neutropenia. Os ensaios iniciais de caracterização desta protease
mostraram que apesar dela ser secretada durante a fase de proliferação do
fungo, a sua deficiência não afeta significativamente o crescimento ao
contrário do observado para TGP1 [87].
Há ainda indícios, baseados em sequências de genes, de que existam
outras glutâmico proteases que ainda não foram experimentalmente
caracterizadas em outras espécies de fungos [87-89].
Dentre as glutâmico peptidases da família G1, a única não isolada de
fungos até o momento é a PepG1, presente na bactéria termofílica ácida
Alicyclobacillus sp., que cresce em pH ácido (~4,5) e altas temperaturas
(60ºC). Os autores deste trabalho verificaram ainda com base na homologia
entre sequências, que existiriam outras cinco glutâmico peptidases em
bactérias e uma em archaea [90].
Além da importância da caracterização de uma nova classe de
peptidases, o estudo das EQolisinas apresenta potencial biotecnológico no
desenvolvimento de fungicidas para os fungos patogênicos [55].
71
INTRODUÇÃO
2.2.1.a Scytalidoglutamico peptidase (SGP)
A scytalidoglutamico peptidase (SGP), isolada do fungo Scytalidium
lignicolum na década de 1970, é a enzima protótipo desta classe e também
referida por alguns autores como eqolisina por ter sido a primeira glutâmico
peptidase a ter a estrutura e mecanismo catalítico descrito [12, 55].
A SGP é sintetizada na forma de zimogênio, consistindo de uma prépró região composta por 54 resíduos de aminoácidos e pela região madura
contendo 206 resíduos.
A enzima madura é constituída por uma cadeia
polipeptídica simples, com massa molecular de 21.969 kDa e três pontes de
dissulfeto intramoleculares. A enzima madura apresenta um predomínio de
cargas carregadas negativamente (32 Asp+Glu) sobre resíduos carregados
positivamente (2 Lys + 1Arg), o que contribui para um baixo ponto isoelétrico
(pI ~3,0) calculado para a SGP [58].
Pré-pró região
1
61
121
181
241
MKFTTAAVLSALVSAEIAFAAPGGNGFARRQARRQARAAGLKASPFRQVNAKEATVESNW
GGAILIGSDFDTVSATANVPSASGGSSAAGTAWVGIDGDTCQTAILQTGFDWYGDGTYDA
WYEWYPEVSDDFSGITISEGDSIQMSVTATSDTSGSATLENLTTGQKVSKSFSNESSGSL
CRTNAEFIIEDFEECNSNGSDCEFVPFASFSPAVEFTDCSVTSDGESVSLDDAQITQVII
NNQDVTDCSVSGTTVSCSYV
60
120
180
240
Figura 23: Sequência da scytalidoglutâmico peptidase (SGP) [G01.001 MER001320] protease
madura: 54-260 (resíduos do sítio ativo: 107 e 190 ) (Scytalidium lignicolum) (Fonte: UniProt
P15369). Adaptado de [12].
As demais EQolisinas também apresentam características comuns a
SGP quanto à presença de precursor, número de resíduos da pré-pro região,
enzima madura e tamanho aproximado, porém o número de pontes de
dissulfeto intramolecular é variável nas demais glutâmico peptidases [81].
72
INTRODUÇÃO
Figura 24: Alinhamento das sequências das glutâmico peptidases de fungos.
A numeração
dos resíduos de aminoácidos seguida é a da sequência da SGP. Adaptado de [81].
Os primeiros ensaios da atividade catalítica da SGP mostraram que
ela possuía pH ótimo 2,0 com a caseína como substrato e a hidrólise usando
como substrato a cadeia  da insulina ocorria entre
YT e em FF
(RGFFYTPKT) e para a angiotensina II entre HP (DRVYIHPFHL).
A especificidade estudada com substratos FRET mostrou a
preferência da SGP por resíduos carregados positivamente nas posições P3 e
P3’ (Arg e Lys), resíduos pequenos na posição P1’ (Ala, Gly ou Ser) e Phe,
Tyr ou His em P1 [91].
