- Bio Cursos

Propaganda
1
A mobilização neural como recurso fisioterapêutico no tratamento de
lombalgia em praticantes de jiu-jitsu.
Gerdeam Serafim de Araújo¹
[email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia²
Pós-graduação em Reabilitação em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em Terapia Manual –
Faculdade Cambury
Resumo
A dor lombar, responsável por 50% das disfunções musculoesqueléticas, é uma das
principais, senão a mais frequente, causa de dor, incapacitante funcional e laborativa. A
lombalgia é a definição dada a todas as categorias de dor com ou sem rigidez, que se
localizem na região inferior do dorso entre o último arco costal e a prega glútea, ocorrendo
normalmente uma linha media na região correspondente à quarta vértebra lombar e a
primeira sacral (L4-S1). Na tentativa de encontrar alternativas terapêuticas eficazes no
tratamento das dores lombares, através de estudos estabelecidos por Alf Berig, testes
clínicos de Maitland, Elvey e uma plublicação do australiano David Butler, ajudaram a
desenvolverem as técnicas de mobilização neural. A mobilização Neural pode ser
conceituada como um conjunto de técnicas que visa a restaurar o movimento e a elasticidade
do sistema nervoso. Tem sido utilizada como método de avaliação e tratamento das mais
diversas patologias que acometem o sistema nervoso e as estruturas por ele inervadas. Esta
técnica é pouco conhecida, por isso pouco utilizada no tratamento de pacientes, devendo
ser mais estudada para que seja aperfeiçoada e utilizada como técnica terapêutica. Este
trabalho consiste em uma revisão bibliográfica, tendo por objetivo levantar as eficiências
da mobilização neural como recurso fisioterapêutico no tratamento de lombalgias em
praticantes de Jiu-jitsu e seus benefícios aos atletas da arte suave (Jiu-jitsu).
Palavras chaves: Jiu-jitsu; Lombalgias; Mobilização neural
1.
Introdução
O jiu-jitsu, consiste em uma técnica de defesa pessoal que possibilita ao mais fraco defenderse e derrotar um adversário fisicamente mais forte com o mínimo de esforço. A técnica é
fundamentada em princípios biomecânicos (alavancas), composta por quedas, torções
(chaves), estrangulamentos, pressões e imobilizações. É um esporte competitivo, que exige
treinamentos intensos para a eficiência no desempenho esportivo, sendo uma exigência básica
e muito trabalhada pelos lutadores desse esporte. O jiu-jítsu foi criado na Índia em 500 A.C
por monges budistas, que devido suas convicções religiosas não podiam carregar armas e para
se defenderem de ladrões e saqueadores em suas viagens, eles desenvolveram técnicas de
combate corpo a corpo, após se disseminar por toda a Ásia, o jiu-jitsu foi ganhar forma apenas
por volta do século XV no Japão, sendo batizado de “ arte suave.” (GRACIE R:, GRACIE R.
BRAZILIAN JIU-JITSU 2001).
¹ Pós Graduação em Reabilitação em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em Terapia Manual
² Orientadora Dayana Priscila Maia Mejia
2
Por volta de 1914, a luta chegou ao Brasil por meio do professor e campeão mundial Konsei
Maeda, conhecido como Conde Koma, que em Belém do Pará passou a ensinar a Carlos
Gracie, que ao chegar no Rio de Janeiro em 1920 acompanhado por seu irmão mais novo Hélio
Gracie, fundou a primeira academia de jiu-jítsu do Brasil. Nos últimos anos pode-se observar
um crescente número de praticantes de jiu-jitsu. De fato, essa modalidade de arte marcial que
começou com o objetivo de defesa pessoal, hoje é considerada um esporte (BAFFA AP.
BARROS EA, 2002; OLIVEIRA M, GOSOY JR, MOREIRA D. 2004).
Durante a luta de jiu-jitsu, o atleta se encontra em contato com o adversário na maior parte do
tempo, e para manter essa posição necessita realizar movimentos sucessivos de pressão, o que
demonstra a importância de uma função muscular adequada para esse movimento especifico.
Apesar de existirem vários estudos sobre artes marciais, ainda são escassos os estudos com
praticantes de jiu-jitsu, a existência de dores elevadas e com frequência nessa arte marcial, dáse a importância deste estudo em um esporte em expansão com um número crescente de
praticantes em todo o mundo, supôs-se que a presença de alterações estruturais, articulares
associadas ao complexo de subluxação vertebral estejam relacionadas às queixas álgicas
expressas pelos atletas, no caso específico dos praticantes de jiu-jitsu a maioria das queixas
são dores na região lombar denominado lombalgia, geralmente relacionada ao esporte. Essas
modificações podem relacionar-se a doenças ou a esforços excessivos sobre a coluna, como
carregar peso, ou decorrente de um movimento brusco de rotação da coluna vertebral,
movimento bem comum entre os praticantes de jiu-jitsu (CARPEGGIANI, 2004; OLIVEIRA
ET AL.,2006).
