REPORTAGEM SOM E LUZ COM ALEGRÍA NO Fotos: Ernani Matos / Divulgação Cirque du Soleil Teatro, circo, dança e música enchem os olhos do público no espetáculo de múltiplas linguagens artísticas do Cirque du Soleil. Som e luz são essenciais para ressaltar a beleza do show circense Miguel Sá [email protected] P ouco antes do início do espetáculo, que se chama Alegria, um palhaço fica observando o público do palco. Exatamente às 16 horas – horário marcado para o início - entra a banda, com seis músicos, tocando instrumentos acústicos como violões, percussões e acordeom. A banda começa a dar a volta nos corredores entre as poltronas do circo. O som acompanha a banda, fazendo a volta pelas dez caixas JBL MS26 colocadas no entorno da lona. A luz, discreta, chama atenção para os músicos. A 50 www.backstage.com.br empatia com o público, que começa a bater palmas, é imediata. Isto é apenas o início de um espetáculo no qual música, dança, teatro e circo caminham juntos e onde o som e a luz são fundamentais para colocar o público dentro do show. Características especiais Para entender o que significa o som e a luz no espetáculo, é importante saber como é o pensamento artístico do REPORTAGEM Cirque. Apesar de serem basicamente espetáculos circenses, os shows do Cirque du Soleil têm uma espécie de enredo, que dá “liga” entre as atrações. O picadeiro é um cenário que no caso de Alegría é uma espécie de praça; a luz interage com os artistas e com este cenário, mudando o clima entre os números interligados. Por sua vez, os artistas não estão no picadeiro simplesmente mostrando habilidades circenses. Eles interpretam personagens que têm figurinos especialmente concebidos. Os números têm uma espécie de função dramática dentro do espetáculo. A música também não é uma mera trilha incidental, com tambores Som e mixagem O som chega ao público por meio de trinta caixas JBL 4892 (além das JBL usadas no surround) e quatro sistemas sub LAcoustic SB218. As caixas JBL estão distribuídas nas colunas que sustentam a lona. O crossover é feito por meio de um sistema O picadeiro é um cenário que no caso de Alegría é uma espécie de praça; a luz interage com os artistas e com este cenário, mudando o clima entre os números interligados rufando para os números perigosos e sons alegres para palhaços. Ela é uma trilha sonora que dá o fio da meada do espetáculo, no caso de Alegría, indicada ao Grammy. Os arranjos são complexos, com instrumentos diversos, acústicos e elétricos, além de duas cantoras. O som e a luz ajudam o público a entender o espetáculo, criando o clima do show e pontuando os números, no caso do primeiro, e ressaltando aspectos do cenário e figurino, no caso da segunda. 52 www.backstage.com.br XTA AudioCore controlado pelo software de mesmo nome. O alinhamento é feito usando Smaart, levando em conta que, pelo fato de estar sonorizando uma lona de circo, a acústica do local não é igual todo dia, como seria em um teatro normal. Quanto à mixagem, a primeira coisa que chama atenção no som é o equilíbrio. Com a ajuda dos arranjos, é possível perceber claramente cada instrumento tocado pelos seis músicos, além das duas cantoras. Para mixar, surpreendentemente é usada uma mesa analógica: a Midas Heritage 3000, o que chama atenção por conta da complexidade da mixagem do espetáculo, com vários climas diferentes em uma mesma música. “Este sistema está em uso nos últimos cinco anos e é baseado em um projeto original que já tem 14 anos de idade”, comenta o responsável pelo som, Alex Ashcroft. A lista de canais usados na Midas é grande. Alex usa os 48 canais da mesa e mais 11 na Yamaha 01V com bateria, bateria eletrônica, percussão com congas, bongôs e outros instrumentos, percussão eletrônica, baixo, dois teclados estéreo, sampler estéreo, baixo, dois vocais com backup, três saxofones, dois acordeons, dois microfones para os palhaços, sistemas sem fio para baixolão, violão, sax e acordeom (na hora do passeio da banda pelo público) e dois microfones para os apresentadores. Os efeitos de reverbs são feitos por meio de máquinas Lexicon 480 e PCM, além de processadores TC Electronic. Alegria O espetáculo tem como tema a luta pelo poder. Ela é expressa por meio de diversos números, que vão da acrobacia ao contorcionismo, passando pelo malabarismo. Entre os personagens, há crianças, palhaços, mendigos e pássaros. No final, há um número que mistura ginástica