CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO- CIRÚRGICA Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Madalena Maria Alves da Cruz Coimbra, março de 2013 CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO- CIRÚRGICA Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Madalena Maria Alves da Cruz Orientador: Doutor Paulo Alexandre Ferreira, Professor Adjunto, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica Coimbra, março de 2013 A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável Mahatma Gandhi Ao Tomás e ao Miguel, meus filhos pelos abraços carinhosos nas alturas difíceis, pelas horas que não lhes dediquei, por me fazerem acreditar que vale sempre a pena caminhar. As âncoras poderosas da minha vida! Aos meus Pais, pelo amor demonstrado, pelo conforto e apoio diário neste longo percurso. Um “excelente” no vosso exemplo de maternidade e paternidade. Os meus pilares nesta jornada! À Senhora minha Avó, que não caminhou comigo até este final… estando ausente… uma referência de coragem e determinação, na minha vida. Pelo seu exemplo como mulher! À Isabel, palavras que nem preciso mencionar. A irmã que não tive! A toda a minha Família e Amigos pelas ausências prolongadas e Pela compreensão! Ao meu marido, Pedro pelo apoio e paciência, permitindo tornar este sonho realidade Por Tudo! A, Deus, que me concede a chegada aqui. Agradecimentos Em especial agradeço toda a colaboração prestada pelo Senhor Professor Doutor Paulo Alexandre, pela sua disponibilidade, orientação e compreensão, neste percurso de aprendizagem. Aos Participantes, que connosco partilharam as suas vivências, sem eles não teria sido possível a realização deste estudo. Ao conselho de Administração do Hospital Distrital de Santarém, por ter autorizado esta investigação. A todos os Enfermeiros do Serviço de Cardiologia, pelo seu apoio e colaboração. Foram incansáveis! Um obrigado muito especial. A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para esta investigação. A todos um muito obrigada LISTA DE SIGLAS AHA - American Heart Association CIPE - Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem CNDCV – Coordenação Nacional para as Doenças Cardiovasculares DCV – Doença Cardiovascular DCVS – Doenças Cardiovasculares DC - Doença Coronária DGS – Direção Geral da Saúde EAM- Enfarte Agudo do Miocárdio EAMCSST- Enfarte Agudo do Miocárdio com supradesnivelamento ST EAMSSST - Enfarte Agudo do Miocárdio sem supradesnivelamento ST ECG – Electrocardiograma EPE - Entidade Publica Empresarial ESC - Sociedade Europeia de Cardiologia ESH - Sociedade Europeia de Hipertensão FPC - Fundação Portuguesa de Cardiologia HDS - Hospital Distrital de Santarém HTA – Hipertensão Arterial HVE – Hipertrofia Ventricular Esquerda OE – Ordem dos Enfermeiros OMS – Organização Mundial de Saúde PNC - Plano Nacional de Saúde PTCA - Angioplastia Coronária Transluminal Percutânea RC – Reabilitação Cardíaca SPA - Sociedade Portuguesa de Aterosclerose SPC – Sociedade Portuguesa de Cardiologia SPP - Sociedade Portuguesa de Pneumologia WHO - World Health Report RESUMO O Enfarte Agudo do Miocárdio, constitui a manifestação mais grave da doença coronária, é uma das principais causas de internamento hospitalar, provocando alterações na qualidade de vida da pessoa. A preparação da alta hospitalar é um processo importante do plano de tratamento, e uma das apreensões para assegurar a recuperação e evitar reinternamentos. Neste contexto, o enfermeiro desempenha um papel imprescindível na prestação de cuidados de enfermagem à pessoa com esta patologia no sentido de satisfazer as suas necessidades, e promover o bem-estar. Assim, conhecer o significado da doença vivido pela pessoa, possibilita uma atuação de enfermagem direcionada às necessidades, no sentido de promover uma adaptação a uma circunstância de vida diferente. A reflexão destes factos conduziu à questão “Como vivencia a pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio a preparação para a alta hospitalar?”. No sentido de obter resposta a esta questão, pretendemos analisar como vivencia a pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio a alta hospitalar. Atendendo à natureza do fenómeno, optou-se por um estudo qualitativo com abordagem fenomenológica. A colheita da informação, decorreu de março a maio de 2011 e foi realizada através da entrevista semiestruturada. Os participantes foram selecionados de forma intencional, com base no princípio da saturação de dados, perfazendo um total de dez pessoas com Enfarte Agudo do Miocárdio. A análise da informação decorreu de acordo com as etapas processuais preconizadas por Giorgi. Do processo de análise, surgiram as unidades de significado da experiência vivida pela pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio na preparação para a alta hospitalar, e assim emergiu uma estrutura essencial, com os diferentes constituintes - chave em diferentes contextos. Os dados evidenciaram que a vivência da pessoa com EAM na preparação para a alta, centra-se em torno da perceção das causas da doença, das preocupações com a ocorrência da doença, da previsão de uma reestruturação dos hábitos de vida, e da valorização da informação na preparação para a alta, salientando que esta deve ser adaptada às necessidades da pessoa. Na generalidade além destes aspetos evidenciaram-se também a necessidade de mais esclarecimentos na preparação para a alta, por parte dos enfermeiros no sentido de melhorar a intervenção ao nível da educação para a saúde. Palavras-chave: pessoa com enfarte agudo do miocárdio; preparação para a alta; vivência. ABSTRACT Acute myocardial infarction is the most serious symptom of coronary disease. Due to its occurrence and severity, it is one of the main causes of hospitalization, being responsible for changes in quality of life requiring several changes in lifestyle. Preparation for hospital discharge is an important process in the treatment plan and one of the main concerns to insure recovery and avoid hospital readmissions. In this context, the nurse plays a fundamental role in the caregiving to the person with this pathology in a sense of satisfying his/her needs and promoting well-being. So, understanding the meaning of the illness being lived by the person allows a nursing execution directed to the needs in a way of fomenting an adaptation to a different life circunstance. A reflection of these facts has led to the question "How does a person with Acute Myocardial Infarction experience the preparation for hospital discharge?". In order to get an answer to this question, we intend analyze how a person with AMI experiences hospital discharge. Keeping in mind the phenomenon, we opted for a study of qualitative nature with a phenomenological approach. Data collection happened from March to May 2011 and it was done through semi-structured interviews. This way we obtained participants accounts pertaining to their experience. The participants were selected intentionally, based on the principle of data saturation, making a total of ten people with AMI. The analysis of the information/data was done according to the procedural steps recommended by Giorgi. From the analysis process, meaning units of the experience lived by the person with AMI in preparing for the hospital discharge emerged. With this, an essential structure emerged, with different key components in different contexts. The data showed that the experience of a person with AMI in preparing for hospital discharge is centered on the perception of the causes of the disease, the concerns with the occurence of the disease, the prediction of restructuring living habits and the recognition of information in preparing for the discharge, underlining that this should be adapted to the person´s needs. In general, besides these aspects, the need for more clarification in preparing for discharge became clear on the behalf of the nurses in order to improve the procedure at an educational level for health. Key words: person with acute myocardial infarction; preparation for hospital discharge; experience. ÍNDICE DE DIAGRAMAS Pág. Diagrama 1 – Etapas da análise dos dados segundo Giorgi ........................................... 74 Diagrama 2 - Exemplificação do processo de transformação das unidades de significado ....................................................................................................................... 76 Diagrama 3 - Exemplificação do processo de determinação dos constituintes chave formulados....................................................................................................................... 77 Diagrama 4 – Percurso da investigação e respetiva metodologia ............................ 80 Diagrama 5 – Representação da vivência da pessoa com EAM na alta hospitalar ..... 90 Diagrama 6 – Representação esquemática, dos constituintes-chave referentes ao contexto Perceção das Causas da Doença ................................................................... 92 Diagrama 7 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto da Preocupações com a Doença ............................................ 113 Diagrama 8 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto da Reestruturação dos Hábitos de Vida ................................. 125 Diagrama 9 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto da Informação Valorizada na Preparação para a Alta ............ 134 Diagrama 10 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto Intervenções dos Enfermeiros na Preparação para a Alta ..... 148 ÍNDICE DE FIGURAS Pág. Figura nº 1- Obstrução do fluxo de sangue nas artérias ............................................ 30 Figura nº 2- Eletrocardiograma sem alterações ......................................................... 31 Figura nº 3 – Comparação de Eletrocardiogramas sem alterações com Eletrocardiogramas com Alterações/representação de isquémia do miocárdio ........... 31 Figura nº 4 – Representação esquemática das camadas musculares do coração ..... 32 ÍNDICE Pág. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 23 PARTE I - ENQUADRAMENTO CONTEXTUAL DO ESTUDO 1 – ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO ................................................................... 29 1.1 - FISIOPATOLOGIA.............................................................................................. 33 1.2 – EPIDEMIOLOGIA .............................................................................................. 34 1.3 – FATORES DE RISCO ........................................................................................ 35 1.4 – ABORDAGEM TERAPÊUTICA .......................................................................... 40 1.5 - REAÇÕES EMOCIONAIS FREQUENTES DA PESSOA PÓS ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO......................................................................................................... 41 2 - PREPARAÇÃO PARA ALTA HOSPITALAR DA PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO .......................................................................................... 45 2. 1 - ENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA NA PREPARAÇÃO DA ALTA HOSPITALAR ... 47 3 - INTERVENÇÃO DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR PARA A SAÚDE DA PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO ................................................ 51 4 – CARATERIZAÇÃO DO CONTEXTO DO ESTUDO .............................................. 55 PARTE II - ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO 1 - METODOLOGIA DO ESTUDO ............................................................................. 59 1.1 - JUSTIFICAÇÃO DO TEMA E QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO .......................... 59 1.2 - OBJETIVOS E TIPO DE ESTUDO ..................................................................... 61 1.3 - PARTICIPANTES DO ESTUDO ......................................................................... 65 1.4 – INSTRUMENTO DE COLHEITA DE INFORMAÇÃO ......................................... 67 1.5 - CONSIDERAÇÕES FORMAIS E ÉTICAS .......................................................... 70 1.6 – PROCESSO DE ANÁLISE DA INFORMAÇÃO .................................................. 72 PARTE III - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DA INFORMAÇÃO 1 – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DA VIVÊNCIA DA PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO NA PREPARAÇÃO PARA A ALTA HOSPITALAR ............................................................................................................ 85 1.1 – CARATERIZAÇÃO GERAL DOS PARTICIPANTES .......................................... 86 1.2 – SÍNTESE GLOBAL DA ESTRUTURA DO FENÓMENO EM ESTUDO .............. 87 1.3 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS CONSTITUINTES-CHAVE EMERGENTES NOS DIFERENTES CONTEXTOS ...................................................................................... 91 PARTE IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS 1 - CONCLUSÕES ................................................................................................... 155 2 - CONTRIBUTOS SUGESTÕES E LIMITAÇÕES ................................................. 157 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICES APÊNDICE I - Guião da Entrevista APÊNDICE II - Pedido de autorização aos participantes para realização das entrevistas APÊNDICE III - Autorização para a realização do estudo APÊNDICE IV - Processo de análise: organização e categorização das entrevistas segundo o método proposto por Giorgi Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio INTRODUÇÃO Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio INTRODUÇÃO As Doenças Cardiovasculares (DCV) têm constituído, nas últimas décadas, uma das temáticas de maior foco de atenção no seio da comunidade científica assim como junto dos profissionais de saúde envolvidos, sendo responsáveis pela maior taxa de morbilidade e mortalidade em Portugal, além de representarem elevados custos sociais e económicos. O Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM) assume particular destaque, representando uma das mais prevalentes patologias cardiovasculares e constitui a manifestação mais grave da doença coronária, apresentando-se como a terceira causa de morte em Portugal em 2004 (Coordenação Nacional para as Doenças Cardiovasculares, 2007) (CNDCV). Paralelamente, é responsável por alterações significativas na qualidade de vida da pessoa, com repercussões na vivência quotidiana a nível familiar, social e profissional. A enfermagem assume um papel preponderante no cuidar da pessoa com EAM, tendo como propósito facilitar os processos de transição no sentido de se alcançar um estado de bem-estar (Meleis e Trangenstein, 1994). Os cuidados de enfermagem à pessoa com patologia cardíaca têm vindo a desenvolver-se baseado num extenso número de evidências que apoiam as muitas intervenções, com o objetivo de satisfazer as necessidades da pessoa, reduzir o sofrimento e tornar mais rápida a recuperação. Presentemente, também o alto custo das hospitalizações e o avanço científico no tratamento tem abreviado o tempo de internamento do doente com patologia cardíaca, pelo que a preparação da alta hospitalar, tem assim sido uma das apreensões para assegurar a continuidade do tratamento e evitar reinternamentos. É um processo importante do plano de tratamento, sendo fundamental na prática profissional, devendo ser uma ação contínua, fulcral no processo do cuidar. Como refere Pompeo (2007), a planificação da alta é uma ferramenta para garantir a continuidade dos cuidados após a hospitalização, proporcionando ao doente e família orientações acerca do que necessitam. Neste sentido é fundamental os enfermeiros perceberem como os doentes vivenciam este processo, saberem como interpretam as experiências e o significado que lhe 23 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio atribuem, permitindo não só ver o doente no seu próprio contexto de vida, assim como identificar necessidades de ajuda adequando a prática profissional à situação do doente. Refletindo sobre estes aspetos, emerge a seguinte questão: “Como vivencia a pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio a preparação para a alta hospitalar?” Esta problemática tornou-se o agente para a realização deste estudo. A opção pela temática, surge de um conjunto de aspetos: uma necessidade sentida, correspondente a um percurso profissional desenvolvido no domínio de serviços de urgência e bloco operatório onde a proximidade com esta patologia é frequente, por ser uma patologia que faz parte do leque de patologias preocupantes da atualidade, também o fato de ser uma área de interesse do investigador. Assim, a escolha considerou não só os aspetos anteriormente referidos, mas também o potencial contributo para a visibilidade dos cuidados de enfermagem, no processo de cuidar o doente com Enfarte Agudo do Miocárdio. O presente documento surge no âmbito da frequência do Curso de Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, no sentido de dar resposta a uma solicitação avaliativa, submetendo-o à apreciação e discussão do júri, com vista à obtenção do grau de Mestre. Pretende-se, com este estudo, analisar como vivencia a pessoa com EAM a alta hospitalar, tendo como objetivos: • Identificar o conhecimento da pessoa sobre fatores que influenciaram a ocorrência do EAM; • Identificar as preocupações da pessoa com EAM, na preparação para a alta hospitalar; • Perceber se a pessoa considera importante após o EAM mudar os seus hábitos de vida; • Identificar a informação que a pessoa com EAM considera pertinente na preparação para a alta hospitalar. Assim, para a consecução dos objetivos, a opção metodológica incide sobre uma pesquisa qualitativa de abordagem fenomenológica, uma vez que se pretende estudar o fenómeno tal como é vivenciado. A recolha de informação foi realizada através de entrevistas semiestruturadas, analisadas seguindo as etapas processuais preconizadas por Giorgi. 24 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio O presente estudo, encontra-se estruturado em quatro partes. Numa primeira parte é apresentado o enquadramento contextual, dividido em quatro capítulos. No primeiro são desenvolvidos conceitos relacionados com o EAM, como a sua fisiopatologia, fatores de risco, epidemiologia, abordagem terapêutica e reações emocionais pós EAM. O segundo capítulo é referente ao processo de preparação para a alta hospitalar, sendo abordado o aspeto da pessoa e família perante a alta hospitalar. O terceiro capítulo é referente à intervenção do enfermeiro na educação para a saúde da pessoa com EAM, o quarto capítulo refere-se à caraterização do contexto onde se realiza o estudo. A segunda parte, é alusiva ao enquadramento metodológico, onde se apresenta o desenho da investigação escolhido fazendo-se referência ao tipo de estudo, questões e objetivos do estudo, participantes, instrumento de colheita de informação, procedimentos formais e éticos e processo de análise de informação utilizado. A terceira parte diz respeito à apresentação, análise e discussão da informação obtida, onde se expõe inicialmente a caraterização dos participantes, seguida de uma descrição das vivências de acordo com a estrutura essencial do fenómeno, após esta, é efetuada a análise dos respetivos constituintes-chave, enquadrados nos contextos e confrontados com a literatura existente pesquisada. Na quarta parte figuram as considerações finais, onde constam, as conclusões do estudo, os contributos e as limitações com que nos deparamos neste percurso. A concretização do presente trabalho foi efetuada com recurso a pesquisa bibliográfica de cariz científico, em livros e revistas científicas, periódicos, monografias, legislação em vigor e algumas bases de dados online, de predominância e caráter atual. 25 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio PARTE I ENQUADRAMENTO CONTEXTUAL DO ESTUDO Nesta primeira parte apresentamos o enquadramento contextual do estudo, que é centrado numa revisão da literatura. Esta é efetuada de forma sintética. Uma revisão mais aprofundada irá decorrer na parte III, inerente à análise e discussão da informação. Inicialmente a pesquisa relativa a alguns temas, pretendeu alicerçar o estudo e mostrar caminhos de forma mais esclarecida acerca da temática. Nesta parte é ainda realizada uma caraterização do contexto do estudo. Queremos também justificar que ao longo deste trabalho optámos pela utilização dos termos “pessoa” ou “pessoa doente”. Relativamente ao conceito de “pessoa” será descrito segundo a Ordem dos Enfermeiros no decurso deste trabalho. 27 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 1 – ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO O Enfarte Agudo do miocárdio (EAM), assume particular relevância dentro das doenças cardiovasculares, pela sua gravidade, sendo responsável por elevadas taxas de morbi - mortalidade. Por este facto, a abordagem destas doenças justifica uma atuação planeada e organizada ao longo de todo o sistema de saúde, através de um Programa Nacional que tente não apenas evitar estas doenças e reduzir as incapacidades por elas causadas, como também prolongar a vida. (CNDCV, 2009). As doenças cardiovasculares segundo a Direção Geral da Saúde (DGS), são atualmente designadas como o inimigo da saúde, consideradas uma das principais causas de mortalidade, que devido às suas graves consequências são encaradas como um problema que urge minorar, (Despacho nº16415/2003). Referem-se “a qualquer doença que afeta o coração e os grandes vasos”, como por exemplo, a doença das artérias coronárias, a doença cérebro-vascular, a hipertensão arterial (HTA), entre outras. Assim, para reduzir a incidência das doenças cardiovasculares, torna-se fundamental que a população possua conhecimento sobre o seu significado, a sua incidência a as suas consequências e aprenda a identificar os seus fatores de risco, e se envolva diretamente na prevenção e/ou tratamento destes. (Fundação Portuguesa de Cardiologia, 2006) (FPC). Na revisão da literatura realizada constata-se que, expressões como doença coronária, doença da artéria coronária ou doença isquémica do coração são utilizadas pelos autores para referenciarem a mesma situação clínica, abrangendo a angina de peito, o enfarte agudo do miocárdio e a morte súbita cardíaca. (Haugh e Keeling, 2003). No presente trabalho abordamos apenas o conceito de enfarte agudo do miocárdio, dado ser a patologia intrínseca à opção da temática em estudo. Em 1912, o médico James B. Herrick deu a primeira explicação detalhada desta patologia (EAM), associando-a à obstrução súbita das artérias coronárias. (Silva, 2006). A doença coronária que inclui o EAM, é o termo utilizado para descrever os efeitos da diminuição ou obstrução completa do fluxo de sangue nas artérias coronárias, 29 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio provocado pelo estreitamento ou presença de placas de ateroma. (Quinn, Webster e Hatchett, 2006). Segundo os mesmos autores, é uma doença progressiva e insidiosa das artérias coronárias, sendo a manifestação clínica mais comum a dor retroesternal. Esta patologia é consequência, principalmente da aterosclerose, que consiste no depósito ao longo da vida, de lípidos e tecidos fibrosos na parede das artérias formando placas ateromatosas. As lesões ateroscleróticas nas artérias coronárias podem conduzir à trombose, ao estreitamento do lúmen vascular e frequentemente, à obstrução completa do vaso. (Urden, Stacy e Lough, 2008). Qualquer que seja a causa do obstáculo ao fluxo sanguíneo, o tecido do miocárdio irrigado pelas artérias envolvidas sofre lesões, que podem ser irreversíveis. (Quinn, Webster e Hatchett, 2006). Como se pode observar na figura nº 1. Figura nº 1- Obstrução do fluxo de sangue nas artérias (Fonte. http://marlivieira.blogspot.pt/2010/02/blog-post_13.html) Enfarte agudo do miocárdio é o termo utilizado para descrever a necrose irreversível do miocárdio, que resulta de uma diminuição súbita ou mesmo uma interrupção total do aporte sanguíneo a uma determinada área do miocárdio, produzindo em poucas horas a morte isquemica do tecido. A localização e a amplitude do enfarte determinam as consequências, em termos de contratibilidade e função do miocárdio (Urden, Stacy e Lough, 2008). Quando ocorre diminuição do aporte de oxigénio as células do miocárdio são atingidas e em poucas horas ocorre a isquemia da área afetada. O processo de cicatrização da isquemia vai de dois a três meses, contudo isquemias e necrose prolongadas produzem lesão celular irreversível (Haugh e Keeling, 2003). 30 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A região mais externa da área enfartada do miocárdio é a zona de isquemia, a qual é constituída por células viáveis, pelo que a ação prioritária é repor a circulação nessa região. A zona de enfarte é a área do miocárdio onde ocorreu morte celular e necrose muscular (Urden, Stacy e Lough, 2008). Para o reconhecimento de enfarte no eletrocardiograma, é necessário existir mudanças na morfologia do complexo QRS, onda T e do segmento ST. A isquemia modifica o modo como as células do músculo cardíaco respondem a estímulos eléctricos, o que se vai traduzir em alterações no traçado electrocárdiográfico (Aehlert, 2007). Como se pode observar seguidamente nas figuras nº 2 e nº 3. Figura nº 2- Eletrocardiograma sem alterações (Fonte: http://farmacia-verceus.blogspot.pt/2009/12/quando-fazemos-um-eletrocardiograma.html) Figura nº 3 – Comparação de Eletrocardiogramas sem alterações com Eletrocardiogramas com Alterações/representação de isquémia do miocárdio (Fonte: http://farmacia-verceus.blogspot.pt/2009/12/quando-fazemos-um-eletrocardiograma.html) Atualmente o enfarte supradesnivelamento ST designa-se por (EAMSSST) e Enfarte Agudo do Miocárdio sem Enfarte Agudo do Miocárdio com supradesnivelamento ST (EAMCSST), consoante a existência de elevação do segmento ST no Electrocardiograma (ECG) de doze derivações. 31 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio O EAM é habitualmente classificado tendo em conta a sua localização na superfície do miocárdio e as camadas do músculo atingidas. Figura nº 4 – Representação esquemática das camadas musculares do coração (Fonte: http://cadernounip.blogspot.pt/2010/10/aula-21102010.html) Deste modo designa-se enfarte transmural, quando há envolvimento das três camadas musculares: endocárdio, miocárdio e epicárdio. Nesta situação, o traçado eletrocardiográfico revela alterações da despolarização e da repolarização, traduzindose estas alterações, na fase aguda, pelo supradesnivelamento do segmento ST sendo por isso denominado de EAM com supradesnivelamento do segmento ST (Antman e Braunwald, 2003). O segmento ST, no traçado do eletrocardiograma, segue-se ao complexo QRS e representa o fim da despolarização ventricular e o início da polarização, durante o qual ocorre perfusão das artérias coronárias. Este processo é representado por uma linha isoelétrica com uma ligeira curvatura no sentido da onda T. Qualquer elevação ou depressão poderá indicar isquemia do miocárdio. (Hatchett e Thompson, 2006). Conforme demonstra a figura nº 3, atrás representada. Os enfartes não transmurais podem ser sub – endocárdicos, quando envolvem o endocárdio e o miocárdio ou sub-epicárdicos se envolvem o miocárdio e o epicárdio. As alterações eletrocardiográficas traduzem-se pelo infradesnivelamento do segmento ST e/ ou inversão da onda P, sendo por isso denominados por EAM sem supradesnivelamento do segmento ST (Ferreira e Santana, 2003). Na maioria dos casos, o EAM apresenta-se com sintomas de dor torácica prolongada e intensa, podendo irradiar para o membro superior esquerdo, região dorsal, pescoço e maxilar, não cedendo ao repouso. Esta sintomatologia pode ser acompanhada por náuseas, vómitos e sudorese (Monahan, 2005). O EAM pode ainda apresentar-se como síncope, com uma súbita perda de consciência. Podem ainda igualmente existir manifestações atípicas, tais como dor epigástrica, indigestão de aparecimento recente, dor torácica de características 32 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio pleuriticas, ou dispneia crescente. Estas manifestações atípicas são frequentemente observadas em doentes mais jovens (25 - 40 anos), mais idosos (idade superior a 75 anos), em mulheres, em doentes com diabetes, insuficiência renal e demência (Sheehy, 2001). O diagnóstico de EAM é baseado nos critérios revistos da Organização Mundial de Saúde, sendo imprescindível a existência de pelo menos duas de três das seguintes condições: história clínica sugestiva, alterações do eletrocardiograma de 12 derivações compatíveis com isquémia e níveis dos biomarcadores cardíacos1 elevados (Quinn, Webster e Hatchett, 2006). Apesar dos avanços recentes no diagnóstico e na terapêutica, o EAM representa, uma importante causa de recurso aos cuidados de emergência e hospitalização, constituindo uma fonte muito significativa de morbilidade e mortalidade, assim como de sobrecarga a nível económico. Seguidamente faz-se abreviadamente alusão à fisiopatologia do EAM. 1.1 - FISIOPATOLOGIA O coração é um órgão que faz parte integrante do sistema cardiovascular. O principal objetivo deste sistema é levar o sangue a todos os tecidos do organismo, de forma a satisfazer os seus requisitos metabólicos e manter um normal funcionamento. A irrigação do músculo cardíaco é feita pelas artérias coronárias direita e esquerda, que nascem na base da artéria aorta e dão origem a ramificações que penetram a parede muscular e vão irrigar o miocárdio. Uma circulação coronária eficaz proporciona um fornecimento substancial de sangue ao miocárdio (Quinn, Webster e Hatchett, 2006). A relevância atribuída às artérias coronárias deve-se ao facto de serem a única fonte de aporte de sangue ao músculo cardíaco. Qualquer mudança significativa no fluxo sanguíneo destas artérias afeta toda a função do miocárdio. 1 Os biomarcadores cardíacos podem ser usados para o diagnóstico ou exclusão de EAM e para além disso dão importante informação prognóstica, são macromuléculas intracelulares dos miócitos cardíacos, incluem enzimas, proteínas contrácteis e mioglobina. Estas substâncias são libertadas para a corrente sanguínea quando existe lesão do miocárdio e à perda de integridade da membrana dos miociócitos. (Henriques et al.,2006). Os biomarcadores cardíacos são doseados no sangue periférico, e são: creatinina kinase (CK), a forma híbrida (CK-MB) encontra-se mais no músculo cardíaco, troponinas, mioglobina, desidrogenáse láctea (LDL) e aspartano aminotransferase (AST) (Urden, Stacy e Lough, 2008). 33 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio O EAM, ocorre quando há uma obstrução transitória ou permanente de uma artéria coronária e o fornecimento de sangue para o músculo cardíaco é alterado, privando as células musculares do oxigénio necessário para a sua sobrevivência. A diminuição do fluxo sanguíneo leva a uma diminuição do oxigénio para o miocárdio que origina, frequentemente, desconforto torácico ou sintomas relacionados. A isquemia do miocárdio surge quando o fornecimento de oxigénio ao músculo cardíaco é inferior às suas necessidades, originando uma perfusão inadequada do mesmo (Ganz e Ganz, 2003). A causa mais frequente de EAM, é a aterosclerose que é uma doença progressiva e complexa. Carateriza-se pela proliferação de células musculares e acumulação de lesões brancas protuberantes designadas por placas no revestimento interno da parede arterial. As placas são constituídas por substâncias lipídicas e camada exterior fibrosa. É a rutura ou fissura das placas e consequente trombose que torna perigosa a aterosclerose. O centro da placa exposto é muitíssimo trombogénico e à volta agrupam-se plaquetas, resultando na formação de um trombo. O trombo sobreposto numa placa reduz muito o fluxo sanguíneo (Hatchett, Thompson, 2006). As alterações vasculares inibem, gradualmente, a capacidade que as artérias têm de se dilatar, reduzindo assim o aporte sanguíneo até ao miocárdio. Face ao supramencionado, torna-se pertinente realizar uma breve abordagem da epidemiologia. 1.2 – EPIDEMIOLOGIA As doenças cardiovasculares constituem a principal causa de morte nos países desenvolvidos. Estas doenças são anualmente responsáveis por 4,35 milhões de mortes nos 52 Estados Membros da Região Europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS) e por 1,9 milhões na União Europeia, apresentam-se como responsáveis por cerca de metade das mortes na Europa (CNDCV, 2009). Em Portugal, segundo a DGS (2010), estas doenças são responsáveis por cerca de 43% de mortes nos homens e 54% nas mulheres. Relativamente ao EAM, é considerado a manifestação mais grave da doença coronária, figura como a terceira causa de mortalidade em Portugal no ano de 2004 (8,7%), a seguir às neoplasias (22,3%) e ao acidente vascular cerebral (16,4%) (Alto Comissariado da Saúde, 2007). 34 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio No ano de 2007, de acordo com dados resultantes do Agrupamento em Grupos Diagnóstico Homogéneo – GDHs, ocorreram no nosso país, 11.909 episódios de internamento hospitalar por enfarte agudo do miocárdio, com 1303 óbitos (10,94%) (CNDCV, 2009). Apesar dos avanços terapêuticos, cerca de 45% dos enfartes do miocárdio evoluem com insuficiência cardíaca de gravidade variável a médio-longo prazo e esta tornar-seá um problema de saúde importante com uma mortalidade considerável (Alto Comissariado da Saúde, 2007). De primordial importância nesta patologia é a reconhecimento dos fatores de risco, na perspetiva de os tentar minimizar. Seguidamente, abordam-se alguns dos fatores de risco que favorecem a progressão da doença. 1.3 – FATORES DE RISCO O crescimento da mortalidade por doença cardiovascular tem desencadeado a realização de estudos que pretendem esclarecer as causas desta doença. O conceito de fator de risco nasceu da teoria multicausalidade das doenças. Um fator de risco é uma caraterística congénita ou adquirida de um indivíduo, que está associada à probabilidade de este vir a comportar determinada doença, ou mesmo falecer (Vaz, Santos e Carneiro, 2005). No contexto epidemiológico, podemos definir fator de risco como “…uma caraterística ou um traço de um indivíduo ou população que está presente precocemente na vida e associa-se ao aumento do risco de desenvolver uma doença futura” (Ridker, Genest e Libby, 2003, p. 1034). No decorrer dos anos, realizaram-se muitos estudos nesta área, dos quais se destaca o “Interheart Study”, que teve como objectivo identificar os fatores de risco que contribuem para o progresso da doença coronária a nível global. Este estudo integrou doentes de 52 países, concluindo que mais de 90% do risco global de EAM é previsível. (Yusuf, et al., 2004). Um outro estudo epidemiológico conhecido por “Estudo dos 7 Países”, realizado pelo Dr. Ancel Keys demonstra a repercussão nociva da dieta hiperlipídica na saúde, em particular no desencadeamento do EAM. 35 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A OMS calcula que “uma redução ligeira da HTA, consumo de tabaco, dislipidémia e obesidade pode fazer cair a incidência de doença cardiovascular para menos de metade.” (CNDCV, 2009, p. 6). Os fatores de risco, de acordo com Vaz, Santos e Carneiro (2005), utilizam-se ao nível da predição, determinação da etiologia, diagnóstico e prevenção de doença. Atualmente, o conceito de fator de risco coronário é fundamental na prática clínica, principalmente na vertente da prevenção, sendo importante fazer a distinção entre fatores de risco não modificáveis e os modificáveis (Idem). Existe grande probabilidade de desenvolver doença coronária, quando está presente mais que um fator de risco, pois a sua associação potencializa o seu efeito. Segundo Aehlert (2007), os fatores de risco podem dividir-se em três grupos distintos: não modificáveis, que não podem ser modificados; modificáveis, que podem ser mudados ou tratados, e fatores de risco contribuintes, que levam a um risco aumentado de doença cardíaca. A prevenção da doença coronária foca-se ao nível dos fatores de risco modificáveis, deste modo os hábitos de vida adotados por grande parte da população, como o sedentarismo, a falta de atividade física diária, uma alimentação desequilibrada ou o tabagismo, constituem hoje fatores de risco a evitar. Neste contexto importa salientar que foi assinado pelo governo português a “Carta Europeia para a Saúde do Coração”, iniciativa que conta com o apoio da Comissão Europeia, da Organização Mundial de Saúde, da European Heart Network e da Sociedade Europeia de Cardiologia. A “Carta” recomenda que a abordagem dos fatores de risco se faça ao longo da vida e logo desde a infância (Perdigão, 2007). Perante o exposto torna-se importante abordar de uma forma abreviada os fatores de risco da doença coronária. Fatores de risco não modificáveis Hereditariedade Segundo a American Heart Association (AHA), indivíduos que são filhos de doentes cardiovasculares têm maior tendência para também desenvolver DCV (AHA, 2010). Para além dos fatores genéticos, outros fatores de risco podem existir no ambiente familiar, designadamente o padrão alimentar e os hábitos de exercício físico, podendo contribuir para um EAM (Gouveia, 2004). 36 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Idade De entre os fatores de risco, a idade mostrou ter uma associação forte e consistente com as DCVS. Á medida que a idade avança, existe um aumento gradual da rigidez dos vasos. A fragilidade da parede arterial é reconhecida como um fenómeno que ocorre com a idade, principalmente a partir dos 60 anos de idade (Carvalho, 2000). Género A incidência da doença coronária, abaixo dos 55 anos de idade é uma doença muito mais comum entre os homens do que nas mulheres. Antes da menopausa as mulheres raramente sofrem EAM. Após a menopausa a doença cardíaca torna-se comum, de modo que os índices entre as mulheres alcançam gradualmente o dos homens. Acima dos 75 anos os números encontram-se ao mesmo nível (Davidson, 2005). Fatores de risco modificáveis Hipertensão Arterial A HTA constitui um dos maiores e atuais problemas de saúde pública, sendo a DCV mais comum e o fator de risco mais significativo no desenvolvimento da doença aterosclerótica coronária e cerebral. (MacGregor e Kaplan, 2002). A HTA causa lesão nos orgãos-alvo (coração, cérebro e rins) como consequência direta da pressão arterial elevada (por aumento da resistência periférica) e/ou da aterosclerose acelerada. Ao nível cardíaco, o aumento do trabalho e acordo com o aumento da resistência periférica, leva à hipertrofia ventricular esquerda (HVE) compensatória (MacGregor e Kaplan, 2002). Se a HTA não for tratada, pode originar EAM, insuficiência cardíaca congestiva, acidentes vasculares cerebrais e insuficiência renal (Phipps, Sands e Marek, 2003). Tabagismo O tabagismo é uma importante causa de morbimortalidade, sendo considerada como a principal causa evitável de doença e morte nas sociedades. O papel do tabaco é bem conhecido na disfunção endotelial, na trombose/fibrinólise, na inflamação e no metabolismo lipídico. Os seus componentes aumentam ao longo do tempo, o risco de isquémia pelo desequilíbrio entre o aumento das necessidades 37 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio do consumo de oxigénio e a diminuição da capacidade de transporte de oxigénio para os tecidos (Rocha, 2007). Hábitos Alimentares A relação entre o tipo de alimentação e a doença coronária encontra-se profundamente documentada na literatura. Segundo World Health Report (WHO), a alimentação constitui, o principal fator de risco de patologias crónicas, como o caso das doenças cardiovasculares, diabetes, neoplasias e osteoporose. O consumo excessivo de gorduras, em especial das gorduras saturadas, tem sido associado ao aumento do risco de eventos cardiovasculares. Por outro lado, o consumo de fibras, de ácidos ómega-3 e ómega-6, reduz os níveis séricos de colesterol e portanto diminui o risco das DCV (WHO, 2000). Neste sentido a mudança dos hábitos alimentares é a estratégia de intervenção primordial neste fator de risco. Obesidade No nosso país, a prevalência da pré-obesidade e da obesidade é mais elevada na população com mais de 55 anos (SPA, 2011). Pelo seu caráter epidémico a obesidade tem vindo a assumir o aparecimento de um número crescente de indivíduos com simultaneidade de diversos fatores de risco cardiovascular (síndrome plurimetabólica) (Idem). A obesidade é o denominador comum de um conjunto de fatores de risco de doença cardiovascular como a hipercolesterolémia, a hipertensão e a diabetes (Despacho nº16415/2003). Hipercolesterolémia A importância da hipercolesterolémia como um dos principais fatores de risco cardiovascular foi estabelecida na década de 60 e posteriormente comprovada em estudos epidemiológicos, tendo o nível do colesterol sérico um papel fundamental no processo de formação da placa aterosclerótica (Costa et al, 2003). Neste sentido, a doença arteriosclerótica pressupõe a deposição de colesterol da parede arterial, pelo que pode afirmar-se que o colesterol é o “principal” fator de risco na doença coronária pois, sem esse mecanismo, não há aterosclerose. O tratamento e a prevenção passam pela adoção de um estilo de vida saudável, com redução da ingestão de 38 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio gorduras de origem animal saturadas. Quando estas medidas não são suficientes, é necessário recorrer a intervenções terapêuticas (SPA, 2011). Diabetes Mellitus A diabetes é um fator de risco para a DCV, e é uma doença crónica disseminada a nível mundial, com repercussões em termos de saúde pública. Segundo estimativa da OMS, prevê que em 2025, haja 300 milhões de diabéticos em todo o mundo. Em Portugal, 6,5 % da população adulta sofre de diabetes (SPA, 2011). Sedentarismo O tipo de vida e o desenvolvimento económico e social conduziram a uma acentuada redução dos níveis médios de atividade física da sociedade ocidental, no qual Portugal está incluído, aumentando assim o sedentarismo. Para manter a saúde em geral e a cardiovascular em particular todo o adulto deverá realizar, no minimo, 30 minutos de atividade física moderada, diariamente (SPA, 2011). Fatores de risco contribuintes Stress A exposição continuada a estímulos geradores de stress torna o indivíduo vulnerável a doenças, nomeadamente HTA e DCV. O stress favorece os comportamentos de risco na doença cardiovascular (tabagismo, obesidade, sedentarismo, etc.). Desencadeia inúmeras reações no organismo, nomeadamente: há uma associação entre o stress mental e o desenvolvimento da síndrome metabólica, verifica-se também uma estreita conexão entre as hormonas do stress (catecolaminas) e a ocorrência do enfarte do miocárdio. A hiperatividade do sistema nervoso simpático (adrenalina, noradrenalina e outras hormonas do stress) ocorre também na angina instável, ocorre ainda uma associação entre o stress mental e a elevação do colesterol. O stress crónico condiciona o favorecimento de alterações fibrinolíticas e a ocorrência de hemoconcentração (SPA, 2011). De seguida apresentamos a abordagem terapêutica desta patologia. 