UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Modulação das funções da célula dendrítica por variantes clonais de Burkholderia cenocepacia isoladas de um doente com fibrose quística Marília de Jesus Santos Pereira Dissertação Mestrado em Biologia Humana e Ambiente 2013 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA ANIMAL Modulação das funções da célula dendrítica por variantes clonais de Burkholderia cenocepacia isoladas de um doente com fibrose quística Marília de Jesus Santos Pereira Dissertação Mestrado em Biologia Humana e Ambiente Dissertação orientada por: Professora Doutora Maria de Guadalupe Cabral (orientação externa) CEDOC – Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa Professora Doutora Augusta Gama (orientação interna) Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa 2013 PÁGINAS INICIAIS: AGRADECIMENTOS NOTA PRÉVIA RESUMOS ÍNDICES AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço ao Departamento de Imunologia da Faculdade de Ciências Médicas e ao Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia do Instituto Superior Técnico, por me receberem no seu laboratório, em particular às Professoras Doutoras Paula Videira e Isabel Sá-Correia pela oportunidade oferecida, por acreditarem no meu trabalho e pelo apoio no âmbito desta dissertação. À minha orientadora, a Professora Doutora Guadalupe Cabral, pela amizade, preocupação, confiança, paciência e disponibilidade. Agradeço ainda a ajuda constante, o apoio na revisão desta dissertação e todos os conhecimentos que me transmitiu. O meu agradecimento à Professora Doutora Augusta Gama pela disponibilidade de aceitar co-orientar este trabalho, pela amizade, simpatia e dedicação. Às Doutoras Carla Coutinho e Zélia Silva e ao Doutor Hélio Crespo, pela amizade, ajuda e bons conselhos. Às mestres Mylène Carrascal, Mariana Silva e Teresa Veríssimo e às mestrandas Graça Marques e Inês Iria, pela amizade, boa disposição, entreajuda e partilha de conhecimentos, tornando mais fácil e animado cada dia de trabalho. Aos restantes membros de ambos os departamentos, por estarem sempre disponíveis para ajudar e ensinar, em especial à D. Glória e à D. Luísa pela simpatia e disponibilidade e à D. Filomena, pela boa disposição e companhia. Quero agradecer também à Professora Doutora Deodália Dias pela coordenação no mestrado de Biologia Humana e Ambiente, por todo o apoio e motivação. À minha família, pela presença constante e ajuda incondicional ao longo do meu percurso de vida, em particular aos meus pais, Vítor e Maria do Carmo, por todo o carinho, paciência, apoio, incentivo e por me ajudarem a ser quem sou hoje. Às minhas amigas e companheiras de casa, Catarina e Filipa, pela amizade, por me ouvirem, ajudarem, encorajarem nas longas noites de estudo e pelas palhaçadas e momentos divertidos que passamos desde a licenciatura e que continuaremos a passar. Aos meus amigos e aos “Fiches”, pelo companheirismo e amizade, em especial à Raquel Duarte e ao Gonçalo Lidónio, pela amizade desenvolvida ao longo destes dois anos de mestrado, por me ouvirem, animarem, por me fazerem sempre acreditar em mim sem desanimar, pelos momentos de descontração e divertimento e por serem grandes amigos. i ii NOTA PRÉVIA Esta dissertação foi desenvolvida no âmbito de um projeto (orientado pela Professora Doutora Guadalupe Cabral) do grupo de Glicoimunologia 1 , liderado pela Professora Doutora Paula Videira, pertencente ao Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (CEDOC/FCM-UNL). O desenvolvimento deste trabalho deu origem à seguinte comunicação em forma de poster: M.J. Pereira, C. Coutinho, A. Lopes, I. Sá-Correia, P.A. Videira, M.G. Cabral. 2013 “Modulation of dendritic cell functions by clonal variants of Burkholderia cenocepacia isolated from a cystic fibrosis patient” – 36th European Cystic Fibrosis Conference, 12-15 June 2013, Lisboa Portugal. 1 Esta dissertação teve como referência a revista Immunology: The journal of cells molecules, systems and technologies da British Society for Immunology, pois, é uma revista conceituada na área e na qual o grupo de Glicoimunologia já publicou. iii iv RESUMO As bactérias do complexo Burkholderia cepacia (Bcc) são responsáveis por infeções respiratórias severas em indivíduos suscetíveis, em particular doentes com fibrose quística (FQ). Estas bactérias são especialmente temidas devido à sua elevada transmissibilidade, à sua inerente resistência à terapia antimicrobiana e ao risco de síndrome da cepacia. Tem sido descrito que Burkholderia cenocepacia, uma das bactérias mais virulentas do Bcc, possui mecanismos que lhe permite evadir a resposta imune do hospedeiro, através da modulação das funções de células fagocíticas. De entre estas, as células dendríticas (DCs) desempenham um papel essencial na defesa do hospedeiro contra agentes patogénicos invasores, relacionando a resposta imune inata e adaptativa. Contudo, o seu papel no desenvolvimento da estratégia evasiva de B. cenocepacia ao sistema imune do hospedeiro, permanece pouco esclarecido. Para clarificar esta questão, neste trabalho foi estudada a interação das DCs com 4 variantes clonais de B. cenocepacia, isoladas de um mesmo doente com FQ. Concretamente, pretendeu-se verificar se existiam diferenças entre estas variantes ao nível de: internalização pelas DCs, capacidade de inibirem e/ou induzirem o processo de maturação das DCs, efeito na viabilidade das DCs e a consequência imunológica, em termos da ativação da resposta adaptativa. Demonstrou-se então que as variantes clonais consideradas mais virulentas, com base em dados anteriores, são as mais internalizadas pelas DCs. Todas as variantes, mas especialmente a última isolada imediatamente antes da morte do doente não induzem a maturação das DCs, processo que normalmente acontece nestas células em resposta a patogénios e que é essencial para ativar uma resposta adaptativa efetora. Foi também a última variante clonal isolada do doente que induziu mais morte celular (apoptose) nas DCs, reforçando a ideia de que é a variante mais virulenta. Apesar destes resultados, as DCs após internalização das várias bactérias, mas especialmente com a última variante, são capazes de estimular a expressão de IFN-γ em células T, sugerindo a indução de uma resposta adaptativa efetora. No entanto, este resultado não exclui a hipótese de que a modulação das funções das DCs pelos isolados de B. cenocepacia seja um importante contributo para restringir, pelo menos parte desta resposta, sendo necessário mais estudos para esclarecer este assunto. v Palavras-chave: Complexo Burkholderia cepacia (Bcc) Células Dendríticas (DCs) Internalização Maturação Apoptose Ativação de células T Imunomodulação vi ABSTRACT Bacteria of the Burkholderia cepacia complex (Bcc) are responsible for severe respiratory infections in susceptible individuals, particularly patients with cystic fibrosis (CF). These bacteria receive special attention duo to their high transmission, inherent resistance to antimicrobial therapies and risk of cepacia syndrome. It has been reported that Burkholderia cenocepacia, one of the most virulent Bcc bacteria, have mechanisms that allow the evasion to the host immune response by modulating phagocytic cells functions. Among them, dendritic cells (DCs) play an essential role in host defense against invading pathogens, creating a link between the innate and adaptive immune response. However, its role in the development of the evasive strategies of B. cenocepacia to elude host immune system, remains poorly understood. To clarify this issue, in this work we studied the interaction of DCs with 4 clonal variants of B. cenocepacia isolated from the same CF patient. Specifically, we wanted to determine whether there were differences between these variants in terms of: internalization by DCs, ability to inhibit and / or induce the maturation of DCs, effect on the viability of DCs and immunologic consequence, in terms of activation of the adaptive response. It was demonstrated the clonal variants considered more virulent, based on previous data, were better internalized by DCs. All variants, but especially the last variant isolated from the patient, immediately before its death, did not induce DCs maturation, a process that typically occurs in these cells in response to pathogens which is essential to enable an adaptive effector response. It was also the last variant isolated from the patient which induced more cell death (apoptosis) in DCs, reinforcing the idea that this variant is more virulent. Despite these results, DCs after internalizing the various bacteria, but especially the last variant, is capable of stimulating the expression of IFN-γ by T cells, suggesting the induction of an effector adaptive response. However, this result does not exclude the possibility that the modulation of DCs functions by B. cenocepacia clonal variants may be an important contribution to restrict, at least part, of this response, being more studies necessary to clarify this issue. vii Keywords: Burkholderia cepacia complex (Bcc) Dendritic cells (DCs) Internalization Maturation Apoptosis T cells activation Immunomodulation viii ÍNDICE Agradecimentos ------------------------------------------------------------------------------- i Nota Prévia ----------------------------------------------------------------------------------- iii Resumo ----------------------------------------------------------------------------------------- v Palavras-chave --------------------------------------------------------------------------- vi Abstract -------------------------------------------------------------------------------------- vii Keywords --------------------------------------------------------------------------------- viii Índice de Figuras -------------------------------------------------------------------------- xiii Índice de Tabelas --------------------------------------------------------------------------xvii Índice de Anexos--------------------------------------------------------------------------- xix Abreviaturas e Siglas --------------------------------------------------------------------- xxi 1. Introdução---------------------------------------------------------------------------------- 1 1.1. Complexo Burkholderia cepacia e Burkholderia cenocepacia spp. ---------- 1 1.2. Relevância Clínica -------------------------------------------------------------------- 3 1.2.1. Isolados Burkholderia cenocepacia spp. ------------------------------------- 7 1.2.2. O papel do Lipopolissacarídeo (LPS) ---------------------------------------- 9 1.3. Sistema imunitário ------------------------------------------------------------------ 11 1.3.1. Imunidade Inata --------------------------------------------------------------- 11 1.3.2. Imunidade Adaptativa -------------------------------------------------------- 13 1.4. Células Dendríticas ----------------------------------------------------------------- 16 1.5. Introdução ao tema de tese -------------------------------------------------------- 20 2. Materiais e Métodos -------------------------------------------------------------------- 23 2.1. Isolados de Burkholderia cenocepacia, meio, condições de crescimento e inativação. --------------------------------------------------------------------------------- 23 2.2. Obtenção de DCs derivadas de monócitos humanos -------------------------- 25 2.2.1. Método de microesferas imunomagnéticas e coluna LS ---------------- 25 2.2.2. Método de aderência celular ou “Panning” ------------------------------- 27 2.3. Técnicas ------------------------------------------------------------------------------ 28 2.3.1. Citometria de Fluxo ---------------------------------------------------------- 28 2.3.2.Reação de polimerização em cadeia em tempo real (RT-PCR) quantitativo ---------------------------------------------------------------------------- 29 2.4. Avaliação da Internalização de B. cenocepacia pelas DCs ------------------- 30 2.4.1. Marcação dos isolados de B. cenocepacia com fluorescência ---------- 30 ix 2.4.2. Ensaios de Internalização ---------------------------------------------------- 31 2.5. Avaliação do estado de maturação das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia. ----------------------------------------------------------------------- 32 2.6. Avaliação da viabilidade celular das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia ---------------------------------------------------------------------------- 33 2.7. Avaliação da consequência imunológica, em termos de ativação de células T, na presença dos isolados clonais de B. cenocepacia ----------------------------- 35 2.7.1. Extração de RNA e transcrição reversa para DNA complementar (cDNA)---------------------------------------------------------------------------------36 2.7.2. RT-PCR ------------------------------------------------------------------------ 36 2.8. Análise Estatística ------------------------------------------------------------------ 38 3. Resultados -------------------------------------------------------------------------------- 39 3.1. Estudo da internalização dos isolados clonais de B. cenocepacia por DCs 39 3.1.1. Internalização dos isolados clonais de B. cenocepacia viáveis, por DCs ------------------------------------------------------------------------------------------39 3.1.2. Internalização dos isolados clonais de B. cenocepacia inativados, por DCs-------------------------------------------------------------------------------------40 3.2. Avaliação da influência dos isolados clonais de B. cenocepacia na maturação das DCs----------------------------------------------------------------------- 42 3.2.1. Maturação das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia viáveis ---------------- ------------------------------------------------- 42 3.2.2. Comparação da maturação das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia viáveis vs inativados vs LPS --------------------------------- 45 3.3. Avaliação da morte celular das DCs na presença dos 4 isolados clonais de B. cenocepacia ------------------------------------------------------------------------------- 51 3.4. Análise das consequências imunológicas em termos de ativação de células T da incubação das DCs na presença de B. cenocepacia ----------------------------- 53 4. Discussão --------------------------------------------------------------------------------- 57 4.1. Os isolados clonais de B. cenocepacia mais virulentos são mais internalizados pelas DCs, quando viáveis -------------------------------------------- 57 4.2. Os isolados clonais de B. cenocepacia inibem a expressão de alguns marcadores de maturação em DCs, quando viáveis --------------------------------- 60 4.3. O último isolado de B. cenocepacia a ser recolhido afeta mais a viabilidade das DCs do que os isolados recolhidos numa fase mais precoce da infeção ---- 64 x 4.4. Apesar dos isolados de B. cenocepacia inibirem a maturação das DCs, conseguem induzir alguma ativação dos linfócitos T ------------------------------- 65 Perspectivas Futuras ---------------------------------------------------------------------- 69 Conclusão ------------------------------------------------------------------------------------ 71 Bibliografia ---------------------------------------------------------------------------------- 73 Anexos ---------------------------------------------------------------------------------------- 81 xi xii ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.1 - Árvore filogenética do género Burkholderia ------------------------------------ 2 Figura 1.2 – Característica do epitélio das vias aéreas de um doente com FQ. ----------- 4 Figura 1.3 - Esquema ilustrativo da estrutura do lipopolissacarídeo (LPS) de uma bactéria Gram-negativa. -------------------------------------------------------------------------- 10 Figura 1.4 – Esquema ilustrativo dos vários componentes da resposta adaptativa Resposta humoral e celular, iniciada por células dendríticas (DCs). ---------------------- 13 Figura 1.5 – Esquema ilustrativo da resposta imune ---------------------------------------- 16 Figura 1.6 – Maturação das células dendríticas (DCs). ------------------------------------- 19 Figura 1.7 – Cronologia dos isolados clonais obtidos do doente J colonizado com B. cenocepacia. --------------------------------------------------------------------------------------- 21 Figura 3.1 - Análise por citometria de fluxo da internalização dos isolados I, II, III, IV de B. cenocepacia e E. coli (controlo), marcadas com FITC e viáveis, por DCs após 6 horas de incubação. ------------------------------------------------------------------------------- 39 Figura 3.2 - Análise por citometria de fluxo da internalização dos isolados I, II, III, IV de B. cenocepacia marcados com FITC e inativados (por calor) e E. coli (controlo, também marcada e inativada) por DCs após 6 horas de incubação ------------------------ 41 Figura 3.3 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de HLA-DR na superfície de DCs após a incubação destas com as respetivas bactérias vivas. -------------------------------------------------------------------- 43 xiii Figura 3.4 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD80 (a) e CD86 (b) na superfície de DCs após a incubação destas com as respetivas bactérias vivas. ------------------------------------------------------ 44 Figura 3.5 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD83 na superfície de DCs após a incubação destas com as respetivas bactérias vivas. ----------------------------------------------------------------------- 45 Figura 3.6 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de HLA-DR na superfície de DCs após a incubação com as respetivas bactérias vivas (preto), inativas (cinzento claro) e LPS (cinzento escuro). -- 47 Figura 3.7 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD80 (a) e CD86 (b) na superfície de DCs após a incubação com as respetivas bactérias vivas (preto), inativas (cinzento claro) e LPS (cinzento escuro). --------------------------------------------------------------------------------------------- 49 Figura 3.8 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD83 na superfície de DCs após a incubação com as respetivas bactérias vivas (preto), inativas (cinzento claro) e LPS (cinzento escuro). -- 50 Figura 3.9 – Análise por citometria de fluxo da viabilidade celular de DCs incubadas durante 12 horas com cada um dos isolados de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. -------------------------------------------------------------------------------------------- 52 xiv Figura 3.10 – Análise por citometria de fluxo da morte celular de DCs incubadas durante 12 horas com cada um dos isolados de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli ou na ausência de bactérias (DCs). Os resultados obtidos representam valores médios da percentagem de células vivas (azul), células em fase inicial de apoptose (vermelho), células em fase tardia de apoptose (verde) e células necróticas (roxo). ---- 53 Figura 3.11 – Análise da quantidade relativa de mRNA dos genes das proteínas IFN-γ (a) e FOXP3 (b) entre as co-culturas de células T com DCs previamente incubadas durante 6 horas com cada um dos isolados de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), E. coli (amostras em estudo) e as co-culturas de células T com DCs incubadas por igual período de tempo na ausência de bactérias (amostra calibradora). ------------------------ 55 xv xvi ÍNDICE DE TABELAS Tabela 2.1 – Denominação dada a cada isolado no decorrer da dissertação. ------------ 24 Tabela 2.2 – Identificação do ensaio e função para cada um dos genes analisados ---- 37 xvii xviii ÍNDICE DE ANEXOS Anexo I - Constituição de soluções utilizadas neste trabalho ----------------------------- 83 Anexo II – Figuras complementares deste trabalho ----------------------------------------- 84 Anexo III – Resultados de trabalhos anteriores ---------------------------------------------- 89 Anexo IV – Abstract e Poster ------------------------------------------------------------------- 90 xix xx ABREVIATURAS E SIGLAS 7 - ADD - 7-amino-actinomicina D APC - Aloficocianina (“Allophycocianin”) Células apresentadoras de antigénios (“Antigen presenting APCs cells”) Líquido de superfície das vias respiratórias (“Airway surface ASL liquid”) Complexo Burkholderia cepacia (“Burkholderia cepacia Bcc complex”) B. cenocepacia - Burkholderia cenocepacia B. cepacia - Burkholderia cepacia B.multivorans - Burkholderia multivorans CD - Antigénios de diferenciação (“Cluster of differentiation”) cDNA - Ácido desoxirribonucleico complementar CFTR CFUs ClCO2 DCs DGC DNA E. coli ENaC EUA FITC FT-IRS - FQ FSC GAPDH GM-CSF HLA-DR IL IFN-γ IPS IST LB LPS MALDI-TOF - Regulador de condutância transmembranar (“Cystic fibrosis transmembrane conductance regulator”) Unidades formadoras de colónias (“Colony forming units) Iões cloro Dióxido de carbono Células dendríticas (“Dendritic cells”) Doença Granulomatose Crónica Ácido desoxirribonucleico Escherichia coli Canal epitelial de sódio (“Epithelial sodium channel”) Estados Unidos da América Isotiocianato de Fluresceína (“Fluorescein isothiocyanate”) Espectroscopia de infravermelhos transformados de Fourier (“Fourier transform infrared spectroscopy”) Fibrose quística Direção longitudinal (“Forward Scatter”) Desidrogenase gliceraldeído 3-fosfato Fator de estimulação de colónias granulócitos-macrófagos (“Granulocyte macrophage colony-stimulating factor”) Antigénios leucocitários humanos (“Human leucocyte antigens”) Interleucina Interferon gama Instituto Português do Sangue Instituto Superior