olímpica com o tradicional número do trapézio. Alegria foi criado em 1994 para comemorar os dez anos do Cirque du Soleil, criado em 1984. REPORTAGEM Alex Ashcroft, o responsável pelo som, à frente da Midas Heritage,mesa usada para o som de P.A. No monitor, a Yamaha PM5D dá conta das mixagens dos músicos e das automações O surround que acompanha a banda quando ela dá a volta na área da platéia é controlado manualmente e também com o auxílio de uma Yamaha 01V com automação MIDI trigada. “A Midas do P.A. tem uma automação com fader virtual que nós não usamos. Preferimos os LEDs que indicam onde cada fader deve estar em cada mudança de cena. É uma forma mais orgânica de mixar. A automação no FoH é, principalmente, para mutes e surround”, expõe Alex. Ele já sugeriu o uso de uma Yamaha PM5D por conta das facilidades de automação em uma mesa digital, como já acontece no setup de monitoração. Para o monitor, o equipamento analógico já foi trocado. As mixagens para os músicos são feitas a partir da Yamaha PM5D para sistemas in ear Sennheiser 3500. São 12 mixagens estéreo diferentes e a automação da mesa é bastante usada nelas. Os microfones usados para a banda são Countryman e AKG460 para percussão; PZM, Sennheiser 421 e SM57 para bateria; DPA 4088 para os vocais, Coutryman B3 para os palhaços; microfones Sennheiser internos nos acordeons e Sennheiser e AMT para os Thomas Duchaine (esquerda), sonorizador chefe (interino) e Rémi Hould, assistente de sonorização A equipe de iluminação montou uma espécie de chama artificial especialmente para o espetáculo Lista de equipamentos de iluminação Duas mesas de luz Compulite Micron 4D ETC 96 Sensor Touring Rack ETC 48 Sensor Touring Rack ETC 12 Sensor Rack 2 ETC Response e Fleenor Opto-Splitters 150 ETC Source 4 Elipsoidais 47 ETC Source 4 Pars 2-ETC Source 4 Jr’s 12 Par 64 com efeitos de chama 54 www.backstage.com.br 4 Par 20’s 4 Strand fresnéis 2K 18Sky Cycs 6-Clay Paky Stage Scans 3 cnhões seguidores Lycian 1266 40 Chroma Q Spectra Q3’s 6 Apollo DMX Roto Q’s 2 Le Maitre Neutron Pro XS Hazers 1 High End F100 Fogger REPORTAGEM Gary Bower, o responsável pela iluminação do espetáculo Luz e som criam clima de emoção no espetáculo saxofones. Além de Alex, ainda trabalham um técnico de som e um assistente. cue aconteça exatamente onde é para acontecer. Se a luz não estiver certa eles podem se machucar, podem não ver onde estão andando e cair. Temos que trabalhar prestando atenção ao que está acontecendo com a música e com a coreografia”, conta Gary Bower, o responsável pela iluminação da turnê de Alegria. “A maioria das coisas nunca muda, porque os artistas são como máquinas. A iluminação Quando se olha para as colunas que sustentam a lona, até o alto, o que mais se vê são equipamentos de luz. São cerca de 200 de todo o tipo. No entanto, a iluminação do espetáculo é discreta, subordinada ao que acontece no palco. É difícil dizer se é circo ou teatro. Os números têm a sua beleza realçada pela luz e o som ajuda a música a criar um clima de emoção e envolvimento na platéia, que participa muito durante todo o show Quase não se percebe a quantidade de equipamentos gerenciada por meio da mesa Compulite Micron 4D. Há equipamentos Source 4 PAR, Source 4 Jr, lâmpadas PAR 64 e PAR 20, além de Fresnéis e canhões seguidores Lycian 1266 entre diversos outros. Os gobos são um recurso bastante usado no espetáculo. São 16 tipos em 90 Source 4 elipsoidais, o que significa dizer que cerca da metade das elipsoidais tem algum tipo de gobo nelas. O espetáculo tem uma imensa variedade de “climas” de iluminação. A luz também é um fator de segurança para os artistas desempenharem seus números. “Tudo é gravado em cues. Uma parte do desafio é fazer com que cada Eles fazem sempre a mesma coisa” acrescenta. Além de Bower, a equipe de iluminação tem mais três pessoas. “Temos ainda 15 pessoas do Brasil que nos ajudam a montar o equipamento de luz no alto, o que é uma tarefa impossível para apenas três de nós”, acrescenta Gary. O espetáculo É difícil dizer se é circo ou teatro. Os números têm a sua beleza realçada pela luz e o som ajuda a música a criar um clima de emoção e envolvimento na platéia, que participa muito durante todo o show. Alegría é uma mostra de como a competência técnica e o bom uso dos recursos podem ajudar ainda mais um espetáculo que já tem, por si só, o que mostrar. www.backstage.com.br 55