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Acupuntura como tratamento auxiliar do transtorno da ansiedade
generalizada
Valéria Abecassis da Silva1
[email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia²
Pós-graduação em Acupuntura – Faculdade Ávila
Resumo
A acupuntura é uma terapia complementar oriental que trabalha a força vital através de
pontos específicos denominados meridianos. Essa terapia é realizada principalmente através
da inserção de agulhas na pele em pontos específicos. A ansiedade é uma característica
biológica do ser humano, que antecede momentos de medo, perigo ou de tensão, marcada por
sensações corporais desagradáveis que dependendo do grau ou freqūência pode se tornar
patológica e acarretar muitos problemas posteriores. O objetivo deste trabalho é mostrar que
a ansiedade possui conceitos diferentes na visão Ocidental e Oriental, explicando
minuciosamente os efeitos da acupuntura no tratamento auxiliar da ansiedade.
Palavras-chave: Transtorno de Ansiedade Generalizada; Acupuntura; Meridianos.
1. Introdução
A Ansiedade, na visão Ocidental, é uma característica biológica do ser humano que antecede
momentos de medo, perigo ou de tensão, marcada por sensações corporais desagradáveis, tais
como uma sensação de vazio no estômago, palpitações, nervosismo, aperto no tórax,
sudorese, etc. Todas as pessoas podem sentir ansiedade, principalmente com a vida atribulada
atual. A ansiedade acaba tornando-se constante na vida de muitas pessoas. Dependendo do
grau ou freqūência pode se tornar patológica e acarretar em muitos problemas posteriores,
como o transtorno da ansiedade. Ter ansiedade ou sofrer desse mal faz com que a pessoa
perca uma boa parte da sua autoestima, ou seja, ela deixa de fazer certas coisas porque se
julga ser incapaz de realizá-las. No entanto, o termo ansiedade está de certa forma interligado
com o a palavra medo, assim a pessoa passa a ter o medo de errar sem mesmo tentar realizar
diversas tarefas. As pessoas ansiosas tem um vasto número de sintomas, muitos resultam de
um aumento da estimulação do sistema nervoso vegetativo ou autônomo, que controla o
"reflexo ataque-fuga", outros são somatizações, ou seja, convertem a ansiedade em problemas
físicos. A visão Oriental se baseia no princípio de que o homem deve estar em harmonia com
as forças primordiais da natureza, que os chineses chamam de yin e yang (dois princípios
opostos e complementares que compõem todo o universo), sendo que essa harmonia gera um
equilíbrio que pode ser traduzido como saúde, e, por sua vez, o desequilíbrio, como doença.
Tendo esse princípio como base, qualquer tipo de disfunção ou patologia, como, por exemplo,
a ansiedade, pode ser tratada por intermédio da acupuntura. Entretanto, realizar o tratamento
de uma patologia como a ansiedade pela acupuntura talvez não seja um procedimento tão
simples de realizar como possa parecer em um primeiro momento, porque na literatura da
medicina tradicional chinesa, não existe referência a essa patologia específica, cuja
nomenclatura é tipicamente ocidental. A própria ansiedade é um fenômeno ainda
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Pós-graduando em Acupuntura
² Orientadora, Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Bioética e Direito
em Saúde
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insuficientemente compreendido mesmo no ocidente, pois ao mesmo tempo em que apresenta
sintomas específicos, ela própria pode ser entendida como sintoma de outras patologias. É a
partir desse entendimento (da ansiedade como um sintoma) que é possível traçar paralelos
entre o conhecimento ocidental e a acupuntura chinesa. Além disso, será abordado o histórico
da Medicina Tradicional Chinesa como complemento, baseada em conceitos Taoístas e
energéticos, os quais enfocam o indivíduo como um todo e como parte integrante do universo.
Essa ciência é tão antiga quanto a humanidade, possui fundadores como Fu Hi (2953 a. C)
fundador da civilização chinesa, Cheng Nong ( 2838 a. C), Chou ( 1122 a 256 a.C) , Nei Jing,
Pien Chueh, Chouen yu Yi, as dinastias Han, Tang, Sung, Ming, Chin.
2. Histórico da Medicina Tradicional Chinesa
A Medicina Tradicional Chinesa é tão antiga quanto a humanidade. Pode-se dizer que ela
existe desde quando o primeiro homem pressionou e massageou seu corpo instintivamente ao
sentir dor.
O primeiro nome que a tradição guardou foi Fu Hi (2953 a.C.) fundador da civilização
chinesa, ao qual foi atribuída a invenção da caça, e do cozimento dos alimentos. Seu sucessor
foi o Imperador Cheng Nong (2838 a.C.), o qual ensinou às pessoas plantas curativas e
assinalou as tóxicas. Esses conhecimentos foram transmitidos por meio oral até a dinastia
Chou ( 1122 a 256 a. C) quando do aparecimento do Huang Di Nei Jing Su Wen.
Quase toda MTC se baseia no Nei Jing o qual desfruta de grande autoridade, pela riqueza de
observações que contém seus ensinamentos sobre prevenção e tratamento de doenças. Nesse
mesmo período o famoso médico Pien Cheh descreveu a ressuscitação de uma pessoa
considerada morta, somente com o uso das agulhas. Chouen yu Yi, soube diagnosticar uma
cirrose hepática, uma hérnia estrangulada, um ataque de gota, uma emoptise, justificando a
terapêutica indicada em cada caso.
No início da dinastia Han, assinala-se a existência de uma mulher médica, que foi reconhecida
oficialmente no início do século XIV da dinastia Yuan, fato de bastante importância, pois as
mulheres não podiam despir-se diante dos médicos, normalmente as chinesas usavam bonecas
para indicar o local onde sentiam dor. No final dessa dinastia foi decrito um livro Chang
Tsung Jing, que descreve o tratamento da malária pela acupuntura, moxa, ervas e de
quimioterápicos.
Na dinastia Tang no século VII a VIII, a medicina atingiu o apogeu, dividindo-se em quatro
especialidades. Primeiro vinham os médicos e pulsólogos que tratavam da medicina interna e
externa, doenças pediátricas da boca, nariz e garganta, depois vinham os acupuntores,
seguidos dos massagistas, que também utilizavam técnicas respiratórias e de redução de
fraturas, e por último os geomancistas e mestres em sortilégios. A dinastia Sung (960 a 1279),
foi marcada pela cura através da acupuntura do Rei Sung Jen Tsung, que ordenou a um
médico famoso Wang Wei Yi a organizar escritos sobre o assunto, bem como mapas e
diagramas dos meridianos, também instituiu a primeira faculdade de acupuntura e foi
confeccionado estátuas de bronze para exame dos estudantes. Na dinastia Ming (1368 a 1643)
foi publicado o Zhen Jiu Da Cheng, que fornece resumos de todas as obras conhecidas, desde
o Nei Jing até seu aparecimento. Fan Pei Lan fez parte da dinastia Ching, que escreveu sobre
tratamentos combinados das ervas e moxabustão e selecionando pontos simples. Os
governantes desta dinastia baniram a prática da acupuntura, a qual continuou a ser praticada
clandestinamente. Nessa época a medicina ocidental provou sua eficiência em assuntos como
epidemia e operações cirúrgicas, o que atraía os estudantes, e as escolas de medicina
tradicional chinesa foram aos poucos, sendo abandonadas, sendo que após a revolução de
1912 só restavam oito.
