COMPARAÇÃO ENTRE DOIS CASOS DE CICLONES NO LITORAL

Propaganda
COMPARAÇÃO ENTRE DOIS CASOS DE CICLONES NO LITORAL SUL DO RIO
GRANDE DO SUL (RS) E SUA RELAÇÃO COM O AUMENTO DO NÍVEL DO MAR NA
ÁREA EM ESTUDO.
CARNEIRO, Cristiane Pereira*; SARAIVA, Jaci Maria Bilhalva**
Fundação Universidade do Rio Grande-FURG
*Bolsista de Iniciação Científica (CNPq) do Curso de Geografia da FURG.
** Orientadora: Professora Dra. do Departamento de Geociências da FURG.
ABSTRACT
This paper aims to analyse and to compare two cases of cyclones, one happened on March 10th, 11th
and 12th, 1998 and the other on April 17th, 18th and 19th of the same year next to the Coast of Rio
Grande do Sul and relate them to the increase of the sea level on the South Coast of Rio Grande do sul
mainly in Cassino Beach. The Methodology utilized was the observation of images from atmospheric
satelite Goes-8 obtained each 3 hours and the analysis of data from global numerical atmospheric
model, using wind fields in 1000 mb (zonal and meridional component) and reduced pression in
average sea level (1000 mb) as well as relative vorticity (500 mb) and wind divergence (850 mb)
analysed each 6 hours. Either images as data were provided by CPTEC-INPE and obtained through
ftp. The sea level monitoring was made through visual observation in Cassino Beach .
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa, monitoramento de ciclones no Oceano Atlântico
sudoeste, que tem como objetivo monitorar ciclones extratropicais marítimos, originados de ondas
baroclínicas, associados ou não a sistemas frontais. Segundo Cavalcanti (1995), o desenvolvimento de
um ciclone extratropical é freqüentemente associado a um distúrbio ondulatório ao longo de um
sistema frontal.
A área de estudo para o monitoramento de ciclogêneses e ciclones está entre 20° - 50° de latitude sul e
75° - 30° de longitude oeste, com ênfase na costa do Rio Grande do Sul (RS), que estende-se desde o
Chuí à Torres.
Para tal iremos analisar e comparar dois casos de ciclones próximo ao litoral do RS, com o objetivo de
relacioná-los com o aumento do nível do mar no litoral sul do RS, mais precisamente na Praia do
Cassino e suas possíveis conseqüências.
2. METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho foi utilizada a seguinte metodologia:
- Observação de imagens do satélite atmosférico GOES-8, no canal infravermelho, que permite a
análise visual, espacial e temporal da cobertura de nuvens, colaborando para a identificação de alguns
sistemas de tempo através da nebulosidade associada aos mesmos, bem como sua intensificação ou
decaimento. As imagens foram observadas a cada três horas.
- Análise do modelo numérico atmosférico global utilizadas através dos campos nos níveis da
superfície (pressão 1000 mb). Os principais campos utilizados são: o campo do vento (componente
zonal e meridional), pressão reduzida ao nível médio do mar, assim como vorticidade relativa (500
mb) e divergência do vento (850 mb). Esses modelos foram analisados a cada seis horas.
Tanto as imagens quanto os dados de modelos são provenientes do CPTEC-INPE e obtidas via ftp.
-Quanto ao monitoramento do nível do mar foi feito através de observações visuais na praia do
Cassino, tendo como referencial um ponto fixo localizado a beira mar.
3. RESULTADOS
De acordo com os dados do modelo global obteve-se os seguintes resultados:
Evento dos dias 10, 11 e 12 de março de 1998.
No dia 10 ocorreu uma ciclogênese próximo ao litoral do RS entre 32°-38° de latitude sul e entre 51°45° de longitude oeste, associada a um sistema frontal. Os dados do modelo global, em 1000 mb,
mostram que a pressão no centro do ciclone era de 995 mb, com ventos associados de componente sul
e oeste que chegaram a 20 m/s de intensidade (fig.1a). A vorticidade relativa ciclônica deste sistema,
em 500 mb, foi 16x10-5s-1 e a convergência do vento, em 850 mb, foi 4x10-5s-1 (fig. 1b). Sobre o
centro da Argentina, em 1000 mb, estava localizado um sistema de alta pressão, com pressão no seu
centro de 1025 mb, gerando ventos de sul e sudoeste ao litoral da Argentina, Uruguai e RS (fig.1a)
Observou-se que a combinação dos ventos do sistema de alta pressão e do sistema de baixa pressão,
sobre o oceano, acabou gerando uma pista de vento sul e sudoeste de aproximadamente 1887 km de
extensão meridional e 1110 km de extensão zonal, conforme descrito por Marone e Camargo(1994) no
evento de 18 de agosto de 1993 no litoral do estado do Paraná
No dia 11 o ciclone deslocou-se sobre o oceano, gerando ventos de componente sul e sudoeste, com
intensidade de 24 m /s, a menor pressão neste dia, em 1000 mb, no centro do ciclone foi 985 mb,
caindo 10 mb em 18 horas (fig.1c). A vorticidade relativa ciclônica as 18 UTC, em 500 mb,
intensificou para 18x10-5s-1 e a convergência do vento, em 850 mb, diminui para 2x10-5s-1. O sistema
de alta pressão, em 1000 mb, aproxima-se do litoral sul do RS, praticamente dominando esta área, a
pressão no seu centro era de 1020 mb. A pista de vento manteve-se sobre o oceano abrangendo uma
área de grande extensão, com ventos de componente sul e sudoeste que atingiam o litoral sul do RS.
