O IMPACTO DAS DISFUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO-LINGÜÍSTICO NA QUALIDADE DE VIDA DE SUJEITOS EM CONDIÇOES PSICOSSOCIAIS ATÍPICAS. The Impact of disorders Neuropsychology in Cognitive-Linguistic development in quality of life in conditions of subject psychosocial atypical. ______________________________________________________________________ Dra. Maria de Lourdes Merighi Tabaquim I Amanda Cristina FiorettoII Ana Vera NiqueritoII I Professora Doutora do Curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração Alunas do Curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração. ______________________________________________________________________ II Resumo A aprendizagem envolve sistemas de informação relacionados às áreas de recepção, processamento e expressão, principalmente com relação à linguagem, memória, e afetividade. Quando as condições relacionadas à saúde mental encontram-se prejudicadas, ocorrem prejuízos em diversas áreas de ajustamento psicológico e social do indivíduo. O objetivo deste estudo foi obter um perfil psicológico de crianças com alterações cognitivas e psicossociais. Participaram 44 sujeitos na faixa etária de 7 a 12 anos de idade, ambos os sexos, freqüentando escola especializada e regular, em níveis pré-escolar e fundamental até a 4ª série. A análise das respostas teve base na teoria cognitiva e comportamental. Os resultados nas provas de ajustamento mental demonstraram que 86,4% dos sujeitos tiveram classificação abaixo da média esperada para a idade. Os níveis cognitivos espaço lógico-temporal, atencional e da memória operacional importantes nas tarefas acadêmicas de leitura, escrita e aritmética, foram identificados com prejuízo, com escores abaixo do esperado para a faixa etária e escolaridade, evidenciando dificuldades relacionadas ao domínio espaço-temporal e generalização de informações. Os resultados permitiram também evidenciar comportamentos adaptativos disfuncionais, com recursos mentais limitados para o processamento de estratégias, para o planejamento e escolhas sociais e afetivas, que poderiam caracterizar adequação no julgamento moral. Os recursos cognitivos incipientes mostraram condições desfavoráveis ao processamento, retenção e generalização de informações, conseqüenciando em perdas na produtividade dos sujeitos. O estudo concluiu a existência de alterações cognitivas e psicossociais relacionadas aos recursos escassos neuropsicológicos para o ajustamento afetivo-social e qualidade de vida dos sujeitos. Palavras chaves: avaliação neuropsicológica; cognição; desenvolvimento; psicossocial Abstract The learning involves information systems related to areas of reception, processing and expression, especially with regard to language, memory and affection. When the conditions are related to mental health is impaired, losses occur in various areas of psychological and social adjustment of the individual. The aim of this study 1 was to obtain a psychological profile of children with cognitive and psychosocial changes. Participated in 44 subjects aged 7 to 12 years of age, both sexes, attending regular school and specialized in pre-school and key until the 4th grade. The analysis of responses was based on behavioral and cognitive theory. The results in tests of mental adjustment showed that 86.4% of subjects had below-average rating for the expected age. The logical level cognitive space-time, attention and memory in major operational tasks of academic reading, writing and arithmetic, were identified with injury, with scores lower than expected for age and education, highlighting difficulties related to the field and space-time generalization of information. This result also show dysfunctional adaptive behaviors, with limited resources for mental processing strategies, for planning and social and emotional choices that could characterize moral fitness in the trial. The resources were developed cognitive conditions unfavorable to the processing, retention and generalization of information, consequences in loss in productivity of the subject. The study concluded that there are psychosocial and cognitive changes related to neuropsychological scarce resources for the social-emotional adjustment and quality of life of individuals. Keywords: neuropsychological assessment, cognition, development, psychosocial. Introdução A trajetória das neurociências vem se desenvolvendo