três/ organização social

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TRÊS/ ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Esta seção descreve como a sociedade é organizada. As pessoas não são unidades
independentes como grãos de areia na praia. Os membros de uma sociedade organizam-se
em muitas espécies de grupos, organizações e relacionamentos. O Capítulo 8, "Grupos
Sociais", descreve as espécies de grupos que aparecem em qualquer sociedade particularmente na nossa. O Capítulo 9, "Instituições Sociais", descreve como as normas da
cultura e os relacionamentos de uma sociedade são organizados em sistemas que funcionam
a fim de atenderem às necessidades das pessoas. O Capítulo 1O, "A Família", é uma
descrição detalhada de uma destas instituições sociais provavelmente a mais importante. O
Capítulo 11, "Organizações Formais", descreve as estruturas de associação através das
quais atua uma sociedade complexa. O Capítulo 12, "Classe Social", descreve um conjunto
extremamente importante de relacionamentos de status entre os indivíduos e mostra como
tais relacionamentos afetam sua vida inteira. O Capítulo 13, "Mobilidade Social", mostra
como as pessoas mudam seu status de classe.
8. Grupos sociais
Examine cada um de nós isoladamente, um homem à parte do povo Cheyenne que se lembre das
mesmas coisas e deseje as mesmas coisas. Examine cada um de nós dessa maneira, e você terá nada mais do
que um homem que não se respeita, porque ele é um fracasso aos olhos do homem branco. Um homem que
não se respeita não pode fazer um bom futuro. Agora, examine todos nós em conjunto como povo Cheyenne.
Então, nossos nomes não são os nomes de fracassos. São os nomes de grandes e generosos caçadores que
alimentaram as pessoas, combatentes que morreram pela liberdade do mesmo modo que morreram os heróis
brancos, homens santos que nos incutiram o poder de Deus. Examine-nos em conjunto dessa maneira e há um
gole para cada homem na taça do auto-respeito, e teremos a força de espírito para decidir o que fazer e como.
Faremos boas coisas como uma tribo que está crescendo e mudando, coisas, que não pudemos fazer como
homens individualmente, separados de seus ancestrais. (De uma introdução a um programa de consolidação
da terra Cheyenne do Norte, citada em Indian Affairs, Nova York, Association on American Indian Affairs, n°
37, jun. 1960.)
Aos 24 anos Steve tinha um longo repertório de êxitos. Incomumente empreendedor, já estava
ganhando dinheiro com a idade de 13 anos, na importação e venda de brinquedos japoneses durante o Natal.
Tinha ido bem na faculdade e também nos negócios - tão bem que costumava gastar $ 300 com seus ternos e
pôde deixar o trabalho e ir para a Califórnia tendo no bolso $25,00 em dinheiro vivo. Lá, decidiu se enfronhar
com os grupos em Esalen, e logo deixou-se absorver pelo movimento, em tempo integral. Mais tarde tornouse líder de grupo, construiu uma cabana nas montanhas das proximidades, ocasionalmente deixava-se levar
pelo LDS, e escreveu em seu diário: "Este é um lugar tão estranho. (...) De certo modo, ainda não estou
morto, embora pela primeira vez em minha vida tenha começado a considerar cuidadosamente a
possibilidade". Em 9 de fevereiro de 1971, em uma loja artesanal nos arredores de Esalen, Steve apanhou um
revólver Hawes .357-"Magnum e matou-se. (Adaptado de _Bruce Maliver. The Encounter Game. Nova York,
Stein & Day, 1973. p. 109-27).
Muitos norte-americanos de origem Cheyenne conseguiram êxito na vida sem participarem
da vida tribal, e poucas pessoas participantes de grupos tiveram a experiência desastrosa de Steve.
Algumas parecem ter sido auxiliadas. É provável que poucos grupos sejam inteiramente positivos
ou inteiramente negativos em seus efeitos sobre seus membros" mas os efeitos do grupo sobre o
indivíduo o profundos. Todas as pessoas, não importando a raça ou a cultura, encontram a
realização da personalidade por meio da Vida grupal. O bebê torna-se "humano" quando toma seu
lugar na família. Quando a criança se desloca além do círculo familiar, envolve-se em outros
relacionamentos grupais que continuamente estarão modelando sua personalidade, até que a morte
interrompa o processo.
Embora "grupo" seja um dos conceitos mais importantes em Sociologia, não existe consenso
sobre uma definição única. Esta confusão não ocorre porque os sociólogos não possam resolver
algo! As confusões persistem porque a maioria dos conceitos (em Sociologia) não é inventada e
depois posta em uso; em sua maioria, os termos sociológicos são palavras que circulam há muito
tempo para uso geral e que os sociólogos passaram a usar com um significado especial. Alguns
termos continuam a ser usados com mais de um significado, porque inventar um conjunto
inteiramente novo de palavras cobrindo diversos significados seria ainda mais confuso.
Conseqüentemente, há diversos significados de "grupo" na literatura sociológica. Numa
primeira acepção, o termo denota qualquer reunião física de pessoas (por exemplo, "um grupo de
pessoas estava esperando..."). Nesse sentido, um grupo não precisa partilhar de coisa alguma além
de proximidade física. Muitos sociólogos chamariam tal reunião de pessoas uma agregação ou uma
coletividade.
Um segundo significado é o de numerosas pessoas que partilham de características comuns.
Assim, os indivíduos do sexo masculino, os diplomados pela universidade, os médicos, os velhos,
os milionários, os suburbanos e os fumantes de cigarros seriam grupos. Categoria seria um termo
mais satisfatório, mas os sociólogos freqüentemente usam "grupo" em lugar de "categoria", termo
mais preciso mas que talvez soasse mais desajeitada mente.
Uma outra forma de usar o termo define grupo como diversas pessoas que partilham de
padrões organizados de interação recorrente. Isso excluiria todas - as reuniões casuais e
momentâneas de pessoas cuja interação é destituída de um padrão de organização ou repetição,
como os espectadores de um acidente de trânsito. Esta definição incluiria a família, a "panela" de
amizades, organizações como um clube ou igreja qualquer espécie de contato coletivo entre pessoas
que interagem repetidamente, consoante algum padrão de procedimentos e relacionamentos
costumeiros.
Um outro uso bastante comum (que é o de nossa preferência) é qualquer número de pessoas
que partilham de uma consciência de filiação e interação. Com esta definição, duas pessoas
esperando o ônibus não seriam um grupo, mas tomar-se-iam um grupo se começassem uma
conversa, uma luta, ou qualquer outra interação. Diversas pessoas caminhando por uma rua seriam
uma agregação ou coletividade, não grupo, salvo se alguma coisa - um orador de rua, um acidente,
um suicídio - captasse sua atenção e mantivesse seu interesse, transformando-as em uma audiência,
que é uma espécie de grupo (ver p. 322). Um ônibus cheio de passageiros não seria um grupo,
porque eles não têm consciência de interação entre si, simplesmente acontece de estarem no mesmo
lugar ao mesmo tempo. É possível que" a interação possa desenvolver-se durante a viagem e se
formem grupos. Quando as crianças começam a brincar juntas, ou o menino encontra a menina, ou
os empresários descobrem um interesse comum no mercado de títulos, ou no jogo de beisebol, os
grupos começam a se desenvolver - mesmo que sejam transitórios e amorfos. Ocasionalmente todo
o agregado pode tomar-se um grupo, como neste caso relatado por Bierstedt.
Os passageiros de metrô em Nova York, por exemplo, são notoriamente indiferentes entre si.
Mas apenas o mais ligeiro estímulo basta para transformá-los em um grupo social. O autor estava
em um vagão bastante cheio uma noite, na primavera, quando entrou um marinheiro escandinavo,
muito embriagado, vindo de um vagão próximo. Começou a cantar alto, em sua língua nativa, uma
canção alegre e agradável, e os passageiros despertados de seus devaneios e de seus jornais,
responderam calidamente aos esforços do marinheiro e começaram a trocar sorrisos entre si. Com
solicitude inesperada e, de fato, incomum para passageiros de metrô, diversos homens no vagão
perguntaram ao marinheiro onde desejava ir e certificaram-se de que ele não passaria da estação
onde queria descer. Depois que o marinheiro se foi, os passageiros restantes, agora aumentados
pelos outros que eram estranhos ao episódio, voltaram aos seus devaneios e seus jornais. O
encantamento tinha sido rompido. O que por alguns momentos transitórios tinha sido um grupo
social voltou a ser (...) gente com nada mais em comum do que o fato de estarem acidentalmente
juntos na mesma ocasião e lugar - o suficiente para dar-lhes uma consciência de espécie, mas mo o
suficiente, sem este estímulo extra, para induzi-Ios a se envolverem em relações sociais. . (Robert
Bierstedt. The Social Order. McGraw-Hill, 1970. p. 283.
A essência do grupo social não é a proximidade física, mas a consciência de interação
conjunta. Os passageiros no vagão do metrô estavam juntos, mas até a entrada do marinheiro, que
então lhes deu um interesse comum, não estavam empenhados em interação conjunta. Outras
espécies de incidentes de estímulo podem mudar uma agregação em grupo. Por exemplo, um
aumento nas tarifas ou a ameaça de interrupção do serviço de transporte entre a cidade e os
subúrbios pode mudar uma agregação não-estruturada de passageiros em um grupo efetivo e dotado
de consciência própria, que desenvolve os usuais padrões grupais, à medida que busca salvaguardar
um privilégio que poderia perder. Esta consciência de interação depende de muitos fatores e pode
estar presente mesmo quando não há interação pessoal dos indivíduos. Assim, somos membros de
um grupo nacional e pensamos como nacionais do país ainda que somente conheçamos uma fração
diminuta dos que compõem a nossa nação. Não obstante, interagimos através de campanhas
políticas, pagamento de impostos, uso dos serviços do governo, resposta a símbolos tais como
bandeira e hino nacionais, e, talvez acima de tudo, através de nossa consciência de que como
cidadãos de uma nação estamos vinculados de um modo que nos distingue dos cidadãos de outras
nações. Assim, o termo "grupo" cobre uma ampla variedade de espécies de associação humana.
