Estudo da relação entre despesa e investimento - Unifal-MG

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE DESPESA E
INVESTIMENTO PÚBLICOS E CRESCIMENTO E
INFLAÇÃO NO BRASIL (1945-1970)
NAYANNE MARA SILVA GASPAR
Varginha/MG
2014
1
NAYANNE MARA SILVA GASPAR
ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE DESPESA E
INVESTIMENTO PÚBLICOS E CRESCIMENTO E
INFLAÇÃO NO BRASIL (1945-1970)
Trabalho de conclusão de curso apresentado como
requisito para conclusão do curso de Economia com
ênfase em Controladoria da Universidade Federal de
Alfenas campus Varginha.
Professor orientador: Thiago Fontelas Rosado Gambi
Varginha- MG
2014
2
Sumário
Introdução ................................................................................................................................... 4
1. A grande depressão e o pensamento keynesiano .................................................................. 10
2. Os keynesianos e seus críticos .............................................................................................. 19
2.1. A crítica monetarista ...................................................................................................... 20
2.2. A crítica novo-clássica ................................................................................................... 21
3. Um estudo econométrico de variáveis selecionadas utilizando a causalidade de Granger:
despesa e investimento públicos e crescimento e inflação no Brasil (1945-1970) .................. 24
3.1. Aspectos metodológicos ................................................................................................ 24
3.2. Aplicação ....................................................................................................................... 28
Considerações finais ................................................................................................................. 36
Referências ............................................................................................................................... 37
3
Resumo:
O objetivo principal deste trabalho é analisar o impacto das variáveis econômicas como
despesa do governo e investimento público e crescimento e inflação no período entre 1945 à
1970 para o Brasil através da aplicação da causalidade de Granger. Para as variáveis citadas
anteriormente, foi possível, interpretar os resultados a partir do contexto brasileiro somado ao
arcabouço teórico dos principais autores e de suas correntes e pensamento de forma a
contribuir com o entendimento deste trabalho. Os resultados mostraram uma causalidade
entre investimento e nível de crescimento e despesa e crescimento, enquanto o nível de
despesa e inflação e crescimento econômico e inflação não tiveram relação de causalidade.
Abstract:
The main purpose of this paper is to analyze the impact of economic variables such as
government spending and public investment and growth and inflation in the period from 1945
until 1970 for Brazil by applying the Granger causality. For the variables mentioned before, it
was possible to interpret the results to Brazilian context added to the theoretical framework of
the main authors and their kind of thought in order to contribute to the understanding of this
work. The results showed a causality between investment and level of economic growth and
spending and growth, while the level of spending and inflation and economic growth and
inflation had no causal relationship.
4
Introdução
A discussão sobre o papel do Estado na economia varia de acordo com o contexto
vivido pela sociedade e com seu grau de evolução, alternando fases de maior intervenção
estatal e fases em que sua atuação se restringe ao mínimo para não atrapalhar o
funcionamento do mercado. Essas fases estão teoricamente relacionadas, respectivamente, ao
pensamento econômico keynesiano1 e liberal.
Ao longo do tempo, observa-se certo movimento pendular na intervenção do Estado
na economia. A doutrina liberal, que se consolidara no século XVIII, abordava a ação do
Estado na margem do sistema econômico, ou seja, como preconizava Adam Smith, de
maneira externa, visto que o mercado possuiria mecanismos estabilizadores automáticos, por
meio da concorrência, capaz de corrigir seus desequilíbrios e garantir a eficiência, caso não
sofresse influencias externas (OLIVEIRA, 2009). Para Smith, o Estado deveria ter três
funções clássicas:
No limite da atuação do Estado, Smith prevê três intervenções clássicas: Financiar,
através de gastos, a força militar para proteger a sociedade contra a invasão
estrangeira; proteger os membros da sociedade contra a injustiça que possa vir a
ser cometida por outros membros; manter instituições e obras públicas que
proporcionam vantagens para a sociedade mas que não oferecem uma possibilidade
de lucro que compense a vida privada (MORAES, 1996:84).
Adam Smith insere em seu arcabouço teórico a mão invisível que seria responsável,
por intermédio da concorrência, de promover a melhor alocação de recursos que levaria a
economia ao equilíbrio natural. A partir da concorrência perfeita, a Lei de Say2, que também
oferece sustentação da ordem liberal, garantiria a igualde entre oferta e demanda na economia,
não havendo espaços para a formação de estoques de produção. Se houvesse flexibilidade de
1
Torna importante ressaltar que o embasamento deste trabalho consiste em autores ligados a síntese
Neoclássica, que absorve a linha de raciocínio de John Maynard Keynes que é inserido no contexto da
economia neoclássica.
Para Lima (2003) (...)”a síntese neoclássica busca comprovar que o maior avanço de Keynes não foi ter
desenvolvido uma contribuição analítica da demanda efetiva, da preferência pela liquidez e do papel da
incerteza no âmbito da economia monetária da produção, mas sim teria sido, simplesmente, alertar para os
mecanismos que obstaculizam o alcance do factível equilíbrio de pleno emprego no curto prazo. Nessa
perspectiva, a revolução keynesiana ficou reduzida a um mero caso particular do modelo (neo)clássico.” (apud
Busato;Pinto, 2008:115)
A síntese foi desenvolvida inicialmente por John Hicks que posteriormente, foi popularizada por Paul
Samuelson.
2
Jean-Baptiste Say, economista francês.
5
salários e não intervenção do Estado na economia, toda produção encontraria seu mercado.
Era o famoso laissez-faire.
Do final do século XVIII até as primeiras décadas do século XX essa era a ideia
predominante na economia, apesar das sucessivas crises capitalistas. Entretanto, na década de
1920, ficava claro que o sistema baseado no laissez-faire não estava sendo capaz de suportar a
crescente globalização, marcada pela intensificação da divisão do trabalho, irregular
crescimento econômico e acelerado progresso técnico advindo principalmente da segunda
revolução industrial. A quebra da bolsa de Nova York e a grande depressão mostraram que foi
a “ausência de qualquer solução dentro do esquema da velha economia liberal que tornou
tão dramática a situação dos tomadores de decisão econômicas” (HOBSBAWM 1995:98).
De acordo com Hobsbawm (1995), com o laisse-faire, o comércio caíra cerca de 60% entre
1929 a 1932 e como contrapartida países se tornaram cada vez mais protecionistas para não se
exporem a turbulências econômicas de repercussão mundial.
Em meio a incapacidade de tirar a economia de sérios problemas sociais e econômicos
vividos no final da década de 1920, aumentou o questionamento à teoria liberal vigente e
abriu-se espaço para o surgimento das ideias de John Maynard Keynes, cuja influência já era
sentido desde o final da primeira guerra (BEAUD, 2000).
As ideias de Keynes3 foram consideradas uma revolução no pensamento econômico
basicamente porque traziam em seu escopo a intervenção do Estado para tirar a economia da
depressão que a atingiu na década de 1930. Para Keynes, governos simpáticos à economia
ortodoxa - isto é, ao laissez-faire - que utilizavam ferramentas liberais estavam prolongando a
depressão vivida pelos países desenvolvidos capitalistas. Economistas liberais aconselhavam
que se deixasse a economia funcionar sem intervenção, mas governos que, além de proteger o
padrão-ouro com políticas deflacionárias, apegavam-se à ortodoxia financeira, ao equilíbrio
de orçamento e à redução de despesas, visivelmente não tomavam a melhor decisão
(HOBSBAWM, 1995:107). De acordo com Keynes, era preciso que o Estado estimulasse a
demanda agregada por meio do aumento do gasto público para gerar empregos e retirar a
economia da crise.
3
Sistematizadas no livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicado em 1936.
6
A teoria keynesiana rompia com os tradicionais moldes econômicos liberais que
atribuíam ao livre mercado a tarefa de levar a economia ao equilíbrio e sanar as possíveis
crises que viessem a atrapalhar o bom funcionamento da economia. O problema do
pensamento e das políticas liberais foi o não restabelecimento da economia ocidental e a
degradação cada vez maior da situação marcada pelo alto nível de desemprego, declínio de
consumo e falência de industriais que não conseguiam corrigir as superproduções, além da
baixa de preços de produtos agrícolas.
Nesse contexto, o liberalismo poderia ser interpretado “como uma construção mítica e
incompatível com o capitalismo do século XX” (FONSECA, 2010), por não se ater à realidade
que mostrava o crescimento desigual entre mercado e consumo. A grande depressão da
década de 1930 era a grande prova do funcionamento inadequado do mercado. Para
Alvarenga (2010), essa
foi uma crise de superprodução e de subconsumo, já que não havia demanda
suficiente para absorver toda a oferta, o que fez com que sobrassem muitos produtos
sem serem consumidos, que repercutiu em uma queda generalizada dos preços
(acentuada deflação) que, por sua vez, teve como decorrência uma redução
expressiva da renda dos empresários que, por causa do prejuízo que tiveram,
diminuíram substancialmente os investimentos, o que fez decrescer
significativamente o nível de emprego.