39 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 1.4 – ABORDAGEM TERAPÊUTICA Após confirmação do diagnóstico de EAM, uma abordagem terapêutica precoce é fundamental dado que reduz o aparecimento de complicações, da morbilidade e da mortalidade do doente. No tratamento de doença coronária apresentam-se várias modalidades terapêuticas como, a terapêutica farmacológica e a terapêutica de reperfusão do miocárdio. As últimas duas décadas vieram revolucionar profundamente o tratamento da doença coronária. A consciencialização de que a oclusão trombótica das artérias coronárias desempenhava um papel preponderante na fisiopatologia da doença coronária, direcionou a investigação científica para a necessidade urgente da abertura do vaso ocluído (Marques, 2005). O mesmo autor refere que o tratamento da isquemia do miocárdio, que anteriormente se limitava à prevenção das complicações e da sintomatologia, passou a ser sustentado essencialmente em duas estratégias ativas de reperfusão: uma farmacológica com a terapêutica fibrinolítica2 e outra mecânica, denominada revascularização mecânica percutânea. Desta forma, é possível a reperfusão da área de enfarte, através da terapêutica fibrinolítica por via intravenosa ou através de Angioplastia Coronária Transluminal Percutânea (PTCA) (Urden, Stacy e Lough, 2008). Esta última apresenta alguns benefícios relativamente à trombólise, visto que apresenta uma taxa mais elevada da desobstrução da artéria coronária relacionada com EAM (acima dos 90%). Esta técnica consiste na colocação de um stent na artéria, com o objetivo de se obter um fluxo de sangue adequado (Quinn, Webster e Hatchett, 2006). Qualquer que seja o tratamento tem como objetivos melhorar o aporte de oxigénio às células do miocárdio, aliviar a dor précordial, estabilizar o ritmo cardíaco, revascularizar por completo a artéria coronária, preservar o miocárdio e reduzir a carga de trabalho cardíaco (Becker et al., 2006). A evidência do benefício da terapêutica de reperfusão é bem conhecida, como demonstrado na metanálise da Fibrinolytic therapy Trialists`Collaborative Group, constatando-se, que a redução da mortalidade, está diretamente relacionada com a sua utilização precoce (CNDCV, 2007). 2 A terapêutica fibrinolítica destina-se a potenciar o sistema fibrinolitico endógeno, acelerando o processo de fibrinólise de modo a restabelecer o fluxo sanguíneo no miocárdio evitando a lesão permanente, através da dissolução imediata do trombo (Quinn, Webster e Hatchett, 2006). 40 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Também Gomes et al. (2007, p.6), refere que o fator tempo é preponderante, uma vez que “a redução da mortalidade e morbilidade pelas terapêuticas de reperfusão verificase sobretudo nas primeiras três horas após o início dos sintomas”. Quando estas formas de tratamento não são eficazes, recorre-se ao tratamento cirúrgico direto, através do bypass das artérias coronárias. Atualmente as políticas de saúde portuguesas, através do Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares, apontam no sentido de sensibilizar a população para a deteção de sinais de alarme, e no caso de terem sintomas compatíveis com doença coronária recorrerem ao número nacional de emergência. Os grandes progressos tecnológicos no diagnóstico e no tratamento da doença coronária contribuíram para o alívio da sintomatologia e também para o prolongamento da vida em anos e em qualidade. No entanto, importa compreender que apesar da eficácia das várias formas de tratamento e intervenção, é fundamental atuar nos fatores de risco para protelar a progressão da mesma e melhorar a qualidade de vida da pessoa com EAM (Flectcher, Oken e Safford, 2003). Trazendo esta patologia alterações à vida da pessoa, evidenciou-se a necessidade de abordarmos algumas dessas alterações que se manifestam ao nível emocional. 1.5 - REAÇÕES EMOCIONAIS FREQUENTES DA PESSOA PÓS ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO A inesperada ocorrência de um EAM, ameaça não apenas o funcionamento físico, mas também a auto imagem da pessoa, cria uma atmosfera de crise, pelo que as repercussões desta patologia podem afetar a pessoa a vários níveis, ameaçando não apenas a atividade quotidiana, mas criando ansiedade e muitas preocupações (Dantas, Stuchi e Rossi, 2002). Este impacto é vivido como um processo complexo de incertezas para a pessoa e família, que requer do enfermeiro uma postura com atitudes de apoio e disponibilidade total perante o processo de doença súbita, devendo este ter presente que “pessoa” segundo a OE (2001, p.6), “é um ser social e agente intencional de comportamentos baseados nos valores, nas crenças e desejos de natureza individual, o que a torna num ser único, com dignidade própria e direito à autodeterminação”. 41 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A ocorrência de um EAM, remete para a pessoa um significado e uma experiência única e singular que provoca diferentes emoções dependendo das caraterísticas individuais, pois como é referido na OE (2001) “a pessoa” tem comportamentos que são influenciados pelo ambiente onde vive e se desenvolve, o qual é constituído por elementos humanos, físicos, políticos, económicos, culturais e organizacionais. Na opinião de Canbete (2005), a admissão no hospital confronta a pessoa com um ambiente que lhe é estranho, sobretudo quando em situação de internamento. É uma experiência significativa acompanhada por um conjunto de sentimentos, quase sempre marcantes, pois o hospital é um mundo à parte. Ao ser internada, a pessoa vê-se privada das suas funções laborais e da sua vida social assim como do afeto de familiares e amigos, é normalmente privada dos seus valores, passando à condição de pessoa doente. O mesmo autor relativamente a este processo, diz que: “O internamento pode constituir uma série de ameaças: ameaça à vida e à integridade corporal, desconforto devido à dor, cansaço, alterações na alimentação, privação da satisfação sexual, restrição de movimentos, isolamento, risco de alterações financeiras ou de rejeição dos outros face à sua situação, incerteza quanto ao futuro, separação da família e dependência dos outros para o bem estar” Canbete (2005, p.19). Neste âmbito, Sousa e Oliveira (2005) referem, que a forma súbita como se manifesta o EAM, causa intenso impacto emocional, perturba a pessoa, criando conflitos emocionais como a ansiedade, pois passa a conviver com situações que geram habitualmente medo, insegurança e ansiedade, é como se as “cortinas do mundo exterior se fechassem”. A incerteza poderá surgir em resultado das dúvidas sobre o que espera a pessoa, não apenas relativamente ao tipo de tratamentos e técnicas a que irá ser submetida, como ao percurso da própria doença, que poderá levar a mais sofrimento, pois segundo os autores supracitados, a pessoa tem que encarar de forma realista a probabilidade de sofrer reenventos cardíacos, transparecendo a ansiedade em doentes com esta patologia (idem). Reforçam alguns autores que, emoções como a ansiedade e o medo estão associadas a doenças coronárias e enfartes do miocárdio e que os doentes com EAM normalmente apresentam-se ansiosos e assustados, com uma expressão facial angustiada (Cintra, Nishide e Nunes, 2001). Sendo uma realidade, que a pessoa perante um internamento hospitalar por EAM, pode apresentar medo, ansiedade, insegurança, muitas preocupações e dúvidas, fazer orientações faz parte do trabalho dos enfermeiros, cabendo a estes profissionais 42 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio identificá-las e sistematizá-las e promover o “processo de educação” usando todos os recursos para minimizar essas angústias. Tal como referem, Quinn, Webster e Hatchett (2006), a ansiedade e a depressão podem ser complicações de um episódio de EAM, assim uma abordagem positiva e que assegure a transmissão de confiança, à pessoa e família, ajuda a atenuar os medos e a ansiedade relativos ao futuro. Neste percurso, a pessoa com EAM terá que ser ajudada pelos profissionais de saúde, proporcionando um ambiente que promova a relação empática, a verbalização e a escuta, para que através do desconhecimento dos significados que atribui ao acontecimento se possam identificar as suas necessidades de ajuda, que têm um contexto próprio. Num estudo realizado acerca da “Qualidade de Vida Pós IAM” por Almeida e Júnior (2003), estes salientam, que a ansiedade nos primeiros dias após o episódio de EAM está relacionada ao défice de conhecimento da patologia/tratamento e nos dias subsequentes o doente apresenta ansiedade relacionada com os exames a serem realizados e também com a alta hospitalar. Desta forma, a alta hospitalar pode ser vista como uma ameaça à vida. Sendo um momento de muita ansiedade, que envolve muitas dúvidas, tanto da parte da pessoa doente, como da família (Carvalho et al, 2008). Também o período que se segue à ocorrência de um EAM, implica alterações ao nível do estilo de vida e das atividades diárias. Neste sentido, referem McIntyre, Fernandes e Soares (2000), que os doentes pós EAM reportam frequentemente acessos de ansiedade e depressão. Sendo a incerteza quanto ao futuro uma das causas de ansiedade da pessoa com EAM, é de grande importância o planeamento da alta em equipa desde cedo, influencia positivamente concerteza na redução das dúvidas e das preocupações. O que torna importante a abordagem do tema preparação para a alta, ao qual se faz alusão seguidamente. 43 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 2 - PREPARAÇÃO PARA ALTA HOSPITALAR DA PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO O processo da alta hospitalar, é um processo que envolve relacionamento entre profissionais, pessoa e família, une conceitos como planeamento, comunicação, informação, necessidades, preocupações, entre outros, visando o bem-estar e a segurança da pessoa. A preparação da alta hospitalar é um processo contínuo de identificação e preparação de respostas às necessidades da pessoa. Segundo Pompeo et al (2007), o planeamento da alta é uma ferramenta para garantir a continuidade dos cuidados após a hospitalização. Requer desde o início do internamento planeamento e envolvimento de toda a equipa prestadora de cuidados e constitui mais do que uma simples transferência da pessoa do hospital. É, onde se insere o decurso da educação para a saúde, considerada fundamental no processo do cuidar (idem). Assim, o seu planeamento, por parte dos enfermeiros deve ser um foco da prática, onde as intervenções de enfermagem podem ser vistas como uma estrutura de apoio facilitadora na vivência do processo de transição da doença, promovendo o bem-estar à pessoa doente e à família. Em contexto hospitalar, à a destacar a preparação da alta como um processo de planeamento de cuidados, que deverá ser iniciado no momento da admissão e, que permite antecipadamente a identificação e preparação das necessidades de cuidados de saúde da pessoa (Maramba, 2004). Neste sentido, Fernandes (2007) refere que, o cuidar engloba vários domínios, implicando que se preste atenção às necessidades físicas e emocionais dos doentes. Pretende-se que haja um equilíbrio e harmonia entre eles, atendendo a uma visão holística dos mesmos, encarando-se cada situação específica como irrepetível e cada doente como único. O enfermeiro deve procurar o equilíbrio, na relação que estabelece com o doente, entre a dedicação às atividades de enfermagem e a atenção à pessoa. Quando se trata de “cuidar” de pessoas, a procura do diálogo, e a procura de consenso são aspetos a valorizar. Tornando-se fulcral o aspeto de uma comunicação eficaz. Pelo que a comunicação é o elemento básico da interação humana, permite às pessoas estabelecer, manter e aumentar os contatos com os outros. 45 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Segundo Phaneuf (2005, p.23), “(…) a comunicação é um processo de criação e recriação de informação, de troca, de partilha e de colocar em comum sentimentos e emoções entre pessoas. A comunicação transmite-se de maneira consciente ou inconsciente, pelo comportamento verbal e não verbal, e de modo menos global, pela maneira de agir dos intervenientes. Por seu intermédio, chegamos mutuamente a apreender e a compreender as intenções, as opiniões, os sentimentos e as emoções sentidas pela outra pessoa e segundo o caso a criar laços significativos com ela.” Os enfermeiros devem por isso mostrar habilidades comunicacionais, no sentido de captar as necessidades que a pessoa doente e a família revelam. Ao incentivá-los a expressar as suas necessidades, inquietudes, medos e sentimentos, diminui a ansiedade que implica a doença, o internamento e a alta hospitalar. Podemos assim dizer que, a comunicação, é parte integrante da intervenção do enfermeiro na preparação para a alta. Neste sentido reforça Marrucho (2001), que uma boa comunicação com o doente e família, passará pela transmissão de informação adequada às suas necessidades, pelo proporcionar tranquilidade, segurança e esperança. A comunicação, é de facto, um aspeto importante para se estabelecer um cuidado de enfermagem que vislumbre uma assistência de qualidade. Neste âmbito, o enfermeiro pode agir, ajudando a pessoa hospitalizada por ocorrência de um EAM, a ter uma visão diferente da sua situação. É essencial que haja esclarecimento de dúvidas, valorização da cultura e da opinião da pessoa doente. O desenvolvimento das competências relacionais, assume assim um papel muito importante na manutenção da boa relação entre a tríade doente/família/equipa. Outro aspeto de grande importância na planificação da alta é a informação que como refere Martins (2010), a informação deve ser vista, como um elemento que conduz a inúmeros benefícios quando as informações são claras. Tem sido demonstrada a sua importância na prevenção, tratamento e recuperação da doença, assim como para a mudança de comportamentos. Assim, o processo de preparação da alta deve ser contínuo e gradual, deve ter em consideração não só aspetos relacionados com a pessoa mas também aspetos relacionados com a família para se adaptarem à nova situação. Deve incluir o resultado da identificação das necessidades e as possíveis alternativas. Como tal, são muito relevantes durante o internamento as atividades educativas na relação enfermeiro/pessoa que sofreu um EAM, visto que só a partir do momento que o doente assimila a sua nova condição é que poderá caminhar no sentido de obter uma melhor qualidade de vida (Pombo e Guerreiro, 2006). 46 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Uma preparação da alta inadequada, pode conduzir, após a alta a existência de necessidades não satisfeitas. Neste contexto, Maramba (2004), aponta que um inadequado planeamento de alta contribui para uma má utilização dos recursos da comunidade, inadequado seguimento após a alta, falta de preparação para o auto cuidado e readmissões subsequentes por insuficiente educação da pessoa. Invoca também como causa de um ineficaz processo de preparação da alta, a comunicação insuficiente. Por tudo o referenciado, não parece demais enfatizar que a preparação da alta não é feita para a pessoa doente, é feita com a pessoa doente, e implica uma relação de confiança e respeito, com o objetivo de contribuir para a reabilitação. Importa então, durante todo o internamento que começa na admissão, proporcionar o máximo de bem-estar à pessoa que passa pela experiência de sofrer um EAM. O enfermeiro deve criar um ambiente favorável à expressão dos seus sentimentos e preocupações, colhendo os dados necessários para planear uma alta personalizada, nunca esquecendo os familiares da pessoa doente. 2. 1 - ENVOLVIMENTO DA FAMÍLIA NA PREPARAÇÃO DA ALTA HOSPITALAR A família, segundo Alarcão (2002) é um sistema, constituído por vários elementos ligados entre si por relações, que mantém o equilíbrio ao longo de um processo de desenvolvimento percorrido através de estádios de evolução. Embora se tenham verificado mudanças significativas, onde existiram perda de algumas funções de outrora, a família tem caraterísticas específicas continuando a ser o grupo social mais importante. É a instituição social mais antiga que se conhece, tem a sua origem, fundamento e expressão na natureza humana e ligações vitais e orgânicas com a sociedade, o que faz dela o pilar básico dessa mesma sociedade (Branco e Santos, 2010). Perante a ocorrência de uma doença, o universo familiar surge naturalmente, como a primeira referência de suporte para a pessoa. Enquanto o processo de doença afeta o indivíduo, a experiência de doença, frequentemente, afeta todos aqueles que convivem com essa pessoa, como familiares e amigos. Neste sentido, referem Dantas, Stuchi e Rossi (2002), que a experiência de doença cardíaca, é um problema na vida dos familiares e do doente, o tratamento e o 47 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio processo de recuperação geram incertezas e mudanças na vida das pessoas envolvidas. Posto isto, a família tem um papel muito importante, pois este tipo de patologia tem uma ocorrência súbita, tornando-se necessário o reajuste nos papéis para solucionar os problemas que da situação advêm, exigindo à família uma adaptação. Neste decurso os enfermeiros são um “corpo vital”, que podem e devem contribuir para ajudar a pessoa doente e a sua família a gerir os problemas de adaptação à situação de doença. A família desempenha um papel importante na adaptação e na reabilitação do familiar doente, no entanto, Cintra, Nishide e Nunes (2001) referem que para que a família cumpra o seu papel de suporte ao doente, também ela necessita de suporte nas suas necessidades físicas e emocionais. Neste âmbito, e de acordo com Cainé, (2004), os profissionais devem fornecer informação que aumente os conhecimentos da família sobre a nova situação e criar as condições para uma aprendizagem de capacidades e habilidades que permitam um apoio eficaz no processo da doença. Também Branco e Santos (2010), referem que uma família envolvida é essencialmente uma família esclarecida e cooperante, uma família unida e certamente menos ansiosa, mais confiante e responsável pela assistência à pessoa. A alta hospitalar e consequentemente o retorno a casa, muitas vezes são momentos de ansiedade para a pessoa que sofreu um EAM, uma vez que se sentem desprotegidos da vigilância constante da equipa de saúde fora do hospital, o que implica necessariamente por parte da família, uma maior responsabilização e envolvimento no processo de reabilitação. Neste sentido salienta Ferreira (2011), que a preparação da alta deve ter em atenção a garantia da continuidade dos cuidados, para que no período pós alta a recuperação não seja prejudicada por falta de esclarecimentos. Salienta o mesmo autor que para que os doentes e famílias sejam preparados para a alta, é necessário recorrer à educação para a saúde, de modo a esclarecer as dúvidas e a adquirir conhecimentos para a continuidade dos cuidados. Assim é de extrema importância que o enfermeiro através do desenvolvimento de atividades educativas “para” e “com” o doente, ancoradas no conhecimento científico, habilidade, pensamento crítico e criatividade, promova a aquisição de conhecimentos no doente e na família no sentido de desenvolver aptidões em relação à gestão da saúde, após a hospitalização (Balduíno, Mantovani e Lacerda, 2009). 48 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Deste modo, considerando a família como o apoio social mais próximo do doente, consideramos que o seu envolvimento é importante, quer pelo apoio emocional que presta ao doente com EAM, quer pela perspetiva de estimular a adopção de comportamentos saudáveis, na reabilitação do doente com EAM, após a alta. Relativamente à preparação da alta foram encontrados alguns estudos e trabalhos de investigação que evidenciam a pertinência desta temática. Alguns dos quais fazemos referência, seguidamente. De entre os estudos, encontra-se o de Gonçalves (2008), sendo um estudo português, em que foi aplicada a metodologia qualitativa e o método fenomenológico, numa amostra de 16 pessoas idosas, procurou: Compreender a contribuição do enfermeiro na preparação do regresso a casa do idoso hospitalizado, num serviço de cirurgia de um hospital central. No estudo destacam-se como principais resultados, que os idosos encontram-se preparados para o regresso a casa. Também a família é fulcral na preparação do regresso a casa, tendo ficado evidente a satisfação por parte dos idosos relativamente à prestação de cuidados dos enfermeiros. Em 2010, Santos realizou um estudo de natureza qualitativa com o intuito de: Compreender as Dificuldades Sentidas Pela Pessoa Idosa Com Doença Cardíaca - Na Manutenção da Terapêutica Medicamentosa no Regresso a Casa, concluiu que existem problemas de adesão terapêutica, no regresso a casa da pessoa idosa, com doença cardíaca que esteve internada. Isto deve-se, essencialmente, a falta de conhecimento, défice de apoio familiar ou complexidade do regime terapêutico sendo, por isso, necessário implementar um plano de intervenção adequado a cada pessoa. Não sendo um estudo acerca da alta hospitalar, consideramos que este revela resultados pertinentes nesta temática. Pompeu et al. (2007), realizou um estudo de tipo descritivo com uma amostra de 43 doentes, procurou: Conhecer o processo de preparação da alta hospitalar e a atuação do enfermeiro nesse processo a partir do ponto de vista dos doentes. Os resultados principais referem que os doentes deixam o hospital com dúvidas em relação aos cuidados em ambulatório; a preparação para a alta centra-se no dia da saída do hospital e é feita pelos profissionais individualmente; e quem mais orienta para a alta são os médicos. Também o estudo de Driscoll (2000) procurou explorar a: Percepção dos doentes e cuidadores relativamente à informação recebida durante a hospitalização sobre os cuidados após a alta, a adequação das informações recebidas e a utilização das mesmas após alta. Como principais resultados Driscoll refere que 95% dos doentes e 49 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 70% dos cuidadores receberam informação sobre os problemas de saúde dos doentes. Verificou também que a inclusão do prestador de cuidados no momento em que as informações são prestadas ao doente diminui a ansiedade dos prestadores de cuidados, aumenta a satisfação com a informação e diminui a probabilidade da ocorrência de problemas médicos após alta. No mesmo ano, os autores Grimmer et al. (2000), procuraram: Analisar a qualidade dos planos de preparação da alta a partir da perspetiva dos cuidadores, verificando que estes avaliam o planeamento da alta, como de baixa qualidade, referindo que muitas das vezes as necessidades não são conhecidas. Uma outra pesquisa realizada por Smith e Liles (2007), procurou: Analisar as necessidades de informação antes da alta em doentes que realizaram tratamentos para o enfarte agudo do miocárdio. Os resultados mostram que os doentes sentem necessidade de informação sobre medicamentos, complicações e atividades físicas. Verificando-se que os idosos desejam mais informação comparativamente aos mais jovens. Verificamos que as pesquisas realizadas por estes autores se centram em diferentes realidades, evidenciando-se no entanto, a pertinência da preparação para a alta. 50 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 3 - INTERVENÇÃO DO ENFERMEIRO COMO EDUCADOR PARA A SAÚDE DA PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO O desenvolvimento das ciências da saúde veio demonstrar que a mortalidade, nos países desenvolvidos, não se deve a uma fatalidade do destino mas a doenças causadas, ou agravadas, pela falta de conhecimentos ou imprevidência das causas reais que a elas conduzem (Despacho nº16415/2003). Deste modo as principais causas de doença passaram a ser a associadas ao comportamento humano. Neste contexto, “A nível mundial e também em Portugal, as questões de saúde deixaram de se focalizar na doença e o foco de intervenção passou a ser a prevenção de doença e a promoção de saúde”. (Antunes e Taveira, 2006 p.54). De acordo com Pereira, Almeida e Domingos (2008, p. 55), “Promoção da saúde baseia-se no princípio de que os comportamentos em que nos envolvemos e as circunstâncias em que vivemos têm impacto sobre a nossa saúde e de que as alterações adequadas a podem melhorar”. Assim, compete não só aos serviços de saúde mas também a todos os agentes educativos da população, esclarecer a pessoa para que possam adotar e assumir no seu projeto de vida, as opções mais saudáveis e desejáveis para a sua saúde. Portanto estando, inserido numa equipa de saúde, o enfermeiro é protagonista essencial na prestação de cuidados de saúde, nomeadamente no desenvolvimento de atividades de educação. No mesmo sentido, também dos enunciados descritivos dos padrões de qualidade da OE, que visam explicitar o mandato social da profissão de enfermagem, emerge uma forte missão educativa dos enfermeiros, designadamente, no âmbito da promoção da saúde, na prevenção, no bem estar e auto-cuidado, e na readaptação funcional (OE, 2001). Portanto o enfermeiro como educador para a saúde, conforme o Estatuto da OE (Dec. Lei nº 104/98), na interação com a pessoa e/ou família, deve contextualizar as suas intervenções numa perspetiva educacional, visando capacitar a pessoa para o autocuidado e auto-responsabilização, respeitando os seus direitos à vida e à qualidade de vida. 51 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Neste contexto também Antunes e Taveira (2006) referem que, tendo em conta que o atual padrão saúde/doença está fortemente relacionado com o comportamento humano, os serviços de saúde e os profissionais têm especial importância neste domínio, destacando-se o enfermeiro pelas suas capacidades e conhecimentos, sendo um importante membro das equipas multidisciplinares como educador para a saúde. Perante o exposto transparece, que o enfermeiro ao fundamentar o seu exercício profissional na relação interpessoal entre o enfermeiro e a pessoa, e/ou família e/ou comunidade, inserindo-se num contexto de atuação multiprofissional será, por excelência, o agente facilitador de uma estratégia de educação para a saúde na pessoa com EAM. A evidência científica revela que a doença coronária é de natureza multifatorial, potenciando o despoletar da doença o efeito de diferentes fatores de risco. Pelo que as estratégias de intervenção do enfermeiro devem implicar a criação de capacitação da necessidade de mudança de comportamentos e estilo de vida da pessoa, com o sentido de envolvimento, participação e cooperação (Sands e Wilson 2003). Segundo o mesmo autor (2003), a prevenção tem um âmbito abrangente dividindo-se em, prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária. A prevenção primária tem como objetivo reduzir a ocorrência da doença coronária, evitando a manifestação dos fatores de risco modificáveis. A prevenção secundária tem como finalidade detetar precocemente a doença, quando ainda se apresenta assintomática, através do rastreio (de colesterol, HTA e diabetes). A prevenção terciária, está dirigida para o tratamento e reabilitação da pessoa com doença coronária já estabelecida. Pelo exposto anteriormente, as intervenções do enfermeiro perante a pessoa com EAM centram-se na prevenção terciária, tendo como finalidade evitar complicações, prevenir incapacidades e melhorar a qualidade de vida da pessoa. Neste âmbito, sendo o foco de atenção dos cuidados de enfermagem a promoção de projetos de saúde que cada pessoa possui e pretende adquirir, compete ao enfermeiro desenvolver parcerias com a pessoa, identificando situações de saúde, ajudando a criar estilos de vida saudáveis e a promoção de processos de readaptação após a doença (Rodrigues, Pereira e Barroso, 2005). Desta forma, atualmente o conceito educação para a saúde, deixou de envolver simplesmente a transmissão de conhecimentos que tinha como objetivo uma modificação de comportamentos e hábitos relacionados com os problemas de saúde, para passar a oscilar entre momentos de informação e de esclarecimento e a 52 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio facilitação e capacitação do indivíduo/família para poder decidir livremente sobre si próprio, satisfazendo o seu potencial de saúde. A ocorrência do EAM, apesar de colocar a pessoa numa situação crítica, é fundamental que esta enfrente o seu estado de saúde e encare a situação como uma alternativa de rever o seu estilo de vida e de adotar hábitos de vida saudáveis, de modo a evitar um novo EAM. A recuperação passa necessariamente pela adesão terapêutica e pela mudança dos hábitos de vida, (Schneider et al., 2008). Devendo a mudança dos hábitos de vida sempre basear-se em: promoção de uma alimentação saudável, prática de exercício moderado e combate aos “tóxicos” lesivos da parede vascular, como o tabaco e controle de HTA, diabetes e colesterol (Perdigão, 2006). A nível nacional, a doença coronária, com o seu caráter multidimensional e as suas graves consequências, negativas e diretas para o cidadão, determinou a necessidade de uma intervenção da parte dos organismos de saúde, no sentido de minorar este importante problema de saúde. Com o propósito de auxiliar os doentes portadores de patologia cardíaca, principalmente de patologia cardíaca aguda especialmente o EAM, foram desenvolvidos em Portugal programas de reabilitação cardíaca (RC). Desta forma, um dos objetivos da Coordenação Nacional para as Doenças Cardiovasculares (2009, p.6) é “Promover a prevenção cardiovascular, (…) e de reabilitação”. Atualmente, define-se reabilitação cardíaca (RC) como “programas (…), que envolvem (…), modificação de fatores de risco cardíacos, educação e aconselhamento”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a RC é o somatório das atividades necessárias para garantir aos doentes portadores de doença cardíaca as melhores condições física, mental e social, de forma que eles consigam, pelo seu próprio esforço, reconquistar uma posição normal na comunidade e levar uma vida ativa e produtiva (Duarte 2009). O principal objetivo dos programas é permitir o retorno mais precoce possível à vida produtiva e ativa, apesar das possíveis limitações impostas pelo processo patológico subjacente. Estes programas integram várias fases. Relativamente aos benefícios da reabilitação cardíaca, existem estudos clínicos que o demonstram nomeadamente, “Na análise económica de Levin de 2001, que comparou custos com doentes de enfarte tratados por método convencional versus terapêutica habitual e reabilitação cardíaca, verificou-se que no grupo de doentes reabilitados ocorreram menos reinternamentos (…) mais frequente regresso ao trabalho” (CNDCV, 2009, p.7). 53 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Assim, considerando o ser humano, como o destinatário dos cuidados de enfermagem, nas múltiplas dimensões que o constituem, evidencia-se na intervenção do enfermeiro como educador para a saúde da pessoa com EAM, o “encontrar o caminho” no processo de recuperação que se adapte à personalidade, ao contexto de vida e à cultura da pessoa, tornando-a capaz na aquisição de comportamentos saudáveis. 54 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 4 – CARATERIZAÇÃO DO CONTEXTO DO ESTUDO Neste capítulo faremos uma breve caraterização do contexto do estudo, por consideramos ser a forma de dar a conhecer o local do estudo ao leitor. Dado que desejamos estudar a vivência da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar, o nosso estudo será realizado no Serviço de Cardiologia do Hospital Distrital de Santarém, EPE, isto é o local onde os participantes vivenciam o fenómeno. O motivo da escolha do local, prende-se com o facto de o investigador desenvolver a atividade profissional na instituição referida, aspeto tido em conta, uma vez que facilitou o acesso aos participantes, também a realização de um estágio em contexto académico no referido serviço contribuiu para a opção. O Serviço de Cardiologia integra, a Enfermaria e a Unidade Coronária. A Missão e Visão do Serviço em questão, consiste no diagnóstico e tratamento de doentes com patologia cardíaca aguda ou agudizada e posterior acompanhamento em consultas e em “Hospital Dia de Insuficiência Cardíaca”. Relativamente à admissão de doentes, o serviço recebe doentes de outras instituições dentro da área de abrangência do hospital, doentes que são transferidos para a área de residência e dos vários serviços do hospital, sendo a maior proveniência de doentes do serviço de urgência. No caso de doente com suspeita de EAM, o Hospital de Santarém não tem implementado a via verde enfarte, no entanto assim que são identificados critérios clínicos sugestivos deste diagnóstico, o doente tem prioridade, sendo “quase de imediato” admitido no serviço de cardiologia. No serviço referido, tal como descrito por vários autores o cateterismo cardíaco é uma técnica de eleição atualmente para avaliação, diagnóstico e controle de doentes portadores de patologia cardíaca, principalmente com EAM, no entanto e dado não existir serviço de hemodinâmica no Hospital de Santarém, é necessária a deslocação diária de doentes ao Hospital de Santa Maria, para realização de cateterismo cardíaco, com acompanhamento de enfermeiro (por protocolo existente entre as instituições). Embora exista uma equipa de enfermagem única no Serviço de Cardiologia, os enfermeiros estão distribuídos pela Enfermaria e pela Unidade Coronária, existindo 55 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio rotatividade. O método de distribuição de trabalho utilizado é o individual (responsabilidade pela prestação global de cuidados aos utentes que lhe estão atribuídos), embora pese a importância do trabalho em equipa. Sendo o acolhimento à família, efetuado pelo enfermeiro responsável pelo doente. De salientar, que o doente ao ter alta da Unidade Coronária é transferido para a Enfermaria, onde permanece até à alta hospitalar. Efetuámos pesquisa acerca do número de doentes internados neste serviço no ano de 2011 e auferimos que foram internados 1387 doentes, tendo 151 destes doentes o diagnóstico de EAM. Relativamente à demora média de internamento na enfermaria é de 4,24/dias e da unidade coronária é de 2,6 dias.( Registos do serviço, 2011). Dado o avanço tecnológico verificado na área cardíaca, bem como o alto custo dos internamentos, tem sido abreviado o tempo de hospitalização do doente cardíaco. No serviço em questão os internamentos de curta duração, são também uma realidade na maioria dos doentes. Após observação direta, aquando da realização de um estágio no serviço, em contexto académico, constatámos que os enfermeiros deparam-se diariamente com internamentos dos doentes de “curta duração”, não existindo implementada uma preparação para a alta personalizada ao doente. Existe no serviço um panfleto com alguma informação para orientação do doente com EAM, que é entregue pelo enfermeiro na véspera ou no dia da alta. No entanto sempre que o doente solicita qualquer informação é-lhe fornecida pelo enfermeiro, com atitude de disponibilidade. Relativamente ao “Hospital Dia de Insuficiência Cardíaca” referido anteriormente funciona das 8h ás 16h,nos dias úteis, sendo um dos “recursos pós alta”, ao qual os doentes podem recorrer através de marcação de consulta, ou sempre que sintam necessidade de qualquer esclarecimento. De seguida, referimo-nos a outra etapa do processo de investigação, enquadramento metodológico. 56 o Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio PARTE II ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO Nesta parte do estudo expomos o percurso metodológico. Anunciamos as várias etapas percorridas desde a justificação do tema e questão de investigação, objetivos e tipo de estudo, a seleção dos participantes, a abordagem do instrumento de colheita de informação utilizado, sendo também focadas as considerações formais e éticas e por último o processo de análise da informação. Cada uma destas etapas é apresentada e descrita ao longo do estudo. 57 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 1 - METODOLOGIA DO ESTUDO A metodologia desempenha um papel fundamental em qualquer investigação, pois nela está contida o desenvolvimento de todo o processo. Neste contexto, Fortin (1999) afirma que, é na fase metodológica que o investigador decide, entre outros assuntos, qual o método que irá utilizar no seu estudo para obter resposta à questão de investigação, daí ser essencial a escolha de um desenho de investigação adequado ao estudo que se pretende desenvolver, consistindo este num plano lógico realizado e utilizado pelo investigador para a consecução da investigação. Desta forma, todo o processo de investigação envolve obrigatoriamente uma fase metodológica que consiste na definição do conjunto de métodos e técnicas que guiam a elaboração do processo de investigação científica (Fortin, Côté e Filion, 2009). Consequentemente, esta fase tem a capacidade de ordenar um conjunto de procedimentos, permitindo ao investigador a realização efetiva do seu projeto, constituindo, deste modo, o pilar sobre o qual surgem os resultados da investigação. Tendo por base o exposto, a finalidade deste capítulo é a apresentação dos procedimentos adotados para a concretização desta investigação, que inclui referência à justificação do tema e questão de investigação, objetivos e tipo de estudo, à seleção dos participantes, ao instrumento de colheita de informação, aos procedimentos formais e éticos, e por último ao processo de análise da informação utilizado no presente estudo. 1.1 - JUSTIFICAÇÃO DO TEMA E QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO O ponto de partida de qualquer processo de investigação é a identificação de uma situação como problemática, ou seja, que cause alguma inquietação e que exija uma melhor compreensão do fenómeno. Também Polit, Beck e Hungler (2004), justificam a origem dos temas de pesquisa nos interesses dos investigadores, considerando a curiosidade e o interesse dos mesmos, como fundamentais para o sucesso da investigação. 59 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Na opinião de outros autores, a investigação parte sempre de uma questão, respeitante a um tema de estudo que se deseja examinar, tendo em vista desenvolver o conhecimento que existe (Fortin, Côté e Filion, 2009). Na nossa perspetiva, é a partir dessa questão que se inicia todo o processo sobre o qual a investigação se baseia. Assim, a nossa questão de investigação é: - Como vivencia a pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio a preparação para a alta hospitalar? A questão de investigação, é um enunciado interrogativo, escrito no presente, que inclui a população estudada, especificando os aspetos a estudar, e o seu enunciado determina os métodos a utilizar para obter a sua resposta (Fortin, 1999). Em enfermagem esta pergunta pode surgir de várias formas, em diversos contextos de atuação profissional e até mesmo durante a prestação direta dos cuidados. De modo a objetivar esta questão, surgem algumas questões/reflexões orientadoras em torno da área temática, nomeadamente: • Será que a pessoa tem conhecimento dos fatores que contribuem para a ocorrência do enfarte agudo do miocárdio? • Quais as preocupações da pessoa que sofreu um enfarte agudo do miocárdio? • Quais as modificações na vida diária, após um enfarte agudo do miocárdio? • Que esclarecimentos necessita a pessoa após enfarte agudo do miocárdio e perante a alta hospitalar? Motivou a escolha do atual tema um conjunto de aspetos: uma necessidade sentida, correspondente a um percurso profissional onde a proximidade com esta patologia é frequente, o facto do EAM ser uma patologia que faz parte do leque de patologias preocupantes da atualidade e que causa muitas apreensões, e também o facto de ser uma área de interesse do investigador. Por outro lado, em contexto académico no decurso de um estágio, através de conversas informais com enfermeiros do serviço de cardiologia, despontou a curiosidade e necessidade de conhecer como a pessoa com EAM, enfrenta a situação, o que necessita e como vivência a preparação para a alta hospitalar. Dado que o avanço científico no tratamento tem abreviado o tempo de internamento destes doentes, a preparação da alta hospitalar tem assim sido uma das apreensões para assegurar a continuidade do tratamento e evitar reinternamentos, como já referido. 