A IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSCIENTIZAÇÃO

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VII SEMEAD
ESTUDO DE CASO
GESTÃO SOCIOAMBIENTAL
A IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL:
UM ESTUDO DE CASO NO SANTANDER BANESPA
Maria Cristina Reszecki Alves Cruz
Mestre em Administração pela FEA/USP e Coordenadora do Programa Consumo
Consciente do Santander Banespa
[email protected]
(11) 5538-7628
A IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL:
UM ESTUDO DE CASO NO SANTANDER BANESPA
Maria Cristina Reszecki Alves Cruz
Mestre em Administração pela FEA/USP e Coordenadora do Programa Consumo
Consciente do Santander Banespa
[email protected]
(11) 5538-7628
(11) 9624-1433
RESUMO
O presente trabalho descreve os passos e os resultados da iniciativa de uma empresa do setor
financeiro ao adotar um programa de conscientização dos funcionários com relação à
utilização de materiais provenientes de insumos naturais, especificamente o papel.
Um dos objetivos da empresa ao implantar o programa, denominado Consumo Consciente,
foi conscientizar os funcionários sobre o consumo de papel e despertá-los para as maneiras
de se evitar o desperdício, buscando o comprometimento de cada um e não simplesmente
estabelecendo metas de consumo ou redução de cotas de utilização.
A empresa lançou uma campanha interna, composta por dois concursos que buscaram, um a
participação individual através do envio de sugestões e outro a participação coletiva das
áreas, o que viabilizou a mensuração dos resultados da campanha.
Analisando os resultados dessa iniciativa observa-se que os empregados responderam
favoravelmente aos estímulos, indicando que é possível causar uma sensibilização que gere
uma atitude favorável e provoque uma mudança de comportamento.
PALAVRAS-CHAVE
Consumo consciente, comportamento, atitude, banco, setor financeiro, 3 Rs, reduzir, reciclar,
reutilizar, redução de desperdício.
INTRODUÇÃO
Uma dos grandes desafios que as empresas têm enfrentado ultimamente é com relação às
questões relativas ao meio ambiente. O conceito de Desenvolvimento Sustentável deixou de ser
uma preocupação do governo e passou a ser assunto de interesse de empresas e da sociedade.
Apesar das diferentes definições há um entendimento de que desenvolvimento sustentável é o
tipo de desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.
Por um lado governos se preocupam com a degradação ambiental causada pelo uso desmedido
de insumos naturais, pela poluição, pela geração de resíduos, etc. Por outro lado as empresas,
seja pela própria importância e conscientização com relação ao assunto, ou pela busca de
redução de desperdício, seja por pressão de mercado, de governo, de acionistas ou dos próprios
funcionários, também despertam para a necessidade de fazerem algo com relação à gestão
ambiental, dentro de sua área de atuação. As empresas ambientalmente responsáveis buscam
atender à sustentabilidade adotando atitudes responsáveis de curto, médio e longo prazos,
assegurando a satisfação das necessidades organizacionais.
A operacionalização da gestão ambiental nas indústrias, causadoras de diversos tipos de
poluição, é mais visível, uma vez que podem ser implementadas ações que reduzem o impacto
ambiental negativo, como instalação de controle de poluição em chaminés, rede de esgoto, etc.
As empresas de ramos cuja operacionalização não é tão visível têm buscado alternativas como
utilização racional de recursos naturais. Para isso, além de uma boa gestão a empresa pode
contar com seu corpo funcional, pois cabe a cada um, como cidadão, atuar de forma consciente
e contribuir individualmente na redução do desperdício.
O princípio dos 3 Rs, reduzir, reutilizar e reciclar, tem norteado as iniciativas das empresas na
busca da responsabilidade de cada um no ciclo de aquisição, consumo e descarte dos insumos
utilizados. Esse princípio visa a redução do uso de matérias-primas e do desperdício, a
reutilização dos produtos e a reciclagem de materiais.
