1 Agir como um predador para manejar o gado sem estresse Prof. Temple Grandin, Ph.D. Tradução de Dr. Orlando Rus Barbosa, Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá Paraná-Brasil Aquele que pretende estar na vanguarda da pecuária de corte, seja produtor ou confinador, se esforçam para reduzir o estresse dos animais que estão sob seu manejo. É de interesse conhecer que a imitação do movimento inicial de alerta, próprio de um predador em espaços abertos, pode servir para juntar o gado com um mínimo de estresse. O que muita gente não sabe são os princípios gerais de manejo do gado sem estresse, tais como entrar na zona de fuga para fazer o animal se mover, ou usar o ponto de balanço para controlar a direção desse movimento, se baseia nos padrões instintivos de comportamento que os animais têm para escapar de seus predadores. O gado bovino pertence a uma espécie de animais de presa, que tem desenvolvido, durante milhares de anos de evolução, os padrões de comportamento que permiti igual ao de outras espécies selvagens semelhantes, proteger-se de seus predadores. As pautas de conduta dirigida a evitar a predação estão inscritas em seus cérebros, e funcionam como bits de software informático. Os primeiros naturalistas denominaram “instintos” a estes padrões de comportamento, e os especialistas modernos em conduta animal os chamam “pautas fixas de ação”. Alguns esquemas instintivos de conduta são muito rígidos e não alteráveis, porém outros podem ser modificados pela aprendizagem. A reação do flerte, quando que o toro vira o lábio superior, é um exemplo de pauta fixa que não requer aprendizagem. Outros comportamentos instintivos, como os que afetam o movimento dos animais durante os trabalhos de manejo, podem se modificar através da experiência. Quando estão próximos de uma pessoa, os bovinos tem a tendência de virar e se colocar de frente, mantendo uma distancia segura. Esta tendência de dar volta para olhar de frente a pessoa é instintiva, porém a distância segura, que define o tamanho da zona de fuga, é afetada em grande parte pela experiência. Quando a pessoa entra na sua zona de fuga, os animais se afastarão. Minhas observações de movimento do gado bovino e das manadas de animais selvagens me indicam que tanto os herbívoros domesticados como os que vivem em liberdade possuem três padrões de comportamento instintivo, “programas de software”, que os ajudam a evitar os seus predadores. São eles: A zona de fuga e a tendência em olhar de frente para a pessoa e a outras ameaças percebidas; O ponto de balanço na altura do ombro e seu efeito sobre a direção do movimento; A tendência em se juntar quando são ameaçados. Dar volta e olhar de frente à ameaça potencial permite ao animal se manter alerta da posição do predador. Nos documentários sobre animais selvagens se pode ver os antílopes seguindo o leão, porém a uma distancia prudencial. A pauta de conduta do ponto de balanço serve ao animal que está pastoreando para escapar de um predador que o persegue. Um Impala perseguido por um leão correrá na direção contrária quando este cruza a línea de seu ombro. Esta manobra serve ao antílope para escapar. O mesmo princípio se usa para mover tranquilamente o gado nas pastagens ou nos currais. A principal diferença é que o gado 2 bovino se move no passo ao invés de fazê-lo na correria. O animal se moverá PARA FRENTE quando uma pessoa que está dentro de sua zona de fuga passa a linha de seu ombro na direção OPOSTA á do movimento que se deseja gerar. Isto é muito menos estressante que utilizar uma ponteira elétrica para induzir o animal a entrar no tronco de contenção. A terceira pauta de conduta que pode ser aproveitada pelos pastores e vaqueiros é a tendência do gado de se amontoar quando percebem uma ameaça. Caso seja criada uma ligeira ansiedade, o gado será induzido a descer das colinas e sair dos matagais para se juntar á manada. Um vaqueiro que aplique o esquema de movimento do tipo do limpador de para-brisas, ou um esquema de zig-zag em linhas retas, poderá induzir o gado a se juntar tranquilamente à manada. JAMAIS dar voltas ao redor do gado. O movimento do tipo limpador de para-brisas somente deve descrever uma CURVA MUITO LEVE. Este manejo gera um estresse muito menor que quando se persegue o gado e atua como um predador ao ataque. Imitando o vigiar inicial do predador, o gado se juntará sozinho. O gado bovino, que se encontra nas zonas onde existem ursos, tende a pastejar em manadas mais fechadas que as que vivem em zonas livres de ursos ou leões. A possibilidade permanente de ser atacado, faz com que o gado se mantenha junto. Enquanto se movem em grupos mais compactos, podem pastejar. Para que o estresse do gado se mantenha o mínimo absoluto, a indução em se juntar deve ser feito a passos lentos. O vaqueiro também deve evitar a tendência de se amontoar em um grupo fechado. A ideia é fazer somente as primeiras coisas que faria um predador, e isto manterá o estresse ao mínimo. A primeira vez que os animais experimentam esta indução em se juntar através do vigiar na borda da zona de fuga coletiva, é possível que tenham mais estresse que as seguintes. O gado que é manejado com calma de maneira rotineira aprenderá que o vaqueiro não irá aplicar uma pressão excessiva, como para gerar pânico. A pessoa que trabalha com seus próprios animais, estará em condições de ensinarlhes a se mover. Os animais aprenderão que seu amo afrouxará a pressão sobre a zona de fuga coletiva nem bem eles tenham se movido na direção desejada. Isto servirá para reduzir ainda mais o estresse. Um vaqueiro que se comporta como um predador tranquilo ao vigiar, poderá induzir o gado a se juntar de maneira muito menos estressante, que aquele que o persegue como um predador ao ataque. Todo movimento do vaqueiro deve ser feito a passos lentos, e se deve ter grande cuidado de não fazê-lo caso o gado comece a correr ou a debandar. Um bom vaqueiro, que aplica os princípios do manejo animal sem estresse, deve fazer os movimentos que coloca no cérebro do animal seu “software” inato de defesa contra os predadores. Para que o estresse se mantenha ao mínimo, somente deve colocar em marcha as primeiras fases do “programa”. Quando se leva um grupo de animais a um lugar novo, todos eles devem ser encaminhados na mesma direção e caminhar em seu passo natural. Não se deve fazer se chocarem entre si ou se deem volta. Se começam a fazer estas coisas, é sinal de que se tem posto em funcionamento o próximo passo de seu “programa”, e os animais se preparam para o ataque de um predador. Isto irá provocar um elevado estresse. No trabalho de pastejo ou em currais, quem compreender que seus movimentos estão colocando em marcha “programas” inatos de comportamento, que estão inscritos no cérebro dos animais, descobrirão que é fácil aprender estes métodos de manejo com baixo nível de estresse.