60 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Posto isto, a nossa pesquisa pretende saber como vive a Pessoa com EAM a Alta Hospitalar, pois consideramos que o estudo poderá fornecer aos enfermeiros informações para uma preparação mais adequada destes doentes, no que se refere ao processo de recuperação que continuará após a alta hospitalar, e promover um enriquecimento no cuidar da pessoa com EAM. Nesta perspetiva e de acordo com Golander (1996), é de extrema importância criar conhecimento sólido, que guie as intervenções de enfermagem para a qualidade dos cuidados e auxilie a compreender as vivências humanas relativas à saúde e à doença. Consideramos que é uma área bastante pertinente contribuindo para a visibilidade dos cuidados de enfermagem, relativamente à autonomia, responsabilidade e qualificação no processo de cuidar a pessoa com EAM, sendo que a atividade do enfermeiro não poderá ser fruto do acaso, mas o resultado de uma reflexão e de uma construção teórica baseada em modelos científicos adotados ao contexto da prática direcionada para as necessidades da pessoa. Como desejamos estudar a vivência da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar, o estudo realiza-se no Serviço de Cardiologia do Hospital Distrital de Santarém, EPE. Como referido anteriormente, e sendo o estudo direcionado para a vivência da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar, a colheita de informação foi realizada entre a véspera e o próprio dia da alta hospitalar, proporcionando a maior informação possível. Após encontrada a área de interesse e no sentido de encaminhar a investigação, seguidamente, referimo-nos a outra etapa do processo de investigação, os objetivos que anunciam o que se pretende com esta investigação e o tipo de estudo que a conduz. 1.2 - OBJETIVOS E TIPO DE ESTUDO Depois de elaborada a questão de investigação definiram-se objetivos congruentes, no sentido de delinear a pretensão do alcance do estudo, bem como explanar aquilo que o estudo se propõe realizar e os aspetos que pretende analisar. Esta ideia é partilhada por Fortin, Côté e Filion (2009), quando refere que o objetivo é um enunciado que indica claramente o que o investigador tem intenção de fazer no decurso do estudo, devendo indicar de forma clara, qual é o fim que o investigador persegue. 61 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Como se pretende analisar a Vivência da Pessoa com EAM na Alta Hospitalar, delineou-se como objectivos: • Identificar o conhecimento da pessoa sobre fatores que influenciaram a ocorrência do EAM; • Identificar as preocupações da pessoa com EAM, na preparação para a alta hospitalar; • Perceber se a pessoa considera importante após o EAM mudar os seus hábitos de vida; • Identificar a informação que a pessoa com EAM considera pertinente na preparação para a alta hospitalar. Uma vez apresentados os objetivos, que se ambicionam alcançar, passar-se-á a mencionar o tipo de estudo, pois as opções metodológicas e o seu desenho desempenham um papel fundamental no desenvolvimento de um estudo de investigação. Na opinião de Quivy e Campenhoudt (2008) definir a metodologia a adotar é essencial para tomar decisões que permitam encontrar respostas à problemática da investigação. Neste sentido a reflexão sobre as metodologias existentes foi essencial para que a escolha do método de investigação fosse a mais adequada ao presente estudo, concluindo-se que a opção metodológica deveria ser a qualitativa. Esta metodologia investigação, tem como princípio orientador o modo como o mundo social é experienciado, interpretado e estruturado pelos sujeitos que vivem uma determinada experiência (Bogdan e Biklen, 2006). No mesmo contexto, Fortin (2009), refere que efetuar um estudo de abordagem qualitativa consiste em procurar compreender a significação das descrições que as pessoas fazem da sua experiência. Seguindo esta linha de pensamentos, ao considerar a ocorrência de um EAM, um acontecimento com repercussões a vários níveis para a pessoa e família, pretende-se com este estudo analisar a vivência da pessoa perante este evento, na alta hospitalar, e o significado atribuído a esta vivência. De acordo com Streubert e Carpenter (2002) os enfermeiros devem adotar esta metodologia quando pretendem descrever e compreender as experiências humanas, sendo que a informação é apresentada na forma de palavras ou imagens, em vez da forma de números, assumindo a palavra escrita particular importância. Assim, o estudo qualitativo é considerado descritivo dado que se propõe analisar a informação em toda a sua riqueza, abordando o fenómeno de forma minuciosa, 62 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio usando todo o seu potencial para a construção de caminhos que estabeleçam uma compreensão esclarecedora do objeto em estudo (Bogdan e Biklen, 2006). Partilham esta opinião Polit, Beck e Hungler (2004), quando referem que as vozes e interpretações dos participantes são a chave para a compreensão dos fenómenos de interesse e que dos estudos qualitativos resultam informações ricas e profundas, que tem o potencial de esclarecer as múltiplas dimensões de um fenómeno complexo. Tendo em conta que os objetivos delineados estão relacionados com uma dimensão subjetiva dos significados e do mundo da pessoa que vivenciou a ocorrência de um EAM e a preparação para a alta hospitalar, consideramos que este tema precisa de ser descrito com profundeza, pelo que concluímos que a metodologia qualitativa é a que mais se coaduna, como atrás referimos, dado que proporciona dados descritivos, de acordo com a descrição de quem os vivenciou, o que permite a apreensão das essências do fenómeno. Atendendo a que muitos dos fenómenos da prática profissional de enfermagem são subjetivos necessitando assim, de uma abordagem adequada que garanta a subjetividade e singularidade do fenómeno e que este seja abordado de uma forma global, a fenomenologia é a abordagem de investigação qualitativa que tem sido utilizada em várias ciências e nomeadamente na Enfermagem. A fenomenologia é um ramo da filosofia que emergiu da necessidade de compreender e interpretar os fenómenos, tal como são vivenciados pelas pessoas. Edmund Husserl, filósofo alemão reconhecido como o seu fundador, entendeu procurar um novo caminho para fundamentar o conhecimento, o qual designou de Fenomenologia (Loureiro, 2002). Pode caraterizar-se segundo Streubert e Carpenter (2002), como um método de investigação, cujo propósito é explicar a estrutura ou a essência das experiências vividas, na procura da unidade de significado, o qual é a identificação rigorosa do fenómeno e a sua descrição rigorosa. O que é corroborado por Giorgi e Sousa (2010), quando referem que o método fenomenológico de investigação é uma metodologia qualitativa, no sentido de estudar a experiência humana, nas diferentes relações que este estabelece com o mundo. Como a enfermagem mantém uma apreciação única do cuidar, compromisso e holismo, os fenómenos relacionados com a enfermagem podem ser explorados e analisados por métodos fenomenológicos que possuem como meta a descrição de experiências vividas, uma vez que a prática profissional de enfermagem está submersa nas experiências de vida das pessoas, ou seja a “enfermagem encoraja a 63 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio prestação de cuidados às pessoas atendendo aos seus detalhes enquanto seres humanos e tem os alicerces da sua prática num sistema holístico de crença que cuida da mente, corpo e espírito” (Streubert e Carpenter, 2002, p.63). Também Morse (2007), refere que a fenomenologia tenta revelar o significado essencial da experiência humana, sendo esta abordagem adequada para a investigação em enfermagem. Na opinião de Fortin (1999) são objetivos do método fenomenológico, descobrir como o mundo é constituído e como o ser humano o experiencia, através de atos conscientes, procurar descobrir a essência dos fenómenos, a sua natureza intrínseca e o sentido que os humanos lhe atribuem. Como afirma a mesma autora (2009, p.292), “A fenomenologia é uma abordagem indutiva que tem por objeto o estudo de determinadas experiências, tais como são vividas e descritas pelas pessoas”. Outro autor, salienta que o investigador utiliza o método fenomenológico quando pretende compreender o significado de fenómenos vividos pelas pessoas em determinadas situações, para os quais existe pouca literatura e necessitam de ser descritos em profundidade (Ponte, 2009). Nesta perspetiva, a abordagem fenomenológica coloca-nos mais perto de compreendermos as experiências vividas e as pessoas em toda a sua complexidade e profundidade. O facto de cada pessoa compreender o significado da sua própria vivência e de a transmitir, poderá ter implicações positivas, contribuindo para o desenvolvimento da enfermagem e consequentemente para uma melhoria das práticas, ou seja através da fenomenologia é possível conhecer o universo mais profundo da experiência humana (Streubert e Carpenter, 2002). Salienta Loureiro (2002), que a razão principal da escolha do método fenomenológico por parte dos investigadores das ciências sociais é o que está para além do observável e do mensurável. Este método aplica-se quando pretendemos perceber das pessoas, o seu mundo, as suas vivências e experiências e o que significa viver determinado fenómeno. Neste sentido, refletindo acerca das descrições dos autores anteriores este é o método que mais se adapta para analisarmos a experiência vivida da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar, pois de acordo com os mesmos autores a fenomenologia é a mais indicada quando se pretende compreender o significado que os acontecimentos têm para as pessoas em situações particulares, como é o caso de conhecer a vivência da pessoa na alta hospitalar, perante um inesperado internamento por ocorrência de um EAM. 64 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Em suma, esta investigação contextua-se num estudo do tipo qualitativo, tendo como abordagem metodológica a fenomenologia, existindo diferentes decursos interpretativos para os procedimentos de análise da informação, daí a adoção do método fenomenológico proposto por Giorgi. Após a definição do tipo de estudo a realizar e justificadas as opções metodológicas, bem como o método a utilizar para a análise da informação, segue-se outra fase do processo de investigação, que é a seleção dos participantes do estudo. 1.3 - PARTICIPANTES DO ESTUDO Após a escolha da metodologia, é igualmente importante a seleção dos participantes. Constitui uma etapa importante na elaboração do processo de pesquisa, uma vez que, são os participantes que transmitem a informação que constitui o suporte da investigação e dá resposta à questão de investigação, permitindo alcançar os objetivos formulados. Para Streubert e Carpenter (2002), os investigadores qualitativos geralmente não designam os indivíduos que participam no seu estudo por sujeitos, mas sim por participantes ou informantes, uma vez que, na investigação qualitativa as pessoas têm um envolvimento ativo no estudo, o que permite uma melhor compreensão das suas vivências. De acordo com o exposto, as pessoas que irão participar neste estudo irão designarse participantes. Refere Streubert e Carpenter (2002, p. 25), que “Os indivíduos são seleccionados para participar na investigação qualitativa de acordo com a sua experiência, em primeira mão, interacção social ou fenómeno de interesse.” Numa abordagem fenomenológica, os participantes são aqueles que verdadeiramente vivem a experiência dando origem a descrições finas, densas, e fiéis do que experienciam. O que permite que se revele a realidade do ponto de vista das pessoas que a vivem (Fortin, 2003). Para além disto, a mesma autora considera ainda que, é importante que os participantes selecionados estejam motivados a participar, sejam capazes de testemunhar e tenham capacidade de expressão. 65 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Para definirmos os participantes é importante atender a critérios de elegibilidade, que segundo Quivy e Compenhoudt (1998), são critérios utilizados pelos investigadores para designar atributos específicos, através dos quais os participantes são escolhidos para participar num determinado estudo. Conforme explica Carpenter (2002) a amostra intencional é a mais utilizada na pesquisa fenomenológica. De acordo com este método os participantes são selecionados com base no seu conhecimento específico de determinado fenómeno. Face aos objetivos do estudo, recorreu-se à amostragem intencional, sendo que os participantes são doentes internados no serviço de Cardiologia, no Hospital de Santarém, de acordo com os seguintes critérios de inclusão: • Primeiro evento de Enfarte Agudo do Miocárdio; • Maioridade de idade; • Apresentem condições clínicas para participar no estudo e capacidade de interpretação das questões da entrevista; • Acedam contribuir de forma voluntária para o estudo. Tivemos em conta a capacidade de se exprimirem e verbalizarem as suas vivências, de modo a obtermos descrições com maior potencial e a maximizar o entendimento sobre o fenómeno em investigação. O que vai de encontro, ao que abordagem metodológica sugere, e segundo Streubert e Carpenter (2002) é que a escolha dos participantes, deve recair em pessoas que pelo seu papel, postura, experiência e capacidade de expressão, garantam qualidade da informação a recolher. Quanto ao número de participantes, de acordo com Fortin, Côté e Filion (2009), é determinado pela saturação da informação recolhida, até que deixe de surgir informação nova e relevante na colheita de dados. Reforçando esta opinião Strauss e Corbin (2008, p. 208) referem que a recolha de dados continua “… até que todas as categorias estejam saturadas; ou seja, não surge nenhum dado novo ou importante e as categorias estão bem desenvolvidas em termos de propriedades e de dimensões”. Neste sentido, e de acordo com os autores referidos entrevistámos dez pessoas internadas no serviço de Cardiologia do Hospital de Santarém, com o diagnóstico de Enfarte Agudo do Miocárdio, e entendemos que atingimos a saturação da informação. 66 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Após a descrição da escolha dos participantes, apresentamos seguidamente o processo de colheita de informação e o respetivo instrumento de colheita da informação. 1.4 – INSTRUMENTO DE COLHEITA DE INFORMAÇÃO A colheita de informação é uma técnica que visa obter informação relativamente ao objetivo do estudo, através de uma observação direta, e/ou do registo de dados (Fortin, 1999). Existe na investigação qualitativa, uma variedade de estratégias disponíveis para a obtenção de dados consoante a pesquisa que se pretende desenvolver, sendo a entrevista uma das mais frequentes. No entanto compete ao investigador selecionar o instrumento de colheita de informação. A entrevista, é um processo fundamental de comunicação e de interação humana que tem na sua essência três funções, que são: examina os conceitos e compreende o sentido de determinado fenómeno tal como o mesmo é entendido pelos participantes no estudo, é o principal instrumento de medida utilizado na investigação qualitativa e é o complemento aos outros métodos de colheita de dados utilizados neste tipo de metodologia (Fortin, Côté e Filion, 2009). Complementarmente, a entrevista é uma excelente fonte de dados permitindo entrar no mundo de outra pessoa (Streubert e Carpenter, 2002). Conforme Fortin, Grenier e Nadeau (2003) as entrevistas qualitativas variam quanto ao grau de estruturação. Assim a entrevista pode ser, estruturada, semiestruturada ou não estruturada e acrescentam que este tipo de entrevistas são utilizadas quando existem poucos conhecimentos sobre um fenómeno e o investigador visa acumular a maior parte da informação de modo a abranger os diversos aspetos deste. Loureiro (2006, p. 27) reforça esta ideia explicando que “…o objectivo da entrevista fenomenológica se centra na exploração da experiência vivida.” Com a aplicação da entrevista semiestruturada segundo Fortin, Côté e Filion (2009, p.376), pretende-se “ (…) compreender a significação de um acontecimento ou de um fenómeno vivido pelos participantes”. Tendo por base estas considerações e após efetuada uma reflexão relativa à temática em estudo, consideramos que a melhor técnica de obter a informação, é a entrevista 67 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio semiestruturada, pelas suas caraterísticas já descritas, que pressupõe a existência de um guião (apêndice I) previamente preparado que serve de eixo orientador. Segundo Quivy e Campenhoudt (2008), o guião de uma entrevista semiestruturada é o suporte da entrevista, deve levar a pessoa interrogada a exprimir-se de forma muito livre, acerca dos temas sugeridos por um número restrito de perguntas relativamente amplas, de forma a deixar um campo aberto a respostas diferentes daquelas que o investigador poderia prever. Pelo facto de se pretender abordar as vivências da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar, através da entrevista e devido à proximidade com o participante, consegue-se despertar sentimentos e emoções que permitem um discurso aberto sobre as suas vivências, ganhando ênfase a riqueza das experiências vividas. A entrevista semiestruturada, favorece a descrição, a explicação e a compreensão dos fenómenos e permite uma relação direta do investigador com o participante, havendo a possibilidade de obter mais claramente o significado dado aos fatos pelos entrevistados. (Quivy e Campenhoudt, 2008). Neste tipo de entrevista, poder-se-á permutar a ordem das perguntas, permitindo ao entrevistado falar abertamente, sendo esta sempre orientada pelo entrevistador para o assunto de interesse, tendo em conta os objetivos preestabelecidos e a definição dos conteúdos. O entrevistador pode começar por questões mais simples antes de introduzir as mais complexas, sendo que no final da mesma todos os temas tenham sido abordados, o que favorece a exploração das respostas dos participantes. Relativamente à realização das entrevistas, deverá ser num local acolhedor, calmo, escolhido pelo investigador em concordância com o entrevistado, sem interrupções de modo a que o participante se sinta seguro e confiante, podendo promover uma maior abertura entre entrevistador e entrevistado. As entrevistas para este estudo, foram realizadas entre os dias vinte e dois de março e dezanove de maio de 2011. Tendo sido realizadas dez entrevistas, até atingirmos a saturação da informação, como referido no subcapítulo anterior. Decorreram na sala do “Hospital de Dia”, no Serviço de Cardiologia, os participantes ainda se encontravam internados, o local foi acordado com os participantes, com os enfermeiros do serviço e com a enfermeira chefe. Efetuaram-se após informação prévia ao doente da data prevista para a alta hospitalar, transmitida pelo enfermeiro responsável pelo doente, sendo cada uma das entrevistas realizadas entre a véspera e o próprio dia da alta. 68 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Após um breve contato informal do entrevistador com os participantes, o horário, foi acordado com estes e com os enfermeiros, tendo decorrido fora do horário de visitas, e atendendo ao estado de espírito dos participantes. Na sua concretização, teve-se em conta o direito dos participantes à sua participação de livre e espontânea vontade, bem como a manutenção absoluta do sigilo, da privacidade, da intimidade e da confidencialidade. Todos estes direitos foram transmitidos, assim como o direito de poder interromper ou terminar a entrevista em qualquer momento. A duração de cada entrevista foi entre trinta e quarenta e cinco minutos. Tivemos o cuidado de garantir que não existiam interrupções ou interferências externas no momento da entrevista, informando, através de um aviso por escrito, que estava a decorrer uma entrevista naquele local. Durante as entrevistas tivemos a preocupação de possibilitar aos participantes a liberdade e espontaneidade necessárias para criar uma interação capaz de criar um ambiente facilitador entre nós e estes. Foi também preocupação a não utilização de linguagem técnico-científica, para recolhermos expressões espontâneas entre os participantes. O registo dos dados obtidos processou-se através de gravação direta das entrevistas, após consentimento informado dos participantes (apêndice II), respeitando os princípios éticos e orientadores da entrevista. Neste contexto, Bogdan e Biklen (2006) mencionam que é aconselhável o uso do gravador quando as entrevistas são extensas ou são o método principal de colheita de informação. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, após audição atenta de cada uma delas. O processo de transcrição foi moroso, uma vez que cada entrevista foi ouvida várias vezes de forma a detetar possíveis erros de transcrição. Foram transferidas e preservadas em suporte informático, bem como realizada cópia escrita para facilitar o rápido acesso. Relativamente ao Guião da Entrevista (apêndice I), foi construído pelo investigador e validado pelo professor orientador, tendo em consideração as opções metodológicas tomadas não esquecendo os objetivos deste estudo, e serviu de condutor ao longo da colheita da informação. O nosso guião é composto inicialmente, pela explicação do estudo (tema, objetivos, local de realização do estudo). 69 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A esta segue-se, a pré-entrevista onde consta, a apresentação pormenorizada do entrevistador, a importância das entrevistas para a realização do estudo, previsão da duração da entrevista. Consta o pedido de consentimento e a solicitação para a gravação áudio da entrevista como método de registo de dados, o esclarecimento de dúvidas e a informação da possibilidade de interromper a entrevista a qualquer momento. Posteriormente, no corpo da entrevista, consta o número da entrevista, data e hora de início e de fim da mesma. De seguida, possui uma área reservada aos dados sócio demográficos e profissionais, para caraterização dos participantes, á qual se seguem as questões orientadoras. Por fim, no final da entrevista, verificamos se o participante tem algo mais acrescentar e agradecemos a sua disponibilidade e participação. A salientar que todas as questões constantes no guião da entrevista foram realizadas a todos os participantes, sendo cada entrevista realizada de forma específica com cada um dos participantes, no sentido de fomentar a descrição das suas experiências, permitindo uma exploração da temática de uma forma mais profunda. No que concerne a qualquer investigação os procedimentos formais e éticos são imprescindíveis, sobre os quais nos debruçamos no subcapítulo seguinte. 1.5 - CONSIDERAÇÕES FORMAIS E ÉTICAS Qualquer que seja o estudo ou a estratégia que utiliza, o investigador deve ter presente questões de ordem ética e legal. O compromisso com um estudo de investigação implica à partida, a responsabilidade pessoal e profissional de assegurar um desenho consistente do ponto de vista ético, tendo em atenção princípios como os que se abordam seguidamente. No decurso de uma investigação em que o objeto de estudo é o ser humano, não se pode correr o risco de violar os direitos/liberdades dos indivíduos (Fortin, 1999). Neste sentido, seja qual for a natureza do estudo de investigação os princípios éticos da autonomia, da beneficiência, da não maleficiência e da justiça devem ser respeitados e devem orientar todos os momentos da investigação (Grande citado por Martins, 2008). 70 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Tendo presente estes aspetos, no decorrer da presente investigação, estão subjacentes todos estes princípios orientadores da prática de modo a orientarem todas as decisões éticas e morais, com as quais nos deparamos, e de modo a não descurar valores subjacentes à conduta humana e a garantir o respeito pelos direitos dos participantes. Na investigação qualitativa deve-se respeitar o consentimento informado, ou seja permitir que os participantes possuam informação adequada no que concerne à investigação. Neste contexto referem Polit, Beck e Hungler (2004), o consentimento indica que os participantes têm informações apropriadas relativamente à pesquisa; entendem a informação e têm o poder da livre escolha e de participação voluntária na pesquisa ou de declinar a participação. A este respeito, elaborou-se um documento de consentimento informado (Pedido de autorização aos participantes para a realização das entrevistas), (apêndice II) que foi fornecido aos participantes. O documento compreende o âmbito, a finalidade, o objetivo do estudo, a garantia de confidencialidade e o caráter voluntário de participação. Após a leitura devida e os necessários esclarecimentos verbais, todos os participantes decidiram participar de forma voluntária. Referente a esta temática também a Ordem dos Enfermeiros (2003) revela que o consentimento informado é o “último” passo depois da informação e validação da mensagem para que o utente possua a informação e se sinta livre para decidir. Ao longo de todo o processo de investigação deve ser salvaguardada de forma absoluta a confidencialidade dos achados e estes deverão ser tratados de modo a manter o anonimato dos participantes (Martins, 2008). Desta forma, para assegurar este princípio foi explicado aos participantes que no estudo não seriam identificados, pois os nomes seriam substituídos por uma letra e um número e seria omitida a informação que pudesse possibilitar a sua identificação. Assim, no processo da análise da informação, atribuímos uma sigla composta por uma letra e um número, sendo que E representa entrevista, assim os relatos dos participantes são identificados como: E1; E2, …E10. As entrevistas, em formato digital, foram guardadas num computador pessoal protegido com palavra-passe. Dado que os participantes elegidos para o estudo eram doentes internados no serviço de cardiologia do HDS EPE, e de forma a respeitar os procedimentos formais e éticos, foi solicitada a autorização formal, ao Sr. Presidente do Conselho de Administração do Hospital de Santarém, à Srª Enfermeira Diretora, à. Srª Enfermeira Chefe e à Srª Diretora do Serviço de Cardiologia, para realização do estudo, assim como o pedido 71 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio de autorização para a realização das entrevistas, no serviço de Cardiologia do Hospital de Santarém. Tendo sido deferidos, conforme Apêndice III. Depois da descrição dos aspetos relacionados com as considerações éticas, imprescindíveis a qualquer estudo desta natureza, segue-se a abordagem do processo que utilizamos na análise da informação no presente estudo. 1.6 – PROCESSO DE ANÁLISE DA INFORMAÇÃO A análise da informação é uma das etapas mais importantes na investigação, porque é a partir da análise da informação que se dá sentido aos dados colhidos. É uma etapa vital que se reveste de alguma complexidade e morosidade. Análise dos dados, na opinião de Fortin (1999, p. 364) é “um conjunto de métodos que permitem visualizar, clarificar, descrever e interpretar os dados colhidos junto dos participantes”. Na opinião de outro autor, é um processo onde o investigador apresenta os dados de forma categorizada e desencadeia-se por várias fases: recolha de dados, codificação por temas ou categorias, análise e apresentação de dados (Ribeiro, 2008). No presente estudo, após a colheita da informação e a sua posterior transcrição, iniciámos o processo de análise das narrativas, resultantes dos discursos dos participantes. Sendo realidade atual, a utilização de programas informáticos para a análise da informação nos estudos qualitativos, no estudo foi efetuada a análise manual, com auxílio informático do programa Microsoft Office Word, devido ao pouco contato com os atuais programas, e também à limitação do fator tempo, para podermos desenvolver essa aprendizagem. Streubert e Carpenter (2002), apresentam a análise da informação de acordo com vários autores como: Van Kaam, Giorgi, Paterson e Zderad, Colaizzi, Van Manen e Streubert. Autores esses que, nas suas propostas de análise, delinearam várias etapas, que servem como guias orientadores para os investigadores. Para o procedimento de análise da informação, obtida através das entrevistas realizadas, optámos pelas etapas processuais de interpretação metodológica, propostas por Giorgi, por considerarmos, em nosso entender, permitirem a análise fenomenológica descritiva, de forma intuitiva, aliada aos enunciados verbais dos 72 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio participantes. Neste processo interpretativo, o objetivo baseia-se na obtenção de “unidades de significado”, ou seja, temas ou essências contidas nas descrições e reveladoras da estrutura do fenómeno (Giorgi e Sousa, 2010). Relativamente a este método, Polit, Beck e Hungler (2004) referem que, o método fenomenológico de Giorgi é um dos métodos fenomenológicos mais utilizados para análise de informação em Enfermagem, cujos resultados são a descrição dos significados de uma experiência, através da identificação dos temas essenciais. Seguidamente, vamos tecer algumas considerações ao método selecionado. Método Fenomenológico Segundo Amadeo Giorgi Amedeo Giorgi, psicólogo e professor, cujo âmbito de interesse de investigação relaciona-se com o fenómeno humano vivenciado. O seu método fenomenológico tem as suas origens na filosofia de Husserl, chamado o pai da fenomenologia, considerou que esta inclui uma filosofia, uma abordagem e um método. Assim o método fenomenológico não é um método dedutivo ou empírico, uma vez que consiste em mostrar o que é dado e esclarecê-lo (Morse, 2007). O método fenomenológico de Giorgi, está dirigido para o significado da experiência, para a pessoa que a vivência. Possibilita estudar de forma científica a experiência humana. Em suma, na opinião deste autor a fenomenologia aplicada à Enfermagem pode ajudar-nos a adquirir o conhecimento sobre os processos experienciais das pessoas, conduzindo assim a um conhecimento científico (Giorgi e Sousa, 2010). Segundo os mesmos autores, para a análise dos dados, dever-se-ão seguir as etapas esquematizadas no diagrama que se segue. 73 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Diagrama 1 – Etapas da análise dos dados segundo Giorgi 1ª Etapa 2ª Etapa Leitura da descrição inteira da experiência para obter um sentido do todo Discriminação das unidades de significado a partir da descrição dos participantes 3ª Etapa 4ª Etapa Transformação da linguagem comum das unidades de significado numa linguagem científica Síntese das unidades de significado transformadas numa estrutura descritiva do significado da experiência Fonte: Adaptado Giorgi e Sousa (2010) Abordamos de seguida, cada etapa método de Giorgi, de forma mais aprofundada. No decurso da explicação de cada etapa processual do método serão explicados os procedimentos que efetuamos no presente estudo, assim como exemplificados alguns desses procedimentos. De referir que entendemos que esta é uma forma translúcida que encontramos de demonstrar o nosso percurso nesta etapa do estudo, no sentido de mostrar o rigor do mesmo. O método fenomenológico de Amadeu Giorgi, tem quatro etapas essenciais como esquematizado anteriormente, as quais passamos a descrever: 1 - Leitura da descrição inteira da experiência para obter um sentido do todo Nesta etapa, o investigador faz a leitura da transcrição completa das entrevistas realizadas no estudo, para obter o sentido do todo (Giorgi e Sousa, 2010). No presente estudo, após a transcrição das entrevistas, procederam-se a leituras sucessivas cada vez mais minuciosas dos discursos das entrevistas de forma a adquirir uma compreensão intuitiva e global sobre o fenómeno em estudo. Assim a primeira leitura realizada consistiu na leitura atenta de todas as entrevistas de forma a permitir uma familiarização com experiências relatadas, com a finalidade de apreender o sentido e significado dos discursos numa perspetiva global. Posteriormente procedeu-se a leituras minuciosas de cada entrevista em particular. Nesta fase, o objetivo é apreender o sentido global, ou seja, não abrange uma análise ordenada, mas sim retrata uma ideia geral da experiência de cada participante. O investigador coloca-se na atitude de redução fenomenológica. Tendo presente esta conduta, revogamos a qualquer conhecimento sobre o fenómeno em estudo. 74 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 2 - Discriminação das unidades de significado a partir da descrição dos participantes O investigador, nesta etapa volta às entrevistas, relê-as de forma vagarosa, e vai identificando uma transcrição de significado nas transcrições, assinalando-as com uma barra vertical (/), sempre que verifica uma mudança de sentido nas descrições dos participantes, identificando assim as unidades de significado. No final desta etapa, o investigador obtêm uma série de unidades de significado, expressas na linguagem comum dos participantes. Unidade de significado, é o termo simplesmente descritivo que significa que um determinado significado, que está contido na unidade de texto separada é relevante para o estudo (Giorgi e Sousa, 2010). Trata-se de um procedimento descritivo, que considera que significados importantes para o tema em estudo estão concentrados naquela “unidade” (idem). Neste estudo, após concluída a primeira etapa do processo, iniciou-se a segmentação das entrevistas, ficando assim divididas em declarações significativas para o estudo, no horizonte da Enfermagem. Estas declarações significativas foram novamente revistas de forma a garantir que as mesmas refletissem os objetivos do estudo e as experiências dos participantes. Durante este processo manteve-se o rigor quanto à extração das declarações significativas das narrativas de forma a garantir o rigor interpretativo. A salientar que na abordagem fenomenológica, a atitude do investigador é orientada para a “descoberta”, isto implica uma atitude aberta para possibilitar o emergir de todo e qualquer tipo de significado, dado que a fenomenologia aplicada à Enfermagem não pretende conhecer apenas aquilo que é visível, mas perceber o que significa viver um determinado fenómeno. 3 - Transformação da linguagem comum das unidades de significado numa linguagem Científica Este é o terceiro momento do processo, e tem como objetivo a transformação da linguagem quotidiana, expressa pelos participantes, numa linguagem mais rigorosa para o discurso científico, de acordo com o contexto disciplinar e com a perspetiva fenomenológica (Giorgi e Sousa, 2010). Isto é, as unidades de significado uma vez estabelecidas, vão ser examinadas, para que o valor disciplinar de cada unidade se torne mais explícito. 75 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Segundo os mesmos autores, cabe ao investigador neste passo, “ (…) intuir e descrever os significados contidos nas descrições dos sujeitos, com a ajuda da redução fenomenológica e da variação livre imaginativa” (Giorgi e Sousa, 2010, p.89). Não se pretende dizer por outras palavras o que os participantes descreveram. O intuito é aclarar e articular o sentido vivido pelos participantes com o fenómeno em estudo. Este passo exige que o investigador utilize intuição. Esta etapa possibilita ao investigador aclarar sentidos que estão por vezes subentendidos nas unidades de significado. Relativamente ao presente estudo, após concluída a segunda etapa iniciámos a transformação das unidades de significado identificadas na linguagem dos participantes, para uma linguagem mais rigorosa para o discurso científico, com o objetivo de aclarar o sentido vivido pelos participantes com o fenómeno em estudo. No Diagrama que se segue, exemplificamos o processo de transformação das unidades de significado identificadas, usando excertos de algumas das entrevistas. Diagrama 2 - Exemplificação do processo de transformação das unidades de significado (excertos das entrevistas 1 e 2) Unidades de Significado “(…) a minha vida profissional era andar sentado desde os 16 anos, é ... os riscos que me levou a isto... , penso que são fatores… são muitos anos sem exercício, não há tempo… vamos se habituando a este ritmo. Eu passo muito tempo sentado!” (E2 ) “O que me preocupa é o cansaço que sinto. Porque, pronto... em pequenos exercícios, mesmo a tomar banho, a andar, ás vezes a comer, e fico um bocadinho cansado. Isso preocupa-me um bocado...” (E1) Unidades de Significado transformadas O participante considera, como fator da ocorrência doença a atividade O participante demonstra preocupação com as limitações físicas que sente. “Estar mais informado sobre a doença que O participante revela o desejo de obter tive.” (E1) informações acerca da doença. Fonte: Desenhado pelo autor 76 da profissional que é sedentária. Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 4 - Síntese das unidades de significado transformadas numa estrutura geral descritiva do significado da experiência Esta última etapa da análise, o investigador aplicando a variação livre e imaginativa integra as unidades de significado transformadas, em constituintes chave contidos nas várias unidades de significado, e sintetiza-os numa descrição da estrutura geral da experiência vivida pelos participantes relativamente ao fenómeno em estudo (Giorgi e Sousa, 2010). No presente estudo demonstramos no Diagrama 3 alguns exemplos de constituintes chave da experiência, obtidos na presente investigação. A apresentação de todos os constituintes chave, não seria estruturalmente indicada neste capítulo perante o volume de informação que representa, pelo que optámos por apresentar a sua compilação no apêndice intitulado “Processo de análise: organização e categorização das entrevistas segundo o método proposto por Giorgi” (Apendice IV). Diagrama 3 - Exemplificação do processo de determinação dos constituintes chave formulados Unidades de Significado Unidades de Significado transformadas “(…) a minha vida profissional era andar sentado desde os 16 anos, é ... os riscos que me levou a isto... , penso que são fatores… são muitos anos sem exercício, não há tempo… vamos se habituando a este ritmo. Eu passo muito tempo sentado!” (E2 ) O participante considera, como fator da ocorrência da doença a atividade profissional que é sedentária. “O que me preocupa é o cansaço que sinto. Porque, pronto... em pequenos exercícios, mesmo a tomar banho, a andar, ás vezes a comer, e fico um bocadinho cansado. Isso preocupa-me um bocado...” (E1) O participante refere preocupação com as limitações físicas que sente. “Estar mais informado sobre a doença que tive.” (E1) O participante revela o desejo de obter informações acerca da doença. Constituintes Chave Sedentarismo Limitações doença funcionais da Informações sobre situação clínica a Fonte: Desenhado pelo autor 77 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Relativamente à estrutura geral descritiva do significado da experiência vivida pelos participantes, é constituída por aspetos essenciais referentes a experiências do mesmo género, daí que possam existir uma ou mais estruturas para o mesmo fenómeno em estudo. O investigador nunca deve forçar dados para que estes resultem numa única estrutura. Para Giorgi, citado por Mendes (2007, p.118), “As estruturas podem ser entendidas como as essências e as suas relações, …a estrutura reflete as partes essenciais e as relações entre elas”. Fazem parte da estrutura apenas aspetos que definem o fenómeno em estudo. O importante é que a estrutura resultante expresse a rede essencial das relações entre as partes, de modo a que o significado global possa sobressair. Neste estudo, os dados encaminharam-se apenas para uma estrutura essencial descritiva do fenómeno – A vivência da pessoa com enfarte agudo do miocárdio na preparação para alta hospitalar. Considerando a organização do presente trabalho, a descrição da estrutura essencial do fenómeno será apresentada posteriormente na parte III relativa à apresentação, análise e discussão da informação. Terminada a abordagem referente à metodologia onde tentámos transmitir como, em termos de metodologia decorreu todo o estudo, segue-se uma breve descrição relativa ao percurso metodológico da investigação com o objetivo assegurar a credibilidade da mesma. Percurso da investigação e respetiva metodologia Em qualquer investigação qualitativa é importante garantir a credibilidade, para que os dados espelhem a realidade da experiência humana tal como é vivida. Refere Streubert (2002), que o objetivo da investigação qualitativa é apresentar com rigor as experiências dos participantes no estudo, referindo ainda, que o mesmo é demonstrado através da atenção que o investigador dá à confirmação da informação descoberta. Outro autor, Ribeiro (2008, p. 74) menciona que “A validade e fidelidade dos dados qualitativos dependem principalmente da perícia, sensibilidade, e integridade do investigador”. Destas três caraterísticas, procuramos investir na sensibilidade e integridade, dado a perícia ser algo que se conquista com o tempo. Neste contexto, Streubert e Carpenter (2002, p.55) referem que por “(…) existir mais de um modo legítimo de prosseguir com uma investigação fenomenológica, o método apropriado para o fenómeno de interesse deve guiar a escolha.” 