Os bancos têm descoberto maneiras de contribuir para o desenvolvimento sustentável na
atuação junto aos fornecedores, selecionando empresas ambientalmente responsáveis, junto aos
clientes, na hora de conceder financiamentos e analisando como o recursos será utilizado e
junto aos funcionários, implementando ações que incentivem a prática da responsabilidade
ambiental, buscando uma mudança de postura de seus colaboradores com relação ao uso
racional de insumos provenientes de recursos naturais.
Nesse contexto a abordagem principal deste artigo é analisar o processo de implantação de um
programa de propósito ambiental feito por uma multinacional do setor financeiro cujo objetivo
foi promover, através da conscientização e da educação, uma mudança de comportamento de
seus funcionários quanto ao consumo e ao desperdício de papel. Neste trabalho serão
apresentadas as medidas implantadas e os resultados obtidos.
A INCLUSÃO DA VARIÁVEL AMBIENTAL NA GESTÃO EMPRESARIAL
A inclusão da gestão da variável ambiental nas empresas amplia o conceito de administração
pois embora os objetivos não sejam puramente econômicos acabam influindo na estrutura
organizacional e no planejamento estratégico, assumindo papel de relevância na organização
da empresa. O arranjo organizacional de uma empresa que queira considerar aspectos
ambientais na sua gestão dependerá, além do tipo de atividade que ela desempenha, de como
ela operacionalizará os aspectos envolvendo as variáveis ambientais. Segundo Donaire (1995)
não pode ser uma atividade de linha nem de staff, pois é fundamental que as atividades
relacionadas à proteção ambiental sejam de interesse da alta administração e de todos os
setores da empresa e, simultaneamente, exige um corpo técnico que tenha condições de
orientar os outros setores e implantar efetivamente as medidas necessárias à proteção
ambiental.
As empresas que usam maior quantidade de recursos naturais e as que causam mais poluição já
convivem com as questões ambientais há mais tempo que as empresas financeiras, sendo assim
elas já têm parâmetros para realizar a gestão ambiental, pela cobrança da própria população
que está mais consciente e consequentemente exigindo mais correção por parte das empresas
com relação aos danos causados à natureza. Conforme Donnaire (1995) nos tipos de indústrias
que causam diversos tipos de poluição a gestão ambiental ocorre de três maneiras. Na primeira,
na maneira reativa, a empresa busca minimizar a poluição controlando as saídas, como
chaminés e redes de esgoto, mas mantendo a estrutura produtiva existente. Essa solução pode
ser insuficiente e cara, o que faz a indústria buscar uma segunda solução, integrando a gestão
ambiental aos processos produtivos. Assim o controle da poluição deixa de ser feito nas saídas
e passa a ser integrado às funções da produção. Esse é o modo de integração, assim as ações
passam a ter um efeito preventivo, que envolve desde a seleção das matérias-primas até a
reciclagem de resíduos. A terceira maneira de gestão consiste na adoção de uma postura
proativa da indústria ao integrar a variável ambiental na estratégia da empresa. Parte das
empresas estão na fase reativa, a maioria está na fase de integração nas práticas produtivas e
uma minoria está na fase proativa.
De acordo com Bateman & Snell (1998) as principais razões que levam as empresas a
incorporarem a variável ambiental na sua gestão são:
- a necessidade de obedecer as leis;
- tornar-se mais eficaz reduzindo custos com reciclagem, diminuição do consumo de matériaisprimas e energia, evitando desperdício;
- ser mais competitiva e abrir novos mercados;
- não correr o risco de comprometer sua imagem junto à opinião pública, associando suas
atividades com poluição e degradação ambiental;
- a responsabilidade social e ética das empresas com a sociedade no presente e no futuro.
A incorporação da variável ambiental pelos bancos pode ser feita tanto através de ações
internas, junto aos seus funcionários como através de ações externas, voltadas para os clientes
e para o mercado.
