o que é melhor: dente ou implante?

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O QUE É MELHOR: DENTE OU IMPLANTE?
Esta pergunta não é muito fácil de ser respondida, por inúmeros motivos.
Primeiramente, o (a) prezado (a) leitor (a) precisa conhecer algumas diferenças básicas
entre um dente e um implante dentário, para entender a resposta à pergunta do título
desta matéria, as quais são descritas a seguir.
. O dente está inserido no osso em cavidades chamadas alvéolos dentais, porém
não estão unidos a ele. Existe uma estrutura chamada ligamento periodontal, que une o
dente ao osso, como se fossem várias “cordas”, o qual garante ao dente uma certa
mobilidade dentro do osso (movimento este chamado de gonfose), que pode variar de
0,1 a 0,3 mm. É a presença deste ligamento que permite, por exemplo, que os dentes se
movimentem durante o tratamento ortodôntico. Já o implante está em íntimo contato
com o osso, não havendo nenhuma outra estrutura interposta entre eles, o que confere a
ele uma situação de imobilidade. Na verdade, há sim uma pequena movimentação dos
implantes quando submetidos às forças mastigatórias (algo em torno de 10 a
20 micrômetros, o que é menor que a espessura de um fio de cabelo), que clinicamente
é imperceptível e desprezível. Ainda, a presença do ligamento periodontal entre o dente
e o osso confere ao primeiro uma grande capacidade adaptativa, como por exemplo na
situação em que uma restauração é deixada “um pouco mais alta”, gerando o que
chamamos de “contato prematuro” e o dente em questão muitas vezes responde com
uma pequena mobilidade, acompanhada de uma ligeira movimentação, na tentativa de
“fugir” daquele contato prematuro. Trata-se, portanto, de uma adaptação a uma
agressão, que pode impedir problemas mais sérios causados por contatos prematuros,
como dor local, hipermobilidade, fraturas dentais, deslocamentos mandibulares, dores
musculares etc. Já a ausência do ligamento periodontal entre o implante e o osso, ao
contrário do que muitos leigos pensam, é extremamente prejudicial ao implante, pois
este, pelos mesmos motivos já expostos em relação ao dente, não tem nenhuma
capacidade adaptativa, o que o torna mais susceptível a problemas que podem ser
causados por contatos prematuros e sobrecargas oclusais durante a mastigação. O
ligamento periodontal também serve como importante barreira à penetração de bactérias
que podem causar doença periodontal. Sendo assim, os implantes são mais vulneráveis
às doenças periimplantares que os dentes às doenças periodontais.
Outra diferença básica entre o dente e o implante é a presença de proprioceptores
localizados no ligamento periodontal, os quais garantem uma altíssima sensibilidade
tátil aos dentes, a ponto de conseguirmos identificar a presença de um fio de cabelo
entre as superfícies oclusais dos dentes. Além disto, se, por exemplo, encontrarmos a
famosa “pedrinha no arroz” durante a mastigação, respondemos com um mecanismo
proprioceptor de proteção, no qual aqueles proprioceptores enviam mensagens
diretamente às fibras musculares, sem passar pelo cérebro, ordenando que estas abram a
boca imediatamente, evitando possíveis problemas mais sérios em decorrência da
presença deste objeto mais duro durante a mastigação, como, por exemplo, fraturas
dentais ou de restaurações. Ao redor dos implantes também existem proprioceptores
localizados no osso, porém muito menos sensíveis àquelas possíveis alterações citadas
anteriormente como exemplo da propriocepção dos dentes, o que praticamente elimina
este mecanismo proprioceptor de proteção quando temos uma prótese sobre implante
em um dente superior e outra em um dente inferior, e estes se contactam na mastigação.
Esta deficiência na propriocepção pode causar sérios acidentes durante o ato
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mastigatório, como, por exemplo, a fratura de uma restauração sobre um implante
quando da presença daquela famosa “pedrinha no arroz”.
Na região em que o implante está em contato com os tecidos moles (mucosa
periimplantar, que é semelhante a gengiva dos dentes) não há uma união intrínseca
destes tecidos com o implante, como acontece na mesma região do dente, na qual as
fibras da gengiva estão intimamente aderidas ao cemento (camada externa da raiz),
conferindo a ele uma importante defesa à penetração bacteriana. Portanto, por mais este
motivo, o implante é mais susceptível às doenças periimplantares que os dentes às
doenças periodontais. Além disto, a presença da gengiva inserida ao redor dos dentes
(ao redor dos implantes temos a mucosa queratinizada), torna estes tecidos mais estáveis
e menos susceptíveis à variações de posicionamento ao longo dos anos (as chamadas
recessões gengivais, que tornam os dentes mais longos e, em alguns casos, mais
sensíveis), ao contrário da mucosa periimplantar, que é mais susceptível a estas mesmas
variações de posicionamento com o tempo.
