Veja o artigo completo - Universidade Castelo Branco

Propaganda
ANÁLISE MULTITEMPORAL DO PADRÃO DE CHUVAS NA ZONA OESTE DO RIO
DE JANEIRO NO ÂMBITO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
ALMEIDA, Paula Maria Moura de (Orientadora)1
KOVAC, Marcel da Silva2
Palavras-chave: Precipitação. Zona Oeste. Eventos climáticos extremos.
Introdução
Como nosso planeta responderá às variações às quais vem sendo submetido é uma das
maiores questões da atualidade. Segundo Marengo & Soares (2003), o tema começou a ser
tratado mais especificamente no ano de 1988, quando, em uma Assembleia Geral das Nações
Unidas, foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), através da
união da OMM (Organização Meteorológica Mundial) e do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA), desenvolvido para “avaliar as informações científicas, técnicas e
socioeconômicas relevantes para entender os riscos induzidos pela mudança climática, seus
potenciais impactos e opções para adaptação e mitigação” (LACERDA; NOBRE, 2010).
O estudo sobre as mudanças climáticas se mostra de grande importância, uma vez que
tais mudanças influenciam não só a parte física do nosso planeta, mas também a nossa vida em
sociedade. No uso do IPCC, mudanças climáticas se referem a qualquer mudança do clima
durante um período de tempo, independentemente se for ocasionada por uma variação natural ou
pelo resultado de uma ação antrópica (IPCC, 2007).
Segundo Marengo (2006), a Terra sempre passou por ciclos naturais de aquecimento e
resfriamento, porém, atualmente, a atividade industrial está afetando o clima terrestre e sua
variação natural, o que sugere que a atividade humana é um fator determinante para o
aquecimento global. Este, por sua vez, segundo Lacerda & Nobre (2010), “é o aumento da
temperatura terrestre causado pela intensificação do efeito estufa, e a sua origem antropogênica
está relacionada com o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera”.
1 Doutoranda em Meio Ambiente (UERJ), Professora auxiliar da Universidade Castelo Branco, Pesquisadora do
Núcleo de Estudos em Manguezais (NEMA/Uerj) e do Laboratório de Sensoriamento Remoto ESPAÇO (UFRJ).
Orientadora do Programa de Pesquisa Institucional de Iniciação Científica & Tecnológica 2013/2014.
E-mail: [email protected]
2 Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Castelo Branco. Bolsista Parcial Prouni.
Aluno Voluntário do Programa de Pesquisa Institucional de Iniciação Científica & Tecnológica 2013/2014.
E-mail: [email protected]
A nível global, já se verifica algumas consequências notáveis do aquecimento global,
como o derretimento de geleiras nos polos e o aumento de dez centímetros no nível do mar em
um século (MARENGO, 2006). Além disso, também observado por Molion (2005) durante o
período de aquecimento, atribuído a ações antrópicas, a frequência de El Niños com maior
intensidade entre os anos de 1977-1998 pode ser contribuinte direto da intensificação do
aquecimento, pois durante a ocorrência de El Niños com maiores intensidades também é
observado um aumento da temperatura média global.
Porém, para melhor observarmos e entendermos estes fatos, é necessário analisarmos as
mudanças ocorridas a nível regional, que podem ser agravadas por diversos fatores. Como
exemplos, podemos citar a ocorrência do aquecimento em grandes cidades do Brasil, como São
Paulo e Rio de Janeiro, devido à urbanização e possíveis mudanças em extremos climáticos
relacionados a ondas de calor, ondas de frio, chuvas intensas e enchentes.
Segundo Marengo et al. (2007), “o Brasil é um país vulnerável às mudanças climáticas,
especialmente, quanto à ocorrência de eventos climáticos, como secas e enchentes” (apud
LACERDA; NOBRE, 2010). Mesmo diante desta vulnerabilidade, poucos são os estudos e
referências na área climatológica voltados para a variabilidade de extremos climáticos no Brasil.
Isto ocorre devido ao acesso restrito a uma grande quantidade de dados dos serviços
meteorológicos que dificulta a pesquisa sobre o assunto, além dos poucos estudos realizados
utilizarem diferentes metodologias, impossibilitando uma integração entre eles (MARENGO,
op.cit.).
Para a climatologia do município do Rio de Janeiro também já foi observada a existência
de poucas referências utilizando-se longas séries de dados observacionais (DERECZYNSKI,
2009). Assim, devido à ausência de uma única metodologia, à necessidade de um maior
monitoramento dos dados pluviométricos para uma melhor análise e visando à obtenção de
possíveis respostas às diversas questões concernentes as mudanças climáticas, a análise
pluviométrica de uma região se mostra extremamente necessária.