A atenção das questões ambientais junto aos bancos foi atraída por casos judiciais nos Estados
Unidos nas décadas de 80 e 90 quando alguns bancos de crédito foram responsabilizados por
danos ambientais causados pelas empresas para as quais emprestaram dinheiro. No Brasil o
governo tem elaborado medidas na tentativa de estimular a atuação ambientalmente
responsável dos bancos. Uma delas é a instituição do Protocolo Verde, em 1995, que, em
linhas gerais, obriga os bancos nacionais a analisarem cuidadosamente os pedidos de
financiamento e só liberarem crédito para aqueles em estrita consonância com os objetivos do
desenvolvimento sustentável (Mac Dowell, Corrêa, 1997).
Como exemplo de atuação crescente em programas ambientais voltados para o público interno,
o Bank of America apresenta em seu relatório de atividades para o biênio 2003-2005 várias
prioridades, entre elas a redução do consumo de energia em torno de 3% através da
implementação de projetos de eficiência em energia; esforços para reduzir o consumo e o
desperdício de papel; iniciativas para aumentar a reciclagem de papel, entre outras. Em 2002 as
compras de papel reciclado pós consumo representaram 75% do total de papel adquirido e o
banco reciclou mais de 31.000 toneladas de papel.
A IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA CONSUMO CONSCIENTE
NO SANTANDER
BANESPA
O Santander Banespa é uma multinacional do setor financeiro com sede na Europa. A
implantação do programa de conscientização ambiental foi feita no Brasil, por isso a descrição
da empresa ficará restrita às características das unidades aqui instaladas.
A empresa conta com cerca de 22.000 colaboradores, entre funcionários, estagiários e
terceiros. Possui mais de 1.500 pontos-de-venda (agências e postos de serviços) instalados em
todo o País, estando a maior parte concentrada na região Sudeste. A área administrativa é
centralizada em três centros administrativos instalados na Cidade de São Paulo, que
concentram cerca de 6.000 trabalhadores. Há escritórios instalados em Porto Alegre, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro e centrais operacionais espalhadas em bairros como Morumbi,
Cerqueira César, Centro, etc. O Grupo Santander adquiriu alguns bancos aqui no Brasil e
mantém 2 marcas, Santander e Banespa.
Um dos valores da empresa é estar inserido de forma responsável nas comunidades nas quais
opera, investindo no desenvolvimento sustentável e incentivando os seus funcionários a adotar
padrões de comportamento diferenciados em relação ao consumo de insumos de modo a criar
condições necessárias para que essa mudança cultural ocorra.
A primeira medida que a empresa adotou visando as questões ambientais foi a
disponibilização para utilização pelas áreas internas, em maio de 2003, de um papel 30%
reciclado que não passa pelo processo de branqueamento e por isso não gera resíduos tóxicos
ao meio ambiente, mas que, pelo mesmo motivo apresenta uma aparência escurecida. O papel,
embora destinado somente para correspondências internas, não era de uso obrigatório, ficando
a critério de cada área, na hora de fazer o pedido, escolher o tipo de papel – branco ou
reciclado. A implantação desse papel não gerou o resultado esperado, pois nem todas as áreas
aderiram à idéia. Além disso, o processo de comunicação sobre o uso do papel precisava ser
conduzido de forma que todos tivessem contato com esse tipo de papel e entender os
benefícios ambientais do não branqueamento. O consumo de papel branco aumentava
progressivamente todos os meses - e em nenhum mês havia redução no uso.
Os executivos identificaram que a redução do consumo de papel, ou seja, a redução do
desperdício, assim como a utilização do papel reciclado por uma quantidade maior de áreas,
não dependia somente de uma comunicação informando sobre o desperdício gerado ou sobre as
vantagens de utilização daquele tipo de papel. Dessa forma, em maio de 2003, duas vicepresidências resolveram lançar um programa de conscientização ambiental na empresa,
destinado aos funcionários, estagiários e terceiros. Para estruturar o programa foi constituído
um comitê composto por representantes de 19 áreas da organização, que se reunia
semanalmente para discutir as ações para que os objetivos fossem atingidos. Em julho daquele
ano os dois vices selecionaram uma coordenadora exclusivamente para conduzir o comitê e o
programa, sendo responsável por criar sinergia entre as áreas e promover o lançamento e a
coordenação do programa. Em outubro de 2003 o programa foi lançado simultaneamente em
todas as unidades do banco.