2.
Lombalgia
A lombalgia é a definição dada a todas as categorias com ou sem rigidez, que se localizem na
região inferior do dorso entre o último arco costal e a prega glútea, ocorrendo normalmente na
linha média, na região correspondente à quarta e à quinta vértebra lombar (L4 – S1). A
lombalgia é uma disfunção que acomete ambos os gêneros, podendo variar com dor súbita até
dor intensa e prolongada, geralmente de curta duração, porém com padrão de recorrência, sendo
decorrente de forças excessivas, externas ou internas. São consideradas forças excessivas as
atividades repetidas como extensão e flexão e ou ainda por rotação excessiva de um segmento
corporal, já as forças internas são as que enfraquecem a função neuromusculoesquelética,
portanto consideradas excessivas ou inadequadas; (MARRAS, 2000).
De acordo com Lemos, Souza e Luz (2003), a lombalgia é uma das alterações
musculoesqueléticas mais comuns na sociedade, sendo uma das causas mais frequentes de
incapacidade funcional, 80% a 90% da população adulta sente dor lombar em algum momento
da vida, que estar comumente associada a um distúrbio mecânico crônico da coluna vertebral,
principalmente a alterações na função articular ou nos discos intervertebrais, a lombalgia
também pode ser ocasionada por processos inflamatórios degenerativos provocados por
alterações mecânicas da coluna vertebral (postura defeituosas, escoliose), malformações e
sobrecarga da musculatura lombar gerada pelo sobrepeso. Ainda que possam fazer associações
com atividades de vida diária, sociais e de trabalho, a causa mais exata para a lombalgia
mecânica ainda não foi desvendada. Pesquisas apontam possíveis condições para o
aparecimento da lombalgia entre elas: tensões musculares, alterações ligamentares, fraturas,
rompimentos do disco intervertebral e lesões miofasciais (NOURBAKESH, 2002; SANTOS,
2004).
3
Porém, um desequilíbrio entre forças musculares da região lombar, principalmente da
musculatura abdominal e dos extensores da coluna, parece ter mais ligação ao aparecimento da
lombalgia do que a fatores estruturais, com o comprimento da função dos músculos da coluna
vertebral, decorrentes de fadiga e sobrecargas que podem ser impostas sobre os elementos
passivos da coluna lombar (discos intervertebrais, cápsulas e ligamentos), promovendo a
deformação plástica dessa estrutura sensíveis à distensão, ocasionando assim, dor lombar. No
jiu-jitsu, acredita-se que as causas então ligadas principalmente a postura no momento das
rotações, flexões e extensões explosivas realizadas no decorrer da luta que, ao serem analisados
os movimentos e as posturas durante a pratica do jiu-jitsu destacou-se a coluna vertebral,
principalmente a região lombar, como a mais acometida (LASSALA, SAFADY, 2003;
BARBOSA, 2007).
Segundo Calais - Germain (2002), A anteversão pélvica ocasiona aumento no componente
ventorial de cisalhamento anterior, propocionando uma listese das vértebras da lombar baixa
(L4 e L5) e um aumento na curvatura lordótica. Concomitante a este processo, a pressão sobre
o compartimento posterior vertebral aumenta significamente, em especial sobre as articulações
intervertebrais, que não têm estrutura para comportar a demanda de força compressiva a que
fica sujeita. Tal constatação propicia o desenvolvimento de processos lesionais, tais como
desgaste precoce das estruturas infra-articulares, sobretudo da cartilagem hialina.
Cox (2002), afirma que outras causas da dor lombar podem estar relacionadas com rompimento
no anel fibroso com herniação de núcleo pulposo, história de trauma significativo, dor
relacionada ao músculo (espasmo,encurtamento ou estiramento), estenose vertebral,
degeneração da cartilagem articular, incongruência articular ou casas posturais.
Este artigo tem por objetivo geral, realizar uma revisão de literatura sobre a eficiência da
mobilização neural como recurso fisioterapêutico no tratamento de lombalgia em praticantes de
jiu-jitsu, e específico, analisar os benefícios da mobilização neural como forma de tratamento
em lombalgia e destacar as evidências científicas sobre o tratamento da lombalgia em
praticantes de jiu-jitsu através da mobilização neural, a fim de promover uma reabilitação da
melhor forma possível ao paciente com dor lombar a partir das vantagens do uso da tal terapia.
3.