78 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Assim, sendo nosso intuito conhecer e descobrir a essência das experiências vivenciadas pelos participantes no estudo, optámos pela utilização da interpretação metodológica de Giorgi. A opção pelo método de Giorgi relaciona-se com um aspeto que o autor expõe, que não é necessária a confirmação dos dados do estudo por parte dos participantes, justificando que, o investigador analisa a experiência sob perspetiva fenomenológica em relação ao contexto disciplinar e os participantes relatam a experiência numa perspetiva natural. Também aos participantes só deve ser pedido a descrição da sua experiência e não o significado desta. Este aspeto auxilia o estudo, pois sendo os participantes doentes internados, após a alta hospitalar seria mais difícil o regresso a estes. Em suma, como forma de garantir o conhecimento das condições de estudo do fenómeno, optamos por esta descrição resumida através da apresentação detalhada de todas as estratégias e procedimentos utilizados para a recolha e análise da informação da investigação e a utilização sistemática do método, assim: • Na recolha da informação realizamos entrevistas semiestruturadas, através das quais ingressamos em profundidade no relato das experiências vividas pelos participantes; • Aplicamos o prolongamento da realização das entrevistas até à saturação da informação; • Na seleção dos participantes do estudo, utilizamos a escolha intencional, e os respetivos critérios de inclusão; • Utilizamos os extratos das entrevistas, com relatos dos participantes; • Realizamos a representação esquemática do fenómeno em estudo para facilitar a sua compreensão; • Realizamos a descrição detalhada da abordagem e do enquadramento metodológico. Para uma melhor compreensão de todo o processo, segue-se uma representação esquemática (Diagrama 4) do percurso da investigação e da respetiva metodologia. 79 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Diagrama 4 – Percurso da investigação e respetiva metodologia Analisar a Vivência da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio na Preparação para a Alta Hospitalar Questão de Investigação Como vivência a pessoa com EAM a preparação para a alta hospitalar? Inquietações • Uma necessidade sentida, correspondente a um percurso profissional onde a proximidade com esta patologia é frequente; • O fato do EAM, fazer parte do leque de patologias preocupantes da atualidade e que causa muitas apreensões; • O internamento presentemente é quase sempre de curta duração e também o facto de ser uma área de interesse dos investigadores. Questões/Reflexões orientadoras • Conhecimento dos fatores que contribuem para a ocorrência do EAM; • Preocupações da pessoa que sofreu um EAM; • Quais as modificações na vida diária, após um EAM? • Ensinos/esclarecimentos à pessoa após EAM. Objetivos • Identificar o conhecimento da pessoa sobre os fatores que influenciaram a ocorrência do EAM; • Identificar as preocupações da pessoa com EAM, na preparação para a alta hospitalar; • Perceber se a pessoa considera importante após o EAM mudar os hábitos de vida; • Identificar a informação que a pessoa com EAM considera pertinente na preparação para a alta hospitalar. Participantes Critérios de inclusão: • Perante um primeiro evento de EAM; • Com maioridade de idade; • Apresentem condições clínicas para participar no estudo e capacidade de interpretação das questões da entrevista; • Que voluntariamente, acedam contribuir para o estudo, dado serem estes que vivenciam o fenómeno a ser estudado. Objeto do estudo Discurso das pessoas que vivenciam um EAM e a preparação para a alta hospitalar • Metodologia de Natureza Qualitativa • Abordagem Fenomenológica - (Entrevista semiestruturada) • Método Fenomenológico Segundo Amadeo Giorgi 1. Leitura da descrição inteira da experiência para obter um sentido do todo 2. Discriminação das unidades de significado a partir da descrição dos participantes 3. Transformação da linguagem comum das unidades de significado numa linguagem científica 4. Síntese das unidades de significado transformadas numa estrutura descritiva do significado da experiência Fonte: Desenhado pelo autor 80 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Terminada a exposição do enquadramento metodológico, segue-se a terceira parte do estudo, referente á apresentação, análise e discussão da informação que emergiu das entrevistas realizadas aos participantes do estudo. 81 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio PARTE III APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DA INFORMAÇÃO Esta parte centra-se na apresentação dos dados decorrentes da análise da informação transmitida pelos participantes do estudo. Inicialmente expomos a caraterização dos participantes, seguindo-se a descrição e apresentação da síntese da estrutura do fenómeno em estudo como foi analisado e entendido pelos investigadores. Por último abordamos a análise e discussão dos dados emergentes, confrontando-os com literatura. 83 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 1 – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DA VIVÊNCIA DA PESSOA COM ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO NA PREPARAÇÃO PARA A ALTA HOSPITALAR O presente capítulo tem por objetivo a apresentação dos dados obtidos no estudo, ou seja, a descrição da vivência da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar. A ocorrência de um EAM é uma experiência individual marcante, variando esta vivência com as caraterísticas pessoais e com a própria experiência de vida de cada pessoa. É neste sentido, que passar-se-á a descrever nos próximos subcapítulos os resultados encontrados nas transcrições das entrevistas, procedendo à sua interpretação, análise e discussão. No sentido de demonstrar a profundidade desta etapa da pesquisa, pretendemos que o apoio bibliográfico sobre o qual incidiu a nossa pesquisa consiga explicar o fenómeno em estudo, ou seja, clarificar e desenvolver conhecimentos acerca da vivência dos participantes que sofreram um EAM. Na opinião de Fortin (2003, p. 42) na análise “… é tirada uma descrição detalhada dos acontecimentos relatados pelos participantes que viveram tal situação ou experiência.” Neste contexto a análise e a apresentação de dados, envolve o trabalhar com os dados, a sua organização, divisão em unidades manipuláveis, síntese, procura de padrões, descoberta de aspetos importantes e do que deve ser apreendido, bem como, a decisão sobre o que deve ser transmitido aos outros (Bogdan e Biklen,2006). Ainda neste âmbito, Carpenter (2002, p. 69), explica que a fase de análise do processo de investigação tem como objetivo “… preservar o que é único em cada experiência de vida do participante e permitir a compreensão do fenómeno em estudo.” No estudo, após a análise dos dados seguindo os passos metodológicos de Giorgi, expomos os resultados encontrados, apresentando inicialmente a representação esquemática do fenómeno em estudo (Diagrama 5) como foi analisada e entendida pelos investigadores, seguindo-se a exposição da estrutura descritiva do seu significado, possibilitando ao leitor desta forma ter uma visão dos dados encontrados no estudo. 85 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Posteriormente segue-se a análise e a discussão dos diferentes “Constituintes-Chave”, emergentes de acordo com a literatura existente. A Estrutura essencial/ Tema, deste estudo move-se em torno da palavra vivência, que de acordo com Dicionário “Priberam” (2012, s/p., on-line) é o “Sentir ou experimentar (algum acontecimento ou situação) com intensidade”. Assim, nesta fase do estudo serão debatidas e justificadas com a bibliografia, as vivências emergentes sentidas e vividas pelos participantes neste estudo. Antes das apresentações mencionadas, abordamos a caraterização geral dos participantes, no sentido de permitir ao leitor, o conhecimento de alguns aspetos relativos aos mesmos. 1.1 – CARATERIZAÇÃO GERAL DOS PARTICIPANTES No presente estudo, como referido anteriormente, os participantes são doentes internados no Serviço de Cardiologia do HDS, foram selecionados de acordo com determinados critérios de elegibilidade, recorrendo-se à amostragem intencional e ao princípio da saturação da informação. Assim, integraram o estudo dez participantes. O quadro que se segue enuncia as caraterísticas dos participantes do estudo, de acordo com a idade, género, estado civil, extensão do agregado familiar, profissão, bem como o tempo de internamento. Quadro 1- Caraterísticas sociodemográficas e profissionais dos participantes Código da Entrevista Género Idade E1 ♂ 64 Estado Civil/ Pessoa com quem vive Casado/Esposa E2 ♂ 35 Casado/Esposa E3 E4 E5 ♂ ♂ ♀ 42 67 56 Casado/Esposa Casado/Esposa Casada/Marido E6 ♂ 70 Casado/Esposa E7 ♀ 35 Solteira/Mãe E8 ♀ 71 Casada/Sozinha E9 ♂ 82 Casado/Esposa E10 ♂ 65 Casado/Esposa Profissão Agricultor Sócio- Gerente Firma de Transportes Empregado Fabril Engenheiro-Professor Doméstica Motorista de pesados aposentado Auxiliar de educação Empregada Doméstica aposentada Motorista particular aposentado Manobrador de máquinas pesadas aposentado Fonte: Desenhado pelo autor 86 Tempo de Internamento 24 dias 6 dias 6 dias 4 dias 4 dias 5 dias 4 dias 5 dias 8 dias 4 dias Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Podemos verificar pela análise do quadro anterior respeitante aos dados sociodemográficos, que dos dez doentes que constituem os participantes do estudo, sete são do sexo masculino, os restantes três de sexo feminino. Relativamente ao estado civil são na sua maioria casados, sendo apenas uma participante solteira. As idades estão compreendidas entre os 35 e os 82 anos, encontrando-se a maioria dos participantes na faixa - etária dos 50-70 anos. Em relação á co-habitação, os participantes vivem com as respetivas esposas e/ou marido, excepto duas participantes em que uma co-habita com a mãe e outra vive sozinha. A nível profissional, encontram-se aposentados quatro participantes, sendo três de sexo masculino e um de sexo feminino, os restantes participantes de sexo masculino, a ocupação profissional concentra-se no setor dos serviços (têm como profissão, agricultor, Sócio- Gerente Firma de Transportes, Empregado fabril), apenas um pertence aos quadros técnicos e científicos (Engenheiro-Professor), os de sexo feminino uma participante é doméstica e a outra é auxiliar de educação. Após breve apresentação dos participantes, segue-se outro subcapítulo do processo da investigação. 1.2 – SÍNTESE GLOBAL DA ESTRUTURA DO FENÓMENO EM ESTUDO Após a organização e análise da informação adotando as etapas metodológicas propostas por Giorgi (Diagrama 1), obtivemos quadros relativos à análise da informação recolhida das entrevistas aos participantes, apêndice IV (“Processo de análise: organização e categorização das entrevistas”). Estes quadros permitem visualizar a informação recolhida de forma sistematizada. Nesta sequência, e com a finalidade de obter resposta à questão de investigação, “Como vivencia a pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio a preparação para a alta hospitalar?”, obteve-se a Estrutura Essencial representada no Diagrama 5, dando a visão do fenómeno em estudo como foi analisado e entendido pelo investigador. Como podemos verificar pela apresentação que se segue a estrutura assenta unicamente numa Estrutura Essencial/Tema, Diagrama 5: A Vivência da Pessoa com 87 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio EAM na preparação para a Alta Hospitalar, que teve por base a questão de investigação e os objetivos do estudo. A Estrutura Essencial com os respetivos Constituintes-Chave identificados em diferentes contextos, vêm no seguimento da interpretação metodológica, terminologia e linguagem definidas por Giorgi. A ligação efetuada entre os vários constituintes-chave emergentes em diferentes contextos explica a realidade vivenciada pelos participantes. Após leitura e análise das entrevistas no sentido de conhecer como vivencia a pessoa com EAM a alta hospitalar ficou evidente que, os participantes que integram o estudo, perante esta vivência percecionam como causas da ocorrência da doença vários aspetos, alguns participantes referem o stress laboral, o esforço físico, assim como o sedentarismo inerente à atividade profissional. Outros participantes referem como agentes causadores da doença, a ansiedade e o nervosismo, como questões intrínsecas ou questões ocasionais. Também presente a atribuição da causa da doença, à vivência de alterações emocionais associadas a situações familiares e a situações acidentais no dia-a-dia. Considerados também aspetos que favoreceram a manifestação da doença verbalizados por alguns participantes apresentam-se, a aterosclerose, o abandono da medicação e a HTA. Foram referidos como causas outros fatores, como é o caso dos hábitos alimentares e do tabagismo mencionado como hábito de vida. De salientar, que os participantes percecionam diferentes causas para o evento. Na pessoa que sofreu um EAM, também as preocupações com a ocorrência da doença são evidentes, uma vez que nos relatos dos participantes afloram uma diversidade de preocupações geradas pela vivência da doença. Transpareceu a preocupação a um nível íntimo, com a sexualidade, bem como preocupações marcantes a nível das limitações funcionais da doença, na realização das atividades e associadas à realização de esforço físico. Manifestam preocupação com o futuro profissional, inquietação com a necessidade de alterações do regime alimentar. Outro aspeto descrito nas entrevistas como preocupante para alguns participantes foi o da dependência e cumprimento da medicação após a alta hospitalar, realçando o aspeto da necessidade de adaptação às implicações/limitações da doença. Evidencia-se a falta de apoio familiar pós alta como preocupação vivida. Perante a ocorrência da doença e o facto da proximidade do momento da alta hospitalar, uma reestruturação dos hábitos de vida é prevista pelos participantes conjeturando com vontade, restringir o esforço físico referindo o abandono de algumas 88 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio atividades que exijam esforço, alteração de hábitos alimentares também são verbalizadas nomeadamente a eliminação de alguns alimentos nas refeições. Foi referida a previsão de adquirir estratégias de adaptação à doença, para outros a previsão da reestruturação dos hábitos direciona-se para uma alteração da prática/rotina diária, nomeadamente na mudança de comportamentos e aquisição de novos hábitos, na vida quotidiana. Os participantes referem que foram esclarecidos alguns aspetos no período de internamento, mas desejam mais esclarecimentos, realçam ser fundamental a informação acerca da doença nomeadamente sobre a sua situação clínica. Expressam necessidade de informação e esclarecimentos relativos às limitações causadas pela doença, acerca da atividade física, a nível da alimentação e da sexualidade. Pelos discursos dos participantes ficou evidente a valorização de informação relativa a orientações na medicação e orientação para consultas médicas, transparecendo assim a informação valorizada na preparação para a alta. Um aspeto relatado foi o de que a informação transmitida deve ser de forma personalizada, há mesmo um participante que refere que esta deve ser também transmitida de uma forma gradual. A informação escrita transparece nos discursos como complemento da informação oral. O enfermeiro é o profissional de quem esperam uma intervenção em educação para a saúde através da transmissão de orientações, contribuindo na recuperação da doença, reconhecendo competência profissional nas suas intervenções. Após esta visão global do fenómeno, Diagrama 5, representando a forma como o investigador o entende, seguidamente desenvolve-se cada Constituinte - Chave que integra a estrutura essencial do fenómeno. 89 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Diagrama 5 – Representação da vivência da pessoa com EAM na a alta hospitalar Preocupações Com a Doença Perceção das Causas da Doença • Sexualidade • Limitações funcionais da doença • Futuro profissional • Stress laboral • Regime alimentar • Esforço físico no trabalho • Dependência cumprimento • Nervosismo e Ansiedade da medicação após a alta • Alterações emocionais hospitalar • Aterosclerose • Abandono da medicação • Tabagismo • Hábitos alimentares • HTA • Sedentarismo • Apoio familiar Reestruturação dos Hábitos de Vida A Vivência da Pessoa com EAM na Preparação para a Alta Hospitalar • Restrição do esforço físico • Alterar hábitos alimentares • Estratégias de adaptação à doença • Alterar práticas /rotinas A Informação Valorizada na Preparação para a Alta • diárias Informação sobre a situação Intervenções dos enfermeiros na Preparação para a Alta clínica • Informação acerca da alimentação • Informação acerca da atividade física • Informação acerca da sexualidade • Orientação consultas médicas • Orientação na medicação • Transmissão da informação de • Educação para a saúde • Reconhecimento de competência profissional forma personalizada • Informação escrita complemento da informação oral Fonte: Desenhado pelo autor 90 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 1.3 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS CONSTITUINTES-CHAVE EMERGENTES NOS DIFERENTES CONTEXTOS Este subcapítulo explana a análise dos dados, relacionando-os com a literatura desse âmbito, e comunica os mesmos. Segundo Giorgi e Sousa (2010), esta última fase do processo de investigação relaciona-se com o “Diálogo com a Literatura”, ou seja depois de expostos os dados, o investigador coloca-se perante literatura acerca do tema em estudo, na qual se insere a investigação, e verifica se os dados estão de acordo com literatura existente. Assim, após várias leituras das entrevistas, objetivando a análise metódica das informações obtidas, permitiu-nos extrair descrições da experiência significativas e organizá-las em grupos, de modo a melhor contextualizar e compreender os dados do estudo. Neste sentido, como anteriormente referido, construímos quadros relativos à análise da informação recolhida das entrevistas aos participantes, apêndice IV. A referir que neste estudo emergiram das vivências dos participantes uma “Estrutura Essencial”, na qual se destacam os “Constituintes-Chave” em diferentes “contextos”. Os quadros mencionados permitem visualizar a informação recolhida de forma sistematizada, com a “Estrutura essencial/ Tema”, e os respetivos “ConstituintesChave”, nos diferentes contextos assim como as “Unidades de Significado”. Assim abordamos neste subcapítulo, inerente à “Estrutura essencial/ Tema”, cada um dos “Constituintes-Chave” emergentes, tendo por base os relatos dos participantes. Na apresentação de cada “Constituintes-Chave”, são utilizados exemplos das “Unidades de Significado” na linguagem dos participantes. Relativamente à apresentação das unidades de significado optámos por designar cada uma por uma sigla à qual corresponderá à letra E (entrevista) e um número, como por exemplo E1, que neste caso corresponde à ordem em que os participantes foram entrevistados. A opção prende-se com o facto de considerarmos que deste modo, serão compreendidas as vivências dos participantes, respeitando ao mesmo tempo o anonimato. Recorremos também à utilização, de alguns códigos cujo significado é o seguinte: • (…), excerto da transcrição da entrevista original sem relevância para a análise; • …, pausas no discurso dos participantes. 91 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Ao longo deste subcapítulo, para uma melhor visualização da análise realizada, considerámos pertinente apresentar diagramas elucidativos, relativos aos “Constituintes-Chave” nos respetivos contextos. Deste modo, passamos à reflexão acerca da experiência vivida pelos participantes do estudo, efetuando uma análise de cada “Constituinte-Chave”, tendo presente que o fenómeno em estudo só pode ser compreendido na sua apresentação global. VIVÊNCIA DA PESSOA COM EAM NO CONTEXTO DA PERCEÇÃO DAS CAUSAS DA DOENÇA No decorrer deste estudo, pretendemos responder á questão “Será que a pessoa tem conhecimento dos fatores que contribuem para a ocorrência do enfarte agudo do miocárdio?”. Neste encadeamento na interpretação das entrevistas, com o intuito de analisar a vivência da pessoa com EAM, na preparação para a alta hospitalar, surgiam diferentes “Constituintes-Chave”, no contexto Perceção das Causas da Doença, como se pode visualizar pelo Diagrama 6. Diagrama 6 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto da Perceção das Causas da Doença Perceção das Causas da Doença • Stress laboral • Esforço físico no trabalho • Nervosismo e Ansiedade • Alterações emocionais • Aterosclerose • Abandono da medicação • Tabagismo • Hábitos alimentares • HTA • Sedentarismo Fonte: Desenhado pelo autor 92 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Antes de entrar propriamente na análise e discussão, e uma vez que este contexto menciona a “Perceção”, consideramos pertinente abordar o significado deste conceito. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (2011, p.598), perceção é a “Faculdade de apreender por meio dos sentidos; entendimento; noção; ideia”. Constatamos que ao vivenciarem inesperadamente um EAM, os participantes atribuem a ocorrência da doença a determinadas causas, variando a Perceção das Causas da Doença de participante para participante. Neste sentido, Hatchett, R. e Thompson D. (2006, p. 166), referem que “ Os doentes possuem diferentes experiências e variam na forma como descrevem os sintomas e a dor, atribuindo muitas causas ao evento”. Os mesmos autores (2006) referem ainda que, perguntar ao doente o que pensa que lhe causou a doença, é uma forma útil de começar a explorar a importância da situação para a pessoa. Stress Laboral O stress inerente à profissão contém um forte significado para estes participantes que sofreram um EAM, onde lhe atribuem relevante importância no processo de doença. Como relata Serra (2007), o termo stress, provém do verbo latino stringo, stringere, strinxi, striticum que tem como significado apertar, comprimir, restringir. Apesar deste termo ter sido utilizado bastante tempo para exprimir uma pressão ou constrição de natureza física, no século XIX o conceito alargou-se e passa a significar, também, pressões que incidem sobre a mente humana. Na opinião de Nogueira (2010), todos os nossos sistemas fisiológicos vitais estão orientados funcionalmente para a preservação do meio interno (homeostase) que é único para cada indivíduo e é considerado essencial para o bem-estar quotidiano e para manutenção da vida. O equilíbrio complexo e dinâmico que carateriza a homeostase é constantemente desafiado por forças adversas, intrínsecas e extrínsecas, reais ou percebidas como tais, as designadas forças stressoras. Assim, stress pode ser definido como um estado de ameaça à homeostasia e, este estado, é contrariado por respostas fisiológicas e comportamentais cujo objetivo é o de restabelecer o equilíbrio perturbado (resposta adaptativa ao stress). No mesmo contexto, Serra (2007), refere que o stress representa a relação que se estabelece entre a “carga” sentida pelo ser humano e a resposta psicofisiológica que o indivíduo desencadeia perante a mesma. 93 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Também Eriksen e Ursin, referidos por Serra (2007), exprimem que o stress deve ser considerado como uma resposta necessária e adaptativa, e que só em condições muito específicas esta resposta ultrapassa os seus limites, tornando-se numa fonte de potencial doença. Para este autor, os acontecimentos de vida indutores de stress podem ser de natureza física, psicológica e social. No presente estudo são verbalizados pelos participantes momentos de stress no seu dia-a-dia laboral. Ficando evidente pelos discursos, que uma das causas apontadas como desencadeante da doença é o Stress laboral, como sobressai nos extratos das entrevistas que se seguem. “Sim, porque nem sempre o trabalho corria bem... isso preocupava-me. E ultimamente... pronto... aí há um mês que o trabalho andava a correr mal; e eu esforçava-me o mais possível, e as coisas (…) pronto... o trabalho, o stress do trabalho e até que, há um dia senti-me mesmo mal. (…) o stress do trabalho que originou, esta situação.” (E1) “Durante estes cinco seis meses, tenho tido também uma vida profissional bastante stressado, e também teve um bocado contribuição para isto (…) e tudo ajudou… (emociona-se)”.( E3) Comprovando estes relatos, Boschco e Mantovanie (2006), referem no seu estudo3 acerca das “perceções dos portadores de insuficiência cardíaca frente ao processo de adoecimento”, que embora não se refiram especificamente ao doente com EAM, remetem para a presença desta emoção, situações em que alguns processos sociais podem contribuir para o desenvolvimento de problemas cardíacos, sendo referido o acontecimento a partir de eventos de vida stressantes, como condições de trabalho, perdas materiais significativas, entre outros. Também emergiu no estudo4 relativo à “intervenção psicológica na reabilitação pós EAM”, de Mcintyre, Fernandes, e Soares (2000), que o stress psicológico, a raiva e a hostilidade são variáveis psicossociais associadas ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. No mesmo contexto, uma pesquisa5 realizada por Rodrigues, Guerra e Maciel (2010), conclui que o stress é preditor da doença coronária. Demonstram que quando o indivíduo vivencia intensivamente stress a sua saúde é afetada, uma vez que isso acarreta múltiplas alterações no organismo, tais como a ativação do sistema 3 - As perceções dos portadores de doença cardíaca frente ao seu processo de adoecimento – Estudo qualitativo realizado por Boschco e Mantovanie, num hospital especializado em cardiologia no município de Curintiba, em 2006. 4 Intervenção psicológica na reabilitação pós EAM – Estudo realizado por Mcintyre, Fernandes e Soares, no Instituto de Educação e Psicologia na Universidade do Minho, em 2002. 5 Impacto do stress e hostilidade na doença coronária – Estudo realizado por Rodrigues, Guerra e Maciel, na Unidade de Cuidados Intermédios de Cardiologia do Hospital de S. João, no Porto. 2010. 94 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio psicofisiológico (aumento do rítmo cardíaco, pressão arterial, respiração, etc.), sistema cognitivo (preocupações, falta de concentração e falhas de memória) e sistema motor (hiperactividade, consumo de substâncias, etc.). A exposição continuada a estímulos geradores de stress torna o indivíduo vulnerável a doenças, nomeadamente HTA e DC (doença coronária). Refere ainda Nogueira (2010, p. 18)6, “o stress psicossocial pode iniciar Doenças Cardiovasculares”. O mesmo autor salienta que o stress ativa respostas biológicas endógenas que se podem associar a uma progressão mais rápida do processo aterosclerótico e a uma maior incidência de eventos coronários. É de consenso geral que o trabalho é uma das grandes causas de stress nos indivíduos. Este fato esteve presente nas afirmações dos participantes, que imputam ao trabalho situações stressantes e causadores do evento. Relacionado com a profissão surge outro constituinte chave na análise das entrevistas. Esforço Físico no Trabalho Evidencia-se também nos relatos dos participantes, a atribuição da ocorrência do EAM associada à atividade profissional como é referido na E1: “Eu acho mesmo que foi excesso de trabalho. Sim. Foi, porque... estava-me a... já há muitos anos, nunca tive férias, nunca tive descanso. Na minha atividade tinha que... portanto... tinha que trabalhar a um domingo, como a um dia de Natal, pronto, tinha que ser, era uma obrigação. Portanto, como a pecuária exigia, tirar porcos ao Domingo para abater à Segunda-Feira. Pronto, andava muito cansado e para mim foi... foi mais o excesso de trabalho e o esforço que fazia, o esforço do trabalho que originou.” (E1) “(…)andava já a sentir há algum tempo, cansado... e o trabalho era... pronto, quer dizer... como trabalho... trabalhava... trabalhava, pois... por conta própria, não tinha empregados, e sentia-me na obrigação de ter de cumprir. E sentia-me cansado, talvez há quase um mês antes. Mas pronto, sentime cansado. Parava, e tal... continuava. Dias umas vezes mais cansado do que outros (…)” (E1) Conforme referem alguns autores, o mau funcionamento do coração muitas vezes caraterizado por um cansaço fácil e aparecimento de dor retroesternal, no desenvolvimento de atividades, pode ter como consequência a ocorrência de um EAM (Hatchett e Thompson, 2006). 6 Stress e Doença Coronária – Estudo realizado por Nogueira, A. P., na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 2010. 95 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio No próximo relato é notório a atribuição da ocorrência da doença, à realização de Esforço Físico no Trabalho, deixando os participantes arrastar o decurso de sintomas, como referido: “Eu penso … que como no trabalho faço esforço, porque tem que ser (…) os riscos que me levou a isto... foi esforço que fiz! Foi quando me senti pior, foi com os esforços...com o trabalho, pronto... e é tudo, penso que são fatores...” (E2) “ (…) eu trabalho há muitos anos, em trabalhos muito difíceis, muito duros, e acho que foi isso tudo que levou, a que esta doença me apanhasse de surpresa, porque eu andei uma semana com este problema. Derivado ao trabalho que tenho, para não perder tempo, porque hoje em dia a vida está muito difícil.” (E3) Relativamente à valorização de sintomas, na opinião de Boschco, M. e Mantovanie, M. (2006), quando ocorre um desconforto físico, alguns vão em busca de auxílio para saber o que está a acontecer, mas a maioria espera que o sintoma passe e continua as atividades quotidianas, como se verifica pelo relato anterior. Os mesmos autores salientam ainda que é como se a pessoa “não pudesse ficar doente, pois tem muitos afazeres pessoais a cumprir e acaba por negligenciar a própria saúde, o cuidado com o seu corpo, seus hábitos de vida, chegando a um momento de exacerbação dos sintomas de uma doença cardiovascular (Idem). No mesmo sentido outro participante, manifesta que a realização de esforço desenvolve o aparecimento de sintomas, como se evidencia pelo discurso: “Pois... é... eu comecei a notar, foi... uma pessoa trabalha, não é? Trabalha e... lá nas nossas coisitas (…). Senti (…) cansado e umas picadas... umas picadas... mas que raio, o que é que se passa? Mas, pronto... continuei, não é? Continuei... mas ao fim de uns dias aquilo continuava sempre, mal... mal que fizesse um esforçozinho, aquilo era um... Oh... mas aquilo depois começou a agravar-se. Começou a agravar-se de dia para dia, quando eu pegava em pesos ou que desse umas passadas mais... mais alargadas (…)”. (E10) O relato anterior pode ser justificado com o que diz Phipps (2003), que quando o coração não bombeia o sangue adequadamente para o organismo, por insuficiente irrigação sanguínea, surge a sensação de fraqueza e cansaço, sendo que na maioria dos casos não são valorizados estes sintomas, compensando com a diminuição gradual da atividade física, favorecendo assim a evolução da situação para problemas mais graves. No mesmo contexto mencionam os autores Hatchett e Thompson (2006), que os sintomas da doença manifestam-se quando o fornecimento coronário de sangue é insuficiente relativamente ao oxigénio necessário para manter a tensão de oxigénio do tecido miocárdio. Clinicamente, este desequilíbrio provoca um fornecimento desadequado de oxigénio às células do miocárdio, isquémia miocárdica 96 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio e angina (termo utilizado para descrever o desconforto que ocorre durante períodos de isquémia miocárdica, trata-se de sintoma e não de uma doença). Ou seja, as lesões das artérias coronárias limitam o fornecimento de oxigénio nos momentos de aumento de necessidade, como é o caso de exercício físico/ esforço. O desconforto alivia normalmente nos primeiros dois a dez minutos de descanso (Idem). Também, Bronzatto, Silva e Stein (2001), descrevem que o esforço físico não deve ser encarado como responsável pela ocorrência de EAM, mas sim como coadjuvante num sistema complexo que envolve uma patologia preexistente, por vezes silenciosa. Acrescentam também que o esforço físico pode, ser considerado como um "momento crítico", ou, ainda, como um “gatilho”, alterando a função miocárdica, existindo um aumento excessivo de consumo de oxigénio sem aumento da “oferta, por desordem” no sistema cardíaco. Nervosismo e Ansiedade Outro constituinte-chave que emergiu na análise das entrevistas, no contexto da Perceção das Causas da Doença foi o nervosismo e ansiedade. Com base no exposto, pelos participantes do estudo, o sentimento de nervosismo e ansiedade é vivenciado e imputado como componente causal da doença, surgindo associado a questões intrínsecas aos participantes, como se pode constatar pelo que referem: “Olhe! Primeiro, eu sou uma pessoa muito nervosa, é uma delas... eu penso que o sistema nervoso influência muito, mal qualquer coisa fico logo nervoso, com o trabalho… com as coisas da vida que tenho para resolver.” (E2) “Talvez pela questão nervosa que eu tenho sempre. Durante o dia, por vezes ando esquecida, eu até tenho um papagaio e entretenho-me muito com ele, porque, pronto é a única companhia que tenho, converso com ele como converso com uma pessoa e ele conversa comigo. O resto sei lá, a vida! A vida toda, sempre os nervos …os nervos.” (E8) “Tenho ideia …aah …foi os nervos, que sim! Considero mesmo, foi uma vida que nunca foi... como é que eu hei-de dizer (…). Ando sempre nervosa. ” (E8) [Refere-se aos acontecimentos com que se tem confrontado ao longo da vida quotidiana] Transparece nestes discursos o nervosismo como sentimento interiorizado e próprio da personalidade, sendo influente e marcante emocionalmente no quotidiano destes participantes. 97 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio O sentimento de nervosismo, segundo a Academia das Ciências de Lisboa (2001) e o Dicionário da Língua Portuguesa 2010 (2009), corresponde a um estado de excitação geral e de emotividade excessiva, caraterizado pela inquietação, irritabilidade e tensão. Para Mitellmann (2010), os sintomas de ansiedade dividem-se em dois grupos: sintomas físicos e sintomas cognitivos, nestes últimos incluem-se o nervosismo, apreensão e a irritabilidade. Salienta o autor, que ansiedade/ nervosismo variam de acordo com as caraterísticas de cada pessoa, podendo estar associados a determinadas situações ou serem tão constantes a ponto de se considerarem um traço de personalidade. Nos discursos que se seguem realçam o nervosismo e ansiedade também relacionados com aspetos ocasionais. Estes participantes atribuem a ocorrência do EAM ao confronto com determinadas situações, como se verifica nos relatos. “Eu não estava à espera que isto me acontecesse. Acho que, à partida ninguém espera. Porque… eu penso que levo uma vida saudável, inclusive eu faço ioga, e tudo… isto à partida nunca me iria acontecer. Mas…a chuva mexe sempre comigo cada vez que chove…entra sempre em casa. Foi os nervos, foi. Foi os nervos, a raiva, a fúria, tudo junto ali… que explodi, e aconteceu-me isto.” (E7) [Após a intempérie] “E aconteceu isto! Não sei se foi de (…). Se foi da questão nervosa? Porque custa muito a gente estar só, sinto-me sozinha completamente. Ver o meu marido da maneira que está. Pronto, tenho tido uma vida mesmo muito, muito, muito difícil. A vida dos pobres já se sabe como é que é! É difícil. Os meus filhos é que estão a pagar para o pai estar num lar, isso tudo mexe comigo.” (E8) [Vive sozinha] Estas situações enquadram-se no que referem Rodrigues, Guerra e Maciel (2010), em que o impacto que os acontecimentos da vida têm na saúde do indivíduo provêm da quantidade e intensidade dos mesmos, bem como da personalidade e do suporte social. No mesmo contexto Matos e Ferreira (2000) consideram que o suporte social consiste no grau em que as necessidades básicas, como a filiação, o afeto, pertença, identidade, segurança, são satisfeitas através da interação com os outros. Na última situação o participante associa ainda ao acontecimento da doença, o facto de estar só, os dados corroboram o que afirma Fernandes (2007), num estudo7 em que foi conhecido que a pessoa pode expressar perda de saúde relacionada com sentimentos aumentados de solidão. 7 Solidão em Idosos do Meio Rural do Concelho de Bragança - Estudo realizado por Fernandes, J. H. , na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. 2007. 98 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Além das causas expostas e verbalizadas pelos participantes, no estudo a ansiedade, sobressai também como fator que se manifesta associado a outros agentes, como se verifica no discurso de E4. “(…) eu compreendo isso pelo relato do médico, que tinha que existir, uma situação que está subjacente. Depois à um outro fator que é adicional, que é a ansiedade, o stress, o nervosismo, o fator que se adicionou... no meu caso considero que isso assim foi!...” (E4) De uma forma mais ou menos intensa todas as pessoas sentem ou já sentiram ansiedade. No Dicionário da Língua Portuguesa 2010 (2009) a ansiedade vem definida como um estado de perturbação psicológica causado pela perceção de um perigo ou pela iminência de um acontecimento desagradável ou que se receia. Nesta linha de pensamento, Ferreira (2005, p. 41) menciona que a ansiedade é um estado de apreensão, que antecipa situações ameaçadoras, sendo por isso a ameaça o “… resultado de incongruências entre as capacidades entendidas de controlo, e a possibilidade de perigo presente no indivíduo.” Também Nogueira (2010)8 menciona que níveis elevados de ansiedade são considerados preditores de eventos cardiovasculares. Alterações emocionais Relativamente ao constituinte-chave Alterações emocionais, verificou-se que afloram nos discursos dos participantes situações provocadoras de emoções que despoletam mal-estar e fragilidades, sendo notório momentos pouco agradáveis, considerados pelos participantes desencadeadores do evento. “(…) dois dias antes houve um filho de Lisboa, que me telefonou, falou assim umas coisas, que eu não gostei, e a partir daí eu ... pronto, dois dias depois, vim parar ao hospital…portanto eu acho que, foi devido aquela... estar a remoer aquilo....aqueles dois dias...porque eu fiquei irritada... irritou-me... porque fiquei chocada com aquilo que ele disse, e eu fiquei a remoer para mim. Tenho ideia que foi tudo nascido daí.” (E5 ) Foi ainda abordada a morte de pessoas próximas como um fator importante no aparecimento da doença, confirmando este fato E7: 8 Stress e Doença Coronária – Estudo realizado por Nogueira, A. P., na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 2010. 99 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “(…) eu penso que levo uma vida saudável,(…) mas a minha vida ultimamente tem sido um pouco… complicada. Há pouco tempo faleceu um primo, que era como um irmão. Que pronto, faz mais uma mossazinha no coração.” (E7) O participante destacou também alterações emocionais inerentes a situações acidentais inesperadas. Vivenciou um desastre natural que expressa da seguinte forma: “ (…), esta situação climatérica também mexeu comigo,(…) a água que supostamente devia de ser canalizada entra-me toda para dentro de casa,(…) devo-me ter enervado na altura, que nem dei conta… mais um pouco de raiva de novamente ficar com tudo estragado em casa… e ao mesmo tempo a… o trabalho em si de tirar os baldes de água com velocidade, ou seja, o trabalho mais a fúria que estava dentro de mim deve ter provocado, realmente, o meu coração não… não foi suficiente para aguentar isto, e pronto.”(E7) “Enervei-me sim. Enervei-me. Não na altura. Não dei conta, mas… pronto. Depois, quando parámos, e quando tirei a água toda de casa (risos) parece-me que sim, que me enervei a sério.” (E7) Esta situação enquadra-se no que destaca Martins (2010), que relata que situações de stress emocional decorrente de situações inesperadas de catástrofes naturais, de situações de guerra ou terrorismo, ou mesmo situações mais comuns como a visualização de eventos desportivos, há um aumento do risco de desencadear eventos cardíacos agudos, como o EAM e por vezes morte. No mesmo sentido, os relatos dos participantes vão ao encontro do que foi verificado no estudo realizado por Fonseca et. al.(2009)9 em que foi conhecido que o desenvolvimento da hipertensão arterial e da doença cardiovascular são influenciados por fatores emocionais como impulsividade, hostilidade, stress, ansiedade e raiva. Pelos discursos que se seguem, verifica-se que também diferentes situações familiares, acontecem e são valorizadas pelos participantes como um contributo provocador de alterações emocionais presentes no acontecimento da doença, fato demonstrado nas seguintes transcrições. “(…) Depois ele chamava-me muitos nomes, chamava-me “p...”, chamava-me bêbada, chamava-me de tudo, aquelas porcarias. E ele sabe bem que eu não tenho nada disso, Graças a Deus... e pronto tudo aquilo roía cá dentro.” (E8) [referindo-se ao marido] “Nunca foi fácil a vida, nunca tive alegria, nunca fui pessoa de sair, assim para aqui ou para ali (…) ele chamava-me logo “vadia” se eu quisesse ir mesmo com as outras pessoas, era sempre uma chatice…havia sempre problemas” (E8) [referindo-se ao marido] 9 A influência de fatores emocionais sobre a hipertensão arterial - Estudo realizado por Fonseca et. al ,na Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. 