UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO SEMENTES TECNOLOGIA DE SEMENTES DE MANGABA (Hancornia speciosa Gomes) Daniella Inácio Barros Areia - PB Março - 2006 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. ii DANIELLA INÁCIO BARROS TECNOLOGIA DE SEMENTES DE MANGABA (Hancornia speciosa Gomes) iii TECNOLOGIA DE SEMENTES DE MANGABA (Hancornia speciosa Gomes) Tese apresentada à Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, para obtenção do título de Doutor em Agronomia, Área de Concentração Sementes. Comitê de orientação Riselane de Lucena Alcântara Bruno - Orientadora Rejane Maria Nunes Mendonça Walter Esfrain Pereira Silvanda de Melo Silva iv TECNOLOGIA DE SEMENTES DE MANGABA (Hancornia speciosa Gomes) DANIELLA INÁCIO BARROS APROVADA: 20 de março de 2006. Banca Examinadora ________________________________________ Prof. Dr. Riselane de Lucena Alcântara Bruno Orientadora - CCA/UFPB ________________________________________ Prof. Dr. Sebastião Medeiros Filho Examinador - UFC ________________________________________ Prof. Dr. Salvador Barros Torres Examinador - EMPARN/UFERSA ________________________________________ Prof. Dr. Maria Elita Martins Filho Examinador - UFCG ________________________________________ Prof. Dr. Genildo Bandeira Bruno Examinador - UFPB v A Deus. Aos meus pais Anísio Inácio dos Reis e Maria Raimunda Inácio Barros. Aos meus avós Didácio Coutinho Barros e Anália Rocha Barros. Ao meu esposo Helber Véras Nunes. Dedico. A minha amada filha que ainda está no meu ventre. Ofereço. vi AGRADECIMENTOS À Deus, pela saúde, força e presença em todos os momentos da minha vida. À Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias, pela oportunidade oferecida para a realização deste curso. Ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia em especial ao Prof. Genildo Bandeira Bruno, pela acolhida, amizade e apoio no decorrer do curso. Ao CNPq, pela concessão da bolsa de estudo. A Emepa - Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba, pelo fornecimento dos frutos de Mangaba durante o transcorrer da pesquisa. À Professora Riselane Lucena Alcântara Bruno, pela amizade, estímulo, apoio, confiança e orientação durante a realização do curso. Aos Professores Sebastião Medeiros Filho, Salvador Barros Torres, Maria Elita Martins Duarte e Genildo Bandeira Bruno pela participação na banca de defesa de tese e pelas valiosas sugestões. Ao Professor Walter Esfrain Pereira, pela amizade, sugestões e análise estatística do trabalho. Ao Professor Genaro Viana Dornellas, pela amizade, ajuda e valiosa contribuição na caracterização morfológica dos frutos e sementes de mangaba. À Professora Rejane Maria Nunes Mendonça pela amizade, ajuda, incentivo e apoio na elaboração e condução dos experimentos. A todos os Professores do Centro de Ciências Agrárias pelos conhecimentos compartilhados, especialmente aos que contribuíram com sugestões. À Pesquisadora Maria Carmen Bhering (UFV), pela sincera amizade, confiança, apoio incondicional e pelos ensinamentos transmitidos com a pesquisa do tetrazólio. Aos funcionários da Pós-Graduação em Agronomia, em especial a Cícera Eliane e Zezinho pelo incentivo e ajuda constante. Aos funcionários do Laboratório de Análise de Sementes, Antônio Alves de Lima, Rui Barbosa da Silva, Severino Francisco dos Santos e Pedro Francisco da Silva (in memorian) pela amizade, convivência, valioso apoio, incentivo e colaboração incansável na realização deste trabalho. Aos funcionários do Setor de Transporte em especial ao Luís Belo dos Santos pela atenção, ajuda e disposição em todos os momentos na aquisição dos frutos de mangaba. vii Aos funcionários da Biblioteca pela gentileza, disposição e competente atendimento profissional. Aos colegas e amigos da Pós-Graduação pela agradável convivência, especialmente aos que me apoiaram e oportunizaram o prazer de uma amizade recíproca. As amigas Areienses Ana Isabel, Tereza Helena, Sueli e Edvânia pelo amor, compreensão, orações, incentivo e disposição em todos os momentos. Às crianças Isabella, Arthur, Ester, Bárbara, Bruno e Emillie pelo carinho, amor e ajuda nos momentos de distração. Aos meus amáveis pais Anísio Inácio dos Reis e Maria Raimunda Inácio Barros, pelo amor, incentivo, confiança, apoio infinito e por terem me preparado para o mundo. Aos meus avós Didácio Coutinho Barros e Anália Rocha Barros, pelo amor, ajuda financeira, confiança e apoio constante. À minha querida Tia Maria Ângela dos Reis, pelo amor, incentivo, dedicação, confiança e orações. Aos meus sogros Raimundo Nonato de Souza Nunes e Maria das Graças Véras Nunes, pela amizade, incentivo e apoio incondicional em todos os momentos da minha vida. A meu esposo Helber Véras Nunes, pelo amor, lealdade, compreensão, pelo convívio e ajuda na elaboração deste trabalho. Enfim, a todos aqueles que, de alguma forma, auxiliaram na realização deste trabalho, o meu reconhecimento e a minha gratidão. viii BIOGRAFIA DANIELLA INÁCIO BARROS, filha de Anísio Inácio dos Reis e Maria Raimunda Inácio Barros, nasceu em Gurupi, Estado do Tocantins, em 07 de julho de 1975. Em 1999, graduou-se em Agronomia, pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Em 2000, iniciou o Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), sob a orientação da Profª. Denise Cunha Fernandes dos Santos Dias, tendo defendido sua dissertação em fevereiro de 2002. Em 2002, iniciou o Doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sob a orientação da Profª Riselane de Lucena Alcântara Bruno, defendendo a tese em 20 de março de 2006. ix SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS..................................................................................................xi LISTA DE TABELAS ...............................................................................................xiii RESUMO.....................................................................................................................1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................3 REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................15 ARTIGO 1 - MÉTODOS DE EXTRAÇÃO SOBRE A QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE MANGABA ..................................................................................... 21 RESUMO................................................................................................................... 21 ABSTRACT............................................................................................................... 22 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 23 2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 25 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 27 4. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 30 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 31 ARTIGO 2 - CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E GERMINAÇÃO DE FRUTOS E SEMENTES DE MANGABA..................................................................................34 RESUMO................................................................................................................... 34 ABSTRACT............................................................................................................... 35 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 36 2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 39 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 42 4. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 47 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 48 x ARTIGO 3 - COMPORTAMENTO FISIOLÓGICO DE SEMENTES DE MANGABA SUBMETIDAS À DESSECAÇÃO............................................................................. 51 RESUMO................................................................................................................... 51 ABSTRACT............................................................................................................... 52 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 53 2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 55 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 58 4. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 63 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 64 ARTIGO 4 - TESTE DE TETRAZÓLIO EM SEMENTES DE MANGABA (Hancornia speciosa Gomes)..................................................................................................... 68 RESUMO................................................................................................................... 68 ABSTRACT............................................................................................................... 70 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 71 2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 74 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 77 4. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 83 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 84 xi LISTA DE FIGURAS ARTIGO 2 Figura 1. Morfologia do fruto e da semente de Mangaba: A - fruto; B - corte longitudinal do fruto, epicarpo (ep) e sementes (s); C - semente, hilo (hi); D - seção longitudinal da semente mostrando a localização do embrião (e) e do endosperma (en); E - seção transversal da semente; F - vista lateral da semente; G - embrião livre; H - seção longitudinal do embrião, com eixo hipocótilo-radícula (hr) e os cotilédones (ct). ............................................ 42 Figura 2. Germinação (a), primeira contagem (b), sementes mortas (c), duras (d) e plântulas anormais (e) de mangaba, sob condições combinadas de substratos e temperaturas... ..................................................................... 46 ARTIGO 3 Figura 1. Teor de água (a), emergência de plântulas em areia (b), comprimento da parte aérea de plântulas (c), condutividade elétrica (d), massa seca de plântulas (e), germinação (f) e primeira contagem de germinação (g) de sementes de mangaba após a secagem em ambiente laboratório e dessecador por diferentes tempos... ......................................................... 62 ARTIGO 4 Figura 1. Métodos de pré-condicionamento das sementes de mangaba para o teste de tetrazólio: A - corte longitudinal paralelo aos cotilédones; B - corte na extremidade superior lateral da semente; C - três cortes na semente dois laterais e um na parte superior oposta ao eixo embrionário; D - perfuração em área superior não crítica da semente .................................................. 75 xii Figura 2. Classes para a determinação da viabilidade de sementes de mangaba. ................................................................................................... 81 Figura 3. Plântulas de mangaba normais (A) e anormais (B).................................... 81 Figura 4. Correlação entre os valores de germinação e tetrazólio viabilidade em sementes de mangaba.............................................................................. 82 xiii LISTA DE TABELAS ARTIGO 1 Tabela 1. Médias das variáveis analisadas de sementes de mangaba submetidas a diferentes métodos de extração. .............................................................. 27 Tabela 2. Estimativas dos contrastes das variáveis analisadas de sementes de mangaba submetidas a diferentes métodos de extração......................... 28 ARTIGO 2 Tabela 1. Características morfológicas dos frutos e das sementes de mangaba...... 43 Tabela 2. Variáveis analisadas na qualidade fisiológica de sementes de mangaba, sob condições combinadas de substratos e temperaturas....................... 44 Tabela 3. Estimativas dos contrastes das variáveis analisadas de sementes de mangaba, sob condições combinadas de substratos e temperaturas..... 44 ARTIGO 3 Tabela 1. Médias e estimativas dos contrastes das variáveis analisadas de sementes de mangaba, da testemunha (0 hora) e fatorial (métodos de secagem nos tempos de 12, 24, 36 e 48 horas) em dois ambientes de secagem .......... 58 Tabela 2. Médias das variáveis analisadas de sementes de mangaba após a secagem em ambiente laboratório e dessecador por diferentes tempos.................................................................................................... 60 xiv Ficha Catalográfica elaborada na Seção de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial de Areia-PB, CCA/UFPB. Bibliotecária: Márcia Maria Marques CRB4 – 1409 B277t Barros, Daniella Inácio Tecnologia de sementes de mangaba (Hancornia speciosa Gomes)./ Adelmo Lima Bastos. – Areia, PB: PPGA/CCA/UFPB, 2006. 89f.: il. Tese (Doutorado em Agronomia) pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba. Área de concentração: Sementes. Orientadora: Riselane de Lucena Alcântara Bruno. 1. Mangaba - Hancornia speciosa Gomes. 2. Sementes mangaba. 3. Qualidade fisiológica - mangaba. 4. Tetrazólio. I. Bruno, Riselane de Lucena Alcântara (Orientadora). II. Título. 1 RESUMO BARROS, Daniella Inácio, D.S., Universidade Federal da Paraíba, março de 2006. Tecnologia de sementes de mangaba (Hancornia speciosa Gomes). Orientadora: Riselane de Lucena Alcântara Bruno. Comitê de Orientação: Rejane Maria Nunes Mendonça, Walter Esfrain Pereira e Silvanda de Melo Silva. Os estudos foram conduzidos no Laboratório de Análise de Sementes, pertencente à Universidade Federal da Paraíba, localizada em Areia-PB, objetivando obter conhecimentos sobre métodos de extração; alternativas para substratos e temperaturas; dessecação e a determinação da viabilidade de sementes de mangaba pelo teste de tetrazólio. O primeiro ensaio seguiu o delineamento experimental inteiramente casualizado com quatro repetições, estudando-se três métodos de extração de sementes: um manual (peneira) e dois mecânicos (despolpadeira e batedeira). Os resultados foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas por meio de contrastes ortogonais. Para o segundo ensaio, foi utilizado para descrever e ilustrar morfologicamente frutos e sementes, retirados aleatoriamente de uma amostra. Os dados das características quantitativas foram submetidos à análise descritiva, obtendo-se as respectivas médias, coeficiente de variação e desvio padrão. Para o estudo da germinação utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições em esquema fatorial 2 x 5: dois substratos (papel “germitest” e areia esterilizada) e cinco níveis de temperatura (constantes 25, 28, 30 e 35 °C e alternada 20 - 30 °C). Após a análise de variância generalizada, procedeu-se o desdobramento das interações. As temperaturas 25, 28, 30 e 35 °C foram analisadas através de regressão, enquanto a temperatura alternada 20 - 30 °C foi estudada através do contraste 30 vs 20 - 30 °C. O terceiro ensaio seguiu o delineamento experimental inteiramente casualizado com quatro repetições, sendo os tratamentos dispostos em esquema fatorial 2 x 4: dois métodos de secagem (condição ambiente de laboratório e dessecador com sílica gel) e quatro tempos (12, 24, 36 e 48 horas). Após a análise de variância generalizada, procedeu-se o desdobramento das interações. O efeito conjunto dos métodos de secagem e tempos foi analisado através de contraste, enquanto a comparação entre os métodos de secagem pelo teste F e dos tempos através de regressão. No quarto ensaio foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado com 2 quatro repetições. Calcularam-se os coeficientes de correlação simples de Pearson (r) entre os testes de tetrazólio (viabilidade) e germinação. Estudou-se inicialmente os seguintes métodos de pré-condicionamento: semente imersa diretamente na solução de tetrazólio (testemunha); embebição em papel toalha umedecido a 25 °C por 16 e 24 horas; imersão direta em água a 40 °C por 2 e 4 horas com e sem retirada do tegumento; corte longitudinal deixando o embrião exposto; corte na extremidade superior lateral com e sem imersão em água a 25 °C por 4 e 8 horas; três cortes na semente sendo dois laterais e um na parte superior oposta ao eixo embrionário para remoção do embrião com e sem imersão em água; perfuração na área superior. Em todos os métodos testados as sementes foram colocadas em BOD a 40 °C, em solução de 2,3,5 trifenil cloreto de tetrazólio, nas concentrações de 0,075; 0,5 e 0,1 % por 30, 60, 90 e 120 minutos. Concluiu-se que: sementes extraídas manualmente são de melhor qualidade fisiológica; as sementes de mangaba, extraídas na batedeira apresentam maior viabilidade e vigor e a despolpadeira provoca danos agudos nas sementes; os frutos de mangaba possuem forma elipsoidal com número variável de sementes (2-27); as sementes são ovais, com endosperma córneo e embrião com cotilédones foliáceos e eixo hipocótiloradícula com plúmula e radícula inconspícua; as temperaturas mais adequadas para germinação são 28 e 25 ºC, em substratos areia e papel; as sementes de mangaba podem ser secadas por períodos inferiores a 36 horas no ambiente laboratório (temperatura e umidade relativa do ar de 27 °C e 45 %) e 48 horas no dessecador, sem alteração em sua qualidade fisiológica; a secagem no dessecador é mais lenta e proporciona sementes mais vigorosas; o teste de tetrazólio pode ser utilizado, para avaliar com rapidez, a viabilidade das sementes de mangaba; para a condução do teste, as sementes devem ser seccionadas com três cortes no tegumento para a retirada do embrião e imersas na solução de tetrazólio a 0,075 %, por 60 a 90 minutos em BOD a 40 °C, para o desenvolvimento da coloração ideal. 