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Em 1945 a 1949 ocorreram lutas entre as duas forças que disputavam o poder político: Chiang
Kai Shek (revolucionário) e Mao Tse Tung (comunista). Mas em 1949 foi proclamada a
República Popular da China sob a liderança de Mao Tse. Com a China saneada,
reorganizaram estudos médicos, construíram faculdades, escolas e colégios médicos nas
grandes cidades, e Mao Tsé definiu que a linha a ser seguida era a coexistência da medicina
popular e a medicina moderna. Em 1974 foi criado em Pequim um instituto de pesquisa
científica em medicina tradicional, e até 1958 já havia 27 institutos semelhantes com objetivo
de determinar o valor da medicina popular através de métodos científicos modernos.
Em 1958 começou-se a praticar a analgesia por acupuntura. Nesse mesmo ano realizou-se a
primeira amigdalectomia sob analgesia por acupuntura, e foi um sucesso. O método extendeuse para cirurgias bucais, tireoidectomia, herniorrafia, remoção de tumores cerebrais, cirurgias
de tórax, abodômen, pélvis e extremidades. Os chineses surpreenderam o mundo ao
mostrarem pela TV um de seus compatriotas sorrindo sobre a mesa cirúrgica enquanto era
submetido a uma gastrectomia através da analgesia acupuntural.
3. Ansiedade na visão da medicina ocidental
Quanto à etimologia da palavra ansiedade, Savola (2000) enfatiza diferentes origens, como a
palavra inglesa anxiety que se deriva do latim anxius definida como uma condição de
agitação, e a palavra francesa anguisse se refere a uma sensação de sufocamento, é descrito
seu aparecimento na Idade Média como um termo eclesiástico, significando sofrimento
espiritual, alguns autores utilizam a palavra anguish (angústia) como sinônimo de anxiety
enquanto outros preferem utilizar a expressão angústia para as sensações físicas que
acompanham a ansiedade como fenômeno psíquico.
Na ciência ocidental, ainda não se sabe ao certo quais as causas para o surgimento da
ansiedade, e, embora os estudos de base biológica estejam avançados, as melhores
explicações ainda são as de base psicodinâmica (Kaplan, Sadok, & Greb, 1997). Para esses
autores, ainda é possível fazer uma distinção entre uma ansiedade considerada normal e uma
ansiedade patológica, e afirmam que a ansiedade apresenta qualidades de preservação da vida,
pois alerta o indivíduo sobre uma possível ameaça interna ou externa. Nesse sentido, ela tem a
função de preparar o indivíduo para que este se proteja de uma ameaça ou, em não
conseguindo fazê-lo, que pelo menos diminua suas consequências.
Quando a ansiedade se apresenta em uma intensidade ou duração elevada, não proporcional
ao estímulo frente ao qual o indivíduo se encontra, é possível dizer que se está diante de um
quadro patológico, de um transtorno de ansiedade, tendo em vista que o DSM-IV (2002)
classifica 14 tipos diferentes de transtornos que podem ser enquadrados nessa categoria,
porém neste trabalho destacaremos o transtorno de ansiedade generalizada.
Kaplan e Sadock (1993) mencionam que se pode falar de ansiedade normal quando se
responde com ansiedade a certas situações ameaçadoras. A ansiedade patológica, em
comparação, é uma resposta inadequada a determinado estímulo, em virtude de sua
intensidade ou duração. De uma forma mais global a ansiedade normal é aquela reação que
não é desproporcional à ameaça objetiva, não envolve repressão ou outros mecanismos de
conflito intrapsíquico, não requer mecanismos de defesa neurótica, e pode ser enfrentada
construtivamente pela percepção consciente ou pode ser aliviada se a situação objetiva for
alterada. A ansiedade neurótica seria o reverso da definição de normal.
Ainda sobre as principais características apresentadas nos transtornos de ansiedade, é
interessante destacar Homes (1997), que indica que, nesses casos, os indivíduos apresentam
sintomas específicos nos campos somático, motor, no do humor e no da cognição. Em relação
aos sintomas de humor, o sofrimento advindo da ansiedade tem a característica de apresentar
um sentimento constante de que o indivíduo será condenado por algo, ou que algo terrível irá
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acontecer; desse modo, o indivíduo pode apresentar sensações de tensão, medo, irritabilidade
e depressão. Os sintomas cognitivos, por sua vez, dizem respeito à apreensão e/ou
preocupação com uma possível condenação ou desastre que pode vir a ocorrer e que o
indivíduo antecipa.
Os sintomas somáticos, de acordo com Homes (1997), podem ser divididos em dois tipos; os
primeiros podem ser chamados de imediatos, que podem ser boca seca, suor, respiração curta,
sensações de tensão muscular, latejo na cabeça, pulso rápido e aumento de pressão sanguínea.
Já os segundos são resultantes de um estado crônico de ansiedade, que pode debilitar o
sistema fisiológico ocasionando fadiga geral, sofrimento intestinal, fraqueza muscular,
hipertensão e constantes dores de cabeça. Por fim, os sintomas motores dizem respeito à
impaciência e à inquietação que indivíduos em estados ansiosos podem apresentar, sendo
comum que pessoas nesse estado emitam rápidos e repetidos movimentos com dedos, pés ou
pernas ou respostas de susto muito exageradas a estímulos como ruídos ou presença súbita de
pessoas.
De acordo com Amadera (2007) a ansiedade pode se manifestar em três níveis:
neuroendócrino, visceral e de consciência. O nível neuroendócrino diz respeito aos efeitos da
adrenalina, noradrenalina, glucagon, hormônio antidiurético e cortisol. No plano visceral a
ansiedade é devida ao Sistema Nervoso Autônomo (SNA), que reage se excitando o
organismo na reação de alarme (sistema nervoso simpático) ou relaxando (sistema vagal) na
fase de esgotamento.
As pessoas ansiosas têm um vasto número de sintomas. Muitos resultam de um aumento da
estimulação do sistema nervoso vegetativo ou autônomo, que controla o "reflexo ataquefuga". Outros são "somatizações", ou seja, os doentes convertem a ansiedade em problemas
físicos, incluindo dores de cabeça, distúrbios intestinais e tensão muscular. Cerca de metade
das pessoas com ansiedade sofrem principalmente de sintomas físicos, normalmente
localizados nos intestinos e no peito. Os principais sintomas são: fadiga; insônia; falta de ar
ou sensação de sufoco; dormência nas mãos e nos pés; confusão; instabilidade ou sensação de
desmaio; dores no peito e palpitações; afrontamentos, arrepios, suores, frio, mãos úmidas;
boca seca; contrações ou tremores incontroláveis; tensão muscular, dores; necessidade urgente
de defecar ou urinar; dificuldade em engolir; sensação de ter um "nó" na garganta;
dificuldades para relaxar; dificuldades para dormir.
O tratamento recomendado é quase sempre a psicoterapia associada ao uso de ansiolíticos e
antidepressivos. O tratamento é iniciado com ansiolíticos como, por exemplo, os
benzodiazepínicos. Logo após a estabilização do paciente, o médico pode prescrever um
antidepressivo para o controle da ansiedade. Outra classe de medicamentos também utilizada
são a dos beta-bloqueadores, esses medicamentos são normalmente controlados. No entanto,
existem os incômodos dos efeitos colaterais resultantes do uso destes remédios, entre eles
sonolência e alteração da qualidade do sono, prisão de ventre, excitação emocional, variações
de apetite e até mesmo dependência física e psicológica, que muitas vezes acabam gerando
outras.