ao longo dos séculos, em que o avanço do aparato tecnológico e médico-científico possibilita a investigação mais complexa da atividade cerebral e sua correlação como comportamento humano, e ainda assim há muito para se descobrir nesse campo da ciência. (ANDRADE, 2004) A neurociência é um campo interdisciplinar que abrange um conjunto de disciplinas dentre outras: neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, neuroimagem, genética, farmacologia, neurologia, psicologia, psiquiatria. As neurociências procuram estudar as várias relações entre o comportamento e a atividade cerebral. (ANDRADE, 2004) Dentro das neurociências, o papel do psicólogo vem conquistando um grande destaque, que resultou na Resolução nº 02/2004 do Conselho Federal de Psicologia, que regulamenta a prática da neuropsicologia (diagnóstico, acompanhamento, reabilitação e pesquisa) como especialidade do profissional psicólogo através de registro e titulação. (ANDRADE, 2004) Todas as tarefas que diariamente realizamos necessitam da atividade cerebral. As principais funções cognitivas são: percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas. É a partir da relação entre todas estas funções que entendemos a grande maioria dos comportamentos, desde o mais simples até as situações de maior complexidade, e que exigem atividades cerebrais mais elaboradas. (ANDRADE, 2004) 2 A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos comportamentos resultam de um nível adequado de atenção para serem bem sucedidos, também é um pré-requisito fundamental para o processo de memorização. O conceito de atenção é definido pela seleção e manutenção de um foco, seja de um estímulo ou informação, entre as inúmeras que obtemos através de nossos sentidos, memórias armazenadas e outros processos cognitivos. A habilidade de manter a própria atenção focada em um conteúdo mental fica diminuída, ou seja, pode-se ter dificuldade de para se manter uma seqüência de pensamentos simples, o que invariavelmente compromete a habilidade de solução de problemas mais complexos. (STERNBERG, 2000) A memória é uma das funções cognitivas mais utilizadas pelo ser humano em seu cotidiano. Memória é a capacidade de armazenar informações, lembrar delas e utilizá-las no presente. O bom funcionamento da memória depende inicialmente de do nível de atenção. Para que o bom armazenamento aconteça outras atividades cognitivas como a capacidade de percepção e associação é importante para que as informações possam ser armazenadas com sucesso. Quanto maior o interesse em aprender algo, melhor será o armazenamento das informações obtidas nesse processo, assim quanto maior o número de emoções (sejam elas positivas ou negativas) atribuídas a um evento mais chances dele permanecer na memória para uma futura recuperação. (STERNBERG, 2000) A linguagem é uma função que usamos todos os dias, durante a maior parte do tempo, seja através da linguagem oral (numa conversa) ou da escrita (ao ler ou escrever um texto). O conceito de linguagem é definido pelo uso de um meio organizado de combinar as palavras a fim de se comunicar, embora a comunicação não se constitua unicamente num processo verbal. As formas não-verbais, como gestos ou desenhos também são capazes de transmitir idéias e sentimentos. (STERNBERG, 2000) A linguagem também é caracterizada pela sua constate evolução, pois embora as pessoas respeitem os limites de sua estrutura (gramática, ortografia), elas podem produzir novas elocuções a qualquer momento. Basta observar as mudanças ocorridas na escrita de certas palavras há algumas décadas atrás, por exemplo, “pharmácia”. (STERNBERG, 2000) A percepção é uma função cognitiva que se constitui de processos pelos quais o sujeito é capaz de reconhecer, organizar e dar significado a um estímulo vindo do ambiente através dos órgãos sensoriais. (STERNBERG, 2000) 3 As funções executivas compreendem um conceito neuropsicológico que se aplica às atividades cognitivas responsáveis pelo planejamento e execução de tarefas. Elas incluem o raciocínio, a lógica, a estratégias, a tomada de decisões e a resolução de problemas, independente do grau de complexidade do problema, o sujeito precisa estar apto para analisar a situação (problema), lançar mão de estratégias, e antever as conseqüências de sua decisão. (MELLO, 2005) Segundo Tabaquim (2002 apud LURIA, 1981), a Neuropsicologia é uma ciência interdisciplinar do conhecimento