Bosque ribeirinho A água e as plantas fonte de vida Eufórbia Foto: Jorge Gomes Foto: Eugénio Silva Amieiro FLORA SILVESTRE Tal como nós, as plantas dependem da água. Mas esta não pode pôr-se em bicos de pés porque também depende, e muito, das plantas. A vida na Terra desdobra-se numa sucessão de interdependências. Tudo está ligado. Se o ser humano cultiva a pretensão de estar acima desta equação básica da sobrevivência degrada a sustentabilidade da sua própria espécie. As plantas absorvem o precioso líquido, mas criam solo. Absorvem a água da chuva, do orvalho ou da neve e vão-na soltando ao longo do tempo, fazendo com que os extremos do clima oscilem menos entre a seca e a inundação. Como esponjas vivas, as plantas e a terra que criam e protegem são a base dos ecossistemas, cooperando com outros seres — pequenos ou grandes — que devolvem ao solo os nutrientes dele extraídos pela flora. Após os incêndios, as plantas fazem-se cinza levada pelo vento e pela chuva. Quanto mais inclinadas as vertentes, mais terra desaparece. Fica a rocha à vista, o primeiro passo para a desertificação. O que demorou séculos a formar-se depressa se perde, caindo nos rios, saturandoos de nutrientes, sufocando a vida aquática. Quando beber um copo de água, pense no bosque que a ajudou a purificar e que a armazenou para a ir soltando ao longo do ano através de ribeiras e rios... Foto: Henrique N. Alves Foto: Henrique N. Alves O amieiro é a árvore por excelência do bosque ripícola ou ribeirinho. Capaz de atingir uma dúzia de metros de altura, deita raízes pela terra e contribui para fixar as margens dos rios. De folha caduca, no Inverno denuncia os ninhos da época passada. Na Primavera apressa-se a lançar rebentos e copa frondosa. A sua sombra defende a água do rio da evaporação, reduz-lhe a temperatura e faz com que mais oxigénio se armazene no precioso líquido. Outras árvores típicas deste bosque são os salgueiros. De crescimento rápido, florescem no fim do Inverno e logo se vestem de folhas verdes. Enquanto várias aves, como os chapins-carvoeiros e as toutinegras-de-barrete, se deliciam com o seu pólen e insectos, o ser humano usa estas espécies há milénios, retirando delas a matériaprima para obras de cestaria e para farmácia (ácido salicílico). Sob a copa das árvores, o canabraz ergue-se à altura de um homem para dar uma grande flor de umbela branca, entre arbustos como o sanguinho-de-água, os sabugueiros cujas bagas pretas atraem melros e tordos, as eufórbias, as aquilégias, as urtigas... Jacinto-de-água Erva-da-fortuna Amial no rio Febros, dentro do Parque Biológico de Gaia Ficha técnica Produção: Parque Biológico de Gaia Impressão: Orgal Fevereiro de 2009 PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA 4430-757 AVINTES PORTUGAL www.parquebiologico.pt Foto: João Luís Teixeira Uma das grandes ameaças à diversidade biológica surge através da introdução de espécies exóticas em ecossistemas nativos. Nalgumas zonas húmidas do país o jacinto-de-água (Eichornia crassipes), planta ornamental oriunda da Amazónia e do Pantanal, cobre grande parte da superfície de rios de caudal lento e de lagos. Sem predadores, lança trevas sob a vida aquática, criando “desertos” na água. Nos terraços fluviais de diversos rios e ribeiras do Norte, a erva-da-fortuna (Tradescantia fluminensis) cresce até meio metro de altura e espalha-se como um tapete que reduz de forma alarmante a variedade de espécies autóctones, ligadas ao ciclo dos insectos e outros artrópodes. Também é difícil de erradicar. Por outras palavras, afinal não trouxe fortuna, trouxe azar. Há mais exemplos de plantas exóticas infestantes, e há um decreto-lei (n.º 565/99 de 21 de Dezembro) que regula a introdução de espécies não nativas em Portugal. Foto: João Luís Teixeira Espécies exóticas Saramago