Em 2004 foi obtida a estrutura tridimensional da SGP por
cristalografia de raios-X em duas formas: somente a da enzima madura, em
sua forma nativa e da peptidase complexada com o substrato angiotensina II
(Asp-Arg-Val-Tyr-Ile-His-Pro-Phe) [16].
Um terceiro cristal da enzima
73
INTRODUÇÃO
mostrando as interações com um inibidor específico foi obtido em 2007 [16,
81].
O inibidor usado foi desenvolvido com base nos dados de
especificidade e no mecanismo catalítico proposto a partir da estrutura da
SGP obtida em 2004. Este inibidor é um peptídeo formado por AcFKF(3S,4S)-fenilstatinil-LR-NH2, que contém um grupamento de hidroxietileno
(fenil estatina - S) que mimetiza o estado tetraédrico de transição da reação de
catálise e é chamado de TA1. O inibidor se liga de forma não covalente à
enzima e apresenta forte inibição com Ki1,2X10-10M [81].
Figura 25: Estrutura química do inibidor análogo do estado de transição (TA1) contendo o
resíduo (3S,4S) fenil-estatina que ocupa os resíduos dos subsítios S1-S1´. Adaptado de [81].
A SGP apresenta estrutura terciária com configuração de um sanduíche formado por duas partes na qual cada uma consiste de sete folhas
 antiparalelas. Esta configuração de -sanduíche com uma face côncava e
outra convexa é única entre as proteases e similar à encontrada nos membros
da superfamília de lectinas/glucanases do tipo concanavalina-A, que são
proteínas funcionalmente distantes das enzimas proteolíticas [81].
Os resíduos catalíticos foram identificados como sendo o Glu 136 e
Gln53 e estão localizados na superfície côncava da folha  superior. Próximo a
estes resíduos encontra-se ainda uma molécula de água, HOH169 que estaria
envolvida na catálise [16, 81].
74
INTRODUÇÃO
A
B
Figura 26: (A) Representação da estrutura da SGP. (B) Representação das estruturas da
SGP (bege) e AGP (azul) complexadas com inibidor TA1, mostrando a similaridade entre as
duas enzimas. Adaptado de [16, 81].
Tendo como base os dados estruturais e em analogia ao mecanismo
das aspártico e metalo peptidases, o mecanismo catalítico proposto para SGP
(eqolisina) sugere que a molécula de água (HOH169), posicionada entre Glu136
e Gln53, seja ativada por uma base geral (Glu136). A molécula de água ativada
(OH-) realiza o ataque nucleofílico na face-si do átomo de carbono da
carbonila do peptídeo formando o intermediário tetraédrico através de ligação
covalente [16, 23, 81].
O resíduo Gln53 providencia a estabilização do intermediário
tetraédrico através da assistência eletrofílica pela polarização da carbonila do
peptídeo que é feita pela amida da cadeia lateral da Gln53. A interação por
ponte de hidrogênio entre a amida da Gln53 e o oxigênio da carbonila é
bifuncional e auxilia na formação do intermediário tetraédrico promovendo a
estabilização do oxianion que resulta no intermediário.
A protonação do
nitrogênio do grupo de saída seria realizada pelo Glu 136 que assumiria a
função de ácido geral nesta etapa doando próton.
75
INTRODUÇÃO
A direção do ataque nucleofílico na face-si é vista somente na família
das peptidases do tipo papaína das cisteíno peptidases, já em serino,
aspártico e metalo peptidases o ataque ocorre na face-re [16].
Figura 27: Mecanismo catalítico proposto para SGP. Adaptado de [81].
A partir das informações referentes à estrutura e mecanismo
proposto, estudos envolvendo mutações sítio-dirigidas dos resíduos catalíticos
Glu e Gln tanto para SGP (E136A, Q53A e Q53E) como para AGP
confirmaram estes resíduos como a díade catalítica destas peptidases [91,
92].