3 INTRODUÇÃO As frutas mais importantes do ponto de vista econômico têm participação muito significativa no cenário agrícola do Nordeste, dentre elas pode-se ressaltar a mangaba, o abacaxi, o caju, a banana, a manga, a goiaba, o coco, o mamão, a graviola, o cajá e o maracujá. A mangaba é muito apreciada na região Nordeste, por apresentar ótimo aroma e sabor, boa digestibilidade e alto valor nutritivo, com teor de proteínas superior ao de grande parte das frutíferas (Parente et al., 1985). Apesar desse crescente interesse, a mangaba continua a ser uma cultura essencialmente extrativista e, salvo algumas raras exceções, não existem, ainda, pomares organizados ou implantados com a finalidade de exploração racional para a produção de frutos. A mangaba, juntamente com o cajá, o umbu, a ciriguela, a jaca, o bacuri, o açaí, a pupunha e outras, constitui um grupo de frutas que, apesar de toda sua potencialidade, são apenas conhecidas e disseminadas em seus centros de diversidade e áreas de ocorrência espontânea (Lederman & Bezerra, 2003). Conforme os dados do Censo Agropecuário realizado pelo IBGE, em 1996, é registrado uma produção nacional de 1492 t de frutos com um valor da produção de R$ 448.172.00, porém, sem discriminar as quantidades produzidas individualmente por cada estado ou região. Mesmo os Estados maiores produtores de mangaba, como a Bahia, a Paraíba, o Rio Grande de Norte não dispõem dessas informações. Do volume total de frutos comercializado durante o período de 1993 a 2002, cerca de 96 % vieram dos Estados do Rio Grande do Norte (60 %) e Paraíba (36 %); sendo os municípios de Ceará-Mirim (RN) e Mamanguape (PB), os responsáveis pela maior parte dessa produção extrativista (Lederman & Bezerra, 2003). A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma espécie frutífera e lactescente da família das Apocináceas, com porte médio, de 2 a 10 metros de 4 altura. Nativa do Brasil encontra-se vegetando espontaneamente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Na Paraíba, ocorre predominantemente, na mesorregião da Mata Paraibana, com maior freqüência nas áreas compreendidas pelas microrregiões de João Pessoa e dos Litorais Norte e Sul (Aguiar Filho & Bosco, 1998). Típica da faixa litorânea Nordestina, sua população vem sendo drasticamente reduzida, juntamente com o restante da vegetação nativa, devido à especulação imobiliária e ao desmatamento para o cultivo de monoculturas, principalmente coqueiro, cana-de-açúcar e pastagens (Vieira Neto, 1998). Fruta rica em diversos elementos, vitaminas A, B1, B2 e C, além de ferro, fósforo, cálcio e proteínas. Seus frutos possuem grande potencial de mercado uma vez que a procura não atende a demanda, sendo em sua grande maioria provenientes de atividade extrativista. Possuem polpa amarela adocicada, que é consumida in natura, como também para industrialização sob a forma de doces, geléias, compotas, vinho, vinagre, suco e sorvete (Lederman et al., 2000). A exploração de uma espécie nativa depende de conhecimentos técnicos a respeito da sua propagação, fundamentais para a definição de tecnologia de exploração racional. A mangabeira pode ser propagada pelo processo sexuado, que é o método mais usado pelo fato das sementes não apresentarem problema de dormência ou pelo processo assexuado através da borbulhia, garfagem e encostia (Aguiar & Bosco, 1998). Normalmente, a porcentagem de germinação de sementes de mangaba é baixa devido a presença de inibidores na polpa como também pelo fato de suas sementes serem recalcitrantes (Lorenzi, 1992; Oliveira & Valio, 1992). Tal fato foi constatado em pesquisa realizada anteriormente por Tavares (1960) que verificou uma diminuição na germinação de sementes de mangaba quando não eram removidos os resíduos da polpa. 5 A maioria das espécies possui sementes cujo período de viabilidade pode manter-se, quando o teor de água e a temperatura são reduzidos durante o armazenamento, sendo estas chamadas ortodoxas (Roberts, 1973). Porém, existe um outro grupo de espécies para as quais não se aplica a regra geral de redução da temperatura e umidade no armazenamento, e cujo período de viabilidade é bem mais reduzido. De acordo com Roberts (1973), estes tipos de sementes, chamadas de recalcitrantes não sofrem secagem natural na planta matriz e são liberadas com elevado teor de água, e se for reduzido a um nível considerado crítico, geralmente elevado, ocorrerá a perda rápida da viabilidade, podendo levar até a morte. Para a grande maioria das fruteiras nativas e exóticas, dados sobre a conservação da viabilidade e do vigor ainda são escassos, necessitando de pesquisas referentes às condições ideais de secagem e germinação. Nesse contexto, os objetivos deste trabalho foram: - Avaliar a qualidade fisiológica de sementes de mangaba extraídas sobre diferentes métodos; - Conhecer aspectos morfológicos dos frutos e sementes, assim como estudar o efeito de temperaturas e substratos na germinação e vigor de sementes de mangaba; - Verificar o efeito de diferentes métodos de secagem, sobre a germinação e o vigor de sementes de mangaba; - Desenvolver metodologia para o uso do teste de tetrazólio em sementes de mangaba. 6 REVISÃO DE LITERATURA Semente recalcitrante Segundo Aguiar Filho & Bosco (1998), a propagação da mangabeira pode ser feita pelo processo sexuado, através da semente, ou pelo processo assexuado mediante o uso de parte vegetal. Normalmente, a porcentagem de germinação de sementes de mangaba é baixa, devido não só a presença de inibidores na polpa como também ao fato de suas sementes serem recalcitrantes (Lorenzi, 1992). Tal fato foi constatado em pesquisa realizada por Tavares (1960) onde o mesmo verificou uma diminuição na germinação de sementes dessa espécie quando não eram removidos os resíduos da polpa. De acordo com Roberts (1973), as sementes recalcitrantes não sofrem secagem natural na planta matriz e são liberadas com elevado teor de água, e se for reduzido a um nível considerado crítico, geralmente elevado, ocorrerá a perda rápida da viabilidade, podendo levar até a morte. Porém, existe um outro grupo de espécies para as quais não se aplica a regra geral de redução da temperatura e teor de água no armazenamento, e cujo período de viabilidade é bem mais reduzido. As espécies recalcitrantes que possuem menores períodos de viabilidade são originárias de regiões tropicais úmidas, onde existe um ambiente adequado, aproximadamente constante ao longo do ano, para a germinação de suas sementes, que geralmente não apresentam dormência. Por outro lado, as espécies recalcitrantes provenientes de regiões temperadas, frequentemente possuem algum tipo de dormência, na maioria das vezes relacionada com exigência em frio. Esta característica permite-lhes permanecerem viáveis até que as condições adversas acabem. A maioria das frutíferas tropicais perenes e florestais de clima tropical ou temperado, economicamente importantes, é recalcitrante (Chin & Roberts, 1980). 7 Dentre elas podem ser citadas a mangueira (Mangifera indica) (Simão, 1959; Chacko & Singh, 1971), cacau (Theobroma cacao) (Zink & Rochele, 1994), ipê (Tabebuia sp.) (Kageyama & Márquez, 1981), seringueira (Hevea brasiliensis) (Cardoso et al., 1966; Cícero et al., 1986); além destas, estudos têm demonstrado o comportamento recalcitrante de outras espécies, como jabuticaba (Myrciaria cauliflora) (Valio & Ferreira, 1992; Mendonça, 1999) e mangaba (Hancornia speciosa Gomes) (Parente & Carmona, 1988). Os trabalhos realizados com sementes de fruteiras tropicais recalcitrantes são de certa forma escassos e podem ocorrer erros metodológicos resultando em classificação equivocada, como ocorreu com Citrus spp. (Barton, 1965) que anteriormente havia sido classificada como recalcitrante e estudos mais recentes demonstram ser mais próxima de ortodoxa (Chin et al., 1984; Farrant et al., 1988). Cogita-se que a falha na germinação ocorrida nos trabalhos antigos deveu-se, presumidamente por morte das sementes durante o processo de secagem e não devido ao baixo teor de água das sementes. Farrant et al. (1986, 1988) citado por Mendonça & Dias (2000), propuseram um modelo para explicar o comportamento geral das sementes recalcitrantes, admitindo pequenas variações entre as espécies. Porém, as causas pela qual a desidratação das sementes recalcitrantes pode resultar em sua morte ainda não estão bem definidas. A esse respeito, estudos foram realizados, principalmente, com as espécies de Avicennia marina, tipos, sensíveis à dessecação. Tais autores constataram que a acentuada desidratação das sementes recalcitrantes resulta na remoção da água livre e de parte da água de constituição, que se encontra ligada às macromoléculas, acarretando perda da integridade e de componentes celulares, uma vez que as sementes embebidas possuem enzimas operacionais, membranas 8 intactas e mecanismos de reparo que podem tornar-se não-funcionais, quando as sementes sofrem processo de secagem. Para as sementes ortodoxas esses efeitos são reversíveis e podem ser retificados durante a embebição, porém nas sementes recalcitrantes, isso não ocorre, sendo possível que a estrutura de certas enzimas ou proteínas estruturais seja permanentemente alterada pela secagem, resultando na perda da atividade biológica (Berjak et al., 1984; Bewley & Black, 1994). Avaliação da qualidade fisiológica das sementes A avaliação da qualidade fisiológica das sementes é fundamental para os diversos segmentos que compõem um sistema de produção, pois a descoberta dos efeitos dos fatores que possam afetar a qualidade dessas sementes, depende diretamente, da eficiência dos métodos utilizados para determiná-la (Marcos Filho et al., 1987). Essa avaliação é feita tradicionalmente pelo teste de germinação, porém este, apresenta limitações por fornecer resultados que superestimam o potencial fisiológico das sementes, devido ao fato de ser conduzido sob condições ótimas. Diante disto, foram desenvolvidos testes de vigor com a finalidade de fornecer informações complementares às obtidas no teste de germinação e que permitissem estimar o potencial de emergência de plântulas em campo sob ampla faixa de condições ambientais. Assim, a viabilidade e o vigor são os parâmetros fundamentais utilizados para avaliar a qualidade das sementes. O teste de germinação é considerado padronizado, com possibilidade de repetição dos resultados, desde que sejam seguidas as instruções estabelecidas nas Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992). Por isso, este teste não é 9 conduzido em condições de campo, porque o resultado dificilmente seria reproduzido. A ausência de uma estreita relação entre a germinação, obtida em laboratório, e a emergência das plântulas em campo, levou ao desenvolvimento do conceito de vigor. De acordo com a definição da ISTA em 1977 e AOSA em 1979, “Vigor de sementes compreende um conjunto de características que determinam o potencial para a emergência e o rápido desenvolvimento de plântulas normais, sob ampla diversidade de condições de ambiente” (Carvalho & Nakagawa, 2000). Assim, a avaliação do vigor das sementes é realizada com o objetivo básico de identificar possíveis diferenças significativas na qualidade fisiológica de lotes que apresentem poder germinativo semelhante. McDonald Junior (1975) dividiu os testes de vigor em físicos, fisiológicos e bioquímicos. Os físicos estariam relacionados com características de tamanho, peso e densidade das sementes; os fisiológicos utilizam alguns parâmetros vinculados à germinação e ao crescimento de plântulas, enquanto os bioquímicos avaliam alterações bioquímicas/moleculares associadas ao vigor das sementes. Para a avaliação da qualidade das sementes uma das principais exigências, refere-se à rapidez na obtenção dos resultados, para que as tomadas de decisões possam ser agilizadas, principalmente durante as operações de colheita, processamento e comercialização. Os testes que demandam período de tempo curto estão relacionados com os eventos iniciais da deterioração, conforme sequência proposta por Delouche & Baskin (1973), baseando-se na integridade das membranas celulares destacam-se os testes de condutividade elétrica e de lixiviação de potássio e na redução das atividades enzimáticas e respiratórias das sementes, o teste de tetrazólio (Abdul-Baki & Anderson, 1973). 10 Teste de tetrazólio Dentre os testes que se baseiam na alteração de atividades enzimáticas, destaca-se o de tetrazólio, que tem se mostrado uma alternativa interessante pela rapidez na determinação da viabilidade e do vigor, permitindo obter resultados em menos de 24 horas (Delouche et al., 1976; França Neto et al., 1988; Costa & Marcos Filho, 1994). O teste de tetrazólio é conhecido desde a década de 30, quando Kuhn e Jerchel descobriram que os sais de tetrazólio reduziam-se nos tecidos vivos, resultando em um composto de cor vermelha (trifenilformazan), despertando o interesse de vários cientistas que se dedicaram a estudar o teste (Delouche et al., 1976). Em 1945, Lakon publicou o primeiro trabalho com sementes de milho e de cereais pequenos, descobrindo que o melhor sal para a avaliação da viabilidade das sementes era o 2, 3, 5 trifenil cloreto de tetrazólio. O conhecimento deste princípio e a divulgação de suas aplicações promoveram grande impulso na pesquisa resultando em diversos trabalhos publicados no mundo todo. Este teste baseia-se na atividade das enzimas desidrogenases, que reduz o sal de tetrazólio nos tecidos vivos da semente, onde íons de hidrogênio são transferidos para o referido sal que atua como receptor de H (Delouche et al., 1976). Quando a semente é imersa na solução de tetrazólio, esta se difunde através dos tecidos, ocorrendo nas células vivas a reação de redução, resultando na formação de um composto vermelho, não difusível, conhecido como trifenilformazan, indicando haver atividade respiratória nas mitocôndrias e, conseqüentemente, que o tecido é vivo. Por outro lado, não ocorre a reação no tecido morto que, portanto, não desenvolve a coloração vermelha, conservando-se a sua cor natural (França Neto et al., 1988). 