4. Ansiedade na visão da medicina oriental
A acupuntura faz parte da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que também utiliza práticas
como a massagem, a fitoterapia, exercícios físicos e respiratórios, como o tai chi chuan e o qi
qong, para promover a saúde física, psíquica e espiritual do indivíduo.
De acordo com Campiglia (2004), Vectore (2005) e Silva (2007), a medicina tradicional
chinesa e, portanto, a própria acupuntura, se baseia no princípio de que o homem deve estar
em harmonia com as forças primordiais da natureza, que os chineses chamam de yin e yang
(dois princípios opostos e complementares que compõem todo o universo), sendo que essa
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harmonia gera um equilíbrio que pode ser traduzido como saúde, e, por sua vez, o
desequilíbrio, como doença.
O princípio básico da acupuntura sustenta que o equilíbrio é mantido no corpo humano por
meio do fluxo suave de uma energia denominada pelos chineses qi, bem como pelo fluxo,
também suave, pelo corpo, do sangue, denominado pelos chineses como xue. Problemas
ambientais, alimentares, emocionais ou espirituais podem causar algum tipo de alteração na
circulação do qi e do xue no organismo, originando assim algum tipo de disfunção ou
patologia.
A partir do momento em que alguma patologia esteja instalada no organismo, Silva (2007) e
Xinnong (1999) concordam que uma das formas de eliminá-la ou de minimizá-la seria a
inserção de agulhas em pontos específicos do corpo, que tem a propriedade de restabelecer
esse fluxo suave, ou seja, pela prática da acupuntura.
Tendo esse princípio como base, qualquer tipo de disfunção ou patologia, como, por exemplo,
a ansiedade, pode ser tratada por intermédio da acupuntura; porém, realizar o tratamento de
uma patologia como a ansiedade pela acupuntura talvez não seja um procedimento tão
simples de realizar como possa parecer em um primeiro momento, porque, na literatura da
medicina tradicional chinesa, não existe referência a essa patologia específica, cuja
nomenclatura é tipicamente ocidental. A própria ansiedade é um fenômeno ainda
insuficientemente compreendido mesmo no ocidente, pois, ao mesmo tempo em que apresenta
sintomas específicos, ela própria pode ser entendida como sintoma de outras patologias.
E é a partir desse entendimento, da ansiedade como um sintoma que é possível traçar
paralelos entre o conhecimento ocidental e a acupuntura chinesa, comparando as
sintomatologias descritas, é possível identificar o que os tratados clássicos chineses escreviam
sobre o que atualmente se classifica de ansiedade, e, desse modo, realizar no ocidente o
tratamento nos moldes descritos pelos princípios tradicionais da china.
De acordo com Ling-Shu (1995), na MTC, existe uma classificação de doenças nas quais se
enquadram as patologias que apresentam maior sintomatologia psíquico/ emocional, as
chamadas dian-kuang, que podem ser traduzidas por perturbações mentais. Nas dian-kuang,
porém, estão enquadradas as patologias mais severas, o que, no ocidente, pode ser traduzido
por psicoses. Assim sendo, distúrbios menos intensos, como, por exemplo, estados ou
transtornos de ansiedade, não poderiam ser classificados como patologias dian-kuang.
Autores como Campiglia (2004), Auteroche e Navailh (1992) entendem que fenômenos como
a ansiedade são sintomas (assim como no ocidente) de distúrbios de outra ordem. Aliado a
isso, como na MTC não existe separação entre corpo, mente e espírito, uma desarmonia em
um dos cinco principais órgãos do corpo (na perspectiva chinesa: coração, baçopâncreas,
pulmão, rins e fígado) ocasionará automaticamente um desequilíbrio nos aspectos mentais e
espirituais desses órgãos, chamados respectivamente de shen, hun, po, yi e zhi.
Nessa perspectiva, como a ansiedade é sintoma de uma desarmonia, ela pode ser sintoma de
desequilíbrio de qualquer um desses aspectos, sendo, porém, mais marcadamente considerada
um distúrbio do shen, que significa espírito (Campiglia, 2004), ressaltando-se que, para os
chineses, o espírito reside no coração. Esse espírito não fica preso no coração, mas circula por
todo o corpo, garantindo a vitalidade e a consciência, regulando o humor e a sensação de
bem-estar no mundo, como destaca Campiglia (2004):
O Shen aloja-se no coração. O coração é o órgão que funciona como receptáculo das
funções ativas da consciência, ele abriga ou expressa sentimentos, emoções, desejos
mais profundos, imaginação, intelecto e memória dos eventos passados. como um
copo ou cálice, o coração contém o sangue e o Shen, que são seu conteúdo, seu
vinho sagrado... Ou seja, ao se alojar no coração, o Shen não está em um lugar fixo,
mas circula como o sangue nos vasos. Ele está em todo o corpo, pois o sangue dos
vasos irriga tudo, da pele aos olhos. O Shen é, portanto, uma atividade dinâmica que
está na essência do coração. Adquire-se e desenvolve-se a consciência interagindo
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com o mundo e com os próprios órgãos e o Shen está presente em cada um deles.
(CAMPIGLIA, 2004: 92).
Assim, para os chineses, um distúrbio no coração corresponde automaticamente a uma
desarmonia no espírito. A ansiedade, então, pode ser entendida como o resultado de uma
desarmonia do espírito, seja por uma situação de excesso, insuficiência ou estagnação de qi
(energia) ou xue (sangue) no coração ou em outros órgãos que acabam afetando o coração.
Essa situação de excesso, insuficiência ou estagnação pode ser causada pelos seis fatores
patogênicos externos, vento, frio, calor, umidade, secura e fogo; pelos sete fatores internos,
alegria, raiva, tristeza, pesar, preocupação, medo e pavor, ou pelos fatores nem internos nem
externos, como a alimentação, os traumas, o excesso de trabalho, de exercícios físicos ou de
relações sexuais (Campiglia, 2004; Chonghuo, 1993). Para Ross (2003) que traça um paralelo
mais direto entre as terminologias ocidental e oriental, a ansiedade “pode ser definida como
um estado subjetivo desagradável e inquieto de tensão e apreensão, no qual é difícil relaxar ou
encontrar calma e paz”.
Tomando como base o princípio chinês da indissociabilidade entre corpo, mente e espírito e
da relação entre os cinco órgãos, Ross (2003) também enfatiza que a ansiedade é causada por
uma perturbação do sistema do coração. O autor acrescenta que o surgimento de distúrbios de
ansiedade está relacionado constantemente a um desequilíbrio entre os sistemas do coração e
do rim: “A ansiedade do coração está baseada no medo do rim, com sentimentos
característicos de apreensão, do medo de que algo terrível aconteça. A ansiedade pode então
vir combinada de sobressaltos e receio, com sinais físicos como tremor, freqüência urinária ou
intestinos soltos” (Ross, 2003: p. 464).