Foi criado um logo e um slogan específico para o Programa: Consumo Consciente – atitude no
presente, garantia de futuro, cuja frase reflete bem os objetivos do programa.
OBJETIVOS DO PROGRAMA CONSUMO CONSCIENTE
O programa foi estruturado no conceito dos 3 Rs, reduzir – reciclar – reutilizar. Os objetivos
propostos para o Programa foram:
• Conscientizar as pessoas em relação ao consumo de insumos, tendo como consequência
a preservação do meio ambiente;
• Promover a mudança de comportamento das pessoas que trabalham na empresa, em
relação ao uso dos insumos;
• Adotar estratégias visando o comprometimento individual e coletivo em relação ao uso
de insumos;
• Formar e capacitar pessoas para atuarem como multiplicadores de práticas conscientes
quanto ao uso racional de insumos;
•
Promover a educação ambiental e fomentar o espírito de colaboração em torno de temas
socioambientais.
Com base nesses objetivos as ações do programa buscaram, através da conscientização e da
educação, promover a mudança de comportamento, manter a continuidade de hábitos
adquiridos e, através de adesões conscientes obter resultados duradouros.
De acordo com Robbins (1998), há pelo menos dois conceitos que precisam ser conhecidos
para se entender o comportamento das pessoas: os valores e as atitudes. Os valores representam
as convicções básicas, indicam se um modo específico de conduta é preferível pessoal ou
socialmente a um modo de conduta oposto ou contrário. As pessoas crescem ouvindo dizer que
certos comportamentos ou resultados eram sempre desejáveis ou indesejáveis a outros, e isso
ajuda a formar o sistema de valores de cada um. As atitudes são menos estáveis que os valores
e por isso a organização pode buscar criar condições para que se estabeleça uma atitude
favorável que possa levar o indivíduo a ter um comportamento desejável, mas isso não é uma
regra. Quanto mais específica a atitude que se busca, e mais específica a identificação do
comportamento relacionado, maior a probabilidade de que a organização consiga um
relacionamento coerente entre atitude e comportamento de seus colaboradores.
LANÇAMENTO DO PROGRAMA CONSUMO CONSCIENTE
O lançamento do Programa ocorreu em 20 de outubro de 2003, concomitante à divulgação da
primeira campanha – Salve uma Árvore - vinculada ao Programa, cujo enfoque foi a utilização
consciente do papel.
Várias ações foram estruturadas para que toda a organização tivesse, ao mesmo tempo,
informações sobre o lançamento do Programa e da Campanha, pois um dos objetivos do
lançamento era causar um impacto para que todos percebessem que a partir daquela data o
Programa Consumo Consciente havia sido lançado na organização.
Ações de comunicação começaram na semana anterior ao lançamento do Programa, quando
foram divulgadas mensagens pela intranet deixando em suspense que iria ser lançado na
empresa algo com o tema Consumo Consciente. Para o dia do lançamento foi previsto
divulgação de material alusivo ao programa e à campanha. Para que isso ocorresse
simultaneamente em toda a organização, nas centrais administrativas e em todos os pontos de
venda instalados pelo Brasil, várias ações de logística, incluindo previsão de quanto tempo o
material enviado pelo malote levaria para chegar a determinadas regiões, foram necessárias.
Também foram necessárias comunicações específicas com gerentes operacionais de cada ponto
de venda para que eles tomassem as medidas necessárias com o material de divulgação para
que, no dia marcado para o lançamento, todas a organização estivesse com a mesma
comunicação visual. Os materiais de divulgação foram encaminhados às agências,
considerando-se o tempo de malote entre as várias regiões, sendo recebidos pelos gerentes
operacionais na sexta-feira anterior ao lançamento, com orientação para afixação e
distribuição do material após o expediente, para não perder o impacto da segunda-feira, dia do
lançamento.
