estimativas das elasticidades-preço e renda da demanda

Propaganda
ESTIMATIVAS DAS ELASTICIDADES-PREÇO E RENDA DA DEMANDA POR
ÁLCOOL COMBUSTÍVEL NO BRASIL
[email protected]
APRESENTACAO ORAL-Comercialização, Mercados e Preços
BRUNO MACIEL VON RANDOW; ROSA MARIA OLIVERA FONTES; JOÃO
GUILHERME DE OLIVEIRA CARMINATI.
UFV, VIÇOSA - MG - BRASIL.
ESTIMATIVAS DAS ELASTICIDADES-PREÇO E RENDA DA
DEMANDA POR ÁLCOOL COMBUSTÍVEL NO BRASIL
Grupo de Pesquisa: Comercialização, Mercados e Preços
Resumo
Este trabalho teve como objetivo principal estimar as elasticidades preço e renda da
demanda de álcool combustível no Brasil no período de julho de 2001 a outubro de 2009.
Baseado na teoria da demanda incluiu-se como variáveis explicativas o preço do bem, o
preço do bem substituto e a renda para estimar o modelo VAR/VEC a partir de séries
temporais. Os resultados sugerem uma adequação da técnica aos dados, uma vez que os
sinais foram condizentes com a teoria econômica. As estimações sugerem que álcool e
gasolina devem ser considerados como substitutos imperfeitos, uma vez que a elasticidadepreço cruzada foi positiva e estatisticamente significativa no longo prazo. Além disso, o
modelo indicou que o consumo de álcool no longo prazo é mais sensível a variações no
preço da gasolina do que no preço do álcool. No curto prazo, os resultados demonstraram
que o consumo de dois períodos passados, o preço do álcool no período anterior e a renda
de dois períodos passados são determinantes do consumo atual. Em contraste com o
encontrado para o longo prazo, não se confirmou no curto prazo a hipótese de elasticidadepreço cruzada diferente de zero, sugerindo que, no curto prazo, os consumidores não
consideram álcool e gasolina bens substitutos. Por fim, o modelo VEC demonstrou que os
choques dos preços e na renda são estáveis a partir de 10 períodos, retornando para sua
média inicial.
Palavras-chaves: elasticidade; álcool; Brasil, co-integração; Modelo VEC.
Abstract
The main objective of this paper was to estimate the price and income elasticities of
ethanol in Brazil for the period of July 2001 to October 2009. Based on the demand theory,
the explained variables were the price of the good, the price of the substitute product and
income to estimate a time series VAR/VEC model. The results had shown that this model
specification was adequate and fitted for the monthly data set, with the expected signs.
Besides, the results had suggested that ethanol and gasoline should be considered
imperfects substitutes, with the cross price-elasticity in the long-run being positive and
statistically significant. In addition, it was found that the long-run ethanol demand was
more sensitive to shocks in gasoline price than in ethanol price. In the short-run, results
1
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
had shown that two periods lagged consumption, one period lagged ethanol price and two
periods lagged income were strongly determinant on the current ethanol demand. In
contrast, comparing short and long-run, the cross elasticity-price hypothesis was not
confirmed in the short-run as it was in the long-run. Finally, the VEC model had shown
that price and income shocks were stable after 10 periods, going back to the initial average
level.
Key Words: elasticity; ethanol; Brazil; cointegration ; VEC Model.
1. INTRODUÇÃO
A oferta de energia tem papel crucial no crescimento econômico do país. Nos anos
recentes houve crescente atenção no campo econômico à relação da demanda de energia
com o crescimento econômico. Neste sentido, diversos autores destacaram a necessidade
de diversificação da matriz energética mundial, historicamente baseada no petróleo e seus
derivados.
Tal diversificação se faz necessária não só para reduzir a dependência do petróleo,
que apresenta grande volatilidade de preços, bem como para reduzir a emissão de gases
poluentes resultantes da queima deste combustível, principalmente no setor de transportes,
responsável por grande parte das emissões mundiais de gases do efeito estufa.
Como ressaltam Calle e Walter (2006), muitos países têm considerado os
biocombustíveis, com maior destaque para o etanol, como uma alternativa viável ao uso
dos derivados de petróleo. Segundo estes autores, combustíveis que são fontes renováveis
de energia podem contribuir para maior segurança energética, além da criação de
empregos, do desenvolvimento das regiões rurais e da manutenção do superávit nas contas
externas.
Dentro dessa perspectiva, este trabalho tem como objetivo principal estimar a
demanda por álcool no Brasil, baseado no referencial teórico da teoria microeconômica da
demanda e utilizando-se do modelo de correção de erros vetorial (VEC) da área de séries
temporais.
Desta forma, o trabalho será estruturado em cinco seções. A primeira se dedica a
uma breve revisão da literatura sobre o tema. Na segunda, traça-se um panorama geral da
atual situação das matrizes energéticas brasileira e mundial. Na terceira seção apresenta-se
o referencial teórico microeconômico e econométrico, além da metodologia dos cálculos e
tratamento dos dados. O quarto tópico mostra os principais resultados e sua discussão. Por
fim, a quinta seção conclui.
2. REVISÃO DA LITERATURA
Nos últimos 30 anos a questão energética tem recebido crescente destaque devido
ao papel central da oferta de energia para o crescimento econômico dos países. Isto pode
ser considerado, em certa parte, como resultado das crises do petróleo de 1973 e 1979, que
expuseram a vulnerabilidade dos sistemas energéticos fortemente baseados em petróleo e
derivados.