Técnico Luria-Bertani Lipopolissacarídeo Ionização e dessorção a laser assistida por matriz (“Matrix xxi MFI MHC-I MHC-II min. µl mL MLST mRNA Na+ NaCl Na2CO3 NK nm OD P. aeruginosa PAMPs PBMCs PBS PCL PE PI - PRRs PS RPM rRNA RT-PCR S. aureus SSC Tc TCR Th TLR TNF Treg - assisted laser desorption ionization time”) Intensidade média de fluorescência (“Mean Fluorescence intensity”) Complexo Major de Histocompatibilidade da classe-I (“Major histocompatibility complex – class I”) Complexo Major de Histocompatibilidade da classe-II (“Major histocompatibility complex – class II”) Minutos Microlitros Mililitros Tipagem de sequência multi locus (“Multi locus Sequence Typing”) Ácido ribonucleico mensageiro Iões sódio Cloreto de Sódio Carbonato de sódio “Natural killer” Nanómetros Densidade óptica (“optical density”) Pseudomonas aeruginosa Padrões moleculares associados a patogénios (“pathogenassociated molecular patterns”) Células mononucleares do sangue periférico (“peripheral blood mononuclear cells”) Tampão de fosfato salino (“Phosphate buffered saline”) Liquido Periciliar (“Periciliary Liquid”) Ficoeritrina (“Phycoerythrin”) Iodeto de Propídeo (“Propidium iodide”) Recetores de reconhecimento padrão (“Pattern recognition receptors”) Fosfatidilserina (“Phosphatidylserine”) Rotações por minuto Ácido ribonucleico ribossómico Reação de polimerização em cadeia em tempo real Staphylococcus aureus Direção transversal (“Side scatter”) Linfócitos T citotóxicos Recetor de células T (“T cells receptor”) Linfócitos T auxiliares (“T helper”) Receptor Toll-like (“Toll like receptor”) Fator de necrose tumoral (“Tumor necrosis factor”) Linfócitos T reguladores xxii DISSERTAÇÃO 1. INTRODUÇÃO 1.1. Complexo Burkholderia cepacia e Burkholderia cenocepacia spp. Burkholderia cepacia (B. cepacia) foi descrita primeiramente por Walter Burkholder em 1950 ficando conhecida como Pseudomonas cepacia (P. cepacia), um agente associado ao apodrecimento bacteriano da cebola 1. Mais tarde, com a evolução das técnicas taxonómicas de análise genómica e sequenciação verificou-se que bactérias do género Pseudomonas eram fenotipicamente semelhantes, mas com diferenças significativas ao nível genómico (baseados na homologia do RNA) levando a uma reclassificação das suas espécies. Nomeadamente, P. cepacia juntamente com outras espécies do género Pseudomonas foram transferidas para o género Burkholderia, em homenagem ao trabalho de Burkholder 2. Por volta dos anos 90, tornou-se evidente pelos métodos de identificação, a existência de uma grande heterogeneidade dentro da espécie B. cepacia, o que tornou difícil a sua correta identificação 2, levando Vandamme e os seus colaboradores 3 a realizar um estudo taxonómico polifásico. Este estudo incluiu a análise dos ácidos gordos, hibridação DNA-DNA e DNA-rRNA, que revelou que isolados de B. cepacia provenientes de amostras clínicas humanas como de doentes com Fibrose Quística (FQ), outras amostras clínicas humanas e do meio ambiente pertenciam a pelo menos cinco espécies genómicas diferentes ou genomovars, coletivamente referidos como Complexo Burkholderia cepacia (Bcc) 3. O termo genomovar foi então introduzido para denotar espécies fenotipicamente semelhantes, mas geneticamente distintas 3, partilhando um nível relativamente baixo de homologia DNA-DNA (30-60%) 3. As espécies pertencentes a este complexo partilham uma elevada semelhança na sequência genómica do rRNA 16S (> 97,5%), possuem genomas grandes (7,5-8,5 Mb), constituídos por múltiplos replicões que lhes concedem grandes capacidades metabólicas (Fig.1.1) 4. O Bcc é constituído atualmente por 17 genomovars distintos que se distribuem de forma heterogénea e ubíqua no ambiente 5 6, tendo grande capacidade de adaptabilidade e persistência, prosperando em múltiplos nichos 7, englobando um conjunto de bactérias patogénicas oportunistas contaminantes universais de soluções cosméticas, farmacêuticas, estéreis, água e equipamento descartável, levando a doenças nosocomiais e pseudoepidémicas. Por outro lado, em humanos, tem sido notavelmente associada a 1 infeções em indivíduos imunocomprometidos (indivíduos maioritariamente hospitalizados, com baixas defesas ou doentes suscetíveis) 6. Figura 1.1 - Árvore filogenética do género Burkholderia – Parte do género Burkholderia em que são destacadas algumas espécies pertencentes ao complexo Burkholderia cepacia (adaptado de 4). Muitas espécies são patogénicas para plantas, animais e humanos, o que deixa evidente a grande versatilidade e complexidade das interações que este género é capaz de estabelecer 8, 9 . Nas últimas décadas tem emergido como patogénio oportunista, e desde então o interesse neste género de bactéria aumentou, e novas espécies foram descritas. O genomovar mais comum do Bcc e que tem vindo a causar grande preocupação é Burkholderia cenocepacia (B. cenocepacia), uma bactéria gram-negativa, em forma de bastonete, metabolicamente diversa e eventualmente fatal 2 10 . Clinicamente exibe um imprevisível e variável curso clínico, que varia do transporte assintomático a pneumonia necrotizante e septicemia 3, culminando com o rápido e incontrolável declínio da função pulmonar em 20% dos indivíduos imunocomprometidos 11 , nomeadamente em doentes com FQ e Doença Granulomatosa Crónica (DGC), sendo uma das bactérias mais problemáticas para estes doentes 12, 13. Este patogénio é normalmente isolado a partir da expetoração de doentes com FQ e é transmissível entre eles, demonstrando multirresistência a fármacos antimicrobianos 10. Contudo a gravidade e morte resultante desta doença depende do estado clínico e predisposição dos indivíduos no momento de infeção. 1.2. Relevância Clínica Nos anos 80, vários relatórios reportaram infeções de doentes com FQ com membros de Bcc (ainda não descrito nessa altura). Em 1984, foi descrita pela primeira vez a prevalência destes organismos, na colonização e infeção de doentes com FQ, conduzindo ao “síndrome da cepacia” – uma pneumonia necrotizante com septicemia que cerca de 20% dos doentes infetados com Bcc desenvolve e que conduz invariavelmente à sua morte. 2. A FQ é uma desordem genética autossómica recessiva, normalmente letal, descrita pela primeira vez em 1938 14 , que afeta maioritariamente caucasianos e é provocada pela mutação no gene CFTR que codifica para a proteína cística reguladora da condutância transmembranar da fibrose (CFTR). Esta mutação provoca alterações no controlo do movimento dos iões sódio e cloro, havendo bloqueio no efluxo destes últimos, através da membrana apical das células epiteliais glandulares, resultando no seu acúmulo intracelular 15, 16 (Fig.1.2). A suscetibilidade destes doentes a patogénios deve-se à deficiência do sistema de clearance mucociliar, que está normalmente ativo, atuando como barreira protetora contra toxinas e patogénios, eliminando partículas e agentes infeciosos das vias aéreas, mas que, pela incapacidade de CFTR mutado, torna-se inativo, facilitando a colonização de uma camada de muco viscoso que é geralmente controlado pelo líquido de superfície das vias aéreas (ASL) 17. O ASL é constituído por duas partes, o liquido periciliar (PCL) e o muco. O PCL está em contato direto com as células epiteliais e tem o papel importante de promover e 3 manter o batimento dos cílios, mantendo o ambiente com baixa viscosidade e separando o muco da superfície das células epiteliais. O muco, por sua vez, tem a função de remover os patogénios inalados, aprisionando-os e destruindo-os com as moléculas que o constituem e que têm atividade antimicrobiana, como a lisozima e a mucina. Esta é então uma importante barreira física e química da imunidade inata (ver secção 1.3.1) ao nível das vias respiratórias 18, 19. Deste modo, para que o ASL consiga atuar na imunidade inata, é necessário manter uma baixa viscosidade no meio e o ASL hidratado. Neste caso, o balanço osmótico é mantido pelo transporte de iões Cl- para fora das células epiteliais, para que consequentemente haja inibição da entrada de Na+. O transportador CFTR expele o cloro, e regula negativamente o transportador de sódio, ENaC (canal epitelial de iões sódio). Como resultado há saída de água, mantendo assim o ASL hidratado 18, 19 (Fig.1.2). Figura 1.2 – Característica do epitélio das vias aéreas de um doente com FQ – CFTR mutado provoca o aumento de produção de muco e um ASL reduzido e desidratado, facilitando a colonização microbiana por Pseudomonas e outras espécies. Os PAMPs (padrões moleculares conservados associados a agentes patogénicos microbianos) ativam a sinalização dos TLR (recetores toll-like) nas células epiteliais para aumentar o recrutamento de neutrófilos e a expressão de IL-8 (interleucina-8) para o lúmen do pulmão. Estes neutrófilos secretam fatores que ativam ainda mais o epitélio das vias aéreas levando à inflamação (adaptado de 20). 4 Com o transportador CFTR mutado, o transporte de cloro para fora das células é bastante reduzido ou nenhum, sendo que, contrariamente ao mecanismo anterior, o cloro entra para acompanhar o movimento do sódio, pois não existindo o controlo negativo sobre o transportador de sódio, ambos os iões entram nas células. Devido ao balanço osmótico a água entra também para as células epiteliais e como consequência, a concentração de muco aumenta bastante, e este fica aderente às células epiteliais, havendo achatamento dos cílios, e a não remoção dos patogénios, pois o aumento de viscosidade do muco (característica desta doença) dificulta a migração dos neutrófilos que acabam por não encontrar os patogénios, levando à infeção 17, 19 (Fig. 1.2). Esta adesão do muco coloca os patogénios em contato direto com as células, promovendo a partir daí uma resposta pro-inflamatória. Outras perturbações no sistema imune derivadas da mutação no gene CFTR têm sido documentadas, sendo a mais notada a fraca produção de radicais de oxigénio por parte dos fagócitos com vista a matar os patogénios fagocitados 18 (ver secção 1.3). Dados clínicos sugerem que a doença pulmonar é iniciada por uma quebra do sistema de defesa das vias aéreas do hospedeiro e propagada pela incapacidade de limpeza eficaz da infeção 21. Assim, a principal causa de morbilidade e mortalidade nestes doentes deve-se à infeção respiratória crónica e à resposta inflamatória sustentada por patogénios oportunistas como Staphylococcus aureus, P. aeruginosa, Haemophilus influenzae e principalmente B. cenocepacia 2. Apesar dos mecanismos que possibilitam a colonização e a patogénese dos membros do Bcc não estarem ainda completamente esclarecidos, vários fatores de virulência têm sido identificados, como é o caso de adesinas associadas a pilus, flagelo, LPS (constituinte da parede das células das bactérias gram-negativas) e outros exopolissacarídeos 11, 13 , sistemas de secreção do tipo II, III, IV e VI catalases e superóxido dismutases, proteases, lípases 11 22, 23 , sideróforos, e sistemas de “quorum sensing” (um sistema de resposta a estímulos, regulando a expressão de genes de acordo com a densidade populacional) 24 . A distribuição dos fatores de virulência nas diferentes espécies do Complexo tem sido investigada, verificando-se a existência de diferenças na severidade da infeção de acordo com a (s) espécie (s) presente (s). A rápida identificação da espécie do Bcc que infeta o doente é de extrema importância, como tal, vários esforços estão a ser feitos no sentido de melhorar o diagnóstico. Os métodos de identificação devem conseguir distinguir o Bcc de outras 5 bactérias gram-negativas, bem como, deverão conseguir distinguir qual a espécie dentro do Complexo. Para tal, normalmente são usados meios de crescimento seletivos, testes bioquímicos, amplificação de genes como 16S rRNA, recA 4 e outra combinação de 7 genes conservados de MLST (“Multi Locus Sequence Typing”) para identificar mais precisamente a espécie 25. Podem também ser usadas análises de todo o conteúdo celular dos ácidos gordos e proteínas tal como análises do genoma inteiro 4. A infeção por B. cenocepacia é particularmente problemática, uma vez que pode ser transmitida de doente para doente 16, 21 . Para além disso, a grande dificuldade de erradicação de B. cenocepacia prende-se com o elevado nível de resistência intrínseca a antibióticos clinicamente relevantes como aminoglicosídeos, polimixinas e à maioria dos -lactâmicos, uma vez que utiliza mecanismos de inativação enzimática, modificação de drogas, impermeabilidade da parede celular e bombas de efluxo ativo para sobreviver aos mesmos 16, 26 . Tal resistência deve-se às constantes mutações que têm vindo a sofrer e ao aparecimento de novas estirpes, sendo que, estas e nomeadamente os isolados de doentes mostram-se mais resistentes a doses maiores e a um maior número de antibióticos 7. Atualmente, B. cenocepacia e Burkholderia multivorans são as espécies que mais frequentemente se encontram nas infeções respiratórias dos doentes com FQ, afetando cerca de 90% destes doentes, tendo B. cenocepacia aumentado a sua prevalência nos últimos 5 anos, sendo a principal causa de morte destes doentes 16, 27. Existem evidências crescentes de que as infeções persistentes causadas por B. cenocepacia podem ser, em parte, devido à capacidade deste microrganismo invadir e sobreviver intracelularmente em células humanas, sendo as principais células afetadas as células epiteliais respiratórias e os macrófagos pulmonares. Contudo os fatores bacterianos específicos envolvidos na persistência de B. cenocepacia no trato respiratório e a sua interação com componentes do sistema imune inato nos pulmões e vias aéreas ainda permanecem por esclarecer 28, 29. Deste modo, os factos anteriormente descritos ilustram bem a relevância da variabilidade individual do doente e a sua capacidade de resposta à infeção por B. cenocepacia, destacando assim a importância de perceber o papel da resposta imunitária neste contexto 11, 30. 6 1.2.1. Isolados Burkholderia cenocepacia spp. Durante a infeção crónica das vias respiratórias de um doente com FQ por B. cenocepacia, esta bactéria apresenta uma evolução clonal com múltiplas variantes fenotípicas, que se estabelecem nas vias aéreas. Esta ocorrência de evolução clonal durante a colonização pulmonar crónica deve-se possivelmente à pressão seletiva à qual estas bactérias estão sujeitas no ambiente pulmonar dos doentes com FQ, resultante, por exemplo, das defesas imunológicas do hospedeiro, da terapia antimicrobiana, da disponibilidade de nutrientes ou da limitação de oxigénio, tal como já foi descrito para P. aeruginosa 5, 31. Num estudo realizado pelo grupo de investigação em Ciências Biológicas do Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia do Instituto Superior Técnico (IBB/IST), em colaboração com o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, foi feita uma avaliação fenotípica de uma série de características relevantes de 11 variantes clonais sequenciais de B. cenocepacia obtidas a partir do mesmo doente com FQ (doente J), que estava cronicamente colonizado com a mesma estirpe de B. cenocepacia, pelo período de três anos e meio, até à sua morte com síndrome da cepacia 5. Este estudo veio providenciar novos conhecimentos acerca da complexa estratégia desenvolvida por esta bactéria, de forma a adaptar-se às condições de stresse, tendo-se verificado de uma maneira geral, que do primeiro isolado até ao último, todas as variantes clonais obtidas ao longo do curso da infeção, sofreram alterações genéticas adaptativas relacionadas predominantemente com as vias metabólicas da bactéria, sendo que a alteração mais notada é a elevada resistência a antibióticos nos isolados após um período de tratamento agressivo 32. Deste conjunto de 11 variantes clonais, 4 têm sido particularmente examinados, nos últimos anos, nomeadamente, o IST439, o primeiro isolado recuperado do doente, o qual se pensa ter iniciado a infeção; o IST4113, obtido três anos mais tarde, depois de um período de infeção exacerbada e terapia intravenosa, sendo considerado o mais resistente; o IST4129, isolado intermédio que apresenta características diferentes dos restantes, com baixa resistência a antibióticos e por fim, o IST4134, o último isolado recuperado do doente imediatamente antes da morte 32-34 (isolados também escolhidos no estudo desta dissertação pelas suas distintas características). As propriedades do isolado que possivelmente inicia a infeção pulmonar (IST 439) diferem significativamente daquelas exibidas pelos outros isolados obtidos durante o 7 período de infeção que varia entre os 29 e 41 meses após o isolamento do 1º isolado. Assim, pode considerar-se que o IST 439 (designado nesta dissertação por isolado I) tem uma morfologia colonial lisa, forma alongada, um valor de potencial zeta negativo (medida indireta da carga da superfície celular), pouco hidrofóbico, com crescimento pouco eficiente quando limitado em ferro e com um tamanho de biofilme e exopolissacárido intermédio 5, 33. Por outro lado, o isolado IST 4113 (designado nesta dissertação por isolado II) apresenta uma morfologia colonial áspera, grande tamanho celular e colónias rugosas em forma circular, tendo um valor zeta positivo e sendo mais hidrofóbico. Este isolado pode ainda ser caracterizado por um tamanho de biofilme e exopolissacárido maior que no isolado I, um grande enovelamento de proteínas e estabilização, sugerindo uma maior síntese de proteínas, atividade de reparação de DNA, capacidade de absorção de ferro e resistência ao stresse 5. Características que lhe conferem maior resistência a diferentes classes antimicrobianas como β-lactâmicos e aminoglicosídeos em relação a outros isolados, facto comprovado por Mira e colaboradores 33. Em relação ao isolado IST4129 (designado nesta dissertação por isolado III) podese referir a sua semelhança colonial com o isolado I, enquanto o isolado IST4134 (designado nesta dissertação por isolado IV) apresenta uma morfologia colonial intermédia e biofilme pequeno, sendo semelhante ao isolado II 5. A análise comparativa das sequências genómicas destes isolados está em curso, pela equipa do IST, e os seus dados de proteómica quantitativa têm revelado que alterações no conteúdo de diferentes proteínas estão de acordo com as alterações na expressão genómica, nos diferentes isolados. Interessantemente foi também descoberto que os isolados II e IV têm maior capacidade de invadir as células epiteliais e abrir junções de oclusão numa linha celular de epitélio bronquial (Madeira et al., submetido). De um modo geral, estas descobertas, reforçam o conceito do papel crucial dos mecanismos de adaptação de B. cenocepacia ao ambiente do hospedeiro no estabelecimento das infeções crónicas. No entanto, muito permanece ainda por esclarecer. 8 1.2.2. O papel do Lipopolissacarídeo (LPS) Uma vez que para causar infeção nos seres humanos são necessários componentes bacterianos, vários estudos do Bcc focaram-se na identificação de fatores de virulência 35 a fim de desenvolver métodos para controlar patogénios gram-negativos e para curar o choque séptico (consequência grave da maioria das infeções bacterianas que gera falência generalizada dos órgãos). Deste modo, um dos fatores de virulência mais importantes das bactérias gram-negativas é a molécula lipopolissacarídeo (LPS) 36 , um componente glicolipídico, essencial para a sobrevivência das bactérias gram-negativas, nomeadamente algumas patogénicas 37, 38 , que se distribui pela superfície da célula bacteriana, induzindo uma grande resposta imune que pode levar a danos celulares 39 . No caso das bactérias do Bcc, pensa-se que a infeção seja, pelo menos em grande parte, mediada pelo LPS. O LPS consiste na ligação covalente entre um lípido e um polissacarídeo, sintetizado no citoplasma, atuando como um protótipo de endotoxina. Este pode ser reconhecido pelo recetor toll-like 4 (TLR4), um recetor presente na superfície das células imunitárias (como veremos na secção 1.3.1). Este componente glicolipídico representa uma barreira defensiva que ajuda as bactérias a resistir a compostos antimicrobianos e ao stresse ambiental no qual estão envolvidas 36 , destacando-se em processos de interações, adesões, reconhecimento e colonização bactéria-hospedeiro 40, sendo considerado o anfitrião da bactéria. O LPS é constituído por três componentes, sendo eles, dois núcleos polissacarídeos, o antigénio O e o lípido A 37, 38 (Fig. 1.3). O componente antigénio O é um oligossacárido, que se localiza na superfície da célula bacteriana, sendo o componente estrutural principal do LPS que diferencia as várias estirpes bacterianas como Escherichia coli, Salmonella enterica, e Vibrio cholerae. Este antigénio O não é importante para a toxicidade da bactéria 39. Por outro lado, a porção de lípido A localiza-se no folheto exterior da membrana, sendo a secção responsável pela toxicidade da molécula, originando efeitos tóxicos e consequentemente, induzindo graves respostas imunitárias 38. 