No dia do lançamento, que ocorreu numa segunda-feira, a estratégia de divulgação foi
composta pelas seguintes ações:
• distribuição de carta do presidente a cerca de 22.000 colaboradores, impressa no papel
reciclado adotado para uso interno, com logo criado especialmente para o Programa. A
carta apresentou o lançamento e a iniciativa do Programa, baseado no conceito dos 3 Rs
e chamou a atenção de cada um quanto a responsabilidade no uso adequado de insumos
naturais;
• afixação de 3.200 cartazes informativos em pontos estratégicos;
• colagem de 4.700 adesivos em impressoras;
•
distribuição de 22.000 folhetos explicativos, contendo sementes de árvores passíveis de
extinção. Nas centrais administrativas a distribuição foi feita por atores representando o
tema;
• afixação de 22.000 prendedores de papéis nas laterais dos monitores dos
microcomputadores, com mensagem sobre quantidade de árvores usadas na fabricação
do papel;
• instalação de 650 móbiles nas centrais administrativas;
• implementação da coleta seletiva de lixo nas centrais administrativas, com a instalação
de 240 coletores;
• inauguração da sala do Programa Consumo Consciente na central administrativa
matriz;
• divulgação do programa e da campanha nos veículos internos de comunicação – jornal,
mural e intranet;
• palestras no decorrer das duas semanas seguintes;
• abertura diferenciada da página da intranet;
• apresentação de filme motivacional, criado especialmente para o Programa;
• decoração dos centros administrativos com 9.000 vasos de flores.
Nas três centrais adiministrativas localizadas em São Paulo a distribuição da carta, a afixação
dos cartazes, a colagem dos adesivos, a afixação dos prendedores de papéis, a decoração com
as flores e a instalação dos móbiles foi feita durante o final de semana, de forma que quando
os colaboradores chegaram para trabalhar na segunda-feira, todos os ambientes estavam com o
material de divulgação do Programa Consumo Consciente e da Campanha Salve uma Árvore, o
que causou o impacto esperado.
A campanha foi composta por dois concursos – o Concurso de Sugestões, lançado em
20/10/2003 teve duração de 40 dias, buscou o envolvimento individual, em que cada
colaborador, pelo envio de sugestões pôde propor ações para serem adotadas pela empresa e
que promovessem o uso racional do papel, evitando o desperdício. O segundo concurso que
compôs a campanha visava o comprometimento coletivo das áreas em relação ao uso do papel.
Denominado Concurso de Desempenho das Unidades foi lançado em 4/11/2003 e teve
duração de 90 dias, sendo a forma encontrada para mensurar o quanto uma iniciativa desse
porte pode sensibilizar e causar uma mudança de comportamento em seus colaboradores.
CONCURSO DE SUGESTÕES
Lançado no mesmo dia do Programa e com duração de 90 dias, o objetivo deste concurso foi
receber sugestões que gerassem ações que pudessem ser implementadas na organização e que
contribuíssem para reduzir o desperdício do papel. Foi dirigido a todos os funcionários,
estagiários e terceiros, aproximadamente 22.000 pessoas. O período de duração foi de 20 de
outubro a 28 de novembro de 2003, e a premiação para as dez melhores sugestões foi uma
viagem a Fernando de Noronha.
O regulamento foi divulgado pela página do Consumo Consciente na intranet e também
impresso e afixado em locais estratégicos, tanto nas agências quanto nas centrais
administrativas. Para tirar dúvidas foi criado um canal de comunicação por e-mail e pela
página da intranet.
Para participar do concurso os colaboradores poderiam enviar suas idéias por um sistema que
ficou disponível na página do Consumo Consciente na intranet. Para os que não tinham acesso,
havia a possibilidade de envio por formulário em papel. Durante os 40 dias de concurso foram
recebidas 3.615 sugestões. Cabe ressaltar que essa foi a primeira iniciativa interna lançada pelo
banco para a participação dos funcionários com um tema que não fosse voltado para projetos
de trabalho e sim voltado para o meio ambiente. Outro aspecto importante a ser observado é
com relação à quantidade de sugestões, que superou o número de idéias recebidas de qualquer
outro concurso interno.
