Soja é usada como biofábrica de proteína contra a AIDS

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Soja é usada como biofábrica de
proteína contra a AIDS
U
ma pesquisa realizada em
O próximo passo é a produção de
parceria entre a Embra-
sementes de soja em larga escala para
pa Recursos Genéticos e
isolar a cianovirina e iniciar a fase de
Biotecnologia (DF), o Ins-
estudos pós-clínicos. Durante as próximas
tituto Nacional de Saúde
fases de desenvolvimento, os cientistas
dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês)
contarão também com a colaboração
e a Universidade de Londres conseguiu
de cientistas do Conselho de Pesquisa
comprovar que sementes de soja gene-
Científica e Industrial da África do Sul
ticamente modificadas constituem, até
(CSIR – sigla em inglês).
o momento, a biofábrica mais eficiente
GM for plantada em uma estufa menor
O faturamento da biotecnologia na
e uma opção viável para a produção em
que um campo de beisebol (97,54 metros)
indústria farmacêutica mundial cresceu
larga escala da cianovirina – uma proteína
é possível fornecer cianovirina suficiente
muito nas últimas décadas e hoje alcança
extraída de algas – muito eficaz no comba-
para proteger uma mulher 365 dias por
aproximadamente 10 bilhões de dólares
te à AIDS. O resultado inédito é tema de
ano durante 90 anos”.
por ano. Os produtos biotecnológicos
Além de inovadora, a pesquisa tem
estão em franco desenvolvimento e hoje
um forte componente humanitário. Países
representam cerca de 10% dos novos
em desenvolvimento com altos índices de
produtos atualmente no mercado.
infestação da AIDS, como alguns da África,
artigo da edição do dia 13 de fevereiro da
revista norte-americana Science (número
6223 Vol. 347 página 733, seção Editors
Fábricas biológicas para
produção de medicamentos
Países com altos índices de
infestação por AIDS terão
acesso livre à tecnologia
Rech explica que os efeitos positivos
A expectativa da Embrapa ao investir
por exemplo, terão licença de produção
A pesquisa, que começou a ser desen-
da cianovirina contra a AIDS já estavam
em pesquisas com biofármacos, como
e uso interno, livre do pagamento de
volvida em 2005, se baseia na introdução
comprovados desde 2008 com base em
explica Rech, é fazer com que esses
royalties. Aquele continente continua
da cianovirina, uma proteína presente em
testes realizados com macacos pelo
medicamentos cheguem ao mercado
sendo o mais afetado pela doença, com
algas que é capaz de impedir a multipli-
instituto norte-americano. A capacidade
farmacêutico com menor custo, já que
1,1 milhão de mortos em 2013, 1,5 mi-
cação do vírus HIV no corpo humano, em
natural dessa proteína, extraída da alga
são produzidos diretamente em plantas,
lhão de novas infecções e 24,7 milhões
sementes de soja geneticamente modifi-
azul-verde (Nostoc ellipsosporum), de
bactérias ou no leite dos animais. Existem
de africanos contaminados. África do Sul
cadas para produção em larga escala. O
se ligar a açúcares impedindo a multi-
evidências de que a utilização de biofábri-
e Nigéria encabeçam a lista dos países
objetivo final é o desenvolvimento de um
plicação do vírus já é conhecida pela
cas pode reduzir os custos de produção de
mais afetados.
gel, capaz de eliminar o vírus, para que
comunidade científica mundial há mais
proteínas recombinantes em até 50 vezes.
Na América Latina, com 1,6 milhão
as mulheres apliquem na vagina antes do
de 15 anos. “O que faltava era descobrir
Ele explica que as plantas produzem
de soropositivos em 2014 (60% deles, ho-
relacionamento sexual.
uma forma eficiente e econômica para
proteínas geneticamente modificadas,
mens), o país mais preocupante é o Brasil,
produzir a proteína em larga escala”,
idênticas às originais, com pouco investi-
onde o índice de novos infectados pelo
completou.
mento de capital, resultando em produtos
vírus subiu 11% entre 2005 e 2013, ten-
choice).
Segundo Elíbio Rech, coordenador
dos estudos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e um dos autores do
A utilização de plantas, animais e
seguros para o consumidor. Além disso,
dência contrária aos números globais, que
artigo, foram realizados testes com outras
microrganismos geneticamente modifica-
representam um meio mais barato para
apresentaram queda no mesmo período.
biofábricas, como plantas de tabaco (N.
dos para produção de medicamentos faz
a produção de medicamentos em larga
Na Ásia, os países que apresentam maior
tabacum e N. benthamiana), bactéria
parte de uma plataforma tecnológica com
escala, pois como não estão sujeitas à
contaminação são Índia e Indonésia, onde
(E. coli) e levedura (S. cerevisiae). En-
a qual o pesquisador vem trabalhando
contaminação, evitam gastos com purifi-
as infecções aumentaram 48% desde 2005.
tretanto, a única biofábrica que mostrou
desde a década de 1990. “As biofábricas
cação de organismos que são potenciais
A revista Science, publicada pela
ser uma opção viável para a produção de
ou fábricas biológicas são capazes de ex-
causadores de doenças em humanos,
Associação Americana para o Avanço da
cianovirina foi a semente de soja transgê-
pressar moléculas de alto valor agregado
sem falar na facilidade de estocagem e
Ciência (AAAS, sigla em inglês), é uma das
nica porque permite que a proteína seja
com custos baixos e, por isso, são opções
transporte.
mais prestigiadas de sua categoria, com
largamente escalonada até a quantidade
viáveis para produção de insumos, como
adequada. Aliado a esse fato está o be-
medicamentos e fibras de interesse da
nefício do baixo custo do investimento
indústria entre outros”, afirmou. Além
requerido na produção da matéria-prima
disso, valorizam ainda mais o agronegócio
para extração da molécula.
brasileiro, já que permitem a agregação
Rech faz questão de ressaltar que
Para se ter uma ideia do potencial
de valor a produtos agropecuários, como
as sementes geneticamente modificadas
da soja como fábrica biológica para
plantas, animais e microrganismos. Por
não serão plantadas no campo. Elas serão
produção da cianovirina, no resumo do
isso, ele acredita que o cenário no Brasil
cultivadas em condições controladas de
artigo publicado na Science, os cientistas
daqui a dez anos será totalmente influen-
contenção dentro de casas de vegetação
afirmam que “a grosso modo, se a soja
ciado pela biogenética.
ou estufas.
tiragem semanal de 130 mil exemplares,
Sementes geneticamente
modificadas não serão
plantadas no campo
além das consultas online, o que eleva o
número estimado de leitores a um milhão
em todo o mundo.
Fonte:
www.embrapa.br
Colaboração:
Carlos Roberto Favoretto
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