Metodologia
Para realização deste estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica de livros e artigos
científicos, publicados em bases de dados como; Scielo, Bireme, PubMed e Lilacs, utilizando
as palavras-chaves: Jiu-jitsu, Lombalgia, Mobilização neural, foram explorados literaturas
publicadas nos períodos de 2000 – 2012. Após a seleção, de todo o material literário publicado
entre os anos 2000 à 2012, foram realizadas leituras explorativas e analíticas. Dentre as
publicações, foram selecionadas somente as de língua portuguesa e artigos que incluíssem
revisões bibliográficas, tratamentos ou pesquisa experimentais relacionados a lombalgias e
mobilização neural, foram excluídas literaturas que não atendiam a necessidades em relação ao
assunto do trabalho.
4.
Mobilização neural
4
Após a publicação em 1960 do histórico trabalho de Alf Berig, o conceito de mecânica do
sistema nervoso ficou bem estabelecido. Berig observou a transmissão de tensão e movimento
através do sistema nervoso durante a realização de movimentos corporais, autores como
Maitland e Elvey desenvolveram testes clínicos que colocavam tensão no trato neural, esses
testes ficaram conhecido como teste de tensão neural. Em 1991, o australiano David Butler,
reunindo essas contribuições e adicionando sua experiência clínica, publicou;
“Mobilization of the Nervous System” com ênfase à terapêutica, muitos outros pesquisadores e
terapeutas tem adicionado novos conhecimentos, em neurobiomecânica e mecanismo de dor, a
mobilização neural não tem um “criador” específico, mas ela é fruto da aquisição de novos
conhecimentos como neurobiologia, biomecânica e fisiologia do tecido neural e da aplicação
dos princípios das terapia manuais a esse tecido. Ao longo da história, o homem conseguiu
desenvolver técnicas que pudessem ser capazes de aliviar tensões na musculatura por meio de
diversas formas, agindo direta ou indiretamente no músculo. Dentre essas técnicas uma em
especial chama atenção por ser uma técnica essencialmente neural e influi no tecido muscular,
a mobilização do sistema nervoso (BUTLER DS, 2003).
Para que haja movimento os músculos têm que ser capazes de encurtar e alongar com resistência
mínima em todas as amplitudes de movimento, essa contração depende, além dos impulsos
motores pelo sistema nervoso, de três fatores, elasticidade e completa extensibilidade dos
músculos, amplitude completa das articulações e um sistema nervoso livremente móvel e
extensível. O sistema nervoso tanto central como periférico, compreende em um só sistema,
considerado contínuo como tecido eletricamente e quimicamente, portanto qualquer alteração
ocorrida em uma parte dele ocasionará repercussões em todo o sistema. Não cabe ao sistema
nervoso somente conduzir impulsos através de grandes amplitudes e complexidades de
movimento, mas também adaptar-se mecanicamente a esses movimentos retraindo e
alongando-se, podendo até mesmo limitar essas amplitudes em certas combinações de
movimentos (DAVIES, P.M, BUTLER, S.B; 2003).
De acordo com Schacklock (2005), a tensão neural adversa é definida por Butler, como uma
série de respostas mecânicas e fisiológicas anormais das estruturas do sistema nervoso quando
suas amplitudes normais de movimento e capacidade de alongamento são testadas. Quando
comparado aos outros tratamentos para desordens neuromusculares, os testes de tensão neural
são relativamente novos, pois começaram a ser reconhecidos como terapia somente a partir de
1970. Nos últimos anos fisioterapeutas têm buscado novas formas de avaliação e tratamento
voltando a sua atenção para a mobilização do sistema nervoso, que é um tecido contínuo, ou
seja, apresenta conexão com os músculos e articulações que compõe o corpo humano, tem sido
relacionado às lesões da coluna vertebral. A justificativa para tal relação é baseada no fato de
que há demonstração de que a tensão neural é maior onde os nervos se ramificam ou entram no
músculo e, assim qualquer alteração ao seu nível poderá ser transmitida a todos os outros
sistemas corporais (BUTLER, LADEIRA; 2003, CHAITOW, 2001).
Segundo Cecin (2001), a mobilização neural pode ser conceituada como um conjunto de
técnicas que tem como objetivo impor ao sistema nervoso maior tensão, mediante determinadas
posturas para que, em seguida, sejam aplicados movimentos lentos e rítmicos direcionados aos
nervos periféricos e à medula espinhal, proporcionando melhoras na condutibilidade do impulso
nervoso. As técnicas de mobilização neural, são movimentos passivos ou ativos que focam na
restauração da habilidade que o sistema nervoso possui para tolerar compressões normais,
fricções e forças de tensão associadas com o dia a dia e atividades esportivas, que em tese esses
movimentos terapêuticos podem ter um impacto positivo nos sintomas promovendo uma
5
circulação intraneural, o fluxo axoplasmatico, a viscoelasticidade conectiva do tecido neural
dentre outros, entretanto essas alegações biologicamente plausíveis não tem sido validadas.