11 De acordo com Moore (1985), tecidos vigorosos tendem a se colorir gradualmente e uniformemente, desenvolvendo coloração rosa a vermelho brilhante e apresentando-se túrgidos quando embebidos. A ocorrência de vermelho intenso é característica de tecidos em deterioração, que permitem maior difusão da solução de tetrazólio através de suas membranas celulares já comprometidas. Já os tecidos mortos não desenvolvem coloração, porque não apresentam atividade enzimática necessária para a redução do trifenilformazan, e geralmente, apresentam-se flácidos e com coloração branca opaco ou amarelada. É importante ressaltar que tecidos mortos podem ainda apresentar manchas vermelhas, devido à atividade de fungos ou bactérias. Segundo Moore (1973), estas diferenças de coloração,juntamente com os conhecimentos de algumas características das sementes, permitem a avaliação da presença, localização e natureza dos distúrbios dos tecidos embrionários, podendo fornecer uma estimativa da viabilidade ou vitalidade do embrião. No Brasil, resultados de pesquisas desenvolvidas com sementes de soja por França Neto et al. (1981, 1985 e 1988) na Embrapa Soja, estão sendo utilizadas com sucesso em vários laboratórios. Estes autores desenvolveram uma metodologia que permite não só avaliar a viabilidade e o vigor, como também determinar o grau de deterioração por umidade e por danos mecânicos, e também danos ocasionados por secagem e por picada de percevejo. Desta forma, o teste permite o diagnóstico detalhado das principais causas de perda da qualidade da semente de soja. Assim, conforme Moore (1985), o teste de tetrazólio tem como objetivos principais determinar o potencial de germinação de um lote de sementes sob condições ideais, classificar as sementes em diferentes categorias de viabilidade e diagnosticar as possíveis causas da perda de viabilidade das mesmas. Mesmo apresentando estas características tão interessantes, o uso do teste de tetrazólio ainda não apresenta 12 importância proporcional devido à falta de metodologias apropriadas para as diferentes espécies (Marcos Filho et al., 1987). É importante ressaltar que, a principal vantagem do teste de tetrazólio reside na possibilidade de avaliação da qualidade das sementes em poucas horas. Os dados obtidos podem ser empregados no estabelecimento de bases para a comercialização como ocorre para algumas forrageiras (Panicum maximum e Brachiaria brizantha), cujo teste de germinação é bastante demorado (28 e 21 dias, respectivamente) e que quando recém colhidas apresentam alto percentual de sementes dormentes. Além disso, é um teste indicado para determinar o ponto de colheita e auxiliar no controle de qualidade pós-colheita, fornecendo uma estimativa do vigor. Diversos fatores podem interferir na obtenção de resultados satisfatórios no teste de tetrazólio, principalmente aqueles relacionados à metodologia de execução. O uso de solução de tetrazólio na concentração adequada é um deles. As Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992) recomendam, para a maioria das espécies, concentrações de 0,5 a 1,0 %, o que provoca o desenvolvimento de coloração vermelha muito intensa (grená) dificultando a interpretação, principalmente na identificação visual entre o tecido viável e o tecido em estádio avançado de deterioração. Em virtude disto, mais recentemente, trabalhos realizados com algumas espécies como soja, algodão, amendoim, milho, feijão e café têm indicado o uso de solução a 0,075%, que permite o desenvolvimento de coloração ideal tanto nos tecidos vigorosos como nos não vigorosos. Além da concentração da solução de tetrazólio, outro aspecto importante é o período de tempo necessário para o desenvolvimento de coloração nas sementes. É importante que as sementes 13 estejam totalmente submersas na solução de tetrazólio e que esta não seja exposta à luz direta para não ocorrer reação de redução (Brasil, 1992). Delouche et al. (1976) afirmam que sementes de uma mesma espécie ou até de um mesmo lote, podem apresentar velocidade de coloração diferente. Assim, o período de coloração deve ser encerrado quando a intensidade média de coloração for ótima para a interpretação, pois algumas sementes colorem mais rapidamente enquanto outras mais lentamente. Geralmente, sementes velhas e deterioradas se colorem mais rapidamente e desenvolvem coloração vermelho carmim. Um período muito longo de contato das sementes com a solução pode acarretar o desenvolvimento de coloração muito intensa, prejudicando a interpretação do teste. Para facilitar a penetração da solução de tetrazólio, o pré-condicionamento das sementes e corte são necessários para algumas espécies e recomendados para outras (Brasil, 1992), auxiliando no desenvolvimento de uma coloração mais uniforme e facilitando a interpretação (Delouche et al., 1976). Assim, o précondicionamento tem como finalidade hidratar os tecidos e promover a reativação enzimática necessária para o teste. É importante ressaltar que, o sucesso no emprego de testes rápidos como método para avaliação do vigor depende, dentre outros fatores, das relações entre as informações provenientes do laboratório e o desempenho das sementes em campo. Diante do exposto, verifica-se que a rapidez na obtenção das informações seguras sobre a qualidade das sementes, a classificação destas em diferentes classes de viabilidade e vigor e a possibilidade de diagnosticar as causas da redução da qualidade são as principais vantagens do teste. Por outro lado, algumas limitações têm sido relatadas por Marcos Filho et al. (1987) como: a necessidade de 14 pessoal treinado em estruturas embrionárias das sementes, não identificação da presença de patógenos e não permitir verificar a eficiência de tratamento químico. Segundo Marcos Filho et al. (1987) o teste de tetrazólio ainda não tem uso generalizado principalmente pela falta de treinamento de pessoal e ausência de conhecimentos sobre a metodologia mais adequada para as várias espécies. As informações até então obtidas a respeito do referido teste indicaram a potencialidade do teste e sua possível aplicação em maior escala para outras espécies, desde que seja desenvolvida metodologia adequada para as sementes de cada espécie. Portanto, o teste de tetrazólio mostra-se como uma alternativa eficiente para avaliar a viabilidade e o vigor de muitas espécies e permite, muitas vezes, determinar os principais fatores envolvidos na perda da qualidade de um lote de sementes. Contudo, estes objetivos só serão atingidos, se houver disponibilidade de metodologia eficiente e padronizada. 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDUL-BAKI, A.A.; ANDERSON, J.D. Vigor determination in soybean seed by multiple criteria. Crop Science, Madison, v.13, n.6, p.630-633, 1973. AGUIAR FILHO, S.P.; BOSCO, J. A mangabeira (Hancornia speciosa) domesticação e técnicas de cultivo. João Pessoa: EMEPA-PB, 1998. 26p. (Documentos, 24). BARTON, L.V. The storage of citrus seeds. Contributions from Boyce Thompson Institute, New York, v.23, n.4,p.109-123,1965. BERJAK, P.; DINI. M.; PAMMENTER, N.W. Possible mecanisms underlying the differing dehydration responses in recalcitrant and ortodox seeds: desiccationassocited subcellular changes in propagules of Avicennia marina. Seed Science and Technology, Zurich, v.12, n.2, p.365-384, 1984. BEWLEY, J.D.; BLACK, M. Seeds. Physiology of development and germination. 2 ed. New York: Plenum Press, 1994. 306p. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNPV/CLAV, 1992. 365p. CARDOSO, M.; ZINK, E.; BACCHI, O. Estudo sobre a conservação de sementes de seringueira. Bragantia, Campinas, v.25, p.35-40, 1966. CARVALHO, N.M., NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4 ed. Jaboticabal: Funep, 2000. 588p. 16 CHACKO, E.K. SINGH, R.N. Studies on the longevity of papaya, phalsa, guava and mango seeds. Proceedings of International seed Testing Association, Vollebekk, v.36, n.1, p.147-158, 1971. CHIN, H.F.; HOR, Y.L.; MOHD LASSIM, M.B. Identification of recalcitrant seeds. Seed Science and Technology, Zurich, v.12, n.2, p.429-436, 1984. CHIN, H.F.; ROBERTS, E.H. Recalcitrant crop seed. Malaysia: Tropical Press SND. BHD, 1980. 152p. CÍCERO, S.M.; MARCOS FILHO, J.; TOLEDO, F.F. Efeitos do tratamento fungicida e de três ambientes de armazenamento sobre a conservação de sementes de seringueira. Anais da Escola Superior de Agricultura ¨Luiz de Queiroz¨, Piracicaba, v.43, n.2, p.763-787, 1986. COSTA, N.P.; MARCOS FILHO, J. O emprego do teste de tetrazólio na avaliação da qualidade da semente de soja. Informativo ABRATES, Curitiba, v.4, n.2, 1994. DELOUCHE, J.C.; STILL, T.W.; RASPET, M.; LIENHARD, M. O teste de tetrazólio para viabilidade da semente. Tradução de Flávio Rocha. Brasília, 1976. 103p. DELOUCHE, J.C.; BASKIN, N.C. Accelerated aging techniques for predicting the relative storability of seed lots. Seed Science and Technology, Zurich, v.1, n.1, p.427-452, 1973. FARRANT, J.M.; PAMMENTER, N.W.; BERJAK, P. Recalcitrance- a current assessment. Seed Science and Technology, Zurich, v.16, n.1, p.1555-1566, 1988. 17 FARRANT, J.M.; PAMMENTER, N.W.; BERJAK, P. The increasing desiccation sensivity of recalcitrant Avicennia marina seeds with storage time. Physiologia Plantarum, Copenhagen, v.67,n.2, p.291-298, 1986. FRANÇA NETO, J.B. Princípios do teste de tetrazólio para a semente de soja. Curitiba: TECPAR, 1981. 14p. (Boletim LASP, v.3, n.1). FRANÇA NETO, J.B.; PEREIRA, L.A.G.; COSTA, N.P. Metodologia do teste de tetrazólio em sementes de soja. In: FRANÇA NETO, J.B; HENNING, A.A. Diagnóstico completo da qualidade da semente de soja – Versão Preliminar. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, p.9-43. 1985. FRANÇA NETO, J.B.; PEREIRA, L.A.G.; COSTA, N.P.; KRZYZANOWSKI, F.C.; HENNING, A.A. Metodologia do teste de tetrazólio em sementes de soja. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1988. 60p. KAGEYAMA, P.Y.; MÁRQUEZ, F.C.M. Comportamento das sementes de espécies de curta longevidade armazenadas com diferentes teores de umidade inicial (gênero Tabebuia). Piracicaba. 1981. 4p. (IPEF. Circular Técnica, 126) LEDERMAN, I.E.; BEZERRA, J.E.F. Situação atual e perspectiva da cultura da mangaba no Brasil. In: Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Mangaba, 1., 2003, Aracaju - SE. Anais... Aracaju - SE: SBCM, 2003. (CD-ROM) LEDERMAN, I.E.; SILVA JUNIOR, J.F.; BEZERRA, J.E.F.; ESPÍNDOLA, A .C. M. Mangaba (Hancornia speciosa Gomes). Jaboticabal: Funep, 2000. 35p. (Série Frutas Nativas, 2). 18 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa : Plantarum, 1992. 352p. McDONALD JUNIOR, M.B. A review and evalution of seed vigor tests. Proceedings Association Official Seed Analysts, Lasing, v.65, p.109-139, 1975. MARCOS FILHO, J.; CICERO, S.M.; SILVA, W.R. Teste de tetrazólio. Piracicaba. ESALQ - Departamento de Agricultura e Horticultura, 1987. 40p. MENDONÇA, R.M.N. Maturação, secagem e armazenamento de sementes e propagação vegetativa de jabuticabeiras (Myrciaria spp.). Viçosa-MG: UFV, 1999. 130p. (Doutorado em Fitotecnia) - Universidade Federal de Viçosa, 1999. MENDONÇA, R.M.N.; DIAS, D.C.F.S. Conservação de sementes de fruteiras tropicais recalcitrantes: uma abordagem. Agropecuária Técnica, Areia, v.21, n.1/2, p.57-73, 2000. MOORE, R.P. Handbook on tetrazolium testing. Zurich: International Seed Testing Association, 1985. 99p. MOORE, R.P. Tetrazolium staining for assessing seed quality. In: HEYDECKER, W. (ed.). Seed ecology. London-Butterworth, p.347-366, 1973 OLIVEIRA, L.M.Q.; VALIO, I.F.M. Effects of moisture contention germination of seeds of Hancornia speciosa Gom. (Apocynaceae). Annals of Botany, Oxford, v.69, p.1-5, 1992. 19 PARENTE, T.V., BORGO, L.A ., MACHADO, J.W.B. Características químicas de frutos de mangaba (Hancornia speciosa Gomes) do Cerrado da região geoeconômica do Distrito Federal. Ciência e Cultura, São Paulo. v.37, n.1, p.96-98, 1985. PARENTE, T.V.; CARMONA, R. Preservação do poder germinativo de sementes de mangaba (Hancornia speciosa Nees e Mart.) em diferentes meios de armazenamento. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.10, n.3, p.71-76, 1988. ROBERTS, E.H. Predicting the storage life of seeds. Seed Science and Technology, Zurich. v.1. n.3. p.499-514. 1973. SIMÃO, S. Estudo do poder germinativo da semente de manga. Anais da Escola Superior de Agricultura ¨Luiz de Queiroz¨, Piracicaba, v.16, p.289-297, 1959. TAVARES, S. Estudos sobre germinação de sementes de mangaba, Hancornia speciosa Gomes. Arquivos do IPA. v.5. 1960. p.193-199. VALIO, I.F.M.; FERREIRA, Z.L. Germination of seeds of Myrciaria cauliflora (Mart.) Berg. (Myrthaceae). Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, Brasília, v.4, n.2. p.95-98, 1992. VIEIRA NETO, R.D. Efeito de diferentes substratos na formação de mudas de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes). Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.20, n.3, p.265-271, 1998. 20 ZINK, E.; ROCHELLE, L.A. Estudos sobre a conservação de sementes, XI- Cacau. Bragantia, Campinas, v.23, n.11, p.111-116, 1994. 21 ARTIGO 1 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO SOBRE A QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE MANGABA RESUMO A mangaba (Hancornia speciosa Gomes) tem a via sexuada como principal forma de propagação. São escassas as pesquisas referentes à extração de suas sementes, entretanto, a viabilidade e o vigor dependem diretamente do método empregado. O presente trabalho teve com objetivo avaliar a qualidade fisiológica de sementes de mangaba extraídas sobre três métodos, sendo um manual (peneira) e outros dois mecânicos (despolpadeira e batedeira), em seguida as mesmas foram submetidasa determinação do teor de água e aos testes de germinação, condutividade elétrica, primeira contagem, emergência de plântulas em areia e massa seca de plântulas. A extração manual proporcionou sementes com maior qualidade fisiológica e entre os métodos mecânicos a batedeira resultou em sementes mais viáveis e vigorosas enquanto a despolpadeira provocou danos agudos. Termos para indexação: Hancornia speciosa, semente, viabilidade, vigor. 22 EXTRACTION METHODS ABOUT MANGABA SEEDS QUALITY ABSTRACT Mangaba (Hancornia speciosa Gomes) has sexual road sexuada as the main propagation form. Researches regarding the extraction of is seeds are scarce; however, viability and vigor depend directly on the employed method. The present work had as an objective to evaluate extracted mangaba seeds physiologic quality on three methods, in which one is manual (drizzles) and the other two are mechanics (content removing device and mixer), further the mentioned seeds were submitted to humidity, germination, electric conductivity, first count, seedling emergence and seedlings dry mass tests. Manual extraction provided seeds with a larger physiologic quality and, among mechanical methods, the mixer resulted in viable and vigorous seeds obtention, while the content removing device caused sharp damages. Index terms: Hancornia speciosa, seed, viability, vigor 23 1. INTRODUÇÃO A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma planta nativa do Brasil, encontra-se vegetando espontaneamente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Na Paraíba, ocorre predominantemente, na mesorregião da Mata Paraibana, com maior freqüência nas áreas compreendidas pelas microrregiões de João Pessoa e dos Litorais Norte e Sul (Aguiar Filho & Bosco, 1998). Típica da faixa litorânea Nordestina, sua população vem sendo drasticamente reduzida, juntamente com o restante da vegetação nativa, devido à especulação imobiliária e ao desmatamento para o cultivo de monoculturas, principalmente coqueiro, cana-deaçúcar e pastagens (Vieira Neto, 1998). Considerando que trata-se de uma cultura ainda em fase de domesticação temas como avaliação da qualidade fisiológica das sementes, seleção de genótipos, desenvolvimento e adaptação de práticas culturais e aspectos relacionados com a pré e pós-colheita do fruto, entre outros, necessitam ser melhor investigados. Esse quadro de abandono e destrato das mangabeiras existentes tem sido, por outro lado amenizado pelo interesse de alguns produtores em iniciar um plantio estruturado sob bases comerciais, estimulados pela grande demanda e os bons preços alcançados no mercado informal. Os frutos são do tipo baga de tamanho, formato e cores variados, normalmente, elipsoidais ou arredondados, amarelados ou esverdeados, com pigmentação vermelha ou sem pigmentação, polpa amarela adocicada, rica em vitaminas, ferro, fósforo, cálcio e proteínas (Aguiar Filho & Bosco, 1998). Suas sementes são achatadas e discóides, com coloração castanho-clara (Lederman et al., 2000). A extração das sementes de mangaba pode ser manual ou mecânica, desde que, sejam utilizados frutos sadios e maduros, apresentando casca amarela ou 24 verde - amarelada, com manchas avermelhadas e consistência macia ou mole, colhidos logo depois da sua queda ao chão (Parente et al., 1986). Contudo, a qualidade fisiológica das sementes é afetada pela polpa aderida à semente, método de extração, cor e tamanho do fruto, armazenamento e dessecação (Tavares, 1960; Pimentel & Santos, 1978; Parente & Machado, 1986; Vieira Neto, 1997; Queiroz & Bianchetti, 2001; Bruno et al., 2004). Estudos têm revelado que as sementes devem ser semeadas o mais rapidamente após serem extraídas do fruto, não sendo recomendado o uso de sementes que tenham sido despolpadas a mais de sete dias, pois a sua viabilidade pode já está comprometida (Pimentel & Santos, 1978). Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade fisiológica de sementes de mangaba extraídas sobre diferentes métodos. 