Para Ross (2003), a ansiedade é o resultado de um distúrbio do shen, é um sintoma que indica
que o espírito não está conseguindo se mover de modo adequado pelo corpo. Nesse sentido,
Ross (2003) afirma que, na perspectiva chinesa, existem pelo menos três tipos diferentes de
ansiedade, de acordo com a situação que a originou:
a) Ansiedade por excesso:
[...] O fogo fleuma do coração é uma forma de excesso que pode levar à ansiedade e
à confusão de pensamento, linguagem e comportamento. consiste, essencialmente,
em fleuma, decorrente da deficiência do baço, em combinação com o fogo do
coração. Pode surgir de um estresse emocional ou do excesso de fumo, do álcool e
de alimentos gordurosos, com falta de exercícios físicos.(ROSS, 2003: 465)
b) Ansiedade por estagnação:
A estagnação pode dar origem ao distúrbio do movimento. A estagnação do qi do
coração e do qi do fígado, por exemplo, decorrentes da estagnação emocional,
podem levar ao distúrbio do espírito do coração e à hiperatividade do yang do
fígado, levando à ansiedade. A estagnação do qi pode resultar em acúmulo de
fleuma, que pode perturbar a livre circulação do espírito, causando ansiedade.
(ROSS, 2003: 465)
c) Ansiedade por deficiência:
[...] a ansiedade aumenta quando a energia está reduzida, quando há deficiência por
falta de sono e descanso, excesso de trabalho, estresse, doença e nutrição deficiente,
além de outros fatores. A deficiência do qi do coração e do rim, do yin do coração e
do rim, e do sangue do coração e do baço podem dar origem à ansiedade, já que o qi,
o yin e o sangue são necessários para manter o espírito estável. (ROSS, 2003: 465)
No principal livro antigo sobre MTC "Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo"
(Huang Di Nei Jing) é descrito o diálogo entre duas figuras lendárias da cultura chinesa: o
Imperador Amarelo (Huang Di) e o médico da corte Qibo. O livro está dividido em 18
volumes e 162 fascículos, compreendendo as Questões Simples (Su Wen) e o Eixo Espiritual
(Ling Shu). Neste importante cânone de Medicina Tradicional Chinesa, já se pode observar
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passagens que descrevem a ansiedade enquanto resposta ao desequilíbrio do homem em
relação à natureza, como será descrito nos trechos a seguir.
O imperador Amarelo perguntou: Disseram-me que nos tempos antigos, quando um
médico tratava uma doença, ele apenas transformava a mente e o espírito do
paciente, a fim de extirpar a fonte da doença. Nos dias de hoje, o paciente é tratado
internamente com remédios e externamente com acupuntura. No entanto, algumas
doenças são curadas, mas algumas delas não podem sê-lo; por quê?
Qibo respondeu: Nos tempos antigos, o povo vivia em cavernas agrestes, rodeado de
pássaros e bestas; afastavam o frio pelo próprio movimento, e se evadiam do verão
quente, viviam à sombra. Eles não tinham nenhuma sombra no coração por admirar
a fama e o lucro, e não tinham cansaço no corpo por procurar uma posição mais
elevada, por isso, dificilmente se poderia ser invadido pelo mal exógeno neste
ambiente calmo e tranqüilo.
Mas, hoje em dia, a situação é diferente; as pessoas tanto são perturbadas pela
ansiedade interna do coração, como feridas pelas dificuldades externas do corpo,
juntamente com o descuido do paciente, violentando as regras da seqüência do clima
das quatro estações, e a friagem e o calor da manhã e da noite (...). (WANG, 2004).
Neste trecho fica evidente o distanciamento do homem às leis universais da natureza, como o
principal motivo para o seu próprio desequilíbrio. Tanto fatores externos (climáticos, por
exemplo), quanto internos (emoções excessivas, por exemplo) são apontados como os
responsáveis pelo adoecimento.
Quando as energias refinadas dos cinco órgãos sólidos estiverem imersas em um
órgão, a energia do órgão se tornará estênica e surgirá a doença (...) quando imersa
no baço, a energia do baço estará abundante em parte e restringe o rim, gerando
ansiedade (...). Essas são as assim chamadas penetrações".(WANG, 2004).
Nesta outra passagem é descrito o resultado de desequilíbrios nos ciclos naturais de
movimentação da energia Qi, referindo-se ao desequilíbrio do baço estando associado à
ansiedade.
O terror excessivo e a ponderação, fazem com que o paciente gaste a energia Yin e
fique instável. O sofrimento excessivo lesa as vísceras internas, fazendo com que as
atividades funcionais da energia vital se tornem exaustas, gerando a morte do
paciente. A alegria excessiva causa a dispersão da energia que não pode mais ser
armazenada. A melancolia excessiva causa o impedimento e a estagnação das
atividades funcionais da energia vital. A fúria causa manias e a anormalidade do
paciente. O terror excessivo causa o transbordamento da energia refinada devido ao
desassossego do espírito. (WANG, 2004).
Nesta passagem sobre "As doenças causadas pelas atividades do espírito", mais uma vez fica
evidente o papel dos fatores internos (emoções) na causa do desequilíbrio da energia Qi,
gerando os sinais/ sintomas clínicos que serão observados e/ou relatados.
A relação entre a ansiedade e a teoria dos cinco elementos na MTC, a ansiedade está ligada
com os sistemas do Coração e do Rim. Pode estar associada com outras emoções do Coração,
como agitação, pânico e histeria, mas a ansiedade difere da mania no sentido de a ansiedade
ser uma sentimento desagradável, ao passo que a mania pode estar associada com sentimentos
de bem-estar e euforia.
Ainda de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa os problemas de saúde são
provenientes de causas externas (exemplos: vento, frio, calor moderado, umidade, secura e
calor exagerado), causas internas (exemplos: alegria, reflexão, ansiedade, susto, medo, pesar e
raiva) e causas mistas (exemplos: alimentação, parasitoses, estilo de vida e drogas).
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5. Metodologia
A pesquisa será de caráter exploratório observacional. Segundo Oliveira (2000), uma pesquisa
exploratória tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas
a torná-lo mais explícito. O método de pesquisa utilizado será a pesquisa bibliográfica, que de
acordo com o mesmo autor, é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. A pesquisa bibliográfica gera subsídios para
melhor compreensão do assunto e assim aproximar teoria e prática. O levantamento
bibliográfico ocorrerá consultando artigos de periódicos nacionais, internacionais e
eletrônicos no sistema Medline, Scielo entre outros, utilizando os seguintes descritores:
acupuntura, ansiedade, tratamento, história da acupuntura, efeitos da acupuntura.