As técnicas de mobilização neural têm sido utilizadas na recuperação de pacientes com
distúrbios musculoesqueléticos. Desde sua publicação por Maitland (1985), o slump test tem
sido utilizado como um instrumento de avaliação para a identificação de possíveis alterações
neurodinâmicas, as tensões adversas nas estruturas neurais contribuem muito para o surgimento
do quadro álgico, o músculo atua na proteção do tecido neural quando este está inflamado,
fisiologicamente o sistema nervoso responde a estresses mecânicos com variações do fluxo
sanguíneos, transporte axonal e tráfico de impulsos (YAXLEY, 2004; MARINZECK S, 2007;
HALL T, 2008).
Nos últimos anos, muitos fisioterapeutas especialistas em ortopedia, voltaram-se para o sistema
nervoso, a procura de respostas para os mecanismos subjacentes a sinais e sintomas e melhores
tratamentos. Um tratamento baseado na mobilização do sistema nervoso foi desenvolvido e
continua evoluindo, baseado em observações clínicas e pesquisa experimentais, sendo aplicada
a todas as condições que apresentam um comprometimento mecânico ou fisiológico do sistema
nervoso (MARINZECK S, 2007).
As técnicas de mobilização neural consistem em colocar tensão nos nervos periféricos
aplicando movimentos oscilatórios e / ou brevemente mantidos. É importante salientar que,
durante a aplicação dos testes de tensão neural, é necessário cautela por parte do fisioterapeuta.
Isso justifica pelo fato do sistema neural ser único, envolvendo varias estruturas corporais, deste
modo, a presença de encurtamentos musculares dos grupos envolvidos na execução dos testes,
pode interferir na aplicação e nos resultados obidos. Para isso, este deve ser aplicado de forma
precisa, a mobilização deve ser gentil, e o alongamento do nervo fragilizado deve ser evitado.
Porém, a amplitude de movimento deve ser suficiente para “ordenhar” o nervo livrando-o da
congestão (CALLIET R, 2004; CARVALHO RM, 2005; SHACKLOCK MO,2008).
5.
Tratamento das lombalgias através da mobilização neural
Visto que a mobilização neural, é uma técnica bastante utilizada em pacientes com lombalgia,
despertou-nos o interesse em verificar a sua evidência cientifica como forma de tratamento. O
tratamento da tensão adversa, através da mobilização neural, é feito partindo da posição tolerada
pelo paciente estabelecida durante o teste de slump. O slump test tornou-se o teste mais comum
para o membro inferior, o teste deve ser realizado com o paciente sentado, com as mãos no
dorso. Pede-se que o paciente flexione a coluna torácica e lombar, e logo após realize também
flexão cervical. O fisioterapeuta exerce pressão na cervical do paciente, para que esta seja
acentuada. Então o paciente realiza flexão de quadril com o joelho estendido, realizando flexão
dorsal do tornozelo, a flexão da cervical é lentamente liberada e a resposta dolorosa deve ser
cuidadosamente avaliada. Os sintomas devem ser colhidos a cada etapa e deve ser também
realizado para o outro membro, a ADM e as respostas dolorosas devem ser avaliadas. Durante
o teste, o examinador busca reproduzir sintomas patológicos, entretanto o teste impõe estresse
sobre determinados tecidos e, por esta razão certo desconforto ou dor não representa
necessariamente sintomas do problema. Realizam-se, ao final da amplitude, oscilações lentas e
consecutivas da extremidade envolvida por aproximadamente um minuto, permitindo ao
paciente um descanso de três minutos, podendo-se repetir a aplicação por mais duas vezes. Os
testes neurodinâmicos são divididos em testes para membros inferiores, tronco e membros
6
superiores, sendo que em cada teste pode-se isolar um nervo, como nos três teste para membros
superiores, ou mesmo colocar sob tensão toda a cadeia nervosa como, por exemplo, no slump
test ou teste de inclinação anterior, são usados testes isolados, sendo que se pode tensionar ainda
toda a cadeia nervosa escolhendo o Slump Test ou teste da elevação da perna estendida, SLR.