25 2. MATERIAL E MÉTODOS Este experimento foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba em Areia - PB, no período de março a junho de 2004. Para tanto foram utilizados frutos de mangaba provenientes da Estação Experimental de Mangabeira pertencente a EMEPA Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba, localizada em João Pessoa - PB. As sementes foram retiradas de frutos maduros coletados logo após caírem ao solo. Foram estudados três métodos de extração das sementes de mangaba sendo um manual (peneira) e outros dois mecânicos (despolpadeira e batedeira). Na extração manual os frutos foram macerados em peneira de palha, na despolpadeira os frutos foram separados em polpa e sementes e na batedeira as sementes saiam misturadas à polpa. Nos três métodos de extração as sementes foram lavadas em água corrente até a retirada total da polpa aderida. Em seguida, foram desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio a 0,5% e para retirar o excesso de água foram espalhadas sobre papel toalha permanecendo à sombra por 24 horas. A qualidade fisiológica das sementes de mangaba foi avaliada pela determinação do teor de água e pelos testes descritos abaixo: Teor de água (U) - avaliado pelo método da estufa a 105 ± 3 °C (Brasil, 1992), utilizando-se quatro subamostra de 25 sementes. Germinação (G) - realizado com quatro subamostras de 50 sementes, que antes do início do teste foram tratadas com fungicida Benomil - 500 na concentração de 1,0 g/kg de sementes, em seguida distribuídas em folhas de papel “germitest”, umedecidas com água destilada numa quantidade equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato seco (Brasil, 1992), sendo os rolos confeccionados e mantidos em 26 germinador a 28 ºC, diariamente foram realizadas observações na porcentagem de plântulas anormais, sementes duras e sementes mortas. Primeira contagem de germinação (PCG) - conduzido conjuntamente com o teste de germinação, sendo a contagem realizada no décimo quinto dia após a semeadura e os resultados expressos em porcentagem de plântulas normais (Nakagawa, 1999). Condutividade elétrica (CE) - utilizou-se quatro subamostras de 50 sementes, determinada através da pesagem de sementes em balança de precisão de 0,01 g, colocadas para embeber em copos plásticos contendo 75 mL de água desionizada, a 25 °C, durante 24 horas conforme metodologia de Vieira (1994). Emergência de plântulas em areia (EPA) - conduzido em casa de vegetação onde as sementes também foram tratadas com fungicida Benomil-500, na mesma concentração, posteriormente quatro subamostras de 50 sementes foram distribuídas em bandejas plásticas contendo areia esterilizada e umedecida com a quantidade de água equivalente a 60 % da capacidade de retenção. Massa seca de plântulas (MSP) - realizado ao final do teste de emergência em areia, as plântulas foram colocadas em sacos de papel e levados para estufa com circulação de ar forçado, mantidos a temperatura de 65 °C, onde permaneceram até atingir peso constante. Os resultados foram expressos em gramas por repetição, conforme recomendações de Nakagawa (1994). O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições e os resultados obtidos submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas por meio de contrastes ortogonais. 27 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios do teor de água, germinação, plântulas anormais, sementes duras e mortas, condutividade elétrica, primeira contagem de germinação, emergência de plântulas em areia e massa seca de plântulas de mangaba estão apresentados na Tabela 1. Independentemente do método de extração, o teor de água, germinação e emergência de plântulas em areia de sementes de mangaba foram altas, variando de 46,2 a 50,4 %, 73,0 a 86,0 % e 80 a 88 %, respectivamente. Barros et al. (2003), estudando diferentes métodos de secagem de sementes de mangaba, verificaram que o teor de água das mesmas, na ocasião da instalação do ensaio, estava em torno de 43 %. Parente & Machado (1986), observaram que as sementes obtidas de frutos maduros apresentaram germinação em torno de 86 %. Tabela 1. Médias das variáveis analisadas de sementes de mangaba submetidas a diferentes métodos de extração. Métodos de extração Variáveis Peneira Despolpadeira Batedeira Teor de água (%) 50,3 46,2 48,2 Germinação (%) 80,0 73,0 86,0 Plântulas anormais (%) 10,5 14,0 6,0 Sementes duras (%) 4,5 6,0 1,5 Sementes mortas (%) 5,0 7,5 6,5 Condutividade elétrica (µS/cm/g) 24,5 23,5 15,4 Primeira contagem (%) 36,7 32,5 40,7 Emergência de plântulas em areia (%) 84,0 88,0 80,0 Massa seca de plântula (g) 0,1 0,1 0,2 As sementes retiradas na peneira, com teor de água pouco maior (3,1 %), em relação às extraídas mecanicamente, apresentaram mesma porcentagem de germinação (Tabela 2). 28 Tabela 2. Estimativas dos contrastes das variáveis analisadas de sementes de mangaba submetidas a diferentes métodos de extração Estimativas dos contrastes Variáveis Peneira vs Despolpadeira Despolpadeira vs e Batedeira Batedeira Teor de água (%) 3,1 ** -2,0 ** ns Germinação (%) 0,7 -13,5 ** Plântulas anormais (%) 0,5 ns 8,0 ** ns Sementes duras (%) 0,7 4,5 * Sementes mortas (%) -2,0 ns 1,0 ns Condutividade elétrica (µS/cm/g) 5,1 ** 8,1 ** ns Primeira contagem (%) 0,1 -8,2 ** Emergência em areia (%) 0,0 ns 8,0 ns ns Massa seca de plântulas (g) -0,04 -0,06 ns ns , * e ** , Não significativo, significativo a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente, pelo teste F. Oliveira & Valio (1992), observaram redução na germinação de sementes de mangaba com teor de água abaixo de 25 %. Pimentel & Santos (1978), estudando o efeito de diferentes tratamentos para retirada total da polpa aderida as sementes de mangaba, constataram que o método da peneira foi o mais recomendado. Contudo, as sementes extraídas na batedeira, apresentaram teor de água (2,0 %) e germinação (13,5 %) superiores as da despolpadeira. Esta diferença na germinação, provavelmente, não está relacionada ao teor de água, mas sim a danos na semente causados durante a extração pela despolpadeira, ocorrendo maior porcentagem de plântulas anormais (8,0 %). Tavares (1960) estudando o efeito de resíduos de polpa aderidos a sementes de mangaba, verificou que os mesmos inibem a germinação. Observou-se alterações da condutividade elétrica (CE) em todos os métodos de extração das sementes de mangaba e da primeira contagem de germinação (PCG) entre os métodos mecânicos. Com maiores valores de condutividade (5,1 e 8,1 µS/cm/g) para as sementes extraídas na peneira e na despolpadeira, respectivamente, e menores de primeira contagem de germinação (8,2 %) nas sementes extraídas pela despolpadeira. Indicando que a extração das sementes na peneira apesar de ter ocasionado uma pequena alteração nos sistemas de 29 membranas, não promoveu redução na viabilidade e no vigor das sementes, confirmada pelas porcentagens semelhantes de germinação, plântulas anormais, sementes duras, sementes mortas, emergência de plântulas em areia e massa seca de plântulas, enquanto na despolpadeira estas alterações foram mais acentuadas, proporcionando aumento na lixiviação de solutos celulares. 30 4. CONCLUSÕES - Sementes extraídas manualmente são de melhor qualidade fisiológica; - Entre os métodos mecânicos, as sementes de mangaba, extraídas na batedeira apresentam maior viabilidade e vigor; - A despolpadeira provoca danos agudos nas sementes de mangaba. 31 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR FILHO, S.P.; BOSCO, J. A mangabeira (Hancornia speciosa) domesticação e técnicas de cultivo. João Pessoa: EMEPA-PB, 1998. 26p. (Documentos, 24). BARROS, D.I.; BRUNO, R.L.A.; MENDONÇA, R.M.N.; NUNES, H.V.; PEREIRA, W.E.; FRANCO, C.F.O.; FONTINELLI, S.C. Germinação de sementes de mangaba (Hancornia speciosa Gomes) em diferentes substratos e temperaturas. In: Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Mangaba, 1., 2003, Aracaju-SE. Resumos... AracajuSE: SBCM, 2003. (CD-ROM). BRUNO, R.L.A.; BARROS, D.I.; NUNES, H.V.; SILVA, G.C.; PEREIRA, W.E. MENDONÇA, R.M.N. Métodos de extração e suas implicações sobre a qualidade fisiológica de sementes de mangaba. In: Congresso Brasileiro de Fruticultura, 18., 2004, Florianópolis-SC. Resumos... Florianópolis-SC: CBF, 2004. (CD ROM). BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília-DF: SNDA/DNPV/CLAV, 1992. 365p. LEDERMAN, I.E.; SILVA JÚNIOR, J.F.; BEZERRA, J.E.F.; ESPÍNDOLA, A.C.M. Mangaba (Hancornia speciosa Gomes). Jaboticabal: Funep, 2000. 35p. NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados na avaliação das plântulas. In: VIEIRA, R.D.; CARVALHO, N.M. de. Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP, p.49-85, 1994. 32 NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados na avaliação de plântulas. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (ed.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES, 1999. p. 2.1-2.23. OLIVEIRA, L.M.Q.; VALIO, I.F.M. Effects of moisture contention germination of seeds of Hancornia speciosa Gom. (Apocynaceae). Annals of Botany, Oxford, v.69, p.1-5, 1992. PARENTE, T.V.; BORGO, L.A.; MACHADO, J.W.B. Características físico químicas de frutos de mangaba (Hancornia speciosa Gomes.) do cerrado da região geoeconômica do Distrito Federal. Ciência e Cultura, São Paulo, v.37, n.1, p.95-98, 1986. PARENTE, T.V.; MACHADO, J.W.B. Germinação de sementes de mangaba (Hancornia pubescens Nees e Mart.) provenientes de frutos colhidos com diferentes graus de maturação. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.8, n.1, p.39-43, 1986. PIMENTEL, M.L.; SANTOS, E.O. Preservação do poder germinativo de sementes de mangaba (Hancornia speciosa Gomes). Recife: IPA, 1978, 5p. (IPA. Comunicado Técnico, 1) QUEIROZ, J.A.L.; BIANCHETTI, A. Armazenamento de sementes de mangaba. Informativo ABRATES, Brasília, v.11, n.2, p.81, set. 2001. VIEIRA, R.D. Teste de condutividade elétrica. In: VIEIRA, R.D.; CARVALHO, N.M. Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP, p.103-132, 1994. 33 VIEIRA NETO, R.D. Caracterização física de frutos de uma população de mangabeiras (Hancornia speciosa Gomes). Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.19, n.2, p.247-250, 1997. VIEIRA NETO, R.D. Efeito de diferentes substratos na formação de mudas de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes). Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.20, n.3, p.265-271, 1998. TAVARES, S. Estudos sobre germinação de sementes de mangaba, Hancornia speciosa Gomes. Arquivos do Instituto de Pesquisas Agronômicas, Recife, v.5, p.193-199. 1960. 34 ARTIGO 2 CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E GERMINAÇÃO DE FRUTOS E SEMENTES DE MANGABA RESUMO A mangaba é uma fruteira nativa de várias regiões e ecossistemas do Brasil, pertence à família das Apocynaceae, sendo uma espécie de importância regional, porém ainda pouco explorada. O objetivo deste trabalho foi conhecer aspectos morfológicos dos frutos e sementes, assim como estudar o efeito de diferentes temperaturas e substratos na germinação e vigor de sementes de mangaba. Para o estudo do fruto foram observados os aspectos: formato; cor; dimensões (comprimento e largura); peso e número de sementes por fruto. Para a descrição das sementes foram observados: externamente - cor, dimensões (comprimento, largura e espessura), peso de 1000 sementes, textura e consistência dos tegumentos, forma e posição do hilo; internamente - tipo de embrião (cotilédones, eixo hipocótilo-radícula, plúmula) e presença ou ausência de endosperma. Diariamente foram feitas observações para germinação, primeira contagem, porcentagens de plântulas normais e anormais, sementes mortas e duras. Os frutos de mangaba possuem forma elipsoidal com número variável de sementes (2 a 27); as sementes são ovais, com endosperma córneo e embrião com cotilédones foliáceos e eixo hipocótilo-radícula com plúmula e radícula inconspícua; as temperaturas mais adequadas para germinação de sementes de mangaba são 28 e 25 ºC, em substratos areia e papel; Termos para indexação: Hancornia speciosa, descrição morfológica, viabilidade, vigor. 35 MORPHOLOGICAL CHARACTERIZATION AND GERMINATION OF FRUITS AND SEEDS IN MANGABA ABSTRACT Mangaba is a native fruit tree of some regions and ecosystems from Brazil. It belongs to the Apocynaceae family and it is a species of regional importance, whereas it is still little explored. The objective of this work was to find out morphologic aspects of fruits and seeds besides to study the effect of different temperatures and substrate in mangaba seeds germination and vigor. The following aspects had been considered in order to procedure the fruit study: format; color; dimensions (length and width); weight and number of seeds per fruit. The aspects taken into consideration with the aim of making the seeds description were: externally - color, dimensions (length, width and thickness), 1000 seeds weight, texture and consistency of the teguments, form and position of hilum; internally - embryo type (cotyledons, axle hypocotylradicule, plumule) and presence or absence of endosperm. Daily observations about germination had been made, first counting, normal and abnormal seedlings percentage, deceased and hard seeds. Mangaba fruits possess a form that ellipsoidal, with more than number seeds arrives (2 – 27); the seeds are oval, with corneous endosperm and embryo with foliaceous cotyledons and hypocotyl-radicule axle with plumule and inconspicuous radicule; temperatures mangaba seeds of 28 and 25 and ºC for substrate sand and paper. Index Terms: Hancornia speciosa, morphologic description viability, vigor. 36 1. INTRODUÇÃO A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), é uma árvore frutífera, lacticífera, pertencente à família das Apocináceas, nativa do Brasil, sendo comum nas regiões Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Nordeste, com abundância nas áreas de tabuleiros costeiros e baixadas litorâneas da Região Nordeste. Rica em diversos elementos, predominando em sua composição as vitaminas A, B1, B2 e C, além de ferro, fósforo, cálcio e proteínas (Villachica et al., 1996). É utilizável na produção de doces, xarope, compotas, licores, vinagre, suco e sorvete. Apesar da grande adequabilidade desse fruto à exploração agroindustrial, a produção não vem atendendo a demanda, uma vez que o extrativismo ainda é a principal forma de exploração (Vieira Neto, 1993). Outro ponto de grande relevância é o aspecto morfológico da planta, para identificar as plantas de uma dada região, estudos sobre a ecologia da espécie facilitando a interpretação de testes de germinação, pelos tecnologistas e analistas de sementes (Oliveira, 1993). Autores ressaltam que é imprescindível um melhor conhecimento da germinação, do crescimento, do estabelecimento e da estrutura da planta para compreender a dinâmica de populações vegetais bem como o reconhecimento do estádio em que se encontra (Donadio & Demattê, 2000). Todavia, no Brasil ainda são escassos os trabalhos desta natureza, principalmente, no que se refere a fruteiras nativas. Nas últimas décadas, é considerável o aumento do conhecimento relativo a análise de sementes de frutíferas nativas, contudo, a maioria delas carece ainda de subsídios básicos referentes às condições ideais de germinação, onde são ainda encontradas poucas recomendações e prescrições sobre metodologias para análise de sementes de espécies nativas, comprovado através das Regras para Análise de Sementes (Brasil, 1992) embora as mesmas sejam intensamente cultivadas. A 37 exploração de uma espécie nativa depende dos conhecimentos técnicos a respeito da sua propagação, existem poucas informações relativas a fatores que afetam a germinação das sementes de mangaba, as quais apresentam comportamento recalcitrante (Parente et al., 1988). Entre os fatores que afetam a germinação das sementes a temperatura, o substrato, a umidade e a luz são os principais (Mayer, 1986; Alves et al., 2002). Os tipos de substratos mais utilizados e prescritos em Brasil (1992) são: pano, papel, toalha, papel de filtro, papel mata borrão e areia. O substrato deve manter a disponibilidade de água e a aeração em proporções adequadas (Popinigis, 1985), para evitar a formação de películas de água sobre a semente e assim, restringir a entrada de oxigênio (Villagomez et al., 1979). As sementes apresentam comportamento variável em relação à temperatura, pois não há uma temperatura ótima e uniforme de germinação para todas as espécies, sendo considerada ótima a temperatura na qual a semente expressa o seu potencial máximo de germinação e as temperaturas máxima e mínima os pontos críticos onde abaixo e acima das quais, respectivamente, não ocorre germinação (Popinigis, 1985; Mayer & Poljakoff-Mayber, 1989). Desta forma, a temperatura máxima para a germinação de muitas sementes, encontra-se entre 35 e 40 ºC e a ótima entre 20 e 30 ºC (Marcos Filho, 1986; Borges & Rena, 1993). Nascimento et al. (2000) estudando o efeito da temperatura sobre a germinação de sementes de Jenipapo (Genipa americana), verificaram que 30 ºC permitiu a maior germinação, sendo o limite inferior entre 15 e 20ºC e o superior entre 35 e 40 ºC, em substrato papel. 38 O objetivo do presente trabalho foi conhecer aspectos morfológicos dos frutos e sementes assim como estudar o efeito de diferentes temperaturas e substratos na germinação e vigor de sementes de mangaba. 