O grupo e o indivíduo
Nosso "ethos" individualista leva-nos a supor que temos pleno comando de nosso
comportamento e nos impede de ver até que ponto o comportamento 'individual é controlado pelas
experiências de grupo. Esta suposição transparece através da reação popular ao anúncio de que
alguns soldados norte-americanos mantidos prisioneiros pelos chineses na Guerra da Coréia haviam
colaborado com o inimigo. Houve uma tendência geral de culpar as fraquezas individuais e os
defeitos de caráter, porém uma indagação mais científica constatou que os soldados capturados
tinham sido desmoralizados por um ataque sistemático a suas lealdades de grupo.
Privações físicas, má alimentação, cuidados médicos limitados e abrigo inadequado,
exerceram certa influência para enfraquecer a resistência dos prisioneiros norte-americanos, mas
estas condições não foram consideradas suficientemente severas para darem conta de seu
comportamento. A tortura e, mais freqüentemente, as ameaças de tortura ocorreram ocasionalmente,
mas afetaram somente uma minoria dos prisioneiros. Os principais meios de desmoralização usados
pelos chineses foi algo mais poderoso que a força física o ataque sistemático aos vínculos de grupo,
descritos por Biderman [1960] e Schein [1960]. Assim como "morrer é fácil para qualquer pessoa
deixada só em um campo de concentração"1, a morte chegava facilmente para os prisioneiros de
guerra isolados de seus companheiros.
Os chineses usaram técnicas tais como confinamento solitário, isolamento de pequenos
grupos de prisioneiros e freqüente mudança de pessoal para impedir a formação ou sobrevivência de
grupos coesos. Mais importante ainda, procuraram dividir os prisioneiros no tocante às suas atitudes
uns em relação aos outros e impedí-Ios de sentir quaisquer laços afetivos com s a pátria. A
informação casual obtida em entrevistas era usada para convencê-los de que todos os demais norteamericanos eram informantes e que, portanto, os entrevistados também deveriam ceder. Se um
prisioneiro resistisse ao que julgasse como exigências impróprias dos chineses, negava-se à unidade
toda alimento ou oportunidade para dormir, até que o indivíduo que tivesse levantado objeções se
visse forçado a mudar de idéia por seus próprios companheiros.
Em contraste com a Guerra da Coréia, o Conflito do Vietnã produziu proporcionalmente
1
Um sobrevivente anônimo de um campo de concentração, citado pela revista Life, 18 ago.1958, p.90.
menos exemplos de comportamento "incorreto" entre os prisioneiros de guerra norte-americanos.
Isto não quer dizer que todos os cativos norte-americanos fossem consistentemente heróicos ao
resistirem às exigências impróprias dos norte-vietnamitas. Tendo que enfrentar muitas formas de
tortura. alimentação inadequada, cuidados médicos casuais e esporádicos, escassa correspondência
com familiares e a possibilidade de punição adicional de confinamento solitário em celas
acanhadas, alguns norte-americanos realmente fizeram declarações que foram usadas em
irradiações de propaganda no Vietnã do Norte. Todavia, em comparação com a experiência coreana,
houve proporcionalmente menos colaboração aberta e menor número de mortes durante o tempo de
aprisionamento, e um senso de moral e unidade de grupo mais elevados entre os prisioneiros de
guerra2.
Esta mudança é usualmente atribuída a um sistema de treinamento instituído depois da
Guerra da Coréia, o qual salientava, acima de tudo, que um prisioneiro de guerra precisa manter-se
em comunicação com outros prisioneiros e obedecer a um oficial em todas as ocasiões. Já não era
mais um indivíduo solitário, abandonado; era parte de um grupo em funcionamento. Isso não era
fácil, porque os norte-vietnamitas freqüentemente mudavam os prisioneiros, raramente os
mantinham em grandes grupos e procuravam restringir a comunicação.
Apesar destas dificuldades, os norte-americanos (na maioria pessoal da aviação)
organizaram-se em estilo militar, autodenominando-se Esquadrilha Aliada dos Prisioneiros de
Guerra (Allied Prisoner of War Wing). Organizaram uma estrutura de comando que tinha poder
efetivo e podia dar ordens a prisioneiros de guerra ameaçados por seus captores. Uma alegação que
pode ser extrema, mas que parece ter sido confirmada pelo comportamento de muitos homens, foi
feita pelo oficial mais graduado no conjunto da prisão, conhecido jocosamente como "Hanoi
Hilton": "Tínhamos uma camaradagem entre nós, uma lealdade,uma integridade que jamais
encontramos outra ;vez qualquer grupo de homens" [Risner,. 1973].
O papel de manutenção da comunicação e dos vínculos de grupo no sustento do moral entre
os prisioneiros de guerra norte-americanos é especialmente surpreendente, já que a -opinião pública
do país estava muito dividida a respeito da legitimidade da guerra no Vietnã. Os norte-vietnamitas
constantemente relembravam aos prisioneiros este sentimento antiguerra, mas isso aparentemente
teve pouco efeito em sua atitude ou comportamento.
Sob este aspecto, o comportamento dos prisioneiros de guerra no Vietnã é semelhante à
maneira pela qual o Exército Alemão sobreviveu anos de derrotas ininterruptas na Segunda Guerra
Mundial. Durante a guerra, os aliados nutriam a esperança de que a "guerra psicológica" pudesse
minar a fé do soldado alemão em sua causa e sua lealdade ao governo, dessa maneira prejudicando
seu moral combatente. Os estudos de pós-guerra [Shils e Janowitz, 1948] mostraram que esta
abordagem não produziu os resultados esperados. Tal abordagem deitava raízes na teoria errônea de
que o soldado, é sustentado principalmente por lealdade a seu país e fé na legitimidade de sua
causa; mas as investigações de pós-guerra constataram que ele é sustentado principalmente por sua
unidade e lealdade para com as pequenas unidades militares às quais se acha ligado. Enquanto o
grupo imediato do soldado - o grupo primário que analisaremos dentro em breve - permaneceu
integrado, ele continuou a resistir. Mesmo os que criticavam a causa da luta continuaram como
soldados efetivos em conseqüência de suas lealdades grupais. Entre os relativamente poucos
desertores alemães, o fato de não se sentirem totalmente absorvidos na vida do grupo primário do
exército, foi muito mais importante do que quaisquer dúvidas políticas ou ideológicas. Muito depois
de sua causa estar claramente perdida, a maioria das unidades alemãs dos mais diversos tamanhos
continuou a resistir, até que seus suprimentos se esgotassem ou que os homens fossem fisicamente
dominados.
Será somente na guerra que o indivíduo desenvolve uma lealdade de sacrifícios e uma
coragem leonina? De modo algum. Citamos pesquisas acerca de grupos militares porque eles foram
mais intensivamente estudados" do que a maioria das demais espécies de grupos, e deste estudo
2
Korea Lessons Saved POWs, despacho da UPI de 15 de fevereiro de 1973.
aprendemos alguma coisa sobre grupos de todas as espécies. Vemos como o grupo é uma realidade
social vital, com profundo efeito sobre o comportamento dos indivíduos em todas as situações
sociais. Se afastarmos um homem de todos os laços de grupo, em muitos casos ele em breve ficará
doente e morrerá; se o integrarmos na lealdade de grupo, sua resistência e sacrifício serão quase
inacreditáveis.
Algumas das principais classificações de grupo
Grupos pessoais e grupos externos*
Existem certos grupos aos quais pertenço - minha família, minha igreja, minha turma, minha
profissãoo minha raça, meu sexo, minha nação - qualquer grupo a que se juntem os pronome "meu,
minha, meus, minhas"." Estes são os grupos pessoais porque sinto que pertenço a eles. Existem
outros grupos, aos quais não pertenço - outras famílias, turmas, ocupações. raças, nacionalidades,
religiões e o outro sexo - que são os grupos externos, porque estou fora deles.
As sociedades primitivas menos avançadas vivem em pequenos bandos isolados, que
usualmente são clãs de parentes. Foi o parentesco que determinou a natureza do grupo pessoal e do
grupo externo. Quando dois estranhos se encontravam, a primeira coisa que tinham de fazer era
estabelecer relacionamento. Se o parentesco pudesse ser estabelecido, então eram amigos - ambos
eram "membros do grupo pessoal, ou que podiam chamar de nosso. Do contrário, em muitas
sociedades eram inimigos e agiam de modo correspondente.
A sociedade moderna firma-se em muitos laços além dos de parentesco, mas o
estabelecimento e a definição de grupos pessoais são igualmente importantes. As pessoas colocadas
em uma nova situação social, quase sempre farão cuidadosas explorações na conversa para
descobrirem se "pertencem" ou não. Quando nos encontramos entre pessoas que são de nossa
própria classe social, religião, que partilham de nossos pontos de vista políticos .e que se interessam
pelos mesmos 'tipos de esporte e música, podemos ter uma certa segurança de que estamos num
grupo pessoal Ê provável que os membros de um grupo externo partilhem de certos sentimentos,
riam das mesmas piadas e definam com relativa unanimidade atividades e metas da vida. Os
membros do grupo externo podem partilhar de muitos dos mesmos traços culturais, mas não
partilham; do que quer que seja necessário para inclusão neste grupo pessoal.
Na sociedade moderna, constatamos que os indivíduos pertencem a tantos grupos que
inúmeros de seus relacionamentos em grupos, pessoais e em grupos externos podem sobrepor-se.
Um membro de uma classe de veteranos pode considerar que um calouro pertence a um grupo
externo; e, no entanto, este mesmo veterano e o mesmo calouro podem ser membros de uma equipe
esportiva em que têm entre si um relacionamento de grupo pessoal. Da mesma forma, os homens
que têm um relacionamento de grupo pessoal como membros da mesma igreja, podem estar em
diferentes partidos políticos; as mulheres que trabalham em conjunto na Associação de Pais e
Mestres podem descobrir que já não estão no mesmo grupo pessoal quando são feitos planos para
uma festa no Clube de Campo.