A AGP, diferente das demais glutâmico peptidases que possuem uma
única cadeia, é composta por duas cadeias: leve (39 aa) e pesada (173 aa)
não ligadas covalentemente uma à outra.
A estrutura do cristal da AGP
resolvida em 2004 mostrou-se muito semelhante à obtida para SGP, porém o
mecanismo catalítico proposto para AGP é diferente [93, 94].
76
INTRODUÇÃO
O mecanismo catalítico proposto para AGP foi baseado nos dados
estruturais e estudos da dependência do pH da enzima na catálise de alguns
substratos. Neste mecanismo, o Glu110 estaria agindo como ácido geral na
primeira etapa da catálise, doando um próton ao oxigênio da carbonila do
peptídeo e a água (HOH88) estaria já na forma ativa (OH-) e formaria então o
intermediário tetraédrico, que seria estabilizado pelos dois resíduos catalíticos
(Glu110 e Gln24).
Na última etapa, a protonação do grupo de saída seria
realizada pelo Glu110 que agiria novamente como ácido [93].
Figura 28: Mecanismo catalítico proposto para AGP. Adaptado de [93].
Os
mecanismos propostos para
SGP e
AGP mostraram-se
inconsistentes entre si, apesar da semelhança na estrutura e características
gerais das duas enzimas sendo razoável assumir que as proteases desta
família possuem o mesmo tipo de mecanismo catalítico.
77
INTRODUÇÃO
2.2.2 Família G2, clã GB
A segunda família de glutâmico peptidases foi recém-estabelecida em
2011 e possui apenas um representante até o momento. Porém, diferente das
proteases da Família G1, para esta família a díade catalítica é composta pelos
resíduos Glu e Asp [12].
A peptidase pertencente a esta família é uma proteína do bacteriófago
caudado Phi29(29) denominada “pre-neck appendage protein” envolvida na
constituição estrutural do vírus [95, 96].
No
bacteriófago
Phi29,
tailspike
(Phi29-TSP)
é
uma
proteína
homotrimérica alongada e consiste de uma estrutura tripla hélice , que é
capaz de degradar glicopolímeros da parede celular de bactérias. A tripla
hélice  também serve como determinante de especificidade da célula
hospedeira do bacteriófago [95].
A
conformação
dependentes
de
e
estruturação
chaperonas
destas
presentes
nos
proteínas
domínios
tailspike
são
C-terminais
denominadas chaperonas intramoleculares (intramolecular chaperones IMC)
ou autochaperonas.
Estas IMCs se auto liberam por atividade proteolítica
após a maturação da preproteína.
As auto chaperonas de Phi29-TSP utilizam um ácido glutâmico (Glu695)
para ativar a molécula de água, que ataca a ligação peptídica da Ser 691. No
seu estado protonado, Asp692 estaria envolvido na estabilização do
intermediário tetraédrico permitindo a hidrólise da ligação peptídica. Após a
reação de clivagem se completar, as alças voltam ao rearranjo conformacional
78
INTRODUÇÃO
que é provocado por hidrólise envolvendo ATP, que leva à liberação de IMC
do Phi29-TSP maduro [95].
Comparações estruturais e de sequências similares a chaperona
intramolecular de Phi29-TSP sugerem que IMCs poderiam também ser
identificada em outras adesinas de vírus e bactérias [95, 96].
Figura 29: (A) Phi29-TSP antes da clivagem pela chaperona intramolecular. (B) IMC de
Phi29-TSP. (C) Folhas  antiparalelas projetam-se do domínio globular dando origem a uma
nova estruturação Auto clivagem dos sítios de Phi-TSP. Adaptado de [95].
79
OBJETIVOS
OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivo principal caracterizar o
mecanismo catalítico da SGP, enzima protótipo das glutâmico peptidases,
através de estudos da dependência do pH e do efeito isotópico cinético do
solvente (SKIEs) na hidrólise do substrato sintético FRET: MCA-KLFSSK-QEDDnp, onde MCA (7-amino-4-metilcoumarina) é o grupo doador de
fluorescência e EDDnp o grupo apagador.