que estuda as relações entre cérebro e comportamento, investigando o papel desempenhado por sistemas cerebrais individuais em formas complexas de atividade mental, em condições normais e patológicas. O conhecimento sobre fundamentos básicos das ciências afins da Neuropsicologia, como a Neurologia, a Psicologia, a Lingüística e a Inteligência Artificial, são essenciais para a formação do pesquisador dessa área. (TABAQUIM 2002 apud DAMASCENO, 1997). E nos últimos vinte anos, os paradigmas da Psicologia Cognitiva e das Ciências da Computação, deram origem à “Neuropsicologia Cognitiva”. A Neuropsicologia estuda os distúrbios das funções superiores reduzidos por alterações cerebrais, e investiga especificamente os distúrbios dos comportamentos adquiridos, através do qual cada homem mantém relações adaptadas com o meio (TABAQUIM, 2002). Segundo Tabaquim (2002 apud LURIA, 1973), a neuropsicologia, tem por objetivo a investigação do papel de sistemas cerebrais individuais, em formas complexas de atividade mental. Seus métodos procuram facilitar o diagnóstico tópico, precoce e mais exato, das lesões cerebrais locais, procurando não apenas estabelecer programas de ação terapêutica e reeducativa, como também trazer importantes contribuições para uma mais ampla compreensão sobre a atividade mental, bem como sobre toda a psicodinâmica humana. Segundo Tabaquim (2002), a compreensão dos processos da aprendizagem e seus distúrbios, buscam considerar e conhecer aspectos neuropsicológicos, tendo em vista que as manifestações são, na sua maioria, reflexos de funções alteradas, ou seja, disfunções em áreas da recepção, processamento e expressão das informações, principalmente com a relação à linguagem e ao movimento intencional. O cérebro é o sistema integrador, coordenador e regulador entre o meio ambiente e o organismo, entre cérebro e comportamento-aprendizagem. 4 Sabe se que, quanto mais se aprende sobre as relações cérebro-comportamento e cérebro-aprendizagem, melhor será o nível de compreensão e de intervenção sobre a criança com dificuldades de aprendizagem, tornando-se possível obter melhores recursos para o diagnóstico e prognóstico do seu potencial de aprendizagem. A avaliação neuropsicológica comumente se estrutura em uma série de testes e subtestes, não se deve duvidar que a organização cerebral está muito mais além das simplificações e abstrações. O valor dos resultados de uma bateria neuropsicológica deve realizar-se como um dos conceitos de sistemas ou de redes funcionais. Na avaliação neuropsicológica pode-se seguir diversas orientações e métodos. Em geral, dois tipos de abordagens são diferenciados: 1- seguindo uma sistematização definida e estandartizado, aplicando a todos os pacientes de forma sistemática; 2- utilizando uma forma mais flexível, selecionando um conjunto de provas que se adapte aos problemas e necessidades especificas de cada caso. O desenvolvimento cognitivo favorece o desempenho da criança na escola. O baixo rendimento é um problema educacional e social que restringirá a participação do aluno na vida acadêmica e particular. É preciso promover o autoconceito do/a aluno/a respeitando seus diferentes modos e ritmos de aprendizagem para que sintam confiança na sua capacidade de aprender, ao se perceber aprendendo, quando estimulado a progredir, cada vez mais, a partir da descoberta das suas potencialidades (HOWSTUFFWORKS, 2007). Desta forma, cada vez mais são necessários estudos que busquem favorecer a compreensão das potencialidades da criança e possibilitem estratégias para aprender. As crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, que estão no estágio operacional concreto, vivenciam um período em que começam a ter a capacidade de pensar de maneira lógica e entender os conceitos que usam ao lidar com o ambiente ao seu redor. A presente proposta visa atender a demanda de alunos, ligados à instituições de ensino regular e especial, que apresentem necessidades de intervenção para minimização do fracasso acadêmico. Justificativa A escolarização fundamental é uma fase sensível para o desenvolvimento acadêmico e vital da criança, pois envolve inúmeras mudanças que ocorrem 5 simultaneamente, requerendo adaptações nos ambientes, físico, acadêmico, social e psicológico do aluno. Frente ao acúmulo das demandas, novas e complexas, algumas crianças encontram dificuldades para superar os desafios, principalmente