FREQUÊNCIA DE TRAÇOS HUMANOS HEREDITÁRIOS EM UMA AMOSTRA DA POPULAÇÃO DE CRUZ ALTA/RS LEAL, Paola Ariane Pereira1; DIAS, Helena Matielo¹; RIBAS JÚNIOR, Vanderlei Silva¹; LÍRIO, Jordana Pereira¹; ENCARNAÇÃO, Bruna Sutel da1; LORETTO, Elgion2; BAIOTTO, Cléia Rosani3 Palavras-Chave: Identificação. População. Fenótipo. Características. Introdução O termo caráter é utilizado em Genética com um sentido muito amplo, já que designa qualquer característica, normal ou patológica, passível de ser notada durante qualquer fase do desenvolvimento de um indivíduo, isto é, desde a sua formação até a sua morte (BEIGUELMAN, 1994). Por outro lado, em determinados casos, dá-se o nome de caráter a características tais como estatura, cor da pele, pressão arterial ou mesmo para definir uma variedade desta característica como estatura alta, pele branca e pressão arterial baixa, revelando uma grande plasticidade quanto ao significado e emprego do termo. A indicação de uma característica ou o conjunto de características de um indivíduo é representada pelo fenótipo e assim, nos permite reconhecer os fenótipos pressão alta, pressão baixa e pressão normal. O fenótipo constitui a expressão dos genes e pode ter influencia ou não do ambiente. Esta influencia, quando existente pode contribuir de forma mais intensa ou menos intensa na constituição do fenótipo. Modos de herança ou padrões de herança representam as formas (regras) que explicam os padrões comuns que as características herdadas seguem quando são passadas através das famílias. O modo pelo qual estas regras afetam os padrões de herança depende de a característica ser transmitida por um autossomo ou cromossomo sexual (autossômicos ou sexuais), a forma de controle e expressão deste gene (dominante ou recessivo), do número de genes envolvidos na expressão deste caráter (multifatorial ou não) e na possibilidade desta característica sofrer ou não influência do ambiente (NUSBAUM et al., 2002; LEWIS, 2004). 1 Acadêmicos (as) do Curso de Biomedicina – CCS/UNICRUZ – [email protected] Professor Colaborador - UFSM 3 Professora Centro de Ciências da Saúde – UNICRUZ - [email protected] 2 Estudos que envolvem a compreensão do padrão de transmissão de características humanas utilizam a análise da expressão deste caráter em indivíduos da população e/ou análise de genealogias (estudos familiares) ou ainda estudo em gêmeos (NUSBAUM et al., 2002). Pouquíssimos estudos foram realizados no Brasil, entre eles Freire-Maia (1961) identificou fatores genéticos associados ao modo de cruzar as mãos com diferenças de gênero. Este padrão de herança relacionado ao modo de cruzar as mãos foi identificado também como um traço hereditário em um estudo em 423 indivíduos de populações africanas demostrando que a sobreposição do polegar direito ao cruzar as mãos é mais frequente, mas sem diferença significativa entre os sexos (ODOKUMA et al., 2011). O modo de cruzar as mãos, a capacidade de enrolar a língua, a forma do polegar, a implantação dos cabelos na cabeça e o lóbulo da orelha são exemplos utilizados pelos professores no ensino de genética e citados nos livros didáticos como traços hereditários com padrão de herança autossômica dominante. A falta de evidências e algumas inconsistências encontradas nos livros de genética determinou a necessidade de avaliar algumas características humanas herdadas na população. Metodologia A proposta metodológica da pesquisa consistiu em selecionar algumas das principais características utilizadas como exemplos de padrões de herança nos livros didáticos e avaliar o modo de expressão destas em escolares da região. A amostra populacional consistiu de escolares matriculados na rede pública de ensino presentes na escola no dia da avaliação e que consentiram em participar da pesquisa. Um contato prévio e a autorização da 9ª Coordenadoria de Ensino permitiu o cadastro do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Quatro escolas foram convidadas a participar da pesquisa. Acadêmicos voluntários do Curso de Biomedicina estabeleceram contato com as escolas e foram responsáveis pela coleta de dados. O instrumento para a coleta de dados consistiu em um questionário com questões fechado, não identificado, que avaliou os seguintes traços hereditários: forma de cruzar os dedos da mão, forma de cruzar os braços, forma do dedo polegar (dedo do caroneiro), lóbulo da orelha, capacidade de enrolar a língua, a forma de implantação dos cabelos na cabeça, sexo e