2
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Segundo dados da Agência Internacional de Energia (2008), o mundo dispõe
atualmente de uma reserva provada de 1,258 trilhão de barris de petróleo. Além disto, as
recentes descobertas de reservas, entre elas as de águas profundas do Brasil, representaram
um aumento de 15,57% no total de reservas, comparado ao ano de 1999 (ANP, 2008).
Para Júnior e Perez (2008), embora se demonstre abundante no presente, o petróleo
não é um recurso renovável e cerca de 70% de toda a reserva mundial está concentrada em
poucos países.
Nesse contexto, após as crises do petróleo houve um movimento mundial em
direção ao desenvolvimento de novas fontes de energia. No Brasil, o principal programa
para redução da dependência de petróleo foi o Programa Nacional do Álcool (Proálcool).
Segundo Júnior e Perez (2008), este programa foi lançado em 1973 e tinha como objetivo
principal fomentar o desenvolvimento da produção de álcool de cana de açúcar para
produzir um combustível que pudesse ser misturado à gasolina em proporções prédeterminadas e servir como fonte independente de energia.
Com este mesmo propósito, outros países também empreenderam investimentos no
setor energético. Nos Estados Unidos, criaram-se incentivos fiscais para o
desenvolvimento de etanol à base de milho. Já em alguns países da Europa, como a
Alemanha e a França, a produção de biocombustíveis baseou-se em plantas oleaginosas e
de etanol a partir de outras culturas que não a cana de açúcar ou o milho (Coelho et al,
2006).
Kojima e Johnson (2006) sumarizaram as principais vantagens do investimento em
biocombustíveis para o setor de transportes. Para estes autores, a diversificação da matriz
energética, a redução da exposição à alta volatilidade dos preços do petróleo no mercado
internacional, o desenvolvimento rural e a redução das emissões dos gases poluentes estão
entre os principais motivos para que os países desenvolvam novas tecnologias energéticas.
Estes autores destacaram ainda que, embora esta necessidade seja emergente, a viabilidade
econômica dos investimentos em biocombustíveis depende do preço do petróleo. Em suas
estimativas, para que tais investimentos sejam viáveis, o preço do barril de petróleo deve
estar acima de US$ 50,00. Para preços menores, seria necessário amplo apoio
governamental para o desenvolvimento de pesquisas e manutenção da produção.
Arbex e Perobelli (2009) incluíram a demanda de energia em seu modelo de
crescimento, para determinar os impactos do crescimento econômico sobre esta demanda.
Eles constataram que a correta projeção das taxas de crescimento de uma economia é
crucial para que não haja nem desequilíbrios entre oferta e demanda de energia nem
tampouco a exaustão de recursos não renováveis.
Em relação à demanda de energia, Buonfiglio e Bajay (1992) projetaram as
demandas de álcool e gasolina para o Brasil usando séries históricas de 1970 a 1990 do
PIB, dos preços dos combustíveis e da frota de veículos em circulação. Os resultados
encontrados foram que o consumo de álcool e gasolina foi determinado por fatores como
crescimento do PIB, política de preços para o álcool e para a gasolina e pelo preço dos
veículos, além de fatores técnicos como o consumo dos veículos.
Schmalensee e Stocker (1999) estimaram a demanda das famílias por gasolina nos
Estados Unidos para os anos de 1988 e 1991, a partir de dados da pesquisa Residential
Transportation and Energy Consumptiom Surveys (RTCES) referentes a estes dois anos.
Para determinar quais fatores afetavam a demanda por gasolina, os autores utilizaram
3
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
metodologias paramétricas e semi-paramétricas. Os resultados sugeriram que a demanda
por gasolina dos Estados Unidos em 1988 e 1991 dependeu de fatores relativos à renda das
famílias, fatores demográficos e de localização e do preço da gasolina.
Luchansky e Monks (2008) utilizaram metodologia semelhante para estimar as
elasticidades de demanda e oferta de etanol para os Estados Unidos no período de 1997 a
2006. Assim, ao estimarem um modelo onde a demanda do bem depende do preço do bem,
do preço do bem substituto, além de uma variável semi-paramétrica, os autores
demonstraram que o preço do etanol se relaciona negativamente com a quantidade
vendida, positivamente com o preço da gasolina e positivamente com a quantidade de
veículos em circulação.
Burnquist e Bacchi (2001) estimaram as elasticidades de curto e longo prazo da
demanda por gasolina no Brasil para o período de 1973 a 1998 utilizando um modelo VEC.
Os resultados encontrados sugerem que a demanda de curto prazo é preço inelástica,
enquanto a de longo prazo é relativamente mais elástica, embora os autores não a tenham
considerado elástica, uma vez que as estimativas foram menores do que a unidade. Além
disto, os mencionados autores concluíram que um modelo simples baseado apenas na
renda e no preço do bem apresenta estimativas robustas e confiáveis da demanda por este
bem.
Alves e Bueno (2003) também estimaram as elasticidades de curto e longo prazo da
demanda por gasolina no Brasil, utilizando técnicas de co-integração para dados anuais no
período de 1973 a 1999. Este trabalho se diferencia pelo fato de considerar o álcool
hidratado como um substituto para a gasolina. Os resultados demonstraram que, em relação
à demanda por gasolina, o álcool pode ser visto um substituto imperfeito, tanto no curto,
quanto no longo prazo, uma vez que a elasticidade cruzada foi estatisticamente
significativa a 15%, nível que os autores consideraram razoável dado o tamanho limitado
da amostra.