6. Resultados e Discussão
Alguns dos principais pontos utilizados no tratamento do transtorno de ansiedade
generalizada e suas funções
Os pontos abaixo tem as seguintes funções de acordo com Focks (2005) e Ross (2003):
a) R3 – (terceiro ponto do canal de energia do rim) Regula o equilíbrio do yin e do yang,
fortalece e estabiliza a mente e as emoções, equilibra a labilidade emocional, a deficiência do
qi do rim; tonifica o rim e beneficia a essência e tonifica o sangue;
b) R6 – (sexto ponto do canal de energia do rim) Tonifica o yin do rim, a deficiência do rim,
nutre o yin, principalmente quando existe excesso de fogo no coração, promove o sono e os
fluidos corpóreos;
c) C7 – (sétimo ponto do canal de energia do coração) Tonifica o coração, equilibra o yin e o
yang, estabiliza o coração, clareia a mente, acalma a mente e as emoções, regula o espírito,
tonifica o sangue, tonifica o yin do coração, elimina o fogo;
d) CS6 – (sexto ponto do canal de energia do coração/sexualidade) Move a estagnação e
acalma irregularidades do qi, remove a estagnação de sangue e fleuma, acalma o espírito,
remove a estagnação do qi do pulmão, tonifica o coração; é indicado para dor, choque e
traumatismo;
e) CS7 – (sétimo ponto do canal de energia do coração/sexualidade) Acalma o espírito, move
a estagnação e regula o qi do coração e do estômago;
f) E25 – (vigésimo quinto ponto do canal de energia do estômago) Regula o estresse
emocional, regulariza o qi;
g) E36 – (trigésimo sexto ponto do canal de energia do estômago) Fortalece o baço e o
estômago para produzirem qi e sangue, que eliminam a umidade; faz subir o qi, tonifica o
sangue e o qi, estabiliza a mente e as emoções, regulariza o qi defensivo e nutritivo;
h) P5 – (quinto ponto do canal de energia do pulmão) Resfria e acalma o pulmão, trata a
retenção de fleuma no pulmão, trata a deficiência de yin no pulmão;
i) P7 – (sétimo ponto do canal de energia do pulmão) Expele o vento externo, fortalece o
pulmão melhorando a circulação do qi defensivo, remove a estagnação do qi do pulmão,
remove as emoções estagnadas do pulmão, como a tristeza e a mágoa reprimidas;
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j) P9 – (nono ponto do canal de energia do pulmão) Tonifica o qi do pulmão, tonifica o yin do
pulmão, fortalece os vasos sanguíneos e a circulação do sangue;
k) IG4 – (quarto ponto do canal de energia do intestino grosso) Remove o vento exterior,
remove o calor, relaxa a tensão muscular, move estagnações do sangue, acalma a
hiperatividade do yang do fígado, acalma a mente, tonifica o qi e o sangue;
l) IG11 – (décimo primeiro ponto do canal de energia do intestino grosso) Expele o vento
exterior, remove o calor, relaxa a tensão muscular e alivia a dor, acalma a hiperatividade do
yang do fígado, resolve a umidade;
m) F3 – (terceiro ponto do canal de energia do fígado) Move a estagnação do qi e do sangue,
acalma a hiperatividade do yang do fígado, elimina o vento do fígado e reduz espasmos e dor;
tonifica o sangue e acalma o espírito;
n) F14 – (décimo quarto ponto do canal de energia do fígado) Move a estagnação do qi do
fígado, elimina a umidade calor do fígado; utilizado para congestionamento mental e
emocional;
o) VC4 – (quarto ponto do canal de energia do vaso da concepção) Fortalece o jing, o qi, o yin
e o yang do rim, dispersa a estagnação do qi;
p) VC6 – (sexto ponto do canal de energia do vaso da concepção) Tonifica a deficiência e
move a estagnação do qi;
q) VC12 – (décimo segundo ponto do canal de energia do vaso da concepção) harmoniza a
preocupação e a insegurança, tonifica a deficiência do qi e do yang do baço, move a
estagnação e regula a rebelião do qi do estômago;
r) VC15 – (décimo quinto ponto do canal de energia do vaso da concepção) Acalma o espírito
quando este está agitado pelo fogo do coração ou obstruído pela fleuma no coração;
s) VC17 – (décimo sétimo ponto do canal de energia do vaso da concepção) Dispersa a
estagnação do qi, remove a estagnação do qi do coração, do sangue do coração, do qi do
pulmão e do aquecedor superior;
t) BP3 – (terceiro ponto do canal de energia do baço-pâncreas) move a estagnação do qi do
baço, tonifica a deficiência e fortalece o baço, resolve o esgotamento e o embotamento mental
por umidade e fleuma;
u) BP6 – (sexto ponto do canal de energia do baço-pâncreas) tonifica o baço, o qi e o sangue,
elimina a umidade, tonifica o yin, acalma a mente, regula o qi do fígado;
v) BP9 – (nono ponto do canal de energia do baço-pâncreas) elimina a umidade;
w) TA4 – (quarto ponto do canal de energia do triplo aquecedor) tonifica a deficiência do qi
do rim, remove o excesso do vento e calor e a estagnação do qi;
x) TA5 – (quinto ponto do canal de energia do triplo aquecedor) remove vento e calor e a
estagnação do qi do fígado;
10
y) Yintang – (ponto extra localizado no entre as sobrancelhas) Acalma a mente, diminui
cefaléia, tonturas e a sensação de peso na cabeça; é utilizado em casos de estados de
ansiedade, de distúrbios do sono e em estados de confusão mental.
Dentro da perspectiva teórica da acupuntura, é possível identificar a qualidade da energia qi
dos órgãos do corpo, a saber, pulmão, baço-pâncreas, ming men (órgão da medicina chinesa
correspondente a um dos rins), coração, fígado e rim, por intermédio do exame dos pulsos do
paciente (AUTEROCHE & NAVAILH, 1992; FLAWS, 2005; YAMAMURA, 2001;
XINONG, 1999).
Maciocia (2003) e Xinong (1999) consideram que procedimento semelhante pode ser
realizado pelo exame da língua, que apresentará, em áreas específicas (correspondentes aos
órgãos do corpo), sinais como edemas, palidez, vermelhidão, rachaduras, saburras de diversas
espessuras e tonalidades .
A partir do exame da língua e dos pulsos, a qualidade da energia de cada órgão pode ser
classificada como normal, em excesso, estagnada, deficiente ou inexistente, sendo que cada
uma dessas características acarretará uma sintomatologia diferenciada no paciente, que é
tratado com a estimulação, a sedação ou a harmonização de pontos de acupuntura específicos.
A estimulação de um ponto de acupuntura é feita com a inserção da agulha no mesmo sentido
do fluxo do canal de energia, deixando-se a agulha inserida no corpo por um tempo reduzido,
aproximadamente 10 a 15 minutos. Já a sedação do ponto é feita de modo oposto: a agulha é
inserida no sentido contrário ao fluxo de energia do canal, e é deixada por tempo maior, mais
de 30 minutos. Por sua vez, a harmonização de um ponto de acupuntura é feita com a inserção
perpendicular da agulha no canal de energia, e a mesma é deixada por um tempo médio, de 20
a 25 minutos, conforme os estudos de Auteroche (1996), Chonghuo (1993) e Xinong (1999).
Mecanismo de Ação da Acupuntura (Relacionados ao Tratamento dos T. Mentais)
Os transtornos ansiosos são representados pelo transtorno de ansiedade generalizada,
síndrome do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno do estresse pós-traumático.
Há pouco mais de uma década verificou-se que os inibidores seletivos da recaptação da
serotonina causavam melhora clínica nos transtornos de ansiedade. Postulou-se então que a
serotonina também estaria envolvida na gênese de sintomas ansiosos. Além disso, muitos
dos
sintomas ansiosos (taquicardia, tremores, sudorese) são indicativos de uma
hiperatividade noradrenérgica. Assim, também os agonistas dos auto-receptores
noradrenérgicos centrais (que funcionam como um freio na liberação de noradrenalina)
aliviam quadros ansiosos (AMADERA).