Percebe-se que para o autor, a crise deu-se por excessos da oferta contra a
insuficiência de demanda que propiciaram queda das variáveis macroeconômicas como renda,
emprego e nível de preço. Essa situação não era prevista pela teoria liberal pois, baseada na
lei de Say anteriormente referida, toda oferta encontraria sua demanda. Keynes criticava essa
lei e considerou em sua teoria o caso do excesso de oferta ou, em outras palavras, de demanda
insuficiente para se atingir o pleno emprego.
Hobsbawn (1995:104), falando sobre a maior crise capitalista, segue a mesma linha
“como a demanda da massa não podia acompanhar a produtividade em rápido crescimento
do sistema industrial nos grandes dias de Henry Ford, o resultado foi superprodução e
especulação. Isso, por sua vez provocou o calapso”. A revolução industrial trouxe consigo o
rápido crescimento da produção em larga escala devido aquisição de novas tecnologias, mas
que competia covardemente com o lento crescimento do consumo por parte dos indivíduos,
7
que não estavam preparados para o consumo em larga escala. Ou seja, o desequilíbrio entre
oferta e demanda não demoraria a aparecer.
Consumada a crise nos Estados Unidos - país este que, não só era conhecido, como de
fato era a maior economia do planeta -, vários países, inclusive de economias
subdesenvolvidas, como o Brasil, sofreram reflexos da conjuntura econômica advindos da
maior potência mundial. No Brasil, por exemplo, diante da grande produção de café, foi
preciso estocar o produto, o mais importante da pauta de exportação brasileira, para segurar
seus preços. Além disso, devido à crise, os Estados Unidos cessaram o crédito internacional,
dificultando o financiamento dos déficits comerciais dos países mais pobres.
Neste contexto de crise duradoura da economia mundial, com alto nível de
desemprego, superprodução e baixa generalizada de preços, é que Keynes contesta a mão
invisível de Smith por não haver dado uma solução do mercado para o problema que
culminava com a depressão vivida na economia. Assim, segundo Fonseca (2010):
uma característica marcante da crítica de Keynes ao liberalismo é seu apelo à razão
prática. O liberalismo está errado porque não funciona. Poderia até ter sido útil no
passado; no mundo do século XX, e principalmente com a perda da hegemonia
britânica, deixara de sê-lo. Sua existência é questionada tendo como critério a
utilidade.
Keynes não considerava eficiente a mão invisível de Adam Smith por acreditar que a
teoria liberal não passava de uma ilusão. A visão ortodoxa era criticada por Keynes pois,
segundo esta teoria, baseada na lei de Say, não poderia haver crises de superprodução nem
desemprego involuntário, contexto totalmente oposto ao vivido a partir da crise 1929.
Após, queda do liberalismo por não sustentar a base do sistema econômico capitalista,
o Estado passava a ter cada vez mais responsabilidade na conjuntura econômica para
reaquecer setores da economia. O novo Estado, que ocupou seu lugar principalmente póssegunda guerra mundial, passou a ter maiores atribuições se comparado ao período anterior
liberal: “de um Estado teoricamente passivo e improdutivo, se limitando apenas a margem do
sistema, transformar-se-ia num Estado fortemente intervencionista, indispensável para a
vitalidade e estabilidade do sistema” (OLIVEIRA, 2009:42).
8
A intervenção na economia se daria por meio da política econômica e o Estado
passaria a atuar de forma mais ativa com o compromisso de reduzir o desemprego e recuperar
a atividade econômica. As políticas fiscal e monetária eram as mais importantes e tinham,
respectivamente, como ferramentas básicas a receita pública, advinda principalmente de
tributos e o controle de oferta monetária com reflexos diretos no nível da taxa juros da
economia influenciando conjuntamente para criar demanda efetiva e diminuir o desemprego
para assim retomar a expansão da economia. Keynes defendia a intervenção do Estado para,
principalmente, incentivar a demanda agregada em tempos de crise:
A ideia básica de Keynes é simples. A fim de manter o pleno emprego na economia,
o governo deve gerar déficits orçamentários quando a economia entrar em recessão.
A baixa atividade econômica de então deve-se ao fato de o setor privado não estar
investindo o suficiente (FEIJÓ, 2007:462).
O catalizador para reaquecimento da economia seria, portanto, o investimento, que
seria capaz de estimular a demanda agregada e, por extensão, a geração de empregos. É com o
pano de fundo da crise do liberalismo e da ascensão das ideias keynesianas que este trabalho
analisará a relação entre despesa e investimento públicos e crescimento e inflação no Brasil
entre 1945 e 1980, isto é, do momento em que a teoria keynesiana funciona para gerar
crescimento econômico em todo o mundo até sua crise no final da década de 1970 com as
crises de estagnação econômica combinadas com alta da inflação.
O trabalho está estruturado em três capítulos: no primeiro, o objetivo será tratar da
discussão acerca do trade-off entre nível de gasto público e inflação, crescimento econômico,
entre o período antes de 1930, pós 1930 até início de 1970. No capítulo 2, são apresentadas as
críticas ao pensamento Keynesiano vigente no pós-segunda guerra, período de crescimento
econômico e baixas taxas de inflação, a partir do pensamento de monetaristas e novoclássicos. Finalmente, no capítulo 3, será feita a exposição do nível do gasto público
comparada com outras séries históricas, a fim de verificar a inter-relação destas variáveis e
seus reflexos no ambiente macroeconômico brasileiro no período de 1945 a 1970.
9
1. A grande depressão e o pensamento keynesiano
A existência de ciclos econômicos já era conhecida dos homens de negócio desde
antes do século XIX, mas havia sempre o pensamento otimista de que a crise seria passageira
e tudo voltaria ao normal seguindo o movimento do mercado e a aprendizagem decorrente das
instabilidades econômicas anteriores.
A característica que distinguia a grande depressão da década de 1930 era a
permanência de um ciclo situado abaixo do inaceitável por todas as economias desenvolvidas,
cujo ritmo de crescimento se reduziu a patamares bem inferiores ao esperado. No final da
década de 1920, não se esperava a crise nos Estados Unidos. Este cenário inapropriado para o
crescimento sustentável das economias capitalistas estava longe da perspectiva, por exemplo,
do então presidente estadunidense Calvin Coolidge que, em uma mensagem ao Congresso em
4/12/1928, descrevia um cenário de alta produtividade em que as demandas estavam além das
necessidades e atribuída ao luxo, com crescente produção interna e externa sendo consumida
à velocidade da produção. Segundo ele, “o país pode[ria] encarar o presente com satisfação
e prever o futuro com otimismo” (apud HOBSBAWM, 1995:90). Este trecho evidencia a
incapacidade de se prever uma crise em período tão próximo A uma depressão econômica que
chegara em 1930.
O principal problema econômico e social da grande depressão era o desemprego em
massa. De acordo com Beaud (2000), a classe operária estava enfraquecida não só pelo alto
nível de desemprego, que passa de mais de um milhão de trabalhadores desempregados para
chegar à casa dos três milhões em 1930, mas também pelo declínio dos salários daqueles que
possuíam emprego. Outra característica marcante do período era que o desemprego não era
temporário, mas permanente (HOBSBAWM, 1995).
De acordo com Saes e Saes (2013), o cenário da década de 1930 foi marcado por
abrupta redução do nível do PIB e dos investimentos nos Estados Unidos e pela intensificação
do desemprego:
A profundidade da grande depressão é suficientemente esclarecida por alguns
indicadores: entre 1929 e 1933, o declínio do PIB foi cerca de 30%, o da produção
industrial, de quase 40%, o desemprego ascendeu 25% da força de trabalho, a
deflação foi da ordem de 25% e as exportações se reduziram a pouco mais de 30%
do que eram em 1929 (SAES; SAES, 2013).
10
Para Kindleberger (apud SAES; SAES, 2013:358), o gasto das famílias e das empresas
foi impactado após a quebra da bolsa em 1929 pelo fato de haver uma procura de ativos
líquidos dos agentes, o que ocasionou a depressão. Assim, o primeiro agente tentava alívio da
crise vendendo seus ativos como bens imóveis, enquanto o segundo agente, as empresas,
reduziam seu nível de estoques e os bancos, terceiro agente, mas não menos importantes,
apertavam o crédito para famílias, o que gerava a deflação no período.
Para completar, no período como tentativa de melhorar o cenário doméstico, optou-se
como tentativa de refúgio da crise, medidas protecionistas, ilustradas na lei Smoot-Hawley, de
1930, que aumentava a barreira alfandegária que ocasionava uma diminuição abrupta das
importações. Esta política gerou reflexos negativos, pois se ativou automaticamente políticas
também de caráter protecionistas em outros países diminuindo o fluxo do comercio
internacional.