Mattos e Lima (2005) utilizaram um modelo VEC para estimar as elasticidades de
curto e longo-prazo da demanda de energia elétrica de Minas Gerais para o período de
1970 a 2002, considerando esta como dependente da renda do consumidor, do preço da
energia elétrica e dos preços dos eletrodomésticos. Os resultados encontrados indicaram
uma maior sensibilidade da demanda por energia elétrica às variações na renda do
consumidor do que nos preços da energia.
Diehl, Andriolli e Bacchi (2007) utilizaram dados da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) para os anos de 2002 e 2003 para estimar as elasticidades-renda das
despesas com álcool e gasolina no Brasil. Usando um modelo de mínimos quadrados
generalizados, e estratificando a população por níveis de renda per capita, estes autores
concluíram que é possível classificar o álcool e a gasolina como bens superiores para os
níveis mais altos de renda per capita, e de bens normais para os demais estratos. Além
disto, os resultados demonstraram que, de acordo com as elasticidades-renda médias
obtidas, um aumento na renda gera um aumento relativamente maior na despesa com
gasolina do que na despesa com álcool.
Finalmente, utilizando um modelo de dados em painel, Filippini e Hunt (2009)
estimaram a demanda agregada por energia para 29 países da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, no período de 1978 a 2006. Neste
trabalho, a função de demanda considerada relaciona o PIB per capita, o preço real da
4
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
energia, o clima, a área do país, as participações dos setores industrial e de serviços sobre o
valor agregado total, o índice de eficiência energética do país e uma dummy para captar os
efeitos exógenos e endógenos do progresso técnico. Os resultados encontrados por estes
autores quanto à renda e ao preço foram coerentes com a teoria econômica. Além disso,
todas as demais variáveis foram positivas e significativas.
Embora a literatura que trata do importante papel das fontes de energia para a
economia seja ampla, aparentemente não existe um estudo focado na estimação da
demanda por álcool no Brasil em períodos recentes. Assim, esse trabalho se propõe a suprir
essa lacuna, estimando as elasticidades preço e renda de curto e longo prazo para este bem,
no período de julho de 2001 a outubro de 2009.
3. MATRIZES ENERGÉTICAS BRASILEIRA E MUNDIAL
Segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEN, 2008), do Ministério de
Minas e Energia, a matriz energética representa toda a oferta interna de energia do país.
Nos últimos 30 anos, as matrizes energéticas mundial e brasileira sofreram modificações
para adequar a oferta às necessidades da economia.
A Figura 1 a seguir apresenta uma comparação da composição das matrizes
mundial e brasileira entre os anos de 1970 e 2007. Comparando-se a matriz energética
mundial em 1973 com a de 2006, observa-se que, embora algumas fontes como o gás
natural e a nuclear tenham ganhado participação em detrimento dos derivados de petróleo,
a composição geral pouco mudou entre estes anos, mantendo os derivados de petróleo
como principal fonte energética mundial.
Já a matriz brasileira sofreu profundas mudanças entre 1970 e 2007. A principal
modificação foi a significativa perda de importância da lenha e carvão vegetal dentro da
oferta interna de energia. Estas, em 1970, figuravam como as principais fontes de energia,
com 47,0% da oferta total, passando para 12,0% em 2007. Em 2007, assim como na matriz
mundial, os derivados de petróleo eram a principal fonte, participando com 37,4% da
oferta total. Além disto, ao contrário da matriz mundial, pode-se considerar a matriz
brasileira mais limpa, uma vez que as fontes renováveis têm grande importância no total da
oferta, participando com cerca de 40% da oferta total, enquanto que na matriz mundial
estas fontes somam apenas 12%.
5
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Figura 1 – Composição das Matrizes Energéticas Mundial e Brasileira, 1970 –
2007.
Fonte: Balanço Energético Nacional - Ministério de Minas e Energia (2008).
A Figura 2 mostra a evolução da oferta interna de energia brasileira no período de
1970 a 2007, de acordo com dados do BEN (2008). Enquanto em 1970 a oferta interna foi
de 67,838 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), em 2007 a oferta total foi de
238,758 milhões de tep, ou seja, um aumento de mais de 250%.
6
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
300,000
250,000
200,000
150,000
100,000
50,000
0
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
P etróleo e Derivados
G ás Natural
C arvão Mineral e Derivados
Nuc lear
Hidráulic a e E letricidade
L enha e C arvão V egetal
Derivados de C ana-de-A ç úc ar
O utras
Figura 2 - Evolução da Oferta Interna de Energia do Brasil ,- 1970 a 2007 , em 1.000 TEP.
Fonte: Balanço Energético Nacional – Ministério de Minas e Energia (2008).
Por fim, a Figura 3 apresenta o consumo de álcool hidratado1 e gasolina no Brasil
para o período de 2000 a 2009. Nela é possível notar que, embora o consumo de gasolina
seja sempre maior do que o de álcool hidratado, este segundo apresentou uma tendência de
crescimento no período, enquanto as vendas de gasolina mantiveram-se relativamente
estáveis ao longo do período analisado.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores –
(ANFAVEA, 2009), este aumento nas vendas de álcool hidratado nos últimos anos é
devido em parte ao aumento nas vendas de veículos flex-fuel. Suas vendas ultrapassaram as
de automóveis à gasolina a partir de 2005, ano em que foram vendidas 609.903 unidades
de carros à gasolina, contra 728.375 unidades vendidas de veículos flex-fuel.
