universidade federal da bahia faculdade de filosofia e ciências

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DISCIPLINA: AMÉRICA III
ALUNO: IRLAN VILELA
RESENHA
BIBLIOGRAFIA:
SOUZA, Ailton Benedito de. “Haiti: A recorrente ira de Spartacus”, In_ Comunicação
& Política, n.s., v. XI, n.1.
Neste texto de Ailton Benedito de Souza, Haiti - a recorrente ira de Spartacus, o autor
exibe os principais motivos que levaram a concretização da revolução no Haiti fazendo
este país conquistar sua independência. Trata-se da história de uma revolução de
escravos que teve como principal característica a luta deste
povo pelo direito a
liberdade. Esta revolução vai transformar o Haiti na primeira nação a se proclamar
independente na América latina.
O autor também deixa claro o conjunto de fatores de modo ordenado no qual se
procederá à revolta, tais, como, a ação e a relação que tiveram os sujeitos – agentes dos
movimentos de massas que lutaram para formar um país independente. As figuras
como, Toussaint Louverture; Dessalines, que lideraram o processo de independência da
ilha de São Domingos e que juntamente com o povo participou na composição do
exército revolucionário no qual são considerados segundo C. L. R. James como os
jacobinos negros, pois fizeram uso dos ideais de liberdade da Revolução Francesa.
Lideres como Toussaint são considerados heróis nacionais, pois conseguiram formar
um exército de seguidores que combateram contra as tropas francesas e colonialistas.
O texto aponta que a revolução no Haiti estava ligada a luta pela abolição do trabalho
escravo e ao movimento de independência, sendo assim aconteceram fatos curiosos,
como o envolvimento das forças contrárias ou favoráveis à escravidão e independência,
que em um determinado momento ora se aliaram com a França, ora com a Inglaterra,
ora com a Espanha.
O texto expõe o conflito étnico que muito caracteriza a região ocorrido entre os negros
e os mulatos a tal ponto de ocorrerem ao longo da história guerras de perseguições
sangrentas, que chegaram a provocar uma divisão no país.
No Haiti cerca de 95 % da população é constituída de negros descendentes de escravos
africanos, sendo que o restante é formada por uma minoria de mulatos e brancos.
Outro ponto abordado pelo autor é que apesar da grande maioria dos habitantes do Haiti
ser de povos africanos ex-escravos a língua que se tornou oficial na nação foi o francês;
e mesmo que as próprias manifestações culturais tiveram sido sedimentadas nas
tradições africanas tais como os elementos da música e das cerimônias de culto ao vodu
- um sincretismo religioso que lembra o candomblé no Brasil - a religião que foi
oficializada para a nação foi à católica.
O autor relata que quase 90 % dos haitianos vivem em uma zona rural, principalmente
nas terras mais férteis próximas ao litoral. O Haiti carrega o fruto de ter uma economia
primária sem muito desenvolvimento baseada na agricultura e que sempre foi voltada
para a exportação de produtos como o café, sisal, açúcar, algodão e cacau, cultivados
nas grandes propriedades, enquanto que nas médias propriedades são cultivados
mandioca, arroz, banana, tabaco, feijão, milho e batata.
A história da região dos negros revolucionários de São Domingos remonta desde a
descoberta por Cristóvão Colombo o que chamou de ilha Hispaniola e a partir do século
XVII foi cedida aos franceses, que estabeleceram neste local as grandes propriedades
de cana-de-açúcar, utilizando mão-de-obra escrava. Essa colonização oficial francesa
começa em 1697, os fazendeiros franceses formaram a classe dominante administrando
econômico e politicamente a região, porém existiam outros sujeitos nesta hierarquia
social - os fazendeiros pobres e criollos (estrangeiros de cor branca), negros livres,
negros escravos e a parte, os mulatos.
A ilha de São Domingos que se transformou na nação do Haiti estará envolvida num
jogo de interesses entre diversos países tais como, a Inglaterra, a França, a Alemanha,
Portugal e a Espanha. Um dos fatores foi grande fluxo do tráfico de escravos vindo da
África, que ocasionou lucros para investimento de capitais ingleses, franceses e
alemães, em prejuízo, talvez dos capitais espanhóis e portugueses.