Neste dia observou-se também, na Praia do Cassino, um aumento significativo do nível do mar,
avançando até as dunas frontais.
No dia 12 o ciclone afastou-se do continente, indo na direção sudeste, com ventos associados de
componente sul e sudoeste, a pressão, em 1000 mb neste dia, subiu para 990 mb,(fig.1e) a vorticidade
relativa ciclônica, em 500 mb, diminuiu para 16x10-5s-1 e a convergência do vento, em 850 mb,
também diminuiu para 1x10-5s-1 (fig. 1f), mostrando que o ciclone já não estava tão intenso. O sistema
de alta pressão, em 1000 mb, praticamente dominou a região sul do Brasil, gerando ventos de sudeste
próximo ao litoral do RS. A pista de vento, gerada pela combinação dos ventos do sistema de alta
pressão e do sistema de baixa pressão, sobre o oceano, afasta-se do continente (fig.1e). O nível do mar
manteve-se alto, voltando a seu nível normal no dia 13 deste mesmo período.
Evento dos dias 17, 18 e 19 de abril de 1998.
No dia 17 observou-se a existência de um ciclone sobre parte do RS e Uruguai, localizado
aproximadamente entre 28°-36° de latitude sul e entre 50°-58° de longitude oeste, associando a um
sistema frontal que estava sobre o oceano. A pressão, em 1000 mb, no centro deste sistema foi de
1005 mb, o vento de maior intensidade associado foi de componente leste e nordeste com intensidade
de 18 m/s.(fig.2a). A vorticidade relativa ciclônica, em 500 mb, foi de 12x10 -5s-1 e a convergência do
vento, em 850 mb, foi 3x10-5s-1 (fig 2b).
No dia 18 pode-se observar, de acordo com o modelo global, que o ciclone começava a deslocar-se
sobre o oceano, o vento de maior intensidade associado era de sudeste com 18 m/s de intensidade, e
verificou-se também que o vento de noroeste atingia o litoral da área em estudo com 16 m/s de
intensidade, a pressão, em 1000 mb, no centro do ciclone caiu para 1000 mb, (fig.2c), a vorticidade
relativa ciclônica, em 500 mb, permaneceu 12x10-5s-1 e a convergência do vento, em 850 mb,
aumentou para 2x10-5s-1 (fig.2d). Neste dia foi observado um aumento do nível do mar na área em
estudo, mas somente na madrugada e durante o dia, voltando ao seu nível normal a tardinha, não tendo
longa duração como no evento de março.
No dia 19 o ciclone já estava sobre o oceano, próximo ao litoral do RS e Uruguai. O vento de maior
intensidade associado a este sistema foi de nordeste com 24 m/s de intensidade, e o vento gerado
também por este sistema e que atingia o sul do litoral do RS era de sudoeste com aproximadamente 14
m/s de intensidade, a pressão, em 1000 mb, no seu centro permaneceu 1000 mb, (fig.2e), a vorticidade
relativa ciclônica, em 500 mb, diminuiu para 8x10-5s–1 e a convergência do vento, em 850 mb, caiu
para 1x10-5s-1. Neste dia o nível do mar estava no seu nível normal.
4. DISCUSSÃO
Ao analisar e comparar os resultados acima observou-se, no evento de março, que os efeitos do
ciclone, em combinação com os efeitos do anticiclone acabaram gerando uma pista de vento sul e
sudoeste sobre o oceano que levou ao aumento do nível do mar no litoral sul do RS no período
estudado. É importante salientar que no dia em que foi observado o aumento do nível do mar na área
em estudo a pista de vento abrangia uma área de grande extensão meridional com aproximadamente
1998 km, e permaneceu aproximadamente 42 horas sobre o oceano gerando ventos de forte
intensidade ao litoral do RS. Neste mesmo dia a pressão, em 1000 mb, no centro do ciclone teve seu
menor valor (985 mb), com uma queda de 10 mb num intervalo de 18 horas, assim como, em 500 mb,
a vorticidade relativa ciclônica também alcançou seu valor máximo de 18x10-5s-1, no horário das 18
UTC.