39 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Análise de Sementes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba em Areia-PB. Para tanto, foram utilizados frutos de mangaba provenientes da Estação Experimental de Mangabeira pertencente a Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - Emepa localizada em João Pessoa - PB. As sementes foram retiradas de frutos maduros coletados logo após caírem ao solo. Após a extração foram lavadas até a completa retirada da polpa, desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio a 0,5%, espalhadas sobre papel toalha e secas à sombra por 24 horas. Para descrever e ilustrar morfologicamente os frutos e as sementes de mangaba foram utilizados 100 frutos, retirados aleatoriamente. As observações foram realizadas com lupa e a olho nu. Foram considerados os seguintes aspectos para a caracterização do fruto: formato; cor; dimensões (comprimento e largura); peso e número de sementes por fruto. Para a descrição das sementes foram feitos cortes transversais e longitudinais com lâminas; sendo analisadas as seguintes variáveis: externas - cor, dimensões (comprimento, largura e espessura), peso de 1000 sementes (8 subamostras de 100 sementes conforme Brasil, 1992), textura e consistência dos tegumentos, forma e posição do hilo; internas - tipo de embrião (cotilédones, eixo hipocótilo-radícula, plúmula) e presença ou ausência de endosperma. O comprimento, a largura e a espessura dos frutos e das sementes foram medidos, utilizando-se um paquímetro de precisão de 0,1 mm. A terminologia foi adotada conforme Damião-Filho (1993), Barroso et al. (1999 e 2002). O material utilizado nos estudos morfológicos foi conservado em álcool etílico a 70 % e as ilustrações foram feitas manualmente. Os dados das características quantitativas 40 foram submetidos à análise descritiva, obtendo-se as respectivas médias, coeficiente de variação e desvio padrão. O teor de água das sementes foi determinado pelo método da estufa a 105 ± 3 °C (Brasil, 1992), utilizando quatro repetições de 20 sementes cada. O teste de germinação em papel foi conduzido conjuntamente com a primeira contagem utilizando-se quatro repetições de 25 sementes, que foram semeadas em folhas de papel “germitest”, umedecidas com água destilada numa quantidade equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato seco conforme Brasil (1992). Os rolos foram mantidos em germinadores à temperatura constante de 25, 28, 30 e 35 °C e alternada de 20 - 30 °C (8 horas de luz). Observações para a primeira contagem de germinação, porcentagem de plântulas normais, sementes mortas, duras e plântulas anormais foram feitas diariamente. Para o substrato areia lavada e esterilizada, distribuiu-se as sementes (4 repetições de 25 sementes) em bandejas plásticas de 32 x 24 x 10 cm umedecidas com 60 % de sua capacidade de retenção e acondicionadas, juntamente com os rolos de papel, nos respectivos germinadores. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições, em esquema fatorial 2 x 5; dois substratos (papel “germitest” e areia esterilizada) e cinco níveis de temperatura (constantes 25, 28, 30 e 35 °C e alternada 20 - 30 °C). As características avaliadas foram: germinação (G), primeira contagem de germinação (PCG), sementes mortas (SM), sementes duras (SD) e plântulas anormais (PA). Após realização da análise de variância generalizada, procedeu-se o desdobramento das interações. As temperaturas 25, 28, 30 e 35 °C foram 41 analisadas através de regressão, enquanto a temperatura alternada 20 - 30 °C foi estudada através do contraste 30 vs 20 - 30 °C. 42 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os frutos de mangaba são do tipo baga de tamanho, formato e cores variados, normalmente, elipsoidais (Figura 1 A). Possui epicarpo fino, amarelo-esverdeado com ou sem pigmentação vermelha e número de sementes variáveis (Figura 1 B). Figura 1. Morfologia do fruto e da semente de Mangaba: A - fruto; B - corte longitudinal do fruto, epicarpo (ep) e sementes (s); C - semente, hilo (hi); D - seção longitudinal da semente mostrando a localização do embrião (e) e do endosperma (en); E - seção transversal da semente; F - vista lateral da semente; G - embrião livre; H - seção longitudinal do embrião, com eixo hipocótilo-radícula (hr) e os cotilédones (ct). As sementes possuem coloração castanho clara, forma oval com bordo mais ou menos anguloso (Figura 1 C). O tegumento é recoberto de pilosidades (tricomas) de consistência membranácea, possui hilo central oblongo originado ou formado pela ausência de parte do tegumento (Figura 1 C). O endosperma da semente de mangaba é córneo, de coloração amarelo clara, com bordos angulosos, face interna 43 côncava e externa convexa (Figura 1 D). O embrião é do tipo axial, contínuo, reto, espatulado, com cotilédones foliáceos e ovais de coloração branca (Figura 1 G). Eixo hipocótilo-radícula curto, cilíndrico com plúmula e radícula inconspícua (Figura 1 H). No ponto de origem da plúmula, observa-se apenas vestígio de pilosidade. Os valores médios das características morfológicas dos frutos e sementes de mangaba encontram-se na Tabela 1. Tabela 1. Características morfológicas dos frutos e das sementes de mangaba. Características Média Máximo Mínimo Coeficiente de variação Desvio padrão Características Média Máximo Mínimo Coeficiente de variação Desvio padrão FRUTOS Comprimento Largura Peso de (mm) (mm) fruto (g) 36,6 29,2 18,3 50,0 40,0 35,8 29,0 21,0 9,1 11,8 13,8 34,0 4,3 4,0 6,2 SEMENTES Comprimento Largura Espessura (mm) (mm) (mm) 10,3 7,5 3,1 12,0 9,0 4,0 7,0 6,0 3,0 13,3 12,6 8,9 1,4 0,9 0,3 Sementes /fruto 8,1 27,0 2,0 57,8 4,7 Peso mil sementes (g) 15,2 16,4 14,4 4,6 0,7 Os valores médios de germinação, primeira contagem de germinação, sementes mortas, duras e plântulas anormais de mangaba, nos substratos papel e areia, para temperatura 30 °C e alternada 20 - 30 °C, estão apresentados na Tabela 2. Os resultados de germinação, primeira contagem de germinação e sementes mortas foram afetados, variando de 63 a 86 %, 37 a 77 % e 8 a 18 %, respectivamente. Interações significativas entre substrato x temperatura são importantes, pois a capacidade de retenção de água e a quantidade de luz que o 44 substrato conduz até a semente podem levar a uma resposta diferenciada para a mesma temperatura (Aguiar et al., 1993). Tabela 2. Variáveis analisadas na qualidade fisiológica de sementes de mangaba, sob condições combinadas de substratos e temperaturas. Papel Areia Variáveis 30 ºC 20 - 30 ºC 30 ºC 20 - 30 ºC Germinação (%) 63 74 86 81 Primeira contagem de germinação (%) 37 67 73 77 Sementes mortas (%) 18 8 10 8 Sementes duras (%) 7 11 0 2 Plântulas anormais (%) 12 7 4 9 Como pode ser observado na Tabela 3, no substrato papel, a temperatura alternada (20 - 30 ºC) proporcionou, maiores valores de germinação, primeira contagem e sementes mortas (30, 11, 10 %), em relação à temperatura constante (30 ºC). Resultados semelhantes foram encontrados por Santos et al. (1999), onde a temperatura alternada (20 - 30 ºC) foi a mais adequada para a germinação de sementes de maracujá, em substrato de papel. Já no substrato areia, as temperaturas (30, 20 - 30 ºC) não alteraram a qualidade fisiológica das sementes de mangaba. Oliveira et al. (1994) recomendam que sejam estudadas temperaturas alternadas uma vez que elas simulam as flutuações de temperatura que ocorrem próximo ao solo, em condições naturais. Tabela 3. Estimativas dos contrastes das variáveis analisadas de sementes de mangaba, sob condições combinadas de substratos e temperaturas 30 vs 20 - 30 ºC Variáveis Papel Areia ∆ Germinação (%) - 11,0 5,0 ns Primeira contagem (%) - 30,0 ** - 4,0 ns Sementes mortas (%) 10,0 * 2,0 ns Sementes duras (%) - 4,0 ns - 2,0 ∆ ns Plântulas anormais (%) 5,0 - 5,0 ns ns , ∆, * e **, Não significativo e significativo a 10, 5 e 1%, respectivamente, pelo teste Quiquadrado. 45 Por ocasião da instalação do ensaio, as sementes apresentaram teor de água em torno de 43 %. Os valores de germinação, primeira contagem de germinação, sementes mortas, duras e plântulas anormais nos substratos papel e areia, para as demais temperaturas estão apresentados na Figura 2. Observa-se que a germinação e a primeira contagem de plântulas, no substrato areia, foi sempre maior que no papel, com máxima (84 e 75 %) a 28 ºC, permanecendo acima de 80 e 70 % com temperaturas variando de 26 a 31 ºC, respectivamente. Temperaturas fora deste intervalo reduzem a germinação e a primeira contagem, com mínima (58 e 54 %) a 35 ºC. No substrato papel a germinação e o vigor reduziram com o aumento da temperatura, sendo máxima (76 e 69 %) a 25 ºC e mínima (40 e 29 %) a 35 ºC. Lopes et al. (2002), pesquisando diferentes substratos e temperaturas (20, 25, 30 e 20 - 30 ºC) constataram que a temperatura de 30 ºC proporcionou redução drástica na germinação de sementes de Muntingia calabura. Alves et al. (2002) trabalhando com sementes de Mimosa caesalpiniaefolia constataram que a temperatura de 25 °C foi a mais adequada para os testes de vigor, independentemente do substrato utilizado. As porcentagens de sementes mortas e duras foram constantes (12,3 e 1,5 %), nos substratos papel e areia, respectivamente, não sofrendo, portanto influência das temperaturas. Contudo, no substrato areia a porcentagem de sementes mortas foi mínima (9 %) a 28 ºC, permanecendo abaixo de 12 % com temperaturas variando de 25 a 30 ºC, enquanto, no substrato papel, a porcentagem mínima de sementes duras (7 %) também foi obtida a 28 ºC, permanecendo abaixo de 10 % nas temperaturas de 25 a 30 ºC. 46 Papel (a) (b) 100 Primeira contagem (% ) 100 Germinação (% ) Areia 80 60 ŷ Papel = - 194,84 + 21,09**x - 0,4107 ▲x2 40 R2 = 0,92 20 ŷ Areia = - 415,07 + 35,118**x - 0,6176**x 2 R2 = 0,94 0 ŷ Areia = - 243,86 + 22,786**x - 0,4078*x 2 R2 = 0,99 80 60 40 ŷ Papel = 168,44 - 3,981**x 20 R2 = 0,64 0 25 28 31 34 25 28 Temperatura (ºC) (c) 40 50 ŷ Papel = 12,25 ŷ Areia = 273,62 - 18,862**x + 0,3359*x 2 30 2 R = 0,99 20 10 28 31 ŷ Papel = 365,47 - 26,113**x + 0,473*x 2 40 R2 = 0,99 ŷ Areia = 1,5 30 20 10 0 25 34 (d) Sementes duras (% ) Sementes mortas (% ) 50 31 Temperatura (ºC) 0 34 25 28 Temperatura (ºC) 34 (e) 50 Plântulas anormais (% ) 31 Temperatura (ºC) ŷ Papel = - 12,292 + 0,7642▲x 40 R2 = 0,57 ŷ Areia = 188,97 - 12,343NSx + 0,2087▲x2 30 R2 = 0,62 20 10 0 25 28 31 34 Temperatura (°C) Figura 2. Germinação (a), primeira contagem (b), sementes mortas (c), duras (d) e plântulas anormais (e) de mangaba, sob condições combinadas de substratos e temperaturas. Com relação à ocorrência de anormalidades, no substrato areia, a menor porcentagem (7 %) foi a 29 ºC, permanecendo abaixo de 10 % nas temperaturas de 26 a 33 ºC. Já no substrato papel, o aumento da temperatura foi diretamente proporcional à porcentagem de plântulas anormais, com mínima (9 %) e máxima (15 %) aos 25 e 35 ºC. 47 4. CONCLUSÕES - Os frutos de mangaba possuem forma elipsoidal com número variável de sementes (2 a 27); - As sementes de mangaba são ovais, com endosperma córneo e embrião com cotilédones foliáceos e eixo hipocótilo-radícula com plúmula e radícula inconspícua. - As temperaturas mais adequadas para germinação de sementes de mangaba são 28 e 25 ºC, em substratos areia e papel. 48 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, I.B.; PIÑA-RODRIGUES, E.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. 350p. ALVES, E.U.; PAULA, R.C.; OLIVEIRA, A.P.; BRUNO, R.L.A.; DINIZ, A.A. Germinação de sementes de Mimosa caesalpiniaefolia Benth. em diferentes substratos e temperaturas. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.24, n.1, p.169-178, 2002. BARROSO, M.B.; MARIM, M.P.; PEIXOTO, A.L.; ICHASO, C.L.F. Frutos e sementes: morfologia aplicada a sistemática de dicotiledôneas. Viçosa: UFV, 1999. 443p. BARROSO, G.M.; GUIMARÃES, E.F.; ICHASO, C.L.F.; COSTA, C.G.; PEIXOTO, A.L. Sistemática de angiospermas do Brasil. 2 ed. Viçosa: UFV, 2002. 309p. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNPV/CLAV, 1992. 365p. BORGES, E.E.I.; RENA, A.B. Germinação de sementes. In: AGUIAR, I.B.; PINÃRODRIGUES, F.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. (coords.). Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993, p.83-136. DAMIÃO-FILHO, C.F. Morfologia vegetal. Jaboticabal: FUNEP/UNESP, 1993. 243p. 49 DONADIO, N.M.M.; DEMATTÊ, M.E.S.P. Morfologia de frutos, sementes e plântulas de canafístula (Peltophorum dubium (Spreng.) Taub.) e jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All. Ex Benth.) – Fabaceae. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.22, n.1, p.64-73, 2000. LOPES, J.C.; PEREIRA, M.D.; MARTINS-FILHO, S. Germinação de sementes de calabura (Muntingia calabura L.). Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.24, n.1, p.59-66, 2002. MAYER, A.M.; POLJAKOFF-MAYBER, A. The germination of seeds. 4 ed. New York: Pergamon Press, 1989. 720p. MAYER, A.M. How do seeds their environment? Some biochemical aspects of the sensing of water potencial, light and temperature. Israel Journal of Botany, Jerusalem, v.35, p.3-16, 1986. MARCOS FILHO, J. Germinação de sementes. In: CÍCERO, S.M.; MARCOS FILHO, J.; SILVA, W.S. Atualização em produção de sementes. Piracicaba: Fundação Cargill, 1986, p.11-39. NASCIMENTO, W.M.O.; CARVALHO, J.E.U.; CARVALHO, N.M. Germinação de sementes de jenipapo (Genipa americana L.), submetidas a diferentes temperaturas e substratos. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.22, n.3, p.471-473, 2000. OLIVEIRA, E.C. Morfologia de plântulas florestais. In: AGUIAR, I.B.; PIÑARODRIGUES, F.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. (coords.). Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993, p.175-214. 50 OLIVEIRA, E.C.; PIÑA-RODRIGUES, F.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. Propostas para padronização de metodologias em análises florestais. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.16, n.1, p.58-62, 1994. PARENTE, T.V.; CARMONA, R.; MACHADO, J.W.B. Preservação do poder germinativo de sementes de mangaba (Hancornia pubescens Nees e Mart) em diferentes meios de armazenamento. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.10, n.3, p.71-76, 1998. POPINIGIS, F. Fisiologia da semente. 2 ed. Brasília: AGIPLAN, 1985. 298p. SANTOS, C.M.; SOUZA, G.R.L.; SILVA, J.R.; SANTOS, V.L.M. Efeitos da temperatura e do substrato na germinação da semente do maracujá (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.). Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.21, n.1, p.1-6, 1999. VIEIRA NETO, R.D. Mangabeira (Hancornia speciosa Gomes). In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECURSOS GENÉTICOS DE FRUTEIRAS NATIVAS, 1992, Cruz da Almas-BA. Anais... Cruz da Almas-BA: Embrapa - CNPMF, 1993, p.109-116. VILLAGOMEZ, A.Y.; VILLASENOR, R.R.; SALINAS, M.J.R. Lineamento para el funcionamento de um laboratorio de semillas. México: INIA, 1979. 91p. VILLACHICA, H.; CARVALHO, J.E.U.; MULLER, C.H.; SIAZ, S.C.; ALMANZA, M. Frutales y hortalizas promisoras de la Amazonia. Lima: SPT-TCA, 1996. p152156. (SPT-TCA, 44). 51 ARTIGO 3 COMPORTAMENTO FISIOLÓGICO DE SEMENTES DE MANGABA SUBMETIDAS À DESSECAÇÃO RESUMO Em condições normais, as sementes de mangaba (Hancornia speciosa Gomes), perdem a qualidade fisiológica rapidamente, o que dificulta sua utilização pelos viveiristas. Em função da escassez de pesquisas referentes à dessecação de suas sementes, o trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade fisiológica de sementes de mangaba submetidas a dois métodos de secagem (ambiente de laboratório e dessecador) e cinco períodos (0, 12, 24, 36 e 48 horas). Para isso as sementes foram submetidas aos testes de teor de água, condutividade elétrica, primeira contagem, germinação, emergência de plântulas em areia, comprimento da parte aérea e massa seca de plântulas. As sementes de mangaba podem ser secadas por tempos inferiores a 36 horas no ambiente laboratório (temperatura e umidade relativa do ar de 27 °C e 45 %) e 48 horas em dessecador, sem alteração em sua qualidade fisiológica, já a secagem no dessecador é mais lenta e proporciona sementes mais vigorosas. Termos para indexação: Hancornia speciosa, secagem, viabilidade, vigor. 