Brasil perde três posições no ranking mundial de competitividade do IMD 2014 Estados Unidos encabeçam novamente a lista dos mais competitivos, à frente de Suíça e Cingapura Pelo quarto ano consecutivo, o Brasil perdeu espaço no cenário competitivo internacional. Divulgado hoje pelo International Institute for Management Development (IMD) e pela Fundação Dom Cabral, o Índice de Competitividade Mundial 2014 (World Competitiveness Yearbook - WCY) aponta que o Brasil caiu três posições em relação a 2013, ocupando o 54º lugar no ranking geral composto por 60 países. O Brasil está à frente apenas de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia e Venezuela – a última colocada. Considerado o mais renomado e abrangente guia sobre competitividade do mercado mundial, o World Competitiveness Yearbook, publicado anualmente desde 1989, avalia as condições de competitividade de 60 países a partir da análise de dados estatísticos nacionais e internacionais e de uma ampla pesquisa de opinião realizada com quatro mil executivos. No Brasil, a pesquisa e a coleta de dados são coordenadas e conduzidas pela Fundação Dom Cabral. De acordo com a edição de 2014, estão no topo da lista das economias mais competitivas do mundo os Estados Unidos, Suíça e Cingapura. Os EUA permanecem no primeiro lugar, refletindo a força de sua economia, além de números empregatícios superiores e o alto desempenho em tecnologia e infraestrutura. 10 economias mais competitivas – World Competitiveness Yearbook 2014 País Posição 2014 Posição 2013 Movimento Estados Unidos 1 1 0 Suíça 2 2 0 Cingapura 3 5 +2 1 Hong Kong 4 3 -1 Suécia 5 4 -1 Alemanha 6 9 +3 Canadá 7 7 0 Emirados Árabes 8 8 0 Dinamarca 9 12 +3 Noruega 10 6 -4 10 economias menos competitivas – World Competitiveness Yearbook 2014 País Posição 2014 Posição 2013 Movimento Colômbia 51 48 -3 África do Sul 52 53 +1 Jordânia 53 56 +3 Brasil 54 51 -3 Eslovênia 55 52 -3 Bulgária 56 57 +1 Grécia 57 54 -3 Argentina 58 59 +1 Croácia 59 58 -1 Venezuela 60 60 0 “Um olhar geral sobre o panorama de competitividade em 2014 aponta o sucesso contínuo dos Estados Unidos, uma recuperação parcial na Europa e desafios para alguns dos grandes mercados emergentes”, considera o Professor Arturo Bris, Diretor do Centro de Competitividade do IMD. A maioria dos grandes mercados emergentes deslizou no ranking devido ao lento crescimento econômico apoiado no baixo investimento estrangeiro, além de uma infraestrutura inadequada. A China (23º) cai, em parte, devido a preocupações sobre seu ambiente de negócios, enquanto a Índia (44º) e Brasil (54º) sofrem com mercados de trabalho ineficientes e ineficazes na gestão de negócios. Turquia (40º), México (41º), Filipinas (42º) e Peru (50º) também caem. Brasil: 16 posições perdidas em 4 anos Este é o quarto ano consecutivo em que o Brasil cai no ranking: em 2010, ocupava o 38º lugar. No ano seguinte, caiu para a 44ª posição e, em 2012, desceu à 46ª colocação. Na edição 2013, o 2 Brasil caiu cinco posições, para o 51º lugar, e, em 2014, desceu mais três posições, para o 54º lugar. O índice que permite aos pesquisadores definir posições no ranking é criado a partir da análise comparativa de cada uma das mais de 300 variáveis pesquisadas e à distância em relação ao país mais competitivo do relatório. Em 2014, o Brasil obteve 46,778 pontos (ou seja, 53,222 pontos a menos que o país líder, os EUA); em 2013, havia obtido 52,996 pontos. “Esses números indicam que a perda de competitividade do Brasil neste ano não é apenas relativa, mas também absoluta, e que a distância do país em relação ao líder vem crescendo com o tempo”, destaca o professor da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, responsável pela coleta e análise dos dados do ranking relacionados ao Brasil. O Brasil no World Competitiveness Yearbook Histórico das posições do Brasil no ranking 42 44 49 43 44 40 46 51 54 38 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Ano Índice Posição 2014 2013 2012 2011 2010 2009 46,778 53,222 56,524 61,043 56,531 56,865 54 51 46 44 38 40 A metodologia aplicada na mensuração dos resultados utiliza dois grupos de indicadores, que são divididos em quatro pilares competitivos: Performance Econômica, Eficiência do Governo, Eficiência dos Negócios e Infraestrutura. Os indicadores econômicos dizem respeito ao ano anterior ao lançamento do relatório, neste caso, ao de 2013. Já os indicadores provenientes da pesquisa de opinião com executivos, aplicada nos países, permitem identificar como a competitividade é percebida pelos empresários e se aproximam da realidade do ano em que a pesquisa é lançada, neste caso, o de 2014. 