A participação dos colaboradores das áreas comerciais e das áreas administrativas podem ser
observadas pelo gráfico abaixo, no qual verificamos que embora os centros administrativos
tenham tido estímulos que as agências não tiveram, como decoração com flores, sala do
programa, distribuição de folhetos com sementes de árvore feita por atores representando a
campanha, etc. a participação tanto das centrais administrativas localizadas predominantemente
na Capital quanto das agências espalhadas por várias regiões, ficou equilibrada: 49% das
sugestões – 1.771 – foram enviadas por colaboradores das agências e 51% - 1.844 foram
enviadas por colaboradores das centrais administrativas.
Rede Banco B
15%
C A Matriz
C A Matriz
22%
C A Centro
C A Pirituba
Outros C A
Rede Banco A
Rede Banco B
C A Centro
12%
Rede Banco A
34%
C A Pirituba
9%
Outros C A
8%
No gráfico abaixo observa-se a evolução diária no recebimento de sugestões:
Evolução Diária
650
600
550
500
450
C A Matriz
400
C A Centro
350
C A Pirituba
Outros C As
300
Rede Banco A
Rede Banco B
Total Geral Diário
200
150
100
50
0
20
/1
0/
20
03
22
/1
0/
20
03
24
/1
0/
20
03
26
/1
0/
20
03
28
/1
0/
20
03
30
/1
0/
20
03
1/
11
/2
00
3
3/
11
/2
00
3
5/
11
/2
00
3
7/
11
/2
00
3
9/
11
/2
00
11
3
/1
1/
20
0
13
3
/1
1/
20
0
15
3
/1
1/
20
0
17
3
/1
1/
20
0
19
3
/1
1/
20
03
21
/1
1/
20
03
23
/1
1/
20
03
25
/1
1/
20
03
27
/1
1/
20
03
Nº de Sugestões
250
Data
Analisando o gráfico percebe-se que duas ações influenciaram positivamente o envio de
sugestões: a primeira ação foi o lançamento de uma nova página do Consumo Consciente na
intranet em 10 de novembro, o que provocou o recebimento de 320 sugestões em um só dia. A
segunda foi o envio de mudas de pau-brasil, a partir de 25 de novembro, a todos os que haviam
enviado sugestões até aquela data. Esse estímulo provocou o recebimento de 621 sugestões no
último dia do concurso.
CONCURSO DE DESEMPENHO DAS UNIDADES
Antes do lançamento do Programa, a informação obtida junto à área que controla o consumo
de papel na empresa foi de que o consumo desse insumo aumentava todos os meses.
O Concurso de Desempenho foi lançado em 4/11/2003 e visava o comprometimento coletivo
das áreas em relação ao uso do papel. Foi a forma encontrada para mensurar o quanto uma
iniciativa como o Programa pode sensibilizar e causar uma mudança de comportamento em
seus colaboradores. Nesta etapa da campanha todas as áreas comerciais e administrativas
participaram automaticamente, pois a mensuração foi feita pelos centros de custos.
O objetivo foi selecionar as unidades das áreas comercial e administrativa que mais
contribuiram para salvar árvores com a efetivação de ações e medidas de consumo consciente
de papel. O resultado foi conseguido com a mensuração do consumo de papel durante 90 dias
de concurso, comparado ao consumo de papel dos 90 dias anteriores. As unidades vencedoras
foram as que apresentaram maior redução no consumo, sendo representado em quantidade de
árvores salvas, pela seguinte proporção: uma árvore produz cerca de 20 resmas de papel e cada
resma equivale a 500 folhas. Dessa forma calculou-se quantas árvores foram salvas no decorrer
do concurso. A premiação para as áreas administrativas e agências vencedoras foi a
distribuição de passagens aéreas para as unidades selecionadas.
No quadro abaixo é apresentada a evolução do consumo de papel durante o período do
concurso e dos 3 meses anteriores. T1 e T2 são os totais consumidos em cada trimestre.