O fato de que as classificações de grupo pessoal e grupo externo se entrecruzam em muitas
linhas, não interfere em sua intensidade; a sutileza de certas distinções fazem com que as exclusões
sejam ainda mais penosas. Podemos ansiar por nos firmamos a um grupo que nos exclui. Assim, os
novos-ricos que superficialmente dispõem de todas as qualificações para ingresso na "sociedade",
podem continuar sendo excluídos do registro social. O rapazola que espera "desesperadamente"
aceitação, pode constatar que nenhuma turma o acolhe; a dona de casa pode ser a excluída de um
"chá das cinco" informal; e o homem em um turma de trabalho pode constatar que é alvo de ridículo
e não parte de um grupo de companheiros que se sentem bem entre si. A exclusão do grupo pessoal
pode ser um processo brutal. A maioria das sociedades primitivas tratava os estranhos como parte
*
No original, respectivamente in-groups e out-groups.(N-do T)
do reino animal; muitas não tinham palavras que distinguissem si entre "inimigo" e "estranho",
mostrando que não a faziam distinção. Não era muito diferente a atitude dos nazistas que excluíam
os judeus da raça -humana. Rudolf Hoess, que comandou o campo de concentração de Auschwitz,
no qual foram mortos 700 000 judeus, caracterizava esta matança como "a eliminação de corpos
racial e biologicamente estranhos"3.
Os grupos pessoais e externos são importantes porque afetam o comportamento. Dos
companheiros, membros de um grupo pessoal esperamos reconhecimento, lealdade e auxílio. Em
relação aos grupos externos nossas expectativas variam: de alguns grupos externos esperamos
hostilidade, de outros, uma concorrência mais ou menos hostil, e de outros, ainda, indiferença... Não
podemos esperar do grupo externo sexual nem indiferença nem hostilidade; mas em nosso
comportamento, inegavelmente subsiste uma diferença. O menino de doze anos de idade que se
retrai diante das meninas, cresce para tomar-se um amante romântico e passa a maior parte de sua
vida no matrimônio. E, no entanto, quando os homens e as mulheres se encontram em ocasiões
sociais, a tendência é de se separarem em grupos por sexo, porque cada sexo está cansado de mitos
dos tópicos de conversa que interessam ao outro sexo.
Distância social. Não estamos igualmente envolvidos em todos os nossos grupos pessoais.
Por exemplo, alguém pode ser um democrata apaixonado e um rotariano algo indiferente.
Tampouco nos sentimos igualmente distantes de todos os nossos grupos externos. Um democrata
leal se sentirá muito mais perto dos republicanos do que dos comunistas. Bogardus [1958, 1959] e
outros [Westie, 1959] desenvolveram o conceito de distância social para medir o grau de
proximidade ou aceitação que sentimos em relação a outros grupos. Embora seja uma categoria
usada com referência a grupos raciais na maior parte das vezes, a distância e social refere-se à
proximidade entre os grupos de todas r as espécies.
A distância social é medida por observação direta dos relacionamentos que as pessoas têm
com outros grupos ou, mais freqüentemente, através de questionários em que são solicitadas a
responder sobre relacionamentos que aceitariam ou rejeitariam como membros de certos outros
grupos. Nesses questionários, podem ser listados muitos grupos, e os informantes instados a
marcarem se aceitariam um membro de cada grupo como vizinho, companheiro de trabalho,
parceiro de casamento e assim por diante, através de uma série de relacionamentos.
O Quadro 7 mostra um estudo de reações de distância social de dois grupos: (1) estudantes de
uma faculdade do Texas, classificados como méxico-americanos e como outros brancos, e (2) sulafricanos de língua nativa. Quanto mais baixo o escore, tanto mais favorável a reação. O escore 1
indica aceitação completa em todos os relacionamentos; um escore 2 indica mais indiferença do que
aceitação, e escores mais altos indicam graus crescentes de rejeição. Por categorias, a maior
aceitação foi como companheiro de trabalho e a rejeição mais freqüente foi como parceiro de
casamento.
Em comparação com estudos anteriores, este teste deve indicar que a distância social nos
EUA está diminuindo. O escore global para a escola do, Texâs (méxico-americanos e outros
brancos, combinados) foi de 1,43. Em 1926, uma amostra nacional mostrou um escore global de
2,14, ao passo que em um estudo realizado "em 1966, foi de 1,92 [Brown, 1973p. 276]. Um
levantamento semelhante de atitudes quanto à distância social em 1968, entre africanos brancos de
língua africâner; demonstrou um escore de distância social de 5,40 em relação aos africanos pretos e
um escore médio para quinze diferentes grupos étnicos de 3,86. Um teste igual em 1964 mostrou
um escore de distância social ligeiramente mais baixo, de 3,65 [Lever, 1972]
3
Ver Rudolf Hoess. Commandant of Auschwitz. Trad. De Constntine Fitzgibbon, Cleveland, The World
Publisching, 1960, em que Hoess diz comorgulho nostálgico o quão eficientemente ele organizou esta
operação; livro resenhado pelo Time, 28 mar. 1960, p.110.
Quadro 7 – Classificação de grupos étnicos por escores de distância social (E.D.S.) assinalados por estudantes méxico-americanos
por outros estudantes “brancos” em campus da faculdade no Texas em 1971, e por sul-americanos da língua africâner em 1968.
Ordem
Méxicoamericanos
Grupo étnico
1
México-americanos
“Outros brancos”
E.D.S
1,08
Ordem
Grupo étnico
E.D.S.
Ordem
1
Norte-Americanos
(brancos do EUA)
Ingleses
1,04
1
1,15
2
Canadense
1,19
3
Sul-Americanos (de língua
africâner)
Sul-africanos (de língua
inglesa)
Britânicos
4
Suecos
1,23
3
Britânicos
2,30
1,38
1,39
1,57
5
6
7
Franceses
Noruegueses
Finlandeses
1,27
1,35
1,49
4
5
7
Holandeses
Alemães
Italianos
2,47
2,55
3,86
1,88
1,95
8
9
1,49
1,60
8
9
Gregos
Portugueses
3,94
4,61
1,95
2,41
2,44
2,54
2,61
2,76
2,80
2,94
10
11
12
13
14
15
16
17
Finlandeses
Índios norteamericanos
México-americanos
Mexicanos
Chineses
Japoneses
Russos
Turcos
Indianos
Coreanos
1,75
1,95
2,17
2,18
2,33
2,36
2,45
2,48
10
11
12
13
14
15
Chineses
“De cor”
Africanos
Japoneses
Índios
Russos
5,07
5,23
5,40
5,32
5,71
5,95
2
Mexicanos
1,09
2
3
1,12
3
1,28
8
9
Norte-americanos
(brancos dos EUA)
Norte-americanos
(brancos dos EUA)
Italianos
Britânicos
Índios (Norteamericanos)
Holandeses
Negros
10
11
12
13
14
15
16
17
Alemães
Judeus
Chineses
Japoneses
Turcos
Russos
Coreanos
Indianos
4
5
6
7
Sul-africanos (de língua
africâner)*
Grupo étnico
E.D.S.
1,16
1,45
FONTE: Adaptado por Robert L. Brown. Social Distance Perception as Function of Mexic an-American and Other Ethnic Identity. Sociology and Social
Research. 57. abr. 1973, p. 278, e H. Lever . Changes in Ethnic in South Africa. Sociology and Social Research 56, jan.1972, p. 206
*
Africanêr língua oriunda do holandês do século XVII, falada hoje pelos descendentes dos colonizadores holandeses na Republica Sul-africana. (N. do Revisor
Técnico.)
Presumivelmente, os escores mais altos para os sul-africanos devem indicar uma maior polarização de
atitudes étnicas tanto, entre os pretos e os brancos como entre os grupos étnicos em geral, do que no caso dos
EUA. O aumento em escores de distância social na África do Sul é muito pequeno para ser estatisticamente
significante e poderia resultar em um erro de amostragem. Mas, pelo menos, tenderia a indicar que não houve
diminuição alguma em termos de polarização étnica da República Sul-Africana durante esse período de
quatro anos. Tanto os testes sul-africanos como os texanos indicam uma tendência a aceitar o próprio grupo
da pessoa em primeiro lugar, e a indicar uma elevada distância social em relação aos grupos que parecem ser
nitidamente diferenciados, física ou culturalmente, daqueles a que a pessoa pertence. Também é interessante
observar que, exceto em relação a seus próprios grupos e aos que com eles se relacionam de perto, os
estudantes méxico-americanos e os outros brancos mostraram alto grau de similaridade nas classificações de
distância social que deram os vários grupos étnicos. Esta similaridade entre as classificações dos dois grupos
ilustra o fato de que o grupo minoritário tende a aceitar as definições sociais da maioria.
Os questionários acerca de distância social talvez não apurem exatamente o que as pessoas realmente
fariam se um membro de outro grupo procurasse tornar-se amigo ou vizinho. A escala de distância social é
apenas uma tentativa de medir a sensação de indisposição para associar-se igualmente com um grupo. O que
uma pessoa verdadeiramente fará numa situação concreta também vai depender das circunstâncias dessa
situação (determinantes contextuais do comportamento), o que será ilustrado amplamente no capítulo que
trata de raça e relações étnicas.
Grupos de referência. Existem grupos que nos são importantes como modelos, ainda que nós próprios
não façamos parte deles. As opiniões da "alta sociedade" podem ser importantes para quem aspira às "alturas"
mas ainda não alcançou destaque social. Em certas ocasiões o grupo pessoal e o de referência podem ser o
mesmo, como quando o rapazola dá mais peso às opiniões de seu bando do que às dos mestres. Algumas
vezes, um grupo externo é o grupo de referência: os índios norte-americanos pintavam-se para a guerra a fim
de impressionar os inimigos, e meninos ou rapazes (de todas as idades!) exibem-se para impressionar as
meninas e moças. Grupo de referência é qualquer grupo a que fazemos referência quando externamos
julgamentos - qualquer grupo cujos parâmetros se tornam os nossos. O leitor está lembrado de que
mencionamos o conceito de grupo de referência quando falamos do eu "do espelho", indicando que a criança
jovem está interessada nas reações de cada pessoa com quem entra em contato, ao passo que a pessoa mais
amadurecida seleciona determinados grupos cuja aprovação ou desaprovação - deseja especialmente.