9 Figura 1.3 - Esquema ilustrativo da estrutura do lipopolissacarídeo (LPS) de uma bactéria Gramnegativa. O LPS é constituído pelo antigénio O (cadeia de lipopolissacarídeo específico O), dois núcleos Oligossacáridos e o lípido A, componentes essenciais para a diferenciação de estirpes e virulência das bactérias (adaptado 36). O antigénio é exposto na superfície mais externa da célula bacteriana, sendo um alvo para o reconhecimento e acolhimento de componentes do Sistema Imunitário. Quando existem elevadas concentrações de LPS e as células bacterianas são lisadas pelo sistema imunitário, os fragmentos de membrana contendo lípido A são libertados para a circulação, causando diarreia, febre, e choque séptico, normalmente fatal. No entanto, em concentrações baixas, o lípido A, é um ativo imunomodulador, que pode induzir a resistência não específica tanto para bactérias como para infeções virais 38. Tal como em outras bactérias gram-negativas, o LPS de Bcc induz uma forte resposta imunológica, nomeadamente através da indução da expressão de citocinas próinflamatórias, tais como, o fator de necrose tumoral (TNF), interleucina-6 (IL-6) e interleucina-8 (IL-8), o que contribui para a lesão das células do hospedeiro. Contudo estas bactérias contêm um LPS com uma estrutura pouco usual que diminui as cargas aniónicas da sua superfície celular, contribuindo para a inibição da ligação e subsequente efeito de antibióticos catiónicos, desempenhando um papel importante na resistência a muitos antibióticos 35. Assim, embora ainda controverso, a função do LPS tem estado sob investigação experimental há vários anos, devido ao seu importante papel na ativação de vários fatores de transcrição e à produção de vários tipos de mediadores envolvidos no choque séptico, como o lípido A. 10 1.3. Sistema imunitário O sistema imunitário tem como principal função garantir a integridade funcional do nosso corpo, protegendo-o e eliminando potenciais ameaças que o coloquem em risco. Deste sistema, fazem parte todos os órgãos, mecanismos de ação, células e moléculas que vão, especificamente reconhecer e eliminar uma enorme variedade de agentes invasores estranhos 41, 42. Uma função exclusiva deste sistema é o reconhecimento, que permite discriminar o que é “próprio” (self) do que é “estranho” (non-self). Uma vez reconhecido o organismo estranho, o sistema imune recruta várias células e moléculas que se organizam na elaboração de uma resposta inata e adaptativa, de forma a eliminar e/ou neutralizar eficazmente o organismo estranho 42. 1.3.1. Imunidade Inata A imunidade inata não é específica, no entanto oferece a primeira linha de defesa contra agentes estranhos ao corpo. Assim, alguns dos componentes desta imunidade são as barreiras físicas, como a pele, as mucosas epiteliais e movimento de cílios e fluidos, que conferem proteção não só fisicamente mas também pelas substâncias químicas por elas produzidas (mucinas, lisozimas, entre outras); o complemento; os fagócitos e as células “Natural Killer” (NK) 43 . Os fagócitos, sendo um dos principais componentes desta imunidade, compreendem os macrófagos, neutrófilos e as células dendríticas (DCs). Tanto os macrófagos como os neutrófilos são efetores importantes e estão envolvidos na remoção imediata dos agentes patogénicos através de mecanismos de indução de morte intracelular dos patogénicos fagocitados e recetores inflamatórios locais. Por outro lado, as DCs, apesar da sua capacidade fagocítica, não estão diretamente envolvidas na destruição de agentes infeciosos, contudo são potentes células apresentadoras de antigénios, conseguindo migrar rapidamente dos tecidos para os nódulos linfáticos, ativar os linfócitos em repouso e iniciar respostas imunes específicas, como irá ser desenvolvido mais à frente 44. Assim, a eliminação dos patogénios pode ser efetuada direta ou indiretamente pelos neutrófilos, macrófagos e DCs, através do processo de fagocitose. Este processo iniciase através do reconhecimento, por parte dos fagócitos, do agente infecioso diretamente pelos recetores celulares, ou indiretamente, pelos anticorpos ligados a esses agentes, que 11 assim facilitam a fagocitose, formando-se extensões de membrana dos fagócitos à sua volta devido a modificações do citoesqueleto, nomeadamente nos filamentos de actina, que após a fusão dessas extensões membranares formam um fagossoma, que maturado torna-se um fagolisossoma, dentro do qual o patogénio será destruído, pela ação de hidrolases e de radicais livres de oxigénio 45. Estas células estão envolvidas também no desencadeamento da resposta inflamatória, pela libertação de citocinas. O reconhecimento inato é efetuado por recetores que reconhecem padrões moleculares conservados associados a agentes patogénicos microbianos (PAMPs) e que são referidos como recetores de reconhecimento padrão (PRR), reconhecendo padrões que não se encontram no organismo, sinal da presença de agentes patogénicos 46 . Os PRR estão associados a células, como é o caso dos recetores toll-like (TLR). Estes recetores desempenham um papel chave no sistema imune inato, bem como no sistema digestivo, sendo expressos na membrana de células fagocitárias, como monócitos, neutrófilos, macrófagos e células dendríticas, que reconhecem os PAMPs, ativando a resposta imune 43. Vários TLR são conhecidos, no entanto dois são especialmente encontrados em bactérias gram-negativas, nomeadamente TLR2 e TLR4. O TLR2 reconhece o lipopolissacarídeo (LPS) encontrado nas bactérias gram-negativas, tendo sido desde há muito reconhecido que a exposição dos mamíferos a pequenas quantidades de LPS purificado conduz a uma resposta inflamatória aguda, sendo que, o mecanismo para este efeito é a resposta através de um TLR em macrófagos que reconhece o LPS e provoca uma resposta inflamatória após a exposição 43. Por outro lado, TLR4 foi reconhecido em células CD14, funcionando como um dímero que depende de uma pequena proteína MD-2 (complexo recetor), para o reconhecimento de LPS. No entanto, CD14 também facilita a apresentação de LPS ao MD-2 39 .Assim, a ligação a CD14 e/ou a TLR4 e/ou ao MD2, promove a secreção de citocinas pró-inflamatórias nos vários tipos de células, mas especialmente em macrófagos e células B. Deste modo, os TLRs adquirem total relevância pois fazem o reconhecimento do patogénio e estimulam a resposta inflamatória contra agentes infeciosos, especialmente em bactérias gram-negativas porque estão presentes as proteínas e endotoxinas do LPS 39 . Quando as barreiras atrás referidas são quebradas, a resposta inata continua através de outros componentes humorais e celulares. Como componentes humorais temos o exemplo das proteínas pertencentes à via do complemento, que se encontram em circulação no sangue sobre a forma inativa, mas que na presença de infeção, interagem 12 entre si com a finalidade de eliminar o agente infecioso, quer promovendo a sua lise, quer facilitando a fagocitose e induzindo a resposta inflamatória 43. 1.3.2. Imunidade Adaptativa Enquanto a imunidade inata reconhece padrões comuns a todos os microorganismos, respondendo a todos de igual forma, a imunidade adaptativa (também conhecida por imunidade antigénio-especifica ou adquirida) é específica, pois reconhece diferentes moléculas em microorganismos distintos, dirigindo uma resposta específica para os mesmos. Este tipo de imunidade é caracterizado pela formação de uma memória imunitária, que permite a criação de respostas mais vigorosas quando há exposição repetida de um mesmo microrganismo 43 . Esta imunidade pode ser dividida em dois tipos de resposta: a humoral e a celular (Fig. 1.4). Figura 1.4 – Esquema ilustrativo dos vários componentes da resposta adaptativa - Resposta humoral e celular, iniciada por células dendríticas (DCs). As subpopulações de células T não se encontram diferenciadas neste esquema (adaptado de 47). 13 A resposta humoral é mediada por anticorpos, que reconhecem diferentes tipos de antigénios e promovem diversos mecanismos efetores (neutralização e fagocitose), sendo produzidos por linfócitos B, de forma a combater agentes patogénicos extracelulares e toxinas. De facto, quando um linfócito B reconhece um antigénio, inicia um processo de expansão clonal, em que as células originadas irão dividir-se entre plasmócitos produtores de anticorpos, e em células B de memória (Fig. 1.4) 48 . Por outro lado, a resposta celular é mediada por linfócitos T (ou células T) que promovem a destruição de agentes intracelulares apresentados por fagócitos, ou mesmo células tumorais, ou segregam várias citocinas, que desempenham um papel central na ativação tanto de células T, como de células B e outras células que participam na resposta imune 43 . Contudo estes linfócitos T não reconhecem diretamente os antigénios como os linfócitos B 49. Mais especificamente, existem dois tipos principais de linfócitos T: os T citotóxicos (Tc) e os T auxiliadores (Th,). Os linfócitos Tc, também designados CD8+ (pela expressão da molécula CD8 na sua superfície), reconhecem antigénios intracelulares processados e apresentados à superfície da célula infetada, ligados a moléculas do Complexo Major de Histocompatibilidade de classe I (MHC-I). As moléculas de MHCI encontram-se em todas as células nucleadas, e quando um antigénio intracelular é reconhecido pelos linfócitos Tc, estes exercem a sua toxicidade sobre a célula infetada, eliminando-a. Por outro lado, os linfócitos Th, também designados por CD4+ (pela expressão da molécula CD4 na sua superfície), reconhecem antigénios extracelulares, processados e apresentados nas moléculas do Complexo Major de Histocompatibilidade de classe II (MHC-II), presentes nas células apresentadoras de antigénios (APCs), nomeadamente linfócitos B, macrófagos e DCs 48 . Os linfócitos Th quando ativados segregam citocinas com um importante papel na determinação do tipo de resposta imunitária. Assim, dependendo das citocinas que segregam, dividem-se ainda maioritariamente em três subpopulações: Th1, Th2 e Th17 (Fig. 1.5). Os Th1 segregam elevados níveis de interleucina-2 (IL-2), fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interferon gama (IFN-γ) (citocinas pró-inflamatórias), sendo essenciais na promoção da imunidade celular (ativação de linfócitos Tc, macrófagos e outras células), promovendo uma resposta mediada por células imunes contra patogénios intracelulares invasivos 50, 51 . Por outro lado, os Th2 são importantes na produção de anticorpos, produzindo uma variedade de citocinas anti-inflamatórias, incluindo a IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, e IL-13, promovendo uma resposta imune humoral 14 contra patogénios extracelulares, prevenindo doenças parasitárias e estão envolvidos nas respostas alérgicas e produção de IL-17 menores quantidades de TNF-α e IL-13 52 . Ambas as células Th1 e Th2 produzem 50, 51 . Já os Th17 são importantes para eliminar principalmente agentes microbianos e promovem bastante inflamação, combatendo também infeções extracelulares 53. Algumas citocinas promovem claramente a inflamação e são chamadas de citocinas pró-inflamatórias, ao passo que outras citocinas suprimem a atividade das citocinas pró-inflamatórias e são chamados de citocinas anti-inflamatórias. A definição funcional das citocinas anti-inflamatórias é a capacidade destas inibirem a síntese de IL1, fator de necrose tumoral (TNF), e outras grandes citocinas pró-inflamatórias. Por exemplo, IL-4, IL-10 e IL-13 são ativadoras de linfócitos B. No entanto, a IL-4, IL-10 e IL-13 também são citocinas anti-inflamatórias. O facto de estas citocinas também serem anti-inflamatórias deve-se à sua capacidade para suprimirem a expressão de genes de citocinas pró-inflamatórias, tais como IL-1 e TNF 54. Portanto, um "equilíbrio" entre os efeitos das citocinas pró-inflamatórias e antiinflamatórias é pensado para determinar o resultado da doença, seja a curto ou longo prazo. De facto, alguns estudos têm dados sugerindo que a susceptibilidade da doença é geneticamente determinada pelo equilíbrio ou expressão de qualquer citocina proinflamatória ou anti-inflamatória 54. A regulação da ativação das células T pelas citocinas anti-inflamatórias é um elemento crucial no controlo do início deste processo sendo que as citocinas produzidas no microambiente local definem o tipo de resposta moduladora que será gerada 50, 51. Como tal, para ativação e proliferação destes linfócitos, são então necessários três sinais. O primeiro sinal consiste no reconhecimento do péptido antigénico, que está ligado à molécula de MHC pelo recetor dos linfócitos T (TCR) 49. O segundo baseia-se na interação de membros da família de moléculas co-estimulatórias, como CD80 e CD86, antigénios de diferenciação presentes na superfície das DCs, com recetores CD28 ou CTLA-4 na superfície dos linfócitos T 55 provenientes de células da resposta inata e das DCs 15 . Sinais adicionais, como citocinas 56 são também essenciais (Fig. 1.5). Figura 1.5 – Esquema ilustrativo da resposta imune – Resposta Inata e Adaptativa, iniciada por DCs ou macrófagos, células capazes de ativar as células T de repouso e de iniciar uma resposta imunológica primária e de memória. Neste esquema as subpopulações de células T encontram-se diferenciadas (adaptado de 57). Existem ainda os linfócitos T reguladores que têm um papel importante na regulação, manutenção e tolerância da resposta imune, podendo suprimi-la. Esta subpopulação de linfócitos também tem um papel relevante na tolerância do cancro, reprimindo respostas imunes anti-tumorias 58. 1.4. Células Dendríticas As células dendríticas (DCs) foram descobertas por Ralph Steinman em 1973, são um componente essencial do sistema imune e estão presente em todos os mamíferos 61 59- . Estas representam uma população leucocitária heterogénea devido à sua origem 16 celular diversa, localização anatómica (pele, vias aéreas, tecidos, sangue e espaços interstícios de órgãos linfáticos), estado de maturação e função imunológica 62, 63. As DCs atuam como “sentinelas” do sistema imunitário, sendo fundamentais no início e regulação da resposta imune inata e adaptativa 64, estando envolvidas na captura e apresentação de antigénios e na indução de resposta pelas células T 65. Assim, as DCs são potentes células apresentadoras de antigénios (APCs), e as mais especializadas na ativação das células T de repouso, responsáveis por iniciar uma resposta imunológica primária e de memória, modulando o tipo de resposta imune adaptativa 44, 66. O tráfico de DCs é crucial para a execução das funções normais das mesmas e está interligado aos principais recursos de DCs, como a maturação e a imunogenecidade 65. A maturação destas células consiste num extenso processo de diferenciação dependente de estímulos e é irreversível, provocando alterações morfológicas, nomeadamente a perda de estruturas/placa de adesão, reorganização do citoesqueleto, aquisição de alta mobilidade celular (que permite a migração das DCs dos tecidos para zonas de linfócitos T nos nódulos linfáticos) e outras alterações fenotípicas e funcionais. Deste modo, a DC passa por dois estádios, o imaturo e o maturo 67. No estado imaturo, as DCs encontram-se a “patrulhar” o microambiente em que se encontram, sendo caracterizadas por uma elevada capacidade de internalização e processamento de antigénios, apresentando uma baixa expressão de moléculas de MHCII à superfície e outras moléculas co-estimulatórias (CD80, CD86 e CD83), capturando os antigénios que estão presentes por fagocitose (consiste na captura de microrganismos, ou fragmentos de células apoptóticas e necróticas, envolvendo um reconhecimento por recetores da superfície celular), macropinocitose (internalização de grandes quantidades de fluido extracelular e solutos nele dissolvidos, com formação de grandes vesículas) ou por endocitose mediada por recetores (processo semelhante à fagocitose, contudo, as pequenas partículas endocitadas ligam-se a proteínas recetoras específicas concentradas em determinados locais da membrana plasmática, formando uma pequena depressão na membrana que está coberta por clatrina) 43, 59, 67, 68 . Esta captura é claramente relevante no processamento eficiente de antigénios e apresentação dos seus produtos aos linfócitos T via moléculas MHC 64 . Após internalização dos antigénios, as DCs degradam-nos, transformando-os em pequenos péptidos que se vão ligar a moléculas MHC 49, 69 , enquanto vão migrando da periferia para os nódulos linfáticos, através da linfa, onde os antigénios processados são apresentam às células T 17 promovendo a sua ativação (Fig. 1.6). Neste processo são libertadas citocinas próinflamatórias e quimiocinas que são estimuladas pela presença do antigénio 59, 63. As DCs maturas perdem a capacidade de captura de antigénios mas tornam-se extremamente eficientes na apresentação de antigénios e ativação das células T, onde se inicia a resposta adaptativa (Fig. 1.6). No entanto, as DCs que chegam aos nódulos linfáticos imaturas, têm também um papel relevante na resposta imunitária, nomeadamente na indução de tolerância, podendo em vez de ativar a resposta imunológica efetora específica, impedir a eliminação ou favorecer a anergia do antigénio, sendo que esta sua vertente é também fisiologicamente muito importante, por exemplo para evitar a autoimunidade 70. Assim, a apresentação de antigénios derivados de microorganismos deverá resultar na ativação de células T efetoras, enquanto a apresentação de antigénios próprios deve levar à inibição das células T efetoras e ou ativação das células T reguladoras (Fig.1.6) 63. Esta ativação de células T é fortemente influenciada e controlada pelo tipo de sinais das DCs, nomeadamente pela expressão e produção de várias citocinas (como referido na seção 1.3.2), podendo comprometer a ativação T para distintas funções efetoras 71. Alguns patogénios, no entanto, desenvolvem meios de modular as funções das DCs, suprimindo a sua maturação adequada, prevenindo uma resposta imune efetora, e/ou ativando uma resposta T reguladora, por forma a garantir a sua persistência no organismo e infeção bem-sucedida 51, 72. De facto, os vários mecanismos que permitem a interação entre as DCs e os microrganismos, por exemplo, os vários tipos de recetores, com diferentes particularidades, modulam a função das DCs na direção adequada, nomeadamente conduzindo à expressão de diferentes sinais (tipo de citocinas e quimiocinas, grau de maturação), que influenciam criticamente o tipo de resposta imune contra os microrganismos em causa. 18 Figura 1.6 – Maturação das células dendríticas (DCs). No estado imaturo, as DCs capturam o antigénio por endocitose nos tecidos, migrando da periferia para os nódulos linfáticos através dos órgãos aferentes, onde os antigénios se apresentam às células T e as estimulam. Neste processo são libertadas citocinas pró-inflamatórias e quimiocinas que são estimuladas pela presença do antigénio, degradando-os em pequenos péptidos que se ligam a moléculas MHC, migrando posteriormente para os gânglios linfáticos. Aqui, as DCs maturas, apresentam os antigénios processados às células T dando inicio à resposta adaptativa (adaptado de 60). As DCs têm também um papel importante na imunidade antitumoral, pois têm capacidade para apresentar antigénios tumorais às principais células T efetoras revertendo a tolerância patológica a tumores. Por essa razão, as DCs têm vindo a ser estudadas como possíveis vacinas celulares anti-cancro 66 . Assim, melhorar as imunoterapias anti-cancro parece depender muito de como a imunogenecidade, sobrevivência e migração das DCs é regulada, pelo que, é muito importante encontrar formas que modulem a apresentação de antigénios, a capacidade migratória e a viabilidade das DCs 59. 19 1.5. Introdução ao tema de tese As infeções respiratórias crónicas constituem uma das manifestações mais graves do quadro clínico dos doentes com FQ. As bactérias do Bcc têm surgido como os patogénios oportunistas mais temidos, dado o seu potencial para se propagarem, a sua inerente resistência à terapia antimicrobiana, o risco de síndrome de cepacia (pneumonia acompanhada por septicemia) e uma marcada redução na esperança média de vida destes doentes. O Bcc tem assim ganho cada vez mais atenção por parte da comunidade científica devido ao perigo que representa para os doentes com FQ, estando em estudo os mecanismos de infeção e invasão e a sua interação com o hospedeiro. Vários estudos parecem demonstrar que a adaptação das bactérias do Bcc ao pulmão dos doentes com FQ, sobretudo B. cenocepacia (espécie mais isolada nestes doentes), está associada à sua persistência e infeções invasivas. Sugerem ainda que estes patogénios possuam mecanismos que lhes permitam evadir-se da resposta imune antobacteriana do hospedeiro 13. Nomeadamente através de alterações na função normal das células fagocíticas e destruição destas 73 . Os neutrófilos e macrófagos, que geralmente destroem os patogénios invasores, são ineficazes na eliminação de bactérias do Bcc, podendo ficar infetados, uma vez que estas bactérias podem ser capazes de sobreviver dentro destas células 29, 74. As DCs, residentes no pulmão, atuando como mediadores cruciais entre imunidade inata e adaptativa em resposta a infeções pulmonares podendo, portanto, desempenhar um papel importante na patogénese das bactérias do Bcc. De facto, dados recentes da literatura, demonstraram que B. cenocepacia, ao contrário de B. multivorans, interfere com o normal funcionamento das DCs, induzindo uma resposta inflamatória acentuada (comprovado pelo aumento de expressão de citocinas pró-inflamatórias), inibindo a maturação das DCs após a fagocitose (como se verificou por análise dos marcadores de maturação e de co-estimulação CD80 e CD86), induzindo mesmo a sua morte celular (necrose) 73. No entanto, não há muitos estudos posteriores que aprofundem esta questão ou clarifiquem os mecanismos subjacentes a esta modulação das DCs por B. cenocepacia. Uma vez que patogenicidade das bactérias do Bcc, especialmente B. cenocepacia, pode estar relacionada com a sua capacidade de adaptação ao sistema imunitário do ambiente pulmonar do hospedeiro suscetível, e tendo em conta a enorme relevância das 20 DCs na mobilização dos vários braços da resposta imunitária contra patogénios (como desenvolvido na secção 1.4), é crucial perceber melhor a interação destas bactérias com as DCs. Para obter indicações sobre as estratégias adaptativas adotadas por B. cenocepacia durante a infeção e colonização a longo prazo de um doente com FQ, o grupo do IBB/IST, liderado pela Professora Isabel Sá-Correia tem-se dedicado ao estudo de variantes clonais sequencialmente isoladas do mesmo doente com FQ (doente J), pelo período de 3 anos e meio até à sua morte por síndrome da cepacia, como referido anteriormente (secção 1.2). O grupo de Glicoimunologia da Faculdade de Ciências Médicas tem uma vasta experiência no estudo da funcionalidade das DCs humanas 75-77 e assim esta dissertação surge no âmbito de uma colaboração entre estes dois grupos de investigação. A tese tem como objetivo estudar aprofundadamente a interação dos vários isolados clonais de B. cenocepacia com as DCs, para esclarecer melhor de que forma a modulação da função destas células, pode estar relacionada com a adaptação e consequente patogenicidade desta bactéria oportunista. Mais especificamente, foram selecionados para este estudo 4 isolados clonais, cujas características foram anteriormente descritas na secção 1.2.1 e estão indicados na Fig. 1.7. Nomeadamente, foram escolhidos os isolados IST439 (isolado I) e IST4134 (isolado IV) por serem o primeiro e o último a serem recolhidos, respetivamente, o isolado IST4113 (isolado II) por ter sido recolhido depois de intenso tratamento com antibióticos e ser o mais resistente, e o isolado IST4129 (isolado III) por ser um isolado intermédio que apresenta características diferentes dos restantes, nomeadamente baixa resistência a antibióticos. Figura 1.7 – Cronologia dos isolados clonais obtidos do doente J colonizado com B. cenocepacia Em destaque os 4 isolados em estudo nesta dissertação (adaptado de 5). 