3 Desempenho da economia brasileira Este fator analisa o ambiente econômico brasileiro. Ele indica que a competitividade da economia do país está sendo impactada pelo aumento significativo de preços (54ª posição) e pela baixa participação do Brasil no comércio internacional (59ª posição). “É fruto do declínio das exportações para mercados tradicionais como Argentina, União Europeia e Estados Unidos, e do aumento das importações de produtos industriais provenientes principalmente da China e de outros países asiáticos”, avalia Carlos Arruda. O Brasil ocupa este ano a última posição no indicador ‘Taxa de Comércio Internacional pelo PIB’: 13,67% contra 54,88% (média dos países analisados); e a penúltima posição no indicador ‘Exportação de Produtos pelo PIB’: 10,79% contra 42,77% (média dos países). Favorável ao Brasil, o tamanho da sua economia continua entre as maiores do mundo. Apesar da queda relativa em 2014, o tamanho da economia doméstica (7ª posição no indicador Consumo das Famílias), a atração de investimentos diretos (7ª posição) e o emprego (6ª posição) são dados de destaque para o Brasil. Estes resultados positivos são significativos, mas, sozinhos, já não sustentam o crescimento do sétimo maior PIB do mundo. 2014 2013 Δ DESEMPENHO DA ECONOMIA 43 42 -1 Economia Doméstica 36 31 -5 Comercio Internacional 59 59 = Investimento internacional 23 20 -3 Emprego 6 6 = Preços 54 56 +2 Eficiência do governo Este fator analisa o ambiente institucional e regulatório brasileiro e é, historicamente, o ponto mais crítico da competitividade do país. Desde 2011, o Brasil está entre os cinco piores países neste fator. Sem apresentar nenhum sinal de simplificação nas legislações trabalhistas e no sistema regulatório, o país está entre os piores ambientes para se fazer negócios no mundo, com alta carga tributária direta e indireta, e taxa de juros de curto e longo prazos que desestimulam o investimento na produção e no crescimento das empresas. O destaque positivo são os incentivos públicos às empresas (3ª posição), em que se destaca a ação do BNDES como incentivador do progresso econômico. Outro ponto de destaque é a reserva de moeda estrangeira (6ª posição). Por outro lado, os subfatores referentes à legislação, finanças públicas, 4 política fiscal e estrutura institucional ocupam baixas posições e evidenciam questões que inibem o desenvolvimento. 2014 2013 Δ EFICIÊNCIA DE GOVERNO 58 58 = Finanças públicas 48 45 -3 Política Fiscal 35 38 +3 Estrutura Institucional 59 58 -1 Legislação dos Negócios 58 58 = Estrutura Social 58 55 -3 Eficiência Empresarial Este pilar analisa a eficiência das empresas brasileiras. Considerando os resultados negativos deste pilar em 2014, ele pode ser visto como a principal causa para a queda significativa do Brasil no ranking geral. Mantendo uma sequência que se iniciou em 2011, quando, em todos os indicadores de produtividade, o Brasil demonstrava não estar apto a sustentar crescimentos produtivos no longo prazo, em 2014, o país desceu à posição 59 no subfator Produtividade, à frente apenas da Venezuela. Em nenhuma das 11 variáveis que compõem este subfator o Brasil apresentou avanços de 2013 para 2014. Na variável Produtividade Total, ajustada ao padrão de compras do país (PPP), o Brasil ficou na posição 53, registrando crescimento negativo de -2,32% quando comparado a 2013. Diferentemente dos últimos anos, em que os demais subfatores de competitividade relacionados à atividade empresarial