O SLR é realizado com o paciente em decúbito dorsal, posiciona-se a coluna cervical em flexão
mantida, e então eleva o membro inferior de enfoque em flexão de quadril até o limite de
tolerância do paciente. Pode-se aplicar a mobilização nesta posição abrangendo nervo ciático,
tendo tencionado toda a cadeia nervosa a nível medula ou ainda isolar nervos tibial ou fibular
incluindo posições de inversão ou eversão do pé (BUTLER, S.B, 2003; MAKOFSKY, H.W,
2006). A aplicação dos testes neurodinâmicos é contra indicada relativamente em casos de
afecção irritativas, inflamação, sinais medulares, malignidade, compressão de raízes nervosas,
neuropatia periférica e síndrome da dor regional periférica. A mobilização neural pode se
dividir em quatro categorias, (a) direta, na qual os nervos periféricos e ou a medula espinha são
colocados em tensão por movimentos oscilatórios ou brevemente mantidos, através das
articulações que compõem o trajeto nervoso; (b) indireta, em que os movimentos oscilatórios
são aplicados às estruturas adjacentes ao tecido nervoso comprometido; (c) tensionante,
mobiliza-se simplesmente aumentando e diminuindo a tensão no trato neural e (d) deslizante,
em que se mobiliza o trato neural sem provocar o aumento da tensão (MARINZECK S,2005;
BUTLER, 2003; MAKOFSKY, 2006).
A mobilização neural tem como objetivo restaurar o movimento e a elasticidade do sistema
nervoso, o que acaba por promover, portanto o retorno as suas funções normais, apesar da
técnica não atuar diretamente em músculos e fáscias, é observado ganho de amplitude de
movimento após sua utilização, a mobilização neural tem sido utilizada no tratamento das mais
diversas patologias do sistema nervoso, bem como das disfunções dos tecidos por ele inervados,
esse restabelecimento se dá através de movimentos oscilatórios e brevemente mantidos
direcionados aos nervos periféricos e da medula (OLIVEIRA HFO JUNIOR, TEIXEIRA AH;
2007).
Portanto, a mobilização neural, sendo uma técnica de terapia manual, pode ser uma alternativa
para o tratamento das lombalgias nos praticantes de jiu-jitsu, já que o uso da mão humana é o
mais antigo remédio conhecido pelo homem para reduzir o sofrimento humano, o tratamento
de desordens irritáveis do sistema nervoso apresenta um desafio para os fisioterapeutas. Nesses
casos, o tratamento deve ser iniciado com a mobilização do sistema nervoso do lado
contralateral à lesão sem causar sintomas ou agravá-los a maior amplitude de movimento
possível, aumentar progressivamente o numero de repetições, iniciar com vinte oscilações por
minuto, por três minutos inicialmente e progredindo e, aos poucos, a progressão iniciar o
tratamento ipsilateralmente. Desta forma, após os ajustes manuais os praticantes do jiu-jitsu,
apresentariam uma diminuição do quadro álgico, bem como redução de queixas
musculoesqueléticas (COPPIETERS, BUTLER; 2008).
6.
Resultados e Discussão
De acordo com Butler e Barueri (2003), A mobilização do sistema nervoso, vem sendo utilizado
para restaurar o movimento e a elasticidade do sistema nrvoso, o que promove o retorno às suas
funções normais. Portanto, a técnica parte do princípio de que um comprometimento da
mecânica / fisiologia do sistema nervoso (movimento, elasticidade, condução, fluxo
7
axoplasmático) pode resultar em outras disfunções próprias do sistema nervoso ou em estruturas
musculoesqueléticas que recebem sua inervação. As síndromes compressivas e a tensão neural
adversa são exemplos destas disfunções. O restabelecimentode sua biomecânica / fisiologia
adequada, por meio do movimento e / ou tensão, permite recuperar a extensibilidade e a função
normal do sistema nervosos, bem como das estruturas comprometidas.
Butler (2003), continua afirmando que a mobilização neural pode ser utilizada como método
diagnóstico, utilizando – se de manobras irritativas no tecido nervoso e método terapêtico, com
a finalidade de reduzir a tensão neural adversa e assim contribuir para uma melhor resolução
do quadro sintomático. O objetivo desta técnica é melhorar a neurodinâmica e restabelecer o
fluxo axoplasmático, restabelecendo a homeostasia dos tecidos nervosos. O sistema nervoso
central (SNC) e periférico (SNP) devem ser considerados como uma unidade, já que formam
um tecido continuo. Esse sistema é continuo de três maneiras: mecanicamente por meio da
transmissão de forças e movimentos pelos seus envoltórios conectivos; eletricamente, por
exemplo, quando implulso gerado no pé atinge o cérebro; quimicamente, pois os
neurotransmissores periféricos e centrais são os mesmos e existe o fluxo axoplasmático de
substância dentro dos axônios. Não há outra estrutura no corpo humano com tal conectividade.
Estresses impostos ao sistema nervoso periférico (SNP) durante os movimentos são
transmitidos para o sistema nervoso central (SNC) da mesma forma, tensão gerada no sistema
nervoso central pode ser transmitida para o sistema nervoso periférico.