Nome
Agosto
Setembro
Outubro
T1
Novembro
Dezembro
Janeiro
T2
ÁREAS
ADMINISTRATIVAS
7.334.216
8.297.855
8.607.992
24.240.063
7.050.068
6.792.475
5.385.908
19.228.451
AGÊNCIAS
18.763.589 19.152.121 20.742.650 58.658.360 20.446.940 20.547.248 18.570.592 59.564.780
RESULTADO DO CONCURSO DE DESEMPENHO NAS ÁREAS ADMINISTRATIVAS
O que podemos observar é que as áreas administrativas apresentaram uma redução
significativa no consumo de papel, sendo que o consumo no mês de janeiro de 2004 foi
inferior ao consumo do mês de agosto de 2003. Isso demonstra que a campanha apresentou um
resultado positivo, provocando um empenho dos colaboradores na utilização racional do
papel.
Com base nos objetivos propostos, as áreas administrativas contribuíram com a redução de
5.011.612 folhas.
RESULTADO DO CONCURSO DE DESEMPENHO NAS AGÊNCIAS
Comparando-se o total do consumo do trimestre agosto, setembro, outubro de 2003 com o total
do consumo de novembro e dezembro de 2003 e janeiro de 2004, verificamos que houve um
aumento no consumo. Entretanto se observarmos o consumo por mês, o de janeiro foi inferior
ao de agosto. Esse resultado é bem interessante pois considerando a agressividade das metas
propostas para as agências, a realidade de janeiro era diferente da realidade de agosto, pois
estima-se que em janeiro as agências possuiam mais clientes que em agosto e isso significa
mais produtos vendidos, consequentemente maior uso de papel, entretanto o consumo de papel
de janeiro foi o menor do semestre.
RESULTADO FINAL DO CONCURSO DE DESEMPENHO DAS UNIDADES
O resultado final apresentado pelo concurso de desempenho foi a economia de 4.105.192
folhas. Tendo como base que uma árvore produz cerca de 20 resmas de papel e que cada resma
equivale a 500 folhas, foram poupadas 410 árvores.
No gráfico abaixo pode-se observar a evolução do consumo de papel na empresa durante os
meses do Concurso de Desempenho, no qual se observa que em todas as áreas houve redução
de papel:
Consumo de papel das áreas administrativas e agências dos Bancos A e B
16.000.000
14.000.000
12.000.000
Qtde.
10.000.000
Área adm. Banco A
Área adm. Banco B
8.000.000
Agências Banco A
Agências Banco B
6.000.000
4.000.000
2.000.000
0
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Mês
MULTIPLICADORES VOLUNTÁRIOS
No decorrer da Campanha foi lançado o conceito do Multiplicador Voluntário com o objetivo
de atrair pessoas com afinidade no assunto para serem disseminadoras das idéias do consumo
consciente no futuro. Este conceito foi lançado sem muita difusão, sendo divulgado em uma
pequena chamada na página do consumo consciente e também em uma nota no jornal on line,
publicado na intranet. O resultado surpreendeu pois durante 4 meses foram cadastradas mais de
270 pessoas interessadas em serem multiplicadores em suas unidades.
AÇÕES DE ESTÍMULO AO PROGRAMA
Uma ação foi planejada para atuar como estímulo ao comprometimento à Campanha: a doação
em dobro do valor economizado no consumo de papel pelo banco, gerado pelo consumo
racional de papel pelas áreas, durante os 3 meses da Campanha. Esse valor foi doado a
entidades beneficentes escolhidas pelos próprios colaboradores através de votação.
Entretanto além da doação do valor economizado, mais 3 ações se evidenciaram como
estímulos. A primeira foi a distribuição das flores que decoraram os centros administrativos.
Na quinta-feira, 4 dias depois do lançamento do Programa, foi enviado e-mail pela caixa
jurídica do Consumo Consciente, com um verso que indicava que os colaboradores poderiam
pegar os vasos de flores. Minutos depois de a mensagem ser divulgada um grande número de
pessoas se dirigiu ao pátio, aos corredores e portarias em busca de seus vasos. Várias
mensagens com elogios e agradecimento à ação foram enviadas via e-mail à coordenação do
Programa Consumo Consciente.