Sendo assim, objetiva-se o estudo dos índices de chuva da Zona Oeste do Rio de Janeiro
– RJ – Brasil, analisando a variabilidade temporal da precipitação. Assim, será realizada uma
análise exploratória dos parâmetros de precipitação mensal e anual, a partir de janeiro 1997 até
os dias atuais. Além disso, objetiva-se também o desenvolvimento de mapas com a distribuição
geral de chuvas e a organização de um banco de dados geográfico através dos dados obtidos.
Procedimentos metodológicos
Os dados de precipitação utilizados no presente estudo são oriundos do site da Prefeitura
do Estado do Rio de Janeiro referentes às estações: Av. Brasil/Mendanha, Bangu, Cidade de
Deus, Gericinó, Grajaú/Jacarepaguá, Mendanha, Sepetiba e Tanque, e encontram-se disponíveis
em http://www.rio.rj.gov.br/alertario. Nessas estações, a precipitação é medida diariamente, a
cada 15 minutos, sendo realizado de igual forma para todas as estações meteorológicas e os
registros, presentes desde 1997. Dessa forma, obtivemos 18 anos de dados pluviométricos da
Zona Oeste do Rio de Janeiro para observação.
De posse destes dados de precipitação, diversas análises da região foram possibilitadas.
Inicialmente, calculou-se a acumulada mensal para cada estação meteorológica da região através
do somatório dos dados pluviométricos diários, obtidos a cada 15 minutos em cada estação
meteorológica. Este cálculo possibilitou realizar a análise exploratória através de gráficos, que
facilitou a percepção do desenvolvimento do regime de chuvas na região, mostrando, assim, os
meses com maiores e menores índices pluviométricos. Também, através do somatório da
acumulada mensal de todos os anos analisados, foi calculada a média da acumulada mensal em
cada estação meteorológica para assim verificar a ocorrência de alterações nas precipitações de
cada mês em específico.
Para nortear a discussão dos resultados obtidos, caracterizou-se cada estação
meteorológica de acordo com o seu índice geral de precipitação. Para tal, inicialmente, calculouse a acumulada anual de cada estação, somando-se as acumuladas mensais em cada ano e,
posteriormente, encontrou-se a média pluviométrica anual em cada estação, através da média
encontrada a partir do somatório de todas as acumuladas anuais das estações meteorológicas.
Assim, a partir da média anual de chuvas de cada estação meteorológica, pôde ser encontrada a
média de chuvas de toda região. Desta forma, através desta caracterização individualizada de
cada estação meteorológica e da média geral de precipitação em toda a Zona Oeste do Rio de
Janeiro, foi possível caracterizar cada estação meteorológica quanto ao seu regime de chuvas,
dividindo-as em estações meteorológicas úmidas e secas.
A partir desta metodologia, foram confeccionados gráficos e mapas para melhor análise
do objeto de estudo e, consequentemente, um melhor entendimento. Toda esta etapa foi
executada em um ambiente computacional de Sistema de Informação Geográfica (SIG)
apropriado para o mesmo. Utilizaram-se somente softwares livres, ou seja, gratuitos, para que
deste modo sejam desenvolvidas técnicas de baixo custo que possam ser propagadas e replicadas
em outras áreas do meio acadêmico. Cabe ressaltar que, além das análises descritas, houve a
preocupação de se registrar e armazenar todos os dados gerados aqui na forma de banco de dados
geográficos. Essa preocupação maior possibilitará o uso futuro destes mesmos dados em outros
projetos. Para tanto foram elaboradas tabelas específicas para o armazenamento na forma de
banco de dados, além do registro de todos os mapas em formato “shape”.
Resultados e Discussões
Para a caracterização da Zona Oeste do Rio de Janeiro, tomam-se por base os dados de
todas as 08 (oito) estações analisadas durante o período, a fim de verificar o comportamento de
toda a região quanto ao seu regime de chuvas (Figura 1).
Figura 1: Comportamento da região quanto ao seu regime de chuvas. Médias mensais relativas a todas as
estações meteorológicas estudadas.
200,00
187,74
180,00
168,06
160,00
142,38
Milímetros
140,00
122,94
120,00
100,00
80,00
60,00
40,00
109,99
MÉDIA
101,14
96,74
101,36
74,71
67,90
60,33
49,36
MÉDIA
GERAL
35,05
20,00
0,00
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Fonte: Elaborada pelo autor.
A média pluviométrica mensal nos anos do período analisado (Figura 1) aponta-nos que,
na região, o período úmido é constituído pelos meses de novembro a abril, que se apresentam
acima da média geral para região, que é 101,36 mm. Nestes meses ocorreram os maiores índices
de precipitação, sendo janeiro o mês mais úmido, com média de 187,74 mm. Ocorreu uma
anomalia no mês de fevereiro, quando foi registrada média de 96,74 mm. O período seco da
região é constituído pelos meses de abril a outubro. Os menores índices pluviométricos foram
registrados nos meses de junho e agosto, com média de 49,36 mm e 35,05 mm, respectivamente.