De acordo com (Amadera) fisiopatologia sugerida de todos os transtornos mentais envolve
alterações nos sistemas monoaminérgicos, que incluem a serotonina, noradrenalina e a
dopamina. Com o avanço do conhecimento, teorias mais recentes foram desenvolvidas,
envolvendo os sistemas glutamatérgico e GABAérgico, alem da própria expressão gênica dos
variados receptores e neurotransmissores23. O efeito da acupuntura sobre as monoaminas está
mais solidamente estabelecido, além de existirem evidências de ação nos receptores GABA
(especialmente GABA-B) e na expressão gênica com ativação da Fos. Foi sugerido que o
efeito da acupuntura independe dos pontos escolhidos, mas sim das freqüências de
eletroestimulação24 – idéia que encontra sustentação nos numerosos ensaios clínicos com
resultados positivos, todos utilizando eletroacupuntura. Contudo o fato de que o agulhamento
de locais que não constituem pontos de acupuntura constituir, ao lado da sham acupuntura,
num dos tipos de grupo controle, geralmente com resultados semelhantes ao placebo, não
permite excluir a especifidade dos pontos clássicos.
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Opióides Endógenos
Foi demonstrado que eletroestimulação de baixa freqüência (2Hz) causa liberação de betaendorfinas e met-encefalinas no SNC enquanto a alta freqüência (100Hz) causa liberação de
dinorfina. Verificou-se ainda aumento dos níveis de endomorfina. Essas alterações podem
explicar as ações da acupuntura na dependência química principalmente.
Serotonina
Sabe-se que o aumento dos níveis de beta-endorfinas causa significativa liberação de
serotonina. Foi demonstrado também que a acupuntura causa aumento dos níveis de
serotonina no núcleo accumbens do circuito mesolímbico, provavelmente secundária à
liberação de encefalinas. Esta ação sobre a serotonina foi confirmada por diversos outros
estudos. Acupuntura aumenta os níveis de serotonina e a relação serotonina / acido
hidroxindolacetico (HIAA) ao mesmo tempo em que diminui os níveis de triptofano
(precursor da serotonina) e do HIAA (metabólito da serotonina). A aplicação de agulhas
aquecidas por moxibustão também foi estudada, sendo observado efeito inverso, com
aumento significativo da relação HIAA / serotonina, sugerindo aumento do turnover
metabólico da serotonina. A aplicação deste último achado permanece incerta, mas poderia
explicar algumas ações sobre sintomas negativos da esquizofrenia, além do alívio dos efeitos
colaterais dos antipsicóticos observados com tratamento com acupuntura.
Noradrenalina
Acredita-se que os níveis de noradrenalina sejam aumentados pela acupuntura. Deve ser
lembrado que a noradrenalina pode ligar-se tanto aos autorreceptores alfa- (diminuindo a
resposta simpática) quanto aos receptores pós-sinápticos noradrenérgicos. Foi demonstrado
que o estímulo no ponto de acupuntura E36 (mas não o estímulo em ponto aleatório) aumenta
a expressão do Fos nos neurônios catecolaminérgicos localizados no núcleo arqueado do
hipotálamo, na rafe dorsal, no grupo celular e no locus ceruleus. Além disso existe aumento
significativo da Fos-tirosina-hidroxilase nos neurônios do núcleo arqueado, rafe dorsal e locus
ceruleus, e aumento da Fos-dopamina-betahidroxilase no locus ceruleus e no grupo celular. A
tirosina-hidroxilase esta envolvida tanto na síntese de dopamina quanto de noradrenalina (é o
fator limitante da síntese), convertento tirosina em DOPA. Na seqüência a DOPA seria
convertida em dopamina pela enzima DOPA-descarboxilase. Finalmente a dopamina-betahidroxilase converte a dopamina em noradrenalina. Contudo, encontramos um estudo
realizado em ratos obesos que não mostrou alteração nos níveis de noradrenalina, medidos
somente no núcleo da rafe.
Dopamina
A ação da acupuntura sobre a dopamina sempre foi motivo de controvérsia. Contudo, os
estudos recentes encontrados mostram que existe em geral aumento de seus níveis. Foi
sugerido que eletroacupuntura na região lombar aumenta significativamente o turnover da
dopamina. Estudo com modelo animal mostrou que o agulhamento do ponto C7 diminui a
liberação de dopamina e a hiperatividade secundários a infusão de morfina. Também em
modelo animal, e com agulhamento do mesmo ponto, foi demonstrada diminuição significa
da liberação de dopamina no núcleo accumbens – diminuição que foi inibida pela
administração de um antagonista altamente seletivo do receptor GABA-B, sugerindo que a
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ação inibitória dopaminérgica talvez seja devida a ação modulatória da acupuntura sobre o
sistema GABAérgico. O mesmo ponto preveniu tanto a diminuição dos níveis de dopamina
do núcleo accumbens durante abstinência ao álcool em ratos tornados dependentes, quanto o
aumento da dopamina secundário a infusão de álcool – uma interessante ação regulatória
sobre o sistema dopaminérgico mesolímbico. Contudo, encontramos um estudo realizado em
ratos obesos que não mostrou alteração nos níveis de dopamina, medidos somente no núcleo
da rafe. Outro achado interessante em modelo animal foi a inibição da degeneração de
neurônios dopaminérgicos que tiveram seus axônios seccionados pela eletroacupuntura de alta
frequência (100Hz). Foi observado que o tratamento inibiu a migração microglial para a
região da lesão, assim como o aumento esperado dos níveis de fator de necrose tumoral e de
interleucina-1beta. Caso esta ação possa ser transposta para seres humanos, teríamos um
importante adjuvante nas doenças onde a neurodegeneração esta associada, como a
esquizofrenia e as demências. Atualmente ganha espaço nas revistas de psiquiatria um novo
método de tratamento biológico - a estimulação magnética transcraniana (EMTC), onde
haveria ativação de áreas cerebrais específicas pelo campo magnético gerado pelo aparelho de
estimulação. Os estudos mais frequentes tratam de seu uso sobre a depressão, com
significativa melhora. Acreditamos que agulhas puntuadas sobre a cabeça, especialmente se
inseridas subcutaneamente por vários centímetros, quando estimuladas eletricamente gerariam
um campo magnético análogo ao gerado pelos aparelhos de EMTC - ainda que menos
potente. Isso explicaria os resultados positivos observadas com uso da cranioacupuntura
especialmente na depressão e nas demências.
A medicina tradicional chinesa entende que a maioria dos distúrbios emocionais e psíquicos
tem em sua base uma desarmonia entre as energias dos diversos órgãos do organismo, com
especial destaque para as energias do coração e do rim, conforme estudos de Auteroche
(1992), Chonghuo (1993) e Ross (2003). Isso fica claro quando se observa que, no
entendimento chinês, distúrbios emocionais ou psíquicos são demonstrações de distúrbios do
espírito (shen) do indivíduo, sendo que, em chinês, a palavra shen tanto significa espírito
quanto rim, e que o coração (xin) é o lugar de moradia do espírito (shen).
Nesse sentido, é possível fazer a leitura metafórica de que o espírito não consegue encontrar
condições adequadas para habitar a sua morada, por isso fica conturbado, e essa perturbação
se manifesta por sintomas como, por exemplo, aqueles típicos da ansiedade descritos pela
Psicologia e pela medicina ocidentais. A desarmonia é observada por meio de entrevistas e de
técnicas próprias da acupuntura, como a palpação do pulso e o exame da língua. Após a
delimitação do diagnóstico, o tratamento visa a restabelecer o equilíbrio do espírito, tendo
como base os protocolos de tratamento indicados por Auteroche (1992), Chonghuo (1993) e
Ross (2003).