Estereótipos. Geralmente os grupos externos são percebidos em termos - de estereótipos. Um
estereótipo é uma imagem que um grupo partilha de um outro grupo ou categoria de pessoas. Os
estereótipos podem ser positivos (o médico da família, bondoso e dedicado), negativos (o político
oportunista, sem princípios), ou mistos (a velha mestra, dedicada, ruidosa e assexuada). Os estereótipos são
aplicados indiscriminadamente a todos os membros do grupo estereotipado, sem que haja lugar para
diferenças individuais. Os estereótipos nunca são totalmente inverídicos, porque precisam ter certa
semelhança com as características da pessoa estereotipada, ou não seriam reconhecidos. Mas eles sempre são
distorcidos, porque exageram e universalizam algumas das características de alguns dos membros do grupo
estereotipado.
Não se sabe como tem início o estereótipo. Uma vez incorporado à cultura, é mantido por percepção
seletiva (observação apenas dos incidentes capazes de confirmá-lo, relegando-se as exceções), por
interpretação seletiva (interpretação das observações em termos do estereótipo: por exemplo, os judeus são
"agressivos e persistentes", ao passo que os não-judeus são "ambiciosos"), por identificação seletiva ("eles se
parecem com mestres-escola...") e por exceção seletiva ("ele não age realmente como judeu"). Todos estes
processos envolvem um lembrete do estereótipo, de modo que até mesmo as exceções e as identificações
incorretas servem para cultivar e sustentar o estereótipo.
Não obstante, os estereótipos estão constantemente mudando. A velha professora solteirona e em
desalinho é tão rara hoje que este estereótipo está praticamente morto. Um estereótipo desaparece quando as
ilustrações confirmatórias não podem mais ser encontradas. Os estereótipos raciais e étnicos pouco lisonjeiros
caíram fora de moda nos meios de comunicação de massa de hoje (e, além disso, hoje os grupos atingidos
estão preparados para protestarem efetivamente contra estereótipos inexatos ou pouco lisonjeiros). O humor
racial e étnico desapareceu quase inteiramente do palco e da tela, enquanto o vilão raramente tem qualquer
identidade reconhecível, seja racial, étnica, nacional, religiosa ou ocupacional.
O processo de formação de estereótipos é contínuo. Qualquer jovem de cabelos compridos, barbudo e
de calça "rancheira" azul tem a probabilidade de ser tratado como um hippie, ainda que poucos que se
enquadram nessa descrição participem da subcultura hippie. Mas o processo de formação de estereótipos atua
nos dois sentidos, conforme revela a seguinte carta da revista Playboy:
Nasci muito tarde para fazer parte do movimento hippie. Simpatizo com suas metas e filosofia, mas
durante toda a minha vida me vesti como uma pessoa comum e nesse ponto seria falso mudar minha
aparência. Uma noite, eu e um amigo, usando paletó e gravata, tendo nossos cabelos relativamente - curtos,
visitamos um café hippie popular em Los Angeles. Mal tínhamos sentado quando ouvimos alguém dizer em
voz alta: "Temos aqui dentro dois "tiras" de repressão aos narcóticos". As observações foram ficando cada
vez mais ameaçadoras, até que decidimos, por honra e amor à paz, deixar nosso café inacabado e saímos.
(John Hawkins, em Playboy, dez. 1970. p. 18.
Os estereótipos são importantes porque tratamos os membros de outros grupos em termos das opiniões
estereotipadas que temos deles. Pelo menos inicialmente interagimos com o estereótipo e não com a
verdadeira pessoa. Isto resulta em muitas injustiças, porque somente algumas das pessoas em um grupo é que
se enquadram totalmente no estereótipo. O mais importante, porém, é a tendência à interação em termos de
estereótipos, que encoraja as pessoas a se tomarem mais próximas do estereótipo. Neste sentido, o estereótipo
é um exemplo de "profecia que se realiza". No Capítulo 5, vimos como as pessoas tendem a tomar-se o que as
outras parecem pensar que elas são (o "eu do espelho"). Assim, o estereótipo tende a moldar o
comportamento grupal em termos de estereótipos. É muito provável, por exemplo, que o estereótipo "brutal"
do policial sirva para aumentar a brutalidade da polícia e não para suscitar uma sensibilidade compreensiva
entre seus membros.
Grupos primários e secundários
Grupos primários são aqueles nos quais ficamos conhecendo intimamente outras pessoas como
personalidades individuais. Isso ocorre através de contatos sociais que são íntimos, pessoais e totais, porque
envolvem muitas partes da experiência de vida de uma pessoa. No grupo primário, como a família, "panela"
ou conjunto de amigos íntimos, os relacionamentos sociais tendem a ser informais e descontraídos. Os
membros estão interessados uns pelos outros como pessoas. Confidenciam esperanças - e temores, partilham
de experiências, conversam agradavelmente e satisfazem ã necessidade de companhia humana íntima. No
grupo secundário os contatos sociais "são impessoais, segmentarios e utilitários. Não se tem interesse por
outra pessoa como pessoa, mas sim como funcionário que está cumprindo um papel. As qualidades pessoais
não são importantes; é importante o desempenho - somente aquela parte ou segmento da personalidade total
envolvida no cumprimento de um papel: O grupo secundário poderia ser um sindicato trabalhista, um clube
de campo ou uma Associação de Pais Mestres, ou poderiam ser duas pessoas negociando rapidamente sobre o
balcão de uma loja. Em qualquer caso, o grupo existe para um propósito específico limitado, envolvendo
apenas um segmento das personalidades de seus membros.
Os termos "primário" e "secundário" descrevem, portanto, um tipo de relacionamento e não a
importância relativa dó grupo. O grupo primário pode servir a funções objetivas como a provisão de
alimentos e vestuário, mas é julgado pela qualidade de seus relacionamentos humanos e não por sua
eficiência no atendimento das necessidades materiais. O grupo secundário pode funcionar em uma ambiente
agradável, mas seu propósito principal é cumprir uma função específica. Não consideramos o lar como "bom"
apenas porque a casa está limpa. Os grupos primários não são julgados tanto por sua "eficiência" na execução
de alguma tarefa, como pelas satisfações emocionais que proporcionam a seus membros. Assim o quarteto de
senhoras que se reúnem para jogar bridge M. terças-feiras pode jogar sofrivelmente, mas partilha de uma boa
dose de papo agradável. Mas o torneio de bridge já é uma outra questão. Nestes casos, pessoas virtualmente
estranhas reúnem-se para jogar e ganhar. Um "bom parceiro" é o jogador habilidoso que não perde tempo em
conversa fútil que só serve para distrair. A meta é ganhar a partida (e marcar os pontos), não a sociabilidade.
Uma boa turma na hora das refeições é aquela que se diverte; um bom sindicato trabalhista é aquele que
consegue proteger os interesses de seus afiliados. Os grupos primários são julgados pela resposta humana
satisfatória que proporcionam; os secundários são julgados por sua capacidade na execução de uma tarefa ou
consecução de uma meta. Embora os grupos secundários algumas vezes também proporcionem
relacionamentos humanos agradáveis, comumente a sociabilidade não é sua meta. Em suma, os grupos
primários são orientados para o relacionamento, ao passo que os grupos secundários são orientados para
metas.
Os dois grupos são importantes porque os sentimentos e o comportamento neles diferem. É no grupo
primário que se forma a personalidade. É onde encontramos intimidade, compreensão e uma participação
confortável em muitos interesses e atividades. No grupo secundário encontramos um mecanismo efetivo para
a realizarão de certos propósitos, mas muitas vezes ao preço da supressão dos sentimentos reais da pessoa.
Por exemplo, a balconista precisa ser alegre e educada, ainda que esteja com grande dor de cabeça e o cliente
seja um chato. Os conceitos são úteis porque descrevem diferenças importantes em termos de
comportamento.
Comunidade e Sociedade
Comunidade e Sociedade são conceitos de certo modo semelhantes aos de grupos primário e
secundário, tendo sido desenvolvidos pelo sociólogo alemão Ferdinand Tönnies [1877, tradução em 1957].
Comunidade é um sistema social em que a maioria dos relacionamentos são pessoais ou tradicionais e,
freqüentemente, são as duas coisas. Um bom exemplo é o solar feudal ou uma pequena comunidade mantida
por uma combinação de relacionamentos pessoais e obrigações de status. Embora existisse grande
desigualdade, o senhor dessa propriedade era pessoalmente conhecido de seus "súditos", enquanto os deveres
destes para com ele tinham como contrapartida as obrigações do ano em relação ao bem-estar deles. Quando
se usava a moeda, as transações econômicas eram regidas pelos conceitos de um justo preço; com maior
freqüência as pessoas envolvidas simplesmente executavam uma série de obrigações costumeiras entre si. Os
documentos escritos eram escassos, os contratos formais não eram conhecidos, as negociações eram raras e o
comportamento de todos os tipos operava segundo padrões tradicionais que eram conhecidos e aceitos por
toda a comunidade. As crianças tinham poucas esperanças de superarem os pais e, igualmente, pouco medo
de ficarem aquém do status familiar. Exceto nos ocasionais dias de festa, a vida era monótona; mas a solidão
era rara em uma comunidade de vizinhos para a vida toda.