21 O objetivo foi então verificar se havia diferenças entre estas variantes clonais de B. cenocepacia, na sua capacidade para modular as funções da DC. Nomeadamente pretendeu-se investigar a interação entre estas bactérias e DCs humanas, obtidas de dadores saudáveis, ao nível de: i) A internalização pelas DCs dos vários isolados (viáveis ou previamente inativados por calor), i) A capacidade dos vários isolados (viáveis, inativados por calor ou mesmo só o LPS de cada isolado) de inibir e/ou induzir o processo de maturação das DCs, ii) O efeito da interação dos diferentes isolados com as DCs na viabilidade celular destas. iii) A consequência imunológica, em termos da ativação das células T, da interação entre as DCs e cada um dos isolados. Espera-se que os resultados obtidos com esta dissertação possam contribuir para uma melhor compreensão da patogenicidade de B. cenocepacia, evidenciando que a modulação das funções das DCs pode ser, pelo menos em parte, uma das estratégias de adaptação destas bactérias. Por outro lado, é cada vez mais aceite a ideia de que as DCs têm um enorme potencial terapêutico, podendo ser manipuladas e utilizadas como ferramentas para potenciar a imunidade contra patogénios. Assim, o conhecimento obtido com este trabalho por certo será também relevante para o futuro desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas, nomeadamente para doentes com FQ ou outras patologias cujos doentes sejam particularmente suscetíveis de infeção com Bcc. 22 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Isolados de Burkholderia cenocepacia, meio, condições de crescimento e inativação. Nesta dissertação foram estudados quatro isolados de B. cenocepacia, nomeadamente IST439, IST4113, IST4129 e IST4134 (como referido anteriormente), Estes isolados foram obtidos a partir de secreções respiratórias (expetoração) de um mesmo doente (doente J) com FQ (acompanhado no centro de FQ do Hospital de Santa Maria em Lisboa) cronicamente infetado, entre Janeiro de 1999 e Julho de 2002, sendo considerada a natureza clonal destas variantes com base no seu perfil “Multi Locus Sequence Typing” (MLST) 5. As culturas foram sempre preservadas a -80ºC em glicerol 1:1 (vol/vol) 5 e quando em uso, os isolados foram crescidos e mantidos em placas de meio Luria-Bertani (LB) sólido (Difco). Para uso destas variantes clonais, inicialmente foi efetuado um pré-inóculo, cultivando-se cada um dos isolados em 10 mL de meio LB, à temperatura de 37ºC com uma agitação de 250 rpm, até que estes atingissem a fase estacionária. Posteriormente ajustou-se a densidade óptica a 640 nm (DO640), de cada isolado, a 0,05±0,005 e realizou-se um novo inóculo em 10 mL de meio LB (em condições de crescimento idênticas às descritas para o pré-inóculo. As medições de DO das culturas microbianas (quantidade de luz difundida pela suspensão bacteriana, que se manifesta como absorvência 78, 79 ) foram realizadas num espectrofotómetro UV-1700 PharmaSpec (Shimadzu, Duisburg, Alemanha). Os isolados bacterianos foram então recolhidos a meio da sua curva exponencial de crescimento (DO640 de 0,4, especificamente para estas bactérias) e diluídos em 1mL de 0,9% (m/v) de cloreto de sódio (NaCl) (ver composição no anexo I) para uma DO640 de 0,02±0,002. Por fim, 100 µl desta suspensão bacteriana foram plaqueados em placas de agar LB e as placas incubadas durante 24 horas na estufa a 37ºC. Paralelamente foram também realizados crescimentos da estirpe DH5 de E. coli., seguindo o mesmo procedimento. Esta estirpe bacteriana, não patogénica, serviu de controlo aos ensaios da interação das DCs com os isolados de B. cenocepacia, pois a sua internalização pelas DCs, a forma como ativavam a expressão dos marcadores de maturação e promoviam a 23 produção de Interferon gama por linfócitos, já tinham sido aspetos bem estudados pelo grupo de Glicoimunologia 77. Após o crescimento bacteriano em meio sólido, foram retiradas da placa algumas unidades formadoras de colónias (CFUs) de cada tipo de bactérias e ressuspendidas em 1mL de 0,9% (m/v) de NaCl. Após a leitura da DO640 destas suspensões bacterianas estas foram centrifugadas a 8000 rpm durante 10 minutos e o sedimento celular ressuspendido em meio de cultura RPMI-1640 completo, por forma a obter-se uma suspensão bacteriana com uma DO640 de 1,0. Embora, neste trabalho se tenha testado trabalhar a partir de alíquotas congeladas dos crescimentos bacterianos dos vários isolados, optou-se por utilizar em cada ensaio bactérias cultivadas sempre em meio sólido, pois de certa forma, estas condições tentam mimetizar as condições de crescimento que estas bactérias podem encontrar no ambiente pulmonar dos doentes 34. Para uma compreensão mais fácil desta dissertação e acompanhamento da descrição dos resultados e discussão, os isolados serão referidos de acordo com a tabela 2.1. Tabela 2.1 – Denominação dada a cada isolado no decorrer da dissertação. Isolado Denominação IST439 I IST4113 II IST4129 III IST4134 IV Para alguns ensaios, estes isolados (e E. coli), após cultivados como acima descrito, foram previamente inativados por calor, através da sua fervura a 65ºC durante 30 minutos, tal como refere a literatura, sendo esta a temperatura ideal para as bactérias se manterem intactas, mas inviáveis. Para além dos isolados de B. cenocepacia, foi-nos ainda cedido pelo grupo do IST o LPS (previamente extraído) dos respetivos isolados. 24 2.2. Obtenção de DCs derivadas de monócitos humanos 2.2.1. Método de microesferas imunomagnéticas e coluna LS As DCs utilizadas no decorrer desta tese foram obtidas através da diferenciação de monócitos humanos, obtidos a partir de concentrados leuco-plaquetários (buffy-coats) de dadores saudáveis, fornecidos pelo Instituto Português do Sangue (IPS). Numa primeira fase, procedeu-se à separação das células mononucleares (fração celular composta maioritariamente de monócitos e linfócitos) através de centrifugações por gradiente de densidade. Para isso, o concentrado leuco-plaquetário foi diluído em Tampão Fosfato Salino (PBS) 1x (ver composição no anexo I) numa proporção de 2:3 e centrifugado a 2500 rpm durante 10 minutos (sem sistema de travagem) (Heraeus), para remoção da maioria das plaquetas e eritrócitos. Após a centrifugação, o anel da interfase (concentrado leucocitário) foi removido e transferido para um novo tubo, onde foi diluído três vezes em PBS 1x. O concentrado foi depois adicionado lentamente sobre 12 mL da mistura Ficoll-Hypaque (Biochrom AG) e sujeito a uma centrifugação a 2500 rpm durante 20 minutos, num rotor oscilante e sem sistema de travagem 80, 81 . Esta mistura de Ficoll-Hypaque possui uma densidade superior à das células mononucleares e inferior aos glóbulos vermelhos e granulócitos, permitindo uma separação por diferença de densidades. Como resultado da centrifugação, obteve-se um anel das células mononucleares na interfase, entre o plasma na fase superior e os eritrócitos e granulócitos na fase inferior do Ficoll-Hypaque. O anel resultante foi depois transferido para um novo tubo, ressuspendido em PBS 1x e sujeito a três centrifugações sucessivas a 4ºC, a primeira a 1400 rpm durante 10 minutos e a segunda centrifugação a 800 rpm durante 5 minutos, para remover os granulócitos restantes, plaquetas e resíduos de Ficoll-Hypaque. Nesta fase, o sedimento celular resultante foi ressuspendido em 10 mL de PBS 1x, tendo-se retirado uma pequena alíquota à qual se adicionou azul tripano a 0,4% para determinar a concentração (número de células/mL) e a viabilidade celular, usando uma câmara de NeuBauer (Bright-Line), e contando o número de células ao microscópio óptico (Nikon). De acordo com a concentração celular obtida, e após nova centrifugação, as células foram ressuspendidas em 80 µl de tampão “Beads” frio (solução usada no protocolo de separação de células, utilizando microesferas imunomagnéticas) e 20 μl de 25 microesferas imunomagnéticas revestidas com anticorpo anti-CD14 (Miltenyi Biotec) por cada 3 x 107 células. As microesferas imunomagnéticas anti-CD14 reconhecem e ligam-se apenas aos monócitos, uma vez que estes expressam na sua superfície o marcador CD14. As células foram incubadas com as microesferas durante 15-20 minutos a 4º C, sendo de seguida lavadas com tampão “Beads” (ver composição no anexo I) frio e centrifugadas a 1200 rpm durante 10 minutos. O sedimento celular resultante foi ressuspendido em 3 mL de tampão “Beads” frio. A suspensão celular foi passada por uma coluna de seleção positiva LS (Miltenyi Biotec) montada num MidiMACS Separator (Miltenyi Biotec), previamente equilibrada com 3 mL de tampão “Beads” frio. O MidiMACS Separator exerce um campo magnético, promovendo a retenção na coluna dos monócitos ligados às esferas magnéticas anti-CD14. Após a passagem da suspensão celular, a coluna foi lavada três vezes com 3 mL de tampão “Beads” frio sendo desprezada a fração celular CD14 negativa (ou reservada à parte, para alguns ensaios com linfócitos). A fração CD14 positiva (que ficou retida na coluna) foi recuperada por eluição com 5 mL de solução tampão “Beads”, por ação da pressão produzida com o auxílio do êmbolo, após desmontar a coluna do campo magnético. De seguida, após contagem dos monócitos obtidos, procedeu-se a nova centrifugação de 10 minutos a 1200 rpm. Os monócitos foram ressuspendidos em meio de cultura RPMI-1640 suplementado com 10% (v/v) de soro fetal bovino (Sigma-Aldrich), 2 mM de L-glutamina (SigmaAldrich) 100 µg/mL de Penicilina/Estreptomicina (Sigma-Aldrich), (v/v) 1% de aminoácidos não-essenciais (Sigma-Aldrich), 1% (v/v) de piruvato de sódio (SigmaAldrich) 82 . Ao meio suplementado utilizado na ressuspensão dos monócitos foi ainda adicionado 750 U/mL de Interleucina-4 (IL-4) (R&D Systems) e 1000 U/mL da citocina “Granulocyte macrophage colony-stimulating fator” (GM-CSF) (R&D Systems). Os monócitos ressuspendidos foram distribuídos em placas de 24 poços (Greiner Bio-one) numa concentração de 1 x 106 células/mL. As culturas foram mantidas durante seis dias numa estufa a 37ºC e com uma atmosfera humedecida com 5% de dióxido de carbono (CO2) (Heraeus), sendo que o meio de cultura foi renovado de dois em dois dias, retirando metade do volume de cada poço gentilmente (dado que os monócitos se depositam mas não são aderentes) e adicionando a mesma quantidade de meio de cultura fresco com IL-4 e GM-CSF nas quantidades descritas anteriormente. Ao fim dos seis dias de cultura, os monócitos originaram as DCs imaturas. 26 2.2.2. Método de aderência celular ou “Panning” Alternativamente ao método descrito anteriormente, que é bastante dispendioso e demorado, para alguns ensaios as DCs foram obtidas a partir de monócitos humanos isolados de “buffy-coats”, pelo método de aderência celular ou “Panning”. Este método baseia-se nas características diferenciais das células que fazem parte do anel leucocitário (após centrifugação com Ficoll-Hypaque), nomeadamente o facto de os monócitos aderirem naturalmente a uma superfície sólida, enquanto os linfócitos se mantêm em suspensão. Assim, numa primeira fase, há separação das células mononucleares como descrito na seção anterior, através de centrifugações por gradiente de densidade, com FicollHypaque. O anel obtido foi transferido para um novo tubo, ressuspendido e sujeito a três centrifugações sucessivas a 4ºC, como anteriormente descrito. Tendo em conta a concentração celular obtida, as células foram ressuspendidas no volume apropriado de RPMI-1640 suplementado (descrito na secção anterior) e colocadas em placas de Petri próprias para culturas celulares, aproximadamente com uma concentração de 20×106 células /mL) tendo sido incubadas durante 30-45 minutos na estufa de 37ºC com 5% de CO2 83. Após este período de incubação verificou-se que o fundo da placa estava opaco com as células aderentes (monócitos). Foi então removido o meio com as células não aderentes (linfócitos) com auxílio de uma pipeta e inclinando a placa devagar sem tocar diretamente no fundo. Posteriormente efetuaram-se duas lavagens com meio RPMI1640 base, com o intuito de retirar alguns linfócitos (fração não aderente) que tenham ficado na placa. Por fim foram adicionados às placas de cultura 12 mL de meio RPMI1640 completo, com as citocinas GM-CSF (1000U/mL) e IL-4 (750 U/mL). As culturas foram mantidas durante seis dias numa estufa a 37ºC e com uma atmosfera humedecida com 5% de CO2, sendo que o meio de cultura foi renovado de dois em dois dias, retirando metade do volume de cada placa gentilmente (dado que os monócitos se depositam mas não são aderentes) e adicionando a mesma quantidade de meio de cultura fresco com IL-4 e GM-CSF nas quantidades descritas anteriormente. Ao fim dos seis dias de cultura, os monócitos originaram as células dendríticas imaturas. 27 Assim, é de referir, que em termos de características gerais, as DCs isoladas pelos dois métodos não apresentaram grandes diferenças, nomeadamente no que diz respeito à expressão de marcadores expressos à superfície (avaliado por citometria de fluxo) (Fig. 1 do anexo II). 2.3. Técnicas 2.3.1. Citometria de Fluxo A citometria de fluxo é uma tecnologia que mede e analisa múltiplos parâmetros e características físicas de células em suspensão, de forma individual dentro de populações heterogéneas, tendo como base um fluxo laminar, que permite que as células se atravessem no caminho de um feixe de luz. Assim, as células ao cruzarem-se com a luz provocam, a dispersão dos fotões tanto na direção longitudinal (Forward Scatter – FSc), que é proporcional ao tamanho da célula, assim como na direção transversal (Side Scatter – SSc), proporcional à complexidade e granularidade relativa da célula 84. Esta técnica detecta também moléculas fluorescentes que podem ser anticorpos fluorescentes, que reconhecem recetores específicos das células ou corantes fluorescentes que se ligam seletivamente ao material celular ou ainda, como neste caso, bactérias fluorescentes que deixarão a célula fluorescente se forem internalizadas ou aderirem à superfície das células em estudo. Assim é possível obter informação quantitativa sobre a intensidade média de fluorescência (MFI) que corresponderá ao número de moléculas fluorescentes em cada célula da população celular em estudo 85 . Os dados resultantes são transferidos para um computador e representados graficamente. Esta tecnologia avalia um grande número de partículas e parâmetros de uma forma breve e rápida, sendo que alguns sistemas podem funcionar a taxas que se aproximam das cem mil partículas por segundo durante uma colheita de 10-20 parâmetros de cada partícula 85. O citómetro de fluxo utilizado foi um Attune® Acoustic Focusing Cytometer (Applied Biosystems), constituído por dois lasers nomeadamente o laser azul (488nm) e o laser vermelho (638nm), que detectam seis fluorescências, O primeiro é capaz de detectar até quatro fluorescências diferentes: BL1 (verde), BL2 (laranja), BL3 28 (vermelho) e BL4, enquanto o segundo detecta duas fluorescências: o RL1 e o RL2 (vermelho claro e escuro respetivamente). Os resultados obtidos foram analisados através do programa Attune Cytometric Software v1.2.5. 2.3.2. Reação de polimerização em cadeia em tempo real (RT-PCR) quantitativo A reação de polimerização em cadeia em tempo real (RT-PCR) é uma técnica eficaz capaz de analisar e quantificar a expressão de um determinado gene (nível de mRNA). Esta metodologia, altamente sensível e precisa, permite que os processos de amplificação e detecção sejam realizados numa única etapa, produzindo resultados de quantificação rápidos e fiáveis 86. Esta técnica distingue-se do PCR tradicional pela utilização de fluorocromos que, quando excitados emitem um sinal proporcional à quantidade de produto de PCR formado. Neste trabalho, a tecnologia utilizada foi a TaqMan (Fast Universal PCR Master Mix - Applied Biosystems), que consiste na utilização de sondas hidrolisáveis conjugadas a um fluorocromo quencher e a outro repórter. Enquanto a sonda está intacta, o fluorocromo quencher absorve a fluorescência do repórter. Contudo, durante a reação de amplificação, a sonda é degradada pela atividade 5’-3’ da exonuclease da Taq polimerase, resultando na libertação de fluorescência do fluorocromo repórter, que é detetado pelo aparelho. Assim, em cada ciclo de PCR, a emissão de fluorescência vai aumentando exponencial, proporcionalmente ao produto formado 86, 87. O método utilizado foi o de quantificação relativa, que se baseia na comparação da expressão de um gene numa amostra alvo e numa amostra calibradora88. A expressão relativa (RQ) de cada gene em estudo foi analisada de acordo com o modelo desenvolvido por Livak e Schmittgen, também designado por método 2 = - ΔΔCT 89 . Em que CT (“threshold cycle”), corresponde ao ciclo no qual é detetado o primeiro aumento significativo da fluorescência emitido pela sonda. ΔCT corresponde à variação entre o valor de CT do um gene em estudo e o valor de CT de um gene de expressão constitutiva (usado como controlo endógeno) na mesma amostra 90, ΔΔCT corresponde à variação entre o valor de ΔCT da amostra em estudo e o valor de ΔCT da amostra calibradora 89. 29 Este modelo matemático assume que as eficiências das reações de amplificação dos genes alvo e referência sejam aproximadamente iguais, ou seja que a eficiência da reação de amplificação seja aproximadamente de 100%. Resumindo, este método comparativo utiliza a seguinte fórmula aritmética: Quantidade relativa (RQ) = 2 –ΔΔCT Como referido, este método requer a utilização de controlos endógenos para normalizar a variação da expressão genética entre as várias amostras, visto que o material genético obtido de diferentes indivíduos varia ao nível da quantidade e integridade de mRNA. Geralmente os genes que são expressos constitutivamente, como os genes que codificam para a β-actina e para a enzima desidrogenase gliceraldeído 3fosfato (GAPDH), são utilizados para fazer esta normalização 91 . No entanto, neste trabalho apenas foi usado o gene da β-actina. O instrumento de RT-PCR utilizado foi o 7500 Fast Real-Time PCR System (Applied Biosystems), sendo que os resultados obtidos foram analisados de acordo com o acima referido modelo desenvolvido por Livak e Schimittgen - método 2-ΔΔCT 90 pelo programa 7500 Fast System SDS Software. 2.4. Avaliação da Internalização de B. cenocepacia pelas DCs 2.4.1. Marcação dos isolados de B. cenocepacia com fluorescência Para avaliar a internalização dos isolados de B. cenocepacia ou E. coli por DCs por citometria de fluxo, efetuou-se previamente a marcação das bactérias com um composto fluorescente de modo a ser possível visualizar a sua presença dentro das células. Para tal, usou-se o corante Isotiocianato de Fluoresceína (FITC) (Sigma-Aldrich). Este corante reage com aminas primárias de proteínas, de maneira a formar os conjugados de corante-proteína desejados, apresentando um espectro de absorção e emissão de fluorescência máxima de 494 nm e 518 nm respetivamente. Foram retiradas da placa de agar LB algumas CFUs dos diferentes isolados de B. cenocepacia e de E. coli e ressuspendidas em NaCl de forma a obter uma DO640 final de 30 1. As bactérias foram centrifugadas a 8000 rpms durante 10 minutos e ressuspendidas em (m/v) 300 µl de tampão Na2CO3 (50mM, pH≈ 9,2) (ver composição no anexo I) ao qual foram adicionados 3 µl do corante FITC, sendo esta suspensão posteriormente incubada durante 1 hora, no escuro, a 37ºC e com uma agitação de 250 rpm. Após o período de incubação, as bactérias foram lavadas três vezes com PBS 1x, para retirar o excesso de corante. No final, as células fluorescentes foram ressuspendidas em PBS 1x com uma DO640 de 1,0. Foi testada a viabilidade das bactérias assim preparadas tendo-se verificado que mantinham intacta a capacidade de proliferar tanto em meio líquido como em meio sólido após a marcação com FITC. No caso em que se pretendeu usar as bactérias inviáveis, após a marcação com FITC, as bactérias foram inativadas por aquecimento a 65ºC durante 30 minutos. No final, foram ressuspendidas em PBS 1x por forma a obter uma DO640 de 1,0. 