Hall e Boeing (2004), diz que a mobilização neural tem sido utilizada como método de avaliação
e tratamento das mais diversas patologias que acometem o sistema nervoso e as estruturas por
ele inervadas, os autores afirmam ainda que pacientes com lombalgia tratados com mobilização
neural obtiveram uma redução importante da sintomatologia dolorosa.
Jesus (2004), aplicou a técnica de mobilização neural com oscilações lentas em pacientes com
tensão neural e verificou aumento da flexibilidade dos isquiotibiais, concluindo que a
mobilização do nervo interfere no fluxo axoplasmático, podendo ser esperada a melhora da
função neural. Assim, a melhora das atividades funcionais tem relação direta com a redução da
dor e com o aumento da flexibilidade.
Barueri e Butler (2003), falam que o sistema nervoso adapta -se à mobilidade corporal por meio
de movimentos relativos às estruturas que o envolvem. Por ser um tecido continuo, possui
propriedades elásticas, podendo encurtar -se ou alongar -se em resposta a movimentos dos
segmentos corporais. Também se adapta aos movimentos pelas suas propriedades mecâncas
(tensão), ao mesmo tempo em que realiza sua principal função; a transmissão de impulsos. A
função do sistema nervoso depende do seu estado mecânico, que por sua vez reflete e depende
de sua função. Para a união desses dois aspectos, mecânico e fisiológico, um termo foi
introduzido; neurodinâmica. O tecido neural com neurodinâmica normal implica que este
apresente suas propriedades mecânica (movimento e elasticidade) e fisiológica normais.
De acordo com Guelfi (2004), É importante ressaltar que a tensão neural ocorre em razão de
uma patologia que envolve o sistema que circunda a estrutura neural. Esses sistemas são
chamados de interfaces mecânicas e movimentam – se indepentemente do sistema nervoso.
Bertolla (2008), diz que outro fator importante é que, com o aumento da flexibilidade muscular,
as atividades de vida diária (AVDs) podem ser executadas com maior amplitude de movimento,
maior força, mais rapidamente, mais facilmente, com maior fluência e de modo ma mais eficaz.
8
Ressalta – se ainda que a falta de flexibilidade constitui um fator limitante ao desempenho das
funções diárias, sendo considerada um facilitador de lesões musculares.
Segundo Wright, Jull (2001) e Fonteque (2008), estudos prévios demonstram que a terapia
manual na coluna vertebral tem efeito hipoanalgésico para mecânica nociceptiva e um efeito
excitatório no sistema nervoso simpático. Quando se compara a utilização de mobilização
neural em relação a outros tipos de tratamento em lombalgia, pode-se dizer que, comparado o
alongamento passivo e a mobilização neural, há uma maior eficácia da mobilização neural no
ganho de amplitude de movimento do quadril em relação ao alongamento passivo. Os autores
relatam que esses resultados dos estudos, comprova que não existe alteração ortopédica sem
que haja várias estruturas envolvidas, como, neste caso, o sistema nervoso.
Confirmado esses resultados, Lopes (2010) destaca que a mobilização neural possibilitou um
aprimoramento da força antes das sessões de treinamento em comparação com o alongamento
muscular. Já no estudo de D`Agostin (2007), que verificou a flexibilidade e a graduação da dor
através da escala visual analógica (EVA) no tratamento fisioterapêutico de pacientes com hérnia
de discal (L5 – S1), com princípios do método RPG e mobilização neural, evidenciou-se uma
melhora na flexibilidade e na dor, permitindo uma amplitude maior na flexão de tronco e
quadril.
No estudo realizado por Gressik (2006), a mobilização neural promoveu melhoras significativas
na tensão adversa expressada pela melhora do quadro álgico, restabelecimento da amplitude de
movimento e do alongamento neural, portanto evidenciando que a técnica de mobilização do
sistema nervoso é eficaz em portadores de lombalgias. Os estudos de Machado e Bigolin (2010),
revelaram melhoras na execução das atividades funcionais, na flexibilidade da cadeia muscular
posterior e na redução do quadro álgico de indivíduos com dor crônica lombar o que corrobora
com as pesquisas de Silva e Ananias (2008), que obtiveram dados significantes de redução dos
valores da escala de dor dos pacientes tratados. Segundo Abbott (2001), o objetivo da
mobilização neural é restaurar ângulos em articulações com amplitude de movimento limitada
pela dor.
De acordo com Hall e Elvey (2000), a mobilização neural centra-se na hipótese de movimentos
anatômicos suaves das estruturas próximas aos elementos neurais que estão sendo
comprometidos. Isso pode ajudar os pacientes com lombalgias, liberando as aderências
perineurais e a tensão de tração, especialmente durante os treinos de jiu-jitsu e caminhadas.