52 PERFORMANCE PHYSIOLOGICAL MANGABA SEEDS SUBMITTED DESICCATION ABSTRACT In normal conditions, mangaba seeds (Hancornia speciosa Gomes) quickly lose physiological quality, which still makes it difficult for the nurserists to use them. Being scarce the research referring to seeds desiccation, this work had as an objective to evaluate mangaba seeds physiological quality submitted to two drying methods (laboratory environment and desiccator) for five times (0, 12, 24, 36 and 48 hours). Then, such seeds had been submitted to tests moisture content, electric conductivity, first counting, germination, seedlings emergency in sand, aerial part length and seedlings dry mass. Seeds mangaba and they can be dried by time inferior to 36 in laboratory (temperature relative humidity 27 % e 45 %) and 48 hours environment and desiccator, without alteration in their physiological quality. On the other hand, the drying in desiccator is slower and provides more vigorous seeds. Index Terms: Hancornia speciosa, drying, viability, vigor. 53 1. INTRODUÇÃO A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), planta frutífera e lactescente da família das Apocináceas, desenvolve-se em solos com baixa fertilidade, ácidos e bem drenados dos ecossistemas de Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Floresta Amazônica (Lorenzi, 1992). Ocorre predominantemente, na mesorregião da Mata Paraibana, com maior freqüência nas áreas compreendidas pelas microrregiões de João Pessoa e Litorais Norte e Sul (Aguiar Filho & Bosco, 1998). Os frutos são ricos em nitrogênio, fósforo, vitamina C e lipídeos, com coloração amarela - avermelhada, casca fina e polpa adocicada, sendo popularmente apreciada na região Nordeste, por apresentar ótimo aroma, sabor e boa digestibilidade (Parente et al., 1985), podendo ser consumido in natura ou processados na forma de sorvete, pudim, suco, geléia, vinho, vinagre, xarope e licor (Villachica et al., 1996). A madeira vem sendo utilizada na carpintaria, para confecção de caixas e para a produção de carvão. O látex, produzido em todas as partes da planta é utilizado no tratamento de doenças venéreas, tuberculose e verrugas, sendo ainda utilizada para fins ornamentais (Lorenzi, 1992). Sua propagação pode ser via assexuada, mediante o uso de parte vegetal e sexuada, através da semente, sendo esta o meio mais comumente utilizado. Como conseqüência, os estudos concentram-se na determinação das condições que propiciem maiores taxas de germinação e vigor das plântulas, tais como profundidade de semeio, tipo de substrato e métodos de extração das sementes (Espíndola et al., 1992; Santos & Nascimento, 1999; Nogueira et al., 2003; Barros et al., 2005a). Todavia, fatores como luz, umidade, temperatura, presença de sais ou patógenos podem interferir na germinação e no vigor das plântulas (Nogueira & Albuquerque, 2003). 54 As sementes de mangaba além de apresentarem curta longevidade, sendo necessário o semeio logo após a extração dos frutos, é também considerada recalcitrante, ou seja, a redução da umidade pode ocasionar danos, prejudicando sua viabilidade e vigor, resultando até em sua morte. Nessas sementes, a água subcelular está fortemente associada às superfícies macromoleculares assegurando, em parte a estabilidade de membranas e macromoléculas. A perda de água estrutural durante o processo de secagem pode causar alteração de sistemas metabólicos e de membranas resultando no início do processo de deterioração (Farrant et al., 1988). Já a viabilidade dessas sementes é reduzida quando o teor de água atinge valores inferiores aqueles considerados críticos; quando iguais ou inferiores aqueles considerados letais, a perda total da viabilidade (Hong & Ellis, 1992). A sensibilidade das sementes recalcitrantes à dessecação depende da espécie sendo os teores crítico e letal de água relativamente altos, respectivamente, de 27 a 38 % (Chin, 1988; Andrade & Pereira, 1997) e de 12 a 22 % (Ferreira & Santos, 1992; Andrade & Pereira, 1997). O conhecimento dos teores crítico e letal de água de uma espécie é indispensável para o planejamento e execução da secagem das sementes. Vários ensaios com sementes recalcitrantes, buscando o entendimento de sua sensibilidade a dessecação vem sendo realizados, embora não com fruteiras tropicais. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo verificar o efeito de diferentes métodos de secagem, sobre a germinação e o vigor de sementes de mangaba. 55 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi conduzida no Laboratório de Análise de Sementes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba em Areia - PB. Foram utilizados frutos de mangaba provenientes da Estação Experimental de Mangabeira pertencente à Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba - EMEPA localizada em João Pessoa - PB. As sementes foram retiradas de frutos maduros coletados logo após caírem ao solo. Após a extração foram lavadas até a completa retirada da polpa, desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio a 0,5 % e espalhadas sobre papel toalha. Para retirar o excesso de água foram secas à sombra por 24 horas em local ventilado. Posteriormente as sementes foram submetidas a dois métodos de secagem: secagem sobre papel toalha em condição ambiente de laboratório (temperatura e umidade relativa do ar em torno de 27 °C e 45 %, respectivamente); e secagem sobre uma tela de arame dentro do dessecador com sílica gel na proporção de 1:1 (sementes de mangaba : sílica gel). Nos intervalos de 12, 24, 36 e 48 horas, uma amostra de sementes foi retirada em cada ambiente de secagem para a realização da determinação do teor de água e dos testes descritos abaixo: Teor de água (U): foi determinado pelo método da estufa a 105 ± 3 °C (Brasil, 1992), utilizando-se quatro subamostras de 20 sementes. Condutividade elétrica (CE): utilizou-se quatro subamostras de 50 sementes, que foram pesadas em balança de precisão de 0,01 g e colocadas para embeber em copos plásticos contendo 75 mL de água desionizada, a 25 °C, durante 24 horas conforme metodologia de Vieira (1994). Primeira contagem de germinação (PCG): conduzido conjuntamente com o teste de germinação, sendo a contagem realizada no décimo quinto dia após a 56 semeadura e os resultados expressos em porcentagem de plântulas normais (Nakagawa, 1999). Germinação (G): as sementes foram tratadas com fungicida Benomil-500 na concentração de 1,0 g/kg de sementes, em seguida distribuídas em folhas de papel “germitest”, umedecidas com água destilada numa quantidade equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato seco Brasil (1992) e colocados em germinador a 28 ºC. Emergência de plântulas em areia (EPA): realizada em casa de vegetação, onde as sementes também foram tratadas com fungicida, na mesma concentração, posteriormente quatro subamostras de 50 sementes foram distribuídas em bandejas plásticas contendo areia esterilizada e umedecida com a quantidade de água equivalente a 60 % da capacidade de retenção. Comprimento da parte aérea de plântulas (CPA): realizado ao final do teste de emergência em areia, onde o comprimento da parte aérea foi medido com o auxílio de uma régua graduada em centímetros. Massa seca de plântulas (MSP): também realizado ao final do teste de emergência em areia, onde as plântulas foram colocadas em sacos de papel e levados para estufa com circulação de ar forçado, a 65 °C, permanecendo até atingir peso constante. Os resultados foram expressos em gramas por repetição, conforme recomendações de Nakagawa (1994). O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições, sendo os tratamentos dispostos em esquema fatorial 2 x 4; dois métodos de secagem (condição ambiente laboratório e dessecador com sílica gel) e quatro tempos (12, 24, 36 e 48 horas). Após realização da análise de variância generalizada, procedeu-se o desdobramento das interações. O efeito conjunto dos métodos de secagem e 57 tempos foi analisado através de contraste (testemunha – 0 hora vs fatorial – métodos de secagem nos tempos de 12, 24, 36 e 48 horas), enquanto a comparação entre os métodos de secagem pelo teste F e dos tempos através de regressão. 58 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios de teor de água em base úmida, condutividade elétrica, primeira contagem de germinação, germinação, emergência de plântulas em areia, comprimento da parte aérea e massa seca de plântulas de mangaba, na ocasião da instalação do ensaio (testemunha) e depois de submetidas aos dois métodos de secagem nos quatro tempos (fatorial), estão apresentados na Tabela 1. O teor de água, condutividade elétrica, emergência de plântulas em areia e comprimento da parte aérea de plântulas de mangaba foram altamente afetadas, variando de 43,3 a 25,4 % bu.; 33,4 a 50,3 µS/cm/g; 71,0 a 54,8 % e 7,1 a 5,7 cm, respectivamente. Tabela 1. Médias e estimativas dos contrastes das variáveis analisadas de sementes de mangaba, da testemunha (0 hora) e fatorial (métodos de secagem nos tempos de 12, 24, 36 e 48 horas) em dois ambientes de secagem Testemunha vs Variáveis Testemunha Fatorial Fatorial Teor de água (% bu.) 43,3 25,4 17,9 ** Condutividade elétrica (µS/cm/g) 33,4 50,3 -17,0 ** Primeira contagem (%) 75,0 73,6 1,4 ns Germinação (%) 76,0 76,6 -0,6 ns Emergência em areia (%) 71,0 54,8 16,3 ** Comprimento da parte aérea (cm) 7,1 5,7 1,4 ** Massa seca de plântulas (g) 0,04 0,03 0,01 ns ns , * e **, Não significativo e significativo a 5 e 1%, respectivamente, pelo teste F. Após a secagem das sementes o teor de água (17,9 % bu.), emergência de plântulas em areia (16,3 %) e comprimento da parte aérea de plântulas (1,4 cm) foi reduzida, enquanto a lixiviação de solutos aumentou (17,0 µS/cm/g). Indicando que a secagem ocasionou alteração nos sistemas de membranas, promovendo redução no vigor das sementes (Tabela 1). A primeira contagem de germinação e a massa seca de plântulas não se mostraram testes sensíveis em detectar alterações no vigor. Todavia, a viabilidade das sementes não foi atingida, mantendo sua germinação inalterada (76,0 a 76,6 %), valores próximos ao encontrado por Barros 59 et al. (2005a), onde a germinação de sementes de mangaba foi de 80,0; 72,5 e 85 % extraídas na peneira, despolpadeira e batedeira, respectivamente. Geralmente, alterações na qualidade das sementes tem como conseqüências finais redução na capacidade germinativa, entretanto, transformações degenerativas mais sutis, não detectadas no teste de germinação, exercem grande influência no seu potencial de desempenho (Spinola et al., 2000), comprovado também neste trabalho. Assim, os testes de vigor, são parâmetros fundamentais para detectar essas informações e, conseqüentemente, úteis na escolha da semente a ser utilizada (Vanzolini & Nakagawa, 1998). Barros et al. (2005b), avaliando o efeito de substratos na qualidade fisiológica de sementes de mangaba, verificou que o substrato areia foi o mais apropriado para avaliação dos testes de vigor. Até o tempo de 24 horas de secagem o teor de água das sementes de mangaba diminuiu de maneira semelhante para ambiente laboratório e dessecador, respectivamente (28,0 e 30,4 % bu.), entretanto, com 36 e 48 horas de secagem ocorreu redução mais acentuada no teor de água no ambiente laboratório (15,4 e 14,1 % bu.) em relação ao dessecador (26,3 e 18,5 % bu.). Estas alterações do teor de água (Tabela 2) não promoveram efeitos sobre a viabilidade das sementes nos dois ambientes avaliados (76 a 78 %). Salomão et al. (2004), estudando o efeito da dessecação de sementes de mangaba sobre sua viabilidade, verificaram que valor de teor de água inferior a 26 % bu. comprometeu a capacidade germinativa e quando foi inferior a 11 % bu. levou a perda completa da viabilidade. Contudo, com 36 e 48 horas de secagem, ocorreu uma queda no vigor (condutividade elétrica, comprimento da parte aérea de plântulas e emergência de plântulas em areia) no ambiente laboratório (53,1 e 52,3 µS/cm/g; 4,6 e 4,4 cm; 25,0 e 19,0 %) em relação ao dessecador (33,8 e 32,7 µS/cm/g; 6,5 e 6,1 cm; 66 e 66 %), isto, considerando a 60 temperatura e umidade do ar em torno de 27 °C e 45 %, respectivamente. A sensibilidade de sementes recalcitrantes ao dessecamento envolve uma complexidade de componentes relacionados às características bioquímicas e fisiológicas intrínsecas à espécie e a alguns fatores tais como: velocidade e temperatura de dessecação (Farrant et al., 1988; Berjak et al., 1993). Entretanto sementes de uma mesma espécie, porém de procedência distinta podem apresentar diferentes graus de tolerância à desidratação, desidratar-se mais lenta ou rapidamente (Salomão et al., 2004). Esta redução não foi detectada pela massa seca de plântulas e primeira contagem de germinação. No mesmo trabalho, Salomão et al. (2004) encontraram redução do vigor em sementes com teor de água inferior a 26 % bu. Tabela 2. Médias das variáveis analisadas de sementes de mangaba após a secagem em ambiente laboratório e dessecador por diferentes tempos Tempos U G CE CPA EPA MSP PCG (h) L D L D L D L D L D L D L D 34,3a 34,8a 76,0a 78,0a 50,2a 45,7a 6,0a 6,4a 74,0a 69,0a 0,03a 0,03a 72,3a 78,0a 28,0a 30,4a 76,0a 78,0a 61,7a 34,2b 6,6a 6,4a 74,0a 66,0a 0,03a 0,03a 72,3a 78,0a 15,4b 26,3a 76,0a 78,0a 53,1a 33,8b 4,6b 6,5a 25,0b 66,0a 0,03a 0,03a 72,3a 78,0a 14,1b 18,5a 76,0a 78,0a 52,3a 32,7b 4,4b 6,1a 19,0b 66,0a 0,03a 0,03a 72,3a 78,0a Médias seguidas de mesma letra na linha comparam ambientes dentro de cada tempos de secagem e não diferem estatisticamente pelo teste F a 5% de probabilidade. U = teor de água (% bu.); G = germinação (%); CE = condutividade elétrica (µS/cm/g); CPA = comprimento da parte aérea (cm); EPA = emergência de plântulas em areia (%); MSP = massa seca de plântulas (g); PCG = primeira contagem de germinação (%); L = secagem em condição ambiente de laboratório; D = secagem em dessecador com sílica gel. 12 24 36 48 Observa-se na Figura 1, conforme já esperado, redução no teor de água das sementes com o aumento do tempo de secagem, para os dois ambientes. Estes resultados estão de acordo com os encontrados por Mendonça (2000), em sementes de Jabuticaba (Myrciaria spp). O teor de água de 26 % bu. foi atingido com 26 e 36 horas no ambiente laboratório e dessecador, respectivamente, desta forma, a secagem no dessecador foi mais lenta. De acordo com Ferreira & Santos (1993), a 61 velocidade de secagem é variável para cada espécie, sementes de pupunha (Bactris gasipae) apresentam melhor desempenho com secagem mais lenta, enquanto as de manga (Mangifera indica) com secagem rápida (Fu et al., 1990). Verifica-se redução linear da emergência de plântulas com o aumento do tempo de secagem, para os dois ambientes, todavia, o decréscimo para 65 % ocorreu com 20 e 48 horas de secagem no ambiente laboratório e dessecador, respectivamente (Figura 1). O mesmo foi verificado no comprimento da parte aérea, que reduziu de 6,5 cm com 24 e 36 horas de secagem no ambiente laboratório e dessecador, respectivamente. A condutividade elétrica, no ambiente laboratório, permaneceu constante (54,3 µS/cm/g) e maior em relação ao dessecador que teve seu ponto mínimo em torno de 40 horas de secagem (31,9 µS/cm/g). Dessa forma a secagem no dessecador, proporcionou sementes mais vigorosas (emergência de plântulas em areia, comprimento da parte aérea de plântulas e condutividade elétrica). Resultados semelhantes foram obtidos por Aguiar Filho et al. (1995) avaliando a influência do tempo de secagem sobre a qualidade de sementes de mangaba. Tanto nos ambientes laboratório quanto no dessecador a massa seca de plântulas de mangaba manteve-se constante e próximas (0,0345 e 0,0307 g) respectivamente, ao longo dos tempos de avaliação (Figura 1). Resposta semelhante foi encontrado por Mendonça (2000), cuja massa seca de plântulas de jabuticaba foi semelhante para os ambientes avaliados. A germinação e a primeira contagem, no ambiente laboratório, mantiveram-se estáveis ao longo dos tempos de secagem, em torno de 75,0 e 72,3 %, enquanto no dessecador, foram pouco acima destes valores até 37 e 36 horas, estando, entretanto, muito próximas até 48 horas (70 e 67 %), respectivamente, indicando pequena influência da velocidade de secagem das sementes sobre estas variáveis. 62 Laboratório (a) 40 2 ŷ Dessecador = 36,389 - 0,0805**x - 0,006*x 2 R = 0,99 30 20 (b) 100 ŷ Laboratório = 42,123 - 0,625**x 2 R = 0,91 10 Emergência em areia (%) 50 Teor de água (%) Dessecador ŷ Dessecador = 69 - 0,075**x 80 2 R = 0,60 60 40 ŷ Laboratório = 101,5 - 1,7833**x 2 R = 0,84 20 0 0 12 24 36 12 48 24 Tempo de secagem (h) (c) 2 ŷ Laboratório = 6,1 + 0,0267 x - 0,0014**x 8 2 R = 0,72 6 4 2 ŷ Dessecador = 6,05 + 0,035**x - 0,0007**x 2 R = 0,80 2 0 80 ŷ Laboratório = 54,33 60 40 20 ŷ Dessecador = 59,45 - 1,4117*x + 0,0181*x 2 2 R = 0,94 0 12 24 36 48 12 24 Tempo de secagem (h) (e) 0,1 ŷ Dessecador = 0,0307 ŷ Laboratório = 0,0345 48 (f) 100 0,08 36 Tempo de secagem (h) Germinação (%) Massa seca de plântulas (g) 48 (d) 100 ▲ Condutividade elétrica (µS cm g) Comprimento da parte aérea (cm) 10 36 Tempo de secagem (h) 0,06 0,04 0,02 0 80 60 ŷ Dessecador = 92 - 0,475**x 2 R = 0,76 40 ŷ Laboratório = 75,5 20 0 12 24 36 48 12 24 Tempo de secagem (h) 48 (g) 100 Primeira contagem (%) 36 Tempo de secagem (h) 80 60 40 ŷ Laboratório = 72,25 ŷ Dessecador = 89 - 0,4667**x 2 R = 0,90 20 0 12 24 36 48 Tempo de secagem (h) Figura 1. Teor de água (a), emergência de plântulas em areia (b), comprimento da parte aérea de plântulas (c), condutividade elétrica (d), massa seca de plântulas (e), germinação (f) e primeira contagem de germinação (g) de sementes de mangaba após a secagem em ambiente laboratório e dessecador por diferentes tempos. 