1
Utilizado como fonte independente de combustão em motores adaptados.
7
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
30,000,000
25,000,000
m³
20,000,000
15,000,000
10,000,000
5,000,000
Á lc ool
09
20
07
08
20
20
06
20
05
20
04
20
03
20
02
20
01
20
20
00
0
G as olina
Figura 3 – Vendas de álcool hidratado e gasolina, 2000 a 2009, em m³.
Fonte: Balanço Energético Nacional – Ministério de Minas e Energia (2008).
Assim, as análises feitas demonstram a importância de estudos do comportamento
da demanda e da oferta de combustíveis e que abranjam períodos mais recentes,
principalmente para anos posteriores à 2003, de tal forma a captar a influência do
crescimento das vendas de veículos flex-fuel.
4. METODOLOGIA
O referencial teórico utilizado refere-se à teoria microeconômica da demanda.
Segundo Varian (2006) a demanda de um bem é função da renda do indivíduo, do preço do
bem, do preço do produto substituto, do preço do bem complementar e de outros fatores
como gostos e preferências. Ou seja, a demanda do produto X é dada por:
X = f (R, Px , Py , Pz , G )
(1)
onde: R = renda do indivíduo; Px = preço do bem X; Py = preço do bem substituto Y; Pz =
preço do bem complementar Z e G = gostos e preferências do indivíduo.
Para bens considerados normais, espera-se que os sinais sejam os seguintes:
positivo em relação à renda; negativo em relação ao preço do bem X; positivo em relação
ao preço do bem substituto Y; negativo em relação ao preço do bem complementar Z e
positivo ou negativo em relação aos gostos e preferências do consumidor.
No presente trabalho, álcool hidratado e gasolina serão tratados como substitutos
imperfeitos, caso representado pela curva de indiferença de Cobb-Douglas clássica, onde a
solução de consumo é sempre uma solução interior, e não de canto, como pode ocorrer
para os substitutos perfeitos (Varian, 2006). Assim, supondo um aumento no preço da
gasolina, espera-se que a demanda por álcool aumente, mas sendo consumidas quantidades
positivas de ambos os bens.
Dada a natureza das variáveis, seguem-se os procedimentos usuais na metodologia
de séries temporais. O primeiro passo é a análise da estacionariedade das séries. Outra
8
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
importante ferramenta é a verificação da presença ou não de mudança estrutural2, que se
justifica devido às mudanças significativas ocorridas no setor de combustíveis (Figura 3).
Para este primeiro objetivo foi empregado o teste de raiz unitária de Dickey-Fuller
Aumentado (ADF), muito utilizado na literatura de séries temporais.
Outro fator importante na estimação dos modelos VAR/VEC é a definição do
número de defasagens com o qual o modelo será estimado. Aqui, como em Burnquist e
Bacchi (2001), será usado o número de defasagens indicado pelo maior número de
critérios, a saber, teste estatístico sequencial modificado (LR), erro final de previsão (FPE),
Akaike (AIC), Hannan-Quinn (HQ) e Schwarz (SIC).
Já para se testar a co-integração das séries, como aplicado por Burnquist e Bacchi
(2001) e Mattos e Lima (2005), foi utilizada a técnica de co-integração proposta por
Johansen (1988) e Johansen e Juselius (1990).
De acordo com Lütkepohl (2004), um modelo de Vetores Auto-Regressivos (VAR)
é uma boa forma de descrever o processo de geração de dados para um pequeno grupo de
variáveis temporais. Nestes modelos, diferentemente dos modelos de equações
simultâneas, onde a distinção entre variáveis exógenas e endógenas é necessária, todas as
variáveis são tratadas como endógenas. Todavia, na presença de séries não estacionárias e
co-integradas de mesma ordem, a estimação por meio de VAR não é a mais apropriada.
Portanto, para analisar as estimativas das elasticidades preço e renda da demanda
por álcool no Brasil, no período entre 2001 e 2009, foi utilizada a técnica de co-integração,
sendo estimado um Modelo Vetorial de Correção de Erro (VEC).
A equação estimada foi definida conforme a expressão (2) seguir:
C A = f (PA , PG , PIB )
(2)
onde: CA = consumo de álcool hidratado em m³; PA = preço médio do álcool hidratado;
PG = preço médio da gasolina e PIB = Produto Interno Bruto (como uma proxy para renda
dos consumidores). Assim, espera-se estimar as elasticidades preço e renda e captar o
padrão de consumo no período recente.
Como o objetivo é obter as elasticidades-preço, renda e a elasticidade cruzada da
demanda por álcool hidratado, o modelo foi estimado em forma log-log, tanto para a
variável dependente como para as independentes. Foram utilizados dados mensais para o
período de julho de 2001 a outubro de 2009.
Por fim, as variáveis monetárias do modelo, a saber, Produto Interno Bruto (PIB),
preço médio do álcool hidratado (PA) e preço médio da gasolina (PG), foram
deflacionadas utilizando-se o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA3) com base
nos preços de outubro de 2009.
2
Maiores detalhes em Andrews (1993)
Optou-se pela utilização do Índice de Preços ao Consumidor Amplo por ser este o índice oficial do governo
brasileiro para mensurar a inflação.