No segundo tipo, a sociedade tradicional é substituída pela sociedade contratual. Nem os vínculos
pessoais nem os direitos e deveres tradicionais são importantes. Os relacionamentos entre as pessoas são
determinados por negociação e definidos em acordos escritos. Os parentes estão separados à medida que as
pessoas se mudam e vivem entre estranhos. Os códigos de comportamento comumente aceitos têm menos
força do que o cálculo racional - ou "a sangue frio" - de lucros e perdas. A sociedade do segundo tipo floresce
na moderna cidade metropolitana. Algumas das características contrastantes da comunidade e sociedade estão
resumidas abaixo:
Comunidade
(Relacionamentos)
Sociedade
(Relacionamentos)
Pessoais
Impessoais
Informais
Formais, contratuais
Tradicionais
Utilitários
Sentimentais
Realísticos
Gerais
Específicos
Tendência moderna à associação em grupos secundários
Nossos sentimentos e laços emocionais centram-se nos grupos primários, mas uma tendência acelerada
à sociedade com base em grupos secundários parece um processo irresistível na era moderna. Os pequenos
principados da Europa feudal cederam lugar, a Estados nacionais, e a associação íntima do mestre e dos
trabalhadores na oficina da corporação profissional cedeu lugar às sociedades anônimas gigantes, que
empregam milhares de pessoas. A população mudou-se do campo para a cidade, e toda uma vida de
residência em cercanias familiares tornou-se uma raridade, já que aproximadamente uma família norteamericana em cada cinco se muda a cada ano.
Uma sociedade urbana industrializada investe contra o grupo primário pelo menos de duas maneiras.
Primeiro, aumenta a proporção relativa de contatos com grupos secundários, quando sucessivas- atividades
deixam de ser cumpridas pelo grupo primário e passam à esfera dos grupos secundários. Segundo, as
associações remanescentes do grupo primário ficam à mercê das necessidades do grupo secundário. As
mudanças na indústria podem fazer o assalariado mudar-se, perturbando suas associações locais. As
mudanças industriais também influenciam os papeis desempenhados pela família. Uma depressão
prolongada, o resultado de um desajustamento nos relacionamentos secundários, podem privar o pai de suas
fontes de renda e substituí-lo pela esposa e pelo provedor de auxílio como símbolos de autoridade. As
mudanças no escritório e na fábrica levam ao emprego de mulheres, de modo que a mãe tem a mesma espécie
de carreira que o pai, e ambos partilham das tarefas domésticas no lar. As mudanças no cenário político
internacional podem tirar o marido ou o filho do seio da família e levá-lo para o outro lado do mundo. A
família do trabalhador tem de ajustar-se ao horário de trabalho que a empresa julga mais proveitoso. As
negociações entre o sindicato e a sociedade anônima podem resultar em mudanças de trabalho que rompem
os grupos primários informais criados no cargo. A pequena casa da escola onde um pequeno grupo de
crianças e a mestra formavam um grupo primário íntimo que durava anos, é substituída pela escola
"empresarial", atendendo a centenas de crianças de uma grande área, que vão sendo promovidas de classe
para classe e de mestre para, mestre. Dezenas de exemplos semelhantes mostram como os grupamentos
primários se tomaram unidades provisórias e sempre em mudança, superadas pelas tendências de mudanças
que não levam em conta os indivíduos de uma sociedade.
Durkheim [1897], em seu estudo sobre o suicídio, chegou à conclusão de que não somente os altos
índices de suicídio mas também de muitas outras dificuldades do comportamento são explicados pela falta
dos vínculos tradicionais e pessoais em uma sociedade dominada por grupos secundários, onde o indivíduo é
engolido por anomia. Muitos estudiosos da sociedade seguiram esse caminho, considerando as tendências
secundárias da sociedade moderna como uma força maléfica, destruidora dos relacionamentos que garantiam
às pessoas participação numa sociedade cálida e segura, onde suas tendências ao crime ou ao desespero eram
contidas por suas obrigações para com uma comunidade social estável e íntima.
Contribuições da sociedade
Conquanto a sociedade calcada em grupos secundários tenha trazido problemas, também trouxe
benefícios. O mais óbvio é a eficiência das organizações impessoais de grande escala, em que o sentimento se
subordina à necessidade de realizar o trabalho da maneira mais prática. Os tremendos avanços em termos de
conforto material e de expectativa de vida no mundo moderno teriam sido impossíveis sem o surgimento das
organizações secundárias orientadas para metas, na qual o senhor de terras paternalista foi substituído pelo
especialista em eficiência e pelo gerente de produção.
Tampouco o surgimento da sociedade moderna e da correspondente divisão do trabalho trouxe apenas
vantagens materialistas. Estas mudanças propiciaram novas oportunidades e estimularam especializações de
função que, embora fragmentem a sociedade, também permitem maiores oportunidades para desenvolver
talentos individuais. Já se escreveu muito sobre como as sociedades modernas são "opressivas" e
"alienantes"; mas as sociedades primitivas ofereciam menos escolhas e oportunidades para realização pessoal.
O contraste entre as milhares de ocupações nas metrópoles e o punhado de ofícios e afazeres na vila rural
mostram como uma sociedade dominada por grupos secundários abre as portas a carreiras especializadas.
Este processo já progrediu tanto, atualmente, que não apenas o indivíduo de talento pode subir ainda que
tenha antecedentes obscuros, como a sociedade também procura ativamente aqueles cujas habilidades podem
desenvolver-se em linhas profissionais, artísticas, científicas ou gerenciais.
O grupo secundário também tende a impor padrões de conformidade a seus membros. Desta maneira,
oferece um contrapeso aos preconceitos ou direitos adquiridos da localidade imediata. Já que suas fronteiras
se estendem além do grupo primário, isso força uma consideração dos eventos a partir de uma perspectiva
mais ampla. Esta diferença em atitudes pode ser vista na tendência das organizações religiosas que operam
em escala nacional ou internacional, de adotarem pontos de vista que podem não ser aceitos nas congregações
locais. Nos EUA, a reação das Igrejas Batistas do Sul à integração escolar é um exemplo. Com uma afiliação
predominante de sulistas brancos, a maioria das congregações era fortemente segregacionista em suas crenças
e práticas. Os membros de destaque, inclusive certos pastores, eram ativos no esforço para manter a
separação racial nas escolas. Não obstante, quando se reuniram como uma entidade nacional, algo distante
das pressões dos grupos locais, a convenção das Igrejas Batistas do Sul votou o endosso da decisão de 1954
do Supremo Tribunal para acabar com a segregação escolar [Fey, 1954]. Um tipo de reação semelhante
ocorreu entre os católicos na Louisianna. A violenta posição segregacionista dos católicos locais contrastava
de modo flagrante com o apoio às atitudes de integração por parte da Igreja como um todo, conforme a
manifestação do Arcebispo [America, 1957].
Para que estes incidentes não sejam considerados como isolados e próprios de uma controvérsia racial
especialmente violenta, devemos acrescentar que esta disparidade entre os pontos de vista nacionais e locais é
comum em muitos grupos religiosos acerca de muitas questões. Por exemplo, um estudo [Glock e Ringer,
1956] da Igreja Protestante Episcopal mostrou grande divergência entre as declarações da entidade nacional e
os pontos de vista das congregações locais em oito ou nove questões. Tal divergência entre o sentimento
nacional e o local é algumas vezes atribuída à hipocrisia em nível local ou a uma falsa representação das
opiniões "reais" da organização em nível nacional. Uma análise mais penetrante deve enfatizar o fato de que,
enquanto o grupo local e a organização nacional interagem, a entidade nacional tem interesses que podem
superar os sentimentos locais.
É provável que essas divergências reflitam uma diferença entre os que estão profissionalmente
associados com o grupo secundário nacionalmente organizado e os que vêem sua conexão principal com o
grupo local; no caso das igrejas, muitas vezes isto retraduz a oposição entre o clero e os leigos. Assim, "'um
levantamento efetuado em 1967 constatou que 86% dos leigos, mas apenas 35% do clero, apoiavam uma
declaração de que os pretos estariam em melhor situação se tirassem vantagem das oportunidades disponíveis
em lugar de perderem seu tempo protestando [Hadden, 1969, p. 141].
Esta tendência para que a organização nacional seja mais universal em seus julgamentos "e que as
unidades locais sejam mais particularistas - isto é, influenciadas por interesses locais e atitudes pessoais - não
se limita às igrejas, podendo ser observada nas deliberações das organizações empresariais, trabalhistas e
políticas. A ênfase em metas, e n[o em relacionamentos pessoais, e a necessidade de acomodar grande
número de indivíduos e localidades tendem a moldar uma perspectiva que vai além do grupo primário.
Contudo, tal perspectiva não é necessariamente mais liberal ou humanitária. A expulsão dos camponeses na
Rússia e o uso em grande escala dos campos de concentração na Alemanha foram motivados por metas que
estavam além do interesse usual da comunidade local, mas diminuíram em vez de aumentar o espaço de
camaradagem humana. Os grupos secundários podem conter a avidez local e abalar os laços do
provincianismo ou podem liberar uma força impiedosa que transgride os costumes tradicionais em prol das
metas organizacionais.
Persistência dos grupos primários
O grupo secundário obscureceu mas não destruiu grupo primário. De fato, os dois maiores grupos
primários, a "turma" e a família, parecem ser mais fortes que nunca. A "turma" ou "panela" é um pequeno
grupo de íntimos com intensos sentimentos de grupo pessoal, com base em valores e interesses comuns. Pode
desenvolver-se praticamente em qualquer situação, quase todos os grupos secundários abrigam grande mero
de "panelas", que adicionam uma nota altamente pessoal a uma organização que, do contrário, ia impessoal.
Quanto à família, apesar do alto índice divórcios e do pouco de experimentação de vida
comunitária, a maior parte da população do mundo ainda vive em famílias e provavelmente viverá
sempre. Além disso, a família de hoje está-se tomando cada vez menos orientada para metas mundanas e
mais interessada em relacionamentos humanos. A família de ontem era principalmente uma equipe de
trabalho, algumas vezes brutalmente repressiva; a de hoje é principalmente um grupo de companheiros e um
exemplo perfeito da persistência do grupo Primário.
Os grupos primários persistem em um mundo dominado pelo grupo secundário, em conseqüência da
necessidade humana de associação contínua íntima e compreensiva. A maioria das pessoas não pode viver
bem, salvo se pertencer a um pequeno grupo de pessoas que realmente se interessem pelo que lhes aconteça.