Segundo dados de especificidade da enzima, o subsítio S1 acomoda
igualmente bem as cadeias laterais dos aminoácidos hidrofóbicos Phe e Tyr e
do resíduo positivamente carregado His.
Os substratos MCA-KLHSSKQ-
EDDnp, MCA-KLFPSKQ-EDDnp e MCA-KLHPSKQ-EDDnp foram também
sintetizados e através da análise da dependência do pH e SKIE nos
parâmetros cinéticos, o
intuito foi entender a acomodação de diferentes
grupos de aminoácidos no subsítio S1.
Por fim, pretendeu-se verificar a especificidade de substratos contendo
o aminoácido Pro na posição P1’ comparando os parâmetros cinéticos de
hidrólise de duas séries de peptídeos FRET: Abz-KLXSSK-Q-EDDnp e AbzKLXPSK-Q-EDDnp, no qual o doador de fluorescência é o ácido ortoaminobenzoico (Abz) e X= diferentes aminoácidos.
80
ARTIGO PUBLICADO
Artigo publicado
1 Publicação: JBC (2010) vol.285, n°28: 21437–21445
Studies on the Catalytic Mechanism of a Glutamic Peptidase
Marcia Y. Kondo, Debora N. Okamoto, Jorge A. N. Santos, Maria
A. Juliano, Kohei Oda, Bindu Pillai, Michael N. G. James, Luiz
Juliano, and Iuri E. Gouvea
81
ARTIGO PUBLICADO
Descrição
Os resultados do estudo com a scytalidoglutamic peptidase (SGP),
enzima protótipo entre as glutâmico peptidases (família G1 Merops), são
apresentados no artigo a seguir.
A SGP além da díade catalítica formada por Gln53 e Glu136 e
mecanismo catalítico único, hidrolisa substratos contendo Pro na posição P´1,
evento não usual entre peptidases, devido à presença do imino grupo neste
aminoácido.
No artigo, primeiramente são demonstrados os dados da análise da
especificidade com variação na posição P1 com as séries de peptídeos FRET
Abz-KLXSSKQ-EDDnp e Abz-KLXPSKQ-EDDnp, sendo X= His e Phe como
os melhores aminoácidos em ambas as séries.
Estes resultados junto ao
perfil de pH da atividade da SGP mostraram que o subsítio S1 pode acomodar
o grupo benzil da Phe em pH 4,0 assim como o grupo positivamente
carregado imidazol da His. Foi também analisada a estrutura e estabilidade
da enzima frente à variação de pH.
Os estudos de efeitos isotópicos cinéticos do solvente e experimentos
do inventário de prótons corroboram o mecanismo proposto para glutâmico
peptidase no qual o resíduo catalítico Glu136, atuando como base geral ativa a
molécula de água que promove o ataque nucleofílico, estabelecendo um papel
fundamental nas interações do subsítio S1 na promoção da catálise.
82
ARTIGO PUBLICADO
Artigo – Mecanismo catalítico da SGP
83
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
No artigo “Studies on the Catalytic Mechanism of a Glutamic Peptidase”
foram apresentados os resultados referentes ao trabalho de caracterização do
mecanismo catalítico da enzima scytalidoglutamico peptidase (SGP) também
chamada de eqolisina.
O trabalho foi realizado a partir da colaboração com o Dr. Kohei Oda,
um dos pesquisadores pioneiros na descoberta e consolidação das peptidases
carboxílicas insensíveis ao inibidor pepstatina como um novo grupo de
proteases.
As peptidases carboxílicas insensíveis à pepstatina já vinham sendo
descritas há mais de 30 anos, porém devido à dificuldade na sua
caracterização,
elas
permaneceram
por
muito
tempo
erroneamente
classificadas como aspártico peptidases, que até então eram as únicas
proteases ácidas conhecidas.