3
9
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, foram calculadas estatísticas descritivas apresentadas na Tabela 1. A
grande discrepância entre os dados justifica o uso de um modelo log-log no processo de
estimação, cujos parâmetros das variáveis são as elasticidades da demanda do álcool com
relação ao seu preço, ao preço do bem substituto e à renda.
Tabela 1 - Estatísticas descritivas dos dados de PIB, preço do álcool, preço da gasolina,
consumo do álcool, venda de veículos
Desvio
Descrição
Nome Unidade
Média
Padrão
Mínimo
Máximo
Consumo de álcool
CA
1.000 m³ 603.063,98 374.999,40 224.405,24 1.469.888,90
Produto Interno Bruto PIB R$ 1.000,00 183.414,91 46.276,36 106.086,17 281.671,30
Preço do Álcool
PA
R$/L
1,369
0,23
0,92
1,98
Preço da Gasolina
PG
R$/L
2,250
0,30
1,52
2,58
Analisando-se os dados da Tabela 1, observa-se que em média foram consumidos
603,06 bilhões de metros cúbicos (m³) de álcool por mês no período de julho de 2001 a
outubro de 2009. Verifica-se também grande volatilidade no consumo, sendo que a
variação média foi de 2,20% por mês, embora tenha na série grandes quedas no consumo,
como entre setembro e outubro de 2002, quando o consumo recuou 26,61%. Tal
discrepância é notada também comparando-se os valores mínimo e máximo da série, sendo
224,40 bilhões de m³ o consumo mínimo registrado, enquanto que o consumo máximo
chegou a 1,469 trilhão de m³.
Padrão semelhante foi observado para o PIB a preços de outubro de 2009. No
mesmo período, o PIB, que foi em média de R$ 183,41 bilhões, variou entre R$ 106,08
bilhões e R$ 281,67 bilhões, com uma taxa de variação mensal média de 1,02%.
Por fim, analisando-se a Figura 4 a seguir, observa-se o comportamento dos preços
do álcool hidratado e da gasolina no período em estudo. Nota-se que a diferença entre os
preços se manteve relativamente constante em toda a série, exceto entre agosto de 2005 e
março de 2006. Neste período de exceção, o preço do álcool apresentou uma trajetória
crescente e o preço da gasolina se manteve constante, apesar do aumento da demanda
resultante do crescimento das vendas de veículos flex-fuel (ANFAVEA, 2009).
10
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Figura 4 – Preço médio do álcool hidratado e gasolina no período julho de 2001 a outubro
de 2009, em R$/L.
Fonte: Agência Nacional do Petróleo – ANP.
Os resultados dos testes de Dickey-Fuller Aumentado (ADF) encontram-se na
Tabela 2. Assim, comparando-se a estatística do teste ADF com os valores críticos a 1% e
5%, observa-se que em todas as variáveis há a presença de raiz unitária ao nível de 5% de
significância, caracterizando-as como não estacionárias em nível.
Pela Tabela 2, observa-se também que todas as variáveis são I(1), ou seja, são todas
integradas de ordem 1, logo, necessitam de uma diferenciação para tornarem-se
estacionárias.
Tabela 2 - Testes de Dickey-Fuller Aumentado (ADF) para as séries de preço do álcool
(PA), preço da gasolina (PG), consumo de álcool (CA) e PIB
Var.
Forma do teste
N° de
Est. do
Valores Críticos
Defasagens* teste ADF
1%
5%
CA
com intercepto e sem tendência
1
-0,5614
-4,0554 -3,4568
∆CA
com intercepto e sem tendência
0
-13,8384 -3,4984 -2,8912
PA
com intercepto e sem tendência
1
-2,5717
-3,4984 -2,8912
∆PA
com intercepto e sem tendência
0
-5,9367
-3,4984 -2,8912
PG
com intercepto e sem tendência
1
-1,7741
-3,4984 -2,8912
∆PG
com intercepto e sem tendência
0
-6,6843
-3,4984 -2,8912
PIB
com intercepto e sem tendência
12
-2,3296
-3,5074 -2,8951
∆PIB
com intercepto e com tendência
11
-3,6433
-4,0670 -3,4623
* Foi utilizado o número de defasagens que minimizava o Critério de Informação de Schwarz
Além disto, o teste de estabilidade dos parâmetros de Andrews (1993) identificou
que houve uma quebra estrutural importante no consumo do álcool no mês de abril de
2006. Assim, o modelo estimado inclui ainda uma variável dummy do tipo step,
denominada D1 para corrigir a presença desta quebra. Esta variável assume valor 0 antes
do período da quebra (t) - abril de 2006 - e valor 1 para os períodos posteriores.
Para a estimação do VAR/VEC, como definido na metodologia, os critérios LR,
FPE e AIC sugeriram um modelo com quatro defasagens. Já os resultados dos critérios de
SC e HQ divergiram dos anteriores, indicando uma e duas defasagens, respectivamente. Os
11
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
resultados deste teste estão na Tabela 3 a seguir. Como demonstrado, o modelo estimado
utiliza-se quatro lags, ou seja, quatro períodos de defasagem, uma vez que foi esta a
defasagem ótima definida pelo maior número de critérios.