sustentavam condições competitivas, em 2014, todos os subfatores e a maioria das variáveis relacionadas indicam perda de competitividade e de otimismo. “Este ‘desânimo competitivo’ que agora acomete o Brasil já foi observado neste relatório em outros países como Argentina, África do Sul e Turquia que, após alguns anos de perda de performance econômica e de eficiência de governo, perderam a sua capacidade de agir proativamente, iniciando um ciclo vicioso de pessimismo empresarial e perda de competitividade geral”, pontua Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral. 5 2014 2013 Δ Eficiência Empresarial 46 37 -9 Produtividade e Eficiência 59 58 -1 Mercado de Trabalho 32 23 -9 Finanças 34 27 -7 Práticas Gerenciais 36 27 -9 Atitudes e Valores 39 32 -6 Infraestrutura Este fator combina indicadores de infraestrutura básica (estradas, portos, aeroportos, energia), tecnológica (telefonia, internet, etc.), científica (pesquisa e desenvolvimento), educação básica e superior, saúde e meio ambiente. Os resultados de 2014 se caracterizam por indicadores críticos, principalmente em infraestrutura básica, tecnológica e na educação. O país ocupa as últimas posições em praticamente todos os indicadores de percepção da qualidade da mão-deobra e da educação técnica e fundamental. Indicadores como o teste de PISA, que avalia a proficiência de jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências (49ª posição), avaliações de línguas estrangeiras, como o Toefel (46ª posição), e o indicador de matrículas em cursos secundários, com pouco mais de 80% da população em idade escolar matriculada nas escolas, reiteram a condição defasada e ineficiente da educação no Brasil. O país também ficou na posição 59 no indicador de Infraestrutura de Saúde, o que demonstra a carência brasileira neste setor. Sem grandes novidades, o relatório reitera o que é sabido sobre a qualidade da infraestrutura básica brasileira. No último lugar dos indicadores de opinião sobre a qualidade da infraestrutura rodoviária e logística, o relatório demonstra a preocupação da comunidade empresarial com a oferta futura de energia (54ª posição) e com a gestão das cidades brasileiras como plataformas locais para o desenvolvimento da competitividade e das atividades empresariais (58ª posição no item Qualidade de Gestão das Cidades). “É importante ressaltar que o país ainda mantém um percentual significativo do PIB investido em educação e saúde, o que é um resultado positivo, pois mostra que há interesse e atitudes voltadas para a melhoria destes dois fatores. Porém, diante dos resultados negativos do país nestes pilares, é preciso refletir se esses gastos estão realmente sendo feitos da forma eficiente 6 e em que medida as ações estão corretamente direcionadas”, comenta Arruda. “Se o Brasil é o 27º país que mais investe em saúde, por que ocupa a 59ª posição na infraestrutura deste setor?” 2014 2013 Δ Infraestrutura 52 50 -2 Básica 58 55 -3 Tecnológica 57 57 = Cientifica 37 36 +1 Saúde e Meio-Ambiente 40 35 -5 Educação 55 56 +1 Fatores mais atrativos para a economia brasileira Para a composição do relatório, cerca de mil executivos que trabalham no país são convidados anualmente a responder um extenso questionário que avalia as condições competitivas do Brasil no dia a dia. O objetivo é captar suas percepções sobre a realidade econômica, regulatória, ambiental, social e educacional do país. De uma lista de 15 indicadores, os executivos escolheram cinco que consideram os mais atrativos da economia brasileira. O Dinamismo da Economia e as Atitudes Abertas e Positivas tiveram destaque nas respostas e são considerados pelos entrevistados como os fatores mais atrativos do Brasil. Por outro lado, a Competência do Governo e a Regulação Tributária são os piores avaliados. Segundo a visão dos executivos, preocupam ainda a Infraestrutura do Brasil, o Nível de Escolaridade e a Cultura de Pesquisa e Desenvolvimento, que estão alinhados aos resultados negativos encontrados nos pilares de Eficiência do Governo e Infraestrutura do ranking geral. 7