As glutâmico peptidases foram homologadas como uma nova classe de
proteases em 2004 a partir de dados da estrutura do cristal da SGP, que
revelou uma nova configuração estrutural entre as proteases e uma díade
catalítica também inédita, composta por resíduos de ácido glutâmico (E) e
glutamina (Q). Outros dados obtidos por mutagênese dos sítios catalíticos da
SGP e da aspergiloglutamico peptidase (AGP), assim como a estrutura do
cristal desta última sustentaram as glutâmico peptidases como distintas das
demais proteases.
84
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
Referente à especificidade destas peptidases, havia pouca informação
obtida a partir de substratos naturais como a clivagem da cadeia  da insulina,
da angiotensina II, substancia P e hemoglobina.
Kataoka e colaboradores publicaram em 2005 [91] um estudo contendo
mais informações a respeito da especificidade da SGP, onde foi realizada a
varredura da preferência dos subsítios S3-S3’ utilizando substratos FRET e foi
determinado que o melhor substrato para esta enzima seria o DDap(MeNHBz)-GFKFFALRK(Dnp)-D-R-D-R, com kcat:34,8s-1, KM:0,065M e
kcat/KM:535M.s-1. Estes valores obtidos para os parâmetros cinéticos refletem
a alta eficiência catalítica da enzima, o que foi observado também nos nossos
dados quando outros substratos foram testados.
Com relação ao papel biológico das glutâmico peptidases, encontradas
principalmente em fungos filamentosos, os trabalhos relacionados à
prospecção destas enzimas sugerem que elas teriam relevância durante o
crescimento e também na patogenicidade, no caso dos fungos patogênicos.
Apesar destas informações geradas para as glutâmico peptidases,
ainda havia pouca informação referente à caracterização bioquímica do
mecanismo catalítico destas enzimas e sendo esta uma das vertentes do
laboratório do Professor Dr. Luiz Juliano Neto, iniciou-se o estudo da SGP
utilizando os substratos FRET, sintetizados pela Professora Dra. Maria
Aparecida Juliano.
Os primeiros ensaios realizados foram do comportamento da SGP
frente a diferentes pHs através de ensaios de varredura da fluorescência
intrínseca dos resíduos de triptofano (W) e de dicroísmo circular onde
85
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
mostrou-se que a conformação estrutural da enzima ativa é dependente de
pH.
A relação das condições do pH do meio representa um fator importante
para os fungos, que também são capazes de modificar o pH através da
liberação de ácidos orgânicos.
Nos trabalhos de Poussereau (2001) [82],
O’Donoghue (2008) [86], Rolland (2009) [83] e seus respectivos colaboradores
mostrou-se que a produção das eqolisinas por fungos é executada sob
condições de pH ácido do meio.
Para os ensaios da atividade da enzima, com base em informações
prévias a respeito da especificidade da SGP, foram utilizadas as bibliotecas
Abz-KLXSSK-Q-EDDnp e Abz-KLXPSK-Q-EDDnp, onde X corresponde ao
aminoácido que ocuparia a posição P1 de clivagem do substrato. Ao usar
estas bibliotecas, as questões principais eram:
1. Confirmar a especificidade obtida no trabalho de Kataoka e
colaboradores que postulavam a preferência na posição P1 tanto para
resíduos hidrofóbicos Phe ou Tyr quanto pelo resíduo hidrofílico
carregado positivamente His.
2. Estudar a especificidade da enzima com substratos contendo o
aminoácido Pro na posição P1’, considerado não usual para
peptidases.
A especificidade da SGP foi realizada com a obtenção dos parâmetros
cinéticos kcat, KM e kcat/KM e para posição P1 foi observada pouca diferença em
relação ao trabalho de especificidade anterior de Kataoka e colaboradores,
comprovando Phe, Tyr e His como os melhores substratos na posição P1.
86
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
A confirmação da hidrólise em peptídeos contendo Pro na posição P1’
também foi realizada mostrando que em comparação com a biblioteca com
Ser em P1’, a especificidade em P1 não é alterada.
a)
b)
c)
Figura 30: Ponto de clivagem do substrato Abz-KLHPSKQ-EDDnp obtido através de analise
por espectrometria de massa LCMS.