O texto de Souza relata diversos pontos sobre a revolução de independência do Haiti,
mas é sobre a consciência política e de identidade que mais fascina esta história. A luta
desses camponeses revolucionários contra a opressão do dominador foi um grande
exemplo para muitos países latino-americanos. Esta luta influenciou a
fé do povo
haitiano em suas crenças africanas e pelo sonho de liberdade.
No Haiti, assim como em muitos locais do mundo onde houve a escravidão, o negro
nunca se acomodou diante de sua situação de escravo. Sofreu maus-tratos constantes,
mas resistiu de diferentes maneiras.
A revolução no Haiti foi um grande movimento de massas que foi arquitetado e
organizado.
Este movimento sofreu uma forte influencia dos acontecimentos da
Revolução Francesa, após dez anos de lutas, foi proclamada a independência.
O autor coloca no texto que no primeiro momento da revolução surge a figura de
Toussaint Louverture que se tornou um verdadeiro herói nacional haitiano. Trata-se
de um negro de São Domingos que foi liberto e que chefiou a revolta dos escravos em
1791 não só contra os franceses como também contra os ingleses (60 mil homens). Um
fato importante que Souza aponta neste texto é que quando Toussaint toma
conhecimento de que a Revolução francesa havia decretado a abolição da escravatura, o
exército revolucionário faz uma aliança com os franceses contra os espanhóis e ingleses,
derrotando-os em várias batalhas. Toussaint chega a ser nomeado comandante-chefe
das tropas da ilha de São Domingos e em 1800 torna-se presidente vitalício do Haiti,
mesmo contra a vontade de Napoleão. Toussaint será derrotado pela expedição do
general Leclerc, sendo preso é enviado à França onde acaba morrendo de frio na prisão.
Neste o momento, depois da morte de Toussaint, o Haiti recebe o apoio dos Estados
Unidos. Segundo a visão do Estado norte-americano, a força bélica de uma França
pós-revolucionária sob o mando pessoal de um general guerreiro, traria o foco das
atenções para a Louisiana e para o Canadá. Com a ajuda norte-americana, define-se o
quadro de luta na ilha. Deste modo, aparece Dessalines, que se autoproclamou
imperador. Seu papel foi importante, pois foi o primeiro imperador negro do Haiti.
Sendo trazido para o país como escravo, liderou uma rebelião contra os franceses em
1803 e tornou-se governador geral. Derrotou as tropas de Napoleão e obrigou a sair da
ilha. Em 1804, Dessalines proclama a independência do país e assume o titulo de
imperador Jacques I. Um fato importante em seu governo apontado pelo texto é o
conflito de etnias caracterizado pela hostilidade extrema aos brancos, ocasionando em
seu assassinato em uma revolta de mulatos na capital de Porto Príncipe.
O assassinato de Dessalines vai caracterizar uma rachadura entre as duas etnias
existentes no país de um lado os negros e do outro os mulatos. O conflito dividirá o país
formando ao norte um reino, governado por um negro o imperador Henri Christophe, e
ao Sul surge uma república governada pelo mulato Alexandre Pétion. A reunificação
nacional vai ocorrer com o presidente Jean-Pierre Boyer, que anexou à parte oriental da
ilha – São Domingos – e extinguiu a escravidão negra existente.
O texto aponta que é possível observar no governo Jean-Pierre Boyer a ocorrência de
fatos que irão contribuir para prejudicar o futuro da economia do Haiti como nação.
Para ampliar laços de solidariedade internacional – tentando superar o drama da
rejeição, por parte da Europa imperialista, a essa nação afro-americana, Jean Pierre
Boyer se submete aos termos de um acordo ditado pelos banqueiros da época:
pagamento de indenizações aos latifundiários franceses expropriados nas lutas pela
independência entre 1791 e 1804. Só assim a França reconheceria a independência do
país, evento que só ocorrerá em 1838, 34 anos após a declaração haitiana.
Além de sofrer um duro golpe em sua economia com o pagamento de indenizações a
França, no Haiti ocorreu inúmeros conflitos entre mulatos e negros gerando em uma
sangrenta perseguição aos mulatos.