Por essa razão, a base do tratamento é harmonizar o coração e fortalecer o pulmão e o baço,
para melhorar a absorção de qi (energia) e a circulação do qi (energia) e do xue (sangue) para
assim fortalecer o rim e restabelecer o equilíbrio entre este e o coração. É importante destacar
que o tratamento realizado por meio da acupuntura não proporciona curas milagrosas ou o fim
total das patologias dos pacientes, como destacam Campiglia (2004), Ross (2003) e Vectore
(2005).
Campiglia (2004) e Vectore (2005) afirmam que o tratamento pela acupuntura ocorre de
modo processual, sendo que o restabelecimento da saúde se dá de modo gradual e está
diretamente relacionado a condições externas (ambientais, climáticas, sociais e históricas) e
internas (alimentação, estados emocionais, espiritualidade), com as quais o sujeito se
relaciona.
13
Nesse sentido, a partir da visão de Maciocia (2007), o conceito de YIN-YANG é
provavelmente o mais importante e distintivo da teoria da medicina chinesa. É possível dizer
que toda fisiologia, patologia e o tratamento da medicina chinesa podem, às vezes, ser
reduzido ao yin-yang. Tal conceito é muito simples ainda que profundo. Aparentemente,
pode-se entendê-lo sob o nível racional e achar novas expressões dele na prática clínica e na
vida cotidiana.
Maciocia (2007), diz que junto com a teoria de yin-yang, a teoria dos Cinco Elementos
constitui a base da teoria da medicina chinesa. O termo “cinco elementos” tem sido utilizado
pela maioria dos profissionais que praticam a medicina chinesa há muito tempo.
As principais funções do Coração são governar o sangue, os vasos sanguíneos e abrigar a
mente (shen). Um Coração saudável é essencial para o suprimento adequado de sangue para
todos os tecidos os tecidos do organismo. Quando sua função é prejudicada, (por exemplo, o
sangue do coração deficiente), a circulação do sangue torna-se escassa e as mãos podem ficar
frias. A relação entre o Coração e o sangue é importante sob outro aspecto, uma vez que
determina a força da constituição de um individuo. De acordo com a medicina chinesa, a
atividade mental e a consciência “residem” no coração. Isso significa que o estado do coração
(e do sangue), afetará as atividades mentais, incluindo o estado emocional. Em particular,
cinco funções são afetadas pelo estado de coração. Se o coração estiver forte e o sangue for
abundante, haverá uma atividade mental normal, uma vida emocional equilibrada, uma
consciência clara, boa memoria, pensamento aguçado, e bom sono. Se o coração estiver fraco
e o sangue deficiente, podem ocorrer problemas mental-emocionais (tais como depressão),
memoria pobre, pensamento obscuro, insônia ou sonolência e, em casos extremos
inconsciência.
Maciocia (2007), destaca que o fígado tem muitas funções importantes dentre as quais estão:
armazenar sangue, assegurar o movimento homogêneo do QI ao longo do corpo e abriga a
alma etéria. O sangue do fígado é muito importante para nutrir os tendões, permitindo, desse
modo, o exercício físico, e para armazenar sangue para o útero, assegurando assim uma
menstruação regular.
O fluxo homogêneo do QI do fígado é essencial a todos os processos fisiológicos em cada
órgão e em cada parte do corpo. Em âmbito psíquico, a alma Etéria (hun) executa um papel
muito importante em nossa vida mental e espiritual ao promover a mente (shen) com
inspiração, criatividade, sonhos de vida e um sentido de direção na vida. Em particular o
sangue do fígado, também é responsável por nossa capacidade por recuperar a energia e
contribuir para a resistência do corpo aos fatores patogênicos exteriores. A função do fígado
de assegurar o fluxo homogêneo do QI apresenta uma influencia profunda sobre o estado
emocional. Ainda em âmbito físico, o fluxo homogêneo do QI do fígado auxilia as atividades
fisiológicas de todos os órgãos; em um âmbito mental-emocional, esse fluxo uniforme do QI,
assegura uma vida emocional equilibrada. Essa é principalmente uma função da Alma Etéria,
já que o fluxo homogêneo do QI do fígado em um âmbito físico reflete o “vai-e-vem
homogêneo da Alma Etéria em um âmbito psíquico”.
Se o QI do fígado flui homogeneamente, o QI flui normalmente e vida emocional será feliz.
Se tal função estiver prejudicada, a circulação do QI será obstruída, o QI se tornará reprimido,
provocando frustração emocional, depressão ou fúria reprimida, acompanhada de sistemas
físicos como; distensão no hipocôndrio ou no abdome, sensação de opressão no tórax e
sensação de “caroço” na garganta. Nas mulheres, isso pode originar tensão pré-menstrual,
incluindo depressão, irritabilidade e distensão nas mamas. Isso é uma relação reciproca:
função retida no fígado causará tensão emocional e frustração, e uma vida emocional tensa,
caracterizada pela frustração ou pela raiva reprimida, prejudicará a função do fígado e causará
uma dificuldade para o fluxo homogêneo do QI. A raiva é a emoção que está estreitamente
relacionada ao fígado. A raiva deveria ser entendida em um sentido amplo, no qual deveriam
14
ser incluídas a frustração, o ressentimento, a raiva reprimida e a fúria. A raiva causa
estagnação do QI do fígado, em especial quando reprimida; a raiva que é desabafada,
frequentemente causa subida do yang do fígado ou do fogo do fígado.
Na doença, o aumento do movimento do QI do fígado pose-se descontrolar, resultando na
separação do yin e do yang, e no aumento excessivo do yang ou do fogo do fígado. Isso causa
irritabilidade, explosões de raiva, rubor facial, tontura, tinido e cefaleia. Maciocia (2007), O
pulmão governa o QI e a respiração e, em particular, está encarregado da inalação do ar. Por
essa razão, e também por sua influencia sobre a pele, é o órgão intermediário entre o
organismo e o meio ambiente. Controla os vasos sanguíneos, onde o QI do pulmão auxilia o
coração no controle da circulação sanguínea. Tem um papel vital no movimento dos fluidos
corpóreos. Relacionada ao pulmão, a alma corpórea também está vinculada à respiração.
Assim como na medicina ocidental, o oxigênio entra no sangue por meio da respiração, na
medicina chinesa, a respiração é uma manifestação da Alma Corpórea, que afeta todas as
funções fisiológicas. No sentido emocional, a Alma Corpórea é afetada de maneira direta
pelas emoções de tristeza ou lamento, as quais obstruem seus movimentos. Uma vez que a
Alma Corpórea reside no pulmão, tais emoções tem um efeito poderoso e direto sobre a
respiração, que pode ser sentido como a pulsação da alma corpórea. A tristeza e o lamento
afetam a almacorpórea, dissolvem o QI do pulmão e suspendem nossa respiração. A
respiração curta e superficial de uma pessoa que está triste e deprimida é um exemplo disso.
De modo similar, a respiração rápida e superficial que ocorre apenas na parte superior do
tórax, quase no pescoço, é uma expressão da contrição da alma corpórea e do QI do pulmão.