2.4.2. Ensaios de Internalização As DCs foram recolhidas, centrifugadas a 1200 rpm durante 5 minutos e lavadas com PBS 1x. Após a lavagem e contagem, as células foram ressuspendidas em meio de cultura RPMI-1640 completo e incubadas com os diferentes isolados de B. cenocepacia ou E. coli (previamente marcados com FITC, conforme descrito no ponto 2.4.1) numa proporção 1:10. Mais especificamente, os ensaios de internalização foram realizados em 100 µl de suspensão celular de DCs com 5×105 células, às quais foram adicionados 20 µl de suspensão bacteriana (equivalente a 50×105 bactérias). O tempo de incubação das células com as bactérias foi de 6 horas na estufa de 37ºC com 5% CO2, tendo este período de incubação sido escolhido com base em resultados de otimização realizados previamente (Lopes A, Tese de Mestrado). Paralelamente foi realizado um ensaio a 4ºC. Tendo em conta que a internalização das bactérias por DCs (quer por fagocitose quer pelas capacidades invasivas da bactéria) ocorre essencialmente a 37ºC, mas que muitas bactérias ficam aderidas às DCs conferindo-lhes fluorescências, este controlo a 4ºC é importante, pois permite analisar e descontar a fluorescência das DCs que se deve à adesão das bactérias e não à sua internalização. Para além disso, para desvalorizar ainda mais a fluorescência das DCs que não está diretamente relacionada com as bactérias que entraram dentro da célula, posteriormente 31 ao período de incubação das DCs com as bactérias e após uma primeira centrifugação para remover as bactérias do sobrenadante, as DCs são ressuspendidas numa solução de azul tripano. Este corante não penetra nas células e ajuda a diminuir a fluorescência (efeito “quenching”) que está no exterior da célula e que se deve essencialmente às bactérias aderidas mas não internalizadas. Posteriormente, as células foram lavadas duas vezes com PBS 1x e por fim ressuspendidas com Attune Focusing Fluid 1x (tampão semelhante a PBS, otimizado para o transporte de partículas através do Attune® Acoustic Focusing Cytometer, (Applied Biosystems) e analisadas por Citometria de Fluxo. Os resultados obtidos foram analisados através do programa Attune Cytometric Software v1.2.5. Este ensaio foi executado com as bactérias vivas e com as bactérias inativadas por calor. 2.5. Avaliação do estado de maturação das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia. O estado de maturação das DCs foi avaliado tendo em conta a expressão de quatro moléculas tipicamente descritas como marcadores de maturação, nomeadamente o MHC-II, CD86, CD80 e CD83. Esta avaliação foi realizada através de anticorpos monoclonais fluorescentes anti-HLA-DR (MHC-II), anti-CD86, anti-CD80 e antiCD83. O anticorpo anti-HLA-DR reage com os antigénios leucocitários humanos DR (HLA), que corresponde a uma classe de moléculas MHC-II (complexo principal de histocompatibilidade de moléculas de classe II), sendo uma família de moléculas, normalmente encontrados apenas em células apresentadoras de antigénios 92 , sendo o aumento da sua expressão à superfície um dos sinais essenciais para a ativação das células T 93. Por outro lado, os anticorpos anti-CD86, anti-CD80 e o anti-CD83 fornecem um sinal co-estimulatório, também necessário para a ativação e sobrevivência das células T “naïve” e de memória 94, 95. Para estes ensaios as DCs foram incubadas com os vários isolados de B. cenocepacia e com a estirpe de E. coli em estudo durante 6 horas, como descrito 32 anteriormente. Como controlo negativo, as DCs foram incubadas nas mesmas condições mas na ausência de bactérias. Para este ensaio usaram-se bactérias em tudo tratadas como descrito anteriormente, mas não marcadas com fluorescência (neste caso a fluorescência analisada no citómetro de fluxo corresponde à fluorescência dos anticorpos). Após o período de incubação com as bactérias e lavagens (como descrito para os ensaios de internalização), as células foram ressuspendidas em 400 µl de PBS 1x (dividindo posteriormente 100 µl por 4 eppendorfs) e incubadas 15 minutos, no escuro à temperatura de 4ºC, com 3 µl do anticorpo anti-HLA-DR conjugado com aloficocianina (APC, Biolegend), 3 µl do anticorpo anti-CD86 conjugado com ficoeritrina (PE, Biolegend), 3µl do anticorpo anti-CD80 conjugado com isotiocianato de fluoresceína (FITC, Biolegend) ou 3µl do anticorpo anti-CD83 marcado com PE (BD Pharmingen TM ). Depois do período de marcação, as células foram lavadas uma vez a 1200 rpm, durante 5 minutos com PBS 1x. O sobrenadante foi desprezado e as células depositadas foram fixadas com 200 µl de paraformaldeído a 3,7% (m/v) (ver composição no anexo I). Aquando da análise por citometria de fluxo foram adicionados 800 µl de Attune Focusing Fluid 1x. Os resultados obtidos foram analisados através do programa Attune Cytometric Software v1.2.5. Este ensaio foi realizado com bactérias viáveis, inativadas por calor (ou com o LPS extraído de cada uma das bactérias (no caso de E. coli foi usado o LPS comercial (Sigma). Enquanto as bactérias viáveis ou inativadas foram incubadas com as DCs durante 6 horas, o LPS bacteriano foi colocado no meio de cultura das DCs durante 24 horas, numa concentração de 50 µg/mL tendo em conta experiências anteriores com o LPS de E. coli que demonstraram que ser este o tempo necessário para que nesta concentração se verificasse aumento na expressão dos marcadores de maturação das DCs. 2.6. Avaliação da viabilidade celular das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia A viabilidade celular das DCs após contato com os 4 isolados de B. cenocepacia foi avaliada por citometria de fluxo com base no sistema Anexina V/Iodeto de Propídeo (PI). 33 A Anexina V é uma proteína fosfolipídica dependente de cálcio, que interage especificamente com a fosfatidilserina (PS), um componente fosfolipídico da membrana citoplasmática 96, 97 . Nos primeiros eventos de apoptose ocorre perda de assimetria da membrana plasmática, verificando-se a translocação de PS da camada interna da membrana para a camada externa da membrana, permitindo assim a ligação da Anexina V 93. Assim, a utilização da Anexina V conjugada com fluorescência constitui um método para a detecção da apoptose precoce, antes da ocorrência de mudanças cromossómicas, mostrando que a externalização de PS precede às mudanças de permeabilidade da membrana e condensação nuclear, ocorrendo independente de estímulo 98 . Portanto, a Anexina V é normalmente usada em conjunto com um corante vital tal como o PI ou 7-amino-actinomicina (7-AAD), corantes fluorescentes que penetram nas células com a membrana plasmática danificada e se ligam ao DNA, para determinar mais especificamente se as células são viáveis, apoptóticas (em fase precoce ou tardia) ou necróticas 96. Nomeadamente, a Anexina V liga-se a células apoptóticas em fase precoce (integridade da membrana plasmática intacta) enquanto o PI se liga a células apoptóticas tardias e/ou necróticas (integridade da membrana alterada) 99 . As células viáveis não têm afinidade com nenhum destes compostos. Para estes ensaios de avaliação da viabilidade celular, as células em cultura foram incubadas na estufa a 37ºC com 5% CO2 durante 12 horas na presença dos isolados de B. cenocepacia e de E.coli ou na ausência de bactérias (controlo). Para tal, a cada1000 µl de suspensão celular de DCs com 1×106 células foram adicionados 40 µl de suspensão bacteriana (equivalente a 10×106 bactérias) de cada tipo. Ao controlo não foi adicionado a suspensão bacteriana. Após as 12 horas de incubação, as células foram recolhidas, centrifugadas 5 minutos a 1200 rpm e lavadas com PBS 1x. As células foram ressuspendidas em 190 µl de tampão de ligação Anexina V 1x (BD Pharmingen TM ). De seguida, as células foram marcadas com 5µl de Anexina V-FITC (BD Pharmingen Pharmingen TM TM ) e 5µl de PI (BD ) e incubadas durante 15 minutos no escuro à temperatura ambiente. Após a marcação adicionaram-se outros 200 µl do tampão de Anexina V 1x. Para a análise por citometria de fluxo foram adicionados 600 µl de Attune Focusing Fluid 1x. Os resultados obtidos foram analisados através do programa Attune Cytometric Software v1.2.5. 34 Estes ensaios foram realizados com as bactérias viáveis e não marcadas com fluorescência. 2.7. Avaliação da consequência imunológica, em termos de ativação de células T, na presença dos isolados clonais de B. cenocepacia Incubaram-se as DCs na ausência de bactérias (controlo), ou na presença dos isolados de B. cenocepacia ou E. coli durante 6 horas como descrito anteriormente. No final desta incubação, as células foram recolhidas e lavadas, para retirar as bactérias não internalizadas. Posteriormente foram ressuspendidas em meio RPMI-1640 completo, e adicionadas aos poços de uma placa de 96 poços de fundo redondo (Greiner Bio-one), onde já se encontravam células T autólogas (do mesmo indivíduo de onde provieram as DCs, correspondendo à fração CD14 negativa aquando o isolamento de monócitos, no tópico 2.3), originando-se diferentes co-culturas de DCs (pré-incubadas com as respetivas bactérias): células T, numa proporção 1:4. Estas co-culturas foram então colocadas na estufa de 37ºC com 5% CO2 onde permaneceram durante 72h. Após este período de incubação, cada amostra (6 poços de cada tipo de DCs) foi recolhida, centrifugada a 1200 rpm durante 10 minutos, e lavada com PBS 1x. O sobrenadante é descartado e as células sedimentadas congeladas a -80ºC, para posterior utilização. Estes ensaios foram realizados com as bactérias viáveis e não marcadas com fluorescência. O objetivo foi então determinar a expressão genética nas amostras acima referidas dos genes IFN-γ (interferon gama) - uma citocina produzida pelos linfócitos T (CD4+ e CD8+) efetores com importantes propriedades anti-virais, anti-bacterianas e antitumorais e envolvida na proliferação e ativação linfocitária 100 - e do gene que codifica para FOXP3 - um fator de transcrição com importante papel no desenvolvimento e função das células T reguladoras 101, 102 (tabela 2.2). 35 2.7.1. Extração de RNA e transcrição reversa para síntese de DNA complementar (cDNA) Após descongelamento dos sedimentos celulares procedeu-se à extração de RNA e à sua conversão para DNA complementar (cDNA). Para a extração de RNA foi utilizado o sistema comercial GenEluteTM Mammalian Total RNA Miniprep Kit (Sigma), tendo-se seguido as instruções e utilizado as soluções fornecidas pelo fabricante. As concentrações de RNA obtido foram determinadas com base na leitura da absorvência a 260nm (A260nm), recorrendo à seguinte relação: uma unidade de A260nm corresponde a 40 μg de RNA por mL. O estado de pureza das amostras foi analisado através da relação entre os valores das leituras a A260nm e A280nm (A260/A280), sendo que valores abaixo de 1,8 ou acima de 2,0 indicam contaminação com proteína ou álcool usado no procedimento experimental. A reação da conversão do RNA em cDNA foi efetuada com base na estratégia de oligonucleotídeos iniciadores (“primers”) aleatórios que se hibridam a diversas regiões do RNA permitindo a sua posterior transcrição reversa por ação da transcriptase reversa. Neste procedimento, usou-se o sistema comercial High Capacity cDNA Reverse Transcription Kit (Applied Biosystems, Foster City, CA,EUA), efetuando-se uma mistura (em microcubos de PCR) de 50 μl por reação, contendo 5 μl de solução tampão, 5 μl de oligonucleotídeos iniciadores aleatórios, 2 μl de nucleótidos livres (Dntps), 2,5 μl de transcriptase reversa (Enzima RT), 10,5 μl de água ultra pura (H2O Millipore) e 25 μl de cada amostra de RNA. A síntese de cDNA foi realizada no termociclador (PTC100 Programmable Thermal Controller, MJ Research Inc.) com o programa adequado: em 20 minutos a 25ºC e 2 horas a 37ºC. Após este tempo o termociclador é programado para ficar a 4ºC, caso não se retirem logo as amostras para colocar a -20ºC. 2.7.2. RT-PCR O RT-PCR foi realizado num 7500 Fast Real-Time PCR System (Applied Biosystems), tal como referido anteriormente em 2.3.2. Cada reação foi realizada num volume de 10 μl, tendo sido utilizada a TaqMan Fast Universal PCR Master Mix (Applied Biosystems) e cada reação de PCR em tempo real foi realizada em duplicado (uma réplica de cada ensaio). Assim, para cada reação, adicionaram-se 5 μl de TaqManFast Universal PCR Master Mix (Applied Biosystems) e 3 μl de cDNA. 36 Selecionou-se um conjunto de sondas TaqMan e de “primers” para os genes de interesse (tabela 2.2) (Applied Biosystems), tendo-se pipetado 2 μl de cada uma destas misturas para uma microplaca de 96 poços (Fast Optical 96-Well Reaction, Applied Biosystems) e, em seguida, 8 μl da mistura contendo o cDNA. Depois de selada, a placa foi centrifugada a 2500 rpm durante 5 minutos. As condições cíclicas térmicas aplicadas foram, respetivamente, um ciclo de 20 segundos a 95º C para a ativação da polimerase, seguido de 40 ciclos de 3 segundos a 95º C para a desnaturação do DNA em cadeia dupla e por último um ciclo de 30 segundos a 60º C para a hibridação dos “primers” e polimerização das novas cadeias de DNA. Para normalizar o valor do sinal de cada amostra, de forma, a que as variações de RNA entre as amostras resultem exclusivamente de uma variação biológica real, foi utilizado como controlo endógeno o gene constitutivo da β-actina (tabela 2.2), como referido em 2.3.2. Tabela 2.2 – Identificação do ensaio e função para cada um dos genes analisados Nome do gene β-actina Descrição Beta actina Identificação do ensaio* NM_001101.2 IFN-γ Interferongama Hs00174143_ m1 FOXP3 “Forkhead box P3” Hs00203958_ m1 Função Migração e divisão celular, 103 Anti-viral, antibacteriana e anti-tumoral 100 Reguladora de células Treg 101, 102 * O prefixo “Hs” é a abreviatura de Homo sapiens, espécie para a qual o ensaio foi formulado. O sufixo “m1” indica um ensaio cuja sonda e oligonucleotídeos iniciadores foram desenhados sobre uma junção exão-exão, não detectando DNA genómico. 37 2.8. Análise Estatística Os resultados de cada experiência são apresentados sob a forma de média ± erro padrão, de vários ensaios (n) independentes, realizados com DCs de dadores diferentes. A intensidade média de florescência (MFI), parâmetro utilizado na análise dos resultados de citometria de fluxo, apresenta-se em unidades arbitrárias e foi normalizado sempre que referido. A análise estatística dos dados obtidos experimentalmente foi realizada pelo software GraphPad Prism 6 (Windows). O Teste de t-Student foi utilizado para analisar as diferenças estatísticas entre duas amostras sujeitas a condições diferentes no mesmo ensaio (amostras emparelhadas), considerando-se que valores de p <0,05 são estatisticamente significativos (* significa que o valor p é inferior a 0,05; ** que o p é inferior a 0,01 e *** que o p é inferior a 0,0001). 38 3. RESULTADOS 3.1. Estudo da internalização dos isolados clonais de B. cenocepacia por DCs Avaliou-se comparativamente a internalização dos quatro isolados de B. cenocepacia e de E. coli pelas DCs, tendo em conta resultados de experiências de otimização realizados no início deste trabalho e anteriormente (Lopes A, Tese de mestrado) que demonstraram que o tempo de incubação ótimo seria de 6 horas e a proporção ideal entre DCs e bactérias de 1:10. 3.1.1. Internalização dos isolados clonais de B. cenocepacia viáveis, por DCs Após 6 horas de incubação das DCs com as bactérias acima referidas, marcadas com fluorescência e tratadas de modo a permanecerem viáveis, verificou-se que os isolados clonais de B. cenocepacia internalizados (quer por fagocitose, quer pelas capacidades invasivas da bactéria) em maior quantidade foram os isolados II e IV, seguindo-se o isolado III, sendo que, o menos internalizado foi o primeiro isolado recolhido do doente J, o I (Fig. 3.1). Internalização dos isolados de B. cenocepacia viáveis, pelas DCs Figura 3.1 - Análise por citometria de fluxo da internalização dos isolados I, II, III, IV de B. cenocepacia e E. coli (controlo), marcadas com FITC e viáveis, por DCs após 6 horas de incubação. Os dados representam a MFI normalizada, ou seja, a quantidade de bactérias fluorescentes que se encontra dentro das DCs. A normalização foi realizada da seguinte forma: (MFI 37ºC-MFI 4ºC) / (MFI 4ºC) (n=4). 39 O gráfico representa dados de fluorescência normalizados. Tendo em conta que a fluorescência que as DCs adquirem durante a incubação com as bactérias se deve às bactérias que se encontram de facto dentro da célula, mas também às que ficam aderidas no exterior, esta normalização permite comparar melhor a fluorescência interna das DCs que contataram com as diferentes bactérias. Assim, uma vez que em princípio a 4ºC as bactérias podem aderir às DCs mas não penetrar nestas, utilizou-se a seguinte fórmula para a normalização: (MFI do ensaio a 37ºC - MFI do ensaio controlo a 4ºC) / (MFI do ensaio controlo a 4ºC). Os valores de MFI foram obtidos a partir da análise de histogramas, como o exemplificado na Fig. 2 do anexo II. Os valores de MFI normalizado foram então de 0,351 ± 0,136 para o ensaio com o isolado I, 0,757 ± 0,282 para o ensaio com o isolado II, 0,531 ± 0,101 para o ensaio com o isolado III e 0,789 ± 0,241 para o ensaio com o isolado IV, ou seja, do isolado I para o isolado II e para o isolado IV houve um aumento na internalização de cerca de 55%, embora não estatisticamente significativo. O isolado III, de características semelhantes ao I, como anteriormente referido, foi apenas cerca de 34% mais internalizado do que o primeiro. No caso de E. coli, obteve-se um valor de MFI normalizado superior ao das outras bactérias em estudo, nomeadamente de 0,913 ± 0,339, sendo que esta estirpe foi usada como controlo do ensaio, pois já tinha sido anteriormente estudada a sua interação com as DCs pelo grupo. Apesar das diferentes bactérias terem sido internalizadas distintamente pelas DCs, (diferentes MFIs) dependendo das suas características, é de referir que em todos os casos, praticamente todas as DCs da população internalizaram bactérias, como se pode ver no histograma exemplificado na Fig. 2 do anexo II. 3.1.2. Internalização dos isolados clonais de B. cenocepacia inativados, por DCs Nos ensaios em que foram utilizadas bactérias fluorescentes previamente inativadas por calor, verificou-se igualmente internalização de todos os isolados, embora neste caso a internalização se deva exclusivamente à capacidade fagocítica das DCs e não à eventual habilidade das bactérias para penetrar nas células. De qualquer forma 40 verificou-se novamente que o isolado I foi o menos internalizado (MFI normalizado foi de 0,422 ± 0,058). Já com os outros isolados, os resultados foram ligeiramente diferentes dos obtidos com as bactérias viáveis, pois o isolado III neste caso foi o que originou maior fluorescência (MFI normalizado 0,786 ± 0,121). Os isolados II e IV originaram respetivamente MFIs normalizados de 0,699 ± 0,109 e 0,635 ± 0,277 (Fig. 3.2). Em relação à E. coli, os seus valores de MFI foram de 0,566 ± 0,053. Internalização dos isolados de B. cenocepacia inativados (por calor) pelas DCs Figura 3.2 - Análise por citometria de fluxo da internalização dos isolados I, II, III, IV de B. cenocepacia marcados com FITC e inativados (por calor) e E. coli (controlo, também marcada e inativada) por DCs após 6 horas de incubação. Os dados representam valores de MFI normalizados, ou seja, a quantidade de bactérias fluorescentes que que se encontra dentro das DCs. A normalização foi realizada da seguinte forma: (MFI 37ºC-MFI 4ºC) / (MFI 4ºC) (n=3). Pode-se ainda acrescentar que, de uma maneira geral, as bactérias inativadas interagem menos com as DCs do que as bactérias viáveis pois os valores de MFI a 37ºC (não normalizados), que refletem quer a internalização das bactérias quer a sua adesão à superfície das DCs, são consistentemente inferiores no caso das bactérias que foram previamente sujeitas à temperatura de 65ºC (Fig. 3 do anexo II). 41 3.2. Avaliação da influência dos isolados clonais de B. cenocepacia na maturação das DCs No fim do período de incubação de 6 horas com as várias bactérias, as DCs foram analisadas relativamente à expressão das moléculas co-estimulatórias, nomeadamente CD80, CD86, CD83, e da molécula apresentadora de antigénios, HLA-DR. As DCs apresentam um nível de expressão basal das moléculas anteriormente referidas na sua superfície celular e o seu estado de maturação está associado à maior expressão das mesmas. Assim para estabelecer o valor da expressão basal destes marcadores, além da incubação das DCs com as várias bactérias, incubaram-se DCs pelo mesmo período de tempo na ausência de bactérias. A incubação das DCs com E. coli funcionou como controlo positivo pois já havia sido demonstrado que na presença destas bactérias a DC responde aumentando a expressão dos referidos marcadores de maturação. Os gráficos que se seguem apresentam valores obtidos através do cálculo da razão entre o MFI resultante da expressão das moléculas HLA-DR, CD80, CD86 ou CD83 nas DCs incubadas na presença de cada bactéria e o MFI resultante da expressão destas mesmas moléculas nas DCs incubadas na ausência de bactérias (valor basal). Os valores de MFI foram obtidos pela análise de histogramas como o exemplificado na Fig. 4 do anexo II. A fluorescência diz respeito à quantidade de anticorpo conjugado que está ligado à respetiva molécula na superfície da DCs. Neste caso foram usadas bactérias não fluorescentes. 