o fato de ser canhoto ou destro. Em razão da dificuldade de avaliar a forma do dedo polegar, foi realizado um registro fotográfico do mesmo. Os dados coletados foram registrados no programa SPSS e avaliados quanto à frequência geral, frequência de gênero e demais variações nos padrões de herança. Resultados e Discussões Das quatro escolas da rede pública do município que participaram da atividade proposta obteve um total de 872 estudantes que consentiram em participar da pesquisa, distribuídos da segunda série do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio (maior concentração de alunos ficou da 5ª a 8ª série) (52% do Gabriel Miranda e o restante pertencente às demais escolas). Da população total avaliada, 52,2% pertencem ao sexo feminino e 47,8% ao sexo masculino. Com relação à lateralidade, quando questionados precisaram relatar em qual dos lados apresentavam mais habilidade, identificando-se que 85,3% dos indivíduos se consideram destros enquanto que 12,7 se consideram canhotos. Um pequeno percentual (1,7%) se descreveu como ambidestro ou não conseguiu identificar esta questão. Isso aconteceu mais em alunos da segunda série com idade em torno de 7 (sete) anos, quando se tem dificuldade ainda de se identificar questões de lateralidade. Na avaliação da característica cruzar as mãos, colocando o dedo direito sobre os demais, foi constatada em 46,4% dos estudantes avaliados, enquanto posicionar o dedo esquerdo na face superior ao cruzar as mãos, foi constatado em 52,4%. Apenas 1% relatou ter dificuldade de identificar este caráter. Da mesma forma, as diferenças não foram significativas no caráter cruzar os braços. Cerca de 49,1% colocam o braço direito na face superior ao cruzar e 50,1% colocam o braço esquerdo. 0,8% afirmou não ter preferencia ao cruzar os braços. A forma do polegar foi apontada por 59,7% como reta e por 40,3% como curva. Esse caráter foi difícil de ser avaliado em razão das diferenças de ângulos no dedo (menos ou mais curvado). Um registro fotográfico vai permitir a posteriori uma avaliação criteriosa. Para o lóbulo da orelha, 49,7 % apresentam o lóbulo preso e 49,9% possuem o lóbulo solto. Apenas um indivíduo de toda a amostra descreveu ter uma orelha de cada tipo. A implantação dos cabelos na cabeça foi descrita por 62,9% como em linha reta e 37,1% em bico, denominada bico de viúva. Questionados sobre a capacidade de enrolar a língua, 81,8% descreveram serem capazes e 18,9% que não são capazes. Fig 1.2 e 3 Frequências quanto a lateralidade, sobreposição do dedo ao cruzar as mãos e posição ao dobrar os braços. A identificação correta dos padrões de herança trabalhados é extremamente importante no ensino de genética e na produção de materiais didáticos coerentes e atualizados. Estas informações podem contribuir na redução do tempo entre a produção do conhecimento e a atualização nos materiais didáticos, descrito por Loreto e Sepel (2003), como um dos grandes problemas no ensino de Biologia. Cabe ressaltar que a proposição deste projeto para as escolas se deve ao fato de permitir socializar melhor os resultados obtidos, visto que estas características independem da idade. Considerações Finais A identificação de frequência das características nesta amostra da população permite inferir que implantação dos cabelos na cabeça em linha reta, capacidade de enrolar a língua e ser destro provavelmente sejam decorrentes da ação de um par de genes com efeito dominante, mas com algum efeito ambiental. Nas demais características avaliadas, os resultados sugerem a ação de mais genes e um maior efeito ambiental. Essas questões poder ser mais bem esclarecidas com uma ampliação da amostra e pelo estudo de genealogias. Referências BEIGUELMAN, Bernardo. GENÉTICA DE POPULAÇÕES HUMANAS. Ribeirão Preto: SBG, 2008. FREIRE-MAIA, A. Twin data on hand clasping: a reanalysis. Acta Genet. Statist. Med. 10: 207211, 1961. LEWIS, Ricki. Genética Humana: conceitos e aplicações. Trad. Paulo Armando Motta. 5.ed. Rio de Janeiro, Guanabara/Koogan, 2004. LORETO, Élgion L.S.; SEPEL, Lenira M.N. A escola na era do DNA e da Genética. Ciência e Ambiente 26, Janeiro/Junho, 2003. NUSBAUM ,Robert L. et al. THOMPSON & THOMPSON: Genética Médica. Trad. Paulo Armando Motta. Rio de Janeiro: Guanabara/Koogan, 6 ed. 2002. ODOKUMA, E.I.; OTUAGA, P.O.; OBASEKI, D.E.; EJEBE, D. A study on hand clasping traits in an African population. Scientific Research and Essays. Vol. 6 (7), pp. 1692-1693, 4 April, 2011.