Butler (2003), destacou alguns fatores que podem influenciar negativamente o resultado ideal
da mobilização neural. São eles: gravidade da lesão, local da lesão, fatores intrínsecos
relacionados ao paciente, uma interface constante, ampliação dos sintomas, expansão dos sinais,
cronicidade, ocupação, pós-cirurgia, anormalidades congênitas, doença e resposta ao
tratamento. Quanto à cronicidade, o mesmo afirmou que, quanto maior o tempo de instalação
da desordem, maior o risco de envolvimento anatômico, fisiológico e psicológico.
Segundo Dias, Aires e Weidebach (2001), não há pesquisas comparativas entre as varias
técnicas fisioterapêuticas existentes, o que dificulta aos profissionais da área saber qual técnica
utilizar, e o provável resultado sobre o quadro clínico do paciente. Nesse caso de acordo com
Bracht (2003) e Beleski (2004), é importante referir que os testes de tensão neural têm
importância fundamental na avaliação fisioterapêutica das síndromes dolorosas da coluna
lombar, e que estes testes são aplicados com o objetivo de quantificar e qualificar os desvios
físico-funcionais. Desta forma, a aplicação da tensão neural contribui para a formação de um
9
diagnóstico mais preciso e, consequentemente, influência no sucesso do tratamento da
lombalgia em praticantes de jiu-jitsu.
7.
Conclusão
A dor lombar repercute diretamente na qualidade de vida das pessoas, gerando diversos graus
de incapacidade física, apesar das poucas evidencias clínicas, a mobilização neural mostra-se
como uma técnica inovadora, que num futura próximo poderá servir como complementação de
portadores de lombalgia. A mobilização Neural tem se mostrado capaz de diminuir a dor e
melhorar a função do paciente, possibilitando a prevenção e o tratamento de pacientes com
lombalgias relacionadas ao envolvimento neural, através de avaliações utilizando os testes de
tensão neural seguidos da aplicação da técnica. Porém, com a gama diversa de terapias
disponíveis ao fisioterapeuta, é importante que pratique uma terapia efetiva, baseada em
evidências, de acordo com a avaliação clínica do paciente.
Para tratar as disfunções do sistema nervoso é necessário realizar um correto diagnóstico. Como
o sistema neural é único, a utilização da mobilização neural requer precisão do fisioterapeuta
na execução da técnica. De acordo com estudos pesquisados a mobilização neural promove
resultados positivos no tratamento das alterações do sistema nervoso, devolvendo sua
funcionalidade do ponto de vista neurodinâmico em praticantes de Jiu-jitsu. A mobilização
Neural é uma técnica manual que exige bom conhecimento de biomecânica, gerando benefícios
ao paciente, apesar de poder trazer desconforto devido à dor provocada pela tensão nervosa. O
fisioterapeuta vem desenvolvendo a técnica e está em constante busca de melhores resultados,
tanto na avaliação quanto no tratamento dos pacientes. Entretanto, o número de artigos e
publicações a respeito do tema ainda é consideravelmente escasso nas bases de dados
pesquisadas.
Por observar a evidência que demonstra a eficácia da técnica tanto na avaliação quanto no
tratamento das mais diversas patologias que acometem as raízes nervosas, há a necessidade de
serem realizadas mais pesquisas sobre o tema para que haja melhor aperfeiçoamento e validação
desta técnica, para quer o atleta tenha mais rendimento no esporte sem queixas de dores.
Referências Bibliográficas
Abbott JH. Mobilization with movement to the elbow affects shoulder range of movement in
subjects with lateral epicondylalgia. Manual therapy, 2001.
Baffa AP; Barros EA. As principais lesões no jiu-jitsu. Revista Fisioterapia Brasil, 2002.
Bracht MA. Estado comparativo entre os testes Slump e Laségue em pacientes portadores de
síndromes dolorosas da coluna lombar. Rev. Terapia Manual, 2004.
Beleski, RC. Verificação da presença de tensão neural nas cervicobrauialgias através dos testes
de tensão neural para nervo mediano e radial. Rev. Terapia Manual, 2004.
10
Berolla F, Baroni BM, Leal Jr. ECP, Oltramari JD. Efeito de um programa de treinamento
utilizando o método de pilates na flexibilidade de atletas juvenis. Rev Bras Med Esporte. 12
maio de 2008.
Boeing M. Análise da eficácia de técnicas de mobilização neural para pacientes com
lombociatalgia [monografia]. Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, Cascavel/Paraná; 2004.
Butler DS. Mobilização do sistema nervoso. 1ª Ed. São Paulo: Manole, 2003.
Butler, S.B. Mobilização do Sistema Nervoso. São Paulo (SP): Manole; 2003.
Calais-Germain, B. Anatomia para o movimento, volume 1 : introdução à analise das técnicas
corporais, 2002.