Para Romer (Apud SAES; SAES, 2013), a redução dos gastos foi levada pelo
constante aumento de incertezas sobre o futuro decorrente da crise, que postergou a compra
principalmente de ativos duráveis, desse modo, a queda do produto real de fins de 1929 a fins
de 1930, teria como ponto de partida a queda de preços das ações pela incerteza que teria
gerado sobre o futuro da economia. E ainda para Keynes acerca da crise:
Eu atribuo a recessão de 1930, primeiramente aos efeitos desestimuladores sobre o
investimento no período de dinheiro caro que precedeu o colapso do mercado de
ações e só secundariamente ao próprio colapso. Mas tendo ocorrido o colapso, ele
agravou substancialmente nos Estados Unidos, ao provocar desinvestimento no
capital produtivo (SAES; SAES, 2013).
Ou seja, neste âmbito, o declínio da variável investimento levou à redução de outros
componentes que fortaleceram a permanecia da crise com menor nível de consumo e menor
demanda de investimento privado. Para Temin (apud SAES; SAES, 2013), a redução da
primeira variável foi responsável para diminuição do emprego e do PIB no contexto da grande
depressão.
Mais uma vez, a hipótese do dispêndio ao aceitar como ideia central que a contração
trouxe menor nível de gastos por parte do governo, sugere que o Estado deve realizar maiores
dispêndios, assim como dissertava Keynes em sua obra Teoria do emprego, do Juro e da
Moeda. Na prática, a saída encontrada para crise, pelo então presidente Franklin Roosevelt,
foi elaborar o New Deal, o qual procurava restabelecer o sistema capitalista com planos de
11
melhora para conjuntura dos anos de 1930, contribuindo para o crescimento econômico
juntamente com o Estado, banindo inflação e desemprego do cenário macroeconômico.
Saes e Saes (2013) fazem um parênteses em seu livro para discutir a relação entre
pensamento keynesiano e o New Deal, levantando a questão de que o New Deal não foi
aplicado pelas ideias de Keynes pelo fato de inconsistência temporal, dado que as propostas
de Keynes foram postuladas após a primeira etapa do New Deal, tendo a publicação formal da
obra Keynesiana somente em 1936, mas que de certa forma, o New Deal, antecipava as ideias
de Keynes para enfrentar a recessão. E, é verdade que antes mesmo de 1929, Keynes já
atribuía a falta de investimento como causas de depressão que viria assombrar o cenário
econômico no final daquele ano.
No pós-segunda guerra, tempo de hegemonia Keynesiana, se estimulou o vínculo do
trabalhador ao emprego no contexto do welfare state. Tal contexto visava reformulações
políticas monetárias e fiscais expansionistas com atuação de um Estado forte, que auxiliavam
o ambiente macroeconômico para tirar a economia da depressão, criando um número
expressivo de bens e serviços públicos, dada a maior responsabilidade de atuação do Estado
na economia.
A aceitação do welfare state ocasionou maior nível de investimentos tanto da parte
privada quanto da parte pública resultando na dinamização da atividade econômica em
economias mais avançadas
ampliando, de forma acelerada, os ganhos de produtividade e abrindo espaço, dessa
forma, para que se pudessem conjugar elevações expressivas dos salários reais com
aumento da lucratividade das empresas, estimulando novos surtos de investimentos
produtivos, em contexto de ampliação do consumo das famílias e aumento da massa
salarial (MATTOS, 2009).
Várias economias de todo o globo passaram por grandes transformações. O Brasil, por
exemplo, entre 1950 e 1960 teve notável crescimento de sua economia como um todo,
especialmente no que diz respeito ao nível de industrialização. Pode-se verificar o avanço das
economias em geral no quadro 1:
Quadro 1: Produto Interno Bruto (1913-1973): Taxas médias anuais de crescimento por
regiões
Região
1913-1950
1950-1973
Europa Ocidental
1,4
4,7
12
EUA, Canadá, Austrália,
2,8
4,0
África
3,0
4,4
América Latina
3,4
5,3
Mundo
1,9
4,9
Nova Zelândia
Fonte: Dados de MADDISON (1995), p.41. Quadro modificado a partir de SAES; SAES, 2013.
Pode-se notar pelo quadro 1 a elevação do nível de crescimento das regiões, elaborada
por Maddison, no pós-guerra, entre 1913 a 1973, evidenciando a recuperação das economias
no pós guerra, além de ser perceptível o crescimento mundial das economias de 1,9 para 4,9
no agregado. Para Saes e Saes (2013), o contexto do pós-segunda guerra foi totalmente oposto
ao anterior da primeira guerra mundial, ou seja, o contexto agora não se utilizava mais da
corrente liberal que regia as economias em 1914.
Portanto, para evidenciar a nova postura econômica no pós-guerra, várias instituições
que foram de extrema importância para a manutenção do crescimento dos países capitalistas
como: ONU (Organização das Nações Unidas) que após sua criação surgiram mais
organizações de âmbito social, como UNESCO (Organização Educacional Científica e
Cultural), OIT (Organização Internacional do Trabalho) e CEPAL (Comissão Especial para
América Latina). Para a restruturação do Sistema monetário internacional, teve-se o FMI
(Fundo Monetário Internacional), BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento), criado a princípio para auxiliar a reconstrução da Europa no pós Guerra. A
criação dessas entidades evidencia uma nova postura dos governos, mostrando a necessidade
de se ter intervenção estatal “a fim de garantir determinados objetivos que a livre ação dos
mercados não permitia alcançar” (SAES; SAES, 2013:433)
Assim, acerca da teoria geral de Keynes, afirma Galbraith (apud SAES; SAES, 2013):
“nunca, desde Adam Smith e Karl Marx, as ideias tiveram um efeito tão grande sobre as
instituições públicas”, dado que a Teoria Geral de Keynes questionava a política liberal,
provando que a depressão não era um evento passageiro, podendo a vir se tornar uma situação
permanente de desemprego e má exploração dos recursos econômicos.
O desafio econômico da grande depressão era banir o desemprego em massa e a
solução foi sendo estruturada por economistas de linha intervencionista, sendo John Maynard
Keynes seu principal expoente. Para esta linha de pensamento, o desemprego seria banido
13
com a demanda originada pelos trabalhadores em massa que traria um efeito positivo em
economias que estavam em crise.
Em um cenário mais amplo da crise, Keynes propunha como saída volta da atividade
industrial e, ao contrário do que pregavam os ortodoxos, insistia que o empresário retomasse
suas atividades com otimismo ativando o emprego que traria renda aos trabalhadores, ou seja,
que traria a “retomada da atividade, possibilitando reduzir o desemprego e sem amputar o
poder de compra dos trabalhadores” (BEAUD, 2004:273). E a política econômica baseada
nas ideias de Keynes, isto é, aumento do gasto público e aumento de renda do trabalhador
para estimular a demanda agregada, foi posta em prática durante os chamados anos de ouro do
capitalismo.
Com a prática da nova política no pós-guerra, verificou-se um crescimento
generalizado nos países capitalistas, contendo progresso em produtividade e nível de
industrialização se comparados com o século XIX, tendo atenção especial para os Estados
Unidos que dominavam o cenário mundial com um terço da produção industrial (BEAUD,
2004:314).
Com o apoio do Estado, seria possível adequar as ideias de Keynes no contexto
econômico. O Estado seria responsável por ajustar oferta e demanda e assim tirar a economia
da recessão econômica. Era o contrário do que dizia a lei de Say cuja implicação é a ideia de
que mercados livres se regulam automaticamente no nível de equilíbrio de pleno emprego.
A política econômica de Keynes para retirar a economia da crise é anti-cíclica, isto é, a
recomendação é que, em fase de recessão econômica, o Estado poderia estimular a economia
estagnada por meio do estímulo aos investimentos privados que se encontram em nível
deficitário e do investimento público, elevando assim o nível de emprego a um patamar
adequado. Galbraith (1989:200) sintetiza os fundamentos keynesianos no trecho a seguir:
A economia moderna, afirmava Keynes, não encontra seu equilíbrio
necessariamente no pleno emprego; ela pode encontrá-lo no desemprego – o
equilíbrio do desemprego. A Lei de Say já não valia mais; poderia haver uma
demanda insuficiente. O governo pode e deve tomar medidas para combater esta
insuficiência. Numa depressão, os preceitos para se bem administrar as finanças
públicas cedem lugar a esta necessidade.
Além da política keynesiana, outros fatores contribuíram para a fase de maior
crescimento da economia capitalista depois a segunda guerra mundial. A evolução da
produtividade de deveu à instalação de novos equipamentos automatizados, à intensificação
14
no nível de trabalho em firmas, bancos, correios; e à reorganização do trabalho, linha de
montagem com fordismo e taylorismo, além de novos métodos de pagamentos.