Tabela 3 - Critérios para definição do número de defasagens
Nº de Defasagens
0
1
2
3
4
5
6
LR
NA
478,8073
61,0552
36,55659
27,60062*
22,82471
17,80035
FPE
AIC
SC
HQ
1,64E-09 -8,879284 -8,662833 -8,791854
9,98E-12 -13,97985 -13,33050* -13,71756
6,80E-12 -14,36627 -13,28402 -13,92912*
6,08E-12
-14,4828
-12,96765 -13,87079
6,01e-12* -14,50554* -12,55749 -13,71867
6,25E-12 -14,48213 -12,10117
-13,5204
6,93E-12 -14,40347 -11,58962 -13,26688
*Número de defasagens indicado pelo critério
A realização do procedimento de Johansen para co-integração identificou a
presença de um vetor de co-integração tanto pelo teste do traço da matriz quanto pelo teste
dos autovalores da matriz. Ambos comprovaram a existência de uma relação de cointegração, como demonstrado na Tabela 4.
Tabela 4 - Testes do traço da matriz e de autovalores do procedimento de Johansen para cointegração
Teste do traço da matriz
Est. do Traço
Valores Críticos*
Prob.
52,9388
40,174
0,0016
Ausência
Pelo menos 1
20,4063
24,2759
0,1425
Teste dos autovalores
Est. do Traço
Valores Críticos*
Prob.
32,5325
24,1592
0,0029
Ausência
12,7032
17,7973
0,2476
Pelo menos 1
*5% de significância
Finalmente, estimou-se o seguinte vetor de co-integração com os efeitos de longo
prazo na forma normalizada. Os termos entre parênteses correspondem aos erros-padrão
das variáveis.
12
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tabela 5 - Vetor de co-integração normalizado para a variável CA
CA
PIB
PA
PG
1,0000
-0,45849
11,26102
-12,79233
(0,17624)
(1,85566)
(2,87373)
[-2,60149]
[6,06847]
[-4,45146]
*Erros-padrão entre parênteses
*Estatística t entre colchetes
A partir do vetor de co-integração estimado, pode-se escrever a relação de
equilíbrio de longo prazo para o consumo de álcool no Brasil, dado pela equação (3).
C A = 0,458PIB − 11,261PA + 12,792PG
(3)
A partir da expressão (3) observa-se que as relações apresentaram os sinais
esperados pela teoria da demanda, ou seja, uma relação positiva de longo prazo com a
renda e com o preço do bem substituto e uma relação negativa com o preço do bem. Além
disto, pelo teste t, a 5% de significância, é possível rejeitar a hipótese nula de que os
coeficientes são iguais a zero.
Assim, em relação aos valores dos coeficientes, a demanda por álcool se mostrou
preço-elástica, com elasticidades maiores que a unidade tanto para o preço do álcool
quanto para a gasolina e renda-inelástica, uma vez que o coeficiente do PIB foi menor do
que 1. Sendo assim, uma variação de 1% no PIB gera, em média, um aumento de apenas
0,46% na demanda por álcool. Além disto, as elasticidades-preço indicam que o consumo
de álcool no longo prazo é mais sensível às variações no preço da gasolina do que no preço
do álcool. Neste caso, um aumento de 1% no preço da gasolina leva, em média, a um
aumento de 12,79% no consumo do álcool, enquanto o mesmo aumento no preço do álcool
gera uma redução de 11,26% em seu consumo.
Este resultado é condizente com o encontrado por Alves e Bueno (2003), cujos
dados também confirmaram álcool hidratado e gasolina como substitutos imperfeitos.
Finalmente, dados os resultados dos testes de raiz unitária e de co-integração, é
possível estimar o modelo VEC para se determinar o comportamento da demanda de álcool
no curto prazo.
13
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Tabela 6 – Estimativas do modelo VEC referente à variável CA
Variável
Coeficiente
ut-1
-0,0192
∆CAt-1
-0,5128*
∆CAt-2
-0,4382*
∆CAt-3
0,1059
-0,5500*
∆PAt-1
∆PAt-2
-0,1378
∆PAt-3
-0,1212
0,5936
∆PGt-1
∆PGt-2
0,1443
∆PGt-3
0,0672
∆PIBt-1
0,1657
1,1050*
∆PIBt-2
∆PIBt-3
-0,3767
DummyD1
0,0598*
Desvio-padrão
-0,01601
-0,11562
-0,12433
-0,12194
-0,25775
-0,26174
-0,2591
-0,48826
-0,4623
-0,46161
-0,28167
-0,26771
-0,29648
-0,02147
Notas: *significativo a 5% de significância pelo teste t.
Analisando-se as estimativas apresentadas na Tabela 7, observa-se pelo teste de
causalidade de Granger que o modelo produz estimativas conjuntamente significativas a
1% de probabilidade. Os resultados revelam que as variáveis PA, PB e PIB causam, no
sentido de Granger, a variável CA no curto prazo.
Tabela 7 – Teste de causalidade de curto prazo entre as variáveis do modelo
Variável dependente
CA
Probabilidade
PA
5,76
0,12
PG
1,78
0,61
PIB
20,17***
0,00
Conjunta (PA, PG, PIB)
30,86***
0,00
Notas: *** significativo à 1%
Em relação às elasticidades de curto prazo, cujos resultados foram mostrados na
Tabela 6, observam-se relações diferentes das que foram observadas na equação de longo
prazo. No curto prazo, foram significativas para a determinação da quantidade demandada
de álcool as seguintes variáveis explicativas: o consumo de dois períodos anteriores, o
preço do álcool defasado em um período anterior e o PIB de dois períodos anteriores. Além
disto, a significância estatística da dummy D1 confirmou a presença de quebra estrutural na
série de consumo de álcool, embora a análise do parâmetro desta variável não forneça
inferências relevantes para o modelo em questão.