Uma segunda ação que causou em grande estímulo, principalmente no recebimento de
sugestões, foi o envio, na última semana do Concurso de Sugestões, de mudas de pau-brasil a
todos que haviam mandado sugestões até aquela data. As mudas foram devidamente
acondicionadas em embalagens especiais, produzidas para suportarem o transporte por malote
e resistirem cerca de 5 dias na embalagem, tempo aproximado, por exemplo para uma muda ser
embalada e enviada por malote até Macapá. Na embalagem, além de mensagem de
agradecimento pelo envio da sugestão, havia informações sobre o pau-brasil. O envio ocorreu
propositadamente nos últimos dias pois era previsto que essa ação causasse um grande envio
de sugestões. O Concurso foi encerrado às 18 horas do dia 28/11/2003. Nesse dia foram
recebidas 621 sugestões. Várias mensagens de elogios e agradecimento à ação também foram
recebidas via e-mail.
A terceira ação, também planejada como estímulo, foi a premiação para os vencedores dos
concursos. Para o Concurso de Sugestões foram selecionadas 10 idéias cujos autores
ganharam uma viagem de 7 dias para Fernando de Noronha, com direito a acompanhante. As
áreas vencedoras do Concurso de Desempenho ganharam passagens aéreas.
CONCLUSÃO
A implantação de um programa de conscientização dos funcionários com relação a temas
ambientais foi a primeira iniciativa, não só do Santander Banespa mas do Grupo Santander. A
empresa lançou o programa de conscientização com objetivos claros e os resultados dos
concursos demonstram que eles foram atingidos.
As ações lançadas no decorrer da campanha, como modificação da página da intranet, remessa
de mudas de pau-brasil, envio de comunicação direcionada para cada ação mostram, através
dos resultados no recebimento das sugestões e na redução do consumo de papel que são
estímulos válidos e que causam uma reação positiva.
Quarenta dias depois do lançamento do Programa, uma equipe da área de Recursos Humanos
conseguiu, através de uma ação interna, reduzir 11 mil folhas impressas por mês. A primeira
sugestão implantada, das 10 vencedoras, contribuiu efetivamente para a redução do desperdício
de papel com a economia de aproximadamente 42 mil folhas por mês, conforme informações
da área de Organização e Métodos.
Quando a empresa lança uma iniciativa como essa, que visa gerar uma mudança de atitude e de
comportamento de seus colaboradores frente a um assunto, é preciso levar em conta que as
pessoas têm comportamentos diferentes pois seus valores são individuais e reagem
diferentemente aos estímulos. O caminho para provocar essa mudança pode ser feito pela
educação, pela transmissão de informações e de conhecimento sobre o assunto para as pessoas
criarem valores e mudarem suas atitudes frente à questão definida, entendendo seu papel no
meio ambiente e gerando um comportamento que contribua para evitar o desperdício. Nessa
ação o banco buscou transmitir conhecimento e educação sobre um assunto que talvez nunca
tenho sido olhado de frente pela maioria das pessoas desde sua infância, época em que há a
formação maciça dos valores.
Grandes empresas já fazem parte de programas de redução de desperdício e reciclagem. Além
disso, as organizações que empregam um grande número de funcionários podem ajudar na
educação e na busca dessa mudança de atitude frente a utilização dos insumos que afetam o
meio ambiente, com programas de redução de desperdício e de consumo consciente, gerando
resultados favoráveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BANK OF AMERICA. Bank of America Environmental Program. Environmental
Commitment 2003 Activity Highlights. www.bankofamerica.com
BATEMAN, Thomas S., SNELL, Scott A. Administração – construindo vantagem
competitiva. Atlas, 1998.
DONAIRE, Denis. Gestão ambiental na empresa. Atlas, 1995
MAC DOWELL, Sílvia Ferreira, CORRÊA, Sílvia Fazzolari. Meio ambiente e o mercado
financeiro. Artigo apresentado no IV Encontro Nacional sobre Gestão Empresarial e Meio
Ambiente, 1997
ROBBINS, Stephen P.Comportamento Organizacional. LTC Editora, 1998
WORLD BUSINESS COUNCIL OF SUSTEINABLE DEVELOPMENT (WBCSD)
www.wbcsd.ch
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