quando existem condições prévias de vulnerabilidade. A avaliação neuropsicológica oferece suporte conceitual e investigativo ao estudo das condições que contribuem para a adaptação e aprendizado escolar. A Neuropsicologia é uma ciência voltada para a expressão do comportamento por meio das disfunções cerebrais e ampara-se na avaliação de determinadas manifestações do indivíduo para a investigação do funcionamento cerebral. No estudo da criança e do adolescente devem-se levar em conta os processos de crescimento e maturação cerebral, o desenvolvimento cognitivo, neuropsicomotor e afetivo-social, bem como as variáveis críticas que determinam e interferem nas habilidades, tais como o ambiente acadêmico. No processo avaliativo, a compreensão das habilidades e competências referentes aos recursos neuropsicológicos, possibilita a programação de estratégias reeducativas e a melhoria de repertórios que favorecem o auto-conceito, o ajustamento escolar e psicossocial da criança ou do adolescente. Neste sentido, a literatura tem sido escassa na área do desenvolvimento atípico de crianças e adolescentes, que freqüentam instituição educacional especializada. Estudos sobre a aprendizagem e o comportamento adaptativo podem representar referencial acadêmico-científico contribuinte significativo, na compreensão das dificuldades escolares, com tão alta incidência nos últimos tempos. Objetivo geral O objetivo deste estudo foi investigar as habilidades cognitivas de crianças com alterações no desenvolvimento e na conduta psicossocial. Objetivos específicos Identificar desempenhos relacionados às áreas cognitivas motora, perceptiva da linguagem, memória e afetividade social; Correlacionar os desempenhos às funções corticais, através da análise neuropsicológica. 6 Metodologia Participaram 44 sujeitos na faixa etária de 7 a 12 anos de idade, ambos os sexos, da pré-escola à 4ª série, do ensino fundamental de uma instituição educacional especializada. O critério para a escolha da população alvo foi pelas diversas dificuldades apresentadas em relação à aprendizagem. Inicialmente foram realizados os procedimentos formais e éticos junto à instituição escolar para a realização da coleta de dados. Os instrumentos de avaliação empregados foram: - Raven. Matrizes Progressivas Coloridas. Avalia o nível mental, independente do conhecimento adquirido. Composto por 35 estímulos visuais, agrupados em três séries, cada uma com um conjunto de desenhos, dentre os quais falta um que completa logicamente o conjunto. - Avaliação da Personalidade: Fábulas de Düss. Avalia os aspectos cognitivolinguísticos e psicossociais. Na forma verbal, avalia dois aspectos do desenvolvimento: psicossocial, onde o discurso do examinando é comparado às temáticas e significados de cada fábula; e o cognitivo, onde as respostas deverão ser construídas com linguagem coerente e apresentar uma formalidade lógica na estória, adequada. O instrumento é composto por dez pequenas histórias incompletas, envolvendo as seguintes fábulas: do passarinho, aniversário de casamento, cordeirinho, enterro ou viagem, medo, elefante, objeto fabricado, passeio com a mãe ou pai, da notícia e do sonho mau. O Quadro 1 caracteriza as fábulas e os significados, cognitivo e psicossocial. Item F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 Fábula Um papai e uma mamãe pássaros e seu filhote estavam dormindo no ninho, quando por causa de um vento ele cai no chão. A mamãe voa para uma árvore, o papai voa para outra árvore. O que vai fazer o filhote passarinho? Ele já sabe voar um pouco. É uma festa de aniversário do papai e da mamãe. Durante a festa a criança se levanta e vai ficar sozinha do fundo do quintal. Por quê? No pasto estão a mamãe ovelha e seu carneirinho. Todos os dias eles brincam e ela dá um bom leite quente que ele adora, mas ele já come capim também. Um dia trouxeram para a mamãe uma outra ovelhinha, e como ela não tinha leite suficiente para os dois, pede ao primeiro que vá comer capim. O que o carneirinho vai fazer? Um enterro está passando na cidadezinha, sabem que é alguma pessoa da família que mora naquela casa que morreu. Quem é que morreu? Uma criança diz bem baixinho: ‘ai que medo’. De que ela tem medo? Uma criança tem um elefantinho que ela gosta muito, com sua trompa bem comprida. Um dia quando ela volta do passeio percebe que ele está diferente. O que ele tem de diferente? Por que está