Chama atenção o fato de o preço da gasolina não ter apresentado qualquer relação
com a demanda de álcool no curto prazo, enquanto este foi o fator mais determinante para
o consumo de álcool no longo prazo. Além disto, enquanto no longo prazo a demanda por
álcool foi renda-inelástica, no curto prazo esta demanda apresentou-se renda-elástica,
enquanto em relação ao preço do álcool, sua demanda foi preço-inelástica, divergindo das
estimativas de longo prazo. Assim, em consonância com Burquist e Bachi (2001), no curto
prazo as variações de renda foram decisivas para a determinação da demanda por álcool.
14
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Analisando-se as funções de impulso e resposta, é possível verificar em quantos
períodos a demanda de álcool converge para a sua média inicial, ou converge para algum
outro patamar estável, quando se simula um choque nas variáveis explicativas.
Assim, pela Figura 5, é possível observar que, com relação às variações no preço do
álcool, sua demanda no curto prazo apresenta o sinal negativo esperado pela teoria
econômica, indicando uma trajetória convergente para a média inicial após doze meses.
Por exemplo, o efeito de uma variação de 1% no preço do álcool ocasionaria, em média,
após cinco meses, um efeito negativo de aproximadamente 0,03%.
Figura 5 – Função de impulso resposta do consumo de álcool em relação ao preço do
álcool.
O efeito de um choque no preço da gasolina (PG) sobre o consumo do álcool é
apresentado na Figura 6. Os resultados desse choque indicam que o efeito de uma variação
no preço da gasolina de 1% afetaria positivamente após três meses, aproximadamente
0,01% no consumo de álcool. Portanto, a demanda por álcool apresenta sinal esperado pela
teoria econômica. Os choques do preço da gasolina sobre o consumo de álcool
desaparecem após cerca de seis meses.
Figura 6 – Função de impulso resposta do consumo de álcool em relação ao consumo de
gasolina
15
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Por fim, o efeito de um choque na renda sobre o consumo de álcool pode ser
visualizado na Figura 7. Assim, como demonstrado pelo vetor de co-integração, o PIB
teve baixa relação com o consumo de álcool, embora este tenha sido maior no curto do que
no longo prazo.
Figura 7 – Função de impulso resposta do consumo de álcool em relação à renda.
Estes resultados, além de estarem de acordo com o esperado pela teoria econômica,
confirmam os trabalhos citados anteriormente, principalmente ao demonstrar que álcool e
gasolina devem ser considerados substitutos imperfeitos na especificação do modelo.
Isto tem importantes implicações para a determinação de preços e políticas que
visem à redução da dependência externa do petróleo, uma vez que a elasticidade-preço
cruzada da gasolina foi maior do que a elasticidade-preço do álcool.
Tais resultados sugerem que o impacto no curto prazo das variações de preço na
demanda estimada do álcool ocorre em menor magnitude do que o de longo prazo, algo
compatível com a teoria econômica. Isto pode ser um reflexo dos hábitos dos
consumidores e estar adicionalmente associado aos custos de pesquisa por melhores
preços.
6. CONCLUSÕES
Os biocombustíveis, com destaque para o etanol, são considerados como uma
alternativa economicamente viável e sustentável para a substituição dos derivados de
petróleo no setor de transporte. Nesse contexto de alternativas energéticas viáveis e
sustentáveis, este trabalho teve como objetivo estimar a demanda por álcool hidratado no
Brasil, utilizando como referencial econométrico os modelos de séries temporais
VAR/VEC. Os resultados, no geral, foram compatíveis com a teoria microeconômica.
A estimação do vetor de co-integração mostrou que, no longo prazo, as variações
na renda dos consumidores possuem pouca importância na determinação do consumo de
álcool.
Ainda no longo prazo, as elasticidades-preço da demanda apresentaram os sinais
esperados, além de confirmar a hipótese de que álcool e gasolina devem ser considerados
substitutos imperfeitos na especificação do modelo. Adicionalmente, estas indicam que o
16
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
consumo de álcool no longo prazo é mais sensível às variações no preço da gasolina do que
no preço do álcool.
Diferentemente do comportamento de longo prazo, no curto prazo os fatores mais
importantes para a determinação da demanda de álcool foram as variações na renda e no
preço do próprio álcool, além das quantidades consumidas em dois períodos anteriores.
Este resultado fornece importantes inferências acerca do padrão de consumo de álcool
hidratado, onde os consumidores levam em consideração os custos de pesquisas por
melhores preços, tanto de álcool quanto de gasolina, e as quantidades consumidas em
períodos anteriores.
Finalmente, as funções de impulso e resposta demonstraram que, após os choques
dos preços, a demanda convergiu para as suas médias iniciais cerca de 10 períodos
posteriores. Já após choques da renda, a demanda demorou mais para retornar à sua média,
sugerindo a importância desta variável para a determinação do consumo de álcool
hidratado no curto prazo.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS –
ANP. Dados Estatísticos. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/?id=548>. Acesso em:
20/01/2010.
ALVES, D.C.O; BUENO, R.L.S. Short-run, long-run and cross elasticities of gasoline
demand in Brazil. Energy Economics, Elsevier, 2003. Disponível em:
<linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0140988302001081>Acesso em: 02/04/2010
ANDREWS, D.W.K, Test for parameter instability and structural change with unknown
change
point.