Outra questão ainda não resolvida referente às glutâmico peptidases
era a caracterização bioquímica do mecanismo catalítico destas enzimas, uma
vez que haviam dois mecanismos propostos de acordo com dados estruturais:
um para SGP, que previa que o Glu136 catalítico estaria agindo como base
ativando a molécula de água na primeira etapa da catálise assim como ocorre
para aspártico peptidases e o outro mecanismo proposto para AGP, previa
que o Glu110 catalítico estaria agindo como ácido nesta primeira etapa da
catálise, algo que seria inédito entre as proteases.
Uma vez que estas peptidases da mesma família apresentam estrutura
semelhante e mesma díade catalítica é esperado que compartilhem também o
mesmo mecanismo catalítico. A fim de estudar esta questão, optou-se por
87
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
verificar a dependência do pH na atividade catalítica da SGP, através do qual
o perfil da curva de pH e os valores de pK obtidos podem sugerir quais os
resíduos envolvidos e a forma destes quanto à protonação.
Para verificar a dependência do pH na atividade catalítica da SGP,
foram sintetizados os substratos MCA-KLFSSK-Q-EDDnp, MCA-KLFPSK-QEDDnp, MCA-KLHSSK-Q-EDDnp e MCA-KLHPSK-Q-EDDnp. A utilização da
sonda MCA (7-amino-4-metilcoumarina) no lugar do comumente usado Abz
(ácido orto-aminobenzóico) foi necessária devido aos ensaios ocorrerem em
pH ácido (2~6), que afeta a emissão de fluorescência de algumas sondas.
O peptídeo D-Dap(MeNHBz)-GFKFFALRK(Dnp)-D-R-D-R, tido como o
melhor substrato para SGP, descrito em [91], também mostrou-se inadequado
para os ensaios em pH ácido, sendo seu uso descartado nos ensaios de
caracterização do mecanismo da enzima.
MCA- =325-395 nM
fluorescencia relativa (%)
100
Ddap- =340-440
80
nM
Abz- =320-420 nM
60
40
20
0
0
2
4
6
pH
Figura 31: Titulação da fluorescência de substratos FRET em função do pH.
88
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
Com os substratos MCA-peptídeo-QEDDnp foi possível realizar
diferentes ensaios:
 Analisar a dependência do pH na atividade da SGP,
 Estudar o efeito do sal na atividade da enzima,
 Determinar os parâmetros termodinâmicos na atividade da SGP,
 Realizar estudos do efeito cinético de solvente isotópico (DOD) na
curva de pH.
Através do perfil das curvas de pH e valores de pK obtido (~3,4) para o
substrato MCA-KLFSSKQ-EDDnp foi possível inferir que o resíduo envolvido
na catálise era de fato, o ácido glutâmico e que este estaria desprotonado no
início da catálise, agindo então como base geral, corroborando o mecanismo
catalítico proposto através de dados estruturais da SGP por Fujinaga e
colaboradores [16].
Todos os demais experimentos analisados de forma conjunta
sustentaram este dado e foi mostrado ainda que a acomodação dos
aminoácidos Phe e His no subsítio S1 da enzima ocorrem de maneira distinta.
Estes dados obtidos primeiramente na forma experimental foram depois
confirmados pelos colaboradores Dra. Bindu Pillai e Dr. Michael James, que
são também os cristalógrafos responsáveis pela resolução do cristal da SGP.
A comparação das curvas de pH obtidas a partir dos parâmetros
cinéticos kcat e kcat/KM em H2O e em D2O, analisando-se o efeito isotópico
cinético do solvente (SKIE) e o inventário de prótons sugeriram quais seriam
89
DISCUSSÃO & CONCLUSÃO
as etapas limitantes da catálise dos substratos. Este tipo de estudo como já
realizado para outras proteases como a HIV-1 protease por Szelter e Polgar,
1996 [97] apesar de requerer critérios rígidos na execução dos experimentos e
análise dos dados fornece informações relevantes quanto ao mecanismo de
ação da enzima estudada e no desenvolvimento de inibidores de protease
mais eficientes.