3.2.1. Maturação das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia viáveis Relativamente à molécula de HLA-DR, verificou-se que as DCs incubadas 6 horas com cada um dos 4 isolados de B. cenocepacia (viáveis), ao contrário das DCs incubadas com E. coli (também viável), apresentaram uma diminuição na expressão desta molécula, relativamente à expressão basal (Fig. 3.3). Nomeadamente, os valores de fluorescência obtidos (calculado como acima referido) foram de 1,106 ± 0,114 para a incubação com E. coli, 0,936 ± 0,093 para incubação com o isolado I, 0,917 ± 0,074 para a incubação com o isolado II, 0,891 ± 0,080 para a incubação com o isolado III e 0,853 ± 0,079 para a incubação com o isolado IV (Fig. 3.3). Apesar de não se terem 42 observado diferenças significativas entre os vários isolados, a expressão de HLA-DR foi estatisticamente significativa em relação à expressão basal, no caso do isolado IV (Fig. 3.3). Expressão da molécula apresentadora de antigénios HLA-DR em DCs, após internalização de B. cenocepacia Figura 3.3 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de HLADR na superfície de DCs após a incubação destas com as respetivas bactérias vivas. Os valores do gráfico foram obtidos através do cálculo da razão entre os valores de MFI resultantes da expressão da molécula HLA-DR nas DCs incubadas com cada bactéria e os valores de MFI resultantes da expressão da molécula HLA-DR nas DCs incubadas na ausência de bactérias (n = 4). No caso da molécula co-estimulatória CD80 (Fig. 3.4 (a)), verificou-se que a sua expressão em DCs incubadas com os vários isolados (viáveis) foi inferior à expressão das DCs incubadas com E. coli (também viável), ou mesmo à expressão basal, em particular com o isolado IV, tal como no caso da molécula HLA-DR. Nomeadamente, os valores de fluorescência obtidos (calculados como acima referido) foram de 1,093 ± 0,084 para a incubação com E. coli, 0,977 ± 0,073 para incubação com o isolado I, 0,968 ± 0,118 para a incubação com o isolado II, 0,900 ± 0,086 para a incubação com o isolado III e 0,878 ± 0,085 para a incubação com o isolado IV (Fig. 3.4 (a)). 43 Expressão das moléculas co-estimulatórias (a) CD80 e (b) CD86 nas DCs, após internalização de B. cenocepacia (a) (b) Figura 3.4 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD80 (a) e CD86 (b) na superfície de DCs após a incubação destas com as respetivas bactérias vivas. Os valores do gráfico foram obtidos através do cálculo da razão, entre os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD80 (a) e CD86 (b) nas DCs incubadas com cada bactéria e os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD80 (a) e CD86 (b) nas DCs incubadas na ausência de bactérias (n = 4). Relativamente ao CD86 (Fig. 3.4 (b)), verificou-se que a sua expressão em DCs incubadas com os vários isolados (viáveis) foi inferior à expressão das DCs incubadas com E. coli (também viáveis), embora superior à expressão basal. Os valores de fluorescência obtidos (calculados como acima referido) foram de 1,476 ± 0,403 para a incubação com E. coli, de 1,046 ± 0,145 para incubação com o isolado I, 1,143 ± 0,277 para a incubação com o isolado II, 1,079 ± 0,207 para a incubação com o isolado III e 1,165 ± 0,289 para a incubação com o isolado IV (Fig. 3.4 (b)). Neste caso, não parece haver inibição da expressão desta molécula nas DCs por nenhum dos isolados de B. cenocepacia, embora a ativação da sua expressão seja inferior à ativação por E. coli. Por outro lado, no caso do CD83 (Fig. 3.5), verificou-se que a sua expressão em DCs incubadas com os vários isolados (viáveis) foi semelhante à expressão das DCs incubadas com E. coli (também viáveis), tendo-se mesmo observado um aumento 44 significativo na expressão desta molécula, relativamente à expressão basal. Nomeadamente, os valores de fluorescência obtidos foram de 2,737 ± 0,943 para a incubação com E. coli, 2,731 ± 0,431 para incubação com o isolado I, 2,843 ± 0,687 para a incubação com o isolado II, 2,738 ± 0,771 para a incubação com o isolado III e 2,978 ± 0,811 para a incubação com o isolado IV. Expressão da molécula co-estimulatória CD83 em DCs após internalização de B. cenocepacia Figura 3.5 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD83 na superfície de DCs após a incubação destas com as respetivas bactérias vivas. Os valores do gráfico foram obtidos através do cálculo da razão, entre os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD83 nas DCs incubadas com cada bactéria e os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD83 nas DCs incubadas na ausência de bactérias. A significância estatística (* = P ˂ 0,05; ** = P˂ 0,01) refere-se à diferença entre a razão da fluorescência de cada isolado em relação às DCs na ausência de bactérias (n = 4). 3.2.2. Comparação da maturação das DCs na presença de isolados clonais de B. cenocepacia viáveis vs inativados vs LPS Foi também determinado o nível de expressão das moléculas HLA-DR, CD80, CD86 e CD83 para avaliar o estado de maturação das DCs após incubação com os isolados clonais de B. cenocepacia previamente inativados por calor ou estimuladas com o LPS extraído dos mesmos isolados. E. coli inativada por calor e o LPS de E. coli foram também incluídos nestes ensaios, como controlo. As bactérias previamente 45 inativadas foram incubadas com as DCs durante 6 horas, tal como as bactérias viáveis. O LPS bacteriano foi colocado no meio de cultura das DCs durante 24 horas. Tal como no caso anterior, todos os valores apresentados foram obtidos através do cálculo da razão entre os valores de MFI resultantes da expressão das moléculas HLADR, CD80, CD86 e CD83 nas DCs incubadas com cada bactéria (ou LPS) e os valores de MFI resultantes da expressão das mesmas moléculas nas DCs incubadas na ausência de estímulos. Compararam-se então os resultados obtidos com as DCs incubadas com as bactérias viáveis, inativadas e com o LPS para cada uma das referidas moléculas. Curiosamente, relativamente à expressão da molécula de HLA-DR (Fig. 3.6), verificou-se que os resultados obtidos para as DCs incubadas com os 4 isolados de B. cenocepacia inativados ou estimuladas com o LPS dos respetivos isolados, foi bastante diferente do obtido para as DCs incubadas com as bactérias viáveis. De facto, enquanto no caso dos ensaios realizados com as bactérias viáveis se verificou uma diminuição da expressão desta molécula nas DCs incubadas com os isolados de B. cenocepacia (contrário ao aumento ligeiro observado nas DCs incubadas com E. coli) quer no caso dos ensaios realizados com as bactérias inativadas quer no caso dos ensaios com LPS houve um aumento estatisticamente significativo da expressão de HLA-DR nas DCs, relativamente à sua expressão basal. (Fig. 3.6). Especificamente foram obtidos os seguintes valores de fluorescência: 1,106 ± 0,114 para E. coli, 0,936 ± 0,093 para o isolado I, 0,917 ± 0,074 para o isolado II, 0,891 ± 0,080 para o isolado III e 0,856 ± 0,069 para o isolado IV: no caso dos ensaios com as bactérias viáveis; 1,889 ± 0,361 para E. coli, 1,709 ± 0,214 para o isolado I, 2,033 ± 0,327 para o isolado II, 1,885 ± 0,177 para o isolado III e 1,954 ± 0,275 para o isolado IV no caso dos ensaios com as bactérias inativadas; em relação ao LPS, observou-se que um aumento da expressão de HLA-DR bastante elevado e também significativo, apresentando valores de: 2,257 ± 0,420 para E. coli, 2,939 ± 0,809 para o isolado I, 3,234 ± 0,802 para o isolado II, 3,298 ± 0,917 para o isolado III e 3,174 ± 0,926 para o isolado IV (Fig. 3.6). Estes resultados mostram que enquanto a E. coli estimula a expressão de HLADR nas DCs, quer esteja viável ou inativada (embora neste último caso estimule mais eficientemente), os vários isolados de B. cenocepacia só estimulam a expressão desta molécula nas DCs se estiverem inativados. Interessantemente, as diferenças mais 46 acentuadas entre os valores obtidos com as bactérias viáveis e com as bactérias não viáveis foi verificada no caso dos isolados II e IV. Quanto ao LPS extraído dos vários isolados pode-se concluir que se comporta como um LPS purificado típico (caso do LPS comercial de E. coli), levando ao aumento acentuado da expressão de HLA-DR. Não parece haver grandes diferenças na capacidade de ativação da DC entre os vários LPS de B. cenocepacia, embora o extraído do isolado I tenha levado a uma expressão consistentemente inferior da molécula em estudo, comparativamente ao LPS dos outros isolados. Expressão da molécula apresentadora de antigénios HLA-DR em DCs, após internalização de B. cenocepacia (viável ou inativada) ou estímulo com LPS Figura 3.6 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de HLADR na superfície de DCs após a incubação com as respetivas bactérias vivas (preto), inativas (cinzento claro) e LPS (cinzento escuro). Os valores do gráfico foram obtidos através do cálculo da razão entre os valores de MFI resultantes da expressão da molécula HLA-DR nas DCs incubadas com cada bactéria (ou LPS) e os valores de MFI resultantes da expressão da molécula HLA-DR nas DCs incubadas na ausência de estímulos. A significância estatística (** = P˂ 0,01 e *** = P˂ 0,0001) refere-se à diferença entre os ensaios realizados na presença ou ausência dos respetivos estímulos (n = 4). Também nos casos das moléculas co-estimulatórias CD80 e CD86 (Fig. 3.7), se verificou que a sua expressão aumentava acentuadamente não só nas DCs incubadas com E. coli mas também nas DCs incubadas com os vários isolados de B. cenocepacia, quando as bactérias eram previamente inativadas pelo calor. Verificou-se também que o LPS de qualquer uma das bactérias testadas estimulava significativamente a expressão destas moléculas co-estimulatórias nas DCs. Nomeadamente, para o CD80 os valores 47 obtidos foram os seguintes: 1,093 ± 0,083 para E. coli, 0,978 ± 0,073 para o isolado I, 0,968 ± 0,118 para o isolado II, 0,900 ± 0,086 para o isolado III e 0,878 ± 0,085 para o isolado IV, no caso do ensaio com bactérias viáveis; 1,434 ± 0,072 para E. coli, 1,493 ± 0,013 para o isolado I, 1,527 ± 0,089 para o isolado II, 1,391 ± 0,030 para o isolado III e 1,655 ± 0,274 para o isolado IV, no caso do ensaio com bactérias inativadas. Já os LPS originaram valores bastante mais elevados tais, como: 3,508 ± 1,411 para o E.coli, 2,956 ± 1,275 para o isolado I, 4,236 ± 1,244 para o isolado II, 4,140 ± 1,524 para o isolado III e 3,899 ± 1,155 para o isolado IV (Fig. 3.7 (a)). Para o CD86 os valores obtidos foram os seguintes: 1,476 ± 0,403 para E. coli, 1,046 ± 0,145 para o isolado I, 1,143 ± 0,277 para o isolado II, 1,079 ± 0,207 para o isolado III e 1,165 ± 0,289 para o isolado IV, no caso do ensaio com as bactérias viáveis; 3,455 ± 1,349 para E. coli, 2,648 ± 1,148 para o isolado I, 3,250 ± 1,422 para o isolado II, 2,780 ± 0,971 para o isolado III e 2,992 ± 1,318 para o isolado IV, no caso dos ensaios com as bactérias inativadas. Quanto aos LPS originaram valores de: 3,473 ± 1,777 para E. coli, 3,717 ± 1,612 para o isolado I, 3,850 ± 1,902 para o isolado II, 3,355 ± 0,461 para o isolado III e 4,381 ± 2,042 para o isolado IV (Fig. 3.7 (b)). Tal como no caso anterior não parece haver diferenças relevantes entre os resultados obtidos com os vários isolados. No entanto, no caso do CD80, tal como se havia verificado para o HLA-DR, a sua expressão nas DCs foi consistentemente inferior quando estas foram incubas na presença do LPS extraído do isolado I, comparativamente ao LPS dos outros isolados. Estes resultados atestam a ideia de que apenas os vários isolados viáveis, inibem a maturação completa das DCs. Enquanto os isolados inativados, tal como o seu respetivo LPS levam ao processo de maturação das DCs. 48 Expressão das moléculas co-estimulatórias CD80 (a) e CD86 (b) em DCs, após internalização de B. cenocepacia (viável ou inativada) ou estímulo com LPS (a) (b) Figura 3.7 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD80 (a) e CD86 (b) na superfície de DCs após a incubação com as respetivas bactérias vivas (preto), inativas (cinzento claro) e LPS (cinzento escuro). Os valores do gráfico foram obtidos através do cálculo da razão, entre os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD80 (a) e CD86 (b) nas DCs incubadas com cada bactéria e os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD80 (a) e CD86 (b) nas DCs incubadas na ausência de bactérias. A significância estatística (* = P ˂0,05; ** = P ˂0,01 e *** = P ˂ 0,0001) refere-se à diferença entre os ensaios realizados na presença ou ausência dos respetivos estímulos (n = 4). No caso da molécula co-estimulatória CD83 (Fig. 3.8), verificou-se igualmente que a sua expressão em DCs incubadas com bactérias inativadas foi superior à sua expressão em DCs incubadas com bactérias viáveis. Ainda que neste caso não se tenha verificado uma inibição da expressão de CD83 nas DCs em presença de B. cenocepacia viáveis, mas sim um aumento significativo relativamente à expressão basal (tal como nos ensaios com E. coli), quando se usaram bactérias inativadas esse aumento na expressão de CD83 foi ainda maior. No entanto, curiosamente, ao contrário do que se verificou para as outras moléculas estudadas, os diferentes isolados originaram valores de fluorescência muito distintos (Fig. 3.8). Nomeadamente, os valores obtidos foram de 2,737 ± 0,943 para E. coli, 2,731 ± 0,431 para o isolado I, 2,843 ± 0,687 para o isolado II, 2,738 ± 0,771 para o isolado III e 2,978 ± 0,811 para o isolado IV, no caso dos ensaios com bactérias viáveis, sendo que todos, à exceção de E. coli, apresentaram 49 significância estatística em relação ao valor basal (DCs na ausência de bactérias); 7,400 ± 1,930 para E. coli, 5,366 ± 0,312 para o isolado I, 8,849 ± 3,348 para o isolado II, 6,467 ± 2,911 para o isolado III e 6,941 ± 2,279 para o isolado IV, no caso dos ensaios com as bactérias inativas. Finalmente, no caso da incubação na presença de LPS obtiveram-se os seguintes valores: 8,418 ± 2,979 para E. coli, 11,850 ± 4,294 para o isolado I, 15,420 ± 7,285 para o isolado II, 14,830 ± 7,067 para o isolado III e 10,040 ± 4,985 para o isolado IV (Fig. 3.8), valores estes que refletem um aumento bastante acentuado e de elevada significância estatística face ao valor basal. Expressão da molécula co-estimulatória CD83 em DCs, após internalização de B. cenocepacia (viável ou inativada) ou estímulo com LPS Figura 3.8 – Análise por citometria de fluxo da interação de DCs com cada variante clonal de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. (controlo positivo), mostrando a expressão de CD83 na superfície de DCs após a incubação com as respetivas bactérias vivas (preto), inativas (cinzento claro) e LPS (cinzento escuro). Os valores do gráfico foram obtidos através do cálculo da razão entre os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD83 nas DCs incubadas com cada bactéria/LPS e os valores de MFI resultantes da expressão da molécula CD83 nas DCs incubadas na ausência de estímulos. A significância estatística (* = P ˂ 0,05; ** = P˂ 0,01 e *** = P˂ 0,0001) refere-se à diferença entre os ensaios realizados na presença ou ausência dos respetivos estímulos (n = 4). 50 3.3. Avaliação da morte celular das DCs na presença dos 4 isolados clonais de B. cenocepacia Para avaliar de que modo, os 4 isolados de B. cenocepacia afetavam a viabilidade das DCs, e especificamente o processo de morte celular envolvido (necrose ou apoptose), incubaram-se as DCs na ausência (controlo) ou na presença das bactérias em estudo (isolados de B. cenocepacia e E. coli) viáveis, por 12 horas (período de tempo escolhido após alguns ensaios de otimização). No fim deste período, foi analisada, por citometria de fluxo, a percentagem de DCs vivas, de DCs apoptóticas (fase precoce e fase tardia) e de DCs necróticas, com base na marcação com Anexina V e PI. A percentagem de DCs de cada tipo foi então obtida pela análise de gráficos do tipo dotplot biparamétrico como os exemplificados na Fig. 5 do anexo II. O gráfico que se segue apresenta os valores médios da % de DCs vivas após a incubação com cada uma das bactérias, normalizados em relação à % de DCs vivas no ensaio realizado na ausência de bactérias (valor basal). Após as 12 horas de incubação das DCs com as bactérias verificou-se que a viabilidade das DCs diminui em todos os casos, sendo, no entanto o isolado IV o que conduz a uma perda de viabilidade mais significativa, comparativamente com os outros isolados de B. cenocepacia ou com a E. coli (Fig. 3.9). Nomeadamente, a percentagem de DCs vivas foi de 82,280 ± 6,458 no ensaio com E. coli, 88,570 ± 6,965 no ensaio com o isolado I, 81,750 ± 8,795 no ensaio com o isolado II, 84,770 ± 8,144 no ensaio com o isolado III e de 63,380 ± 4,963 para o isolado IV (Fig. 3.9). 51 Percentagem de DCs vivas após internalização dos isolados de B. cenocepacia (12 horas) Figura 3.9 – Análise por citometria de fluxo da viabilidade celular de DCs incubadas durante 12 horas com cada um dos isolados de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli. Os resultados obtidos representam a percentagem de células vivas e foram normalizados em relação às DCs incubadas na ausência de bactérias. A significância estatística (* = P ˂ 0,05; ** = P˂ 0,01 e *** = P˂ 0,0001) referese à diferença entre a percentagem de DCs vivas após incubação com cada bactéria e a percentagem de DCs incubadas na ausência de bactérias (n = 3). Especificamente, para ter em conta o tipo de processo de morte celular induzido pelas bactérias, também se teve em conta a % de DCs apópticas e/ou necróticas. Como se pode ver pela análise dos diagramas circulares que se seguem, o processo de morte celular induzido pelas bactérias é maioritariamente apoptose (precoce ou tardia), havendo uma percentagem, muito baixa de DCs necróticas quando incubadas com qualquer dos isolados de B. cenocepacia ou com E. coli, semelhante a quando as DCs são incubadas na ausência de bactérias (Fig. 3.10). O isolado IV é então o que origina maior percentagem de DCs apoptóticas, encontrando-se as mesmas, em maioria, na fase tardia de apoptose (células que marcam tanto com anexina V como com PI) (Fig. 3.10). Estes resultados demonstraram que, apesar de todas as bactérias que interagiram com as DCs, incluindo E. coli (que é uma estirpe não patogénica), conduzirem à morte destas células por apoptose, pelo menos ao fim de 12 horas de incubação, foi de facto o isolado IV, o último a ser recolhido do doente, considerado o mais virulento 5, que despoletou maior dano a nível celular, conduzindo a percentagem elevada de DCs apoptóticas. 52 Percentagem de células vivas, células apoptóticas (fase inicial e tardia) e células necróticas após internalização dos isolados de B. cenocepacia pelas DCs (12 horas) Figura 3.10 – Análise por citometria de fluxo da morte celular de DCs incubadas durante 12 horas com cada um dos isolados de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), e E. coli ou na ausência de bactérias (DCs). Os resultados obtidos representam valores médios da percentagem de células vivas (azul), células em fase inicial de apoptose (vermelho), células em fase tardia de apoptose (verde) e células necróticas (roxo) (n = 3). 3.4. Análise das consequências imunológicas em termos de ativação de células T da incubação das DCs na presença de B. cenocepacia Com o objetivo de avaliar a consequência imunológica da incubação das DCs com os vários isolados de B. cenocepacia, isto é, para ver que tipo de resposta T era induzida pelas DCs que haviam internalizado estas bactérias, foi analisada a expressão genética de duas moléculas produzidas pelos linfócitos T co-cultivados com as referidas DCs. Nomeadamente analisou-se a expressão do gene que codifica para IFN-γ e do gene que codifica para FOXP3. 