Sempre que as pessoas são separadas da família e dos amigos e lança das em grandes grupos impessoais e
anônimos, como no dormitório do colégio ou no quartel do exército, elas sentem tamanha necessidade de
grupos primários, que rapidamente os formam.
Grupos primários em ambiente secundário
Se classificássemos os grupos de acordo com a predominância de traços típicos de grupo primário ou
secundário, o resultado seria uma listagem de grupos secundários como o exército, a grande empresa e o
Estado nacional, e uma lista de grupos primários como a família, a "panela" e o bando. Agindo desta maneira,
deveríamos, então, contrastar a natureza dirigida para metas da grande organização com o enfoque pessoal e
orientado para relacionamento dos grupos íntimos menores. Supõe-se tal separação quando procuramos
analisar a eficiência das grandes organizações. Se estamos interessados pela produtividade da mão-de-obra
industrial, podemos estudar as metas, técnicas e recompensas da fábrica e, depois, considerar o caráter e o
treinamento dos indivíduos que formam a força de trabalho.
A falácia desta abordagem é que ela não considera a extensão em que cada grande organização
constitui uma rede de pequenos grupos primários. Uma pessoa não é simplesmente uma unidade em um
organograma desenhado pela cúpula da administração; o indivíduo é também membro de um grupo informal
menor com sua própria estrutura e sistema de status e papéis, que definem o comportamento de seus
membros. Na fábrica, o trabalhador encontra um lugar em um grupo de pares com sua própria liderança, do
qual em geral o contra-mestre está, excluído pelo fato de sua posição impedir este relacionamento de grupo
pessoal. Já que os trabalhadores necessitam da aprovação e apoio da "panela"; mais do que da aprovação de
seus supervisores, eles respondem às exigências da administração somente na medida em que estas sejam
coerentes com os relacionamentos do grupo pessoal.
A influência do grupo primário é uma das razões pelas quais os planos de pagamento com incentivo,
que dão ao trabalhador uma bonificação por maior produção, freqüentemente não têm produzido resultados.
A lógica desses planos é que muitos trabalhadores que deixam de exercer o máximo de seus esforços,
trabalharão mais arduamente se forem pagos em proporção ao que produzirem. O defeito principal desses
planos é que sua operação efetiva destrói a unidade dos grupos primários. Em vez de um número de iguais
cooperando entre si, a turma de trabalho se tornaria uma quantidade de indivíduos concorrendo uns com os
outros, cada qual se esforçando para fazer mais do que os outros. Afora a tensão da concorrência contínua,
esta situação ameaça os relacionamentos sociais dos trabalhadores. Como defesa, as "turmas" das fábricas
criam a norma de "um justo dia de trabalho". O trabalhador que tenta ignorar esta norma é alvo de ridículo,
ostracismo e possível violência. A administração pode empregar especialistas em estudos de tempos e
movimentos para decidir qual a produção "razoável", mas as novas normas não poderão dar resultados, salvo
se também forem aceitas pelo grupo [Davis, 1972, p. 488-90].
Embora o ambiente do grupo primário e do secundário possa constituir um obstáculo, também pode ser
um auxílio positivo na realização dos objetivos organizacionais. [Miller e Form, 1964 p. 282-3]. Gross
examinou a maneira pela qual as "panelas" informais que interferem com" as missões formais de trabalho
podem levar à cooperação e ao funcionamento mais suave da organização. Constata que a "panela" pode até
reforçar a idéia de lealdade para com a organização, conforme revela o caso dessa secretária particular:
Uma secretária particular está no topo da pilha. Você necessita de alguma coisa mais além de
datilografar e anotar em estenografia. Você tem de sentir que está trabalhando para a empresa e não apenas
para você. Atualmente, Mildred e Emma (outras secretárias particulares), assim como eu, temos o mesmo
ponto de vista. Louise é uma boa estenografa, mas nunca será uma secretária. Ela não se enquadra em nosso
bando. Quando saímos para o café, geralmente ela se agarra e vem junto. Depois, queixa-se do chefe. Não
pode aceitar a idéia de que não trabalhamos para um chefe, mas para a empresa. (Edward Gross. Some
Functional Consequences of Primary Controls in Formal Work Organizations. American Sociological
Review, 18:372, ago. 1953.)
Ocasionalmente, os grupos primários podem até violar as regras da organização secundária maior, a
fim de que as coisas sejam realizadas. Se as regras formais nem sempre funcionam em todas as situações, os
grupos primários simplesmente aparam certas arestas - isto é, violam algumas regras - para que o trabalho
seja feito [Roy, 1955].
Assim como não podemos considerar realisticamente o indivíduo fora da sociedade, também não
podemos compreender completamente os grupos secundário e primário, a não ser na relação de uns com os
outros. Na sociedade moderna, as funções e a influência dos grupos primários foram enfraquecidas pelo
crescimento de grupos secundários orientados para metas, que estão assumindo papel cada vez mais
preponderante. Contudo, cada um destes grupos secundários cria nova rede de grupos primários, que
proporcionam intimidade e resposta pessoal, em uma situação que, do contrário, seria impessoal. Conquanto
estes e outros grupos primários freqüentemente sejam destruídos ou modificados pelo impacto dos grupos
secundários, aqueles, por sua vez, exercem grande influência sobre estes. Os grupos primários podem resistir
aos esforços dirigidos para metas das organizações secundárias ou podem ajudar a integrar partes díspares da
organização, e prover uma segurança emocional que reforça a habilidade do indivíduo para desempenhar os
papéis exigidos por seu status no grupo secundário.
Dinâmica de grupo
Há muito tempo que os sociólogos vêm-se empenhando em procurar convencer o mundo cético de que
o grupo é real e não apenas uma porção de indivíduos. Apenas recentemente é que voltar sua atenção para
fatores específicos que afetam o funcionamento dos grupos. Dinâmica de grupo é o estudo dos
relacionamentos dos membros do grupo uns com os outros. Obviamente, podem ocorrer muitos padrões. Um
grupo pode ser dominado por um ou dois indivíduos, ou pode envolver a participação de todos os seus
membros; a liderança pode ser democrática ou autoritária, transitória ou duradoura; o grupo pode estimular
ou manter baixo o nível de produção; sua atmosfera pode ser distendida e amistosa ou tensa e carregada de
hostilidade; pode suscitar novas abordagens ou ater-se a rotinas antigas. Estes e muitos outros padrões têm
sido observados com freqüência. Surge a pergunta: "Que fatores produzem um ou outro tipo de vida grupal e
como esses fatores podem ser controlados?"
O interesse acadêmico dos sociólogos na expansão das fronteiras do conhecimento nesta área foi
estimulado pelas exigências das organizações que querem auxílio para a solução de seus problemas. Diversas
entidades e organismos desejam usar líderes mais efetivamente e garantir participação mais intensa de seus
membros. As entidades governamentais esperam tornar seus empregados mais eficientes e receptivos às
necessidades do povo. As forças armadas estão constantemente revisando suas políticas, em busca do tipo de
organização que conduza ao uso mais efetivo do pessoal militar. As grandes empresas industriais procuram
conhecimento que as auxilie a planejar seus grupos de trabalho de um modo que minimize o atrito e garanta o
máximo de eficiência em suas operações. Os reformadores e revolucionários desejam saber como organizar e
unificar os grupos cujo potencial desejam mobilizar.
Estas necessidades práticas, às quais se junta a curiosidade intelectual dos estudiosos, levaram a um
campo de pesquisa usualmente rotulado como "dinâmica de grupo" ou "pesquisa de pequenos grupos". Tal
pesquisa registra afanosamente a interação que realmente ocorre nas atividades de grupo, muitas vezes
usando dispositivos como a sala de conferência, onde a visibilidade de via única permite aos observadores ver
a interação e registrar conversações, sem que sejam percebidos pelos participantes. Os problemas a serem
resolvidos são difíceis, porque os grupos são afetados tanto pela maneira específica com que são organizados,
como também pelos antecedentes culturais gerais de seus membros. Apesar das complexidades da tarefa, este
tipo de pesquisa está gradualmente aumentando nosso entendimento de como os grupos funcionam
[Strodtbeck e Hare, 1954; Bales, 1959; Cartwright e Zander, 1960; Mann, Gibbard e Hartman, 1967; T. Mills,
1967; Roby, 1968; Luft, 1970; Gibbard, Hartman e Mann, 1974].
Os entusiastas pela pesquisa de pequenos grupos esperam que o discernimento sobre como estes
operam possa levar ao entendimento das macro-sociedades. Por exemplo, Freilich [1964] argumenta que o
relacionamento triangular não é simplesmente característico de uma situação romântica com mais de dois
participantes, mas é uma característica constante de todos os grupos humanos, grandes e pequenos. Freilich
sustenta a existência de uma "tríade natural", que se compõe de uma pessoa que é uma "autoridade de alto
status", uma outra que é um "amigo de alto status” e uma terceira que é um "subordinado de baixo status".
Ele enxerga a luta na vida humana como reflexo de uma constante mudança de alianças entre dois membros
da tríade contra o terceiro. Os estudos de pesquisa desse gênero aumentam nossa compreensão da interação
humana.
Padrões de comunicação
Um dos problemas mais importantes em qualquer grupo é a comunicação entre seus membros. A
comunicação não é simplesmente uma questão da linguagem falada e dos tipos de material impresso ou
audiovisual usado para a transmissão de mensagens, ainda que possam ser dispositivos importantes. A
comunicação é também uma questão da estrutura .do grupo e da proximidade física e social de seus membros.
Qualquer grupo precisa criar algum caminho para que seus membros partilhem de sua informação. Há muitas
maneiras possíveis de engatar um fluxo de comunicação e, possivelmente, nem todos estes padrões têm o
mesmo efeito sobre o trabalho do grupo e o relacionamento entre seus membros.
