PLANTAS DE COBERTURA DO SOLO EM SISTEMA DE PRODUÇÃO DE TABACO CARLOS, A. S.1; FELIPE, T. B.2; CAMILA, B. M.3 RESUMO: A utilização de plantas de cobertura do solo exerce importante função de manter o solo coberto reduzindo os efeitos da erosão hídrica e melhorando as condições físicas, químicas e biológicas do solo. Com o intuito de avaliar diferentes culturas de cobertura do solo desenvolveu-se este experimento no município de Jaguari-RS. Os tratamentos foram constituídos por diferentes culturas de cobertura, antecedendo o cultivo do tabaco (Nicotina tabacum): aveia preta (Avena strigosa); ervilhaca comum (Vicia sativa L.); consórcio de aveia preta + ervilhaca; tremoço branco (Lupinus albus L.). A semeadura das culturas foi realizada a lanço sobre os camalhões. Realizou-se avaliação da produção de massa seca. A maior produção de massa seca foi da aveia preta, aveia preta + ervilhaca e tremoço, respectivamente. Com a intuito de avaliar a influência das culturas de cobertura na produção de tabaco o experimento foi dessecado para implantação do tabaco. Para análise da produção, avaliou-se as plantas centrais de cada parcela. O tratamento com tremoço como cultura antecessora, apresentou maior produção de tabaco, diferindo da ervilhaca e da aveia preta + ervilhaca e não diferindo significativamente da aveia preta. Portanto, o tremoço branco e a aveia preta se mostraram opções promissoras aos benefícios da conservação do solo. PALAVRAS-CHAVE: adubos verdes, conservação do solo, erosão hídrica, plantio direto do tabaco 1 INTRODUÇÃO A cultura do tabaco é importante na composição da renda dos agricultores familiares, se caracterizando pelo uso intenso dos recursos naturais nas propriedades. A utilização de plantas de cobertura do solo é uma prática pouco utilizada no sistema de produção de tabaco, porém visa manter o solo coberto perante fatores meteorológicos, reduz os efeitos da erosão hídrica e melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo (PRUSKI, 2006). No entanto, a cultura do tabaco necessita de tecnologias que facilitem o cultivo de forma conservacionista, pois ainda sofrem com preparos e manejos convencionais que favorecem a 1Eng.º Agrônomo, Prof. Doutor, IFFar Campus São Vicente do Sul, Rua Vinte de Setembro, CEP 97.4200-00, São Vicente do Sul, RS. Fone (55) 3257-4100, [email protected] 2Estudante, Curso de Agronomia, IFFar Campus São Vicente do Sul, Rua Vinte de Setembro, CEP 97.420-000, São Vicente do Sul, RS, [email protected] 3Estudante, Curso de Agronomia, IFFar Campus São Vicente do Sul, Rua Vinte de Setembro, CEP 97.420-000, São Vicente do Sul, RS, [email protected] degradação das áreas cultivadas (PELLEGRINI, 2016). Com o intuito de avaliar diferentes culturas de cobertura do solo, buscando a redução do impacto ambiental e manutenção/aumento da produção e qualidade do tabaco, desenvolveu-se este experimento. 2 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em área particular, no município de Jaguari, região fisiográfica da Depressão Central do Rio Grande do Sul. O solo pertence à unidade de mapeamento São Pedro, classificado como Argissolo Vermelho (EMBRAPA, 1999). Os tratamentos foram constituídos por diferentes culturas de cobertura, antecedendo o cultivo do tabaco virgínia (Nicotina tabacum): aveia preta (Avena strigosa); ervilhaca comum (Vicia sativa L.); consórcio de aveia preta + ervilhaca; tremoço branco (Lupinus albus L.). No preparo do solo, se fez a montagem dos camalhões com o uso de um arado aleirador de aivecas. As unidades experimentais foram constituídas de parcelas de 3,5 x 3 m. No dia 23 de junho de 2015 foi realizada a semeadura a lanço das culturas de cobertura sobre os camalhões, utilizando-se densidade de semeadura recomendada (MONEGAT, 1991). A velocidade de cobertura do solo foi avaliada semanalmente, através do método da diagonal do quadrado utilizando-se um prumo de centro (RIZZARDI; FLECK, 2004). No dia 12 de agosto de 2015 foi realizado a avaliação da produção de massa seca das culturas. Utilizou-se um gabarito com área de 0,25 m² em que as amostras foram coletadas a campo, e depois secas em estufa à 60°C até atingir peso constante. Com a intuito de avaliar a influência das culturas de cobertura na produção de tabaco, o experimento foi dessecado para implantação do tabaco. A semeadura do tabaco foi realizada no mês de julho em canteiros do sistema float. Durante aproximadamente 65 dias, as mudas passaram por tratos culturais até atingir o ponto ideal para o transplante, realizado no dia 11 de setembro de 2015 em cultivo mínimo com população de 20.000 plantas ha-1. A adubação foi aplicada em todas as parcelas seguindo a recomendação para a cultura (CQFS-RS/SC, 2004). Ao longo do ciclo da cultura, realizou-se os tratos culturais necessários, entre eles a capação, que consiste em retirar manualmente as flores, ou botões de flores, para melhor direcionar a energia da planta. Para análise da produção, avaliou-se as plantas centrais de cada parcela. A colheita do tabaco iniciou quando as folhas apresentaram certo grau de maturidade. Após as folhas do tabaco serem retiradas da planta e separadas por parcelas, foram submetidas ao processo de cura, em estufa com temperatura e umidade controlada (SILVA, 2002). Após a cura, as amostras foram pesadas podendo assim estimar a produção de tabaco. As análises estatísticas foram realizadas no software Sisvar, aplicando-se o teste Tukey a 5% de probabilidade. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto à velocidade de recobrimento do solo (Figura 1) o tratamento com aveia preta cobriu o solo mais rápido, chegando 100% de cobertura aos 63 dias após semeadura (DAS). O tremoço atingiu 100% de cobertura aos 70 DAS e o consórcio entre aveia preta + ervilhaca aos 77 DAS. Já o tratamento com ervilhaca solteira foi o único que aos 77 DAS não cobriu totalmente o solo, apresentando 77% de do solo coberto. Por esses resultados, pode- se indicar a aveia preta, o tremoço e o consórcio entre aveia preta + ervilhaca como opções quando se deseja rápida cobertura do solo e, quando a janela de permanência da cultura de cobertura for pequena até a implantação do tabaco. Já a ervilhaca é uma opção quando a janela de permanência da cultura de cobertura for maior, isso se justifica pelo crescimento inicial mais lento e ciclo mais longo das ervilhacas (CALEGARI et al., 1993). COBERTURA DO SOLO (%) Aveia Preta Ervilhaca Aveia + Ervilhaca Tremoço 100 80 60 40 20 0 SEM. 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 DIAS APÓS A SEMEADURA Figura 1. Recobrimento do solo ao longo do ciclo das plantas de cobertura. Jaguari, 2016. Conforme a Figura 2, a maior produção de massa seca foi dos tratamentos com aveia preta, aveia preta + ervilhaca e tremoço, respectivamente. O tratamento com ervilhaca comum produziu menor quantidade de massa seca que os tratamentos com aveia preta e o consórcio, não diferindo estatisticamente do tratamento com tremoço branco. Segundo Monegat (1991) a capacidade competitiva da aveia é maior devido a sua rusticidade e agressividade em relação a ervilhaca, além de apresentar a capacidade de perfilhar. Massa seca (tha-¹) a* 4,0 a ab 3,0 2,0 b 1,0 0,0 Aveia Preta Ervilhaca Aveia Preta + Ervilhaca Tremoço Figura 2. Produção de massa seca de diferentes culturas de cobertura de inverno. Jaguari, 2016. * As médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. Na Figura 3 verifica-se que o tratamento com tremoço como planta de cobertura antecedendo o tabaco, apresentou maior produtividade de tabaco não diferindo do tratamento com aveia preta. Os tratamentos com ervilhaca solteira e consórcio de aveia preta + ervilhaca apresentaram menor produtividade de tabaco. A quantidade de N acumulado na parte aérea das plantas pode influenciar na produção da cultura sucessora, principalmente nos tratamentos Produtividade (tha-¹) que contém leguminosas como cultura antecessora (HEINRICHS et al. 2001). a 3,9 3,7 3,5 3,3 3,1 a b* Aveia preta b Ervilhaca b Aveia preta + ervilhaca Tremoço Figura 3. Produtividade do tabaco sobre diferentes culturas de cobertura de solo. Jaguari, 2016. * As médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey. 4 CONCLUSÕES Portanto, entre as culturas de cobertura avaliadas, o tremoço branco e a aveia preta se mostraram as opções mais promissoras, apresentando rápido recobrimento do solo com o aumento da produção de tabaco. Assim, aliando os benefícios da conservação do solo, mantendo o sistema de produção sustentável. 5 AGRADECIMENTOS Ao Instituto Federal Farroupilha- Campus São Vicente do Sul, seu corpo docente, direção e administração que oportunizaram a realização desse trabalho. Ao orientador Carlos Arnoldo Streck, pelo suporte e pelas suas correções e incentivos. Ao órgão financiador do projeto, bolsa FAPERGS, e a todos que direta ou indiretamente contribuíram de alguma forma, muito obrigado. 6 REFERÊNCIAS: COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC. Manual de adubação e calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 10. Ed. Porto Alegre, 2004. CALEGARI, A. et al . Adubação verde no sul do Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro, AS-PTA, 1993. 346p. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro, RJ: Embrapa Solos, 1999. 412p. HEINRICHS, R.; AITA, C.; AMADO, T. J. C.; FANCELLI, A. L.. Cultivo consorciado de aveia e ervilhaca: relação C/N da fitomassa e produtividade do milho em sucessão. Rev. Bras. Ciênc. Solo. 2001, vol.25, n.2, pp.331-340. ISSN 1806-9657. MONEGAT, C. Plantas de cobertura do solo: características e manejo em pequenas propriedades. Chapecó (SC): Edição do Autor, 1991. 336p. PELLEGRINI, A. Sistemas de cultivo da cultura do fumo com ênfase às práticas de manejo e conservação do solo. 2006. 78f. Dissertação (Mestre em Ciência do Solo) – Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2006. PRUSKI, F. Conservação do solo e água: práticas mecânicas para controle da erosão hídrica. Viçosa, 2006. 240p. RIZZARDI, M.A.; FLECK, N.G. Métodos de quantificação da cobertura foliar da infestação das plantas daninhas e da cultura de soja. Ciência Rural, v. 34, n. 1, 2004. Famasul. Disponível em <http://famasul.com.br/public/area-produtor/5577informativoagricultura-dezembro-2014-edicao-n-2.pdf>. Acesso em 27/07/2016. SILVA, L. X. Análise do complexo agroindustrial fumageiro sul-brasileiro sob o enfoque da economia dos custos de transação. 2002. 287f. Tese (Doutorado em Economia) – Programa de Pós-Graduação em Economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.