Resultados semelhantes, ao evento de março, foram encontrados por Carneiro e Saraiva (1997), ao
estudarem o evento ocorrido nos dias 3, 4 e 5 de abril de 1997 na Costa do RS, quando observaram um
sistema de alta pressão sobre o continente e um sistema de baixa pressão sobre o oceano, e concluíram
que a combinação destes dois sistemas sobre o oceano acabou gerando uma pista de vento de
quadrante sudoeste e de alta intensidade que através do transporte de Ekman acabou gerando um
aumento do nível do mar no litoral sul do RS.
Ao analisarmos o evento de abril observamos que apesar do vento associado ao ciclone ter sido intenso
chegando a 24 m/s de intensidade, não era o mesmo que atingia o litoral sul do RS, este era de
sudoeste e alcançou sua intensidade máxima de 16 m/s. Não observou-se também a existência do
sistema de alta pressão que juntamente com o sistema de baixa pressão formasse uma pista de vento,
na verdade esta pista existiu, no entanto devido somente aos ventos gerados pelo ciclone de direção
sudoeste que atingiam o litoral do RS, mas de pequena extensão e de curta duração próximo a área em
estudo. Assim como a vorticidade relativa ciclônica, em 500 mb, não foi tão alta (12x10 -5s-1) quanto a
do evento de março e a pressão, em 1000 mb, no centro do ciclone também não foi tão baixa, seu
menor valor foi 1000 mb, mostrando que este sistema não foi tão intenso quanto ao do mês de março
para que pudesse fazer com que o nível do mar permanecesse por longo tempo em elevação.
5. CONCLUSÃO
Pode-se concluir, preliminarmente, de acordo com os dois casos analisados que foi preciso, a
existência de um sistema de baixa pressão muito intenso, com forte vorticidade ciclônica e baixa
pressão no seu centro assim como a existência de um sistema de alta pressão sobre o continente que
juntamente com o sistema de baixa pressão localizado no oceano acabou gerando uma pista de vento
sul e sudoeste de grande extensão e intensidade, sobre o oceano e este cisalhamento da pista de vento
sobre a superfície do mar provocou a geração de ondas e o vento de sudoeste através de Ekman gerou
o aumento do nível do mar na área em estudo. No evento de abril, alem do sistema não ter sido tão
intenso, não houve também a existência do sistema de alta pressão em combinação com o sistema de
baixa pressão para a formação da pista de vento de grande extensão e duração, com ventos de sul e
sudoeste atingindo o litoral sul do RS, por este motivo acredita-se que o nível do mar não permaneceu
em elevação por longo tempo nesta região
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARNEIRO, C. P.; SARAIVA, J. M. B., 1997. Monitoramento de Ciclogêneses e Ciclones no Litoral
do Rio Grande do Sul. VII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada e I Fórum LatinoAmericano de Geografia Física Aplicada, Anais-vol.I, Curitiba/Paraná-Brasil
CAVALCANTI, I. F. A., 1995. Sistemas Frontais e Ciclones Extratropicais. CPTEC-INPE. IV Curso
de Interpretação de Imagens e Análise Meteorológica. São José dos Campos-SP.
MARONE, E.; CAMARGO,R.; 1994. Marés Meteorológicas no litoral do Estado do Paraná: evento de
18 de agosto de 1993. Nerítica, 8:73-85.
Fig. 1a - vetor velocidade do vento (m/s) e pressão (mb)
em 1000 mb.
Fig. 1c - vetor velocidade do vento (m/s) e pressão (mb)
em 1000 mb.
Fig. 1e - vetor velocidade do vento (m/s) e pressão (mb)
em 1000 mb.
Fig. 1b - vorticidade relativa (10-5s-1) em 500 mb e
divergência do vento (10-5s-1) em 850mb.
Fig. 1d - vorticidade relativa (10-5s-1) em 500 mb e
divergência do vento (10-5s-1) em 850 mb.
Fig. 1f - vorticidade relativa (10 -5s -1 ) em 500 mb
e divergência do vento (10 -5s-1) em 850 mb.
Fig. 2a- vetor velocidade do vento (m/s) e pressão (mb)
em 1000 mb .
Fig. 2c - vetor velocidade do vento (m/s) e pressão (mb)
em 1000 mb.
Fig. 2e - vetor velocidade do vento (m/s) e pressão (mb)
em 1000 mb.
Fig. 2b - vorticidade relativa(10-5s-1) em 500 mb e
divergência do vento (10-5s-1) em
850 mb.
Fig. 2d - vorticidade relativa (10-5s-1) em 500 mb e
divergência do vento (10-5s-1) em 850 mb.
Fig. 2f - vorticidade relativa (10-5s-1) em 500 mb e
divergência do vento (10-5s-1) em 850 mb.
Download