Com todo o progresso vigorando até meados de 1960, subestimava-se mais uma vez
qualquer tipo de crise, a ponto do economista keynesiano Paul Samuelson afirmar que: “a era
pós-keynesiana deu-se nos meios de uma política de moeda e de imposto que lhe permite
criar o poder de compra indispensável para evitar as grandes crises (...). Com os nossos
conhecimentos atuais, sabemos seguramente como evitar uma recessão crônica” (apud
BEAUD, 2000).
No entanto, a era das certezas keynesianas também encontraria uma crise. De acordo
com Beaud, em 1970, a desaceleração do crescimento, alta de desemprego, inflação, perda de
poder de compra dos trabalhadores anunciavam que a crise pairava nos países capitalistas que
depositaram seus germes ainda em 1960, quando já se verificava perda no nível de lucros.
Segundo ele, a crise dos anos 1970 surgiu devido a instabilidades em diversas áreas tal como:
- esgotamento dos esquemas de acumulação em 1950-1960 nos países capitalistas (...);
saturamento do trabalho tipo linha de montagem; aumento de investimentos em mercados
externos para acomodação de filiais (...); acirramento na concorrência intercapitalista;
aumento de encargos; desatrelamento do dólar ao ouro; elevação do preço do preço do
petróleo; crescimento da desigualdade social (BEAUD, 2000).
Assim, a influência keynesiana repercutiu no ambiente dos mais importantes países
capitalistas até 1970, se debatendo com novos problemas que surgiram a partir de então. O
quadro 2 mostra como a crise econômica dos anos 70 e 80 se refletiu no crescimento
econômico de diversos países.
Quadro 2: Produto Interno Bruto rela per capita (Taxa média anual de crescimento composta
%)
País
1950-1973
1973-1992
Estados Unidos
2,4
1,4
Brasil
3,8
0,9
Alemanha
5,0
2,1
Argentina
2,1
-0,2
África do Sul
2,4
-0,6
Fonte: Dados de MADDISON (1995), p.62-63. Quadro modificado a partir de SAES; SAES, 2013.
15
Apesar de este estudo estar embasado até ao ano de 1970, o ano de 1973, foi inserido,
por representar a época de ruptura com Bretton Woods, que culminou no fim das taxas de
câmbio fixas, assim como pretendia os Estados Unidos, e a extensão de 1973 foi apresentada
por apresentar caráter ilustrativo a fim de revelar comparações importantes para os períodos.
Há de se notar pelo quadro 2, o contraste de crescimento dos países até o fim do período mais
intervencionista até 1973 com o pós 1973, marcado pela crise que acarretou no decréscimo do
nível de crescimento da maioria das economias mundiais.
Além, da diminuição do crescimento, a crise de 1970 veio acompanhada de inflação e
desemprego, surgindo no cenário, uma nova palavra que iria inserir como um novo vocábulo
na pauta dos economistas, a chamada “estagflação”, situação que combina estagnação
econômica e inflação.
Outro problema era a presença de inflação com o aumento do desemprego em 1970.
Esta combinação feria o princípio teórico de Phillips, na qual em ambientes de pleno emprego
gera maior atividade econômica, que ocasionam o maior o nível de salários e assim, maior o
custo de produção que pressiona o nível de preços. Em contraposição ao pleno emprego, as
“elevadas taxas de desemprego, tendem a provocar desaceleração econômica e menor
margem para o aumento de preços”, ou seja, a inflação não deveria acontecer no contexto de
baixa no nível empregado. 4 O quadro 3 evidencia desemprego e inflação em países
desenvolvidos antes e depois da década de 70:
Quadro 3: Taxa de desemprego e taxa de Inflação em Países selecionados (1950-1983)
(Variação percentual média ao ano no período).
País
Taxa de desemprego
Taxa de Inflação
1950-1973
1974-1983
1950-1973
1974-1983
Estados Unidos
4,6
7,4
2,7
8,2
Reino Unido
2,8
7,0
4,6
13,5
Itália
5,5
7,2
3,9
16,7
Fonte: Dados de MADDISON (1995), p.84. Quadro modificado a partir de SAES; SAES, 2013.
O ambiente econômico de 1970 já não era o mesmo de 1930. Na década de 70, as relações
interpaíses eram significativas. Um evento individual poderia, e até hoje pode, influenciar o
ramo de atividades de outras economias. O primeiro choque do petróleo em 1970 é um fato
4
A relação inversa entre inflação e desemprego é representada na chamada curva de Phillips.
16
que ilustra as ramificações de interligações entre os países. Assim, de forma bastante sucinta,
a venda de petróleo de países do oriente para Europa e Estados Unidos era feita a preços a
preços relativamente baixos, o que sustentava seu crescimento industrial.
No entanto, após a criação da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo),
houve uma tentativa de países membros que faziam parte da OPEP em negociar os preços
com países que importavam o petróleo. Após negociações, a OPEP diminuiu o nível de oferta
do produto que causou elevação no nível de preços. Assim, a evolução do preço por barril de
petróleo passava de “US$2,00 por barril (...), US$16,65 no final de 1973. E 1979 com o
segundo “choque do petróleo” levando a OPEP a fixar em mais de US$30 por barril”
(SAES; SAES, 2013:535).
Tal elevação dos preços trouxe uma enorme reviravolta para países que dependiam
integralmente do produto para continuar seu progresso no crescimento econômico, como foi o
caso de da Europa, onde o impacto na taxa de inflação em parte, aconteceu por conta do
fenômeno de aumento do preço do petróleo que induziu o aumento de preços de produtos
finais por encarecerem sua matéria prima.
Outro impacto da inflação, dado o aumento do nível de preços, foi o desemprego
crescente, pois, ao se tentar tratar de diminuir o nível da inflação as políticas restritivas são
colocadas em práticas para conter a inflação. Não só reajuste de preços do petróleo podem
explicar as crises de diversos países em 1970. Galbraith atribui a crise ao fato de existirem
pressões no nível de preços e salários. As empresas na época começaram a reagir contra a
queda de lucros, aumento o preço dos produtos que causava aumento nos preços
generalizados, tendenciando o aumento do preço dos salários, sem induzir o investimento
como contrapartida. Assim, a diminuição da demanda se tornaria o fato consumado, que gera
a estagnação em um ambiente já inflacionado.
Finalmente, em 1973, o fim de Bretton woods, trouxe o câmbio flutuante que
possibilitou os Estados Unidos a desvalorizar sua moeda incentivando o nível de exportação.
Este país também adotou política fiscal com crescente déficit público e política monetária
expansionista, chegando a juros reais negativos. O problema de geração de déficits trazia o
problema da inflação, o que ocasionava em uma desconfiança frente à moeda americana.
Diante desse panorama mais geral, vale falar um pouco sobre a situação brasileira.
Como uma extensão da ONU, a CEPAL, dirigida primeiramente pelo economista Argentino
17
Raúl Prebisch, tinha como principal argumento a tese que países tipo agrário primário
exportador, como o caso dos países da América Latina, não tinham como alavancar o
crescimento econômico competindo com países que exportavam produtos manufaturados
tendo os preços de produtos primários em ascendência no mercado internacional em
comparação aos manufaturados, fazendo com que os países tipo primário agrário exportador,
tivessem que ter uma produção cada vez mais ascendente em nível de exportação para se
equiparar ao mesmo volume de produtos manufaturados.
No Brasil, em meados de 1930, já se encontravam evidencias de industrialização no
país. No governo de Juscelino Kubitschek, a industrialização foi ainda mais promovida pelas
políticas indutoras da construção de um parque industrial, tendo auxílio do Estado durante
todo o período no que concerne ao planejamento e financiamento por meio, principalmente,
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, BNDE. No período governado por
militares a formação do parque industrial nacional foi completada.
Distanciando-se daquilo que foi projetado, entretanto, a industrialização não promoveu
o desenvolvimento junto ao crescimento. Teve-se aumento da dívida externa, especialmente
em 1970 com o choque do petróleo, e má distribuição de renda, mostrando que uma parcela
minoritária que se promoveu com a industrialização.
Assim, em meio a instabilidade, a pilastra keynesiana começava a sentir abalos
somente no final de 1960, ao se deparar com diferenças nas mudanças na demanda e valores
da sociedade encontradas em diferentes contextos vividos em 1930, cedendo espaço para o
discurso neoliberal que ganha forças a partir de então.
Em 1970, o déficit público de alguns países batiam recordes acompanhado de inflação
elevada e problema na balança de pagamentos no âmbito macroeconômico, e no âmbito
microeconômico, pôde-se verificar elevação dos preços, aumento de custos e diminuição de
produtividade sob um olhar mais geral do cenário econômico da época, evidenciando que a
política vigente estava passando por instabilidades, dando novo espaço para novas teorias
econômicas. Era esse também o caso do Brasil.