diferente? Uma criança construiu um objeto de argila que ela acha Psicossocial Cognição Independência Adequado Inadequado Sentimento de inclusão Maturidade x Egocentrismo Sentimentos de perda Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Fantasias de perseguição Adequado Inadequado Enfrentamento do desconhecido Generosidade x Adequado Inadequado 7 F8 F9 F10 lindo. Sua mãe pede o objeto de presente, a criança é livre para dar ou não dar. O que esta criança vai fazer? Por quê? Um menino(a) faz um passeio sozinho com sua mãe(pai). Voltando para casa o menino(a) acha que ela(e) está estranho. Por quê? Uma criança volta da escola e sua mãe diz que tem uma coisa para contar. O que a mãe vai lhe contar? Uma criança acorda e diz que está muito cansada, porque teve um sonho mau. Com o que ela sonhou? Possessividade Adequado Inadequado Culpa e afeto parental Adequado Inadequado Adequado Inadequado Adequado Inadequado Desejo x castigo Relações antecedentes positivas QUADRO 1 – Indicação das fábulas e significados, psicossocial e cognitivo. - TVIP - Vocabulário por Imagens Peabody (DUNN et al, 1986; CAPOVILLA et al., 1997). Avalia a linguagem receptiva-auditiva e o repertório lingüístico de crianças e adolescentes de 6 a 18 anos. Composto por um caderno com 144 itens, com quatro figuras em cada página, que o examinando deve indicar aquela falada pelo examinador. A análise dos dados foi feita conforme procedimentos normativos de cada instrumento utilizado. RESULTADOS Os dados foram organizados e categorizados percentualmente. A análise das respostas de cada instrumento aplicado teve base na teoria cognitiva e neuropsicológica. Os resultados das provas de nível mental demonstraram nível mental altamente prejudicado em 86,4% dos sujeitos, com classificação abaixo da média, conforme Tabela 1. Classificação Superior Acima da Média Média Abaixo da Média Deficiente Percentil = ou > 95 75 e 90 25 a 75 25 a 10 = ou > 5 Qtidade Sujeitos 0 0 Acima de 50 = 2 Abaixo de 50 = 1 Acima de 25 = 3 Igual a 25 =2 Abaixo de 25 = 6 Acima de 10 = 5 Igual a 10 =1 Abaixo de 10 = 1 Igual a 5 =4 Abaixo de 5 = 19 Total Percentual 0 0 13,6 34,2 52,2 Tabela 1 – Representação dos resultados obtidos na prova de nível mental (Raven). Os dados demonstram níveis cognitivos espaço lógico-temporal, atencional e relacionado à memória operacional, importantes em tarefas acadêmicas de leitura, escrita e aritmética, com classificação abaixo do esperado para a média, evidenciando 8 dificuldades relacionadas ao domínio espaço-temporal e generalização de informações necessárias para a compreensão lógico-abstrata. Na avaliação das condutas adaptativas, foi constatado que 66% dos sujeitos demonstraram comportamentos de dependência ao meio afetivo e social; 42,07% mostraram respostas indicativas de egocentrismo e possessividade em relação a objetos e pessoas, com dificuldades na expressão de comportamentos cooperativos, de troca e afinidades nas relações. Foram identificados 41,65% de sujeitos com prejuízo no autoconceito, com sentimentos de insegurança e inadequação na relação com o meio, medos indicativos de perdas parentais e de figuras com grande valência afetiva. O estudo identificou que 68,18% dos sujeitos apresentaram fantasias características de fases primárias do desenvolvimento, tais como, medo do escuro, do “bicho papão”, etc. A média cognitiva foi de 74%, o que representa um índice satisfatório do grupo em estratégias de adaptação às situações cotidianas, não relativas à aprendizagem formal. A média psicossocial foi de 45%, representando escores inferiores quanto ao comportamento afetivo relacionado à maturidade social. Desta forma, situações psicológicas, como em conflitos familiares e pessoais, mostraram-se mais dificultosas para o grupo deste estudo. Na Tabela 2 são apresentados os percentuais de desempenho cognitivo adequado à faixa etária estudada e de adequação psicossocial frente à resolução de problemas adaptativos. ÍTEM COGNIÇÃO F1 84,1 F2 79,5 F3 79,5 F4 68,1 F5 79,5 F6 50,0 F7 86,4 F8 59,1 F9 79,5 F10 75,0 Tabela 2 – Resultados percentuais cognitivos e psicossociais (Duss). PSICOSSOCIAL 34 2,3 54,5 63,6 18,2 47,7 61,3 47,7 45,4 75,0 Desta forma, os dados sugerem a imaturidade cognitiva e psicossocial dos participantes, pelas dificuldades em lidar com estímulos novos e reais do ambiente imediato. Os desempenhos prejudicados relacionados ao comportamento adaptativo, demonstraram