100 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “Às vezes também a gente... por vezes a gente que é... com a mulher, não é? Também temos bocados que podemos ter uma zanga. Ou ela dizer uma coisa e eu não concordar. E a gente estar ali... estar ali um bocado coisa... ora estar ali... eu sou uma pessoa que me enervo muito e ela diz: não te enerves (…). Talvez ajudasse para também um bocadinho.” (E10) Estes participantes relatam problemas conjugais, evidenciando o fato da doença estar associada a aspetos emocionais sendo estes fonte de angústia e tensões. O que vem ao encontro do que está referenciado na literatura. Damásio (2003) refere que, tanto a tristeza como a zanga não são benéficas nem pessoal, nem socialmente. Se estas persistem o resultado é sempre nocivo. No mesmo sentido, também Nogueira (2010), salienta que, a insatisfação com a vida conjugal poderá predispor a doença cardiovascular. Podemos constatar que o desencadeamento de emoções, como acima descritas são sinónimos de alterações emocionais na vida destes participantes, enquadrando-se estes relatos numa das conclusões do estudo10 de Andrade, Steckling e Silveira (2007, p.20) que referem que “estão presentes antecedendo a manifestação de doença cardiovascular problemas afetivos, profissionais e sociais (…)”. Aterosclerose Outro constituinte- chave identificado, através da análise das entrevistas e descrito pelos participantes como causa da situação de doença, foi a Aterosclerose, como se pode verificar pelos excertos de E4 e E9. “Bom! A minha situação... é uma situação, que tudo levava a crer que nada disto acontecesse!... Porque sendo eu uma pessoa que, não fumo, pelas análises não tenho colesterol, não tenho diabetes, sou uma pessoa que faço caminhadas a pé... quer dizer... os considerados riscos para uma situação destas... estavam excluídos... estavam... poder - se -à dizer que não se tinham em conta, neste caso, mas o fato é que eles ocorrem também e eu sou um fato disso, mesmo não comendo gorduras, mesmo não tendo diabetes não tendo colesterol, o que é fato! É que ele ocorreu.... hoje sou levado a concluir que teve que haver uma situação, que tem a ver com... Aterosclerose ”. (E4) “Eu acho que contribui (…) talvez excesso de gorduras no coração. De gorduras ou outras matérias que possam impedir as veias de trabalhar corretamente.” (E9) Relativamente à causa apontada nestes discursos, a literatura foca que a aterosclerose é um processo lento e progressivo, que consiste num estreitamento das artérias que pode reduzir significativamente o fornecimento de sangue a orgãos vitais 10 Aspetos Psicossociais, Estresse e Estilo de Vida em Portadores de Doença Cardiovascular, estudo realizado por Andrade, Steckling e Silveira, na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, 2007. 101 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio como o coração, o cérebro e os intestinos. Na aterosclerose, as artérias ficam mais estreitas quando depósitos de gordura denominados placas ateroscleróticas ou ateromas que se acumulam no seu interior, perdendo a elasticidade. As placas contêm tipicamente colesterol, células musculares lisas, tecido fibroso e, por vezes, cálcio. À medida que uma placa cresce ao longo do revestimento de uma artéria, produz uma área rugosa na superfície normalmente lisa da artéria. Esta área rugosa pode conduzir à formação de um coágulo de sangue dentro da artéria, o qual pode bloquear completamente o fluxo de sangue. Consequentemente, o órgão abastecido pela artéria bloqueada não recebe sangue nem oxigénio e as células desse órgão podem morrer ou sofrer uma lesão grave. A aterosclerose geralmente não causa quaisquer sintomas até o fornecimento de sangue para um órgão ser reduzido. A aterosclerose é uma doença multifatorial, tendo como fatores de risco: dislípidémia, obesidade, tabagismo, hipertensão, diabetes mellitus, hereditariedade, sedentarismo, stress emocional, idade e sexo. A aterosclerose constitui a causa principal de doença coronária, responsável por cerca de 95% dos casos. (FPC, 2011). Também Hatchett, R. e Thompson D. (2006), destacam que a aterosclerose é uma doença progressiva, que se carateriza pela proliferação de células musculares e acumulação de lesões brancas protuberantes conhecidas como placas no revestimento interno da parede arterial. Sendo a rutura ou fissura destas placas e consequente trombose que torna perigosa a aterosclerose coronária. Como se pode verificar a bibliografia descrita revela a aterosclerose uma causa de doença coronária. Também no estudo, pelo que os participantes verbalizam, percecionam a aterosclerose como um fator causal na ocorrência de EAM. Abandono da medicação No que diz respeito ao constituinte-chave Abandono da medicação, pela análise do relato do participante, pode dizer-se que este é percecionado como influente na ocorrência do EAM. “(…) faço medicação, é para o colesterol, é para o coração, é para muita coisa. E eu como andava assim muito cansada de tomar remédios, (…) como era um coiso tão grande de remédios, que eu parei, talvez umas três semanas, eu parei! (…). E aconteceu isto! Não sei se foi de eu parar os remédios? Mas penso que foi isso (…), que foi de parar.” (E8) O discurso anterior, revela que este participante considera o aparecimento da doença, devido ao abandono de medicação, associado à existência de patologias préexistentes consideradas adversárias da saúde. A descrição vai ao encontro do que 102 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio refere Silva (2010), a prescrição em simultâneo de múltiplos medicamentos, assim como muitas tomas diárias ou dosagens elevadas, podem igualmente contribuir para um menor comprometimento com o tratamento. Para este participante o número de medicamentos era elevado tornando-se fatigante. Neste contexto, de acordo com Renovato e Dantas (2005), a adesão ao tratamento depende das caraterísticas do doente, da doença e do regime terapêutico. Este autor salienta ainda que o comportamento é determinado pela perceção do doente sobre a sua suscetibilidade à doença, a gravidade da mesma e os benefícios do tratamento. No mesmo sentido, refere Santos (2010), que cumprir todo o esquema terapêutico proposto pelos profissionais de saúde nem sempre é fácil e, segundo as dificuldades sentidas resultam, por vezes, numa deficiente adesão à medicação com o consequente agravamento do estado de saúde. No estudo11 realizado por Silva (2008), evidencia que a não adesão do ser humano ao regime terapêutico farmacológico relaciona-se com: O esquecimento como principal fator promotor da não adesão; a incapacidade em integrar o esquema terapêutico cuja resposta é a não adesão; a construção de ideias erróneas sobre o seu problema de saúde, sobreposição das crenças nas respostas humanas, o que o leva a procurar outro tipo de regime; a perceção face ao regime terapêutico instituído como redutor e restritivo aos seus hábitos de vida; a convicção que deve cumprir, mas em contexto não consegue, porque acredita que de vez em quando não faz mal, o não cumprimento; a influência negativa dos efeitos terapêuticos; as expectativas demasiado elevadas face aos efeitos terapêuticos; a ausência de consciência do seu problema de saúde; a perceção do problema centrada apenas no presente, sem repercussões no passado e para o futuro; a sobreposição das dificuldades económicas, abdica da terapêutica face a outras prioridades/necessidades do seu dia-a-dia. Assim, no estudo fica evidente que podem existir situações em que o não cumprimento da terapêutica leva à progressão da doença, sendo as consequências o agravamento do estado de saúde da pessoa. 11 O Ser Humano e a adesão ao regime terapêutico, um olhar sistémico sobre o fenómeno. Dissertação de Mestrado em Ciências de Enfermagem, realizado por SILVA, Mário J.R. - Instituto de Ciências da Saúde – Universidade Católica Portuguesa, 2008. 103 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Tabagismo No que se refere ao constituinte-chave Tabagismo, é uma importante causa de morbilidade e mortalidade. É um fator de risco modificável major para a doença coronária. Ao tabagismo é atribuído um quinto das doenças cardiovasculares em todo o mundo (Ridker, Genest e Libby, 2003). No estudo foi um dos aspetos referidos e identificado por alguns dos participantes como fator contributivo para a manifestação do episódio de EAM. “Segundo fumava... penso que não fumava muito, mas é um dos fatores, um maço de tabaco dava-me para 4 dias, fumava à volta de 5 cigarros por dia, às vezes mais se me enervasse, comecei cedo a fumar, mesmo poucos cigarros… mas também ajuda.” (E2) “O tabaco! Que me levou a isto. Durante estes cinco seis meses, tenho tido também uma vida bastante stressado, e também teve um bocado contribuição para isso... Agora é lógico que o tabaco, que toda a gente que reconheça e veja, que o tabaco é um grande prejuízo!” (E3) “Eu tive... aqui por uma curiosidade, agora por estar a falar nisso, eu em 2003 andava a trabalhar num local… Trabalhava na Calçada à Portuguesa (por conta própria) e do qual já em 2003 eu senti de fato, uma dor do lado esquerdo, essa aí foi do lado esquerdo. Senti uma brutal picada, disse à minha esposa que me estava a doer, fui para casa, eu deitei-me em cima do sofá e não recorri a qualquer urgência médica e... aquilo passou… eu pensei tenho que deixar o tabaco. Por isso o mal já cá estava nessa altura, tive a sorte dele ter passado.” (E3) “Isso tabaco fumei. (…) Talvez, talvez. Talvez fosse de ter fumado tanto. Dos 13 aos 45 anos. Mas vou a um doutor, estava doente com uma gripe e a vós ia-se-me embora, isto em Paris. E diz-me assim o senhor doutor: « o senhor fuma.» que tinha na altura 44, 45 anos. Eu digo: «fumo senhor doutor. Fumo o quê? Um maço, dois. «Ó senhor doutor talvez fume mesmo mais.» e na altura fumava 3 maços. E diz-me ele assim para mim: «se quer durar algum tempo, deixe de fumar de imediato! Porque você não vai durar 8 dias.». (respondi) «muito obrigado senhor doutor.» e daí para cá nunca mais fumei um cigarro, mas lá está o mal, já está.” (E9) O consumo de tabaco como se observa pelos relatos, é considerado um hábito de vida. Na União Europeia, a tabagismo é considerado o fator de risco mais importante para as doenças cardiovasculares, estando relacionado com cerca de 50% das causas de morte evitáveis, das quais metade são devido à aterosclerose (Despacho nº 164115/2003). No mesmo contexto Newton e Froelicher (2005), referem que o risco de doença coronária aumenta com o número de cigarros fumados, com a duração do hábito e com a iniciação do consumo do tabaco. 104 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A salientar que os primeiros achados sobre a associação do fumo do cigarro com a doença das artérias coronárias remotam à década de cinquenta, posteriormente várias investigações demonstraram que os grandes fumadores de cigarros têm três vezes mais probabilidade de sofrer EAM em relação à restante população de não fumadores. Está também estabelecido que fumar antecipa em cerca de dez anos a ocorrência de um evento cardiovascular (Ridker, Genest e Libby, 2003; Silva e Saldanha, 2007). Vários estudos confirmam que o consumo do tabaco é um fator de risco e uma das causas de doenças cardíacas. Os principais componentes do tabaco responsáveis por estas consequências são a nicotina e o monóxido de carbono, causa doenças cardíacas porque diminui a quantidade de oxigénio que chega aos pulmões e, por consequência, ao coração, aumenta a tensão arterial e a frequência cardíaca, aumenta a coagulação do sangue e danifica as células do interior das artérias coronárias e outros vasos sanguíneos, contribuindo para o processo de aterosclerose (Diniz et al., 2010). Também no estudo “Interheart” já mencionado anteriormente, verificou-se que o tabagismo é o segundo fator mais determinante de doença coronária isquémica, e com risco populacional atribuível mais elevado no sexo masculino (Yusuf, et al., 2004). No estudo realizado por Borges et al. (2009), com objetivo quantificar os efeitos do tabagismo como fator de risco da doença cardíaca, conclui que 11,7% das mortes em Portugal se podem atribuir ao consumo de tabaco. Pela análise das entrevistas, verifica-se ainda que exista outro caso em que o participante além de se mostrar consciente dos malefícios do tabaco na saúde, especifica que fumou até ao surgir da doença, transparecendo a possibilidade de abandono do hábito de fumar, como refere: “No meu ponto de vista o tabaco …fumo! Fumava até aqui…o tabaco é uma coisa que faz mal à saúde, faz com apareçam estes problemas!” (E3) Neste âmbito, os estudos revelam que as pessoas com doença coronária que deixam de fumar têm um menor risco de reenventos coronários e de mortalidade, verificandose que um ano após o abandono do consumo do tabaco, o risco para a doença coronária diminui cerca de 50% (Vaz, Santos e Carneiro, 2005). Nesta perspetiva, as estratégias preconizadas pela Direção Geral de Saúde, através do Despacho nº 164115/2003 visam fomentar a informação sobre os malefícios do tabaco nos programas de saúde escolar e nos locais de trabalho, criar mais consultas para a cessação tabágica nas instituições de saúde e promover hábitos de estilos de 105 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio vida saudáveis, com o objetivo não só de reduzir a ocorrência de novos fumadores, mas também aumentar a ocorrência de ex-fumadores. Presentemente, em Portugal o consumo do tabaco encontra-se legislado através da Lei n.º 37/2007 de 14 de Agosto, (que aprova normas para a proteção dos cidadãos da exposição involuntária ao fumo do tabaco e medidas de redução da procura relacionadas com a dependência e a cessação do seu consumo) (Diário da Republica, 2007). No sentido de conhecer o impacto desta lei na população portuguesa, a equipa “Infotabac”, (composta por especialistas nas áreas de epidemiologia, direito, promoção e protecção da saúde e estatística), apresenta a primeira avaliação abrangendo os anos de 2008 a 2010, em que as principais conclusões entre outras são: A população reconhece que a lei contribuiu para alterar hábitos, melhorar a saúde, proteger não fumadores e melhorar a qualidade do ar em espaços públicos fechados; em 2009 o número de episódios de internamento por doença isquémica cardíaca diminuiu pela primeira vez em 16 anos; e existe diminuição no consumo de tabaco no 6.º e 8.º anos de escolaridade, entre outros (Portal da Saúde, 2011). O que se enquadra nos objetivos da “Carta Europeia para a Saúde do Coração”. O consumo de tabaco em Portugal tem diminuído, situando-se em 19,5% a prevalência de fumadores com idade superior a 15 anos, no entanto regista-se o aumento da prevalência de fumadores no grupo etário 35 a 44 anos. Na comparação entre género, verifica-se aumento do consumo de tabaco no género feminino (Sociedade Portuguesa de Pneumologia, s/data) (SPP). Deixar de fumar constitui, assim, uma medida para promover um melhor funcionamento cardíaco e consequentemente, reduzir a probabilidade de desenvolver uma doença coronária. Hábitos alimentares Respeitante a este constituinte-chave, através da investigação científica foi confirmado que os hábitos alimentares são um fator importante na determinação da saúde e influenciam o desenvolvimento de processos patológicos, nomeadamente de doenças cardiovasculares. (Sands e Wilson, 2003). Neste contexto, alguns comportamentos alimentares foram identificados pelos participantes, como causas que favoreceram o processo da doença, nomeadamente o tipo de alimentação praticada, como relatam. 106 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “... eu julgo que me, surgiu ter este problema de saúde, do qual eu nunca esperava, a gente pensa que acontece só aos outros... mas de fato bateu-me à porta, a mim. (…), isto é pelo café, pelas gorduras, pelos hábitos de comida que a gente tem, (…)” (E3) “O que influenciou esta situação…Alimentação... eu tenho uma alimentação!... é óbvio que quando vamos a um médico, o médico diz para termos cuidado com as gorduras, para termos cuidado com o sal, cuidado com aquilo que come!... eu não tinha esses cuidados, eu nunca tive muitos cuidados... muitos, não!... nenhuns, eu nunca tive cuidado nenhum com a alimentação, eu comi sempre de tudo “a meu belo e prazer”, aquilo que gosto…” (E3) “Fui capaz de ser um bocadinho abusador, é claro! (…). Abusador no comer, sabe bem, comemos muita coisa que não era preciso. Julgo que ajudou para a doença” (E6) Estes relatos vêm sublinhar o que refere Pires (2009), em que a alimentação equilibrada e a aquisição de hábitos alimentares saudáveis são importantes fatores, na promoção da saúde e na prevenção de situações que podem comprometer o desenvolvimento e bem estar do indivíduo em todas as etapas do ciclo vital. Sendo vários os fatores que influenciam os hábitos alimentares, nomeadamente, fatores culturais, económicos, psicológicos, sociais e religiosos e que devido ao aparecimento de uma enorme variedade de alimentos no mercado, estes são selecionados de acordo com as preferências desempenhando um papel fundamental na aceitação ou rejeição dos padrões alimentares. No mesmo sentido também Peres (1994), salienta que uma alimentação saudável é a forma racional de se alimentar, de forma a assegurar a variedade, o equilíbrio e a quantidade adequada de alimentos escolhidos pela sua qualidade nutricional e higiénica, e que uma alimentação incorreta pode compreender o “comer demasiado”, não se alimentar suficientemente ou a ingestão de alimentos de má qualidade e de forma desequilibrada. Reforça ainda o facto de que os portugueses têm vindo a trocar um padrão alimentar saudável (dieta mediterrânica) por um padrão desequilibrado e desajustado às necessidades para a saúde. Como se evidencia pelo relato deste participante. “A sopa, por exemplo é uma das coisas que eu pouco como, tenho comido mais estes dias que estou no hospital, mas acho que a sopa é uma das coisas que faz bem à saúde e ajuda a combater muita coisa, as verduras.”( E3) Neste contexto, estudos epidemiológicos na área da nutrição têm vindo a associar a dieta tipo mediterrâneo a uma menor incidência de doença coronária. Esta dieta abundante em cereais, peixe, leguminosas secas, fruta, produtos hortícolas e com pouca carne, tem um efeito antioxidante que poderá, prevenir o risco cardiovascular (Perdigão, 2006). 107 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio No estudo verifica-se ainda o excesso de consumo de sal, como hábito alimentar relatado pelos participantes, sendo um aspeto que atribuem algum significado no processo da doença. “Penso! Penso, principalmente o sal, que eu era uma pessoa que gostava muito de comer com sal. Eu sei que não devo comer as coisas salgadas, sei que isso me faz mal… isso também contribuiu para estar aqui ” (E3) “Pois, era o sal e não me importava às vezes de comer alguma gordura. Mas sabe-me bem a comida salgada, eu sei que não devia…agora olhe, aconteceu…” (E6) “Sal, eu sou uma pessoa muito amiga do sal, eu sei que também foi isso, (…) o comer ,... gosto da comida com sal… sei que me fez mal.” (E10) Na opinião de Rique, Soares e Meirelles (2002), o cloreto de sódio (NaCl) embora presente naturalmente em diversos alimentos, a maior parte do sódio da dieta é proveniente dos compostos sódicos adicionados no processamento dos alimentos e, do sal de mesa. No mesmo sentido segundo a American Heart Association, a American Dietetic Association e a Organização Mundial de Saúde, recomendam o limite do consumo diário de sódio a 2,3 g (100 mmol/dia). Os alimentos devem ser selecionados em função do seu teor em sódio, tendo em consideração o adicionado no tempero e confeção dos mesmos (Oliveira, 2011). Relativamente a esta questão, Gouveia (2004) salienta que, a relação entre as doenças cardiovasculares e o tipo de alimentação, encontra-se relacionada com a ingestão inadequada de sal, alimentos ricos em colesterol, consumo excessivo de álcool. Também de acordo com o Plano Nacional de Saúde 2004-2010 (PNC), a situação atual de “má nutrição” deve-se ao crescimento significativo do consumo de gorduras de origem animal (especialmente gorduras saturadas), de sal, de açúcar e baixa ingestão de fruta, legumes e vegetais bem como a ingestão de elevados níveis calóricos (PNC, 2004). Alerta a Sociedade Portuguesa de Aterosclerose (SPA), que as regras básicas para uma alimentação preventiva das doenças cardiovasculares assentam essencialmente em manter o peso adequado, prática de exercício, eleger métodos “saudáveis” de confeção dos alimentos, evitar o sal na cozinha, não comer carne em excesso, rica em gordura predominantemente saturada e dar primazia às carnes magras, comer peixe pelo menos uma vez por dia, comer sopa às principais refeições e fazer 5 a 6 refeições diárias, distribuídas equilibradamente por 3 refeições principais e 2 ou 3 108 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio intercalares. Também o consumo de álcool deve ser moderado pelo facto de causar dependência (SPA, 2011). Existe a situação, em que o participante manifesta o aumento de peso como uma caraterística pessoal causadora da doença. “(…) eu engordei muito em quatro meses, … e como sou uma pessoa baixa (...). Também … noventa e sete quilos... e o médico disse-me: - “ Isso é peso a mais... a senhora não pode (…) só sei que veio isto. Quase de certeza que é do peso.” (E5) O que vem ao encontro do que está referenciado na literatura. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), (2005), refere a obesidade como uma doença em que o excesso de gordura corporal acumulada pode atingir graus capazes de afetar a saúde. No mesmo contexto também a Direção Geral da Saúde (2006, p.18) sublinha que, “A obesidade e o excesso ponderal estão diretamente relacionados com um maior risco cardiovascular, pelo conjunto de doenças e estados mórbidos que favorecem, contribuindo, também para um acréscimo significativo da morbilidade e mortalidade por doença aterosclerótica e por uma diminuição da esperança de vida”. Acrescenta ainda a mesma organização, que a pré-obesidade e a obesidade constituem, importantes problemas de saúde pública em Portugal, exigindo uma estratégia, que inclua promoção de hábitos alimentares saudáveis e de vida mais ativa (DGS, 2006). Neste contexto, é importante o estabelecimento de estratégias de prevenção e tratamento da obesidade, pelo que em 2005 foi aprovado o Programa Nacional de Combate à Obesidade, integrado no Plano Nacional de Saúde, que visa contrariar a taxa de crescimento da prevalência da pré-obesidade e da obesidade em Portugal. Este programa tem, por finalidade, contribuir para a redução do peso, nas pessoas obesas e nos indivíduos com um risco particularmente elevado de obesidade (nomeadamente as pessoas com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular) (SPA, 2011). Resumidamente podemos afirmar, que a obesidade é sobretudo uma doença provocada por comportamentos alimentares, onde interferem múltiplos fatores, como genéticos, culturais ou ambientais. Deste modo é importante que os profissionais de saúde apliquem programas eficazes na prevenção e tratamento da obesidade. 109 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Hipertensão Arterial (HTA) A HTA constitui um dos maiores e atuais problemas de saúde pública, representa inúmeras complicações, sendo a DCV a mais comum e o fator de risco mais significativo no desenvolvimento da doença aterosclerótica coronária e cerebral (CNDCV, 2009). A hipertensão é o aumento da pressão sanguínea tanto sistólica como diastólica. A pressão sanguínea é representada por dois valores numéricos e medida em milímetros de mercúrio. O valor mais alto corresponde à pressão sistólica que representa a força no interior das artérias no momento da contração do miocárdio, bombeando o sangue para todas as partes do corpo. O valor mais baixo corresponde à pressão diastólica e representa a pressão que permanece dentro das artérias quando o miocárdio relaxa, no período entre os batimentos, representa a pressão de descanso. Relativamente ás consequências fisiopatológicas da hipertensão salientam que estas refletem-se sobretudo na substituição do tecido elástico das artérias por tecido colagénico fibroso, que oferece uma maior resistência à passagem do fluxo sanguíneo e facilita o desenvolvimento do processo da aterosclerose. Se a HTA não for tratada, pode originar EAM, insuficiência cardíaca congestiva, acidentes vasculares cerebrais e insuficiência renal (Phipps, Sands e Marek, 2003). Nas entrevistas analisadas existiram situações em que é vivido pelos participantes o problema da HTA, e salientam-no como um fator significante na ocorrência do EAM, o que fica claro pelos discursos: “Aconteceu porque também (…) eu sou Hipertensa, (…) ao almoço eu como estou sozinha em casa, às vezes como uma sandes, pronto, como qualquer coisa, nem é excesso de comer... ao fim de semana, é que já comemos refeições mais… confeccionadas…” (E5) “Costumava a ter a tensão alta. (…). Um bocadinho alta, entre os 16 mas o 9 da miníma era sempre 9, sempre 9 (…), tomava para a tensão todos os dias meio comprimido, … leva a estas coisas.” (E6) O que vai ao encontro dos resultados no estudo AMALIA12 (2007), que concluiu que cerca de 23,5% dos portugueses afirmam ter HTA. Em Portugal, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Hipertensão, calcula-se que a prevalência de hipertensão arterial nos adultos seja de 43%, com uma taxa de controlo tensional não superior a 11% (Polónia et al, 2006). 12 Estudo realizado pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia para Avaliação do Risco de Doença Cardio e Cérebro-Vascular em Portugal, 2007. 110 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A HTA duplica o risco de doença coronária, e considera-se que é devida a uma combinação de fatores de risco hereditários e de erros no estilo de vida, nomeadamente o excessos de consumo de álcool, de peso corporal, o sedentarismo, o tabagismo, bem como o tipo de alimentação (Carrageta, 2005). Segundo a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) e a Sociedade Europeia de Hipertensão (ESH), a pressão arterial tem uma distribuição unimodal na população bem como uma relação com o risco cardiovascular, pelo que a HTA é classificada de acordo com as pressões sistólica e diastólica e respetivo risco cardiovascular. Considera-se pressão óptima quando inferior a 120/80mmHg, normal entre 120129/80-84mmHg, normal-elevado entre 130-139 /85-89mmHg e HTA quando os valores estão consistentemente acima de 140/90mmHg. (ESH/ESC, 2007). O objetivo principal do tratamento da pessoa com HTA é maximizar a diminuição da morbilidade e da mortalidade cardiovascular. Facto que poderá ser conseguido através da redução dos valores da tensão arterial e na modificação dos estilos de vida, constituindo estes últimos um componente indispensável da terapêutica das pessoas com hipertensão (Polónia et al, 2006). Sedentarismo Respeitante ao constituinte – chave Sedentarismo, pela análise das entrevistas foi um aspeto reconhecido pelos participantes como fator no desenvolvimento da doença, transparecendo como aspeto ligado à profissão. “(…) a minha vida profissional era andar sentado desde os 16 anos, é ... os riscos que me levou a isto... , penso que são fatores… são muitos anos sem exercício, não há tempo… vamos se habituando a este ritmo. Eu passo muito tempo sentado!” (E2 ) O tipo de vida e o desenvolvimento económico e social, conduziram a uma diminuição da atividade física, aumentando o sedentarismo. Conforme realçado pelo PNS 2004 2010, Portugal tem uma elevada taxa de sedentarismo, considerando-se o país da União Europeia (EU) com maiores níveis de inatividade física, rondando cerca de 75% da população acima dos 15 anos (PNS, 2004). Este facto foi igualmente evidenciado, pelos participantes ao referirem a inexistência da prática de exercício, reforçando que o exercício físico não faz parte dos hábitos de vida. “Preparação física não fazia (…),eu até que gosto, mas e… tempo, ando muito sentado. Agora tenho que ver como é. (E2) 111 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “Trabalho mas mexo-me pouco (…), porque estar a ir para ginásio ou para aqui ou para acolá, não fazia. Eu vou trabalhando cá na minha vida, mas aquele exercício… não faço… se calhar … fazia -me falta” (E6) Estas situações enquadram-se no que Vaz, Santos e Carneiro (2005) referem, que a inatividade física aumenta 1,5 vezes o risco de contrair doença coronária. Neste âmbito também Gaziano, Mason e Ridker (2003), mencionam que a prática de exercício físico moderado, diminui o risco de doença coronária. O exercício físico regular reduz a necessidade de oxigénio do miocárdio e aumenta a capacidade da atividade física, o que promove níveis inferiores de risco coronário (Ridker, Genest e Libby, 2003). Também a DGS (2003), reforça que atividade física regular e consequente condição física, são importantes para a saúde, tendo como consequência nos adultos uma reduzida incidência de doença coronária. É consensual que este, em conjunto com outros comportamentos redutores de risco, pode ajudar na prevenção do EAM. Assim, a intervenção a este nível deve constituir a primeira linha de ação, na prevenção e reabilitação da doença coronária. Como referido no início da abordagem do presente contexto a primeira questão, foi: “Será que a pessoa tem conhecimento dos fatores que contribuem para a ocorrência do enfarte agudo do miocárdio?” No estudo, pelo que foi descrito, os participantes ao vivenciarem um EAM, referem diversos fatores que propiciam a ocorrência do evento. Destacando-os e considerando-os como inerentes à atividade profissional, a situações ocasionais do dia-a-dia, evidenciando alguns como hábitos de vida. O que vai ao encontro do resultado que emergiu no estudo de Colombo e Aguillar (1997) acerca do estilo de vida e fatores de risco em doentes com o primeiro episódio de EAM, que quando associam os fatores de risco e a ocorrência de EAM, observam uma percentagem significativa (60,0%) de indivíduos que relacionaram o EAM com algum hábito do seu dia-a-dia. Tornou-se assim notório que esta situação de doença se deveu a fatores relevantes que os participantes referenciaram e alguns podendo ser prevenidos. Seguidamente, analisamos a vivência dos doentes no contexto “preocupações com a doença”. 112 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio VIVÊNCIA DA PESSOA COM EAM NO CONTEXTO PREOCUPAÇÕES COM A DOENÇA Ao longo da vida da pessoa, ocorrem por um lado ações intencionais com resultados favoráveis e por outro, acontecimentos inesperados com resultados desfavoráveis. Um evento cardíaco é um acontecimento, na maioria das vezes inesperado e adverso, com repercussões na vida da pessoa assim como, no seu projeto individual de vida. A hospitalização por sua vez, constitui quase sempre um trauma para o utente e família, provocando com frequência, medos, angústias e preocupações, que cada indivíduo exprime de acordo com a sua personalidade. Uma breve descrição do significado de “Preocupação” refere como um “estado de um espírito ocupado por uma ideia fixa, a ponto de não prestar atenção a nada mais. Inquietação. Desassossego”. (Dicionário de Língua Portuguesa, Priberam, 2012, on line). Também o momento da alta hospitalar, por vezes é encarado como um momento de confronto com incertezas. No percurso do estudo, pretendemos responder á questão “Quais as preocupações da pessoa que sofreu um enfarte agudo do miocárdio? Assim transparece dos enunciados verbais dos participantes os constituintes-chave representados no Diagrama 7, que são: Sexualidade, Limitações funcionais da doença, Futuro profissional, Alterações do regime alimentar, Dependência e cumprimento da medicação após a alta hospitalar e Apoio familiar. Diagrama 7 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto da Preocupações com a Doença Preocupações Com a Doença • Sexualidade • Limitações funcionais da doença • Futuro profissional • Regime alimentar • Dependência e cumprimento da medicação após a alta hospitalar • Apoio familiar Fonte: Desenhado pelo autor 113 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Sexualidade Após um EAM, a atividade sexual normal prévia à doença parece ser grandemente afetada num elevado número de doentes (Gouveia, 2004). No estudo, no que concerne ao constituinte - chave Sexualidade foi um aspeto que se evidenciou como preocupação por um participante, como revela. “(…) que agora durante as primeiras quatro semanas, que não devo... praticar sexo... e depois tentar a normalidade... e espero que sim! Porque também é uma das preocupações!... um casal novo!... um homem novo, não é!?... pronto além de ter filhos, estou à espera de outro....” (E2) Neste contexto salienta Stein (2005), que as doenças cardiovasculares interferem na atividade sexual dos pacientes e na maioria das vezes atuam como um fator embaraçoso. Este facto tem sido observado por duas razões principais, pelo diagnóstico cardíaco e todas as implicações psicológicas que acarreta, como ansiedade, medo da morte e algumas alterações na atividade física; e também pelo uso de fármacos capazes de produzir efeitos adversos que prejudicam a “performance sexual” (especialmente pelo desencadeamento de disfunção erétil e/ou perda da libido). Sendo que muitas vezes, o doente convalescente de EAM não retoma sua atividade sexual por falta de esclarecimentos e receio de ter dor durante o ato, acreditando haver uma relação causal entre prática sexual e o aparecimento de novos eventos cardíacos (Souza, et al. 2011). No estudo13 efetuado pelo anterior autor (2011), referente à “Atividade sexual após enfarto agudo do miocárdio”, conclui que pacientes pós EAM apresentam significativa redução na qualidade e na frequência sexual. Sugerem que esse aspeto pode ser minimizado com orientação profissional sobre o retorno à atividade sexual e encaminhamento a programas de reabilitação cardíaca. Pela descrição deste participante, no estudo os dados corroboram aos encontrados na literatura, sobressaindo preocupação com a “atividade sexual” pós EAM. Acerca deste aspeto afirma ainda Stein (2005), que os doentes devem receber orientações sobre atividade sexual da mesma forma que recebem informações sobre retorno ao trabalho e sobre programas de exercício. O cônjuge deve ser informado sobre a situação do companheiro(a). O homem é um ser sexuado e a manifestação da 13 Atividade sexual apos infarto agudo do miocárdio. Brasileira, 2011. 114 Souza, Cardoso, Silveira e Wittkopf. Associação Médica Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio sua sexualidade engloba a forma como pensa, sente e atua, pelo que é importante incluir esta área no programa de reabilitação. Limitações funcionais da doença A ocorrência de um EAM é um dos acontecimentos humanos aflitivos, implica uma série de modificações psicossociais e comportamentais traduzidas num processo complexo de adaptação às exigências da doença (Gouveia, 2004). Quanto ao constituinte - chave Limitações funcionais da doença é relatado como uma preocupação futura, relacionando-se com limitações funcionais na realização das atividades diárias, como verbaliza E1. “O que me preocupa é o cansaço que sinto. Porque, pronto... em pequenos exercícios, mesmo a tomar banho, a andar, ás vezes a comer, e fico um bocadinho cansado. Isso preocupa-me um bocado... pronto... e estou esperançado que com uma ajuda... que eu possa ter... que recupere mais que aquilo que estou. Neste momento a recuperação está muito frágil ainda.” (E1) “Pronto, eu... as minhas preocupações agora é apenas recuperar aquilo que puder, só quero recuperar, estou preocupado em recuperar, sei que não é de repente… A doença, eu estou consciente que foi grave. Estou consciente daquilo que tenho. Por isso é que... pronto, vou... vou fazer o possível para que... recupere,.” (E1) Estas manifestações físicas descritas pelo participante, vêm sublinhar o que refere Duarte (2009), que os pacientes acometidos por uma patologia cardíaca aguda, especialmente o enfarte agudo de miocárdio (EAM), podem apresentar grandes perdas funcionais. No mesmo sentido Kannel citado por Cruz (1999), destaca que cerca de dois terços dos doentes não se recuperam completamente do EAM, apesar de 88% com menos de 65 anos terem condições de retomar as ocupações anteriores. Para alguns participantes o EAM representa uma advertência futura, como se verifica pelo que verbalizam. Transparecendo a preocupação com a adaptação ás implicações da doença. “As preocupações é tentar agora adaptar-me a um nível de vida totalmente diferente... porque é o que eu vou ter de fazer…os esforços, atividades, o sistema nervoso, que é a tal coisa, eu basta qualquer coisinha para me enervar, e agora não sei... será que vou ter medicação para esses nervos?” (E2) “As minhas preocupações? Além de ter este Enfarte, a primeira preocupação é será que eu fiquei 100% bom?” (E3) “A preocupação é... por um lado, eu agora adquirir o conhecimento de todas as suas implicações. Não estou habituado a adaptar-me a uma situação de doença... primeiro ponto. Segundo ponto, agora 115 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio tenho que compreender... o que é?... eu sei o que é!.. mas quais são as implicações, e qual é realmente a dimensão da gravidade desta ocorrência...” (E4) Estes depoimentos vêm no sentido do que refere Cruz (1999), que a ocorrência de um EAM e a simbologia a ele atribuída, põe em causa a vulnerabilidade individual, as significações de saúde e de doença e a perspetiva de vida. Ressaltam também preocupações com o abandono de esforços físicos e a interferência na vida da pessoa. Transparecendo a consciência das limitações, como podemos constatar nos seguintes extratos das entrevistas. “Olhe o médico disse que teria que ter certos cuidados, não fazer esforços, ter uma vida... não pegar em pesos. Ainda só tenho 56 anos, gosto de viver... e então! Estou preocupada ” (E5 ) “Preocupa (…) deixar de fazer esforços, deixo mesmo de fazer. Não posso, não posso, paciência” (E6 ) Estes relatos vão ao encontro dos resultados do estudo14 realizado por Soares et al, (2008), que embora não se refira ao doente com EAM, revela que além de fatores fisiológicos envolvidos na diminuição da capacidade do individuo para realizar atividades físicas diárias, existem os fatores psicológicos como o medo/receio, relacionados ao estado de saúde alterado, que levam a pessoa a momentos de introspeção. O mesmo indica que os doentes têm a perceção real das suas limitações físicas. Um outro estudo15 realizado por Oliveira e Pires (2012), mostra que de entre as principais alterações na vida do doente após o evento destacam-se, as limitações ao esforço físico e alterações alimentares. Tem-se conhecimento que após sofrer um EAM a pessoa passa por um processo de reabilitação, em que o início de atividade física está relacionado com a situação clínica, no entanto neste período é importante que realize atividade física de forma moderada (Scherer, Stum, Loro e Kirchner, 2011). No mesmo campo a CNDCV (2009), salienta que após EAM, a capacidade funcional dos doentes pode ser limitada e depende das complicações da fase aguda, sendo indicado programa de reabilitação e todas as situações clínicas que caraterizam evolução estável, com o objetivo de melhorar a capacidade funcional e a tolerância física. 14 Qualidade de vida de portadores de insuficiência cardiaca. Estudo realizado por Soares (et al.), Hospital geral e publico de São Paulo, 2008. 15 Significando o Cuidado à Saúde: O Relato de Pessoas Acometidas pelo Infarto Agudo do Miocárdio. Estudo realizado por Oliveira e Pires. Universidade Federal de Recôncavo da Bahia. Brasil, 2012. 116 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Os relatos seguintes enfatizam, a preocupação com as atividades de lazer, E7 manifesta receio de ter de abandonar o passatempo preferido, devido à ocorrência da doença. “(…)Se há alguma coisa, aah… alguma coisa que vou ter de deixar de fazer. Também gosto de desportos radicais, estou com receio que me digam que já não posso fazer mais (risos).” (E7) “(…) pronto, tenho receios de poder deixar de fazer coisas que gostava de fazer… Se por exemplo nadar, sei que puxo bem pelo coração e não sei bem se poderei fazê-lo?” (E7) [Refere-se ao desporto que pratica] Estes relatos enquadram-se com o que é referido por Caetano e Soares (2007), relativamente à qualidade de vida pós EAM16, em que grande parte dos doentes continuou com sua atividade de lazer considerada passiva (cinemas, TV, leitura, entre outros), atividades de lazer que não requerem esforços. Em relação às atividades "ativas", como praticar algum tipo de desporto, os doentes demonstraram restrições. Também Oliveira e Pires (2012) mencionam que a incapacidade de realizar de modo espontâneo as obrigações e a atividade de lazer, além da restrição ao esforço físico demonstram os limites impostos pelo evento isquémico. Nesse sentido, Moraes (2005), acrescenta que são inegáveis os benefícios que o exercício físico regular e contínuo exerce como papel preventivo para as DCV, superando eventuais riscos da sua prática. No entanto são necessárias medidas e orientações para sua realização. Futuro profissional Quanto ao constituinte-chave Futuro profissional, ressalta no discurso de alguns participantes como preocupação em torno da doença. Esta situação enquadra-se no que refere Gouveia (2004) que uma das principais preocupações da pessoa com EAM relaciona -se com as implicações da doença no desempenho profissional. Como é o caso do relato seguinte. “Estou preocupado, derivado, à vida que eu tenho... a vida que eu tenho! Não posso parar os camiões ou fazer isto, tudo isso me preocupa um bocado, a minha vida...” (E2) 16 Qualidade de vida de clientes pós-infarto agudo do miocárdio. Estudo realizado por Caetano e Soares. Universidade Federal. Rio de Janeiro 2007. 