53 Assim, as DCs foram incubadas durante 6 horas com os isolados de B. cenocepacia ou E. coli (aqui novamente usada como controlo) como anteriormente descrito, colocadas posteriormente em co-cultura com células T autólogas durante 3 dias, após os quais se procedeu à análise genética dos referidos genes por RT-PCR. Além da incubação com as diferentes bactérias (amostras em estudo), as DCs também foram incubadas na ausência destas e colocadas em co-cultura com células T nas mesmas condições acima descritas, sendo esta amostra considerada a amostra calibradora. Os gráficos que se seguem apresentam os valores da quantificação relativa (RQ) de cada gene - na amostra em estudo relativamente à amostra calibradora- obtidos de acordo com o modelo de Livak e Schmittgen (RQ = 2-ΔΔCT) e considerando a normalização da expressão genética de cada gene em relação ao gene da β-actina (controlo endógeno). Relativamente ao IFN-γ (Fig. 3.11 (a)) verificou-se que a sua expressão na cocultura de células T e DCs previamente incubadas com as várias bactérias é muito superior à sua expressão na amostra calibradora (co-cultura de células T com DCs incubadas na ausência de bactérias), sendo esta diferença estatisticamente significativa em todos os casos (Fig. 3.11 (a)). Nomeadamente, os valores de RQ obtidos (calculado como acima referido) foram: 121,00 ± 49,47 para E. coli, 246,30 ± 97,78 para o isolado I, de 213,70 ± 87,82 para o isolado II, 488,30 ± 152,80 para o isolado III e 414,40 ± 143,10 para o isolado IV (Fig. 3.11 (a)). Apesar das diferenças de expressão deste gene nas várias amostras não terem sido estatisticamente significativas, não deixa de ter relevância o facto da incubação das DCs com os isolados de B. cenocepacia, em especial o isolado III e o isolado IV, ter originado maior expressão de IFN-γ do que a incubação das DCs com E. coli. 54 Expressão de IFN-γ (a) e FOXP3 (b), após internalização de B. cenocepacia pelas DCs (6 horas) e co-cultura com células T autólogas (3 (a) dias) (b) Figura 3.11 – Análise da quantidade relativa de mRNA dos genes das proteínas IFN-γ (a) e FOXP3 (b) entre as co-culturas de células T com DCs previamente incubadas durante 6 horas com cada um dos isolados de B. cenocepacia (isolados I, II, III ou IV), E. coli (amostras em estudo) e as coculturas de células T com DCs incubadas por igual período de tempo na ausência de bactérias (amostra calibradora). Os resultados obtidos representam a quantidade relativa (RQ) de cada gene em cada amostra em estudo relativamente à amostra calibradora. A significância estatística (* = P ˂ 0,05; ** = P˂ 0,01) refere-se à diferença na expressão de cada gene nas amostras em estudo e na amostra calibradora (n = 4). No caso de FOXP3 (Fig. 3.11 (b)), apesar de este gene ser muito menos expresso do que o IFN-γ, verificou-se igualmente que a sua expressão na co-cultura de células T e DCs previamente incubadas com as várias bactérias é superior à sua expressão na amostra calibradora, sendo esta diferença estatisticamente significativa no ensaio com E. coli e com o isolado III. De facto foi a incubação das DCs com E. coli ou com o isolado III que originou maior expressão desta molécula na co-cultura (RQ de 3,848 ± 1,497 e 3,669 ± 1,124, respetivamente) enquanto a incubação das DCs com isolado IV conduziu a uma menor expressão (RQ de 1,994 ± 0,596), seguido da incubação com o isolado I (RQ de 2,105 ± 0,709) e do isolado II (RQ 2,572 ± 0,963) (Fig. 3.11 (b)). Mais uma vez, apesar das diferenças de expressão deste gene nas várias amostras não terem sido estatisticamente significativas, é evidente a maior expressão de FOXP3 na amostra da co-cultura contendo as DCs incubadas com E. coli ou com isolado III. 55 56 4. DISCUSSÃO Como referido ao longo desta dissertação, os doentes com FQ desenvolvem facilmente infeções respiratórias que são provocadas pela infectibilidade de agentes patogénicos, sendo a causa de grande parte do agravamento da doença, levando à morte precoce destes doentes 104 . Este facto levou a que os organismos que habitualmente causam infeção nas vias respiratórias se tornassem alvo de estudos, e mais recentemente a interação entre estes e o hospedeiro tem ganho bastante destaque. Dados da literatura sobre isolados clonais de B. cenocepacia recolhidos ao longo do período de infeção de um mesmo doente com FQ 5 reforçaram o papel crucial da adaptação ao ambiente do hospedeiro desta bactéria no desenvolvimento de infeções crónicas. Assim, tendo em conta o papel imunológico excecional das DCs e o facto de muitos patogénios, desenvolverem estratégias para evitar ou subverter as suas funções, partimos da hipótese de que a B. cenocepacia é capaz de modular as funções normais destas células como um mecanismo de escape à resposta imune anti-bacteriana específica e adaptação ao hospedeiro. Esta dissertação pretendeu esclarecer um pouco mais este assunto e assim neste capítulo serão discutidos os resultados obtidos. 4.1. Os isolados clonais de B. cenocepacia mais virulentos são mais internalizados pelas DCs, quando viáveis A maioria dos estudos sobre o escape imunológico de bactérias do Bcc envolve macrófagos e neutrófilos, e as bactérias utilizadas estão normalmente viáveis. Contudo, nesta dissertação foi realizado o estudo da interação de B. cenocepacia, viável ou inativada por calor, com DCs. Esta interação das DCs com as bactérias foi avaliada após 6 horas de incubação. Em todos os ensaios, praticamente todas as DCs da população internalizaram bactérias, embora a quantidade de bactérias internalizadas tenha sido distinta (diferentes intensidades de fluorescência), dependendo dos isolados e das suas características. A estirpe não patogénica de E. coli, foi internalizada consideravelmente, principalmente quando viável, tendo sido usada como controlo do ensaio, pois já tinha sido demonstrado pelo grupo a sua elevada capacidade para interagir com as DCs 77. 57 No caso dos isolados B. cenocepacia viáveis, os isolados II e IV foram os mais internalizados e o isolado I o menos internalizado (Fig. 3.1). Curiosamente, os isolados mais internalizados, são também considerados os mais virulentos para o hospedeiro (com base nos perfis de resistência a antibióticos, características fenotípicas, análise proteómica quantitativa e ensaios de virulência, utilizando um modelo nematóide e células epiteliais brônquicas), sendo que esta comparação foi especialmente efetuada relativamente ao isolado I 5, 32. Estudos recentes do grupo do IST, sobre a proteómica quantitativa destes isolados revelaram que as alterações no teor de diferentes proteínas são uma das principais modificações da expressão genómica dos isolados II e IV, quando comparado com o isolado I, no entanto, a análise comparativa das sequências de todo o genoma para estes 4 isolados, ainda contínua em estudo 32-34 . Curiosamente, também se verificou que os isolados II e IV têm maior capacidade de invadir células epiteliais [Madeira et al., submetido], fator corroborado também por Mullen e colaboradores para bactérias do Bcc, uma vez que, a invasão em células epiteliais do pulmão está correlacionada com a virulência 27, 105. De uma maneira geral, a associação dos isolados de B. cenocepacia inativados com as DCs foi menor (valores de MFI a 37º foram mais baixos comparando com os originados pelos isolados viáveis), o que pode ser explicado pela forma de interação das bactérias com o hospedeiro, pois as bactérias viáveis interagem de forma mais dinâmica com o hospedeiro (tanto na superfície da célula como no fagossoma), podendo ativamente modular os processos da DC 73 . Por outro lado, também tem sido descrito que a associação entre as bactérias e os fagócitos é feita através da interação com componentes termolábeis da parede celular bacteriana, cuja organização pode ser modificada pelo calor 106, 107, o que pode justificar esta diferença. Especificamente a internalização, foi menos distinta entre cada tipo bactérias (intensidades de fluorescência mais semelhantes) e, em particular, o isolado III foi mais internalizado quando comparado com os restantes (I, II e IV) (Fig. 3.2). Nesta situação, com as bactérias inativadas, espera-se que a internalização se deva apenas à capacidade fagocítica das DCs e não à capacidade invasiva das bactérias. Assim, não é de estranhar que o isolado III (baixa virulência, características semelhantes ao isolado I) tenha sido melhor internalizado quando os isolados foram tornados inviáveis, pois o nível de internalização tornou-se independente da virulência do isolado. 58 De facto, as bactérias gram-negativas patogénicas desenvolvem sistemas de secreção para exportar fatores de virulência através das membranas bacterianas para as células hospedeiras, que incluem moléculas que medeiam captação bacteriana (invasão), processadores de efeitos que reprogramam o transporte vesicular para melhorar o parasitismo intracelular, moléculas de recetores para que as bactérias adiram, e outros fatores que alteram as funções imunológicas para melhorar a evasão à resposta imune 108 , que provavelmente são inativados quando a bactéria é sujeita ao tratamento por calor. Embora B. cenocepacia possa, tal como P. aeruginosa (mais bem estudada) desenvolver mecanismos para evitar a fagocitose, como por exemplo, a superprodução de exopolissacárido, que lhe confere um fenótipo mucóide e a perda de mobilidade do flagelo levando a uma perda da ativação imune por parte de alguns TLRs 109 ou a modificação de determinados PAMPs como estratégia para sequestrar genes envolvidos na resposta imune inata 110 , parece que ao nível da interação com as DCs, quanto mais virulento o isolado mais internalizado (desde que viável). De facto, o grande desafio destas bactérias pode não ser evitar a internalização pelas DCs, mas sim, uma vez internalizadas, conseguir contornar a via endocítica, escapando ao processamento no fagossoma, eventualmente replicando-se no citoplasma e ainda evitando que os seus antigénios sejam apresentados às células T. O mecanismo de escape à acidificação do fagossoma de B. cenocepacia é bem conhecido nos macrófagos 29. De facto, após a fagocitose de uma bactéria, normalmente forma-se um vacúolo (fagossoma) maduro, altamente acídico (pH ~4,5-5) e degradativo, mas foi demonstrado que o vacúolo que contém a B. cenocepacia internalizada é bastante mais alcalino, e a aquisição de marcadores característicos do fagossoma maduro, tais como as proteínas associadas à membrana do lisossoma 1 e 2 (LAMP-1 e LAMP-2) ou a proteína RAb7 pertencente à família das GTPases, é retardada ou inexistente 29, 111. Ao serem internalizadas, mas não destruídas, as bactérias podem ficar protegidas da terapia antimicrobiana e continuar a colonizar os pulmões dos doentes, levando inevitavelmente a uma maior e persistente inflamação dos tecidos com posterior destruição dos mesmos 11, 13, 112. O facto de as DCs migrarem dos locais da infeção para os órgãos linfáticos secundários para apresentar antigénios poderia ser uma vantagem adicional destas 59 bactérias serem internalizadas e sobreviverem nas DCs pois assim estas células serviriam de vetores sistémicos 113 , ajudando à disseminação e persistência da B. cenocepacia. Apesar de algumas conclusões sugeridas por estes dados, estudos mais aprofundados têm de ser realizados para avaliar a aquisição (do isolado I de B. cenocepacia, para o II e para o IV) de maior capacidade para escapar à acidificação lisossomal, sobreviver e replicar-se dentro das DCs (ver perspectivas futuras), evitando que os seus antigénios sejam apresentados às células T. 4.2. Os isolados clonais de B. cenocepacia inibem a expressão de alguns marcadores de maturação em DCs, quando viáveis Nesta parte do trabalho foi analisado o perfil de maturação das DCs, após a incubação com os 4 isolados de B. cenocepacia e E. coli (viáveis, inativados por calor e respetivos LPS). Este perfil de maturação das DCs foi determinado após 6 horas de incubação com as bactérias e após 24 horas de incubação na presença dos diferentes LPS. A exposição das DCs imaturas a estímulos inflamatórios converte-as em DCs maturas (apresentadoras de antigénios ativas). Este processo de maturação das DCs é normalmente acompanhado pela sobreexpressão da molécula apresentadora de antigénios (HLA-DR) e moléculas co-estimulatórias (CD80, CD86 e CD83), designados por marcadores de maturação. Assim, a análise das alterações na expressão destes marcadores nas DCs estimuladas, face às que não foram estimuladas (expressão basal) dão-nos ideia do estado de maturação destas células. A estirpe de E. coli usada nestes ensaios serviu como controlo, pois já se havia verificado anteriormente que a incubação das DCs na presença desta bactéria conduzia ao aumento da expressão dos referidos marcadores de maturação 77. Os resultados obtidos especificamente com os isolados de B. cenocepacia viáveis revelaram então que estes, ao contrário de E. coli, conduziram a uma diminuição da expressão das moléculas HLA-DR e CD80 (Fig. 3.3 e 3.4 (a)), nas DCs, relativamente à expressão basal. Curiosamente, o isolado IV foi o que originou menor expressão destes 60 marcadores, corroborando a ideia de que os vários isolados, mas principalmente o IV, inibem pelo menos em parte, a maturação das DCs. No caso do CD86 (Fig. 3.4 (b)), os isolados de B. cenocepacia viáveis não inibiram a expressão desta molécula nas DCs (comparando com a expressão basal), mas induziram uma expressão inferior à expressão induzida por E. coli. Por outro lado, a expressão de CD83 (Fig. 3.5) foi significativamente superior à expressão basal quando as DCs foram incubadas com os vários isolados. Estes resultados vão parcialmente de encontro, aos resultados obtidos no único estudo realizado para determinar a maturação das DCs na presença de B. cenocepacia, que demonstrou que esta espécie, contrariamente a outra espécie do Bcc - B. multivorans, não induz um aumento de expressão das moléculas co-estimulatórias CD80, CD86 e CD8373. No entanto, o nosso estudo é um dos primeiros a mostrar os efeitos de B. cenocepacia especificamente na expressão da molécula apresentadora de antigénios HLA-DR e a sugerir que uma evolução da inibição da maturação em isolados do mesmo indivíduo, recolhidos em várias fases da infeção crónica. Quando os 4 isolados de B. cenocepacia foram previamente inativados, a sua interação com as DCs originou um aumento estatisticamente significativo da expressão das moléculas em estudo, comparativamente à sua expressão basal. Também a exposição das DCs ao LPS de cada uma das bactérias originou uma sobreexpressão significativa de todos os marcadores de maturação em estudo, na superfície das DCs (Fig. 3.6 à 3.8). Contudo nenhum destes ensaios mostrou diferenças relevantes entre os vários isolados na capacidade de ativação das DCs, excetuando o facto do LPS do isolado I ter menor capacidade estimulatória. Posto isto, concluiu-se que os isolados de B. cenocepacia só estimulam a expressão destes marcadores de superfície nas DCs se estiverem inativados ou se for o LPS dos mesmos, sugerindo que os isolados viáveis possuem algum tipo de mecanismo que lhes permite inibir, pelo menos em parte, a maturação completa das DCs, sendo que este fenómeno foi ligeiramente mais acentuado no caso do isolado IV. A apresentação de antigénios bacterianos pelas DCs às células T é mediada pela molécula de MHC (HLA-DR) de classe I e II, estando também dependente de moléculas co-estimulatórias (CD80, CD86 e CD83) e da expressão de citocinas. A regulação positiva de MHC de classe I e II, e de moléculas co-estimulatórias aumenta sinergicamente a capacidade de apresentação do antigénio pelas DCs e a potencial estimulação de células T. A maturação da DC pode, portanto, ser vista como 61 um processo que coordenadamente regula a captura, processamento e apresentação dos antigénios pelas DCs, a expressão de moléculas co-estimulatórias, a interação com ligantes na superfície das células T e a produção de citocinas (tais como IL-1, IL-12 e IFN-α) que estimulam as células T 114, 115. Assim, a disrupção da maturação aqui observada pela inibição da sobreexpressão das moléculas do MHC-II e pela deficiente co-estimulação, pode indicar uma menor capacidade de apresentação dos antigénios pelas DCs infetadas com B. cenocepacia viáveis, comprometendo seriamente a resposta das células T. A quebra da maturação das DCs, ainda que possa ser apenas parcial, poderá ser de facto um ponto fulcral do escape imunológico de B. cenocepacia, principalmente no caso dos isolados mais virulentos. Alguns mecanismos de repressão da maturação das DCs já se encontram estudados para outras bactérias. Um exemplo disso é Yersinia enterocolitica que através da libertação de proteínas efetoras (yops) no citoplasma das células 116 , pode levar à apoptose de macrófagos e DCs infetadas, tal como à não promoção da maturação das DCs e, consequentemente, à baixa proliferação de células T 117. Também se têm feito alguns avanços no estudo da identidade dos fatores de transcrição, que desempenham papéis críticos no decurso deste processo. Por exemplo, em Helicobacter pylori, foi demonstrado que E2F1 pode ser um dos fatores de transcrição que controla a maturação das DCs, uma vez que este supressor de maturação se encontra inativado após a exposição das DCs ao LPS da bactéria. Contudo o uso de citotoxinas, nomeadamente a citotoxina VacA (citotoxina vacuolar), pode estimular e/ ou restaurar a atividade deste fator (E2F1), reprimindo assim a maturação 118. Outro possível alvo de proteínas efetoras para diminuir a maturação das DCs é a via de produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), que se sabe que B. cenocepacia consegue retardar em macrófagos e neutrófilos 74, 119 . Este controlo sobre os danos oxidativos é conseguido através da produção de uma superóxido dismutase periplasmática e um pigmento de melanina em macrófagos exopolissacáridos em neutrófilos 119 74 e através da produção de . Nas DCs e nos macrófagos, a associação da molécula MHC-II com os péptidos processados nos compartimentos lisossomais, bem como o transporte deste complexo MHCII-péptido na superfície da membrana plasmática da célula, são processos que requerem a modulação da F-actina e consequentemente dependentes de proteínas da família Rho-GTPases, como Rac1 e Cdc42, e de outras GTPases como a Rab7 62 120 . Curiosamente, tem sido descrito que B. cenocepacia expressa fatores de virulência capazes de interferir com a ativação destas proteínas e o tráfico membranar, tendo como presumível consequência a inaptidão dos fagócitos infetados com esta bactéria apresentarem antigénios derivados do seu processamento na superfície celular 120. Estes dados da literatura sugerem que de alguma forma os isolados estudados neste trabalho possam atuar de forma semelhante para modular a função da DC e escapar ao processamento lisossomal e/ou evitar que os péptidos derivados desse processamento sejam apresentados às células T. Apesar de alguns dados publicados indicarem que as bactérias inativadas pelo calor não são capazes de induzir a maturação funcional das DCs 73 , curiosamente os nossos resultados mostraram o contrário. Apesar de ter havido menos bactérias associadas às DCs quando os isolados foram inativados (ver secção anterior), verificou-se um aumento significativo da expressão de todos os marcadores de maturação analisados com estes isolados. Esta discrepância na capacidade de induzir a maturação verificada entre bactérias viáveis e bactérias inviáveis reforça a ideia de que B. cenocepacia expressa fatores de virulência capazes de modular as funções da DC, que só se manifestam no caso das bactérias viáveis. De facto as bactérias inativadas deverão ser internalizadas e seguir a via endocítica normal. Quando incubadas com o LPS dos vários isolados, as DCs apresentaram uma sobreexpressão dos marcadores de maturação ainda mais acentuada do que as DCs incubadas os isolados de B. cenocepacia inativados. Este resultado não é de estranhar, pois o LPS é um potente indutor da maturação das DCs 107 , sendo facilmente reconhecido pelo sistema imune (tal como descrito nas secções 1.2.2 e 1.3.2), através do recetor TLR2 43. Sumariamente, podemos dizer que B. cenocepacia é capaz de modular, pelo menos em parte, as funções das DCs, contudo, as hipóteses atrás mencionadas, acerca dos mecanismos utilizados por esta bactéria ao escape à maturação necessitam ainda de mais investigação. Apesar das diferenças entre os vários isolados não serem muito relevantes, sugere-se que o isolado IV tenha revelado um efeito imunomodulador ligeiramente mais acentuado, mas também esta hipótese necessita de ser melhor esclarecida. 63 4.3. O último isolado de B. cenocepacia a ser recolhido afeta mais a viabilidade das DCs do que os isolados recolhidos numa fase mais precoce da infeção De acordo com MacDonald e Speert (2008) as DCs expostas a B. cenocepacia permanecem viáveis, na sua grande maioria, durante as primeiras 6 horas. Contudo, a viabilidade é perdida entre as 12 e as 24 horas 73 . Assim, para comparar a perda de viabilidade das DCs induzida por cada um dos isolados, foram realizadas incubações de DCs com os isolados de B. cenocepacia e E. coli (viáveis) durante 12 horas. Alguns patogénios melhoram a sua capacidade de persistir no hospedeiro ao induzirem a morte celular das células hospedeiras. Esta morte celular pode ocorrer através de mecanismos complexos distintos, podendo ter consequências significativas em termos da resposta subsequente para a célula morta, modulando ou influenciando a resposta imune. A morte celular ocorre tipicamente por apoptose (ou morte celular programada, que é um processo ativo de autodestruição da célula, evitando induzir a inflamação) ou necrose (morte acidental das células, resultante de perturbações do meio ambiente, com libertação descontrolada do conteúdo celular inflamatório) 121. Estudos realizados por MacDonald e Speert em DCs verificaram, após um período de incubação com B. cenocepacia de 24 horas, a ocorrência de necrose. A incubação foi efetuada com bactérias viáveis, e ao fim das 24 horas as bactérias foram encontradas associadas a células vivas e mortas. A incubação com bactérias mortas, sobrenadante do meio de crescimento das bactérias ou a espécie B. multivorans não provocou necrose 73. Já havia sido comprovada necrose em neutrófilos, causada por B. cenocepacia viável e independente da ativação de radicais de oxigénio para a sua destruição 122. No entanto, os nossos resultados mostraram que ao fim de 12 horas na presença dos isolados de B. cenocepacia, ocorria morte celular essencialmente por apoptose, encontrando-se as DCs infetadas maioritariamente na fase tardia da apoptose. Os nossos resultados também mostraram diferenças significativas entre os isolados, nomeadamente que o isolado IV se distingue dos restantes por provocar maior perda de viabilidade nas DCs (Fig. 3.9). A indução de morte celular por apoptose já havia sido descrito para B. cenocepacia em macrófagos 123 e células epiteliais, sendo que neste último caso, o fator de virulência bacteriano responsável por essa morte celular seria o pilus de B. cenocepacia 124 . Segundo MacDonald e Speert, parece que o mecanismo causador de morte celular não 64 passará por proteínas excretadas, visto que as incubações com apenas o sobrenadante do meio de crescimento das bactérias não resultaram em morte, levantando a hipótese de que talvez os fatores usados para causar a morte (por exemplo, enzimas proteolíticas) sejam produzidos no microambiente do fagossoma e injetados no citoplasma das células hospedeiras 73. No entanto, recentemente, também foi observado em B. cenocepacia um novo sistema de secreção que é necessário, pelo menos em parte para induzir morte celular em macrófagos infetados 13. Apesar da apoptose ser um processo que pode ocorrer espontaneamente nas DCs infetadas com bactérias após a sua completa maturação e apresentação dos antigénios às células T, este processo todo demoraria mais do que as 12 horas de incubação (ao fim das quais as células foram recolhidas para análise). Assim, parece que a apoptose observada nestes ensaios se deve de facto a fatores bacterianos de B. cenocepacia (especialmente do isolado IV, o último a ser recolhido do doente J), que poderão ser semelhantes aos anteriormente descritos. A indução de apoptose poderá ser uma das formas de B. cenocepacia escapar ao sistema imunológico, já que DCs apoptóticas não são efetivas a promover a resposta adaptativa, e por outro lado, uma forma de se propagar e persistir no organismo hospedeiro. 