18
2. Os keynesianos e seus críticos
A política keynesiana que vigorou após a depressão dos anos 1930 postulava uma
política fiscal ativa, ora realizando maiores déficits governamentais em épocas de recessão
para reanimar a economia, ora, diminuindo o déficit em épocas de maior crescimento
econômico. Para os keynesianos, a moeda é considerada uma variável importante para
determinar o nível de atividade econômica, e sua velocidade de circulação é determinada
dentro do sistema, cabendo também, a outras variáveis econômicas o poder de afetar o nível
de atividade da economia.
A partir da formalização das curvas IS-LM criada por J. Hicks, que ficou conhecido
como “a” representação da teoria macroeconômica de Keynes, pode-se representar uma
política fiscal expansionista.
Assim, como comentado anteriormente, quando há um aumento do nível de gasto do
governo, para linha keynesiana, mantendo a quantidade de moeda constante, dada a oferta de
títulos públicos para financiar os gastos do governo, há um deslocamento para cima e para
direita da curva IS, de IS(G) 0 para IS(G) 1 . Tal deslocamento provoca aumento na renda (Y)
de Y 0 para Y 1 e taxa de juros (r), de r 0 para r 1 .
Gráfico 1: Efeitos de um aumento no gasto do governo na síntese keynesiana.
LM
r
r
1
r0
IS(G)
1
IS(G) 0
y
y0
y1
19
O maior nível de renda alcançado reflete uma maior demanda por moeda para finalizar
suas transações, que é amenizada pelo aumento de taxas de juros. Assim, com a taxa de juros
mais alta, a especulação da procura por mais moeda tem um decréscimo, ocasionando,
diminuição na demanda por estoque de moeda para realizar transações.
2.1. A crítica monetarista
Já, pela linha teórica dos monetaristas, há a forte fundamentação na quantidade de
moeda que circula na economia e no nível de nível de preços, podendo, a variação do estoque
de moeda ser colocada como variável principal e talvez única, na oscilação do PIB e da
inflação. Friedman justifica a última como um fenômeno advindo de um aumento da oferta de
moeda maior que o nível de bens e serviços produzidos, assim, “a inflação está em todo o
lado e é sempre um fenômeno monetário” (apud BERNIER, 2002:86). Com o enfoque ainda
sobre o nível de moeda, Friedman se contrapõe à eficiência da política fiscal dos keynesianos.
De acordo com Froyen (2008:256): “os monetaristas rejeitaram essa proposição e afirmaram
que a política fiscal em si, é em grande medida, ineficaz, e que o importante é o que acontece
com a quantidade de moeda”.
A teoria quantitativa da moeda evidencia a neutralidade da moeda em longo prazo do
modelo. Assim, “(...) em longo prazo, toda variação da massa monetária só tem influência
sobre as variáveis nominais o PIB em valor, e os preços” (BERNIER, 2002:86). Aloca-se,
portanto nesta teoria, variações no estoque de moeda contribuindo com as variações no PIB
real e na inflação, tendo a maior porcentagem do aumento do PIB absorvida pelo aumento de
preços. Quanto à política monetária, esta linha se preocupa em evitar que a moeda cause
alguma instabilidade que possa violar a estabilidade da economia e, para evitar tal
perturbação, o governo deve fazer uma política monetária previsível.
Os monetaristas creem que a política orçamentária não tem tanta importância por
apresentar efeitos de pouca relevância se comparados com a política monetária, por encontrar
uma relação fraca entre elasticidade da procura de moeda em relação à taxa de juros, ilustrada
em uma curva LM muito inelástica. Assim, uma política fiscal expansionista financiada a
títulos públicos leva ao fraco nível de crescimento econômico e à alta na taxa de juros que
ocasiona a diminuição do nível de investimento, como ilustra o gráfico 2:
20
Gráfico 2: Efeitos de um aumento no gasto do governo na síntese monetarista.
LM 0
r
r1
1
r0
IS1
IS 0
y
y0
y1
Assim, considerando os níveis de inclinação das curvas IS e LM do modelo dos
monetaristas, um aumento dos gastos do governo (G), de (G 0 ) para (G 1 ), a curva IS se
desloca para cima de (IS 0 ) para (IS 1 ). Assim como verificado no gráfico 2, o aumento dos
gastos do governo provocam aumento no nível de taxas de juros bem superior ao nível de
renda, que é alterado ligeiramente, ilustrado no deslocamento da renda (Y), de (Y 0 ), para (Y 1
).
2.2. A crítica novo-clássica
A escola novo-clássica, que tem como um dos principais expoentes Robert Lucas,
parte do princípio que os agentes são racionais, ou seja, as expectativas são racionais, os
agentes utilizam toda a informação disponível; As decisões econômicas são de embasamento
real, e não nominal ou monetário, e por último, eles são otimizadores permanentes.
Devido à expectativa racional de Lucas associada a não presença de ilusão monetária
pode-se confirmar a neutralidade da moeda no curto e longo prazo. O que não é anunciado
não é considerado antecipado para Lucas por surpreender os agentes induzindo a efeitos de
não neutralidade devido à falha de comunicação (antecipação).
21
Ainda, sobre esta escola, adicionam-se dois elementos em seu arcabouço teórico
representado pela dinâmica e a incerteza, além de conter em traços da teoria walrasiana que
modela matematicamente os modelos com alinhamento à visão de seus autores. Espera-se
também, que a aplicação do modelo seja feita em regras estáveis, devido as antecipações dos
agentes. Tal preocupação se torna válida utilizando o raciocínio de que se porventura as regras
forem modificadas, consequentemente a antecipação dos agentes também serão, por isso “os
antigos modelos não podem permitir comparar políticas econômicas alternativas (não
estáveis), uma vez que se considera seu coeficiente constante”. Essa é a famosa crítica de
Lucas (BERNIER, 2002:101).
É na escola dos novo-clássicos que se coloca o efeito crowding out nas economias,
onde tal efeito resulta em efeitos positivos na alta de juros, como tentativa de conter a inflação
por excesso de demanda que afastava o investimento. O efeito crowding out pode ocorrer na
presença de déficit público nas questões ligadas sobre o financiamento dos gastos
governamentais. Este efeito gera um aumento da taxa de juros, espantando os investimentos
privados da economia, ocasião esta, que pode acontecer em épocas de incentivo ao gasto do
governo.
Quanto à função de oferta, Lucas mantém o PIB em um nível apropriado, sendo as
flutuações decorrentes dos preços antecipados. Este autor enfoca a falta de habilidade das
firmas em tratarem variações no preço relativo do nível geral de preços. Assim, quando há um
aumento de preço, a teoria abre espaço para dois tipos de interpretação, sendo a primeira, um
aumento na origem em âmbito geral de preços, onde não há modificação concreta de preço
dos produtos assim, não há necessidade de modificar o nível da oferta dos produtos, enquanto
que a segunda, encontra-se no aumento de preço relativo de produtos, onde as firmas, neste
caso, aumentam a oferta destes produtos. Esta modificação na oferta pode ser advinda, por
exemplo, por uma oferta de moeda, confundindo os agentes que interpretam este choque
monetário com aumento dos preços relativos dos produtos. Por isso, as variações monetárias
que não são antecipadas induzem a formação do produto, enquanto que as antecipadas
resultam em sua neutralidade. Assim sendo, a formação de curva de Philips só irá existir
quando houver informação imperfeita na economia.
A respeito de uma política monetária, os novo-clássicos são a favor da estabilidade e
contra estímulos excessivos, podendo assim evitar déficits excessivos por parte do governo,
como o que aconteceu em 1980. Para eles, tal instabilidade na política fiscal prejudica a
22
antecipação dos agentes racionais inibindo a percepção correta sobre o futuro da economia,
que mesmo se abstendo de uma política crível, com crescimentos monetários baixos, não
consegue sobreviver com políticas fiscais com elevados déficits. Assim, simpáticos à corrente
dos novo-clássicos acreditam que um controle dos déficits orçamentários deve ser realizado a
fim de ter uma “política monetária inflacionária crível” (FROYEN, 2008:303).
Diante das mudanças ocorridas na economia e no pensamento econômico entre 1945 e
1970, partimos para o estudo da relação entre despesa e investimento públicos e crescimento e
inflação no Brasil, a fim de contrastar dados empíricos da economia brasileira com as
principais teorias surgidas no período.