disfunção de áreas neuropsicológicas frontais e límbicas do córtex, 9 responsáveis pelo processamento de informações estratégicas, de planejamento e escolhas com julgamento moral. Recursos cognitivos-lingüísticos incipientes caracterizaram condições também desfavoráveis para o processamento, retenção e generalização de informações, conseqüenciando em perdas na produtividade dos sujeitos. A Tabela 3 apresenta os valores referentes aos desempenhos dos sujeitos nas provas lingüísticas. Critérios Não aplicável Abaixo de 55 55 – 69 70 – 84 85 – 114 115 – 130 131 – 145 Classificação crítico extremamente baixo moderado média moderadamente alto extremamente alto Nº Sujeitos 03 16 14 Percentual/Sujeitos 6,9 36,2 31,9 06 05 0 13,7 11,3 0 0 0 O repertório cognitivo-lingüístico foi extremamente baixo para 31,9% dos sujeitos, tendo o grupo um léxico básico, receptivo e expressivo, principalmente em falas objetivas e do cotidiano da criança. Da amostra, somente 11,3% atingiram a média lingüística compatível com a faixa etária. Desta forma, os recursos de linguagem mostraram-se em níveis primários, sendo a competência receptiva superior a expressiva. DISCUSSÃO Os sujeitos que compuseram a amostra do estudo demonstrou repertórios relacionados ao desenvolvimento mental com prejuízos em todas as áreas corticais superiores cerebrais, tendo em vista os valores médios obtidos nas tarefas instrumentadas no processo avaliativo. Indivíduos com atraso no desenvolvimento cognitivo comumente apresenta alterações na linguagem, tanto a receptiva quanto a expressiva. Para algumas crianças, 10 no entanto, a habilidade de se comunicar é influenciada por fatores relacionados não somente ao desenvolvimento, mas a fatores ambientais. Quando a criança apresenta um grau eficiente de socialização, tende a desenvolver mais rapidamente a linguagem do que crianças que apresentam o isolamento como forma de comportamento padrão. Outro fator a ser considerado é da criança que não apresenta malformação severa, pois estão muito mais propensas a adquirir habilidades expressivas de linguagem do que outras que não se enquadram neste critério. O estudo constatou, confirmando os dados da literatura, que crianças com atraso cognitivo, cujas habilidades de comunicação e socialização estão menos prejudicadas, apresentam um melhor perfil de desenvolvimento e melhor performance em tarefas dirigidas. O comportamento dependente em tarefas do cotidiano, relacionadas ao autocuidado ou mesmo a mobilidade, são mais freqüentes em crianças que apresentam atraso cognitivo, pois teriam maior dificuldade em se relacionar e socializar. Os resultados obtidos no presente estudo mostraram que as áreas relacionadas à socialização e autocuidado apresentaram escores prejudicados. A falta de estimulação adequada, a acomodação ou desmotivação da família, atrelados a limitação do indivíduo e às características de personalidade, podem fazer toda a diferença quando considerada a faixa cronológica e de desenvolvimento. Dependendo da extensão, grau e tipo de deficiências associadas ao desenvolvimento, a criança pode acomodar-se em uma condição desfavorável de 11 dependência, levando a família, por extensão, adotar os mesmos princípios, o que poderá refletir na qualidade de vida e na baixa otimização de recursos tróficos do sujeito. CONCLUSÃO O repertório de habilidades e competências cognitivas, lingüísticas e psicossociais das crianças participantes do estudo mostrou-se defasado com relação à idade e escolaridade, sugerindo recursos neuropsicológicos limitados ao ajustamento afetivo-social e qualidade de vida. 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, F.H.S. (org.) Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004. MEYERHOFF, M (trad. HowStuffWorks). Desenvolvimento cognitivo e social de um recém-nascido. Ed.D. ". (atualizado em 19 de Publicado em 13 de julho de 2006 março de 2007). Acesso em: http://saude.hsw.uol.com.br/compreendendo-o-desenvolvimento-cognitivo-e-social-deum-recem-nascido3.htm, dia 08 de Nov. 2007. TABAQUIM, M.L. Avaliação Neuropsicológica: Estudo Comparativo de crianças com paralisia cerebral hemiparetica e distúrbios de aprendizagem. Tese (Doutorado Ciência Medicas) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. 2002. MELLO, C.B. (org.) Neuropsicologia do desenvolvimento. São Paulo: Memnon, 2005. STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 13