Por essa razão, o tratamento do pulmão é de maneira geral, muito importante nas alterações
emocionais derivadas de depressão, tristeza, lamento ansiedade ou luto. Aflição magoa e
tristeza afeta o pulmão de maneira direta. A aflição tende a “atar” o QI, a mágoa e a tristeza
tendem a esvaziar o QI. A ação de “atar” provocada pelas aflições no QI pode ser visto na
tensão do ombro e do tórax, apresentadas por pessoas que estão sujeitas à aflição, também
pode atingir os seios nas mulheres e em grande parte das vezes pode ser a raiz da formação de
nódulos nas mamas.
Maciocia (2007), revela que a principal função do baço consiste em auxiliar a digestão do
estomago por meio do transporte e da transformação das essências dos alimentos, absorvendo
a nutrição destes e separando as partes utilizáveis das inutilizáveis. O baço é o órgão central
na produção do QI: a partir dos alimentos e líquidos ingeridos, ele extrai o QI do alimento
(GU QI), que é a base para a formação do QI e do sangue. O QI dos alimentos, produzidos
pelo baço, combina-se com o ar no pulmão para formar o QI da reunião, que é por si só a base
para a formação do QI verdadeiro (zhen QI).
Maciocia (2007), destaca que o rim é frequentemente referido como “raiz da vida” ou raiz do
QI pré-celestial. Isso ocorre porque ele armazena Essência que, em sua forma pré-celestial, é
derivado dos pais estabelecido na concepção; tal Essencia determina nossa constituição
básica, dessa maneira, a descrição do rim como “raiz da vida”. O rim governa o nascimento,
crescimento, a reprodução e o desenvolvimento. Também produz a medula, abastece o
cérebro, controlo os ossos, abriga a força de vontade (ZHI) e controla a porta devida (fogo
ministro).
Diz-se na medicina chinesa que o rim é a “residência” da força de vontade (ZHI). Isso
significa que o rim determina nossa força de vontade. Se o rim estiver forte, a força de
vontade também estará à mente enfocará seu objetivo e o perseguirá como proposito. Ao
contrário, a força de vontade será afetada e a mente será facilmente desencorajada alcançar
seu proposito. A falta de força de vontade e motivação são, com frequência, aspectos,
importantes da depressão mental.
Para Maciocia (2007), o pericárdio é um órgão que não é tão claramente definido como os
outros órgãos YIN. O pericárdio (xin Bao Lou) é uma membrana que envolve o coração;
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funciona como uma cobertura externa do coração, protegendo contra os ataques dos fatores
patogênicos externos. Como o coração, o pericárdio abriga a mente e por esse motivo
influencia profundamente o nosso mental-emocional. Por exemplo: uma deficiência de sangue
afetará o pericárdio tanto quanto o coração, fazendo a pessoa ficar deprimida e levemente
ansiosa. O calor no sangue agitará o pericárdio e fará a pessoa ficar agitada e inquieta. O
flêuma obstruindo o pericárdio também obstruirá a mente causando confusão mental. A
função do pericárdio no plano mental-emocional é provavelmente o equivalente psíquico da
função do pericárdio no tórax mencionada anteriormente como referencia ao movimento do
QI, e do sangue do coração e do pulmão: exatamente como ele faz em um nível físico, em um
nível mental-emocional o pericárdio é responsável pelo “movimento” em direção aos outros,
isto é, nos relacionamentos. Dado que o pericárdio está relacionado ao fígado dentro dos
canais de YIN terminal, esse “movimento” está relacionado ao movimento da Alma Etérea do
ego em direção aos outros nas relações sociais e nas interações familiares. Ross (2003),
transmite que os fatores que originam as doenças podem ser constituição, fatores Patogênicos
externos ou fatores climáticos, fatores patogênicos internos ou fatores emocionais ou fatores
que não são nem internos, os chamados fatores do estilo de vida. Aqui, contudo, a origem das
doenças é discutida em um contexto filosófico mais amplo, fundamentado no conceito do self
superior.
Segundo Auteroche (1992), os sete sentimentos (QI QING), ou cinco elementos (wuzhi),
alegria, raiva, preocupação, pensamento, tristeza, medo, pavor representam as modificações
do espirito em reação à percepção de mensagens emocionais transmitidas pelo ambiente.
Fazem parte da esfera de atividades normal da mente e não são em si próprios agentes
patogênicos. Mas em seguida a estresses mentais, brutais, extremos, violentos prolongadas ou
iterativas, pode provocar uma desordem funcional no QI ou no sangue dos Zang Fu e serem a
origem do aparecimento de uma doença.
Um excesso de emoção fere o órgão ao qual corresponde “o excesso de raiva” prejudica o
fígado, o excesso de alegria prejudica o Coração, o excesso de pensamento prejudica o Baço,
o excesso de Medo prejudica o Rim. Roca (1999), diz que todas as doenças são causadas pelo
mal funcionamento do QI. A raiva faz o QI subir; a alegria faz o QI fluir e se dispersar
livremente; o desgosto faz o QI diminuir; o medo faz o QI descer; o calafrio faz o QI se
contrair; o calor faz o QI escapar; ficar alarmando faz o QI se espalhar e ficar caótico; excesso
de exercícios esgota o QI; e um excesso de pensamentos e obsessões faz o QI estagnar.
Para Roca (1999), as pessoas e a natureza são inseparáveis. As influências atmosféricas na
natureza formam a base das doenças nas pessoas. No caso dessas influencias ficarem caóticas,
o equilíbrio do corpo será perturbado, resultando em doença.
5. Considerações Finais
O medo é um sentimento universal: todos sentem, e diversos estudos demonstram ser uma
emoção primária (inata) do ser humano necessária para proteção e perpetuação da espécie.
Está incrustada em nosso DNA e faz parte da nossa existência. Sua abrangência vai desde a
decisão de lutar ou fugir até o acúmulo traiçoeiro que deságua no estresse e na ansiedade,
levando ao esgotamento físico e mental. Basta um estímulo que desperte medo, para que em
frações de segundos seu corpo seja munido de adrenalina e esteja preparado para uma rápida
reação física. O acúmulo desses sentimentos angustiantes provocam a ansiedade.
Nos dias atuais a acupuntura tem se destacado na sociedade como uma técnica bastante eficaz
nos casos de ansiedade, ela não é uma técnica que propicia curas milagrosas de nenhum tipo
de patologia que se pretende tratar, em vez disso, é possível tratar inúmeras doenças e aliviar
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muitas dores e deve ser enfatizado que também é um tratamento preventivo, ou seja, a
acupuntura pode ser aplicado em um indivíduo sadio, para estimular seu sistema imunológico,
suas energias, permitindo assim prolongar seus períodos de bem-estar e de saúde. O
restabelecimento da saúde é sempre realizado por um processo contínuo e gradual. Deve-se
ter em mente que todos os profissionais da saúde são importantes, no entanto as origens
das doenças estão contidas em inúmeras variáveis. Cada área do conhecimento tem sua
missão específica, os pacientes porém preferem um tratamento menos invasivo e doloroso
possível. A medicina ocidental tradicional presta inestimáveis serviços à humanidade. A
acupuntura também já provou e comprovou seu valor, sendo este reconhecido pela OMS.
Portanto, tanto a MTC, de modo geral, e a acupuntura em particular, quanto a medicina
Ocidental, devem trabalhar em conjunto para que os pacientes tenham o tratamento mais
apropriado e menos invasivo possível.
6. Referências
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