Outro fato importante levantado por Souza é que em 1843 com a grande crise gerada no
Haiti, Jean Pierre Boyer é forçado a exilar-se deixando o Haiti em situação de terra
arrasada. Tendo em vista o contexto caótico, nesse ano de 1843 focos de resistência
criolla (de descendência espanhola) declaram a ilha constituída por mais um Estado: a
República Dominicana. Observa-se que em 1861 este país solicitará a reincorporação
ao mundo colonial espanhol, o que redundará em mais uma fonte de frustrações. Em
1865 a República Dominicana volta a declarar-se independente. No Haiti, após quatro
anos de instabilidade, em 1847 sobe ao poder o último imperador, Faustin Soulouque,
que governará o país até 1859.
A própria instabilidade política apontada pelo o texto de Souza intensificou-se no
século XX abrindo caminho para a intervenção dos Estados Unidos em 1915. Os
governos do Haiti apresentaram políticos que governaram de maneira ditatorial
apoiados geralmente em golpes militares, o texto aponta que François Duvalier tornase presidente em 1957 derrubando o governo constitucional de Paul Eugene Magloire.
Além de governar despoticamente o governante formou uma milícia pessoal mantendo
todo o país sob uma política de terror - execuções em massa, censura absoluta e toque
de recolher. François Duvalier autonomeou-se presidente vitalício. No entanto, acaba
sendo assassinado. Os futuros governantes continuaram usando uma política autoritária
e de repressão.
O caso do Haiti retrata a situação crítica de um país latino-americano que embora
tenha se tornado o primeiro país independente da América Latina não conseguiu se
livrar das grandes disputas entre as potências capitalistas principalmente a Inglaterra e
depois os Estados Unidos.
A sua economia continuou se baseando nas atividades extrativas e agrícolas, e grande
parte da sua população permaneceu em condições de extrema miséria.
O texto tenta instigar no leitor o que se pode tirar da experiência revolucionária do
Haiti. Tendo sido uma revolta de escravos oriundos de um continente explorado e
sofrido, esta luta poderia servir de exemplo para outros povos oprimidos espalhados
pelo mundo. É bom mencionar as revoltas dos malês que aconteceram em Salvador no
inicio do século XIX, e que foram lideradas por africanos escravos e libertos que
praticavam o islamismo. No entanto, esta revolta foi reprimida e os envolvidos foram
condenados à morte, outros foram presos e alguns deportados.
A revolução do Haiti foi um exemplo de luta vitoriosa, mesmo o país no final dos
acontecimentos ter sofrido um duro golpe em sua economia. Os negros haitianos
conquistaram sua independência e conseguiram a liberdade.
Neste texto o autor descreve as causas que favoreceram para eclosão do movimento
rebelde e seu triunfo. O Haiti antes da independência era uma colônia francesa muito
próspera, no qual com o passar do tempo começou a despertar a cobiça dos principais
países capitalistas, devido a grande produção açucareira.
A grande massa de escravos negros na grande maioria africanos resultou em motins
discriminatórios entre os brancos de origem francesa o que fez provocar ao longo da sua
história conflitos étnicos dentro da região.
Com a revolução de 1789, o domínio colonial sofreu um forte abalo gerando um
movimento de massa disposto a lutar pela independência da ilha de São Domingos.
O autor utiliza os argumentos C. L. R. James do seu livro os jacobinos negros que tratase de uma grande obra em que se discute a questão do negro e sua realidade social no
mundo de opressão capitalista.
O texto de Souza mostra que o projeto da ilha de São Domingos de se tornar um país
independente baseada nas idéias revolucionárias da França se converteu em uma grande
bandeira em prol da liberdade do negro escravo no continente americano, numa época
em que os Estados Unidos, Brasil e Cuba ainda não tinham abolido a escravidão.
Infelizmente, os regimes ditatoriais, os conflitos étnicos e a crise na produção açucareira
provocaram um atraso na economia da nação sentido até os dias de hoje. Para os exescravos haitianos sobrou a agricultura de subsistência, sendo assim o país não
conseguiu alcançar o desenvolvimento no parâmetro da economia mundial. No entanto,
a luta do seu povo pela liberdade se tornou em um grande exemplo para a história da
humanidade.
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