Concluindo, o estudo mostrado nesta tese corrobora a partir de dados
experimentais o mecanismo proposto para SGP. A ratificação de um modelo
de mecanismo de catálise de uma família de peptidases através de diferentes
caracterizações é importante para consolidar os resíduos e mecanismos
catalíticos não canônicos que podem ocorrer em diversas enzimas.
90
OUTROS TRABALHOS
Outros trabalhos:
Esta seção reúne estudos realizados que não fizeram parte do tema do
projeto inicial da tese de doutorado. Será apresentada uma breve descrição
de cada tema e serão anexados os resumos dos trabalhos publicados .
91
OUTROS TRABALHOS
1– Tema: NS2B/NS3 recombinante do vírus da febre amarela
Publicação n°1: BBRC (2011), 407: 640–644
Yellow fever virus NS2B/NS3 protease: Hydrolytic Properties and
Substrate Specificity
Marcia Y. Kondo, Lilian C.G. Oliveira, Debora N. Okamoto, Marina R.T. de
Araujo, Claudia N. Duarte dos Santos, Maria A. Juliano, Luiz Juliano, Iuri E.
Gouvea
92
OUTROS TRABALHOS
Descrição
A febre amarela é uma doença causada por um arbovírus (YFV-Yellow
Fever Virus) que é também o protótipo do gênero Flavivirus (Monath TP,
2008). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no mundo
inteiro são estimados 200 000 casos de febre amarela por ano, causando
aproximadamente 30 000 mortes [98].
O vírus da febre amarela é envelopado e constituído por um genoma
RNA fita simples positivo de aproximadamente 11000 nucleotídeos, que
codifica o precursor de uma longa poliproteína de aproximadamente 350 kDa,
composta por três proteínas estruturais encontradas no vírus maduro:
C
(central), prM (precursor de membrana) e E (envelope) além de sete proteínas
não estruturais (NS), que não fazem parte da arquitetura viral (NS1, NS2A,
NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5) [99].
No presente trabalho (anexo 3.2.3a) estudamos a hidrólise de
substratos FRET que mimetizam as regiões linha e não linha dos sítios de
clivagem da poliproteína viral pela protease recombinante NS2B/NS3 do vírus
da febre amarela.
Os resultados obtidos foram comparados com aqueles
descritos para as proteases NS2B/NS3 dos vírus da Dengue e West Nile, nos
quais o motivo P2-P1’ é o principal fator associado com a diferença na
eficiência catalítica dos sítios de processamento. Para a protease NS2B/NS3
da febre amarela, apesar da presença do mesmo motivo em todas as
sequências naturais, os valores de kcat/KM variaram mais de duas ordens de
magnitude.
Baseado nos resultados descritos acima, peptídeos FRET
contendo todas as combinações possíveis de dois e três aminoácidos básicos
93
OUTROS TRABALHOS
em sequência foram analisados. Foi observado que ocorre aumento
significativo no kcat, quando se encontra Arg tanto na posição P1 ou P2, já a
hidrólise de peptídeos contendo Lys em P1 apresenta KM menor.
Nossos dados quando comparados com aqueles obtidos in vivo por
Chambers e colaboradores (1991) [100], corroboram o postulado de que
interações secundárias do substrato distantes dos sítios de clivagem são os
principais fatores associados às diferentes velocidades de hidrólise nos
substratos naturais.