A partir da análise da acumulada anual de chuvas nas estações meteorológicas analisadas
(Figura 2), observam-se índices de precipitação bem acima da média nos anos de 1998, 2003,
2005, 2008, 2009, 2010 e 2013, com o valor mais alto sendo atingido em 2013, quando foi
registrada média entre as estações de 1623,43 mm. Além disso, observa-se que a partir do ano de
2003 ocorreu um sensível aumento do índice de precipitação, sendo o índice menor que a média
apenas nos anos de 2007, 2011 e 2012.
Figura 2: Acumulada anual de chuvas da região.
1800,00
1600,00
Milímetros
1400,00
1000,00
1457,90
1382,07
1200,00
1623,43
1467,55
1041,17
1025,33
993,20
868,08
952,10
1417,40
1351,07
1326,53
1220,03 1240,10
1123,80
1203,67
1036,10
936,50
MÉDIA
800,00
MÉDIA
ANUAL
600,00
400,00
200,00
2013
2012
2011
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
0,00
Fonte: Elaborada pelo autor.
Considerações finais
Sendo assim, a partir desta análise caracterizamos a Zona Oeste do Rio de Janeiro quanto
ao seu padrão de chuvas e também verificamos a ocorrência de uma mudança no padrão de
chuvas a partir do ano de 2003.
Cabe ressaltar que as causas da alteração deste padrão, seja ela natural ou antrópica, ainda
são desconhecidas, porém, devido à intensidade dos eventos afetarem diretamente o nosso
planeta e a sociedade, o aprofundamento do estudo sobre o assunto se mostra de grande
importância, principalmente para uma metrópole como o Rio de Janeiro. Assim como observado
por Milton Santos (2006), outrora as sociedades se instalavam sobre os lugares naturais, ou seja,
os homens procuravam locais de moradia se adaptando ao meio. Hoje a ocorrência é inversa, os
eventos naturais se dão cada vez mais em lugares artificiais. Com isto, o cotidiano da população,
principalmente de baixa e baixíssima renda, é afetado, pois se veem vulneráveis aos eventos
climáticos que os atingem devido à má localização de suas moradias.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, P. M. M. 2010. Análise espaço-temporal da área ocupada por florestas de
mangue em Guaratiba (Rio de Janeiro, RJ) de 1985 até 2006 e sua relação com as variações
climáticas. Dissertação de mestrado para o Programa de Pós-Graduação em Geografia pela
UFRJ. 142 f.
DERECZYNSKI, C. P; OLIVEIRA, J. S; MACHADO, O. M. Climatologia da Precipitação no
Município Do Rio De Janeiro. Revista Brasileira de Meteorologia, v.24, n.1, 24-38, 2009.
LACERDA, F; NOBRE, P. Aquecimento global: conceituação e repercussões sobre o Brasil.
Revista Brasileira de Geografia Física, 2010, 14-17.
IPCC, 2007. Mudança do Clima 2007: A Base das Ciências Físicas. Contribuição do Grupo de
Trabalho I ao Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do
Clima. Paris, 2007.
MAIA, L. F. P. G. Micro-clima e eventos climáticos extremos. Protocolo Rio/Estudos e
Pesquisa Seminário Rio: Próximos 100 anos, 2008.
MARENGO, J. A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade:
caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território
brasileiro ao longo do século XXI. Brasília: MMA, 2006.
MARENGO, J. A. et al. 2007. Eventos extremos em cenários regionalizados de clima no
Brasil e América do Sul para o Século XXI: Projeções de clima futuro usando três modelos
regionais. Relatório 5, Ministério do Meio Ambiente - MMA, Secretaria de Biodiversidade e
Florestas – SBF, Diretoria de Conservação da Biodiversidade - DCBio Mudanças Climáticas
Globais Efeitos sobre a Biodiversidade - Sub projeto: Caracterização do clima atual e definição
das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do Século XXI. Brasília, Fevereiro
2007.
MARENGO, J. A.; SOARES, W. 2003. Impacto das modificações da mudança climática Síntese do Terceiro Relatório do IPCC. Condições climáticas e recursos hídricos no Norte
do Brasil. Chapter 6 in Clima e Recursos Hídricos 9. Associação Brasileira de Recursos
Hídricos, FBMC-ANA. Porto Alegre, Brasil, pp 209-233.
MOLION, L. C. B. Aquecimento Global, El Niños, Manchas Solares, Vulcões e Oscilação
Decadal
do
Pacífico.
Revista
Climanálise,
2005.
Disponível
em
<http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/revista/pdf/Artigo_Aquecimento_0805.pdf>. Acesso
em 26 ago. 14.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4. ed. 2.
Reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
Download