23
3. Um estudo econométrico de variáveis selecionadas utilizando a causalidade de
Granger: despesa e investimento públicos e crescimento e inflação no Brasil (1945-1970)
Este capítulo apresenta historicamente, com auxílio da ferramenta econométrica, a
relação entre investimento, gastos públicos federais, Produto Interno Bruto (PIB),
evidenciando o nível de crescimento no Brasil e inflação entre 1945 e 1970. O estudo tem
como pano de fundo as mudanças ocorridas na economia e no pensamento econômico no
período em destaque, com o auge da economia capitalista nos trinta anos posteriores à
segunda guerra, conhecidos como a Era de Ouro, e seu declínio no início da década de 1970,
quando se entra no cenário econômico de crises e mudanças na economia mundial.
3.1. Aspectos metodológicos
Para o período, coletou-se dados da economia brasileira para realizar um estudo
econométrico, a fim de contribuir de maneira quantitativa para o corpo teórico do trabalho,
destacando ainda os períodos marcantes que foram advindos de alguma intervenção, bem
como seus efeitos na economia brasileira.
A partir da revisão teórica acerca das principais correntes de pensamento que
predominaram durante pré-crise de 1929 (pensamento liberal) até final da década de 1970
(pensamento keynesiano), serão analisadas quatro variáveis econômicas para o contexto
brasileiro: nível de despesa federal, crescimento econômico (PIB), inflação e nível de
investimento do Brasil.
Seguindo o viés de políticas keynesianas dentro do intervalo selecionado, o estudo irá
verificar o maior incentivo para a despesa federal, responsável por impulsionar o
investimento, que traria emprego para as economias que estavam em crise, e ainda estudará
qual foi o impacto na economia frente a este maior dispêndio, considerando as variáveis
restantes citadas.
Em uma tentativa de analisar o impacto entre algumas variáveis macroeconômicas no
período entre 1945 a 1970 para o Brasil, coletou-se dados históricos do período em questão,
das seguintes variáveis: crescimento econômico, inflação, e despesa do governo federal para
24
se analisar possíveis causalidades entre estas variáveis, e se o resultado em questão,
compreendeu a realidade no passado dentro do intervalo de tempo selecionado.
O período em destaque foi escolhido por representar em 1930, o início da crise
advinda de 1920 nos Estados Unidos, que refletiu na maioria das economias capitalistas, bem
como a sua superação nos anos que se seguem a partir de novas políticas econômicas. O
período mediano do intervalo selecionado representou no âmbito geral, para países de
economia capitalista, grande processo de crescimento, para se findar no início de 1970, com
novas perturbações que ocasionaram uma nova crise nas economias que completará o
raciocínio deste trabalho.
Primeiramente, escolheu-se estas variáveis econômicas, pelo fato de terem
apresentado grandes oscilações ao longo do período que chegaram a designar momentos de
progresso, crise, questionando, em momentos de crise, a ideia política que predominava na
época, seja mais conservadora, antes de 1930, seja ela mais expansionista, a partir de 1930.
A respeito da escolha das variáveis selecionadas, o nível de despesa do governo, por
diversas vezes foi contestado por gerar efeitos mais significativos na inflação do que no
crescimento em si. Mas por outro lado, simpáticos à corrente keynesiana, o nível de déficit
seria o responsável por dinamizar a atividade econômica em ambientes de recessão trazendo o
crescimento econômico.
A motivação de inserir o nível de investimento no rol de variáveis a ser verificadas
pelo teste de Granger está na justificativa pelo seu poder de elevar em longo prazo, de forma
indireta, a produtividade que proporciona maior nível de atividade econômica materializando
em maior nível de crescimento econômico que pode também gerar reflexos nos níveis
inflacionários se considerados maior nível de emprego, renda e consumo e maiores demandas
por moedas por parte dos agentes para finalizar as transações.
Faz necessário então a verificação de causalidade entre despesa do governo e
crescimento econômico com a inflação; Investimento e crescimento econômico e por último,
o nível de despesa do governo e com o crescimento econômico.
Deste modo, torna viável a verificação entre as variáveis de um modo unilateral, visto
que a relação inversa é espúria.
25
Os dados coletados representam uma série temporal, que segundo Madalla (2003) é
uma ordem de dados numéricos que apresenta associação a um instante no tempo tendo como
objetivo a obtenção de um estudo a partir das séries temporais o conhecimento das dinâmicas
e estruturas temporais dos dados em questão. O mesmo autor cita que existem dois métodos
de análise das séries temporais, sendo eles o domínio de frequência e o domínio de tempo.
Neste estudo será utilizado o domínio de tempo, cuja definição DE Carvalho (2013:6) é:
Os métodos de domínio temporal procuram caracterizar as séries de dados nos
mesmos termos em que são observados e reportados. A ferramenta primária para a
caracterização de relações entre valores de dados na aproximação do domínio
temporal é a função de auto-correlação. Matematicamente, as análises do domínio
temporal operam no mesmo espaço dos valores dos dados.
Uma importante característica a ser observada no estudo de séries é a estacionariedade.
Uma série é estacionária quando possui média zero, variância constante e autocovariância
dependendo apenas da distancia entre dois tempos :
Assim, a série possui de acordo com sua formalidade, distribuição normal, com média
zer e variância σ 2 constante, não correlacionada.
A estacionariedade pode ainda, ser do tipo forte ou fraca.
O primeiro tipo de estacionariedade, o tipo forte se
forma da distribuição conjunta do processo permanece sem variação mediante uma
translação temporal. Como na prática é muito difícil especificar a distribuição
conjunta de um processo estocástico, há a versão mais fraca, na qual somente alguns
momentos do processo permanecem inalterados no tempo (MEDEIROS, 2005:274).
Assim a última, ocorre quando a média e a variância do processo são constantes no
tempo e sua estrutura de dependência linear depende apenas da distância entre os períodos.
Após a análise e confirmação de estacionaridade nas séries, pode-se realizar a
verificação de causalidade entre as variáveis. Utilizou-se a ferramenta econométrica GretlR,
que possui o teste da causalidade de Granger ou precedência temporal, que verifica tal
relação entre duas variáveis quaisquer.
Assim, o teste de Granger, que supõe as séries já estacionárias, é utilizado quando se
deseja verificar se existe uma causalidade entre duas variáveis dentro de um período estimado
levando em consideração o número de defasagens introduzidas no modelo.
26
Para fins de objetivação, o teste de Granger,
(...) Como o futuro não pode prever o passado, se a variável X (Granger) causa a
variável Y, variações em X deveriam preceder variações em Y. Portanto, em ama
regressão de Y sobre outras variáveis, se incluirmos os valores passados, de X e ele
aprimorar significativamente, previsões de Y, pode-se dizer que X (Granger) causa
Y, podendo o contrário ser verdadeiro (GUJARATI, PORTER, 2011:649).
Em termos gerais, os mesmos autores expõe o teste de Granger assumindo as duas
variáveis como:
n
n
i =1
j =1
X t = ∑ α i X t −i +∑ β jYt − j + u1t (1)
n
n
i =1
j =1
Yt = ∑ λiYt −i + ∑ δ j X t − j + u2t (2)
A equação (1) postula que valores correntes de X estão
relacionados com seus
próprios passados, assim como Y(2), levando em consideração ainda, que tanto u1t e u2t não
estejam correlacionados.
Após a verificação, pode-se encontrar quatro tipos de resultados de acordo com
Gujarati e Porter (2011) são:
(1) Causalidade unilateral de X para Y: se dá quando o conjunto de coeficientes
defasados para a variável Y na equação não for estatisticamente diferente de zero e o conjunto
de coeficientes defasados para a variável X não for estatisticamente diferente de.
(2) Causalidade unidirecional de Y para X existirá se o conjunto de coeficientes
defasados da equação (1) não for estatisticamente diferente de zero, e o conjunto dos
coeficientes de X na equação (2) é estatisticamente diferente de zero.
(3) Causalidade Bilateral ou simultaneidade: É quando os conjuntos de coeficientes
defasados de X e Y forem estatisticamente diferentes de zero em ambas as regressões.
(4). Independência: quando, em ambas as regressões, os conjuntos de coeficientes
defasados de X e Y não forem estatisticamente significativos em nenhuma das regressões.
Para a escolha do número de defasagem não há um consenso na literatura, pois
elevado número de defasagens (maior do que o necessário levando em consideração o
tamanho da amostra) pode, de acordo com Mackinnom trazer a presença de viés na inclusão
27
de variáveis irrelevantes, enquanto que escolha de um número reduzido pode causar um viés
no resultado por omitir variáveis relevantes.
Para interpretação do teste de Granger, a hipótese é levada em consideração, quando
confrontada com a estatística F. Assim levando em consideração as hipóteses têm-se:
H 0 : Não há causalidade entre as variáveis selecionadas
H1 : Há causalidade entre as variáveis selecionadas
E para testar a hipótese acima, aplica-se o teste F, dado pela equação:
F=
( SQRres − SQRirr ) / m
SQRirr / (t − k )
Onde, m indica o número de defasagem utilizada e k, o número de parâmetros da
regressão irrestrita.