117 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Como referem Smeltzer e Bare (1999), o doente que teve um EAM, possui algumas preocupações, tais como problemas financeiros, responsabilidades familiares e obrigações de trabalho. No mesmo sentido, outro autor salienta que diversos fatores contribuem para o regresso ao trabalho, e que os compromissos financeiros e as obrigações familiares podem impor o retorno mais precoce (Gouveia, 2004). Verificamos casos em que as preocupações com o futuro profissional depreendem-se essencialmente com as limitações físicas para a realização das atividades. “Tenho essa preocupação de não poder fazer isto, não poder fazer aquilo. Nem quero bem pensar agente não poder fazer as coisas… trabalhar ” (E8) [Refere-se ao trabalho] “Preocupa é... uma pessoa hoje já... já não ser... daqui para a frente já não ser a mesma pessoa que era, a respeito de a gente (…), não é? As coisas de trabalhos... agora tenho que me evitar dessas coisas.” (E10) Nestes casos notamos, que as preocupações com o trabalho estão bem presentes. Sendo que, a descrição destes participantes, vai ao encontro do que referencia Sousa e Oliveira (2005), no seu estudo17, que o EAM é percebido pelos doentes como um acontecimento que gera impotência e medo de ficar dependente e impossibilita a volta ao trabalho, despertando preocupações a respeito do mesmo. Na opinião de Caetano e Soares (2007), as dificuldades em relação ao retorno ao trabalho ocorrem especialmente pelo cansaço físico. Através da literatura consultada pudemos constatar que para estes participantes o trabalho não significa apenas meio de sobrevivência, mas também, ter uma ocupação, de se reconhecer como parte integrante de um grupo ou da sociedade. Representa, ainda, uma significativa fonte de auto-realização e de sentido de vida. Regime alimentar Quando ocorre um EAM é imperioso o controle dos fatores de risco, desempenhando a mudança de hábitos um papel importante na prevenção. O facto da pessoa vivenciar uma doença como um EAM, várias preocupações surgem, nomeadamente a preocupação com o regime alimentar. Como referido nos excertos seguintes. “(…) Vamos lá ver! Isto nesta altura, ainda não sei bem como é que é, isto foi à pouco tempo...preocupa um bocadinho de tudo! Eu agora estou às escuras, não é? Eu agora sei que é a 17 Vivenciando o Infarto: Experiências e Espectativas dos Pacientes. Estudo realizado por, Sousa e Oliveira. Universidade Federal. Rio de Janeiro, 2005. 118 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio alimentação!... é um bocadinho de tudo... tudo isso me preocupa, como é que vai ser o dia lá fora ?” (E2) “Preocupa, o comer, (…), a tensão alta porque estando alta já a coisa não está... como deve ser, não é? Tenho que ter regra na alimentação, eu sei, penso que vou cumprir as recomendações, mas ao mesmo tempo preocupo-me se alguma vez não consigo e como o que não devo, gorduras, doces…”(E8) Como referem Caetano e Soares (2007), a modificação da alimentação faz parte da terapia não farmacológica, pois a dieta inadequada pode comprometer mais ainda as coronárias, no entanto essa modificação, por vezes, deixa os doentes insatisfeitos e até deprimidos. No caso de E8, o relato vai ao encontro do estudo18 de Oliveira e Pires (2012), algumas pessoas que sofreram um EAM, já tinham o diagnóstico de HTA, sendo nestas pessoas uma das mudanças no “pós- enfarte”, restrição dos níveis de sódio alimentar. Reforçam Lima e Araújo (2007), que a redução do sal e lípidos, na alimentação são condutas fundamentais para a terapêutica da hipertensão arterial. Este fator é agravante, pois o sódio contribui para elevação da pressão arterial, sendo que a quantidade diária de sal recomendado ao doente com HTA não deve ultrapassar as 2,3g - 2,4g de sódio. Também o peso corporal acima do pretendido é um problema de saúde. Em Portugal existem cerca de 850 000 adultos obesos (DGS, 2006). Facto evidenciado no relato de E5, que quando o médico informa da necessidade de perda de peso é algo preocupante especialmente quando a necessidade de perda é de muitos quilos. “Olhe o Médico... disse-me que eu precisava de emagrecer 30 quilos, estou preocupada! são muitos quilos, nem sei como vai ser!” (E5) Este facto vai ao encontro do que foi verificado no estudo19, em que os achados mostram que 51,9% das pessoas encontravam -se acima do peso adequado o que contribui para o desencadeamento de complicações cardiovasculares (Lima e Araújo, 2007). 18 Significando o Cuidado à Saúde: O Relato de Pessoas Acometidas pelo Infarto Agudo do Miocárdio. Estudo realizado por, Oliveira e Pires. Universidade Federal de Recôncavo da Bahia. Brasil, 2012. 19 Prática do Autocuidado Essencial após a Revascularização do Miocárdio. Estudo realizado por, Lima e Araújo. No ambulatório de cardiologia de um hospital público, Fortaleza, 2007. 119 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Os mesmos autores salientam que, a redução do peso corporal pode ser obtida pela diminuição da ingestão calórica, principalmente os glícidos e lipídios. No entanto a prática do autocuidado demonstra que não basta reduzir o peso, o ideal é mantê-lo em níveis adequados por longo prazo, sendo necessário a prática de hábitos alimentares saudáveis. Também Moraes (2005) refere que, dieta hipocalórica com baixo teor de gorduras associada ao exercício físico regular constitui a base do tratamento não-farmacológico para o controle das co-morbidades associadas ao sobrepeso e obesidade, com consequente diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares. Na opinião de outros autores, o problema da obesidade, requer uma abordagem efetiva, especialmente no que se refere à prevenção da doença coronária, onde a abordagem relaciona-se com o desenho de intervenções educacionais que possibilite à pessoa a adoção de comportamentos positivos em saúde (Colombo, Aguillar, Gallani e Gobatto, 2003). Estes aspetos e o diagnóstico de doença coronária impõem ao doente, sensações de grande sofrimento e angústia, uma vez que o coração é tido como um órgão nobre e vital. Acredita-se que essas sensações, por um lado, potencializam o stress e a ansiedade mas, por outro, podem incentivar a prática imediata do autocuidado (Lima e Araújo, 2007). Dependência e cumprimento da medicação após a alta hospitalar Atualmente, apesar dos avanços na área da saúde, as pessoas tendem a ter mais doenças, algumas atingindo um caráter de cronicidade, situações que, muitas vezes, condicionam a saúde, a autonomia, a independência e a qualidade de vida da pessoa. De entre as doenças crónicas, surge a doença coronária com repercussões na qualidade de vida da pessoa, sendo necessário que esta adira ao tratamento medicamentoso prescrito, para que consiga minimizar os efeitos nefastos da doença e evitar complicações (Ministério da Saúde, 2003). No estudo, através da análise das entrevistas surge outro constituinte - chave relacionado com preocupação com a toma de medicação, que é exteriorizado pelos participantes por apreensão a nível da Dependência e Cumprimento da Medicação após a alta hospitalar. Nos relatos seguintes é evidente a preocupação com a dependência de medicamentos. 120 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “(…) não sei se é aqui que me vão medicar, se já veio de Lisboa, porque entreguei um envelope, que teria que tomar um comprimido, não sei se é, para toda a vida, se como é? (…)” (E5) [Após realização de cateterismo cardíaco] “Também estou. Estou, de fato estou. Porque sou uma pessoa que me considerava saudável… que nunca tomo nada mesmo… nunca ando com comprimido nenhum atrás de mim. E se calhar a partir de agora… se calhar terá que andar e preocupa-me.” (E7) “A medicação, também, preocupa, sim. (…) Como é que eu vou viver daqui para a frente.” (E7) Viver com medicamentos implica um ajuste a um determinado estilo de vida, ajustar a vida aos efeitos secundários que alguns medicamentos causam, ao suporte social necessário e a gerir o regime terapêutico de forma a conseguir a melhor qualidade de vida possível (Henriques, 2006). Face a uma situação em que o diagnóstico é EAM, implica frequentemente alterações dos hábitos de vida, a pessoa nem sempre têm a capacidade de integrar essas alterações de forma eficaz na sua vida diária. Essa dificuldade pode resultar em riscos para a saúde e na instalação de complicações decorrentes da doença. Na opinião de Machado (2009), o aparecimento de uma doença crónica implica frequentemente a modificação dos hábitos de vida e o recurso a esquemas terapêuticos diários. A primeira condição para que alguém altere ou adote comportamentos adequados à sua nova condição de saúde é possuir informação sobre porquê mudar, o que mudar e como fazer para mudar. Neste sentido esclarecer a pessoa, após uma situação de doença cardíaca é, segundo Santos (2010), uma função importante dos profissionais de saúde. Ajudá-los a compreender a doença, as tomas da medicação, e a resposta às suas preocupações relacionadas com a situação, são fundamentais na recuperação de um EAM. Também salienta que a adesão terapêutica é fundamental, dado que o grande objetivo do tratamento, para além de visar o alívio dos sintomas e melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida, visa igualmente, evitar a progressão da doença e reduzir a mortalidade (Idem). Para outro participante perante a realidade de sofrer um EAM, a preocupação com a medicação incide mais no cumprimento das tomas, como relata. “Estou a preocu… aah…é se eu for capaz realmente levar as coisas como deve de ser, as coisas a sério, tomar a medicação como deve ser sim, se não serei capaz. Porque o meu cérebro com estas 121 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio coisas mais recentes que têm acontecido, estou com muita falta de... pronto, não sei como é que heide explicar? Não me lembro das coisas (…).” (E8) “Olhe preocupação…com a medicação sim! Porque eu já troco muito as medicações.” (E8) De acordo com Cramer (2008), o cumprimento da medicação é sinónimo e diz respeito à conformidade com as recomendações sobre o tratamento, no dia-a-dia, tais como: tempo, dosagem e frequência. De salientar que a descrição deste participante enquadra-se nas conclusões do estudo20realizado por Santos (2010) que embora se refira especificamente à pessoa idosa, conclui que existem problemas de adesão terapêutica, no regresso a casa da pessoa com doença cardíaca. Isto deve-se, essencialmente, a falta de conhecimento, défice de apoio familiar ou complexidade do regime terapêutico sendo, necessário implementar um plano de intervenção adequado a cada pessoa. A origem de muitos erros terapêuticos, segundo Werlang et al. (2008), está relacionada com a diminuição das capacidades cognitivas descritas por enganos nas doses, nos horários, troca de medicamentos, esquecimentos e posterior toma do mesmo medicamento passado pouco tempo. Assim, as intervenções devem ser definidas a partir de orientações individuais, planeando e implementando estratégias adequadas a cada pessoa, contemplando a singularidade de cada situação. Apoio familiar No contexto das preocupações com a doença surge o constituinte - chave Apoio familiar. O suporte familiar tem sido encarado como um fator relevante a ter em conta na prevenção e gestão da doença cardíaca. Podemos afirmar que a própria doença, as caraterísticas das pessoas e os recursos que o indivíduo tem é que permitem que este se adapte à situação de adversidade. 20 Regresso a Casa Após Internamento Hospitalar: Dificuldades Sentidas Pela Pessoa Idosa Com Doença Cardíaca - Na Manutenção da Terapêutica Medicamentosa. Estudo realizado por Ana Lúcia, Santos. Escola Superior de Saúde. Universidade do Algarve, 2010. 122 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Um participante manifestou preocupação com falta de apoio familiar para conviver com a doença, como se verifica. “Não me preocupa ser pobre, sempre fui pobre. Preocupa-me a doença, se me dá outra vez, com os filhos longe, pronto... não tenho a quem me agarre. Se isto me torna a dar, eu sozinha...” (E8) Este relato permite perceber a existência de alguma ansiedade no retorno a casa. É frequente que, ao aproximar-se o momento da saída de um ambiente no qual a pessoa sentiu proteção, esta apresente preocupações. A situação verbalizada por E8, enquadra-se no estudo21 de Cainé (2004), que revela a necessidade de apoio familiar após a alta, manifestada pelos doentes. Evidenciandose também no estudo a importância do apoio familiar na dimensão protetora, esta necessidade de apoio é valorizada dado que o momento da alta é vivenciado com insegurança e receios, por não serem capazes de auto gerir a situação de doença. Na opinião do mesmo autor (2004), o impacto emocional intenso a que pessoa com EAM foi sujeita, pode agravar-se com a incapacidade sentida na gestão da sua doença, bem como uma possível ausência de suporte familiar adequado. O envolvimento da família é inquestionável, quer pelo apoio emocional dado no momento do internamento hospitalar, quer pela perspetiva de a longo prazo, ela poder assumir o papel de prestador de cuidados na reabilitação da pessoa após a alta. Acrescenta ainda que é através do apoio familiar sentido, que o indivíduo pode desenvolver a responsabilidade de participar ativamente nas atividades que conduzirão a estilos de vida mais saudáveis. No mesmo sentido Ferreira (2011, p.390), revela que no seu estudo,22 relativamente à importância da família, “houve muitas referências por parte dos doentes, no que diz respeito à importância da família no âmbito do apoio sociopsicológico”, no mesmo contexto, também os enfermeiros salientam a importância da família, no âmbito do apoio técnico, acompanhamento na medicação, envolvimento nos cuidados e continuidade dos cuidados. Refere o mesmo autor que “ (…) a família é um pilar fundamental para a pessoa com doença cardiocirculatória (…)”. 21 A Família como Unidade de Suporte em Pessoas com Enfarte Agudo do Miocárdio - Uma Análise de seu Envolvimento Durante o Processo de Cuidado. Estudo realizado por João Cainé. Universidade do Porto. Instituto de Ciências Biomédicas, 2004 22 Enfermagem em Cardiologia: Contributos sócio psicológicos e profissionais para a melhoria dos cuidados. Estudo realizado por Ferreira. Universidade de Extremadura - Departamento de Psicologia y Antropologia. Tesis Doctoral, 2011. 123 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A disponibilidade da família para auxiliar nos cuidados ou prestar apoio, aumenta o sucesso pós alta (Gonçalves, 2008). Outro autor não se referindo propriamente ao apoio familiar, mas sim referenciando o apoio social, também este fulcral no presente contexto, acrescenta que, o apoio social consiste no grau em que as necessidades básicas, como a filiação, o afeto, pertença, identidade, segurança e aprovação, são satisfeitas através da interação com os outros (Matos e Ferreira, 2000). No mesmo âmbito, também Abreu, Rodrigues e Seidl (2008) realizaram um estudo onde descreveram a relação entre o apoio social e a doença coronária, e concluíram que existem evidências da relação positiva entre disponibilidade de suporte social e melhoria da saúde do doente. Perante estes factos, torna-se evidente que o modo como o EAM é sentido pela pessoa, em conjugação com a necessidade de verbalização das preocupações, são aspetos que devem estar presentes na preparação de uma transição eficaz da pessoa internada para o domicílio. Pertencendo ao enfermeiro, identificar os receios da pessoa, desmistificando-os e propondo alternativas que facilitem o auto cuidado (Cainé, 2004). Do que anteriormente foi referenciado, acerca das preocupações dos participantes com a doença, como representado no Diagrama 7, sobressai o facto de um EAM acarretar para a pessoa inquietações a vários níveis, dúvidas sobre o que acontecerá após a alta e como pode conviver e superar a sua nova condição de saúde. Conhecidos os aspetos referidos pelos participantes no estudo relativamente ás preocupações com a doença, verificou-se que a maioria destes, estão descritos na literatura existente. Outro dado que emergiu da leitura das entrevistas foi a conjetura de uma reestruturação dos hábitos de vida dos participantes. Pelo que de seguida se analisa a vivencia dos doentes no contexto, Reestruturação dos hábitos de vida. VIVÊNCIA DA PESSOA COM EAM NO CONTEXTO REESTRUTURAÇÃO DOS HÁBITOS DE VIDA Após o diagnóstico de EAM a construção de significados sobre as causas da doença começa a desenvolver-se, este processo permite aos doentes a elaboração e integração da experiência de doença e, simultaneamente, facilita a interiorização da necessidade da reestruturação de hábitos, para lidar com a mesma. 124 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio No mesmo sentido Gouveia (2004), refere que as representações de doença constituem um esquema para as pessoas construírem significados sobre os seus sintomas, avaliarem o risco para a saúde e participarem no processo de recuperação da doença. Neste âmbito, o Ministério da Saúde (2002), expõe que é fundamental a mudança de hábitos e comportamentos relacionados com fatores de risco para a doença coronária, o que potencia ganhos na saúde, para o prolongamento da vida, em anos e qualidade. É no sentido de perceber se a pessoa considera importante após o EAM mudar os seus hábitos de vida, que desponta a questão: Quais as modificações na vida diária, após um EAM? Decorrentes, da análise das entrevistas surgiram os respetivos constituintes-chave, nomeadamente: Restrição do esforço físico, Alterar hábitos alimentares, Estratégias de adaptação à doença e Alterar práticas /rotinas diárias. Representados no Diagrama 8. Diagrama 8 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto da Reestruturação dos Hábitos de Vida Reestruturação dos Hábitos de Vida • Restrição do esforço físico • Alterar hábitos alimentares • Estratégias de adaptação à doença • Alterar práticas /rotinas diárias Fonte: Desenhado pelo autor Neste sentido, importa clarificar o significado de Reestruturar de modo a melhor compreender as vivências dos participantes. Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa (Priberam, 2012, on-line), reestruturar significa “Estruturar ou estruturar-se novamente; Organizar ou organizar-se de outra forma; ou ainda reformar, reorganizar”. 125 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Assim, podemos afirmar que os participantes perspetivam uma “reorganização” nos hábitos diários, realizando práticas que talvez antes não realizassem, incidindo aos níveis do esforço físico, alimentação, adaptação à doença e a nova postura nas rotinas diárias. Restrição do esforço físico Verificamos no estudo que os participantes ao vivenciarem a situação de doença decorrente de terem sofrido um EAM, consciencializam -se que a recuperação física demora algum tempo e projetam uma restrição do esforço físico diário. As alterações a nível do esforço físico depreendem-se essencialmente devido a limitações impostas pela doença, como se verifica pelos discursos. “Pronto. Eu sei. Eu sei que fiquei limitado. Fiquei limitado de trabalho em certas coisas, mas pronto, vou recuperar até que possa, o mínimo de... tirar o mínimo da vida.” (E1) “Esforços vou deixar de os fazer, não é? Tenho que ter muito cuidado com isso. Eu quero ter cuidado com o fazer as coisas… não vou esforçar, isso acabou, tenho que olhar por mim. Eu agora vou evitar também de fazer certas coisas que não posso fazer lá na horta, e essas coisas. ” (E6) “O que pode vir a alterar é eu deixar de fazer as coisas… Coisas de trabalhos. Lá do campo. Porque tenho um casal... pronto, não é que seja grande, grande, mas ainda é um casalinho grande. Exacto. É isso que eu...é isso que eu agora penso, vou deixar de fazer certas coisas. Deixá-las para trás, esquecer.” (E10) Nos relatos evidencia-se a perspetiva de uma adaptação à nova vida, que requer mudanças relacionadas com a interrupção de atividades que exijam esforço físico. Estes dados corroboram com o estudo23 de Oliveira e Pires (2012), que após o EAM, a maioria das pessoas, reestruturou a vida. Foi necessário apreender novos hábitos de vida, além de conviver com restrições no quotidiano, tanto no âmbito orgânico e pessoal quanto no sociocultural e coletivo. Evidencia ainda, que a restrição ao esforço físico impõe os limites do evento isquémico, tendo os indivíduos que “adaptar” as atividades, dentro das possibilidades permitidas. 23 Significando o Cuidado à Saúde: O Relato de Pessoas Acometidas pelo Infarto Agudo do Miocárdio. Estudo realizado por Oliveira e Pires. Universidade Federal de Recôncavo da Bahia. Brasil, 2012. 126 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio No mesmo sentido reforça Scherer et al. (2011), que muitas pessoas após sofrerem EAM têm consciência de que é necessária a mudança de hábitos e a criação de nova postura perante a vida. Alterar hábitos alimentares Um estilo de vida pode ser definido como um conjunto mais ou menos integrado de práticas que um indivíduo adota. Estando um estilo de vida saudável diretamente associado à forma como as pessoas se alimentam, o que pode torná-las mais vulneráveis a doenças ou mais resistentes quando estas praticam uma alimentação correta, equilibrando os nutrientes necessários ao consumo energético adequado (Pires, 2009). Neste contexto, quando se trata de pessoas que sofreram um EAM, é essencial a mudança de hábitos alimentares para obter uma melhor qualidade de vida (Scherer et al., 2011). A previsão de Alterar hábitos alimentares, é expressa pelos participantes do estudo. O relato de E1, evidencia a consciencialização da necessidade de mudança no tipo de alimentação praticada. “Sim, pois, já sei que estou, pronto, restringido na alimentação, já não é aquela que tinha porque agora tenho de ter... além de eu ter um certo cuidado, agora o cuidado agora tem de ser outro...” (E1) “Sim, sim, vou. Eu gostava muito de um cozido à portuguesa, às vezes um... uma carninha assada no forno. Pronto. Isso eu sei que estou limitado, porque sei que terá de ser tudo mais simples, pronto, sem aquelas... sem aqueles ingredientes que eu podia comer, e agora sinto que não posso.” (E1) Estes relatos integram-se no que salienta Garcês (2010), que é importante a alteração de comportamentos para se conseguir uma efetiva redução na incidência da DCV. No mesmo contexto alerta o autor (2010) que a preparação adequada dos alimentos assume igual importância em relação à seleção dos mesmos. Outros participantes afirmam convictamente uma mudança futura na alimentação, a fim de atingirem resultados benéficos na sua saúde. “…Em relação ao comer vai-se tentar, e julgo que vou conseguir reduzir muita coisa, vou deixar de comer muita coisa que comia até aqui, tem que ser…isso tem.” (E3) “(...) já sei que vou ter que fazer uma dieta, não é? Para meu interesse... por causa do que me aconteceu, estou muito pesada.” (E5) 127 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “(…) também preciso mesmo de ter uma regra na alimentação.” (E5) “Vou mudar, já me apercebi, alimentação, essa é uma delas... e esforços e isso, é outra! A minha mulher à noite faz é uma sopinha e qualquer coisa grelhada, vai ter que ser assim sempre” (E6) “Pois, a alimentação já não pode ser o que era, uma pessoa poder comer de tudo. Pronto, vamos... vamos a pouco e pouco... E sou capaz.” (E10) Houve um participante que além de manifestar a intenção de reestruturar os hábitos alimentares, sobressai no discurso a intenção de abandonar a ingestão de carne de porco, como especifica. “A alimentação também, tenho que ter cuidado com ela. (…) mas vou deixar também de comer carne de porco, (…) o meu estômago também não é muito bom, vou comer outras carnes, tenho que evitar isso, se quiser durar mais uns aninhos.” (E6) Este facto vai ao encontro do que foi verificado no estudo24 já referido anteriormente, em que os achados mostram que 19,2% relataram uma alimentação rica em carnes vermelhas e gorduras animais. Referem os autores que essa última opção de alimentação contribui para a hipercolesterolemia, que é considerado um dos maiores fatores de risco cardiovascular (Lima e Araújo, 2007). Sendo que os ácidos gordos saturados e o colesterol estão presentes em maior quantidade nas carnes e seus derivados. As recomendações preconizam um consumo limitado deste tipo de gorduras (Oliveira, 2011). Relativamente à mudança dos hábitos alimentares, na perspetiva de Perdigão (2006), as estratégias de intervenção, devem incidir na modificação dos comportamentos, designadamente, privilegiar o consumo de legumes, fruta, leguminosas, peixe e gorduras insaturadas em detrimento das saturadas. Estratégias de adaptação à doença Evidenciado na reestruturação dos hábitos de vida surge o constituinte - chave Estratégias de adaptação à doença. A reestruturação perspetivada pelos participantes do estudo é manifestada com otimismo para encarar a doença e a vida, como podemos constatar na transcrição abaixo. 24 Prática do Autocuidado Essencial após a Revascularização do Miocárdio. Estudo realizado por, Lima e Araújo. No ambulatório de cardiologia de um hospital público, Fortaleza, 2007. 128 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “(…) eu penso nós em termos de força de vontade…que é o que eu tenho, muita!...A gente consegue logo uma ajuda para as doenças. Que é o que eu digo (…)“Nós com força de vontade, conseguimos tudo...”, e para mim tem de ser igual, tenho de arranjar… para... tentar passar estes problemas, estas coisas.” ( E2) Esta situação, pode ser justificada com a perspetiva de Monteiro (2009), que o EAM é considerado uma das doenças que ameaça o sentido de integridade da pessoa, exigindo diversas mudanças no estilo de vida e perante a situação a pessoa recorre a estratégias que lhe permitam a promoção de um ajustamento adequado ao tipo de situação. Também Lourenço (2004), refere que o crescente progresso técnico e científico no âmbito da saúde, tem vindo a possibilitar às pessoas um maior número de recursos para enfrentarem as dificuldades ao nível da saúde física e psicológica. No mesmo sentido, acrescentam Scherer et al. (2011), que viver saudável consiste num processo único, cuja construção ocorre a partir dos significados que cada pessoa atribui ao seu processo de saúde e doença. O fato de vivenciar um EAM, requer da pessoa mudanças na vida, que incluem hábitos diários e nova postura e olhar diante da vida. Para isso, a pessoa pode utilizar estratégias denominadas de Coping para lidar com a nova situação. Ainda na opinião dos mesmos autores, Coping pode caraterizar-se como a maneira como a pessoa gere as situações nos diferentes âmbitos da vida e que originam mudanças. O Coping tem sido definido como um fator estabilizador, isto é, facilita o ajustamento individual (adaptação) quando se está perante situações ou momentos stressantes, ou seja é como um processo elaborado pelo indivíduo, para controlar as adversidades existentes. Com a ocorrência de um EAM, como referido anteriormente surgem transtornos significativos na vida da pessoa. Tendo em conta o que foi dito, em termos de mecanismos de Coping para enfrentar as alterações decorrentes do EAM, estes são notórios nos relatos que se seguem. “Vai! Vai sofrer alterações, com muita força, tenho que ter muita força de vontade para que essas alterações... principalmente o stress, vou ver se consigo combatê-lo, vou ver se consigo fazer as coisas de outra forma. Ser uma pessoa mais calma.” (E3) “Olhe não me enervar, ter uma vida talvez mais calma...” (E5) “Vou tentar, e já percebi isso… não me enervar, não é? É uma daquelas coisas que uma pessoa tenta, mas às vezes… não consegue ultrapassar. (…) porque pronto…” (E7) Estes relatos refletem o que Gouveia (2004) refere, que perante um acontecimento perturbador do estilo de vida habitual, como o diagnóstico de um EAM, as estratégias 129 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio de Coping desempenham um fator mediador entre os estímulos desencadeadores de stress, a saúde e a doença. O Coping pode ser centrado no problema e centrado na emoção. O primeiro engloba as estratégias utilizadas para enfrentar e resolver a situação stressante, pela procura de informação e de alternativas que permita solucionar o problema. Ou seja refere-se aos esforços de administrar ou alterar os problemas, ou então melhorar o relacionamento entre as pessoas e o seu meio. São estratégias consideradas adaptativas mais voltadas para a realidade, na tentativa de remover ou abrandar a fonte causadora de stress. O segundo passa pelo desenvolvimento de estratégias para lidar com as emoções desencadeadas da situação de stress, descreve a tentativa de substituir ou regular o impacto emocional do stress no indivíduo, derivando principalmente de processos defensivos, o que faz com que as pessoas evitem confrontar conscientemente com a realidade de ameaça (Lorencetti e Simonetti, 2005). No confronto dos relatos dos participantes com a análise da literatura, sobressai que o Coping é um fator importante na recuperação de doenças cardiovasculares, no caso da pessoa com EAM, a adaptação à doença pode ser influenciada pelo tipo de estratégias de Coping utilizadas. Alterar práticas /rotinas diárias O estilo de vida é determinado, por um lado por circunstâncias externas, e por outro pelas decisões individuais baseadas em princípios determinados, conscientes ou inconscientes, de acordo com o critério de vida escolhido (Pires, 2009). Perante a circunstância de doença nomeadamente um EAM, e o início do processo de reabilitação implicam, para cada pessoa, uma submissão a certas mudanças, como modificações nos hábitos e estilo de vida e nos, padrões alimentares, entre outras (Dantas, Stuchi e Rossi, 2002). Tal como referem estes autores também no estudo, uma reestruturação é perspetivada pelos participantes ao nível de Alterar práticas/rotinas diárias, relacionada com o abandono de alguns comportamentos e aquisição de novos hábitos, na vida diária, como relatam. Uma alteração referida por E3, após sofrer o EAM é o abandono da prática de fumar, transparecendo pelo discurso/consciência dessa necessidade. 130 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “Mas pelo que me estou a aperceber agora, o tabaco tem de sair também da minha ideia completamente”. (E3) Torna-se notório que após uma situação que pode pôr em risco a vida, faz com que de imediato a pessoa tome a decisão de implementar mudanças nos seus hábitos. O que vai ao encontro do que refere Oliveira e Pires (2012), a compreensão pode ser o primeiro passo para, traçar estratégias de prevenção individualizadas, pois se as pessoas conhecerem os motivos subjacentes e conseguirem associar a necessidade de mudança como forma de preservação da própria vida, é possível que modifiquem os comportamentos quotidianos. É do conhecimento geral que o hábito de fumar é prejudicial à saúde, no caso de pessoas que sofreram um EAM os danos tornam-se acrescidos. O tabagismo é considerado, um fator de risco evitável. Sendo os efeitos nocivos do tabaco cumulativos, tanto em relação ao seu consumo diário, como ao tempo de exposição. De referir que um ex-fumador sem DC ao fim de dez anos de ter deixado de fumar tem um risco de ocorrência de acidentes coronários semelhante ao de um não fumador. (DGS, 2006). Segundo referem Scherer et al. (2011), cerca de 70% das pessoas que fumam desejam parar de fumar, porém algumas não conseguem. Segundo a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (2007), salienta através da Carta Europeia para a Saúde do coração, no Artigo 5º, os fatores de risco podem ser abordados pelos profissionais de saúde através do incentivo, identificação e tratamentos das pessoas em alto risco. Neste sentido, o cuidado de enfermagem à pessoa que sofreu de EAM deve estar voltado para o tratamento, controle, atividades de prevenção e promoção da saúde, a fim de diminuir a morbilidade e a mortalidade pela doença. Sendo o processo de educação em saúde imprescindível no processo de cuidar, para evitar a progressão da doença (Oliveira e Pires, 2012). Pela análise das entrevistas, verificamos que existem situações em que a previsão de alterações das rotinas de vida incidem na adoção de novos hábitos, não especificando os participantes quais. “…Pronto, já tenho conhecimento que pode vir a acontecer e que tenho que no dia-a-dia ter certas normas de vida, talvez!” (E5) “(…) vou ter que ter mais cuidados, provavelmente, se calhar, tenho que ter hábitos novos …que antes passava-me tudo ao lado…, talvez mudar o que tenho por hábito…fazer , não sei muito bem… sinto- 131 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio me um pouco perdida com algumas dúvidas, se continuo a poder fazer desporto… talvez deixar de fazer tantas vezes.” (E7) De facto o processo de doença, por vezes faz com que a pessoa repense o seu modo de viver com a doença, com vista a obter uma melhor qualidade de vida (Scherer et al. 2011). Perante o exposto, no contexto reestruturação dos hábitos de vida, é de referir que ficou evidente que, os hábitos de vida podem ser modificados como é o caso do consumo de tabaco, os participantes vítimas de EAM têm conhecimento da necessidade de alterar hábitos após a ocorrência da doença. Perante a mesma, a pessoa perspetiva estratégias para se adaptar à doença. Neste sentido, o papel da enfermagem neste contexto abrange aspetos que contemplem as reais necessidades da pessoa, a partir de um diálogo aberto e franco que favoreça uma relação de confiança entre o enfermeiro e a pessoa após um EAM, desenvolvendo estratégias que visem garantir a adesão ao tratamento, a correção dos fatores de risco e uma adaptação à própria doença. VIVÊNCIA DA PESSOA COM EAM NO CONTEXTO INFORMAÇÃO VALORIZADA NA PREPARAÇÃO PARA A ALTA Os enfermeiros têm um papel privilegiado nas vertentes da prevenção e da promoção da saúde dos doentes, intervindo junto das pessoas informando-as e encorajando-as a adotar as soluções que lhes sejam mais adequadas e que permitam manter o maior bem-estar possível. Na opinião de Hesbeen (2000) Cuidados de Enfermagem são definidos como a atenção particular prestada por uma enfermeira ou por um enfermeiro a uma pessoa ou aos seus familiares com vista a ajudá-los. Englobam tudo o que os profissionais fazem, dentro das suas competências, para prestar cuidados às pessoas. Assim, prestar cuidados de enfermagem é complexo e tem como finalidade ajudar a pessoa a promover a sua saúde, contribuindo para o seu bem-estar e proporcionando uma atenção particular quando esta se encontra numa situação adversa. Refere o mesmo autor que o acolhimento, o ouvir, a disponibilidade e a criatividade dos enfermeiros, em associação aos seus conhecimentos de natureza científica de qualidade e às competências técnicas, revelam-se como componentes essenciais a um cuidar. 132 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Sendo a vivência de um EAM repleta de muitas incertezas e fonte de instabilidade na vida da pessoa, uma das formas de reduzir essas incertezas é manter o doente e a família informados e esclarecidos nas dúvidas acerca do processo da doença. Reforça esta ideia Hesbeen (2001), que diz que cada pessoa, seja qual for a sua doença, necessita de uma atenção personalizada e de cuidados específicos, indo ao encontro das suas reais necessidades. Pois, é na equipa de enfermagem que o doente se apoia, cabendo ao enfermeiro informá-lo, retirar-lhe dúvidas e agir de acordo com os conhecimentos do doente (Soares, Soares e Pinto, 2006). Segundo Gonçalves (2008), fornecer informação aos doentes, envolvê-los e comunicar com eles, satisfaz várias necessidades a diferentes níveis, tendo repercussões positivas para os doentes e famílias, para as instituições de saúde a nível financeiro, e para a humanização dos cuidados. É no sentido de, perceber as necessidades e o que é importante em termos de esclarecimentos para o doente que sofreu um EAM, que surge a questão: Que esclarecimentos necessita a pessoa após enfarte agudo do miocárdio e perante a alta hospitalar? Na análise das entrevistas surgem assim diferentes “Constituintes-Chave”, como se pode visualizar pelo Diagrama 9. Para os participantes do estudo todas as informações fornecidas na preparação para a alta hospitalar são cruciais. No entanto manifestam necessidade em serem informados sobre diferentes áreas. 133 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Diagrama 9 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto da Informação Valorizada na Preparação para a Alta A Informação Valorizada na Preparação para a Alta • Informação sobre a situação clínica • Informação acerca da alimentação • Informação acerca da atividade física • Informação acerca da sexualidade • Orientação para consultas médicas • Orientação na medicação • Transmissão da informação de forma personalizada • Informação escrita complemento da informação oral Fonte: Desenhado pelo autor Antes de abordar cada um dos constituintes - chave, é crucial fazer a distinção entre informação e comunicação, em contexto de saúde, por vezes compreendidas e interpretadas como palavras sinónimas. Neste sentido Melo (2005), refere que informação deve ser entendida como conteúdo e aspetos semânticos de uma mensagem, enquanto comunicação deverá ser definida como o processo pelo qual a informação é transmitida entre o emissor e o recetor. Referente a informação, Parente (1998, p.12) diz que o termo “Informação, etimologicamente, deriva do latim informatio, informatium, que traduz a ideia de dar forma a alguma coisa, apresentar, ensinar ou instruir, o que explica que no discurso quotidiano o seu significado se aproxime de conhecimento”. Também Segundo o dicionário “Priberam” on-line (2012), informação significa “(…) conjunto de conhecimentos sobre alguém ou alguma coisa; conhecimentos obtidos por alguém; facto ou acontecimento que é levado ao conhecimento de alguém ou de um público através de palavras, sons ou imagens (…)” (s.p). A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE) veio uniformizar a linguagem e termos relativos aos cuidados de enfermagem. Nesta classificação 134 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio podem ser encontrados vários conceitos que fazem todo o sentido referenciar relativamente à temática deste trabalho. Ensinar, instruir e treinar são sem dúvidas aspetos importantes em termos de preparação para a alta. Assim, segundo a (CIPE) versão Beta 2 (2003), estes conceitos podem ser definidos por: Ensinar, ação de informar com as caraterísticas específicas de dar informação sistematizada a alguém sobre os temas relacionados com a saúde; Instruir, ação de ensinar com as caraterísticas específicas de fornecer informação sistematizada a alguém sobre como fazer alguma coisa; Treinar como uma ação de instruir com as caraterísticas específicas de desenvolver as capacidades de alguém ou o funcionamento de alguma coisa. É através do ensino, instrução e treino que é possível aumentar os conhecimentos e habilidades dos doentes em relação à gestão da sua saúde. Para Miller, citado por Parente (1998), refere-se à informação como uma necessidade que o homem apresenta quando vivencia uma situação difícil, em que tem de tomar uma opção sobre um determinado assunto. Esta necessidade varia de intensidade de acordo com complexidade da opção / decisão que precisa adotar. Podemos assim constatar através da literatura que a informação contribui para os processos de adaptação e tomada de decisão nas situações de doença. Informações sobre a situação clínica Atualmente existem muitas expetativas por parte dos doentes e profissionais de saúde no que se refere à informação sobre o diagnóstico e tratamento e à importância do ponto de vista do doente no contexto da relação terapêutica. Apesar de tudo, perante a sua fragilidade pelo facto de estar doente, cabe aos profissionais, fornecerem as ferramentas mais adequadas, no sentido de capacitar a pessoa, não só no exercício da sua condição de estar doente, como na recuperação da sua saúde (Cainé, 2004). Um dos aspetos que os participantes vítimas de EAM, referem que sentem necessidade é de Informação sobre a situação clínica, como verbalizam. “Estar mais informado sobre a doença que tive. Para que possa tomar mais... mais cuidados.” (E1) “Em alguns aspetos...mais... informaram-me que eu tive um enfarte, gostava de saber mais sobre essa doença, que ainda não estou bem informado sobre essa doença… gostava de saber mais sobre isso...” (E2 ) “…porque eu desconheço... desconheço o problema da doença, oiço falar em enfartes, mas nem sabia, nem sei qual é o resultado… gostava de ter essa noção que não tenho, ser bastante esclarecida… Pronto, soube agora que foi uma veia que entupiu... que me fazia aquelas dores, me podia ter levado à morte, ter caído para o lado de um momento para o outro.”