94
OUTROS TRABALHOS
1. NS2B/NS3 recombinante do vírus da febre amarela
95
OUTROS TRABALHOS
2 – Tema: Enzima halofilica SR5-3
Publicação n° 2: BBA Proteins and Proteomics (2009), 1794: 367373
Kinetic analysis of salting activation of a subtilisin-like halophilic
protease
Débora N. Okamoto, Marcia Y. Kondo, Jorge A.N. Santos, Sawa Nakajima,
Kazumi Hiraga, Kohei Oda, Maria A. Juliano, Luiz Juliano, Iuri E. Gouvea
Publicação n° 3: Protein & Peptide Letters (2010), 17: 796-802
Salt Effect on Substrate Specificity of a Subtilisin-Like Halophilic
Protease
Debora N. Okamoto, Marcia Y. Kondo, Kazumi Hiraga, Maria A. Juliano, Luiz
Juliano, Iuri E. Gouvea and Kohei Oda
96
OUTROS TRABALHOS
Descrição
Enzimas halofílicas (do grego hals=sal, phil=afinidade) executam
funções idênticas aos seus símiles não halofílicos, porém apresentam
algumas propriedades bioquímicas diferentes como a exigência por altas
concentrações de sal (NaCl ou KCl) na faixa de 1-4M para manter sua
atividade, solubilidade e estabilidade além da presença de resíduos ácidos em
excesso em relação aos básicos em sua estrutura [101].
Em nosso laboratório, a subtilase extracellular SR5-3 secretada pela
bactéria Halobacillus sp., isolada de um molho de peixe Tailandês que contém
alta concentração de sal,
foi utilizada como modelo de serino peptidase
halofílica.
O primeiro trabalho (anexo 3.2.1a) apresenta informações detalhadas
sobre o efeito do sal na atividade catalítica da peptidase halofílica SR5-3
através de ensaios da enzima com Suc-AAPF-MCA e com o peptídeo FRET
Abz-AAPFSSKQ-EDDnp.
Foram também analisados o efeito do solvente
isotópico e os parâmetros termodinâmicos para ativação da hidrólise dos
mesmos substratos pela peptidase SR5-3 na presença de sais.
Os resultados obtidos corroboram o efeito de “salting out” como
responsável pelo caráter halofílico da SR5-3, e a atividade hidrolítica com
ganho de eficiência de até duas ordens de grandeza na presença de 1,5 M de
Na2SO4, sendo derivada principalmente da melhora dos processos de catálise
ou interações, dependendo da natureza e tamanho dos substratos, com uma
melhora na atividade catalítica influenciada pela presença de resíduos no lado
linha.
97
OUTROS TRABALHOS
Já no segundo trabalho (anexo 3.2.1b), o efeito do sal na espeficidade
do substrato pela peptidase halofílica SR5-3 foi estudado usando-se
substratos cromogênicos de coumarina, bem como substratos FRET
derivados da sequência “mãe” Abz-KLRSSKQ-EDDnp.
Através dos resultados obtidos, concluiu-se que a preferência da SR5-3
para os aminoácidos nas posições P3, P2, P1, P1’ ou P2’ dos substratos
FRET foi praticamente similar a subtilisina e que na presença de sais (3M
NaCl ou 1M Na2SO4), a peptidase SR5-3 apresentou kcat maiores e de KM
menores, e um kcat/KM 2-6x maiores comparados com aos substratos FRET
controles.
Concluiu-se ainda que os sais não afetam significativamente a
preferência de um resíduo de aminoácido em posições primárias (P1 e P1’),
porém eles afetam a preferência nas posições P2 e P2’. Em contraste, para
substratos menores com apenas sítios não linha, a peptidase SR5-3
apresentou um aumento de kcat/KM 20-75 vezes maior comparados ao
controle. Os resultados corroboram o postulado de que o aumento nas
interações enzima-substrato em subtilases alteram a etapa de determinação
na hidrólise peptídica.
98
OUTROS TRABALHOS
2.1 - Ativação da atividade catalítica da subtilase halofilica SR5-3 por sal
2.2. Efeito do sal na especificidade da subtilase halofilica SR5-3
99
OUTROS TRABALHOS
3 Tema: SARS-CoV 3CL.
Publicação n°4: Biol. Chem, (2010) 391:1461–1468
Increase of SARS-CoV 3CL peptidase activity due to macromolecular
crowding effects in the milieu composition
Debora N. Okamoto, Lilian C.G. Oliveira, Marcia Y. Kondo, Maria H.S. Cezari,
Zoltan Szeltner, Tunde Juhasz, Maria A. Juliano1, Laszlo Polgar, Luiz Juliano
and Iuri E. Gouvea
100
Download