Para verificação, se o valor de F calculado for maior que o valor crítico de F ao nível
de significância de 95% escolhido, rejeita-se a hipótese nula, H 0 .
3.2. Aplicação
Explicado a forma de como o teste será realizado nas variáveis selecionadas a
verificação da relação entre o nível de despesa federal (G) confrontada com o nível de
inflação (π) (IPC), retirada do site IPEADATA, entre os anos de 1945 a 1880, para o país
Brasil que serão explanados no quadro abaixo:
Quadro 4: Quadro de dados com resultados alcançados a partir da verificação de
causalidade entre o nível de despesa do governo e inflação para o Brasil entre 1945 a 1980.
SQR restrito
SQR irrestrito
Defasagem
9329,319
9309,799
8448,571
8254,900
2
3
K
4
6
Os resultados da Soma de quadrados restritos e irrestrito foram encontrados no
momento da verificação utilizado no programa Gretl. Estes são necessários para obtenção do
28
F calculado, bem como seu número de defasagem e quantidade de parâmetros retirados da
verificação do modelo irrestrito.
Aplicados os dados do F calculado e do F crítico, com probabilidade de calda a direita
de 5%, para melhor visualização dos dados, pode-se construir um segundo quadro
evidenciando os resultados finais de causalidade na verificação se o nível de Despesa causa a
Inflação:
Quadro 5: Quadro da causalidade entre despesa do Governo (G) e Inflação (π) no
Brasil entre 145 a 1980.
Direção da
N. de defasagem
Causalidade
Valor de F
F crítico
Decisão
calculado
G→π
2
1,4594
3,34039
Não Rejeitar
G→π
3
1,0649
2,99124
Não Rejeitar
O quadro 5 apresenta os resultados da causalidade de Granger utilizando 2 e 3
defasagens para as séries de despesa do governo(G) e inflação (π) .
O valor do F calculado foi encontrado com base nos valores de SQR restrito e SQR
irrestrito apresentados no quadro 4. Nesta mesma tabela estão expressos os valores de K
(números de parâmetros ajustados em cada equação de regressão) e o resultado do teste de
causalidade de Granger entre despesa do governo e inflação (G → π) foi de não rejeitar
hipótese ( H 0 ), assim sendo, o nível de despesa do governo (G) não causa inflação ( π) para
as defasagens selecionadas.
O gasto público pode ser entendido como sendo o dispêndio feito pelo Estado para
custear serviços públicos prestados para a sociedade, sendo uma despesa extra orçamentária
aquela que não está autorizada pelo poder legislativo constada na Lei de orçamentos.
A composição do gasto público se torna variável responsável para direcionar os níveis
de investimentos para áreas estratégicas onde esta variável poderá contribuir para maiores
níveis de produtividade em prol do desenvolvimento econômico eficaz.
Aqui, somente o nível de gastos do governo, não serve para estimular por si só a
inflação, tendo em vista que no Brasil, desde a década de 30, os ciclos inflacionários se
29
originaram por questões internas, podendo ser citado de forma bem sucinta as pressões de alta
salariais sem um nível correspondente de produção e por questões externas como aumento de
preços internacionais do petróleo em 1970. Ainda completa que: “A presença constante, em
todos os momentos de aceleração inflacionária, de problemas relacionados ao setor externo
da economia brasileira foi uma característica da instabilidade monetária brasileira nas seis
décadas desde 1930”. (MUNHOZ,1997:83)
Analisando agora o nível de Crescimento (PIB) com a inflação, utilizou-se do mesmo
raciocínio do anterior, evidenciado no quadro a seguir:
Quadro 6: Quadro de dados com resultados alcançados a partir da verificação de
causalidade entre o nível de crescimento e Inflação para o Brasil entre 1945 a 1980.
SQR restrito
SQR irrestrito
Defasagem
9416,136
9370,749
9259,176
9355,404
9307,613
8711,982
2
K
4
6
8
3
4
Utilizando os dados do Quadro 6 para encontrar os valores de F calculado e na
obtenção do F crítico, para estas variáveis têm-se:
Quadro 7: Quadro da causalidade entre Crescimento (PIB) e Inflação (π) no Brasil
entre 145 a 1980:
Direção da
N. de defasagem
Valor de F
F crítico
Decisão
PIB → π
2
0,0941
3,32765
Não Rejeita
PIB → π
3
0,0588
2,97515
Não Rejeita
Causalidade
O quadro 7 apresenta os resultados da causalidade de Granger utilizando 2 e 3
defasagens para as séries de despesa do governo(G) e inflação (π) .
O valor do F calculado foi encontrado com base nos valores de SQR restrito e SQR
irrestrito apresentados no quadro 6. Nesta mesma tabela estão expressos os valores de K
(números de parâmetros ajustados em cada equação de regressão).
30
O resultado do teste de causalidade de Granger entre nível de crescimento (PIB) e
inflação despesa do governo e inflação (π) foi de não rejeitar hipótese ( H 0 ), assim sendo, o
nível de crescimento (PIB) não causa inflação ( π) para as defasagens selecionadas.
Para questões de evidência, pôde-se verificar, que no Brasil, entre o período
demarcado entre 1950 à 1980 passou por drásticas mudanças em seu corpo produtivo
contemplado em altas taxas de crescimentos econômico, com uma taxa média de 7,2% ao ano
com baixo nível de inflação.
No Quadro 8, tem-se uma referência, de diminuição com pequena oscilação da
inflação e aumentos considerável de crescimento econômico entre principalmente 1965 ao
início de 1970. Tal crescimento pode ser justificado também, pelo nível de investimento no
âmbito Federal, Estadual e Municipal que proporcionou grande ajuda para contribuir com o
crescimento comentando anteriormente, chegando a média de crescimento do Produto Interno
Bruto na casa dos 10% ao ano.
Quadro 8: Contraste nível de crescimento (PIB) e Inflação
ANO
PIB (%)
INFLAÇÃO
1960
9,4
30,4
1961
8,6
47,7
1962
6,6
51,6
1963
0,6
79,9
1964
3,4
92,1
1965
2,4
34,2
1966
6,7
39,1
1967
4,2
25,0
1968
9,8
22,0
1969
9,5
22,3
1970
10,4
22,6
1971
11,3
20,2
1972
12,1
16,6
1973
14
12,7
Fonte: Elaboração própria a partir ABREU (1990).
31
Outra relação a ser investigada no teste de Granger é se o nível de investimento causa
crescimento nas economias. Assim, a soma de quadrados resíduos do modelo restrito e
irrestrito bem como número de defasagens e parâmetros resultaram no quadro 9:
Quadro 9: Quadro de dados com resultados alcançados a partir da verificação de
causalidade entre o nível de Investimento (In) e Crescimento para o Brasil entre 1947 a 1980.
SQR restrito
SQR irrestrito
Defasagem
269,8588
206,1085
192,7455
2
265,4323
K
4
6
3
Utilizando os dados do quadro 9 para encontrar os valores de F calculado e na
obtenção do F crítico, para estas variáveis têm-se:
Quadro 10: Quadro da causalidade entre Investimento (In) e Crescimento (PIB) no
Brasil entre 145 a 1980:
Direção da
N. de defasagem
Valor de F
F crítico
Decisão
In → PIB
2
4,33
3,34039
Rejeita
In → PIB
3
3,14
2,97515
Rejeita
Causalidade
O quadro 9 apresenta os resultados da causalidade de Granger utilizando 2 e 3
defasagens para as séries de investimento e crescimento (In) e crescimento (PIB) .
O valor do F calculado foi encontrado com base nos valores de SQR restrito e SQR
irrestrito apresentados na tabela 9. Nesta mesma tabela estão expressos os valores de K
(números de parâmetros ajustados em cada equação de regressão).
O resultado do teste de causalidade de Granger entre nível de investimento (In) e
crescimento (PIB) foi de rejeitar hipótese ( H 0 ), assim sendo, o nível de investimento possui
causalidade com o crescimento (PIB).
Testando a causalidade de Granger, se o nível de Investimento causa crescimento
econômico, no período selecionado, temos a verificação, que há uma causalidade entre o nível
de investimento e crescimento econômico, por rejeitarmos a Hipótese nula ( H 0 ), dado que o
32
valor do F calculado supera o valor de F crítico, para assim acatar com a hipótese H1 , onde há
causalidade unilateral entre despesa do governo e nível de inflação, nas defasagens
selecionadas.
Assim, para explicar o aplicado com a literatura acerca do nível de investimento e
crescimento econômico, para Froes o nível de investimento tem a capacidade de dinamizar a
economia que propicia maior espaço para o crescimento econômico, tornando a primeira
variável indiscutível para inicializar de encadeamento entre as variáveis:
Se o investimento público demanda insumos como construção civil e máquinas e
equipamentos, e ainda, se as políticas públicas de subsídios e crédito beneficiam a
produção doméstica, desloca-se a estrutura produtiva para setores mais intensivos
em capital e tecnologia. A indústria capital-intensiva, por seus efeitos de
encadeamento, eleva a produtividade e dinamiza a economia. Se os ganhos de
produtividade forem acompanhados de elevação dos salários reais, constituem-se
assim, a marcha para o desenvolvimento (REIS, 2010:14).