63 4. CONCLUSÕES - As sementes de mangaba podem ser secadas por tempos inferiores a 36 horas no ambiente laboratório (temperatura e umidade relativa do ar de 27 °C e 45 %) e 48 horas em dessecador, sem alteração em sua qualidade fisiológica; - A secagem no dessecador é mais lenta e proporciona sementes mais vigorosas. 64 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, A.C.S.; PEREIRA, T.S. Comportamento de armazenamento de sementes de palmiteiro (Euterpe edulis Mart.). Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.32, p.987-991, 1997. AGUIAR FILHO, S.P.; BOSCO, J. A mangabeira (Hancornia speciosa) domesticação e técnicas de cultivo. João Pessoa-PB: EMEPA-PB, 1998. 26p. (Documentos, 24). AGUIAR FILHO, S.P.; BOSCO, J.; MELLO, A.S. Efeito da secagem na qualidade da semente de mangaba (Hancornia speciosa). Informativo ABRATES, Londrina, v. 5, n. 2, p. 46, 1995. BARROS, D.I.; NUNES, H.V.; BRUNO, R.L.A.; MENDONÇA, R.M.N.; PEREIRA, W.E.; SILVA, G.C. Viabilidade e vigor de sementes de mangaba submetidas as diferentes métodos de extração. In: Simpósio Brasileiro de Pós - Colheita de Frutos Tropicais, 1., 2005, João Pessoa - PB. Resumos... João Pessoa - PB: SBPCFT, 2005a. (CD-ROM). BARROS, D.I.; BRUNO, R.L.A.; NUNES, H.V.; ARAÚJO, I.A.; MENDONÇA, R.M.N.; PEREIRA, W.E. Efeito de substratos e temperaturas na qualidade fisiológica de sementes de mangaba. In: Simpósio Brasileiro de Pós - Colheita de Frutos Tropicais, 1., 2005, João Pessoa - PB. Resumos... João Pessoa - PB: SBPCFT, 2005b. (CDROM). 65 BERJAK, P.; VERTUCCI, C.W.; PAMMENTER, N.W. Effects of development status and dehydration rate on characteristics of water and desiccation – sensitivity in recalcitrant seed of Camellia sinensis. Seed Science Research, v.3, p.155166,1993. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília-DF: SNDA/DNPV/CLAV, 1992. 365p. CHIN, H.F. Recalcitrant seed: a status report. In: International Board for Plant Genetic Resources. 1988, p.3-18. ESPÍNDOLA, A.C.M.; FRANÇA, E.A.; NASCIMENTO JÚNIOR, N.A. Efeito da profundidade de plantio e misturas de substratos na germinação e vigor das mudas de mangabeira. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.14, n.3, p.165-168, 1992. FARRANT, J.M.; PAMMENTER, N.W.; BERJAK, P. Recalcitrance - a current assessment. Seed Science and Technology, Zurich, v.16, n.1, p.1555-1566, 1988. FERREIRA, S.A.N.; SANTOS, L.A. Viabilidade de sementes de pupunha (Bactris gasipaes Kunth.). Acta Amazônica, v.22, p.303-307. 1993. FU, J.R.; ZHANG, B.Z.; WANG, X.P.; QIAO, Y.Z.; HUANG, X.L. Physiological studies on desiccation, wet storage and cryopreservation of recalcitrant seed of three fruit species and their excised embryonic axes. Seed Science and Technology, v.18, p.743-754, 1990. HONG, T.D.; ELLIS, R.H. Opttimum air-dry seed storage enviroments for arabica coffee. Seed Science and Technology, v.20, p.547-560, 1992. 66 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil. Nova Odessa: Ed. Plantanarum, 1992. 352p. MENDONÇA, R.M.N. Maturação, secagem e armazenamento de sementes e propagação vegetativa da jabuticabeiras (Myrciaria spp.). Viçosa: UFV, 2000. 136p. (Tese de Doutorado) NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados na avaliação de plântulas. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (ed.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES, 1999. p. 2.1-2.23. NAKAGAWA, J. Testes de vigor baseados na avaliação das plântulas. In: VIEIRA, R.D.; CARVALHO, N.M. de. Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP, p.49-85, 1994. NOGUEIRA, R.J.M.C.; ALBUQUERQUE, M.B.; SILVA JÚNIOR, J.F.; APARÍCIO, P.S. Respostas fisiológicas de plantas jovens de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.25, n.1, p.15-18, 2003. NOGUEIRA, R.J.M.C.; ALBUQUERQUE, M.B. Ecofisiologia da mangabeira. Anais do Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Mangaba. Aracaju - SE. 2003. 12p. PARENTE, T.V.; BORGO, L.A.; MACHADO, J.W.B. Características físico químicas de frutos de mangaba (Hancornia speciosa Gomes.) do cerrado da região geoeconômica do Distrito Federal. Ciência e Cultura, São Paulo-SP, v. 37, n. 1, p. 95-98, 1985. 67 SALOMÃO, A.N.; SANTOS, I.R.I.; MUNDIM, R.C. Conservação, manejo e uso de sementes de Hancornia speciosa Gomez (Apocynaceae). Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2004. 26p. (Documentos 126) SANTOS, J.A.; NASCIMENTO, T.B. Efeito da profundidade de semeadura na emergência e crescimento de plântulas de mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.21, n.3, p.258-261, 1999. SPINOLA, M.C.M.; CÍCERO, S.M.; MELO, M. Alterações bioquímicas e fisiológicas em sementes de milho causadas pelo envelhecimento acelerado. Scientia Agricola, Piracicaba, v.57, n.2, p.263-270, 2000. VANZOLINI, S.; NAKAGAWA, J. Teste de condutividade elétrica em genótipos de sementes de amendoim. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.20, n.1, p.178183, 1998. VIEIRA, R.D. Teste de condutividade elétrica. In: VIEIRA, R.D.; CARVALHO, N.M. de. Testes de vigor em sementes. Jaboticabal: FUNEP, p.103-132, 1994. VILLACHICA, H.; CARVALHO, J.E.U.; MULLER, C.H.; SIAZ, S.C.; ALMANZA, M. Frutales y hortalizas promisoras de la Amazonia. Lima: SPT-TCA, 1996. p152156. (SPT-TCA, 44). 68 ARTIGO 4 TESTE DE TETRAZÓLIO EM SEMENTES DE MANGABA (Hancornia speciosa Gomes) RESUMO As sementes de mangaba apresentam rápida perda da viabilidade pelo fato de suas sementes serem recalcitrantes e possuírem germinação relativamente lenta, tornando-se necessário o desenvolvimento de testes que permitam a obtenção rápida e confiável de informações sobre o potencial de germinação. Esta pesquisa foi executada com o objetivo de desenvolver metodologia apropriada para o uso do teste de tetrazólio em sementes de mangaba. Estudou-se inicialmente os seguintes métodos de pré-condicionamento: semente imersa diretamente na solução de tetrazólio (testemunha); embebição em papel toalha umedecido a 25 °C por 16 e 24 horas; imersão direta em água a 40 °C por 2 e 4 horas com e sem retirada do tegumento; corte longitudinal deixando o embrião exposto; corte na extremidade superior lateral com e sem imersão em água a 25 °C por 4 e 8 horas; três cortes na semente, dois laterais e um na parte superior oposta ao eixo embrionário para remoção do embrião com e sem imersão em água e perfuração em área superior. Em todos os métodos testados as sementes foram colocadas em solução de 2,3,5 trifenil cloreto de tetrazólio, para coloração, nas concentrações de 0,05; 0,075; e 0,1 % por 30, 60, 90 e 120 minutos, em BOD a 40 °C. O teste de tetrazólio pode ser utilizado para avaliar com rapidez a viabilidade das sementes de mangaba; para a condução do teste, as sementes devem ser seccionadas com três cortes no 69 tegumento para a retirada do embrião e imersas na solução de tetrazólio a 0,075 %, por 60 a 90 minutos em BOD a 40 °C, para o desenvolvimento da coloração ideal. Termos para indexação: pré-condicionamento, concentração da solução, período de coloração. 70 TETRAZOLIUM TEST FOR SEEDS MANGABA (Hancornia speciosa Gomes) ABSTRACT Mangaba seeds present fast viability loss because the seeds are recalcitrant and possess relatively slow germination. So, the development of tests which allow a fast and trustworthy information attainment on germination potential becomes necessary. This research was executed aiming to develop appropriate methodology for the tetrazolium test use in mangaba seeds. The following pre-conditioning methods were initially studied: immersed seed directly in the tetrazolium solution (witness); imbibition in humidified paper towel at 25 °C for 16 and 24 hours; direct immersion in water at 40 °C for 2 and 4 hours with and without tegument withdrawal; longitudinal cut leaving the displayed embryo; cut in the extremity lateral superior with and without immersion in water at 25°C for 4 and 8 hours; three cuts in the seed, two laterals and one in the opposing superior part to the embryonic axle for removal of the embryo with and without immersion in water and perforation in superior area. In all of the tested methods, the seeds had been placed in solution of 2,3,5 triphenyl chloride of tetrazolium, for coloration, in concentrations of 0,05; 0,075; and 0.1 % for 30, 60, 90 and 120 minutes, in 40 BOD °C. The tetrazolium test can be used to evaluate quickly mangaba seeds viability. The most efficient pre-conditioning method is the mangaba seeds embryo withdrawal through three cuts; then, they are immersed in tetrazolium solution at 0,075 % for 60 to 90 minutes in 40 BOD °C, for the ideal coloration development. Index Terms: Pre-conditioning, solution concentration, coloration period. 71 1. INTRODUÇÃO O Nordeste Brasileiro vem se destacando pelo grande número de empresas de processamento de polpa de frutas, as quais tem encontrado extrema dificuldade na obtenção de matéria-prima que garanta seu funcionamento o ano todo. Dentre as mais variadas espécies vegetais que são utilizadas para extração de polpa, ressaltase a mangabeira (Hancornia speciosa Gomes), árvore frutífera, nativa do Brasil, da família das Apocináceas (Nogueira et al., 2003). A mangabeira encontra-se vegetando espontaneamente nas regiões Sudeste, Norte, Centro-Oeste e Nordeste, com abundância nas áreas de tabuleiros costeiros e baixadas litorâneas da região Nordeste (Ferreira, 1980; Gonzaga Neto et al., 1987). Seu fruto é bastante apreciado por apresentar boa digestibilidade e alto valor nutritivo, com teor de proteína (1,3 a 3,0 %) superior ao da maioria das frutíferas (Pinheiro et al., 2001). Sua propagação pode ser via assexuada, mediante o uso de parte vegetal e sexuada, através da semente, sendo estas o meio mais comumente utilizado. À semelhança de muitas fruteiras nativas, ainda são poucos os conhecimentos capazes de contribuir para um maior desenvolvimento da cultura. Dentre os inúmeros problemas existentes com esta espécie, pode-se destacar a rápida perda da viabilidade pelo fato de suas sementes serem recalcitrantes, o que tem obrigado à semeadura logo após a remoção dos frutos (Villachica, 1996) e a ação inibitória da polpa do fruto sobre a germinação das sementes (Tavares, 1960; Grigoletto, 1997). O teste de germinação é completado somente após algumas semanas, de maneira que, dependendo principalmente das condições em que forem armazenadas as sementes, o resultado obtido ao final do teste pode já não mais representar a sua real capacidade de germinação (Nascimento et al., 1997). 72 A análise de sementes é um instrumento essencial no controle da qualidade das sementes produzidas e/ou da avaliação da tecnologia de produção empregada (Andrade et al., 1996). A sua principal finalidade é determinar o valor de cada amostra para fins de semeadura ou armazenamento. Porém, para a expressão da qualidade de um lote de sementes é preciso pessoal técnico treinado, padronização de metodologia, procedimentos uniformes e programa de trabalho voltado para a aferição e aperfeiçoamento das técnicas empregadas (Figliolia et al., 1993). Camargo (1997) ressalta a importância do desenvolvimento de testes rápidos para avaliação da viabilidade das sementes, principalmente para aquelas que apresentam baixa capacidade de armazenamento e germinação lenta, onde o teste de germinação apresenta grandes limitações. Uma das alternativas seria o uso do teste de tetrazólio onde vem sendo usado principalmente devido à rapidez na estimativa da germinação das sementes (Botezelli, 1998). Apesar da sua importância, pela rapidez e precisão na determinação da viabilidade e do vigor, o teste de tetrazólio tem seu uso ainda restrito a poucas espécies como soja - Glycine max (França Neto et al., 1999), feijão - Phaseolus vulgaris (Bhering et al., 1999), milho - Zea mays (Dias & Barros, 1999), abóbora Cucurbita moschata e abobrinha - Cucurbita pepo (Barros, 2002), melancia Citrullus lunatus (Bhering et al., 2005), amendoim - Arachis hypogaea (Bittencourt & Vieira, 1999), café - Coffea arabica (Araújo et al., 1997 e Vieira et al., 1998), algodão - Gossypium hirsutum (Vieira & Von Pinho, 1999), braquiária - Brachiaria brizantha (Dias & Alves, 2001), jenipapo - Genipa americana (Nascimento & Carvalho, 1998), maracujá-doce - Passiflora alata (Malavasi et al., 2001), girassol - Helianthus annus (Fontinélli & Bruno, 1997) e pupunha - Bactris gasipaes (Ferreira & Sader, 1987). 73 Conforme Rodrigues & Santos (1998), o teste de tetrazólio não é muito difundido entre espécies perenes, como florestais e frutíferas, embora apresente excelentes condições para ser utilizado rotineiramente, uma vez que muitas dessas espécies necessitam de um longo período para germinarem. Em vista dessa situação, pesquisa tem sido desenvolvida com sementes de Jenipapo procurando abreviar o prazo requerido para a obtenção dos resultados de viabilidade, a partir da padronização do teste de tetrazólio para cada espécie (Nascimento & Carvalho, 1998). Diante da inexistência de informações sobre a avaliação rápida da viabilidade de sementes de mangaba, esta pesquisa foi executada com o objetivo de desenvolver metodologia apropriada para o uso do teste de tetrazólio em sementes dessa espécie. 74 2. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido no Laboratório de Análise de Sementes, da Universidade Federal da Paraíba em Areia-PB, para tanto foram utilizados frutos de mangaba provenientes da Estação Experimental de Mangabeira pertencente a Emepa - Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba localizada em João Pessoa - PB. As sementes foram retiradas de frutos maduros selecionados logo após caírem ao solo, lavadas até a completa retirada da polpa, espalhadas sobre papel toalha, secas à sombra por 24 horas permanecendo em geladeira durante o período do ensaio. Para a avaliação da viabilidade das sementes, pelo teste de tetrazólio, estudou-se inicialmente os seguintes métodos de pré-condicionamento: semente imersa diretamente na solução de tetrazólio nas concentrações de 0,075; 0,5 e 0,1 % (testemunha); embebição em papel toalha umedecido com quantidade de água equivalente a 2,5 vezes o peso do papel seco em germinador a 25 °C por 16 e 24 horas; imersão direta em água a 40 °C por 2 e 4 horas com e sem retirada do tegumento; corte longitudinal paralelo aos cotilédones deixando o embrião exposto (Figura 1 A); corte na extremidade superior lateral da semente com e sem imersão em água a 25 °C por 4 e 8 horas (Figura 1 B); três cortes na semente, dois laterais e um na parte superior oposta ao eixo embrionário para remoção do embrião com e sem imersão em água (Figura 1 C); perfuração na área superior não crítica da semente (Figura 1 D). As sementes tiveram seus embriões removidos manualmente com o auxílio de um estilete, de tal forma que fossem evitados danos em suas estruturas. Em todos os pré-condicionamentos testados as sementes foram colocadas em solução de 2,3,5 trifenil cloreto de tetrazólio, para coloração, nas concentrações de 0,075; 0,5 e 0,1 % durante 30, 60, 90 e 120 minutos, no escuro 75 em BOD a 40 °C. Após cada período, os embriões foram lavados em água corrente e mantidos submersos em água até o momento da avaliação. Figura 1. Métodos de pré-condicionamento das sementes de mangaba para o teste de tetrazólio: A - corte longitudinal paralelo aos cotilédones; B - corte na extremidade superior lateral da semente; C - três cortes na semente, dois laterais e um na parte superior oposta ao eixo embrionário; D - perfuração em área superior não crítica da semente. Os embriões foram analisados individualmente, externa e internamente, após o seccionamento longitudinal entre os cotilédones, observando-se a ocorrência de danos nas faces interna e externa dos cotilédones e do eixo embrionário, verificando-se ainda a profundidade de cada dano e a sua distância em relação a áreas vitais. Nas sementes de mangaba, as áreas vitais incluem o eixo hipocótiloradícula e a região de inserção entre os cotilédones e o eixo. A diferenciação de cores dos tecidos foi observada de acordo com os critérios estabelecidos por Moore (1985), ou seja, vermelho brilhante ou rosa brilhante (tecido vivo e vigoroso), vermelho carmim forte (tecido em deterioração) e branco leitoso ou amarelado (tecido morto). A interpretação foi feita com auxílio de lupa de seis aumentos (6x), com iluminação fluorescente. Definida a metodologia mais adequada para o pré-condicionamento, concentração da solução e coloração das sementes, esta foi aplicada, repetindo-a diversas vezes para a caracterização correta das principais alterações e sua associação com a viabilidade das sementes. A eficiência do teste de tetrazólio na determinação da viabilidade das sementes de mangaba foi avaliada através da 76 comparação dos resultados de tetrazólio e germinação, apresentando coerência com os valores obtidos para plântulas normais e anormais e sementes mortas nos testes de germinação. Dessa forma, as classes de viabilidade foram estabelecidas, sendo assim cada semente foi classificada em viável e inviável conforme coloração dos tecidos do embrião, presença e localização dos danos. O teste de germinação foi conduzido utilizando-se quatro repetições de 25 sementes, que antes do início do teste foram tratadas com fungicida Benomil - 500 na concentração de 1,0 g/kg de sementes, em seguida distribuídas em folhas de papel “germitest”, umedecidas com água destilada numa quantidade equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato seco (Brasil, 1992), sendo os rolos confeccionados e mantidos em germinador a 28 ºC por 30 dias. Para o teste de tetrazólio foram utilizadas quatro repetições de 25 sementes, colocadas em copo plástico de 50 mL, adicionando-se a este a solução de tetrazólio em quantidade suficiente para cobrí-las, em BOD a 40 °C sob escuro. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado com quatro repetições. Calcularam-se os coeficientes de correlação simples de Pearson (r) entre os testes de tetrazólio viabilidade e germinação. A significância dos valores de r foi determinada pelo teste t, a 1 e 5 % de probabilidade. 77 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dentre os métodos de pré-condicionamento testados em sementes de mangaba, verificou-se que as sementes imersas diretamente na solução de tetrazólio (testemunha), as embebidas em papel toalha umedecido por 16 e 24 horas e as perfuradas na área superior, todas sem a retirada do tegumento, não coloriram. Esta ausência de coloração pode ser decorrente da presença do tegumento, que dificultou a penetração da solução de tetrazólio para o interior da semente. Resultados semelhantes foram obtidos por Zucarelli et al. (1999) e Gonzalez et al. (1997), com sementes de sucará (Gledistchia amorphoides) e quiabo (Hibiscus esculentus) respectivamente, submetidas ao teste de tetrazólio, as quais apresentaram ausência de coloração, independentemente da concentração da solução e do tempo de coloração. Os autores atribuíram esses resultados ao tegumento impermeável, que impediu a penetração da solução de tetrazólio. As sementes de mangaba que sofreram um corte na extremidade superior lateral com e sem imersão em água a 25 °C por 4 e 8 horas, só coloriram no local onde foi feito o corte. Esta situação ocorreu em trabalho realizado por Mendonça et al. (2001) com sementes de louro-pardo (Cordia trichotoma), onde mesmo após o maior período de exposição e maior concentração, apenas houve coloração dos tecidos no local do ferimento. Para as sementes imersas diretamente em água a 40 °C por 2 e 4 horas, com retirada do tegumento observou-se que estas desenvolveram coloração nos dois períodos estudados. Ao contrário, em sementes com a presença do tegumento não houve coloração do embrião pelas razões comentadas anteriormente. De acordo com Costa (1992), é importante ressaltar que a imersão direta das sementes em água não deve ser feita por período de tempo excessivo, pois pode acarretar 78 redução na disponibilidade de O2 comprometendo dessa forma, a qualidade das sementes e conseqüentemente, levando a obtenção de resultados incorretos. Nas sementes seccionadas longitudinalmente com descarte de uma metade a coloração ocorreu apenas superficialmente na parte externa do embrião, demorando cerca de 7 horas, portanto, não se mostrando um método adequado de précondicionamento. As sementes de mangaba com três cortes (dois laterais e um na parte superior oposta ao eixo) com e sem imersão em água, verificou-se que estes facilitaram a retirada do embrião sem causar dano e que ambos foram eficientes apresentando o mesmo comportamento. Todavia, considerando que métodos mais demorados implicam em maior tempo necessário para a condução do teste e obtenção dos resultados, o método de pré-condicionamento mais indicado, por permitir o desenvolvimento de coloração adequada, uniforme e com maior rapidez foi o que as sementes sofreram três cortes sem imersão em água. De acordo com Delouche et al. (1976), o pré-condicionamento feito de maneira adequada permite que, após a imersão das sementes na solução de tetrazólio, ocorra o desenvolvimento da coloração ideal, facilitando a interpretação do teste. As concentrações da solução de tetrazólio usadas neste ensaio proporcionaram variações de tonalidades nos embriões de mangaba. As de 0,5 e 0,075 % desenvolveram coloração semelhante, onde os tecidos viáveis coloriram-se mais uniformemente obtendo coerência com as recomendações de Moore (1985). Todavia, é mais indicado o uso rotineiro de solução a 0,075 %, considerando que o sal de tetrazólio é um produto caro e que a 0,5 % requer maior consumo deste sal. Concordando, dessa forma, com os resultados obtidos para algumas espécies como soja, algodão, amendoim, milho, feijão e café os quais tem indicado o uso de 79 solução a 0,075 %, permitindo o desenvolvimento de coloração ideal tanto nos tecidos vigorosos como nos não vigorosos (Barros, 2002). O uso da solução de tetrazólio a 0,1 % não se mostrou adequado, uma vez que os tecidos vigorosos ao invés de róseo apresentaram-se vermelho um pouco menos intenso que a tonalidade de vermelho observada nos tecidos com lesões, o que dificultou a observação dos danos, especialmente em regiões vitais do embrião, comprometendo sua interpretação. Bhering et al. (2005), obtiveram resultados semelhantes para o teste de tetrazólio em sementes de melancia (Citrullus lunatus), onde a concentração da solução a 0,1 % não se mostrou adequada e a de 0,075% permitiu uma avaliação mais segura devido aos padrões de coloração mais uniformes. Com relação ao período de coloração, verificou-se que a coloração mais adequada foi obtida quando as sementes foram imersas em solução de tetrazólio a 0,075 % por 60 a 90 minutos a 40 °C, no escuro. Definida a metodologia de pré-condicionamento, concentração da solução e coloração, estabeleceu-se classes de níveis de viabilidade, onde cada semente de mangaba avaliada foi qualificada em uma das classes (Figura 2), com base nas observações de intensidade de coloração, profundidade e localização dos danos. Para auxiliar no estabelecimento destas classes, foram considerados também os resultados da porcentagem de germinação das plântulas obtidas no teste de germinação (Figura 3) conduzido paralelamente ao teste de tetrazólio. Cada foto representa uma semente de mangaba que foi seccionada longitudinalmente. A superfície externa da semente é ilustrada à esquerda e a interna à direita. 80 Classe 1. Sementes viáveis: coloração uniforme rosa brilhante, apresentando tecido com aspecto normal e firme. Classe 2. Sementes viáveis: semelhante a anterior só que com pequenas manchas superficiais avermelhadas na face interna dos cotilédones. Pequena lesão superficial na face externa do eixo embrionário. Classe 3. Sementes viáveis: apresentam coloração branco leitoso em menos de 50 % dos cotilédones, identificando tecido em deterioração. Extremidade da radícula com coloração vermelha intenso. Classe 4. Sementes inviáveis: ambos os cotilédones com a metade superior branco leitoso. 81 Classe 5. Sementes inviáveis: Eixo embrionário completamente vermelho carmim intenso. Classe 6. Sementes inviáveis: totalmente branca e vermelho intenso, apresentando tecidos flácidos, caracterizando tecido morto. Figura 2. Classes para a determinação da viabilidade de sementes de mangaba. Figura 3. Plântulas de mangaba normais (A) e anormais (B). 82 O valor do coeficiente de correlação obtido entre os resultados dos testes encontra-se na Figura 4. Verificou-se que houve correlação positiva e significativa (r= 0,77) entre o teste de germinação e tetrazólio viabilidade. Esses resultados concordam com Pasha & Das (1982), quando consideraram o teste de tetrazólio seguro, confiável e apropriado para determinar o potencial de germinação de lotes de sementes de soja. 100 Germinação (%) 80 60 ŷ = 8,501 + 0,8812**x r = 0,77 40 20 0 40 60 80 100 Tetrazólio viabilidade (%) Figura 4. Correlação entre os valores de germinação e tetrazólio viabilidade em sementes de mangaba. 83 4. CONCLUSÕES - O teste de tetrazólio pode ser utilizado para avaliar com rapidez a viabilidade das sementes de mangaba; - Para a condução do teste, as sementes devem ser seccionadas com três cortes no tegumento para a retirada do embrião e imersas na solução de tetrazólio a 0,075 %, por 60 a 90 minutos em BOD a 40 °C, para o desenvolvimento da coloração ideal. 84 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, R.N.B.; SANTOS, D.S.B.; SANTOS-FILHO, B.G.; MELLO, V.D.C. Testes de germinação e de tetrazólio em sementes de cenoura armazenadas por diferentes períodos. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.18, n.1, p.108-116, 1996. ARAÚJO, R.F.; ALVARENGA, E.M.; LIMA, W.A.A.; DIAS, D.C.F.S.; ARAÚJO, E.F. O uso do teste de tetrazólio para avaliar a viabilidade de sementes de café (Coffea arabica L.). Informativo ABRATES, Curitiba, v.7, n.1/2, p.109, 1997. BARROS, D.I. Teste de tetrazólio para avaliação da qualidade fisiológica de sementes de abóbora e abobrinha. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2002. 62p. (Dissertação Mestrado) BHERING, M.C.; DIAS, D.C.F.S.; BARROS, D.I. Adequação da metodologia do teste de tetrazólio para avaliação fisiológica da sementes de melancia. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.27, n.1, p.176-182, 2005. BHERING, M.C.; SILVA, R.F.; ALVARENGA, E.M.; DIAS, D.C.F.S.; PENA, M.F. Metodologia do teste de tetrazólio em sementes de feijão. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (eds.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES, 1999. p.8.3-1-8.3-10. BITTENCOURT, S.R.M.; VIEIRA, R.D. Metodologia do teste de tetrazólio em sementes de amendoim. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (eds.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES, 1999. p.8.2-1-8.2-8. 85 BOTEZELLI, L. Influência de ambientes e embalagens de armazenamento sobre a viabilidade e o vigor de sementes de baru (Dipterys alata Vorgel). 1998. 70p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Lavras. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNPV/CLAV, 1992. 365p. CAMARGO, J.P. Estudos sobre a propagação da castanheira-do-Brasil (Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl.). 1997. 126p. Dissertação (Doutorado em Fitotecnia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, 1997. COSTA, N.P. Metodologia alternativa para o teste de tetrazólio em sementes de soja. Piracicaba: ESALQ, 1992. 132p. Dissertação (Doutorado em Fitotecnia) – Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz, Universidade de São Paulo, 1992. DELOUCHE, J.C.; STILL, T.W.; RASPET, M.; LIENHARD, M. O teste de tetrazólio para viabilidade da semente. Brasília: AGIPLAN, 1976. 103p. DIAS, M.C.L.L.; ALVES, S.J. Avaliação da viabilidade de sementes de Brachiaria brizantha (Hoscst. Ex A. Rich) Stapf pelo teste de tetrazólio. Informativo ABRATES, Londrina, v.11, n.2, p.317, 2001. DIAS, M.C.L.L.; BARROS, A.S.R. Metodologia do teste de tetrazólio em sementes de milho. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (eds). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES. 1999. p.8.4-1-8.4-10. FERREIRA, M.B. Frutos comestíveis nativos do cerrado. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.6, n.61, p.12-13, 1980. 86 FERREIRA, S.A.N.; SADER, R. Avaliação da viabilidade de sementes de pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.) pelo teste de tetrazólio. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.9, n.2, p.109-114, 1987. FIGLIOLIA, M.B.; OLIVEIRA, E.C.; PIÑA-RODRIGUES, F.C.M. Análise de sementes In: AGUIAR, I.B.; RODRIGUES, F.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. (coords.). Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. p.137-174. FONTINÉLLI, I.S.C.; BRUNO, R.L.A. Aferição da metodologia para teste de tetrazólio em sementes de girassol (Helianthus annus L.). Informativo ABRATES, Curitiba, v.7, n.1/2, p.123, 1997. FRANÇA NETO, J.B.; KRZYZANOWSKI, F.C.; COSTA, N.P. Metodologia do teste de tetrazólio em sementes de soja. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (eds). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES. 1999. p.8.5-1-8.5-28. GONZAGA NETO, L.; LEDERMAN, I.E.; BEZERRA, J.E.F.; CANUTO, V.T. Estudo de conservação do poder germinativo de sementes de mangaba. In: Congresso Brasileiro de Fruticultura, 9., Campinas. Anais... Campinas: SBF, 1987. v.2, p.579583. GONZALEZ, A.M.A.; EICHELBERGER, L.; MOGLIA, R.B.; MARTINS, F.C.; MORAES, D.M. Preparo das sementes de quiabo (Hibiscus esculentus L.) para realização do teste de tetrazólio. Informativo ABRATES, Curitiba, v.7, n.1/2, p.44, 1997. 87 GRIGOLETTO, E.R. Micropropagação de Hancornia speciosa Gomes (Mangabeira). 1997. 76p. Dissertação (Mestrado em Biologia Vegetal) - Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Brasília, Brasília, 1997. MALAVASI, M.M.; FOGAÇA, C.A.; FOGAÇA, L.A.; FERREIRA, G. Preparo e coloração de sementes de maracujá-doce (Passiflora alata Dryander) para avaliação da viabilidade através do teste de tetrazólio. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.23, n.1, p.126-129, 2001. MENDONÇA, E.A.F.; RAMOS, N.P.; PAULA, R.C. Viabilidade de sementes de Cordia trichotoma (Vellozo) Arrabida ex Steudel (Louro-pardo) pelo teste de tetrazólio. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.23, n.2, p.64-71, 2001. MOORE, R.P. Handbook on tetrazolium testing. Zurich: International Seed Testing Association, 1985. 99p. NASCIMENTO, W.M.O.; CARVALHO, N.M. Determinação da viabilidade de sementes de jenipapo (Genipa americana L.) através do teste de tetrazólio. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.20, n.2, p.470-474, 1998. NASCIMENTO, W.M.O.; CARVALHO, N.M.; CARVALHO, J.E.U. Comportamento germinativo de sementes de jenipapo (Genipa americana L. - RUBIACEAE), submetidas a diferentes métodos de remoção da mucilagem. Informativo ABRATES, Curitiba, v.7, n.1/2, p.252, 1997. 88 NOGUEIRA, R.J.M.C.; ALBUQUERQUE, M.B.; SILVA JUNIOR, J.F. Efeito do substrato na emergência, crescimento e comportamento estomático em plântulas de mangabeira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.25, n.1, p.15-18, 2003. PASHA, M.R.; DAS, R.K. Quick viability test of soybean seed by using tetrazolium chloride. Seed Science and Technology, Zurich, v.10, n.2, p.651-655, 1982. PINHEIRO, C.S.R.; MEDEIROS, D.N.; MACÊDO, E.C.; ALLOUFA, M.A.I. Germinação in vitro de mangabeira (Hancornia speciosa Gomez) em diferentes meios de cultura. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v.23, n.2, p.413416, 2001. RODRIGUES, F.C.M.P.; SANTOS, N.R.F. Teste de tetrazólio. In: RODRIGUES, F.C.M.P. Manual da análise de sementes florestais. Campinas: Fundação Cargill, 1998, 100p. TAVARES, S. Estudos sobre germinação de sementes de mangaba, Hancornia speciosa Gomes. Arquivos do Instituto de Pesquisas Agronômicas, Recife, v.5, p.193-199. 1960. VIEIRA, M.G.G.C.; GUIMARÃES, R.M.; VON PINHO, E.V.R.; GUIMARÃES, R.J.; OLIVEIRA, J.A. Testes rápidos para determinação da viabilidade e da incidência de danos mecânicos em sementes de cafeeiro. Lavras: UFLA, 1998. 34p. (Boletim Agropecuário, 26). 89 VIEIRA, M.G.G.C.; VON PINHO, E.V.R. Metodologia do teste de tetrazólio em sementes de algodão. In: KRZYZANOWSKI, F.C.; VIEIRA, R.D.; FRANÇA NETO, J.B. (eds.). Vigor de sementes: conceitos e testes. Londrina: ABRATES, 1999. p.8.1-1- 8.1-13. VILLACHICA, H. Frutales y hortalizas promissoras de la Amazonia. Lima: SPTTCA, 1996. p152-156. (SPT-TCA, 44). ZUCARELI, C.; MALAVASI, M.M.; FOGAÇA, C.A.; CONTIERO, R.L. Preparação e coloração de sementes de Gledistchia amorphoides Taub. – Leguminosae (Caesalpinaceae) para avaliação da viabilidade através do teste de tetrazólio. PIBIC/CNPq, Cascavel, v.3, p.63-64, 1999. Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo