1 Dra. TÂNIA FRAZÃO Email: [email protected] SÍNDROME DE WEST INTRODUÇÃO Em 1841, West, em uma carta dramática ao editor do “The Lancet”, apresentou o problema de seu filho com espasmos em flexão que se repetiam diariamente em ataques de 10 a 20 contrações, que levaram a criança a um retardo mental, apesar de todos os tratamentos usados e possíveis para aquela época. Esta síndrome neurológica foi descrita pela primeira vez em 1949 por Vásquez y Turner para a Sociedade Argentina de Pediatria, com dez casos de uma “nova síndrome” que apresentavam crises nos lactentes, com alterações específicas no traçado eletroencefalográfico (EEG), estando associadas à deterioração mental, às quais propuseram chamar Epilepsia em Flexão. Em 1952 os autores Gibbs e Gibbs criaram o termo Hipsarritmia (hypos = altura e rhytmos = ritmo) para o registro EEG destes pacientes, o que passou a caracterizar a maioria das descrições desta síndrome. Portanto, trata-se de uma entidade eletroclínica caracterizada por espasmos quase sempre em flexão e por um traçado EEG típico denominado hipsarritmia ou disritmia maior lenta. As crises clínicas têm recebido outras denominações: espasmos saudatórios, espasmo infantil, massive jerks, Blitz und Nichtkrampf, tic de salaam e pequeno mal propulsivo. ETIOLOGIA A Síndrome de West pode ser dividida em dois grupos, com relação à causa: o criptogênio (quando a causa é desconhecida), onde o lactente é normal até o inicio dos espasmos, sem qualquer lesão cerebral detectável; e o grupo sintomático (de causa conhecida), onde há prévio desenvolvimento neuropsicomotor anormal, alterações ao exame neurológico e/ou lesões cerebrais identificadas por exames de imagem (tomografia computadorizada, ressonância magnética, etc.). Em 1991, foi proposta a hipótese da existência de uma forma idiopática, com evolução benigna no tratamento em curto prazo. Em aproximadamente 80% dos casos a Síndrome de West é secundária, o que vale dizer que depende de uma lesão cerebral orgânica. Em muitos casos é possível determinar a etiologia da síndrome: encefalites a vírus, anoxia neonatal, traumatismo de parto, toxoplasmose, Síndrome de Aicardi, esclerose tuberosa de Bourneville. Na presença da Síndrome de West, uma exaustiva investigação deve ser feita: TC ou RNM, teste de triagem de erros inatos do metabolismo. Outro tipo de crises, além dos espasmos, pode estar também associado. INCIDÊNCIA Inicia-se quase sempre no primeiro ano de vida, principalmente entre os 4 e 7 meses de idade. O sexo masculino é o mais afetado, na proporção de 2:1. ASPECTOS ELETROENCEFALOGRÁFICOS As características principais de um registro de EEG com hipsarritmia são: desorganização marcante e constante da atividade basal; elevada amplitude dos potenciais; ondas lentas delta de voltagem muito elevada (“ondas em montanha”); períodos (salvas), habitualmente breves, de poli ondas e polipontas onda; períodos de atenuação da voltagem que, em alguns casos, parece chegar ao “silêncio” elétrico. O eletroencefalograma, ao lado do quadro clínico, é fundamental para diagnóstico, recebendo o traçado anormal o nome hipsarritmia. O EEG se caracteriza pelo seu aspecto anárquico, com ondas de grande amplitude, lendas e ponta-ondas lentas. Não há ritmo de base organizada. QUADRO CLÍNICO A síndrome de West consiste numa tríade de sinais clínicos e eletroencefalográficos: atraso do desenvolvimento, espasmos infantis e traçados eletroencefalográficos com padrão de hipsarritmia. As crises são traduzidas por espasmos ou uma salva de espasmos com as seguintes características: flexão súbita da cabeça, com abdução dos membros superiores e flexão das pernas (espasmo mioclônico 1 2 maciço); é comum a emissão de um grito por ocasião do espasmo. Cada crise dura em média alguns segundos. Às vezes as crises é representada apenas por flexão da cabeça (tique de sabam ou “espasmo saudatório”). As crises são freqüentes, particularmente durante a vigília, podendo chegar até a centena ou mais por dia. As contrações são breves, maciças, simétricas, levando-se os membros superiores para frente e para fora e flexionando os músculos do abdômen. São crianças hipotônicas. Em princípio o diagnóstico não é fácil, sendo os espasmos confundidos com cólicas ou com reflexo de Moro. Outra manifestação importante é o retardo mental que, em boa parcela dos casos, pode ser evitado pelo tratamento precoce do quadro. Diz-se que as alterações e características clínicas e evolutivas desta síndrome dependem das condições prévias do SNC do lactante antes do surgimento das crises. Com a maturação da criança, em geral as crises diminuem e desaparecem por volta do quarto ou quinto anos de vida. EVOLUÇÃO, COMPLICAÇÕES E PROGNÓSTICO. Quase sempre a uma perda de cunho neuropsíquico para criança afetada; esta perda esta na dependência da precocidade de diagnostico e da intervenção aplicada. A hipsarritmia pode desaparecer ou se transformar no decorrer do tempo. A criança apresenta sérias complicações