(E5) 135 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “Explicaram que eu tinha tido um enfarte e pronto, gostava de saber mais. Como aconteceu,… o que provoca, o que a pessoa sente, isso apercebi-me , mas gostava de explicações. ” (E8) Estes dados vêm corroborar aos existentes num estudo de Colombo e Aguillar (1997), que mostra que de entre os 78 doentes estudados (atendidos na Unidade Coronária de um Hospital Universitário), 47,7% (20) referiram somente o nome da doença, 36 referiram não conhecer o seu diagnóstico, e ao perguntarem aos doentes o que gostariam de saber sobre a sua doença, constataram que 55,1% (43) desejavam obter informações sobre a mesma. Os relatos, expressos pelos participantes do estudo, também vêm sublinhar o que refere Boschco e Mantovanie (2006), que um fator que também contribui muito para o despertar da consciência é receber informações corretas e adequadas quanto ao diagnóstico, prognóstico e tratamento. Pois quando o doente recebe informações precisas sobre o significado do seu diagnóstico, há um despertar para o autocuidado proveniente de reflexões sobre os efeitos da doença. Segundo Santos, Saraiva e Costa (2007), a prática ou ação de autocuidado é a prática ou desempenho de atividades que o indivíduo desempenha em seu benefício para a vida, saúde e bem estar. No mesmo sentido, outro participante demonstra a necessidade de esclarecimentos, manifestando mesmo que ninguém lhe deu explicações inerentes à situação vivida. “Não ninguém me explicou nada por que é que se passou, o que é que não se passou… qual é a minha situação?... já lá está. Até à data ainda não apareceu ninguém a dar-me explicações, ou dar-me conselhos ou por que é que veio ou por que é que não veio, de nada... nada.” (E9) Salienta Macêdo (2008), que é importante que o doente seja esclarecido quanto às suas dúvidas. Perante este fato percebe-se que falar com os doentes acerca da doença constitui não só um modo de os envolver no processo de tratamento, mas também de clarificar dúvidas acerca da doença no sentido de os informar/educar (Matos e Pereira, 2005). A este respeito, cabe aos profissionais de saúde o critério da seleção da informação mais aconselhada no sentido de evitar uma angústia desnecessária (Cainé, 2004). Sendo fundamental que o enfermeiro tenha presente, que informar os outros inclui da parte do enfermeiro uma atitude ética, devendo esta assentar em princípios essenciais da bioética, que são os princípios da beneficência, da não-maleficência, da autonomia e da justiça, pretendendo deste modo assegurar que as ações dos enfermeiros visam sempre o bem da pessoa e nunca o seu mal. Saber discernir se a pessoa tem 136 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio condições para decidir o que é melhor para ela é uma atitude responsável do profissional de saúde. (Pereira, 2008). No entanto importa salientar Martins (2004), que nos diz que existem imensas situações em que o paciente não é devidamente informado. Constatamos que a descrição de E9, também vai ao encontro do que refere Pompeo (2007), que observa-se na prática, que muitas vezes as orientações da preparação para a alta hospitalar, são fornecidas no momento que antecede a saída do doente do hospital. Nesse momento são transmitidas muitas orientações, dificultando a compreensão e proporcionando a ocorrência de esquecimentos. Informação acerca da alimentação A evidência de que o padrão e os hábitos alimentares podem exercer um efeito importante e diferencial (protetor versus nefasto) no desenvolvimento e na recorrência da doença cardiovascular, tem levado as sociedades científicas a emitirem recomendações alimentares e nutricionais (Oliveira, 2011). No estudo, perante a vivência de um EAM, é exteriorizado pelos participantes, relacionado com informação valorizada na preparação para a alta, o desejo/ necessidade de receber por parte dos enfermeiros Informação acerca da alimentação, como podemos comprovar pelos discursos expostos. “Dar uma ajuda na alimentação… quer dizer o que devemos evitar mesmo de comer. Do que estamos habituados, o que não devemos de comer” (E1) “(…) que eu gostava mesmo de sair mesmo informado. Porque eu ainda agora me aconteceu, pedi às senhoras: -“Olhe traga-me manteiga sem sal!”...mas à bocadinho veio-me trazer e trazia-me manteiga com sal, e eu digo assim: -“Será que posso!?...Será que não posso!?...”, é essas coisas.” (E2) “Pronto, falo na parte da alimentação! Que eles já me falaram... mas aí gostava que fosse um bocadinho mais informado...” (E2) “Todas as que fossem possíveis, eles têm me estado a explicar, que tudo vai ser diferente, tem de ter cuidado na alimentação, tem de fazer... ter atividades físicas, isto e aquilo... mas gostava que houvesse ainda mais um bocadinho…” (E2) “Gostava que me aconselhassem dos aspetos da comida, o que podemos comer e beber, é essas coisas todas... é assim (...)” (E6) 137 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio A necessidade manifestada, sublinha o que constataram Carvalho, Matsuda, Stuchi e Coimbra (2008), no seu estudo25 em que os doentes, a maioria (52,2%) respondeu que tinha dúvidas acerca de como se auto cuidarem, o que ressalta a importância da necessidade de o enfermeiro atuar nas orientações ao doente. Segundo a Ordem dos Enfermeiros (Dec. Lei nº111 de 16 Set. de 2009, artº 84) o enfermeiro tem o dever de “atender com responsabilidade e cuidado todo o pedido de informação ou explicação feito pelo indivíduo em matéria de cuidados de enfermagem”. Uma das intervenções no tratamento do EAM deve centrar-se na modificação de estilos de vida, essencialmente, baseada na adoção de um regime alimentar, que promova um tipo de alimentação saudável e correta nas quantidades dos nutrientes básicos e a manutenção de exercício regular (Scherer, Stum, Loro e Kirchner, 2011). Outros participantes destacaram que as informações inerentes à alimentação deveriam ser muito específicas, referenciando o tipo de alimentos a abolir e os recomendados, bem como o tipo de bebidas. “Eu gostava que eles me recomendassem, alguma coisa para eu deixar de comer isto ou comer aquilo, dissessem, porque eu isso cumpro logo.” (E6) “Talvez na comida. Na comida, no beber possivelmente... mas especialmente no comer, derivado às gorduras.” (E9) [Refere-se à informação que gostaria de receber, na preparação para a alta] “(…) só queria é que me dissessem a referência suficiente daquilo que eu posso comer, é muito importante. Ajuda a cumprir se quisermos claro, mas é muito importante saber” (E9) “Que (…) me metesse ao corrente de tudo que me pudesse fazer mal. Não coma isto, não faça isto, não faça aquilo.”( E9) Segundo Santos (2005), a educação alimentar está vinculada à produção de informações que sirvam como subsídios para auxiliar a tomada de decisões dos indivíduos, ressaltando-se aqui o papel da comunicação. O autor reforça a responsabilidade dos indivíduos na questão de decisão individual e de escolhas, no seu processo saúde-doença. Neste contexto acrescenta Bugalho e Carneiro (2004), que a participação do doente no tratamento é fundamental, especialmente nas patologias crónicas. 25 Investigando as orientações oferecidas ao paciente em pós-operatório de revascularização miocárdica. Estudo realizado por Carvalho, Matsuda, Stuchi e Coimbra. Num hospital do estado do Paraná, 2008. 138 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Assim após um enfarte de miocárdio é fundamental a implementação de um plano alimentar adequado. Segundo a European Society of Cardiology et al., recomendações europeias (2007), orienta para a prevenção da doença cardiovascular, em que todos os indivíduos devem ser aconselhados acerca da escolha dos alimentos que estão associados a um menor risco de DCV. Os indivíduos de alto risco devem receber conselhos dietéticos por um especialista, se possível. As recomendações gerais devem ajustar-se à cultura local: • Deve ser ingerida uma grande variedade de alimentos. • A ingestão calórica deve estar ajustada para evitar o excesso de peso. • Incentivar o consumo de frutas, vegetais, cereais e pão integrais, peixe (especialmente o gordo), carne magra, produtos lácteos magros. • Substituir as gorduras saturadas pelos alimentos anteriores e por gorduras poli e monoinsaturadas (vegetais e marinhas) para reduzir a gordura total para <30% do total calórico, a qual menos de 1/3 é saturada. • Reduzir o consumo de sal se a pressão arterial for elevada, evitando o sal de mesa de cozinha e ingerindo alimentos frescos ou congelados sem sal. Muitos dos alimentos processados, incluindo o pão, contêm um elevado teor de sal. A este respeito é fundamental ter presente o que Hesbeen (2001) refere, que aquilo que é bom para nós enquanto profissionais não o é na exata medida para o doente, pelo que, a informação tem de se adequar ao projeto de vida da pessoa doente. Os enfermeiros, não sendo os únicos responsáveis pela prestação de cuidados, são no entanto, a principal fonte de conhecimentos para a maioria das pessoas. Uma informação efetiva aumenta a auto-estima e promove o envolvimento no processo de recuperação, reduzindo a possibilidade ou recorrência do agravamento da sua situação. Informação acerca da atividade física Outro constituinte - chave que emergiu neste contexto foi a Informação acerca da atividade física. Segundo Araújo e Araújo (2000), consideram a atividade física como qualquer movimento produzido pela musculatura esquelética que provoque gasto calórico acima 139 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio dos níveis de repouso. Desta forma, as atividades domésticas, o trabalho e mesmo um programa de exercícios físicos, estão reunidos sob o termo atividade física. Pela análise dos discursos evidencia-se que os participantes têm necessidade de informação inerente às atividades físicas que podem desenvolver no seu dia a dia. “Pronto. Eu gostava que fosse informado de todas aquelas limitações que tenho, sei que tenho, mas que se for informado, se for melhor informado pode corrigir alguma coisa.” (E1) “Gostava que dissessem (…) nas atividades que eu posso fazer ou não posso ... para eu saber bem, para estar bem informado da minha situação, do que não me trás mais doença”(E1) “É pronto, esclarecer daquilo que eu devo fazer e não devo fazer.” (E1) “Gostava de toda a verdade toda a verdade e dizerem o que devo fazer, o que não devo fazer, para eu tomar essas atitudes. Como lhe digo, eu como nunca tive conhecimento de um enfarte. Não tenho conhecimentos. Gostava era mesmo de saber o que posso ou não posso fazer… se posso pegar em sacos com peso, fazer as minhas coisas em casa…sei lá.... Que me explicassem como deve ser, por que eu uma pessoa positiva, e mesmo que sejam coisas más, eu gosto de as saber. ” (E5) “Tenho interesse é de eles me explicarem bem, o que é que eu tenho que fazer? E o que não tenho que fazer, agora se calhar não, mas gostava de saber como é com os esforços, se posso fazer as minhas coisas.” (E6) Estes relatos integram-se na opinião de Hall citado por Pires (2009), em que afirma que é essencial que um doente quando tem alta do hospital saiba exactamente o que "pode" e " “não pode" realizar. Também Colombo e Aguillar (1997), constataram no seu estudo já anteriormente referenciado, que 9,3% dos doentes sentiam necessidade de ser orientados em relação à reabilitação pós primeiro evento de EAM. Outros aspetos da vida dos participantes também são relatados, com necessidade de esclarecimentos, nomeadamente as atividades que podem ou não desenvolver no trabalho. Conforme se verifica. “Sim, o trabalho também não sei. Eu trabalho com crianças que… há momentos de stress. Á hora de ponta em que temos que acelerar bastante…pronto, (…). Mas… mas espero que isso não vá afetar nada. Pronto. É tudo curiosidades que espero que depois me esclareçam. ” (E7) “Pois, porque eu realmente gostava de estar informada do que é que posso fazer na vida.” (E8) “Gostava de saber do esforço que uma pessoa (…) que não deve. E coisas de... pois, acho que seja... acho que será disso que eles possam ajudar.” (E10) No discurso destes participantes transparece o que refere Nascimento (2005), que a doença conduz a momentos de grande incerteza quanto ao restabelecimento e 140 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio reintegração social da pessoa, principalmente a nível laboral. Nesse sentido, a enfermagem poderá promover esclarecimentos para o enfrentar da situação. O exercício físico tem um papel fundamental na prevenção de reeventos de EAM, pelo discurso de E2 ressalta consciência desse facto, pretendendo mais esclarecimentos da parte dos enfermeiros. “ (...) das caminhadas e do exercício, falaram-me! mas ai não estou bem esclarecido ainda nessa parte preciso saber mais.”(E2) “Na preparação física falaram-me um bocadinho mas eu ainda fiquei meio indeciso!.. Não sei se posso andar meia hora!?... Se é uma hora?... Se pode ser continuamente?... Se não posso?... Como é que vai ser!?... ainda queria que me informassem nesse assunto!...” (E2) No âmbito da recuperação do doente diz-nos Rique, Soares e Meirelles (2002), que uma atividade aeróbia de intensidade moderada (como caminhada), de no mínimo 30 minutos três a cinco vezes por semana, já traz benefícios à saúde cardiovascular. E que programas que enfatizem atividades físicas de intensidade moderada são recomendáveis para a maior parte dos adultos que já apresentam pelo menos um fator de risco para as DCV. No entanto para que a atividade física seja realmente benéfica, é necessária a combinação da frequência, intensidade e duração do exercício. Conforme já comentado transparece nos relatos destes participantes dúvidas que demonstram comprometimento do processo adaptativo a nível da atividade física. Orientação para consultas É relatada a Orientação para consultas, também como um aspeto importante, integrado na informação pretendida na preparação para a alta hospitalar. No discurso de E5, denota-se a pretensão de ajuda relativa ao período pós-alta em consultas de vigilância de saúde. “ Em relação às consultas gostava que me informassem como é… talvez pessoas com capacidade para isso para me inteirarem, das situações e falarem.” (E5) A informação proporcionada aos doentes deve ter por base as necessidades da pessoa, no caso de orientação para consultas, a informação, tem o objetivo de ajudar o doente a aprender a lidar com a situação de vigilância saúde/doença, bem como apresentar os recursos disponíveis. 141 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Salienta Cainé (2004), que o modo como o EAM é sentido na pessoa, em conjugação com a necessidade de garantir a verbalização das suas preocupações, deve estar presente na preparação de uma transição eficaz da pessoa internada para o domicílio. Outro autor refere que através da partilha de informação, não só sobre a doença, mas também sobre os tratamentos a seguir, consegue-se que o indivíduo atinja um grau de autonomia que lhe permita gerir a sua doença (Correia, 2007). Relativamente à transmissão de informação sobre os recursos disponíveis e como utilizá-los permite à pessoa um conhecimento mais amplo dos serviços que tem à sua disposição, o que facilita um melhor acesso aos cuidados de saúde (Ribeiro, 2005). Orientação na medicação Relativamente ao constituinte - chave Orientação na medicação, foi um aspeto verbalizado nas descrições dos participantes, realçando o desejo de serem informados sobre o plano terapêutico, sendo sugerido por E8 a forma de tais orientações. “Sim. De medicação, de… se posso fazer desportos ou não? De… da alimentação… pronto. Basicamente será isso. (…)” (E7) “Gostava era na medicação que me digam bem como é. Eu depois tomo muito conta disso, das horas…. Mas a minha mulher também, é barra nisso”. (E6) “Fazer uma lista dos remédios que eu tenho que tomar, portanto, de manhã, ao almoço ao jantar, era bom.” (E8) As solicitações pretendidas enfatizam o facto de que a exigência que o tratamento e controlo pós EAM obriga, implica que haja um envolvimento quer do próprio doente/família quer dos enfermeiros que têm a obrigação de munir o doente de “ferramentas” necessárias para um controlo eficaz da patologia. No mesmo contexto Melo (2005, p.14) alude que a “transmissão de informação aos doentes origina um aumento da sua satisfação, diminuindo o nível de perturbação emocional, nomeadamente da ansiedade”. O suporte de informação refere-se ao fornecimento de informações, conselhos ou orientações dados por alguém, de preferência peritos na matéria, que ajudem o indivíduo a adquirir conhecimentos e competências para lidar melhor com a sua situação (Correia, 2007). Relativo ao verbalizado por E8, inerente a orientações terapêuticas escritas, refere Esposito (1995), que no seu estudo os indivíduos a quem tinha sido fornecido por escrito todos os dados relativamente à toma dos medicamentos, comparativamente a 142 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio outros a quem foi dada informação apenas oralmente, tiveram menos erros na toma dos medicamentos. Torna-se assim essencial, perante a necessidade manifestada pelos participantes, que o enfermeiro oriente e incentive os doentes para o cumprimento do tratamento medicamentoso, salientando as possíveis complicações cardiovasculares decorrentes no caso de não cumprimento. O que é reforçado na literatura quando Lima e Araújo (2007) mencionam que deve-se estimular o autocuidado, consciencializando o doente quanto à eficácia dos medicamentos, ressaltando as possíveis complicações da não adesão a estes. Informações acerca da sexualidade No que diz respeito ao constituintes-chave Informações acerca da sexualidade, o discurso de E6, torna evidente a necessidade de esclarecimentos a nível da sexualidade pós EAM. “(…) não sei se isto tem problemas com o sexo? Se não tem, mas se tiver, que eles me expliquem.” (E6) O discurso anterior, demonstra o descrito na literatura, que uma das dúvidas frequentes após EAM, ainda que muitas vezes não partilhada de forma aberta, diz respeito à capacidade para retomar uma atividade sexual normal e que dificuldades no retorno às atividades sexuais têm sido queixa frequente dos doentes cardíacos, sendo a abordagem e orientações da equipe de saúde escassas. De uma forma geral, a maioria das pessoas retomam a atividade sexual dentro de algumas semanas após o EAM. Contudo, algumas sentem-se menos ativas, devido a sentimentos de ansiedade, depressão ou de medo, conduzindo a declínio na vida sexual (Sousa, Cardoso, Silveira e Wittkopf, 2011). No estudo26 dos autores supracitados os resultados mostram que entre os entrevistados, 56,3% não receberam orientação sobre o retorno à vida sexual, no entanto, todos os doentes referiram ter retomado a atividade sexual. Pensamos que estas dúvidas podem ser minimizadas com orientação dos enfermeiros acerca do retorno à atividade sexual, das possíveis limitações que o tratamento pode ocasionar, assim como o encaminhamento a programas de reabilitação. 26 Atividade sexual apos infarto agudo do miocárdio. Estudo realizado por Souza, Cardoso, Silveira e Wittkopf. Associação Médica Brasileira, 2011. 143 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Transmissão da informação de forma personalizada Na perspetiva de Melo (2005) dar informação para facilitar a compreensão do doente face ao seu problema é um elemento central da prestação de cuidados de saúde. No âmbito da informação valorizada na preparação da alta, os participantes referem que a Transmissão da Informação de forma personalizada, é de extrema importância, como se constata nas palavras que se seguem. “Sim, para aquele doente! E insistir qual é a dúvida, não é?!... que não seja de uma forma assustadora, mas que seja de uma forma gradual, com esclarecimento, (…)” (E4) [Refere-se à informação,na preparação para a alta] “Mais informação!... quando digo mais, não é em quantidade!... a referir à qualidade da informação!...deve ser muito explicita” (E4) Reforça uma informação personalizada E5, como comprova o seu discurso, com a sugestão de “aula”. “Mas gostava de ter, faz de conta uma aula, não é! “- Olhe o senhor é o aluno, teve um problema eu sou o professor, vou-lhe dizer as consequências, se a senhora continuar a fazer esta vida pode amanhã ter outra vez o mesmo problema, se fizer esta vida está mais segura.” (E5) Os discursos de E4 e E5 revelam que a informação deve ser adaptada às pessoas, e transmitida gradualmente, de forma esclarecedora para a situação específica de cada doente. Transparecendo que o enfermeiro deve ter a capacidade de detetar as necessidades manifestadas pelo doente e dar resposta às mesmas de forma personalizada e individualizada. Possibilitando que o doente esteja informado e consciente da situação, pois assim poderá ultrapassar mais facilmente esta nova etapa da sua vida. Os relatos descritos vão ao encontro do que refere Gomes (2009), que o doente tem necessidade de obter informações sobre os mais variados aspetos que o intrigam, e que alguns optam por receber a informação de forma gradual, ou seja, conforme julgam necessário, sendo uma estratégia para não entrarem em desequilíbrio. Na consideração atribuída à informação, a exactidão como é transmitida evidencia-se também como uma necessidade dos participantes, no estudo. Sendo verbalizado que a informação deve ser precisa e concisa, desejando os participantes uma informação completa e bastante desenvolvida, como mostram os excertos. “Deve haver realmente uma informação, concisa e precisa mas mais desenvolvida.” (E4) 144 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “(…) penso que até mesmo esta literatura, que aqui está, ou esta informação, (…) devia de ser mais desenvolvida. (…) se lerem isto, de uma forma superficial tudo ficará na mesma.” (E4) Os relatos corroboram com a opinião de Gomes (2009), que refere que a informação deve ser real, clara e precisa para evitar que o doente fique com dúvidas ou faça uma interpretação errada dos acontecimentos. Também é essencial adaptar a linguagem aos conhecimentos do doente, ao seu grau de escolaridade, à sua cultura e idade. Outro aspeto a ter em atenção é o planeamento do momento ideal de conceder as orientações e a forma de transmitir as informações ao doente e família. Importa salientar que no processo de transmissão de informação o enfermeiro deve ter presente, o Código Deontológico do Enfermeiro, no seu artigo 84º, já referido anteriormente, que referindo-se à informação no âmbito dos cuidados de enfermagem esta é uma obrigação profissional ligada a critérios de responsabilidade e qualidade dos cuidados. Informação escrita complemento da informação oral Em relação ao constituintes-chave Informação escrita complemento da informação oral, ressalta no discurso dos participantes paralelamente à transmissão da informação de forma personalizada. Pelos relatos de E2 e de E4, constatamos que receberam informação escrita, salientando ser benéfico no processo da aquisição de informação. “Deram-me um folheto a informar disso, que agora durante as primeiras quatro semanas, que não devo... praticar sexo…”(E2) “Não só fundamentais, como relevantes, para o esclarecimento, pleno da pessoa que de aqui sai. Se os ler!...”(E4) [Refere-se ao panfleto entregue pelo enfermeiro antes da alta ]. As informações podem ser fornecidas ao doente/família oralmente ou recorrendo a outros meios, podendo-se como alternativa ou complementaridade utilizar a informação escrita. Nos relatos anteriores é notável uma valorização da informação escrita, o que vai ao encontro do que apresentam Carvalho, Matsuda, Stuchi e Coimbra (2008) no seu estudo, que entre os participantes da pesquisa, (74%) 17 referiram que as orientações por escrito facilitariam as orientações em casa, pois poderiam recorrer ao impresso nos momentos de dúvidas, lembrando-os o conteúdo das orientações. 145 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio No entanto Cainé (2004), salienta que com a informação escrita muitas pessoas sentem-se, por vezes, embaraçadas ao admitir que não sabem ler ou entender a informação recebida. Torna-se importante alertar, que o enfermeiro deve estar desperto para estas situações e preveni-las como salienta o autor anterior. Neste sentido cabe aos enfermeiros o critério da seleção da informação mais aconselhada, bem como a forma de a transmitir no sentido de promover a compreensão ao doente, modificando-a sempre que as circunstâncias o determinem. Menciona o autor supracitado que a informação à pessoa deve fornecer um conjunto de conhecimentos e habilidades capazes de assegurar a continuidade dos cuidados no domicílio (Cainé, 2004). No estudo, acerca dos esclarecimentos que os doentes necessitam ao vivenciarem um EAM, estes referem diversos aspetos que sentem como importantes e necessários de receberem informações para a sua recuperação, transparecendo que lhe foram transmitidas algumas orientações, mas na generalidade vivenciam uma necessidade de mais esclarecimentos e de forma personalizada. VIVÊNCIA DA PESSOA COM EAM NO CONTEXTO INTERVENÇÕES DOS ENFERMEIROS NA PREPARAÇÃO PARA A ALTA Os cuidados globais de enfermagem, nas suas dimensões biológica, social e psicológica, desenvolvem-se numa permanente relação enfermeiro - doente, considerada como pedra angular de toda a atividade profissional dos enfermeiros (Phaneuf, 2005). Sublinha Hesbeen (2001), que os cuidados de enfermagem são compostos de múltiplas ações que são sobretudo, apesar do lugar tomado pelos gestos técnicos, uma imensidão de “pequenas coisas” que dão ao longo das vinte e quatro horas do dia, a possibilidade de manifestar uma grande atenção ao beneficiário dos cuidados e aos seus familiares. É a atenção a essas “pequenas coisas,” que revela a preocupação do profissional com o outro na sua existência. A ocorrência de um EAM confronta a pessoa com uma “situação de crise”, implica uma série de modificações psicossociais e comportamentais traduzidas num processo complexo de adaptação às exigências da doença e acarreta consequências que devem ser tidas em consideração na promoção da qualidade de vida destes doentes. A instalação da doença, desencadeia o início de um processo de transição na pessoa 146 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio e na família. Esta transição impõe obrigatoriamente mudanças, há um constante vacilar entre a nova e a velha realidade à qual a pessoa se vê coagida a habituar (Hay, 2006). Para Abreu (2011, p.38) transição significa “(…) mudança, ato ou efeito de passar de um estado, período, assunto ou lugar para outro.”, ou seja, a transição compõe-se de uma alteração de condição ou de lugar e pressupõe geralmente ajustamento e adaptação de quem sofre essa transição. Estes processos de mudança requerem ajustamento ou adaptação, cabendo à enfermagem, promover esse ajustamento ou adaptação à nova situação da pessoa. Neste contexto, refere Queirós (2000, p.7), que “Enfermagem consiste na facilitação dos processos de transição, no sentido de alcançar uma maior sensação de bemestar.” Redobrando esta opinião menciona a Ordem dos Enfermeiros (2009, p.6), segundo o artigo 7º, que o enfermeiro é, o profissional que detém “(…) competência científica, técnica e humana para a prestação de cuidados de enfermagem gerais ao indivíduo, família, grupos e comunidade, aos três níveis da prevenção”. Neste sentido podemos afirmar que pelo exposto, o enfermeiro tem, como responsabilidade de acordo com as suas competências, promoção de ações que contribuam para o processo na recuperação do doente que sofreu um EAM e sua família. No encadeamento do estudo e colocada a questão inerente à Informação valorizada na preparação para a alta, através da análise das entrevistas do discurso dos participantes, evidenciam-se os respetivos “Constituintes-Chave”, Educação para a saúde uma intervenção do enfermeiro e o Reconhecimento de competência profissional. Representados no Diagrama 10, seguidamente. 147 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Diagrama 10 – Representação esquemática, dos diversos constituintes-chave referentes ao contexto Intervenções dos Enfermeiros na Preparação para a Alta Intervenções dos Enfermeiros na Preparação para a Alta • Educação para a saúde • Reconhecimento de competência profissional Fonte: Desenhado pelo autor Para os participantes perante a vivência da doença, o enfermeiro é o profissional de quem esperam ajuda a vários níveis para a recuperação. Nos discursos seguintes podemos verificar essa postura, havendo um claro reconhecimento das intervenções do enfermeiro inerentes à educação para a saúde. Educação para a saúde Este princípio foi defendido na Carta de Ottawa em 1986, que nos diz que a promoção da saúde é o processo de capacitar as pessoas para aumentarem o controlo sobre a sua saúde, e para a melhorar. A educação para a saúde vai além do cuidar imediato, estendendo-se à educação que promove o desenvolvimento do conhecimento, mediante apreensão e busca das modificações/transformações nos hábitos de saúde ao doente cardíaco. O enfermeiro procura desenvolver ações para que a saúde da pessoa doente a dimensão física e emocional estejam em sincronia. Desse modo, também propicia às famílias condições para que sejam coadjuvantes não só na prevenção e na manutenção, mas também na reabilitação desses doentes (Balduíno, Mantovani e Lacerda, 2009). No decurso da educação para a saúde, salienta Franco et.al (2008), que o educador tem o papel de facilitador das descobertas e reflexões com os doentes sobre a realidade, sendo que a pessoa tem o poder e a autonomia de escolher as alternativas. 148 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Em relação ao constituinte – chave, Educação para a saúde, pela análise dos relatos, dos participantes, depreendemos que estes reconhecem por parte dos enfermeiros o desenvolvimento de intervenções que os ajudam a adquirir comportamentos adaptativos à doença promotores da recuperação. Como relata E1. “Sim, ao longo do... ao longo do internamento fui, pelos (…) enfermeiros que me explicavam. Aquilo que eu devia fazer, caminhar lentamente até ir-me recuperando. “ (E1) Ficou evidente no discurso de E1, que o enfermeiro além de realizar a promoção da saúde por meio de educação, também realiza orientações, no sentido de prevenir sintomas que podem ocasionar reeventos. De facto, como refere Cainé (2004), inserido numa equipa, o enfermeiro é promotor na prestação de cuidados de saúde, nomeadamente no desenvolvimento de atividades educacionais, pois entre o universo de atores na equipa de saúde, os enfermeiros têm condições privilegiadas para exercer essa missão de promoção e educação para a saúde. No mesmo sentido, para Franco et.al (2008), de entre as funções de enfermagem, a prática educativa desponta como principal estratégia de promoção da saúde, na qual o foco deve estar voltado não só para o doente, mas também para a família. Cada vez mais se preconiza que deve ser a própria pessoa a interessar-se pela promoção da sua saúde, já que não podemos esperar que essa seja uma preocupação apenas dos profissionais, pois só com o empenho de cada um, é possível a adoção e manutenção de estilos de vida saudáveis. Outro aspecto importante na educação para a saúde, para se estabelecer um cuidado de enfermagem que reflita uma assistência de qualidade é a comunicação, que assume particular importância, pois impulsiona a interação e o contato entre o enfermeiro/doente/família e permite a cooperação entre todos os elementos da equipa de saúde. Segundo Correia (2007), é um dos mais importantes aspetos dos cuidados de enfermagem, é sem dúvida o veículo através do qual, o enfermeiro vai conhecer o doente, determinar as suas necessidades e implementar as intervenções mais adequadas. No estudo torna-se também claro, pelas palavras dos participantes, que estes atribuem ao enfermeiro um papel educativo e esclarecedor. O enfermeiro é reconhecido como “profissional mentor e transmissor” de informações e esclarecimentos. Como é demonstrado. 149 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio “ Eu julgo que as informações que eu gostaria que o enfermeiro (…) me informasse, sobre esta situação!” (E3) “ (…) estou á espera que alguém da parte da enfermagem me esclareça tudo. Tudo o que eu tenho que fazer, o que eu tenho que deixar de fazer… que seja mais esclarecida… coisas que até não me estou a lembrar que me possam alertar.” (E7) “Só gostava da referência quando saísse... que seja uma senhora enfermeira (…) que me dê a referência que eu tenho a seguir.”(E9) “Acho que os enfermeiros me vão dar informações suficientes para que eu possa seguir a minha vida normal. ” (E9) Outro aspeto relevante que transparece, é que os participantes esperam que seja o enfermeiro, o elemento da equipa a fornecer as informações que desejam receber. Este aspeto é salientado por Melo (2005), que diz que o fornecimento da informação constitui uma premissa essencial em contexto de saúde. É importante analisar esta afirmação na vertente do doente e a vertente do profissional de saúde, em que por um lado o doente tem necessidade de obter informações sobre os mais variados aspetos que o intrigam, e por outro lado o profissional tem o dever e obrigatoriedade de transmitir dados sobre a sua situação e recuperação. Defende Dawson (2003), que fornecer informação ao doente confere-lhe a capacidade de fazer escolhas, colocar questões e ajuda a aliviar o stress e a ansiedade que acompanham qualquer internamento e /ou preparação para alta hospitalar. No mesmo contexto, afirma Cainé (2004), que a informação é um pilar insubstituível do "estar com" a pessoa. O mesmo autor salienta que a informação não é apenas facilitadora da tomada de decisão individual, devendo ser entendida num contexto mais vasto da educação para a saúde. Para Hesbeen (2001), os enfermeiros, não sendo os únicos responsáveis pela prestação de cuidados numa equipa, são no entanto, a principal fonte de conhecimentos para a maioria das pessoas. Uma informação efetiva aumenta a autoestima e promove o envolvimento no processo de recuperação, reduzindo a possibilidade ou recorrência do agravamento da sua situação. Assim verificamos que estes participantes apontam a informação como indispensável na vivência deste processo de doença, e que é um aspeto importante na recuperação como revelam as descrições anteriores, sendo o enfermeiro, o profissional “educador” que proporciona esclarecimentos e planeia estratégias com o doente, contribuído para o restabelecimento da doença. Importa referir que as intervenções do enfermeiro implicam, perceber o doente, respeitar seus valores, crenças, sentimentos e emoções. 150 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Atualmente, sabe-se que uma das condições primordiais para que alguém adote ou mude determinado comportamento, é que esteja munido dos conhecimentos necessários sobre o que tem que mudar e porque é que tem que mudar. Neste âmbito salienta Ferreira (2011, p.389), que “a prevenção da doença cardiovascular requer um trabalho ao nível da educação e informação permanente dos fatores de risco que podem aumentar ou diminuir a probabilidade de uma pessoa desenvolver a doença, daí a importância da informação e ensino, no sentido da prevenção a todos os níveis”. Reconhecimento de competência Profissional O constituinte- chave Reconhecimento de competência profissional, evidenciou-se nas descrições dos participantes. Segundo Roldão (2003), o conceito de competência está relacionado com um conjunto de conhecimentos que o indivíduo adquire para determinados contextos, estando ligado à área do saber. Contudo, segundo o mesmo autor, o saber tem de estar implícito o saber-fazer que está relacionado com a habilidade, formando, assim, a capacidade de selecionar, integrar e mobilizar adequadamente diversos conhecimentos prévios perante uma determinada questão ou problema. No estudo, existe um claro reconhecimento de competência profissional do enfermeiro no processo recuperação da doença da pessoa com EAM. O relato de E1 revela, competência e valorização dos conhecimentos do enfermeiro. Esta valorização é atribuída à intervenção do enfermeiro na partilha de informações e orientações para a recuperação da doença. “Porque nós se não formos informados por quem sabe por vezes não seguimos o que é correto.” (E1) [referindo-se aos enfermeiros] Na opinião de Meleis et al. (2000), os enfermeiros devem ser prestadores de cuidados que preparem os indivíduos para transições difíceis e que facilitem o processo de aprendizagens de novas capacidades relacionadas com experiências de saúde e de doença. Neste âmbito, aludem Ferreira e Dias (2005), que o enfermeiro para prestar cuidados de qualidade utiliza simultaneamente o seu saber-fazer e o seu saber-ser, conhecendo-se e compreendendo-se num cuidar caraterizado por uma relação em que está presente para o outro, comunicando e partilhando sentimentos. Estas habilidades designadas por comportamentos e competências privilegiam o relacionamento interpessoal, a confiança entre o enfermeiro, o doente e a família. 151 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio O relato anterior vai ao encontro do que refere Guimarães (2010), que o conceito de competência envolve a integração e a coordenação de um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que na sua manifestação produzem uma atuação diferenciada. No caso de E3, realça, a competência do enfermeiro nos cuidados prestados, ao longo do internamento. De um modo geral faz também a valorização da equipa. “ (…) deste hospital, no qual tenho sido muito bem tratado, tenho apanhado excelentes profissionais, (…), enfermeiros, colaboradores.” (E3) Esta valorização vai ao encontro do que refere Hesbeen (2000), que o valor duma profissão não se pode basear senão na valorização do seu conteúdo profissional. Ou seja, do seu contributo específico e insubstituível para a saúde da população. Nesse sentido, antes de trabalhar pelo reconhecimento dos enfermeiros, estes têm que trabalhar pelo reconhecimento dos cuidados. São descrições como as anteriormente apresentadas pelos participantes, que provam o profissionalismo, as competências dos enfermeiros, a relevância e a qualidade dos cuidados de enfermagem. De salientar, que a construção e desenvolvimento de competências em Enfermagem decorrem do progressivo aperfeiçoamento e desenvolvimento das mesmas, processo que é transversal aos diversos domínios do cuidar, nomeadamente ao nível dos domínios relacional, técnico e ético. O seu desenvolvimento tem como objetivo prestar bons cuidados, que significam coisas diferentes para diferentes pessoas, e que requerem da parte do enfermeiro sensibilidade para lidar com essas diferenças (OE, 2003). Terminada a análise da vivência da pessoa com EAM no contexto Intervenções dos enfermeiros na preparação para a alta, seguidamente passamos a abordar as considerações finais, tecer algumas sugestões e será realizada a apresentação dos aspetos relevantes que emergiram no estudo. 152 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio PARTE IV CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluído o estudo, esta é a parte em que se tecem as considerações finais, que no presente estudo incluem as conclusões do mesmo. Sendo por fim expostos os contributos para a prática dos cuidados de enfermagem e as limitações com que nos deparamos ao longo deste percurso, também deixamos algumas sugestões a vários níveis. 153 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 1 - CONCLUSÕES Chegando ao términus deste estudo surge o momento de efetuar uma apreciação final do trabalho realizado até aqui, dando especial enfoque aos principais resultados. Considerado atualmente, o EAM um problema de saúde pública pela sua elevada incidência e gravidade e também uma das principais causas de internamento hospitalar, existindo a par com esta realidade, uma tendência para reduzir ao estritamente necessário a duração dos tempos de internamento, neste contexto a prestação de cuidados de enfermagem ao doente com EAM requer do enfermeiro uma multiplicidade de conhecimentos e habilidades na sua atuação para dar resposta às necessidades da pessoa doente e família. A incerteza sentida pela pessoa, sobre o que acontecerá após a alta e como pode conviver e superar a sua nova condição de saúde, justifica uma prática de cuidados que englobe uma preparação para a alta personalizada, pois os contributos daí resultantes podem ser elevados. Relativamente à preparação da alta, sendo um processo de identificação de necessidades, de dúvidas e de preocupações do doente, de transmissão de informações e de esclarecimentos, que requerem planeamento, o enfermeiro tem um papel importante e um contributo imprescindível a prestar à pessoa com EAM, com vista a colmatar as necessidades identificadas. Cientes que a Enfermagem e a Investigação estão estreitamente ligadas e tendo em conta a especificidade desta temática, considerámos fundamental conhecermos este fenómeno, sob a perspetiva da vivência da pessoa acometida de EAM, o que representou um desafio. Assim, o desenvolvimento deste estudo teve como principal desígnio analisar a vivência da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar, a partir da perspetiva da experiência vivida, o que permitiu que emergissem várias conclusões tendo por base a análise efetuada e os dados obtidos, das quais se evidenciam aquelas que abaixo apresentamos. Da realização deste estudo, verificámos que a ocorrência do EAM, é vivida pelos participantes como uma situação de “doença inesperada”, trazendo incertezas e debilidades antecedentes à alta hospitalar, em relação à sua condição de saúde. 