A influência dos diferentes padrões de comunicação em um grupo para solução de um problema foi
registrada por Bavelas [1953]. Este autor dispôs um grupo de cinco homens em diferentes padrões de
comunicação, que podem ser descritos como o círculo, a corrente, o "Y" e a roda. No círculo, todos têm uma
chance igual de se comunicar com os demais; nos outros padrões, o homem que está no centro tem o máximo
de comunicação, sendo os demais restritos. Conforme se verificou, o moral e a liderança revelaram-se
intimamente ligados à posição de centralidade. A satisfação dos membros era maior no círculo, onde nenhum
homem surgia como líder. Na roda, onde o homem no centro tomava-se o líder, a produção era maior, mas a
satisfação grupal era menor. Como compensação para sua menor produção, o círculo adaptava-se mais
rapidamente a novas tarefas do que os outros padrões.
A comunicação efetiva promove a satisfação do indivíduo com o grupo e permite-lhe expressar-se
livremente e receber as impressões dos outros. A centralização de comunicação orienta a atenção dos
membros do grupo para tópicos específicos e propicia uma concentração de esforços. A organização das salas
de aula e planos de trabalho industrial dependem de a ênfase ser maior em produtividade de rotina ou no
desenvolvimento de flexibilidade e consecução de satisfação na situação de grupo. A pesquisa sobre o
método de preleção versus debate na instrução concedida em faculdades, por exemplo, revela que os
estudantes memorizam em grupos muito grandes com o método de preleção (análogo ao padrão da roda),
embora tenham maior estímulo para pensarem por si próprios através do debate (análogo ao padrão do
círculo) [Bloom, 1954, p. 37-8]. Estes são alguns exemplos de como a pesquisa de pequenos grupos pode
ajudar na solução de problema práticos.
Grupos terapêuticos e de encontros
Os Alcoólatras Anônimos organizam o apoio emocional do grupo no esforço para auxiliarem um
alcoólatra a controlar seu anseio para beber. Outros grupos usam técnicas semelhantes de terapia para os
dependentes de drogas; os "controladores de peso" ajudam as pessoas a perderem peso; até os fumantes de
cigarros estão tentando uma abordagem através de grupo terapêutico. Há também inúmeros grupos
organizados para ajudar seus membros a enfrentarem uma situação difícil - parentes de alcoólatras ou
viciados em drogas, parentes de pacientes mentais, pacientes com alta em hospitais mentais, "homossexuais,
anões, cegos e, recentemente, os portadores de defeitos físicos e outros [Sagarin, 1970]. Esta tendência de as
pessoas que partilham de um problema aflitivo se juntarem para entendimento e apoio mútuo com o objetivo
de superá-lo ou aceitá-lo, é bastante recente.
Uma outra forma relativamente nova de experiência grupal é o grupo de encontros, definido de um
modo geral para incluir "todas as experiências de sensibilidade, meditação, expressão corporal, ampliação da
consciência e outras" [Burton, 1969, p. 8n]. O objetivo de um grupo de encontro pode ser educacional,
dirigido principalmente para melhoria em aprendizagens emocionais e de atitudes, ou pode ser terapêutico,
visando auxiliar os membros a se entenderem e a interagirem mais confortavelmente com os outros. Embora
os grupos terapêuticos mencionados reúnam pessoas que partilham do mesmo problema, um simples grupo
de encontros pode abranger pessoas com todos os tipos de problemas.
O movimento do grupo de encontros é bastante novo, baseado numa teoria ainda pouco desenvolvida,
com definição e vocabulário ainda provisórios. O termo "grupo de encontros" cobre, portanto, uma ampla
variedade de tipos de experiência de grupo. O termo bastante usado, "grupo T", abreviatura de "grupo de
treinamento", abrange a faixa toda de experiência grupal manipulada com a finalidade de aprender quais são
as conseqüências [Egan, 1970, p. 10]. O grupo de treinamento de sensitividade é um grupo de encontro
educacional que procura estruturar a comunicação dentro de um grupo a fim de maximizar intercâmbios de
significados e de mudanças de atitude. Desenvolveu-se entre educadores que procuravam maneiras de
estimular a aprendizagem [GolembiewsKÍ e Blumberg, 1970]. Mais tarde. desenvolveu-se para incluir
esforços com vistas a ampliar o entendimento mútuo entre grupos hostis, como por exemplo a administração
e a força de trabalho. a polícia e os jovens, os pretos e os brancos, através de um confronto verbal honesto e
sem rebuços. no qual cada um exterioriza atitudes e "queixas" em "nível de ousadia" e, presumivelmente.
amplia sua percepção ao longo do processo [Bouma, 1969. p. 149-53]. Estes confrontos podem aumentar o
entendimento mútuo, com compreensão, se forem habilidosamente conduzidos; do contrário, podem
facilmente confirmar preconceitos e intensificar hostilidades.
Existe um movimento de grupo de encontros, de caráter comercial e largamente difundido, cujo
objetivo consiste principalmente em melhorar o ajustamento pessoal. Estima-se que seis milhões de clientes
estão freqüentando sessões de grupos de encontros organizados por mais de uma centena de centros nos EUA
[Maliver 1971, 1973]. Sob a orientação de líderes mais ou menos treinados, um-certo número de pessoas, que
não se conhecem, devem reunir-se, sem invocarem ou recorrerem a nomes, títulos,status social e profissional,
despindo-se de todas as amenidades e gentilezas usuais e algumas vezes, tirando a roupa, de modo que
possam deixar de lado todos os pretextos fingimentos e defesas, para interagirem com completa
"honestidade". Pode haver uma série de exercícios ou “jogos" a fim de incrementar o contato e a
receptividade. Tocar, segurar, acariciar e abraçar são atitudes encorajadas ou solicitadas, mas não se espera
que tais atos sejam eróticos ou que levem a contato sexual. É encorajado o intercâmbio verbal e físico, com
episódios" ocasionais de gritaria e luta. Estas sessões de encontro podem ser breves, mas freqüentemente são
"maratonas" que duram vinte e quatro horas; um fim-de-semana e, às vezes, até mais tempo [Bach, 1966
;Shepard e Lee, 1970].
Espera-se que estas experiências aumentem as percepções dentro do próprio eu, a fim de livrar a
pessoas de ansiedades e perturbações emocionais, e prestando-lhe auxílio para se relacionar com os outros.
Diversas questões a respeito do funcionamento dos grupos de encontros ainda estão sujeitas a debate.
Uma delas é se os participantes devem ou não ser objeto de triagem, de modo que os indivíduos que
pudessem estar emocionalmente perturbados pela ansiedade decorrente do processo de encontro possam ser
mantidos fora de tais grupos. Uma questão algo semelhante indaga quanto à necessidade ou não de líderes
especialmente habilitados para que esses grupos funcionem de maneira efetiva. Finalmente, há questões
quanto à extensão em que um bem ou mal significativo possa advir das experiências dos grupos de encontros.
Um dos projetos de pesquisa mais cuidadosamente elaborados até hoje - um estudo dos grupos de
encontros, envolvendo estudantes da Universidade Stanford [Lieberman, Yalom e Miles, 1973, p. 107]
constatou que proporções aproximadamente iguais de participantes se beneficiavam com a experiência desses
encontros, não mostraram seqüelas nem foram prejudicadas. Embora concluíssem que "no global os grupos
de encontro mostrassem impacto positivo modesto", também constataram que mais de 9% dos participantes
sofreram "dano psicológico significante" [Lieberman e cols., p. 174]. Já que os grupos de encontros podem
ter certa tendência a atrair os que têm problemas sérios, estes resultados negativos não indicam
necessariamente efeitos nocivos da experiência grupal em si mas decerto colocam algumas sérias questões.
Por outro lado, Carl Rogers, que há muito tempo vem atuando como líder no movimento de grupos de
encontros, relata suas experiências:
Em todas as oito mil pessoas engajadas nestes grupos até agora, não houve qualquer colapso psicológico de qualquer
espécie durante os fins-de-semana. Muito mais tarde, Encounter Groups, Evanston, m., Harper & Row, 1970, p. 155.)
O papel do líder é um tema sempre controverso. Em princípio, é a interação do grupo e não a direção
do grupo que leva à eliminação dos bloqueios emocionais. Por outro lado, pode-se esperar que o líder
"estabeleça o cenário" para uma intensa interação grupal, a fim de auxiliar o grupo a suportar os períodos os
de depressão ou frustração e reconhecer mudanças de personalidade que ocorrem entre os indivíduos.
Apesar da suposta importância do líder - ou "facilitador de grupo", que às vezes é o rótulo preferido –
há muita dúvida sobre a natureza de sua contribuição. Os líderes de grupo não estão necessariamente mais
conscientes do que seus membros das mudanças que a estão ocorrendo na auto-imagem do participante, nem
mesmo dos tipos de padrões que são considerados parte do desenvolvimento do grupo [Lieberman e cols.,
1973, p. 72]. Até Rogers, que evidentemente tem muita fé na habilidade e contribuição potencial dos
"facilitadores de grupo", admite que os grupos sem líderes funcionam aproximadamente do mesmo modo que
aqueles com um líder supostamente qualificado [Rogers, 1970, p. 8].
Em sua maioria, os líderes de grupo não têm outro treinamento profissional a não ser alguma
experiência em centros de encontros. As pessoas com treinamento profissional em Ciências do
Comportamento não são as preferidas como líderes de grupo porque são tidas como "demasiado intelectuais e
distantes". Os psiquiatras e outros cientistas comportamentais, em sua maioria, são altamente críticos de
qualquer forma de terapia de grupo conduzida por leigos sem treinamento e supervisão. Quando as defesas
psicológicas de um paciente são destroçadas e a psique jaz nua, expondo culpas, ansiedades e impulsos
reprimidos (como acontece em tratamento psiquiátrico), o terapeuta precisa saber como tratar daquilo que
"desenterrou" para que o paciente possa melhorar em vez de ficar despedaçado. Os cientistas
comportamentais ortodoxos são altamente críticos, mas ainda não se sabe se os grupos de encontros
conduzidos por não-profissionais são uma terapia útil [Burton, 1969; Egan, 1970] ou uma trama altamente
lucrativa [Rakstis, 1970; Maliver, 1971, 1973; Malcolm, 1973].