Caso haja alguma infecção ao redor dos dentes (as chamadas doenças
periodontais), estas são mais facilmente tratadas e controladas do que as doenças
periimplantares, pois os implantes apresentam o formato de parafuso com roscas, com
superfícies geralmente rugosas, que dificultam a sua limpeza para o tratamento da
periimplantite. Já nos dentes, por terem suas raízes com formato cônico e superfície
lisas, há uma maior facilidade de limpeza das bactérias causadoras da periimplantite,
tornando esta doença mais facilmente tratável e controlável.
Certamente, existem mais pontos a serem discutidos sobre as diferenças entre
dente e implante, mas acredito que o(a) prezado(a) leitor(a), com esta breve discussão
de algumas diferenças básicas entre os dois, já tenha percebido que manter um dente na
boca é sempre mais benéfico à saúde bucal do que a instalação de um implante.
Porém há situações nas quais a manutenção de um dente pode ser mais prejudicial à
saúde bucal que a sua extração e substituição por um implante dentário. Como
exemplos das vantagens em se substituir um ou mais dentes por implante(s) podemos
enumerar: 1. pacientes com doença periodontal avançada, na qual a manutenção dos
dentes só aumentam os riscos de infecção e a grande mobilidade destes dificulta a
mastigação do paciente. Nestes casos, a substituição dos dentes por implantes é muito
bem indicada, pois com a remoção dos dentes infectados há uma modificação na flora
bacteriana e, com programas de promoção de saúde bucal, após a instalação dos
implantes, há uma maior probabilidade de manutenção da saúde oral; 2. nos casos de
fraturas dentárias abaixo do nível da gengiva em áreas estéticas, quando indicamos a
substituição do dente por implante. No passado, fazíamos cirurgias chamadas aumento
de coroa clínica, nas quais removíamos osso ao redor do dente faturado para viabilizar a
sua restauração, o que gerava uma situação anti-estética com este dente maior que os
seus vizinhos; 3. nas situações em que a quantidade de dentes remanescentes não é
suficiente para a retenção de próteses removíveis, como, por exemplo, na arcada
inferior quando o paciente perde os dentes posteriores e não se adapta a uma prótese
parcial removível (Roach), geralmente por falta de retenção e desconforto ao mastigar.
Nestes casos, podemos remover os dentes remanescentes e instalar implantes na região
anterior da mandíbula (em torno de cinco), que servirão de pilares para sustentar uma
prótese total parafusada; 4. nas grandes alterações de posicionamento dos dentes por
perda de alguns dentes ao longo da vida, que podem ser resolvidas com a extrações
dos dentes remanescentes e a confecção de próteses totais implantossuportadas, que
melhoram a estética e a função do paciente de maneira mais rápida e eficiente.
Certamente, existem diversas outras situações nas quais os implantes são indicados para
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substituírem os dentes a serem perdidos ou já perdidos, que não temos espaço para
discutir, no entanto é importante salientar que cada caso deve ser estudado
individualmente, avaliando-se as vantagens, desvantagens, custos, tempo de tratamento,
entre outros fatores, antes de se decidir pela extração de um ou mais dentes e a suas
substituições por implantes dentários. O paciente deve participar ativamente desta
decisão, após os esclarecimentos necessários do Implantodontista.
Para ilustrar o que foi discutido nesta matéria, apresento duas radiografias
panorâmicas de pacientes que foram tratados com diferente abordagens em relação a
manutenção ou não dos dentes para a reabilitação de suas maxilas. No primeiro, foram
mantido os dentes em uma hemi-arcada
(por apresentarem boas condições
periodontais) e extraídos os da outra hemi-arcada (por apresentarem problemas
periodontais e endodônticos), os quais foram substituídos por implantes dentários.
Sobre os dentes remanescentes e sobre os implantes foram confeccionadas duas próteses
parciais fixas (Fig.1).
Figura 1
No outro caso, foram extraídos todos os dentes da maxila, por motivo de doença
periodontal avançada e o paciente foi reabilitado com uma prótese total
implantossuportada parafusada (Fig.2).
Figura 2
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Estes dois casos exemplificam bem tudo que procurei transmitir ao(à) prezado(a)
leitor(a) a respeito deste difícil tema. Espero ter colaborado com a compreensão deste
assunto.
Obrigado pela sua atenção. Um forte abraço e até a próxima matéria.
Marcelo Fontes Teixeira
(Mestre em Implantodontia)
Endereços e tels.BM, SC e Barra e e-mail
([email protected])
OBS: USAR A FIGURA 1 NA CAPA