Econometrica,
v.
61,
n.
4,
1993.
Disponível
em:
<http://cowles.econ.yale.edu/~dwka/pub/p0845.pdf>. Acesso em: 31/04/2010
ARBEX, M., PEROBELLI, F.S. Solow meets Leontief: economic growth and energy
consumption,
Energy
Economics,
Elsevier,
2009.
Disponível
em:
<linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0140988309000760>. Acesso: 30/11/2009.
BUONFIGLIO, A., BAJAY, S.V. As demandas do álcool e da gasolina no Brasil. Revista
Brasileira
de
Energia,
v.
2,
n.
2.
1992.
Disponível
em:
<www.sbpe.org.br/socios/download.php?id=40>. Acesso em: 25/11/2009.
BURNQUIST, H.L., BACCHI, M.R.P. A demanda por gasolina no Brasil: uma análise
utilizando
técnicas
de
co-integração.
CEPEA.
2001.
Disponível
em:
<www.cepea.esalq.usp.br/pdf/DemandaGasolina.pdf>. Acesso em: 15/01/2010.
CALLE, F.R., WALTER, A. Global market for bioethanol: historical trends and future
prospects. Energy for Sustainable Development. v. X, n. 1, 2006. Disponível em:
<linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0973082608605049>. Acesso em: 15/01/2010
17
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
COELHO, S. T. et al. Brazilian sugarcane ethanol: lessons learned. Energy for Sustainable
Development.
v.
X,
n.
2,
2006.
Disponível
em:
<www.bioenergytrade.org/downloads/coelhonovdec05.pdf>. Acesso em: 25/11/2009.
DIEHL,D.; ANDRIOLLI, M.; BACCHI, M.R.P. Elasticidades-renda das despesas com
álcool e gasolina para automóveis comerciais e leves no Brasil em 2002-2003. Grupo de
Pesquisa: 1 - Comercialização, Mercados e Preços Agrícolas. XLV Congresso SOBER.
2007. Disponível em: <www.sober.org.br/palestra/6/839.pdf>. Acesso em: 02/04/2010.
ENGLE, R. F.; GRANGER, C.W. Co-integration and error-correction: representation,
estimation and testing. Econometrica, v. 55, p. 251-76, 1987. Disponível em:
<http://ideas.repec.org/a/ecm/emetrp/v55y1987i2p251-76.html>. Acesso em: 28/03/2010
FILIPPINI, M., HUNT, L.C. Energy demand and energy efficiency in the OECD
countries: a stochastic demand frontier approach. Centre for Energy Policy and Economics,
n. 68, 2009. Disponível em: <ideas.repec.org/p/cee/wpcepe/09-68.html>. Acesso em:
25/11/2009
GUJARATI, D. Econometria Básica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2.ed. 2006.
INSTIUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Disponível em:
<http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 20/01/2010.
JOHANSEN, S. Statistical analysis of cointegration vectors. Journal of Economics
Dynamics and Control, v. 12, p.231-254, 1988.
JOHANSEN, S.; JUSELIUS, K. Maximum likelihood estimation and inference on
cointegration with application to the demand of money. Oxford Bulletin of Economics and
Statistics, v. 52, p. 169-209, 1990.
JÚNIOR, A.G.S, PEREZ, R. Sustentabilidade econômica da produção de biodiesel no
Brasil. In: COELHO, A.B., TEIXEIRA, E.C., BRAGA, M.J. (Org.). Recursos naturais e
crescimento econômico. Viçosa, MG: UFV, 2008.
KOJIMA, M., JOHNSON, T. Biofuels for transport in developing countries:
socioeconomic considerations. Energy for Sustainable Development. v. X, n. 2, 2006.
Disponível: <linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0973082608605323>. Acesso em:
10/01/2010
LYNCH, M.C. Oil scarcity, oil crises, and alternative energies – don’t be fooled again.
Applied
Energy.
n.
64.
Elsevier,
1999.
Disponível
em:
<linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0306261999001233>. Acesso em: 10/01/2010
18
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
LUCHANSKY, M.S., MONKS, J. Supply and demand elasticities in the U.S. ethanol fuel
market,
Energy
Economics,
Elsevier,
2008.
Disponível
em:
<linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0140988308001904>. Acesso em: 10/01/2010.
LÜTKEPOHL, H., Applied time series econometrics. Cambridge: Cambridge University
Press, 2004.
MATTOS, L.B, LIMA, J.E, Demanda residencial de energia elétrica em Minas Gerais:
1970-2002.
Nova
Economia:
FACE/UFMG.
Disponível
em:
<www.face.ufmg.br/novaeconomia/sumarios/v15n3/150302.pdf>. Acesso em: 16/01/2010
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Balanço Energético Nacional – BEN. 2008
Disponível em: <http://www.mme.gov.br/mme/menu/todas_publicacoes.html>. Acesso
em: 10/11/2009.
SCHMALENSEE, R., STOKER, T.M. Household gasoline demand in the United States,
Econometrica,
v.
67,
n.
3,
1999,
p.
645-662.
Disponível
em:
<http://www.jstor.org/stable/2999549>. Acesso em: 25/11/2009
VARIAN, H.R. Microeconomia: princípios básicos. 7° ed. Rio de Janeiro: Campus, 2006.
19
Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,
Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
Download