Carvalho RM, Macedo ACB. Avaliação neural em digitadores bancários. Terapia Manual,
2005.
Calliet R. Distúrbios da coluna lombar: Um enigma médico. 1ª Ed. São Paulo: Artmed; 2004.
Cecin HA. Proposição de uma reseva anatomofuncional, no canal raquidiano, como fator
interferente na fisiopatologia das lombalgias e lombociatalgias mecânico-degenerativas. Rev
Assoc Med Bras; 2000.
Cox JM. Dor lombar: mecanismo, diagnóstico e tratamento. 6 .ed. São Paulo: Manole; 2002.
Chaitow L. Técnicas de palpação: Avaliação e diagnostico pelo toque. 1ª Ed. São Paulo:
Manole, 2001.
D`Agostín V. Princípios do método RPG associados a mobilização neural no tratamento de
pacientes do sexo masculino com hérnia discal lombar [monografia]. Curso de Fisioterapia da
Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão/Santa Catarina; 2007.
Davies, P.M. Recomeçando Outra Vez: Reabilitação precoce após Lesão Cerebral Traumática
ou outra Lesão Cerebral Severa. São Paulo (SP): Manole; 2000.
Dias CL, Aires JM, Weidecach W.A clínica e o tratamento fisioterápico da hérnia discal
lombar. Revista Coluna Fisioterápica; 2001.
Gracie R. Gracie R. Brazilian Jiu-Jitsu: Theory and Thenique. Canada. Invisible Cities Press,
2001.
Gresik KRC. A mobilização do sistema nervoso como tratamento de afecções dos membros
superiores. Revista Saúde.com; 2006.
Guelfi MD. A influência da mobilização do sistema nervoso em um indivíduo portador de
siringomiela. Rev. Terapia Manual 2004.
Hall T. Mobilização neural – novo conceito manipulativo. Revista O Coffito 21. Ed.; 2004.
Jesus CS. A mobilização do sistema nervoso e seus efeitos no alongamento da musculatura
ísquio-tibial. Revista Terapia Manual; 2004.
11
Ladeira CE. Avaliação e tratamento de um paciente com tensão neural adversa no membro
inferior: estudo de caso. Revista Brasileira de Fisioterapia; 2000.
Lemos TV, Souza JL, Luz MM. Métodos Mckenzie vs. Williams: uma reflexão Fisioter Bras.
2003; 4(1):67-71.
Lopes RSD, Barja PR, Matos LKBL, Delmondes FF, Lopes PFD, Silva KAS, Lima MO.
Influência do alongamento muscular e da mobilização neural sobre a força do músculo
quadríceps. ConScientiae Saúde; 2010.
Luo, X.; Pietrobon, R.; Sun, S.X.; Liu, G.G.; Hey, L. Estimates and patterns of direct health
care expenditures among individuals with back pain in the United States. Spine v. 29; 2004.
Machado GF, Bigolin SE. Estudo comparativo de casos entre mobilização neural e um
programa de alongamento muscular em lombálgicos crônicos. Fisioter. Mov.(Impr.); 2010.
Marinzeck S. Mobilização neural – Aspectos gerais. Terapia Manual; 2007.
Marras, W.S. Occupational low back disorder causation and control. Ergonomics. London,
v.43, n.7; 2000.
Makofsky, H.W. Coluna Vertebral – Terapia Manual. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan;
2006.
Oliveira HFO Junior; Teixeira AH. Mobilização do sistema nervoso: avaliação e tratamento.
Fisioter Mov. 2007.
Oliveira M; Gosoy JR; Moreira D. Prevalência de Entorse de Tornozelo em Atletas de Jiu-Jitsu.
In 3º Congresso Cientifico Latino-Americano de Educação Física. Congesis. Piracicaba; 2004.
Silva GP, Ananias GC. Influência do Ultra-som terapêutico associados à alongamentos na
reabilitação de algias lombares relacionadas ao trabalho. Fisioterapia / eletro / ultra – som –
algias; 2008.
Schacklock, M. Improving application of neurodynamic (neural tension) testing And
treatments: A message to researchers and clinicians. Manual Therapy; 2005.
Shacklock MO. Relato de caso de fasceíte plantar associado com lesão do nervo tibial; 2008.
Vasconcelos B. A eficácia da mobilização neural no tratamento do quadro álgico em pacientes
com lombacialgia [trabalho de conclusão de curso]. Cascavel: Faculdade Assis Gurgacz; 2007.
Wright A, Jull G, Sterling M. Cervical mobilization: concurrent effects on pain, sympathetic
nervous system activity and motor activity. Manual Therapy; 2001.
Yaxley, G, Jull G. Tensão adversa no sistema nervoso: um estudo preliminar do cotovelo do
tenista. Australian Journal of phisiotherapy; 2004.
Download