respiratórias, devido aos freqüentes espasmos, deformidades, principalmente de MMSS e MMII. Pode ocorrer subluxação de quadril. Há possibilidades de remissão total de espasmos infantis considerados criptogenéticos, mais não há confirmações científicas de remissão definitiva para os casos mais graves e associados a outras condições ou patologias neurológicas. Crianças apresentam sinais e sintomas de dano cerebral podem vir a apresentar um quadro de déficit intelectual a posteriore, elas devem ser precocemente estimuladas para diminuir o seu grau de comprometimento intelectual e psíquico. Têm sido assinalados casos em que o desenvolvimento é normal. Vários autores tem discutido a possibilidade de uma associação entre hipsarritmia e psicose ou entre hipsarritmia e autismo. A deteriorização do desenvolvimento neuropsicomotor está presente em 95% dos casos. O melhor prognóstico ocorre nos 5% dos casos que permanecem com desenvolvimento mental. O prognóstico, mesmo nos casos tratados precocemente, permanece reservado, obsevando-se em 90% dos casos a presença de deficiência mental. Distúrbios psiquiátricos são freqüentes. Outras síndromes epiléticas podem surgir-se à Síndrome de West, sendo que 50 – 60% dos casos evoluem para síndrome Lennox – Gastaut, epilepsia multifocal ou epilepsia parcial secundariamente generalizada. TRATAMENTO CLINICO Há uma grande melhora dos espasmos infantis com uso intensivo, logo após o diagnostico deste quadro, do ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) em suas apresentações (de difícil aquisição no Brasil e América Latina, inclusive o México) injetáveis como: ACTHAR (Corticotrophin) da Rhône Poulenc Rorer Pharmaceutical inc. ou a sua forma de H.P. ACTHAR Gel (Repository Corticotrophin injection). Dizemos que este tratamento pode ser heróico e interromper o quadro convulsivo, porém só devem ser utilizados sob rigoroso controle medico e monitoramento cardiopediatrico, já que os corticóides não agem apenas no SNC, mas todo o organismo da criança, inclusive em seu sistema imunológico. Segundo os autores Zajerman e Medina somente se utiliza esta medicação em casos de Síndrome de West considerados criptogenéticos, e não em espasmos infantis resultantes de lesões cerebrais, por exemplo. Há casos em que a resposta terapêutica pode aparecer em até 48 ou 72 horas após a aplicação de uma primeira dose do ACTH, podendo haver uma possibilidade de recidiva de crises nos casos considerados mais graves na dependência da precocidade do diagnostico e da extensão e gravidade da lesão cerebral associada. Outros anticonvulsivantes têm sido utilizados, isoladamente ou em combinação nos casos de espasmo infantis, como o Clonazepam, o Ácido Valpróico, o Fenobarbital, e o Vigabatrin. TRATAMENTO TERAPÊUTICO O tratamento terapêutico tem como objetivo principal tratar as seqüelas ou tentar diminui-las ao máximo possível. Como as complicações respiratórias existentes, devem-se fazer fisioterapia respiratória. 2 3 Outro objetivo é tentar se evitar as deformidades que surgem ou ameniza-las, fazendo-se mobilização passiva e alongamentos. Devido à hipotonia têm que se fortalecerem os músculos responsáveis pela respiração. Objetivos: Controle da cabeça e do tronco. Seguir as etapas de maturação de acordo com cada criança. Em todo paciente com Síndrome de West precisa-se trabalhar primeiramente o controle da cabeça e do tronco, para que depois, então, a criança seja estimulada a começar a rolar, arrastar, engatinhar, sentar,... Não podemos querer que ela engatinhe, sem que ela consiga fazer extensão cervical. O tratamento deve ser feito seguindo as etapas de evolução, de maturação da criança. Os exercícios terapêuticos devem obedecer às escalas de maturação. E importante saber que o tratamento da Síndrome de West é igual ao tratamento proposto à criança portadora de Paralisia Cerebral. Hidroterapia: Durante a terapia em piscina, o calor da água ajuda a melhorar a espasticidade, mesmo que o alívio seja apenas temporário. Entretanto, à medida que a espasticidade diminue, movimentos passivos podem ser administrados em maior amplitude e com menor desconforto para o paciente. Deste modo a amplitude articular pode ser mantida. Os movimentos passivos devem ser efetuados lentamente e ritmicamente, começando com o tronco e articulações proximais, gradualmente incluindo as articulações distais. Os movimentos devem a principio ser de natureza oscilatória e a seguir de natureza rotatória. O tronco e os membros devem ser movidos em padrões de movimento com inibição reflexa. BIBLIOGRAFIAS AJURIAGUERR, J de – “Manual de Psiquiatria Infantil”.Ed Atheneu, 1992 – 2ºedição. LIPPI, Jose Raimundo da Silva – “Neurologia Infantil” - 1987. DYNSKI, Martha Klin – “Atlas de Pediatria”. CAMBIER, J; MASSON, M e DEHEN, H. – “Manual de Neurologia”.Ed. Atheneu – 2º edição. SITES www.defnet.org.br/sindwest.htm www.saudevidaonline.com.br/correio.htm www.epilpsia.org/br/home.asp http:// membro.intermega.com.Br/westmariana/index.html 3