155 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Constatamos que os participantes perante a vivência do EAM demonstram conhecimento sobre algumas das causas da doença, referenciando-as. Tornando-se evidente que o conhecimento que atribuem às causas do EAM, relaciona-se com hábitos de vida, fatores clínicos adquiridos ou situações com que se deparam no dia-adia, como situações familiares ou sociais desencadeadoras de fragilidades. Outro aspeto que emergiu é que esta doença causa preocupações e incertezas sobre o futuro relativamente à recuperação após a alta nas diferentes dimensões das atividades de vida. Evidencia-se também, que um EAM na vida destes participantes remete -lhes uma experiência de doença, deparando-se estes com interrogações perante o acontecimento. Ao interiorizarem o que sucedeu e os riscos de saúde, perspetivam alterar os estilos de vida. Assim prevêem a nível das atividades laborais restringir esforços, alterar hábitos alimentares, alterar rotinas e práticas habituais e também criar estratégias de adaptação à doença. Outras das conclusões emergentes na investigação está relacionada com informação valorizada na preparação para a alta. A informação é fundamental, sendo um aspeto de extrema importância. Evidencia-se que seja realizada de forma personalizada, surge a informação escrita como um complemento da informação oral e ainda como processo essencial de educação para a saúde. Relativamente à informação proporcionada os participantes referem que foram esclarecidos alguns aspetos, salientando a necessidade de mais esclarecimentos. Evidencia-se a valorização e solicitação de informação precisa, concisa e adaptada à pessoa. Este fato revela-se no estudo consensual a todos os participantes. Do estudo emerge ainda que no processo da preparação para a alta o enfermeiro é considerado o profissional de quem esperam intervenções de educação para a saúde, adequadas à sua situação, reconhecendo competência profissional ao enfermeiro nos cuidados prestados. Acreditamos que a reflexão sobre estas vivências contribuem para a melhoria da qualidade da preparação da alta da pessoa com EAM e família. Consideramos também que os objetivos de investigação a que nos propusemos foram atingidos. No capítulo que se segue, referimos os contributos que desta investigação provêm e expomos as dificuldades sentidas no decurso da sua realização, deixamos também algumas sugestões. 156 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio 2 - CONTRIBUTOS SUGESTÕES E LIMITAÇÕES Decorrido algum tempo sobre o início deste trabalho é sentido o agrado de chegar ao seu términus. Representa uma longa caminhada percorrida e um importante momento de aprendizagem, pelo que consideramos importante refletir acerca da trajetória efetuada. Este estudo desencadeou uma motivação, a qual contribuiu para se concretizar o desafio a que nos tínhamos proposto em contexto académico, o qual durante muito tempo, pareceu longínquo e difícil de alcançar. Podemos afirmar que o finalizámos com um sentimento de satisfação pelo prazer que nos deu realizá-lo e pelos momentos de reflexão que proporcionou. Dado o facto da ocorrência de um EAM na vida de uma pessoa, e posterior alta hospitalar serem momentos delicados para o doente e família que enfrentam inúmeras e desconhecidas situações, que lhe vão despoletar diversas vivências, o presente trabalho representou um desafio por ser uma temática ampla e complexa, e inerente à individualidade de cada pessoa. Possibilitou uma compreensão mais abrangente do fenómeno e reflexões acerca desta temática. Evidenciou também o facto de que, o sermos enfermeiros a cuidar de pessoas, exige-nos uma atitude reflexiva, sobre o modo como avaliamos as suas necessidades. Consideramos que as informações contidas neste estudo, poderão de algum modo, contribuir para fomentar a reflexão sobre a prática profissional diária no cuidar o doente com EAM, podendo levar a transformações que se coadunem com qualidade nos cuidados. Consideramos pertinente mencionar que ao longo da elaboração deste trabalho, foi ficando clara a importância da escolha do método qualitativo com uma abordagem fenomenológica para este estudo, tendo em conta os objetivos do mesmo, contudo sentimos algumas dificuldades as quais passamos a apresentar: A inexperiência do investigador, quer na realização e condução das entrevistas, quer na própria análise das mesmas. Consideramos relevante salientar que uma das maiores dificuldades inerentes à análise da informação, deparou-se com o facto de tentarmos ter sempre presente o que os estudos com abordagem fenomenológica, demandam: que o investigador se deve “abstrair” de todo o conhecimento anterior 157 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio acerca do fenómeno em estudo na construção do desenho e análise de informação, o que nem sempre foi fácil de alcançar. O facto de ser o primeiro estudo realizado pelo investigador, com a aplicação do método fenomenológico. O fator tempo, uma vez que a realização deste trabalho se cruzou com disponibilidades limitadas, que obrigou a conciliar as atividades profissionais com as académicas, implicando alguns sacrifícios. Também aspetos pessoais, relacionados com inesperadas situações que estiveram bem presentes. Perante estas limitações, ficamos com a certeza que foi uma experiência positiva e gratificante, tendo sido superadas as dificuldades encontradas ao longo da sua realização. Esperamos assim, que este trabalho se revele útil para a compreensão da vivência da pessoa com EAM na preparação para a alta hospitalar e que sirva de estímulo para que no futuro se venham a desenvolver estudos mais alargados, por virtude da importância que julgamos estar subjacente a este tema e à extensão da sua problemática. Gostaríamos que esta investigação ultrapassasse o âmbito académico e fosse a base para promover o bem - estar da pessoa com EAM. Após a realização deste estudo, que nos alertou para alguns aspetos relevantes, consideramos pertinente expor algumas sugestões, que abrangem diferentes âmbitos, nomeadamente: o âmbito da Investigação, da Formação, da Prática de Enfermagem e da Gestão de Cuidados. No que respeita ao âmbito da Investigação gostaríamos que este estudo fosse promotor de outros estudos relacionados, pelo que sugerimos: A realização de um estudo, no mesmo contexto com a mesma metodologia, no âmbito das vivências dos enfermeiros e também dos familiares. A realização do estudo, noutros serviços do mesmo contexto clínico. NO âmbito da Formação sugerimos: Realização de grupos de trabalho multiprofissionais para discussão da temática: Preparação para a Alta. 158 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio NO âmbito da Prática de Enfermagem sugerimos: A realização de reflexões na equipa de enfermagem com o objetivo de partilhar situações práticas, encontradas na prestação de cuidados. Divulgação dos resultados deste estudo, através de apresentação do mesmo no contexto onde o estudo foi realizado, e na própria instituição. NO âmbito da Gestão de Cuidados sugerimos: Ajustada gestão de recursos humanos de enfermagem, de modo a serem garantidos “momentos enfermeiro/ doente/família” para planificação da alta hospitalar. A um nível mais ambicioso: Implementação de programas de reabilitação cardíaca. A salientar, que com este estudo de investigação tencionamos dar o nosso pequeno contributo para alargar o conhecimento em Enfermagem enquanto disciplina e enquanto profissão, cientes que o conhecimento científico é um decurso inacabado. 159 Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, Wilson Correia – Transições e Contextos Multiculturais. 2ª ed. Coimbra: Formasau, 2011. 156p. ISBN 978-989-8269-13-3. ABREU-RODRIGUES, Marcela; SEIDL, Eliane M. F. – A importância do apoio social em pacientes coronarianos. 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Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio APÊNDICES Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio APÊNDICES I Guião da Entrevista Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio GUIÃO DA ENTREVISTA Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio TEMA: Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio OBJETIVOS: • Identificar o conhecimento da pessoa sobre fatores que influenciaram a ocorrência do EAM; • Identificar as preocupações da pessoa com EAM, na preparação para a alta hospitalar; • Perceber se a pessoa considera importante após o EAM mudar os seus hábitos de vida; • Identificar a informação que a pessoa com EAM considera pertinente na preparação para a alta hospitalar. LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO: Serviço de Cardiologia do Hospital Distrital de Santarém SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES PARA RECOLHA DE INFORMAÇÃO JUNTO DOS PARTICIPANTES PRÉ-ENTREVISTA Apresentação pessoal do entrevistador: Nome e profissão. Apresentação do estudo: Tema, objetivos e importância das entrevistas para a realização do estudo, previsão da duração da entrevista. Pedido de consentimento: Apresentar consentimento e informar acerca do caráter de confidencialidade. Solicitar autorização para a gravação áudio da entrevista como método de registo de dados. Questionar se tem alguma dúvida que queira ver esclarecida e clarificar a possibilidade de interromper a entrevista a qualquer momento, a pedido do entrevistado. Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio ENTREVISTA: Entrevista nº_____ Data__/__/__ Hora de início:______ Hora de termino:_____ Identificação do Participante: Idade:____ Sexo:_____ Estado civil:___________ Pessoa com quem vive:____________ Profissão:____________________ Tempo de internamento ____________ Questões Orientadoras • Fale-me acerca dos hábitos que tem na sua vida, que pensa terem influenciado a ocorrência do Enfarte Agudo do Miocárdio. • Fale-me das suas preocupações neste momento, tendo em conta a situação clínica e o facto de ir ter alta hospitalar. O que o/a preocupa perante a ocorrência desta doença. • Diga o que pensa acerca das alterações que a sua vida diária pode ter após o Enfarte Agudo do Miocárdio e o que pensa mudar. • Que aspetos considera fundamentais que o enfermeiro lhe esclareça na preparação para a alta hospitalar? PÓS-ENTREVISTA: Averiguar sem tem algo mais a acrescentar; Agradecimento pela disponibilidade e colaboração, em participar no estudo; Conversa informal e despedida. Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio APÊNDICES II Pedido de autorização aos participantes para a realização das entrevistas Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Exmo. Senhor Participante Assunto: Pedido de autorização para a realização de entrevista para estudo de investigação Madalena Maria Alves da Cruz, enfermeira, a exercer funções no Hospital de Santarém. No contexto da efetivação de um estudo de investigação, subordinado ao tema “Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio”, inserido no Plano Curricular do IV Curso de Pós–Licenciatura de Especialização em Enfermagem Médico-Cirúrgica, ministrado pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, vem junto de V. Ex.ª solicitar colaboração para participar no estudo e a autorização para a realização de uma entrevista e sua gravação áudio. Este estudo, de natureza qualitativa, tem como finalidade, analisar como vivência a pessoa com EAM a alta hospitalar. Com o compromisso do cumprimento das normas éticas que presidem este tipo de trabalho, sendo assim assegurado o anonimato, a confidencialidade e a liberdade de aceitação. A Enfermeira/ Estudante O Participante _____________________ _____________ Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio APÊNDICES III Autorização para a realização do estudo Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio APÊNDICES IV Processo da análise: Organização e categorização das entrevistas segundo o método proposto por Giorgi Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio ConstituintesChave Unidades de Significado “Sim, porque nem sempre o trabalho corria bem... isso preocupava-me. E ultimamente... pronto... aí há um mês que o trabalho andava a correr mal; e eu esforçava-me o mais possível, e as coisas (…) pronto... o trabalho, o stress do trabalho e até que, há um dia senti-me mesmo mal. (…) o stress do trabalho que originou, esta situação.” (E1) Stress Laboral “Durante estes cinco seis meses, tenho tido também uma vida profissional bastante stressado, e também teve um bocado contribuição para isto (…) e tudo ajudou… (emociona-se)”.( E3) Perceção das Causas da Doença Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar Contexto “(…)andava já a sentir há algum tempo, cansado... e o trabalho era... pronto, quer dizer... como trabalho... trabalhava... trabalhava, pois... por conta própria, não tinha empregados, e sentia-me na obrigação de ter de cumprir. E sentia-me cansado, talvez há quase um mês antes. Mas pronto, senti-me cansado. Parava, e tal... continuava. Dias umas vezes mais cansado do que outros(…)” (E1) “Eu acho mesmo que foi excesso de trabalho. Sim. Foi, porque... estava-me a... já há muitos anos, nunca tive férias, nunca tive descanso. Na minha atividade tinha que... portanto... tinha que trabalhar a um domingo, como a um dia de Natal, pronto, tinha que ser, era uma obrigação. Portanto, como a pecuária exigia, tirar porcos ao Domingo para abater à Segunda-Feira. Pronto, andava muito cansado e para mim foi... foi mais o excesso de trabalho e o esforço que fazia, o esforço do trabalho que originou.” (E1) Esforço Físico no Trabalho “ Eu penso … que como no trabalho faço esforço, porque tem que ser (…) os riscos que me levou a isto... foi esforço que fiz! Foi quando me senti pior, foi com os esforços...com o trabalho, pronto... e é tudo, penso que são fatores...” (E2) “ (…) eu trabalho há muitos anos, em trabalhos muito difíceis, muito duros, e acho que foi isso tudo que levou, a que esta doença me apanhasse de surpresa, porque eu andei uma semana com este problema. Derivado ao trabalho que tenho, para não perder tempo, porque hoje em dia a vida está muito difícil.” (E3) “Pois... é... eu comecei a notar, foi... uma pessoa trabalha, não é? Trabalha e... lá nas nossas coisitas(…). Senti (…) cansado e umas picadas... umas picadas... mas que raio, o que é que se passa? Mas, pronto... continuei, não é? Continuei... mas ao fim de uns dias aquilo continuava sempre, mal... mal que fizesse um esforçozinho, aquilo era um... Oh... mas aquilo depois começou a agravar-se. Começou a agravar-se de dia para dia, quando eu pegava em pesos ou que desse umas passadas mais... mais alargadas (…)”. (E10) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “(…) eu compreendo isso pelo relato do médico, que tinha que existir, uma situação que está subjacente. Depois à um outro fator que é adicional, que é a ansiedade, o stress, o nervosismo, o fator que se adicionou... no meu caso considero que isso assim foi!...” (E4) Nervosismo “ Eu não estava á espera que isto me acontecesse. Acho que, à partida ninguém espera. Porque… eu penso que levo uma vida saudável, inclusive eu faço ioga, e tudo… isto á partida nunca me iria acontecer. Mas…a chuva mexe sempre comigo cada vez que chove…entra sempre em casa. Foi os nervos, foi. Foi os nervos, a raiva, a fúria, tudo junto ali… que explodi, e aconteceu-me isto.” (E7) [Após a intempérie] e Perceção das Causas da Doença Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “Olhe! Primeiro, eu sou uma pessoa muito nervosa, é uma delas... eu penso que o sistema nervoso influência muito, mal qualquer coisa fico logo nervoso, com o trabalho… com as coisas da vida que tenho para resolver.” (E2) Ansiedade “Talvez pela questão nervosa que eu tenho sempre. Durante o dia, por vezes ando esquecida, eu até tenho um papagaio e entretenho-me muito com ele, porque, pronto é a única companhia que tenho, converso com ele como converso com uma pessoa e ele conversa comigo. O resto sei lá, a vida! A vida toda, sempre os nervos …os nervos.” (E8) “E aconteceu isto! Não sei se foi de (…). Se foi da questão nervosa? Porque custa muito a gente estar só, sinto-me sozinha completamente. Ver o meu marido da maneira que está. Pronto, tenho tido uma vida mesmo muito, muito, muito difícil. A vida dos pobres já se sabe como é que é! É difícil. Os meus filhos é que estão a pagar para o pai estar num lar, isso tudo mexe comigo.” (E8) [Vive sozinha] “Tenho ideia …aah …foi os nervos, que sim! Considero mesmo, foi uma vida que nunca foi... como é que eu hei-de dizer (…). Ando sempre nervosa. ” (E8 )[ Refere-se aos acontecimentos com que se tem confrontado ao longo da à vida quotidiana] Aterosclerose “Bom! A minha situação... é uma situação, que tudo levava a crer que nada disto acontecesse!... Porque sendo eu uma pessoa que, não fumo, pelas análises não tenho colesterol, não tenho diabetes, sou uma pessoa que faço caminhadas a pé... quer dizer... os considerados riscos para uma situação destas... estavam excluídos... estavam... poder-seà dizer que não se tinham em conta, neste caso, mas o fato é que eles ocorrem também e eu sou um fato disso, mesmo não comendo gorduras, mesmo não tendo diabetes não tendo colesterol, o que é fato! É que ele ocorreu.... hoje sou levado a concluir que teve que haver uma situação, que tem a ver com... Aterosclerose ”. (E4) “Eu acho que contribui (…) talvez excesso de gorduras no coração. De gorduras ou outras matérias que possam impedir as veias de trabalhar corretamente.” (E9) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “(…) eu penso que levo uma vida saudável,(…) mas a minha vida ultimamente tem sido um pouco… complicada. Há pouco tempo faleceu um primo, que era como um irmão. Que pronto, faz mais uma mossazinha no coração.” (E7) Perceção das Causas da Doença Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “(…) dois dias antes houve um filho de Lisboa, que me telefonou, falou assim umas coisas, que eu não gostei, e a partir daí eu ... pronto, dois dias depois, vim parar ao hospital…portanto eu acho que, foi devido aquela... estar a remoer aquilo.... aqueles dois dias...porque eu fique irritada... irritou-me... porque fiquei chocada com aquilo que ele disse, e eu fiquei a remoer para mim. Tenho ideia que foi tudo nascido daí.” (E5 ) Alterações “ (…), esta situação climatérica também mexeu comigo,(…) a água que supostamente devia de ser canalizada entra-me toda para dentro de casa,(…) devo-me ter enervado na altura, que nem dei conta… mais um pouco de raiva de novamente ficar com tudo estragado em casa… e ao mesmo tempo a… o trabalho em si de tirar os baldes de água com velocidade, ou seja, o trabalho mais a fúria que estava dentro de mim deve ter provocado, realmente, o meu coração não… não foi suficiente para aguentar isto, e pronto.” (E7) emocionas “Enervei-me sim. Enervei-me. Não na altura. Não dei conta, mas… pronto. Depois, quando parámos, e quando tirei a água toda de casa (risos) parece-me que sim, que me enervei a sério.” (E7) “(…) Depois ele chamava-me muitos nomes, chamava-me “p....”, chamava-me bêbada, chamava-me de tudo, aquelas porcarias. E ele sabe bem que eu não tenho nada disso, Graças a Deus... e pronto tudo aquilo ruía cá dentro.” (E8)[referindo-se ao marido] “Nunca foi fácil a vida, nunca tive alegria, nunca fui pessoa de sair, assim para aqui ou para ali (…) ele chamava-me logo “vadia” se eu quisesse ir mesmo com as outras pessoas, era sempre uma chatice…havia sempre problemas” (E8)[referindo-se ao marido] “Às vezes também a gente... por vezes a gente que é... com a mulher, não é? Também temos bocados que podemos ter uma zanga. Ou ela dizer uma coisa e eu não concordar. E a gente estar ali... estar ali um bocado coisa... ora estar ali... eu sou uma pessoa que me enervo muito e ela diz: não te enerves (…).Talvez ajudasse para também um bocadinho.” (E10) Abandono de Medicação “(…) faço medicação, é para o colesterol, é para o coração, é para muita coisa. E eu como andava assim muito cansada de tomar remédios, (…) como era um coiso tão grande de remédios, que eu parei, talvez umas três semanas, eu parei! (…). E aconteceu isto! Não sei se foi de eu parar os remédios? Mas penso que foi isso (…), que foi de parar.” (E8) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “O tabaco! Que me levou a isto. Durante estes cinco seis meses, tenho tido também uma vida bastante stressado, e também teve um bocado contribuição para isso... Agora é lógico que o tabaco, que toda a gente que reconheça e veja, que o tabaco é um grande prejuízo!” (E3) “No meu ponto de vista o tabaco …fumo! Fumava até aqui…o tabaco é uma coisa que faz mal à saúde, faz com apareçam estes problemas!” (E3) Tabagismo Perceção das Causas da Doença Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “Segundo fumava... penso que não fumava muito, mas é um dos fatores, um maço de tabaco dava-me para 4 dias, fumava à volta de 5 cigarros por dia, às vezes mais se me enervasse, comecei cedo a fumar, mesmo poucos cigarros…mas também ajuda” (E2), “Eu tive... aqui por uma curiosidade, agora por estar a falar nisso, eu em 2003 andava a trabalhar num local… Trabalhava na Calçada à Portuguesa (por conta própria) e do qual já em 2003 eu senti de fato, uma dor do lado esquerdo, essa aí foi do lado esquerdo. Senti uma brutal picada, disse à minha esposa que me estava a doer, fui para casa, eu deitei-me em cima do sofá e não recorri a qualquer urgência médica e... aquilo passou… eu pensei tenho que deixar o tabaco. Por isso o mal já cá estava nessa altura, tive a sorte dele ter passado.” (E3) “Isso tabaco fumei. (…) Talvez, talvez. Talvez fosse de ter fumado tanto. Dos 13 aos 45 anos. Mas vou a um doutor, estava doente com uma gripe e a vós ia-se-me embora, isto em Paris. E diz-me assim o senhor doutor: « o senhor fuma.» que tinha na altura 44, 45 anos. Eu digo: «fumo senhor doutor. Fumo o quê? Um maço, dois. Ó senhor doutor talvez fume mesmo mais.» e na altura fumava 3 maços. E diz-me ele assim para mim: «se quer durar algum tempo, deixe de fumar de imediato! Porque você não vai durar 8 dias.». (respondi) «muito obrigado senhor doutor.» e daí para cá nunca mais fumei um cigarro, mas lá está o mal, já está.” (E9) “(…) a minha vida profissional era andar sentado desde os 16 anos, é ... os riscos que me levou a isto... , penso que são fatores… são muitos anos sem exercício, não há tempo… vamos se habituando a este ritmo. Eu passo muito tempo sentado!” (E2 ) Sedentarismo “Preparação física não fazia (…),eu até que gosto, mas e… tempo, ando muito sentado. Agora tenho que ver como é (E2) “Trabalho mas mexo-me pouco (…), porque estar a ir para ginásio ou para aqui ou para acolá, não fazia. Eu vou trabalhando cá na minha vida, mas aquele exercício… não faço… se calhar … fazia-me falta” (E6) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “... eu julgo que me, surgiu ter este problema de saúde, do qual eu nunca esperava, a gente pensa que acontece só aos outros... mas de facto bateu-me à porta, a mim. (…), isto é pelo café, pelas gorduras, pelos hábitos de comida que a gente tem, (…)” (E3) “O que influenciou esta situação…Alimentação... eu tenho uma alimentação!... é óbvio que quando vamos a um médico, o médico diz para termos cuidado com as gorduras, para termos cuidado com o sal, cuidado com aquilo que come!... eu não tinha esses cuidados, eu nunca tive muitos cuidados... muitos, não!... nenhuns, eu nunca tive cuidado nenhum com a alimentação, eu comi sempre de tudo “a meu belo e prazer”, aquilo que gosto…” (E3) Perceção das Causas da Doença Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “A sopa, por exemplo é uma das coisas que eu pouco como, tenho comido mais estes dias que estou no hospital, mas acho que a sopa é uma das coisas que faz bem à saúde e ajuda a combater muita coisa, as verduras.”( E3) Hábitos alimentares “Penso! Penso, principalmente o sal, que eu era uma pessoa que gostava muito de comer com sal. Eu sei que não devo comer as coisas salgadas, sei que isso me faz mal… isso também contribuiu para estar aqui ” (E3) “(…) eu engordei muito em quatro meses, … e como sou uma pessoa baixa (...). Também … noventa e Sete quilos... e o médico disse-me: - “ Isso é peso a mais... a senhora não pode (…) só sei que veio isto. Quase de certeza que é do peso.” (E5) “Foi capaz de ser um bocadinho abusador, é claro! (…). Abusador no comer, sabe bem, comemos muita coisa que não era preciso. Julgo que ajudou para a doença”(E6) “Pois, era o sal, e não me importava às vezes de comer alguma gordura. . Mas sabe-me bem a comida salgada, eu sei que não devia…agora olhe, aconteceu…” (E6) “Sal, eu sou uma pessoa muito amiga do sal, eu sei que também foi isso, (…) o comer ,... gosto da comida com sal… sei que me fez mal.” (E10) HTA “Aconteceu porque também (…) eu sou Hipertensa, (…) ao almoço eu como estou sozinha em casa, às vezes como uma sandes, pronto, como qualquer coisa, nem é excesso de comer... ao fim de semana, é que já comemos refeições mais… confecionadas…” (E5) “Costumava a ter a tensão alta. (…). Um bocadinho alta, entre os 16 mas o 9 da mínima era sempre 9, sempre 9 (…), tomava para a tensão todos os dias meio comprimido, … leva a estas coisas.” (E6) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “Pronto, eu... as minhas preocupações agora é apenas recuperar aquilo que puder, só quero recuperar, estou preocupado em recuperar, sei que não é de repente… A doença, eu estou consciente que foi grave. Estou consciente daquilo que tenho. Por isso é que... pronto, vou... vou fazer o possível para que... recupere,.” (E1) “As preocupações é tentar agora adaptar-me a um nível de vida totalmente diferente... porque é o que eu vou ter de fazer…os esforços, atividades, o sistema nervoso, que é a tal coisa, eu basta qualquer coisinha para me enervar, e agora não sei... será que vou ter medicação para esses nervos?” (E2) Preocupações com a Doença Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “O que me preocupa é o cansaço que sinto. Porque, pronto... em pequenos exercícios, mesmo a tomar banho, a andar, ás vezes a comer, e fico um bocadinho cansado. Isso preocupa-me um bocado... pronto... e estou esperançado que com uma ajuda... que eu possa ter... que recupere mais que aquilo que estou. Neste momento a recuperação está muito frágil ainda.” (E1) Limitações funcionais da doença “As minhas preocupações? Além de ter este Enfarte, a primeira preocupação é será que eu fiquei 100% bom?” (E3) “A preocupação é... por um lado, eu agora adquirir o conhecimento de todas as suas implicações. Não estou habituado a adaptar-me a uma situação de doença... primeiro ponto. Segundo ponto, agora tenho que compreender... o que é?... eu sei o que é!.. mas quais são as implicações, e qual é realmente a dimensão da gravidade desta ocorrência...” (E4) “Olhe o médico disse que teria que ter certos cuidados, não fazer esforços, ter uma vida... não pegar em pesos. Ainda só tenho 56 anos, gosto de viver... e então! Estou preocupada ” (E5 ) “Preocupa (…) deixar de fazer esforços, deixo mesmo de fazer. Não posso, não posso, paciência” (E6 ) “(…)Se há alguma coisa, aah… alguma coisa que vou ter de deixar de fazer. Também gosto de desportos radicais, estou com receio que me digam que já não posso fazer mais (risos).” (E7) “(…) pronto, tenho receios de poder deixar de fazer coisas que gostava de fazer… Se por exemplo nadar, sei que puxo bem pelo coração e não sei bem se poderei fazê-lo?” (E7) [Refere-se ao desporto que pratica]. Sexualidade “(…) que agora durante as primeiras quatro semanas, que não devo... praticar sexo... e depois tentar a normalidade... e espero que sim! Porque também é uma das preocupações!... um casal novo!... um homem novo, não é!?... pronto além de ter filhos, estou à espera de outro....” (E2) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado Regime alimentar “Olhe o Médico... disse-me que eu precisava de emagrecer 30 kilos, estou preocupada! são muitos quilos, nem sei como vai ser!” (E5) “Preocupa, o comer,( …), a tensão alta porque estando alta já a coisa não está... como deve ser, não é. ?Tenho que ter regra na alimentação, eu sei, penso que vou cumprir as recomendações, mas ao mesmo tempo preocupo-me se alguma vez não consigo e como o que não devo, gorduras, doces… ” (E8) “Estou preocupado, derivado, à vida que eu tenho... a vida que eu tenho! Não posso parar os camiões ou fazer isto, tudo isso me preocupa um bocado, a minha vida...” (E2) Preocupações com a Doença Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “(…) Vamos lá ver! Isto nesta altura, ainda não sei bem como é que é, isto foi à pouco tempo...preocupa um bocadinho de tudo! Eu agora estou às escuras, não é? Eu agora sei que é a alimentação!... é um bocadinho de tudo... tudo isso me preocupa, como é que vai ser o dia lá fora ?” (E2) Futuro profissional “Tenho essa preocupação de não poder fazer isto, não poder fazer aquilo. Nem quero bem pensar agente não poder fazer as coisas… trabalhar ” (E8) [Refere-se ao trabalho] “Preocupa é... uma pessoa hoje já... já não ser... daqui para a frente já não ser a mesma pessoa que era, a respeito de a gente (…), não é? As coisas de trabalhos... agora tenho que me evitar dessas coisas.” (E10) “(…) não sei se é aqui que me vão medicar, se já veio de Lisboa, porque entreguei um envelope, que teria que tomar um comprimido, não sei se é, para toda a vida, se como é? (…)” (E5) [Após realização de cateterismo cardíaco] Dependência e “Também estou. Estou, de facto estou. Porque sou uma pessoa que me considerava saudável… que nunca tomo nada mesmo… nunca ando com comprimido nenhum atrás de mim. E se calhar a partir de agora… se calhar terá que andar e preocupa-me.” (E7) cumprimento da medicação após a “A medicação, também, preocupa, sim. (…) Como é que eu vou viver daqui para a frente.” (E7) alta hospitalar “Estou a preocu… aah…é se eu for capaz realmente levar as coisas como deve de ser, as coisas a sério, tomar a medicação como deve ser Sim, se não serei capaz. Porque o meu cérebro com estas coisas mais recentes que têm acontecido, estou com muita falta de... pronto, não sei como é que hei-de explicar? Não me lembro das coisas (…).” (E8) “Olhe preocupação…com a medicação sim! Porque eu já troco muito as medicações.” (E8) Apoio familiar “Não me preocupa ser pobre, sempre fui pobre. Preocupame a doença, se me dá outra vez, com os filhos longe, pronto... não tenho a quem me agarre. Se isto me torna a dar, eu sozinha...” (E8) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “Sim, sim, vou. Eu gostava muito de um cozido à portuguesa, às vezes um... uma carninha assada no forno. Pronto. Isso eu sei que estou limitado, porque sei que terá de ser tudo mais simples, pronto, sem aquelas... sem aqueles ingredientes que eu podia comer, e agora sinto que não posso.” (E1) “…Em relação ao comer vai-se tentar, e julgo que vou conseguir reduzir muita coisa, vou deixar de comer muita coisa que comia até aqui, tem que ser…isso tem.” (E3) Alterar os hábitos alimentares Reestruturação dos Hábitos de Vida Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “Sim, pois, já sei que estou, pronto, restringido na alimentação, já não é aquela que tinha porque agora tenho de ter... além de eu ter um certo cuidado, agora o cuidado agora tem de ser outro...” (E1) “(...) já sei que vou ter que fazer uma dieta, não é? Para meu interesse... por causa do que me aconteceu, estou muito pesada.” (E5) “(…) também preciso mesmo de ter uma regra na alimentação.” (E5) A alimentação também, tenho que ter cuidado com ela. (…) mas vou deixar também de comer carne de porco, (…) o meu estômago também não é muito bom, vou comer outras carnes, tenho que evitar isso, se quiser durar mais uns aninhos.” (E6) “Vou mudar, já me apercebi, alimentação, essa é uma delas... e esforços e isso, é outra! A minha mulher à noite faz é uma sopinha e qualquer coisa grelhada, vai ter que ser assim sempre” (E6) “Pois, a alimentação já não pode ser o que era, uma pessoa poder comer de tudo. Pronto, vamos... vamos a pouco e pouco... E sou capaz.” (E10) “(…) eu penso nós em termos de força de vontade…que é o que eu tenho, muita!...A gente consegue logo uma ajuda para as doenças. Que é o que eu digo (…)“Nós com força de vontade, conseguimos tudo...”, e para mim tem de ser igual, tenho de arranjar… para... tentar passar estes problemas, estas coisas.” ( E2) Estratégias de adaptação à doença “Vai! Vai sofrer alterações, com muita força, tenho que ter muita força de vontade para que essas alterações... principalmente o stress, vou ver se consigo combatê-lo, vou ver se consigo fazer as coisas de outra forma. Ser uma pessoa mais calma.” (E3) “Olhe não me enervar, ter uma vida talvez mais calma...” (E5) “Vou tentar, e já percebi isso… não me enervar, não é? É uma daquelas coisas que uma pessoa tenta, mas às vezes… não consegue ultrapassar. (…) porque pronto…” (E7) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado Reestruturação dos Hábitos de Vida Restrição do esforço físico “Esforços vou deixar de os fazer, não é? Tenho que ter muito cuidado com isso. Eu quero ter cuidado com o fazer as coisas… não vou esforçar, isso acabou, tenho que olhar por mim. Eu agora vou evitar também de fazer certas coisas que não posso fazer lá na horta, e essas coisas. ” (E6) “O que pode vir a alterar é eu deixar de fazer as coisas… Coisas de trabalhos. Lá do campo. Porque tenho um casal... pronto, não é que seja grande, grande, mas ainda é um casalinho grande. Exato. É isso que eu...é isso que eu agora penso, vou deixar de fazer certas coisas. Deixá-las para trás, esquecer.” (E10) “Mas pelo que me estou a aperceber agora, o tabaco tem de sair também da minha ideia completamente”. (E3) Alterar práticas /rotinas diárias A Informação Valorizada na Preparação para a Alta Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “Pronto. Eu sei. Eu sei que fiquei limitado. Fiquei limitado de trabalho em certas coisas, mas pronto, vou recuperar até que possa, o mínimo de... tirar o mínimo da vida.” (E1) “…Pronto, já tenho conhecimento que pode vir a acontecer e que tenho que no dia-a-dia ter certas normas de vida, talvez!” (E5) “(…) vou ter que ter mais cuidados, provavelmente, se calhar, tenho que ter hábitos novos …que antes passavame tudo ao lado…, talvez mudar o que tenho por hábito…fazer , não sei muito bem… sinto-me um pouco perdida com algumas dúvidas, se continuo a poder fazer desporto… talvez deixar de fazer tantas vezes.” (E7) “Estar mais informado sobre a doença que tive. Para que possa tomar mais... mais cuidados.” (E1) “Em alguns aspetos...mais... informaram-me que eu tive um enfarte, gostava de saber mais sobre essa doença, que ainda não estou bem informado sobre essa doença… gostava de saber mais sobre isso...” (E2 ) Informações sobre a situação clínica “…porque eu desconheço... desconheço o problema da doença, oiço falar em enfartes, mas nem sabia, nem sei qual é o resultado… gostava de ter essa noção que não tenho, ser bastante esclarecida… Pronto, soube agora que foi uma veia que entupiu... que me fazia aquelas dores, me podia ter levado à morte, ter caído para o lado de um momento para o outro.”(E5) “Explicaram que eu tinha tido um enfarte e pronto, gostava de saber mais. Como aconteceu,… o que provoca, o que a pessoa sente, isso apercebi-me , mas gostava de explicações. ” (E8) “Não ninguém me explicou nada por que é que se passou, o que é que não se passou… qual é a minha situação?... já lá está. Até à data ainda não apareceu ninguém a dar-me explicações, ou dar-me conselhos ou por que é que veio ou por que é que não veio, de nada... nada.” (E9) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “(…) que eu gostava mesmo de sair mesmo informado. Porque eu ainda agora me aconteceu, pedi às senhoras: “Olhe traga-me manteiga sem sal!”...mas à bocadinho veiome trazer e trazia-me manteiga com sal, e eu digo assim: “Será que posso!?...Será que não posso!?...”, é essas coisas.” (E2) “Pronto, falo na parte da alimentação! Que eles já me falaram... mas aí gostava que fosse um bocadinho mais informado...” (E2) A Informação Valorizada na Preparação para a Alta Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “Dar uma ajuda na alimentação… quer dizer o que devemos evitar mesmo de comer. Do que estamos habituados, o que não devemos de comer” (E1) Informação acerca da alimentação “Todas as que fossem possíveis, eles têm me estado a explicar, que tudo vai ser diferente, tem de ter cuidado na alimentação, tem de fazer... ter atividades físicas, isto e aquilo... mas gostava que houvesse ainda mais um bocadinho…” (E2) “Eu gostava que eles me recomendassem, alguma coisa para eu deixar de comer isto ou comer aquilo, dissessem, porque eu isso cumpro logo.” (E6) “Gostava que me aconselhassem dos aspetos da comida, o que podemos comer e beber, é essas coisas todas... é assim (...)” (E6) “Talvez na comida. Na comida, no beber possivelmente... mas especialmente no comer, derivado às gorduras.” (E9) “(…) só queria é que me dissessem a referência suficiente daquilo que eu posso comer, é muito importante. Ajuda a cumprir se quisermos claro, mas é muito importante saber” (E9) “Que (…) me metesse ao corrente de tudo que me pudesse fazer mal. Não coma isto, não faça isto, não faça aquilo.”( E9) Orientação para consultas Informações acerca da Em relação às consultas gostava que me informassem como é … talvez pessoas com capacidade para isso para me inteirarem, das situações e falarem.” (E5) “(…) não sei se isto tem problemas com o sexo? Se não tem, mas se tiver, que eles me expliquem.” (E6) sexualidade “Sim. De medicação, de… se posso fazer desportos ou não? De… da alimentação… pronto. Basicamente será isso. (…)” (E7) Orientação na medicação “Gostava era na medicação que me digam bem como é. Eu depois tomo muito conta disso, das horas…. Mas a minha mulher também, é barra nisso”. (E6) “Fazer uma lista dos remédios que eu tenho que tomar, portanto, de manhã, ao almoço ao jantar, era bom.”(E8) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado “Pronto. Eu gostava que fosse informado de todas aquelas limitações que tenho, sei que tenho, mas que se for informado, se for melhor informado pode corrigir alguma coisa.” (E1) “É pronto, esclarecer daquilo que eu devo fazer e não devo fazer.”(E1) A Informação Valorizada na Preparação para a Alta Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “Gostava que dissessem (…) nas atividades que eu posso fazer ou não posso ... para eu saber bem, para estar bem informado da minha situação, do que não me trás mais doença”(E1) “ (...) das caminhadas e do exercício, falaram-me! mas ai não estou bem esclarecido ainda, nessa parte preciso saber mais.” (E2) “Na preparação física falaram-me um bocadinho mas eu ainda fiquei meio indeciso!.. Não sei se posso andar meia hora!?... Se é uma hora?... Se pode ser continuamente?... Se não posso?... Como é que vai ser!?... ainda queria que me informassem nesse assunto!...” (E2) Informação acerca da atividade física “Gostava de toda a verdade toda a verdade e dizerem o que devo fazer, o que não devo fazer, para eu tomar essas atitudes. Como lhe digo, eu como nunca tive conhecimento de um enfarte. Não tenho conhecimentos. Gostava era mesmo de saber o que posso ou não posso fazer… se posso pegar em sacos com peso, fazer as minhas coisas em casa…sei lá.... Que me explicassem como deve ser, por que eu uma pessoa positiva, e mesmo que sejam coisas más, eu gosto de as saber. ” (E5) “Tenho interesse é de eles me explicarem bem, o que é que eu tenho que fazer? E o que não tenho que fazer, agora se calhar não, mas gostava de saber como é com os esforços, se posso fazer as minhas coisas.” (E6) “Sim, o trabalho também não sei. Eu trabalho com crianças que… há momentos de stress. Á hora de ponta em que temos que acelerar bastante…pronto, (…). Mas… mas espero que isso não vá afetar nada. Pronto. É tudo curiosidades que espero que depois me esclareçam. ” (E7) “Pois, porque eu realmente gostava de estar informada do que é que posso fazer na vida.”(E8) “Gostava de saber do esforço que uma pessoa (…) que não deve. E coisas de... pois, acho que seja... acho que será disso que eles possam ajudar.”(E10) Preparação da Alta Hospitalar da Pessoa com Enfarte Agudo do Miocárdio Contexto ConstituintesChave Unidades de Significado A Informação Valorizada na Preparação para a Alta “Mais informação!... quando digo mais, não é em quantidade!... a referir à qualidade da informação!...deve ser muito explícita”. (E4) Transmissão da informação de forma “(…) penso que até mesmo esta literatura, que aqui está, ou esta informação, (…) devia de ser mais desenvolvida. (…) se lerem isto, de uma forma superficial tudo ficará na mesma.” (E4) personalizada “Deve haver realmente uma informação, concisa e precisa mas mais desenvolvida.” (E4) “Mas gostava de ter, faz de conta uma aula, não é! “- Olhe o senhor é o aluno, teve um problema eu sou o professor, vou-lhe dizer as consequências, se a senhora continuar a fazer esta vida pode amanhã ter outra vez o mesmo problema, se fizer esta vida está mais segura.” (E5) “Deram-me um folheto a informar disso, que agora durante as primeiras quatro semanas, que não devo... praticar sexo…”(E2) Informação escrita complemento da informação oral Intervenções dos enfermeiros na Preparação para a Alta Estrutura Essencial: A vivência da Pessoa com E A M na Preparação para a Alta Hospitalar “Sim, para aquele doente! E insistir qual é a dúvida, não é?!... que não seja de uma forma assustadora, mas que seja de uma forma gradual, com esclarecimento, (…)” (E4) “Não só fundamentais, como relevantes, para o esclarecimento, pleno da pessoa que de aqui sai. Se os ler!...”( E4) ) [Refere-se ao panfleto entregue pelo enfermeiro antes da alta ]. “Sim, ao longo do... ao longo do internamento fui, pelos (…) enfermeiros que me explicavam. Aquilo que eu devia fazer, caminhar lentamente até ir-me recuperando. “ (E1) “ Eu julgo que as informações que eu gostaria que o enfermeiro (…) me informasse, sobre esta situação!” (E3) Educação para a saúde “ (…) estou á espera que alguém da parte da enfermagem me esclareça tudo. Tudo o que eu tenho que fazer, o que eu tenho que deixar de fazer… que seja mais esclarecida… coisas que até não me estou a lembrar que me possam alertar.” (E7) “Só gostava da referência quando saísse... que seja uma senhora enfermeira (…) que me dê a referência que eu tenho a seguir.”(E9) “Acho que os enfermeiros me vão dar informações suficientes para que eu possa seguir a minha vida normal. ” (E9) Reconhecimento “Porque nós se não formos informados por quem sabe por vezes não seguimos o que é correto.” (E1) de competência Profissional “ (…) deste hospital, no qual tenho sido muito bem tratado, tenho apanhado excelentes profissionais, (…), enfermeiros, colaboradores.” (E3)