Os defensores mais ardentes da experiência intensiva de grupo acreditam que esta pode ter uma
variedade de usos instrumentais. Assim, o grupo "T" pode ser um modo efetivo de fazer com que os
empregados reconheçam maneiras pelas quais seu comportamento pessoal, apesar de bem intencionado,
prejudica sua cooperação com outras pessoas; os grupos de terapia podem permitir que seus participantes se
livrem de "dependência" e que passem a enfrentar sintomas de moléstia mental ou física; e os grupos de
encontros podem proporcionar maior liberação emocional a pessoas inibidas pelas restrições maiores dos
grupos mais convencionais.
Pode ser que os entusiastas de experiência grupal tenham tentado alegar coisas demais e que seus
críticos tenham sido excessivamente exigentes. Embora os grupos "T" nem sempre produzam executivos
eficientes, os grupos de terapia não resolvam inevitavelmente as perturbações emocionais pessoais de seus
membros ou os grupos de encontros nem sempre propiciem a liberação de longo prazo, pode ainda haver
algum valor nestas formas de experiência grupal intensiva. Sem dúvida, alguns indivíduos conseguiram
grandes mudanças em suas perspectivas e comportamentos através de sessões intensivas de grupos de
encontros, ao passo que outros não sofreram praticamente modificação alguma. Todavia, a terapia direta não
é tudo que tais grupos têm a oferecer. Um dos principais valores de tal experiência é que os solitários podem
ser expostos ao estímulo da interação grupal, e em nossa sociedade impessoal isto não é algo irrelevante. O
comentário de um autor sobre grupos de encontros provavelmente aplica-se a todas as formas de experiência
intensiva:
Num contexto muito mais limitado, os grupos podem ter liberdade para buscarem metas mais
modestas, como por exemplo, auxiliar os amigos a falarem mais francamente, enfrentarem problemas de
modo mais direto, serem mais abertos aos sentimentos e trabalharem com um senso "de comunidade.
Comparada com as pretensões dos antigos calendários, esta agenda pode parecer desprezível, mas em
comparação com o que de fato existe em disponibilidade, dentro ou fora do movimento do potencial humano,
esse passadio é uma festa. (Ralph Keyes L., Fun and Therapy Together. Human Behavior, set. 1973, p. 71.)
Sumário
Tanto a força como a fraqueza são em grande parte resultado da maneira pela qual uma pessoa é integrada em
uma rede de grupos. Uma distinção fundamental é a que existe entre os grupos externos e os grupos pessoais - distinção
que já foi medida pelo conceito de distância social. Grupos de referência são aqueles que aceitamos como modelos e
guias para nossos julgamentos e ações. Estereótipos são impressões distorcidas das características dos grupos externos
que se tornaram amplamente aceitas em uma sociedade. O condicionamento emocional é em grande parte resultado de
contatos em grupos primários, mas nossa sociedade é cada vez mais afetada pelo crescimento de relacionamentos em
grupos secundários. Conquanto muitos grupos possam ser facilmente caracterizados como primários ou secundários, os
dois tipos de influência interagem, cada qual influenciando o outro.
Desde a Revolução Industrial, a tendência dominante tem sido passar da tradicional comunidade para a
sociedade. Isto tem significado perda de intimidade e segurança, que até certo ponto tem sido contrabalançada pelo
crescimento de novos grupos primários no espaço dos grupos secundários.
A dinâmica de grupo estuda a interação dentro de grupos, tanto para entender como" para resolver problemas
organizacionais.
Tanto as formas de grupo como a tríade e vários tipos de padrões de comunicação foram extensamente
estudados. Os grupos "T" (grupos de treinamento) são usados para sensibilizar as pessoas a fatores interpessoais que
afetam as relações grupais cooperativas. Os grupos de terapia, de muitas espécies, dão apoio e, possivelmente, ampliam
o entendimento de pessoas que estão perturbadas por alguma coisa. Os grupos de encontros buscam proporcionar maior
liberação. pessoal a pessoas inibidas pelas restrições da vida convencional. A controvérsia atual envolve tanto as
técnicas mais úteis em tais grupos como a extensão em que suscitam mudanças construtivas em seus membros. Pode ser
que o valor principal dessas experiências intensivas organizadas em grupo seja simplesmente promover interação social
de pessoas solitárias que vivem em um tipo de sociedade impessoal.
Perguntas e trabalhos
1. Por que os sociólogos têm tantas definições diferentes para o termo grupo?
2. Comente a seguinte animação: "Um grupo é formado de indivíduos, e as características de um grupo são a somadas
características de seus membros".
3. A coragem é um traço individual do caráter ou uma resposta a influências de grupo?
4. Que diferenças são encontradas na distinção entre grupo pessoal e grupo externo nas sociedades primitiva e moderna?
5. Por que os grupos primários e secundários são importantes? E os grupos pessoais e os grupos externos?
6. Até que ponto você acredita que a distância social se relaciona à distância geográfica?
7. A faculdade freqüentemente é uma introdução às complexidades dos relacionamentos no interior de grupos
secundários. Esta experiência vale a pena para um jovem cujos principais interesses se centram nos relacionamentos de
grupo primário típicos da vida em família?
8. Por que o moral da maioria dos prisioneiros de guerra norte-americanos no Vietnã conseguiu sobrepor-se tanto às
vicissitudes da captura como à propaganda que enfatizava o caráter controverso da opinião pública norte-americana a
respeito do conflito?
9. Existe uma explicação sociológica de como um típico jovem norte-americano decente pudesse ter sido culpado por
atrocidades no Vietnã?
10. Os primitivos cristãos algumas vezes eram amontoados em celas de grandes prisões e depois eram encaminhados ao
Coliseu para serem crucificados ou ofertados como alimento aos leões, perante milhares de espectadores. Eles poderiam
ter sido salvos se renegassem a fé, mas poucos o fizeram. Por quê?
11. De que modo um estereótipo se torna uma "profecia que se realiza"?
12. Em um experimento recente, estudantes de curso superior, convencionalmente trajados, que faziam entrega de
manifestos sobre a paz em um aeroporto, foram tratados com afabilidade, enquanto estudantes hippies, agindo de modo
idêntico, muitas vezes sofreram provocações, insultos ou ameaças físicas. Explique o caso em linguagem sociológica.
13. Qual é, a seu ver, a verdadeira razão pela qual os líderes de grupos de encontros são pessoas sem treinamento
profissional nas Ciências Comportamentais?
14. Corno você explica o fato de alguns observadores julgarem que os grupos de encontros podem funcionar sem líderes
treinados?
Leitura sugerida
Appley, Dee G., e Alvin E. Winder. T-Groups and Therapy Groups in a Changing Society. San Francisco, Jossey-Bass, 1973. Livro
de consulta erudito que apresenta urna análise baseada em pesquisa dos fundamentos teóricos e metodologias destes dois tipos de
grupo.
Athanasiou, Robert. French and Arnerican Sexuality. Psychology Today, jul. 1972, p. 53-6 e segs. Expõe a falsidade do estereótipo de
que os costumes franceses são menos restritivos sexualmente do que os norte- americanos. Constatou-se que uma amostra de pessoas
francesas e norte-americanas era muito semelhante em sua conduta e atitudes sexuais, sendo que os últimos eram em geral mais
permissivos quando existia urna diferença significante.
Bales, Robert F. How People Interact in Conferences. Scientific American, 192:31-35, mar. 1955. Descrição da interação social em
conferências.
Becker, Tarnar. Black Africans and Black Americans on an American Campus: The African View. Sociology and Social Research,
56, jan. 1972, p. 202-11. Discussão da tensão entre dois grupos com uma aparência física comum, mas antecedentes culturais
diferentes. .
Egan, Gerard. Encounter: Group Processes for Interpersonal Growth. Belrnont, Calif., Wadsworth Publishing, 1970. Descrição
equilibrada do movimento de grupos de encontros.
Gibbard, Graham S., John J. Hartman e Richard D. Mann (orgs.). Analysis of Groups. San Francisco, Jossey-Bass, 1974. Série de
artigos sobre os vários aspectos da experiência intensiva de grupo. A coletânea trata de grupos "T", grupos de terapia e grupos de
encontros.
Howard, Jane. Please Touch. Nova York, McGraw-Hill, 1971. Análise bastante acessível de muitos tipos de grupos de treinamento de
sensitividade.
Hunt, Chester L., e Luis L. Lacar. Social Distance and American Policy. Sociology and Social Research, 57, jul. 1974, p. 495-509.
Descrição da distância social nas Filipinas, onde os norte-americanos ainda são um dos grupos mais aceitos.
Jacobs, James R. Street Gangs Behind Bars. Social Problems, 21:395-410, 1974. Análise dos resultados a que se chega quando o
encarceramento de grande número de membros de um bando lhes permite assumir o controle da estrutura de grupo informal de urna
prisão.
Keyes, Ralph L., Fun and Therapy Together. Human Behavior, set. 1973. p. 67-72. Artigo breve, de fácil leitura, sobre os problemas e
as possibilidades dos grupos de encontros.
Mills, Theodore. The Sociology of Small Groups. Englewood Cliffs, N. J., Prentice-Hall, 1970. Relato breve mas global da pesquisa
básica sobre pequenos grupos.
Volkman, Rita, e Donald R. Cressey. Differential Association and the Rehabilitation of Drug Addicts. American Journal of Sociology,
69:129-142, set. 1963. Descreve os princípios e os modos de operação de um grupo terapêutico.
Warriner, Charles K. Groups Are Real: A reaffirmation. American Sociological Review, 21:549-554, out. 1956; reproduzido em
Milton Barron (org.). Contemporary Sociology. Nova York, Dodd, Mead & Company, 1964. p. 120-7. Mostra como a natureza do
grupo não está completamente representada pelos indivíduos que o compõem.
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