Voltando à linha de pensamento keynesiano, onde se tem exposição do investimento
em infraestrutura para impulsionar o emprego e renda na economia, em paralelo a Froés,
pode-se relacionar a ambiguidade de ambições ao tentar invocar o investimento em
infraestrutura para alavancar o desenvolvimento econômico, contido nos estudos de vários
autores, que encontraram efeito positivo na relação investimento e crescimento e
desenvolvimento econômico.
Calderón e Servén (apud REIS, 2010) evidenciam em seus trabalhos a relação positiva
entre investimento público direcionado à infraestrutura e crescimento econômico em países
latinos, devido a esta linha de investimento favorecer a menores custos de produção e maior
nível de produtividade, que acaba por influenciar o investimento privado.
Não se tratando do mesmo período o qual este trabalho está embasado, é importante
ressaltar o trabalho de Candito Júnior (2006) em que se tem uma análise sobre dinamismo da
relação entre investimento público e crescimento econômico tanto no curto quanto no longo
prazo entre 1970 e 2000 publicado em seu trabalho “Efeitos do investimento público sobre o
produto e a produtividade”, mostrando uma relação mais longínqua entre investimento
público e crescimento nos países da América do sul, sendo: Brasil, Argentina e Chile no
período acima.
Outros atores, que contribuíram para constatar a relação direta entre investimento e
crescimento econômico foi Maliagros e Ferreira (apud REIS, 2010), onde além de perceber a
33
relação de elasticidade direta entre as variáveis econômicas citadas acima, eles completaram
para o corpo teórico de seu trabalho, os setores que possuem maior impacto, podendo ser
citado o ramo de telecomunicação, transportes e energia. Por fim, a última verificação se dá
no nível de despesa federal com o nível de crescimento do PIB por Granger, com os
disponibilizados na Quadro 11 abaixo:
Quadro 11: Quadro de dados com resultados alcançados a partir da verificação de
causalidade entre o nível de Despesa Federal e Crescimento para o Brasil entre 1947 a 1980.
SQR restrito
SQR irrestrito
Defasagem
269,8588
201,4201
200,4742
2
265,4323
K
4
6
3
Utilizando os dados do quadro 11 para encontrar os valores de F calculado e na
obtenção de F crítico, para estas variáveis têm-se:
Quadro 12: Quadro da causalidade do nível de despesa do governo(G) e Crescimento
(PIB) no Brasil entre 145 a 1980:
Direção da
N. de defasagem
Valor de F
F crítico
Decisão
G → PIB
2
5,0967
3,34039
Rejeita
G → PIB
3
3,0242
2,99124
Rejeita
Causalidade
O quadro 11 apresenta os resultados da causalidade de Granger utilizando 2 e 3
defasagens para as séries de despesa do governo (G) e crescimento (PIB) .
O valor do F calculado foi encontrado com base nos valores de SQR restrito e SQR
irrestrito apresentados na tabela 12. Nesta mesma tabela estão expressos os valores de K
(números de parâmetros ajustados em cada equação de regressão).
O resultado do teste de causalidade de Granger entre despesa do governo (G) e
crescimento (PIB) foi de rejeitar hipótese ( H 0 ), assim sendo, o nível de despesa do governo
possui causalidade com o crescimento (PIB).
Com início de maiores gastos governamentais no período do sistema welfare state,
implantado pós-segunda guerra, este sistema foi um dos responsáveis para ampliação histórica
34
do nível de gasto público que vigorou até meados de 1970, influenciando de maneira positiva
o PIB como mostra o quadro abaixo, com recordes de crescimento no início dos anos 70.
Quadro 13: Nível de gasto do governo e crescimento econômico (PIB) do Brasil entre
1960 á 1973.
ANO
GASTO DO GOVERNO
PIB REAL
1960
20,00
9,4
1961
20,62
8,6
1962
21,05
6,6
1963
21,08
0,6
1964
20,42
3,4
1965
21,95
2,4
1966
21,28
6,7
1967
23,21
4,2
1968
22,83
9,8
1969
27,25
9,5
1970
24,73
10,4
1971
23,26
11,3
1972
22,65
12,1
1973
21,46
14
Há de se salientar, que as políticas de déficit keynesianas são propícias induzir novos
investimentos das empresas, para tanto, o déficit do governo deve ser efetuado por um
período de tempo, para atrair a confiança destes novos investidores.
O quadro acima evidencia o período de nível de gasto do governo e crescimento
econômico no período de 1960 à1973 com melhores resultados principalmente em 1968 onde
se têm o aumento do déficit governamental acompanhado pelo alto crescimento econômico
até 1973.
O período entre 1968 à 1973 conhecido como milagre econômico brasileiro, teve em
seu contexto taxa média de crescimento de 11,1% com políticas monetárias de viés
expansionista com crédito facilitado ao consumo e ao agricultor. A política fiscal também foi
de caráter expansionista com incentivos fiscais e subsídios da taxa de juros com crescente
35
financiamento de déficit público através da emissão de títulos públicos mantendo elevado
nível de despesa, principalmente investindo em infraestrutura.
O déficit do governo seria um catalizador da inflação caso o financiamento deste gasto
ocorresse a partir de uma expansão da base monetária durante um longo período com a
capacidade econômica não mais ociosa. Assim:
Para que a PF expansiva (lê-se aumento de gasto do governo) gere inflação é
necessário que se mantenha uma política de déficits sob condições desfavoráveis no
mercado financeiro (financiada, portanto, com expansão monetária) por um período
prolongado e que, ao longo deste, a economia se aproxime de seu nível de produto
potencial, quando, de fato, as pressões inflacionárias se avolumam. Neste caso,
naturalmente, nenhum keynesiano recomendaria a manutenção de uma PF de
déficits (HERMANN, 2006:11).
Ou seja, o ambiente de déficits com crescimento ocorreu nas economias de vários
países que apresentavam em sua estrutura uma deficiência, sendo o gasto do governo uma
variável importante para dinamizar a economia, principalmente a parcela destinada ao
investimento em épocas recessão.
Considerações finais
Os estudos econométricos somados aos acontecimentos históricos possibilitaram um
espaço com referencias de outros autores que constataram alguma ligação com os resultados
encontrados. O quadro 14 mostra de forma resumida o resultado do estudo:
Quadro 14: Nível de causalidade resumida pelo método de Granger:
Variáveis Testadas
Causalidade
Despesa do governo e Inflação
Despesa não causa inflação
Crescimento econômico e Inflação
Crescimento não causa inflação
Investimento e Crescimento econômico
Investimento causa Crescimento
Despesa do governo e Crescimento
Despesa causa Crescimento
econômico
Verificou-se a partir de então a não causalidade entre despesa e inflação está sendo
justificada pelo simples fato de a despesa do governo não ser suficiente para causar a longa
trajetória da inflação a partir da despesa do governo, sabendo que os ciclos inflacionário estão
36
presentes no curso do Brasil desde a década de 1930 e que fatores devem ser levados em
consideração, principalmente voltado ao cenário externo.
Outra não causalidade entre as variáveis foi apresentada entre nível de crescimento
econômico e Inflação. Esta relação de não causalidade pode ser justificada e evidenciada
principalmente no período brasileiro entre 1950 à 1980 onde teve-se, no Brasil, drásticas
mudanças em seu corpo produtivo contemplando em altas taxas de crescimentos econômico
acompanhado de baixa taxa de inflação para o Brasil.
Quanto à causalidade direta relacionando o nível de investimento e crescimento o
resultado foi satisfatório com os estudos de diversos autores teóricos que verificaram que o
investimento dinamiza a economia por proporcionar externalidade positivas beneficiando
setores chaves da economia como infraestrutura que impulsiona o emprego e renda na
economia.
Assim, para Mattos (2009) o motivo de geração de mais empregos no período de ativo
nível de investimento na economia, foi devido aos pilares do Estado de Bem Estar Social que
favoreceu o cenário de crescimento econômico ajudando os mercados a operar no pleno
emprego durante duas décadas.
A última relação, também positiva entre o nível de despesa do governo e crescimento,
foi interpretada a partir da análise keynesiana, onde em períodos de recessão, o aumento do
déficit do governo é bem vindo devido ao dinamismo econômico que traz otimismo aos
investidores que injetam mais dinheiro na economia que acaba trazendo melhores
expectativas quanto ao cenário econômico impulsionando o nível de investimento, criando um
ambiente mais favorável ao crescimento.
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