4.4. Apesar dos isolados de B. cenocepacia inibirem a maturação das DCs, conseguem induzir alguma ativação dos linfócitos T Por fim, foi avaliada a consequência imunológica, em termos de ativação de células T, da interação das DCs com os vários isolados de B. cenocepacia. Para tal, as DCs foram incubadas durante 6 horas com os isolados de B. cenocepacia ou E. coli (novamente usada como controlo) e colocadas posteriormente em co-cultura com células T autólogas durante 3 dias, após os quais se procedeu à análise genética da expressão de duas moléculas produzidas pelos linfócitos T, nomeadamente dos genes que codificam para o IFN-γ e o FOXP3. O tipo de resposta gerada pelas células T depende de vários fatores, tais como o estado de maturação das DCs e o tipo de citocinas produzidas pelas DCs no microambiente local 125. 65 A estimulação de células T pelas DCs, pode desencadear diferentes tipos de resposta, nomeadamente respostas do tipo T helper (Th1/Th2 e Th17), T citotóxicas ou T reguladoras, resultando na ativação de diferentes componentes da imunidade celular e humoral 126. Deste modo, respostas do tipo Th1 são induzidas pela produção de citocinas IL-12 e levando à produção de grandes quantidades de IFN-γ por parte das células Th1 e T citotóxicas, enquanto respostas do tipo Th2 se devem à expressão de citocinas como IL-4, IL-5 e IL-13, contudo estas células Th2 não expressam IFN-γ. Já respostas do tipo Th17, são induzidas pela expressão de citocinas IL-17 51, 127 . Por outro lado, as células Treg ativas expressam FOXP3 e inibem a expressão de IL-12 produzidas pelas DCs, e estão relacionadas com a secreção de IL-10 e TGF-β, favorecendo uma resposta adaptativa mais do tipo humoral. As Treg são então capazes de suprimir as respostas Th1, explicando assim a imunossupressão que é induzida 52. No caso do IFN-γ verificou-se, neste trabalho, que a sua expressão na co-cultura de células T e DCs previamente incubadas com as várias bactérias é muito superior à sua expressão na amostra calibradora (DCs incubadas na ausência de bactérias), sendo que esta diferença é estatisticamente significativa em todos os casos (Fig. 3.11 (a)). Especificamente, a expressão deste gene foi maior nas células T estimuladas com as DCs incubadas com os isolados III e IV. Tendo em conta os resultados anteriores, nomeadamente os referentes à maturação das DCs, este resultado foi um pouco surpreendente. De facto, tendo verificado que os isolados de B. cenocepacia, especialmente o isolado IV, inibiam, pelo menos em parte, a maturação das DCs, como se viu pela baixa expressão das moléculas HLA-DR, CD80 e CD86, previa-se que estas DCs incubadas com os isolados (principalmente com o IV) fossem pouco eficazes a estimular as células T efetoras, logo a induzir a expressão de IFN-γ. Também os resultados dos ensaios de avaliação da morte celular sugeriam que o isolado IV, por causar uma apoptose mais acentuada nas DCs, não permitisse a ativação das células T. Relativamente ao FOXP3, verificou-se que a sua expressão na co-cultura de células T e DCs previamente incubadas com as várias bactérias foi igualmente superior à sua expressão na amostra calibradora, ainda que numa escala muito inferior à expressão de IFN-γ. As diferenças encontradas foram estatisticamente significativas no ensaio com o 66 isolado III e com E. coli (Fig. 3.11 (b)). Na linha do raciocínio anterior, seria de esperar que neste caso, a maior população de células T a expressar o fator de transcrição FOXP3 (Treg) estivesse presente na co-cultura em que as células T foram incubadas com as DCs infetadas com o isolado IV, as quais tinham apresentado menor expressão de HLA-DR e moléculas co-estimulatórias. Portanto, os resultados aqui obtidos também não foram de encontro ao esperado. No entanto há que ter em conta que o tipo de resposta imunológica das células T depende também do tipo e do nível de citocinas expressas pelas DCs quando incubadas com determinado tipo de bactérias. Curiosamente, resultados anteriormente obtidos sobre a expressão de citocinas pelas DCs quando incubadas com os isolados de B. cenocepacia mostraram que as DCs incubadas com os isolados II e IV apresentavam uma elevada expressão de citocinas pró-inflamatórias, tais como IL-1β, TNF-α, IL-6 e IL-12 (Fig. 2 do anexo III) e que as DCs incubadas com os isolados II e III expressam mais citocinas anti-inflamatórias tais como IL-10 e TGF-β (Fig. 1 do anexo III) (Lopes A, Tese de mestrado). Pode-se então pensar que o maior ou menor aumento da expressão genética das moléculas IFN-γ e/ou FOXP3 na população de células T, quando em co-cultura com as DCs infetadas com as diferentes bactérias resultará não só do efeito destas bactérias sobre a expressão dos marcadores de maturação nas DCs, mas também da quantidade de citocinas de cada tipo que induzem. Para além disso, também deverá ser contabilizado o efeito que as diferentes bactérias têm na viabilidade das células que as internalizaram. Assim o isolado IV induz maior expressão de IFN-γ, apesar de inibir a expressão de HLA-DR e das moléculas co-estimulatórias, como resultado do balanço entre este efeito, a sua elevada capacidade para induzir as citocinas pró-inflamatórias já referidas e ainda no seu elevado potencial para induzir apoptose. Já a estirpe de E. coli não patogénica (usada neste trabalho como controlo), apesar de induzir o aumento da expressão de HLA-DR e das moléculas co-estimulatórias e de afetar apenas ligeiramente a viabilidade celular, originou uma elevada expressão de FOXP3 na população linfocitária e menor expressão de IFN-γ, comparativamente aos isolados de B. cenocepacia, provavelmente porque, para além de citocinas próinflamatórias também promove nas DCs infetadas uma elevada expressão da citocina anti-inflamatória IL-10 77. Apesar de alguns mecanismos de escape imunológico de bactérias do Bcc terem já sido reportados, tem também sido descrito que a imunidade adaptativa não é completamente comprometida nos doentes com FQ infetados com estas bactérias. Pelo 67 menos, tem-se verificado que estes doentes produzem anticorpos específicos contra bactérias do Bcc 128, o que sugere alguma apresentação antigénica e desenvolvimento de respostas do tipo Th2. Contudo, a presença de anticorpos não parece ter um papel muito preponderante na defesa do hospedeiro contra as bactérias do Bcc, como esperado no caso de um grupo de microrganismos que parece adotar um estilo de vida intracelular, sendo que uma resposta do tipo Th1 robusta é essencial para combater este tipo de patogénios 129. Os nossos resultados permitem concluir que a deficiente maturação das DCs e a indução da apoptose promovida pelos isolados de B. cenocepacia testados, especialmente pelo isolado IV, não serão o suficiente para impedir que as DCs infetadas com esta bactéria ativem uma resposta efetora do tipo Th1, com produção significativa de IFN-γ e baixa expressão do fator de transcrição FOXP3, com funções imunorreguladoras. No entanto, não é de descartar a ideia de que a modulação das funções das DCs pelos isolados de B. cenocepacia não seja um importante contributo para restringir esta resposta. A inclusão neste estudo de outros controlos, como o LPS (que promoveu um considerável aumento na expressão dos marcadores de maturação das DCs), poderiam ajudar a esclarecer melhor até que ponto o nível de expressão genética de IFN-γ obtido nas várias situações é suficiente para definir uma resposta adaptativa Th1 eficaz. Há ainda que considerar que a resposta imunológica adaptativa foi aqui avaliada apenas com base no nível de expressão genética de IFN-γ e FOXP3, mas que há outros métodos de determinar esta resposta que deverão ser empregues para confirmar/complementar estes resultados, nomeadamente a determinação da expressão destas moléculas, mas ao nível da proteína e a avaliação da proliferação linfocitária (ver a secção das perspectivas futuras). 68 PERSPECTIVAS FUTURAS Vários estudos têm sido realizados para tentar perceber a infeção e a resposta imunitária ao Complexo B. cepacia, mas pouco ainda se sabe. A maioria dos estudos envolve macrófagos, neutrófilos e as células epiteliais dos pulmões. Os ensaios realizados no decorrer desta tese permitiram tirar algumas conclusões elucidativas sobre a modulação das funções das DCs pelos isolados de B. cenocepacia, para que num futuro próximo, possam ser realizados outros estudos mais complexos, de modo a comprovar as hipóteses que foram levantadas ao longo desta dissertação, e que carecem ainda, em alguns casos, de estudos adicionais para comprová-las. Em primeiro lugar, uma das prioridades para a continuação deste trabalho é completar a investigação das consequências imunológicas, em termos de resposta de células T, da interação das DCs com cada variante clonal, analisando o nível de expressão de CD69 (um marcador precoce de ativação de células T) através da citometria de fluxo, determinando a expressão de IFN-γ e FOXP3, mas ao nível da proteína, também por citometria de fluxo, e/ou no caso do IFN-γ por ELISA, usando os sobrenadantes da co-cultura. Para além disso, também seria interessante avaliar a proliferação linfocitária através de um ensaio com o corante fluorescente CFSE que se vai diluindo nas células à medida que ocorre proliferação celular, podendo-se determinar o número de gerações dos linfócitos por citometria de fluxo. Outro parâmetro que carece de investigação é o destino de cada variante clonal dentro das DCs, nomeadamente a sua capacidade de sobreviver e replicar-se intracelularmente, no sentido de perceber como estas bactérias contornam a degradação lisossomal, evitam o processamento dos antigénios e a apresentação por DCs às células T. Estes ensaios poderão ser avaliados por microscopia confocal e/ou citometria de fluxo. É também de realçar que o proteoma destes isolados encontra-se em estudo pelo grupo da Professora Isabel Sá-Correia do Instituto Superior Técnico e, portanto algumas das hipóteses levantadas sobre fatores de virulência que os isolados viáveis possuem e que lhes permitem modular a função das DCs podem vir a ser identificados. Assim, prevê-se que os resultados dos parâmetros anteriormente mencionados, tal como os obtidos por este trabalho, contribuam para elucidar a capacidade dos isolados de B. cenocepacia se adaptarem e persistirem no ambiente do hospedeiro. 69 70 CONCLUSÃO Tem sido sugerido que parte do sucesso da adaptação do Complexo Burkholderia cepacia, e nomeadamente de B. cenocepacia, ao ambiente pulmonar dos doentes com FQ e a infeção dos mesmos, passe pela evolução nos mecanismos de escape imunológico desta bactéria mas tanto quanto sabemos, o nosso grupo é o primeiro a dedicar-se às questões imunológicas com isolados clonais desta bactéria de um mesmo indivíduo. A célula dendrítica adquire aqui, especial importância, pois o seu papel no âmbito da infeção por B. cenocepacia está ainda pouco estudado. Os resultados obtidos ao longo deste trabalho permitem concluir que os isolados viáveis interagem melhor com as DCs e têm capacidade para modular as suas funções, em especial os isolados considerados mais virulentos (isolado II e IV). De facto, estes isolados são mais internalizados, não induzem a maturação das DCs, e originam maior morte celular por apoptose (essencialmente o IV). Contrariamente ao esperado, os nossos resultados mostraram ainda que a deficiente maturação das DCs e a indução da apoptose promovida pelos isolados de B. cenocepacia testados, especialmente pelo isolado IV, não são o suficiente para impedir que as DCs infetadas com esta bactéria ativem uma resposta efetora do tipo Th1 (com produção significativa de IFN-γ e baixa expressão do fator de transcrição FOXP3 com funções imunorreguladoras). No entanto, só com estes dados não podemos descartar a ideia de que a modulação das funções das DCs pelos isolados de B. cenocepacia não seja um importante contributo para restringir a resposta efetora das células T, pois, sem este mecanismo a resposta anti-bacteriana específica poderia ser ainda muito mais robusta. Em suma, no seu conjunto os mecanismos de evasão imunitária mencionados ao longo desta tese, poderão contribuir para uma melhor instalação da infeção por B. cenocepacia e para a sua persistência no organismo do indivíduo suscetível. Embora mais estudos sejam necessários para compreender especificamente a relevância da interação das DCs com a B. cenocepacia, o trabalho desenvolvido no âmbito desta dissertação contribui certamente para reforçar a ideia de que esta bactéria é capaz de alterar a função normal das DCs, provavelmente com o objetivo de evitar uma resposta imunológica adaptativa eficiente, capaz de a eliminar do organismo hospedeiro e/ou aproveitar as propriedades migratórias das DCs para se disseminar e causar uma infeção sistémica (síndrome da cepacia). 71 72 BIBLIOGRAFIA 1. Mahenthiralingam E, Baldwin A, Dowson CG. Burkholderia cepacia complex bacteria: opportunistic pathogens with important natural biology. J Appl Microbiol 2008; 104(6): 15391551. 2. Coenye T, Vandamme P, Govan JR, LiPuma JJ. Taxonomy and identification of the Burkholderia cepacia complex. J Clin Microbiol 2001; 39(10): 3427-36. 3. Vandamme P, Holmes B, Vancanneyt M, Coenye T, Hoste B, Coopman R et al. 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Avaliação de mecanismo de escape imunológico do Complexo Burkholderia cepacia. Tese de Mestrado 2012. Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. 80 ANEXOS 81 82 ANEXO I - Constituição de soluções utilizadas neste trabalho Tampão de cloreto de sódio (NaCl) Solução contendo 0,9 g de NaCl em 100 mL de água destilada Tampão de Fosfato Salino (PBS 1x) Solução contendo 1,4 mM KH2PO4, 4,29 mM Na2HPO4, 13,7 mM NaCl e 2,68 mM KCl em água destilada (pH ꞊ 7,4). Tampão de carbonato de sódio (Na2CO3) Solução contendo 0,5 M de Na2CO3 em 50 mL de água destilada (pH = 9,2) Tampão “beads” frio utilizado na separação de monócitos Solução com 0,5% de BSA e 2Mm de EDTA numa solução-tampão de PBS 1x. Solução paraformaldeído 3,7% Solução contendo 3,7 g de paraformaldeído em 100 mL de solução-tampão de PBS 1x 83 ANEXO II - Figuras complementares deste trabalho Exemplo dos resultados de um ensaio de maturação comparando os dois métodos de obtenção de DCs derivadas de monócitos humanos (DCs e PANDCs) Figura 1 - O histograma resulta da aquisição, por citometria de fluxo, de uma amostra de DCs incubadas com o isolado II (não fluorescente), durante 6 horas a 37ºC, após a marcação com anticorpo anti-HLA-DR, representando as populações de DCs obtidas pelo método de microesferas imunomagnéticas e coluna LS (DCs) e pelo método de aderência celular ou “Panning” (PANDCS). Este histograma apresenta a sobreposição dos histogramas da interação das DCs com o isolado II marcadas com anticorpo antiHLA-DR (vermelho e azul) e não marcadas (roxo e amarelo) para DCs e PANDCS respetivamente. Como a sobreposição dos histogramas obtidos por ambos os métodos se sobrepõe pode-se referir que as DCs e as PANDCS não apresentam grandes diferenças, nomeadamente no que diz respeito à expressão de marcadores expressos à superfície. 84 Exemplo da análise dos resultados de um ensaio de internalização, obtido por citometria de fluxo. Figura 2 - O histograma, resulta da aquisição, por citometria de fluxo, de uma amostra de DCs incubadas com o isolado III (previamente marcado com FITC), durante 6 horas, a 4ºC (roxo) e a 37ºC (vermelho), apresentando a sobreposição dos histogramas a 4ºC e a 37ºC. A barra verde (R2) e a barra rosa (R3) delimitam as células que internalizaram a 37ºC e 4ºC respetivamente (b), daí retiraram-se os valores de MFI de 37ºC (MFI = 1248) e 4ºC (MFI = 976), para posteriormente se proceder ao cálculo normalizado de acordo com a seguinte fórmula: (MFI do ensaio a 37ºC - MFI do ensaio controlo a 4ºC) / (MFI do ensaio controlo a 4ºC). Neste histograma é ainda possível observar, apenas uma população, o que significa que, praticamente todas as DCs da população internalizaram bactérias. 85 Análise comparativa entre a interação (internalização e adesão) das DCs com os vários isolados de B. cenocepacia e E. coli, viáveis vs inativados Figura 3 - Comparação da interação das DCs com os vários isolados de B. cenocepacia e E. coli quando viáveis (a preto) e inativadas (cinzento). Os valores representam a média dos MFI a 37ºC, ou seja, a quantidade de bactérias fluorescentes que interage com as DCs a 37ºC. 86 Exemplo da análise dos resultados de um ensaio de maturação, obtido por citometria de fluxo. Figura 4 - O histograma resulta da aquisição, por citometria de fluxo, de uma amostra de DCs incubadas com o isolado III (não fluorescente), durante 6 horas a 37ºC, após a marcação com anticorpo anti-HLA-DR. Este histograma apresenta a sobreposição dos histogramas da interação das DCs com o isolado III marcadas com anticorpo anti-HLADR (vermelho) e não marcadas (roxo), e em que a barra verde (R2) representa as DCs com o isolado III marcadas e não marcadas, pelo que, a este valor (MFI= 13528) se subtrai o valor das DCs com o isolado III não marcadas (R3) com o MFI de 1062. Posteriormente calculou-se a razão, entre os valores de MFI resultantes da expressão da molécula HLA-DR nas DCs incubadas com o isolado III e os valores de MFI resultantes da expressão da molécula HLA-DR nas DCs incubadas na ausência deste mesmo isolado. 87 Exemplo da análise dos resultados de um ensaio de apoptose, obtido por citometria de fluxo. (a) (b) Figura 5 - Os dot plots (a) e (b) resultam da aquisição, por citometria de fluxo, de uma amostra de DCs incubadas com o isolado IV, durante 12 horas a 37ºC, e após a marcação com Anexina V e PI. O dot plot (b) foi obtido a partir do dot plot (a), no qual se selecionou a região R1 por remoção de debris e impurezas com base no tamanho (FSC-A) e granularidade (SSA-A) dos eventos. Assim, o dot plot (b) é uma representação do que R1 contém, sendo que R2 representa a percentagem de células necróticas (3,06%), R3 a percentagem de células apoptóticas em fase tardia (30,08%), R4 a percentagem de células vivas (47,51%) e R5 a percentagem células apoptóticas em fase inicial (19,35%). 88 ANEXO III - Resultados de trabalhos anteriores Expressão genética de citocinas por DCs incubadas na presença de cada um dos 4 isolados clonais de B. cenocepacia Figura 1 – Análise dos níveis de mRNA dos genes das citocinas IL-10 e TGF-β nas DCs na ausência (DCs) e na presença dos isolados (I, II, III e IV), durante 6 horas, por RT-PCR (n=3) (resultados de Andreia Lopes – tese de mestrado). Figura 2 – Análise dos níveis de mRNA dos genes das citocinas IL-1β e TNF-α, IL-12, IL-6 e IL-23 nas DCs incubadas na ausência (DCs) e na presença dos isolados (I, II, III e IV), durante 6 horas, por RT-PCR (n=3) (resultados de Andreia Lopes – tese de mestrado). 89 ANEXO IV - Abstract e Poster Modulation of dendritic cell functions by clonal variants of Burkholderia cenocepacia isolated from a cystic fibrosis patient M.J. Pereira1, C. Coutinho2, A. Lopes1, I. Sá-Correia2, P.A. Videira1, M.G. Cabral1,3 1 CEDOC, Grupo de Glicoimunologia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa, Lisbon, Portugal 2 IBB- Institute for Biotechnology and Bioengineering, Centre for Biological and Chemical Engineering, Department of Bioengineering, Instituto Superior Técnico, Technical University of Lisbon, Lisbon, Portugal, 3 Faculdade de Engenharia e Ciências Naturais, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisbon, Portugal Objectives: Burkholderia cepacia complex (Bcc) bacteria have gained notoriety as dangerous pathogens in cystic fibrosis (CF). Studies on their virulence mechanisms have proved the exceptional adaptation ability of these bacteria, suggesting an interplay with host immune determinants. Usually, dendritic cells (DCs) play an essential role in immunity against bacteria by phagocytosing and eliciting adaptive immune responses. However, several pathogens become able to subvert normal antimicrobial immune responses by changing DCs regular functions, thus avoiding T cell responses. Information regarding the interaction of Bcc bacteria and DCs is still scarce. Therefore this work aimed to elucidate more this issue. Methods: We studied 4 clonal variants of B. cenocepacia, isolated from a CF patient, during the progression of the infection (1), and investigated if there were differences between the 4 isolates in their ability to modulate DCs functions. Conclusion: The obtained results revealed that the clonal variant isolated more recently, which exhibits the highest virulent phenotype, is better internalized by DCs giving rise to higher levels of inflammatory cytokines expression. Interestingly, this isolate was also the one that lead to an higher suppression of DCs maturation, shown by a down regulation of the maturation markers expression, specially HLA-DR. So far our findings suggest that a mechanism of immunological evasion involving DCs, should be considered a relevant factor for the success of B. cenocepacia infection. (1) Coutinho et al., 2011, Infection and Immunity, 79 (7):2950-2960 90 Poster 91 92