O cromossoma X e o seu parceiro1 Fernando J. Regateiro

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O cromossoma X e o seu parceiro 1
Fernando J. Regateiro
Faculdade de Medicina
Universidade de Coimbra
O dimorfismo cromossómico XY evoluiu há cerca de 310 milhões de anos, após a separação
filogenética de homens e aves. Ao longo da evolução, o cromossoma X perdeu poucos ou
nenhuns genes. Já o cromossoma Y foi um perdulário: ao longo da sua existência, perdeu 1.393
dos seus 1.438 genes originais.
O cromossoma Y vai continuar a perder genes? Parece que estabilizou! E seria caso para
preocupação maior?... Só sabemos que muitos animais vertebrados não têm cromossomas
sexuais – o sexo é determinado pelo ambiente, mais do que geneticamente (v.g., em alguns
répteis).
A “destruição”, em larga escala, de genes da sequência de DNA do cromossoma Y, originou um
desequilíbrio entre o número de cópias dos genes localizados no cromossoma X, entre os
indivíduos do sexo masculino (XY) e os do sexo feminino (XX). Ora, sendo importante uma
dosagem génica equilibrada para a expressão de fenótipos normais, foram seleccionados,
durante a evolução, mecanismos que conduzem a um equilíbrio de “dose” entre os dois sexos.
Não em absoluto, já que, em número, favorecem o sexo feminino.
O mecanismo actua de modo a que apenas um dos cromossomas X fique inteiramente activo.
Se está presente um só cromossoma X (o que é anormal na mulher e normal no homem), não
ocorre inactivação. Se há um excesso de cromossomas X na mulher, são inactivados todos
menos um. Se há mais do que um cromossoma X no homem, também ocorre inactivação do
excedente. Do(s) cromossoma(s) X inactivado(s), há uma parcela que fica acessível à
transcrição génica.
O processo de inactivação tem origem no “centro XIC” de inactivação (Xq13).
A inactivação diferencial é importante e deve “correr bem”. Por exemplo, o efeito de dosagem
génica tem reflexos no desenvolvimento da estrutura do cérebro.
Poderão as mulheres queixar-se dos seus XX, como causadores de diferenças em relação aos
homens, por exemplo, na estatura mais baixa, no índice de massa corporal, na pressão arterial,
ou nos valores da lipidémia?
No âmbito patológico, alterações a nível do cromossoma X são referidas, por exemplo, na
doença de Alzheimer, na síndroma de X-frágil, na hemofilia ou na Distrofia Muscular de
Duchenne.
E quem não tem presentes os efeitos patológicos da alteração do número normal de
cromossomas X, na síndroma de Turner ou na síndroma de Klinefelter?
Já as alterações a nível do cromossoma Y têm efeitos mais modestos. No entanto, há um efeito
de que o cromossoma Y não abdica, em condições normais, apesar da sua “pequenez” e dos
menos de mil nucleótidos do seu gene SRY (um dos mais pequenos genes humanos) – a
determinação da diferenciação sexual masculina.
1
Resumo da Palestra “O cromossoma X e o seu parceiro”. Universidade dos Açores, 31 de Outubro de
2014.
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