Origem da Filosofia Denilson Aparecido Rossi O presente texto tem

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Origem da Filosofia
Denilson Aparecido Rossi1
O presente texto tem por objetivo central compreender o processo que deu
origem à Filosofia e suas principais características. Para que esta meta seja
atingida, pretende-se partir do delineamento de algumas questões tidas como
norteadoras, conforme segue:

Qual é a origem da filosofia?

Por quê, se diz que a filosofia é de origem grega?

O que, de fato, constitui-se no objeto/conteúdo da filosofia?

Qual é o método da filosofia?

Qual é a finalidade/objetivo da filosofia?

Quais são os principais problemas da filosofia?
Todavia, ressalta-se que, por orientação pedagógica, na primeira parte serão
trabalhadas apenas as duas primeiras questões e a demais na segunda parte.
Do Mito à Filosofia
A respeito da origem da filosofia, deve-se considerar o processo de busca da
verdade e do conhecimento das coisas que, por sua vez, começa com a cultura
mítica, e avança, até atingir o que se compreende por cultura filosófica propriamente
dita.
Para Celito Meier (2010), diante do mistério (fenômenos naturais) e marcada
por profunda insegurança pessoal (doença, morte), a narrativa mítica surge como
primeira forma humana de conhecimento. Disto, depreende-se que, os mitos são
maneiras que o homem primitivo utilizava para compreender a realidade que o
cercava. Pois, entender os acontecimentos da vida e os fatos expressos pela
natureza era uma necessidade de apaziguar o seu universo interior.
1
Bacharel em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, licenciado em Filosofia e
especialista em Docência no Ensino Superior pela Faculdade Bagozzi. Especialista em Formação
Humana – Counseling (IATES). Mestrando em Teologia e Sociedade (PUC-PR). Professor na
graduação e pós-graduação Bagozzi, no Grupo Educacional ITECNE e na PUC-PR.
Nesta perspectiva, o autor acima citado, ensina que: “[...] o mito é uma
intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de situar-nos no mundo,
expressando a capacidade inicial de compreendê-lo” (MEIER, 2010, p. 24).
Segundo Meier (2010), o mito é uma narrativa pronunciada e ouvida como
verdadeira, devido à confiança naquele que narra. O mito, vinculado ao
sobrenatural, traz a marca da fé e da confiança. Pode-se dizer também que o mito
se apresenta como incontestável e inquestionável. Os mitos se apresentam como
verdadeiras formas de cosmogonias e teogonias.
Outro elemento fundamental pertinente à cultura mítica e à finalidade dos
mitos, propriamente ditos, refere-se ao campo da moralidade e, consequentemente,
da educação.
Sobre este elemento veja-se o que diz Meier (2010, p. 26): “[...] os mitos
antigos ou primordiais exerciam uma função não só de explicar o mundo e as
relações humanas, mas de transmitir um ideal de educação, essencial para a
formação dos jovens”.
Continua o mesmo autor, “através das narrativas míticas, as gerações mais
velhas ensinavam às gerações mais novas como eles deveriam ser para se
tornarem ‘excelentes’” (MEIER, 2010, p. 26).
É justamente dentro deste contexto que surge a filosofia no mundo grego.
Naturalmente, em outros povos também se encontram expressões filosóficas. Mas,
como indica a professora Marilena Chauí (2000), o jeito de pensar, raciocinar e
questionar, próprio dos filósofos gregos, é único e diferente de qualquer outra parte
do planeta.
A esse respeito, veja-se o que afirma a referida autora:
Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é
que ela possui certas características, apresenta certas formas de
pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece certas concepções
sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas,
que são completamente diferentes das características desenvolvidas
por outros povos e outras culturas (CHAUÍ, 2000).
Seguramente, diz-se que a filosofia nasce de dentro do mito, à medida que,
com a imaginação, a abstração e a inferência despertadas, a pessoa passa a
perceber contradições no interior do mito, o que antes não acontecia. Tal percepção
leva o homem grego a pensar diferente, a questionar as contradições nas narrativas
míticas e a buscar fundamentos racionais para todas as questões cosmológicas e
humanas. A esse modo diferente de posicionar-se diante da vida e do mundo, dá-se
o nome de filosofia nascente.
Segundo Celito Meier (2010) a filosofia, além de surgir como busca pelos
fundamentos racionais, quer saber o porquê de as coisas serem como são na
totalidade no tempo. Deste modo, nota-se que a filosofia desloca o eixo da
autoridade pessoal para a razão e busca uma explicação coerente, fundamentada
na argumentação para evitar as contradições.
Portanto, se o mito buscava a verdade e conhecimento mediante narrativas
sobrenaturais, a filosofia, por sua vez, passa a usar a razão como principal
instrumento que dá acesso ao saber.
Neste segundo momento, pretende-se analisar as seguintes questões:

Qual o significado etimológico de filosofia?

Em que contexto social, econômico e político, surge a filosofia?

O que, de fato, constitui-se no objeto/conteúdo da filosofia?

Qual é o método da filosofia?

Qual é a finalidade/objetivo da filosofia?

Quais são os principais problemas da filosofia?
Primeiramente, destaca-se a compreensão do termo filosofia como sendo de
origem grega: philo e sophia. Segundo Marilena Chaui (2000), os termos gregos:
“Philo/philia” corresponde à ideia de amizade, amor fraterno, respeito...; “Sophia”
significa sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.
Neste sentido, pode-se dizer que:

Filosofia: amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.

Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja o saber,
o conhecimento (CHAUI, 2000).
É importante lembrar também que o contexto social, político e econômico da
Grécia dos séculos VII e VI a.C. foi muito favorável ao surgimento da filosofia. Pois,
neste período houve uma explícita passagem da agricultura para a indústria e desta
para o comércio. Mais o aparecimento da moeda, da escrita e a contínua formação
da Pólis fizeram com que o uso da razão tornasse-se uma constante na vida de
alguns gregos (REALE, 2011).
Segundo Giovanni Reale e Dario Antiseri (2011, p. 11) “Desde seu
nascimento, a filosofia apresentou de modo bem claro três conotações, referentes:
- ao seu conteúdo;
- ao seu método;
- ao seu objetivo.”
Para os autores citados acima, o que, de fato, constitui-se no objeto/conteúdo
da filosofia são:
- a totalidade das coisas;
- toda a realidade;
- a totalidade da realidade e do ser;
- o princípio = “arché”;
- problema (REALE, 2011).
Reale (2011) indica que a filosofia possui um método que lhe é próprio, isto é,
diferente das outras ciências; ela trabalha com uma explicação puramente racional
da totalidade das coisas, buscando sempre o argumento da razão, a motivação
lógica, o logos.
Nesta perspectiva, afirma Battista Mondin (2011, p. 8)
o método não é o da simples verificação, nem o da descrição mais
ou menos fantasiosa, nem o da experimentação. O primeiro é próprio
do conhecimento comum; o segundo, da poesia e da mitologia; o
terceiro, da ciência. A filosofia tem método diferente, o da justificação
lógica, racional. Das coisas que estuda, a filosofia deseja oferecer
explicação conclusiva e, para consegui-la, se serve somente da
razão, isto é, daquilo que os gregos chamaram de logos.
A essa altura, pode-se perguntar pelo objetivo, ou seja, sobre a finalidade da
filosofia. Segundo Reale (2011) o objetivo ou a finalidade da filosofia é o puro desejo
de conhecer e contemplar a verdade; trata-se do amor desinteressado pela verdade.
No dizer de Mondin (2011, p. 8)
a filosofia não busca fins práticos e não tem interesses externos
como a ciência, a arte, a religião e a técnica, as quais, de um modo
ou de outro, sempre têm em vista alguma satisfação ou alguma
vantagem. A filosofia tem como único objetivo o conhecimento; ela
procura a verdade pela verdade, [...].
Enquanto busca pela verdade e explicação puramente racional da totalidade
das coisas, constata-se que a filosofia, ao longo da história, se debruçou sobre os
mais variados problemas a saber:
- a questão cosmológica (os primeiros filósofos);
- a questão moral e do homem (os sofistas e Sócrates);
- a metafísica, a ética, a natureza do conhecimento, lógica, a arte... (Platão
e Aristóteles);
- a questão da linguagem;
- a questão da cultura;
- o trabalho;
- a ideologia;
- a vida política...
Neste sentido, atesta Saviani (2009, p. 20-21) que a filosofia é uma reflexão
sobre os problemas que a realidade apresenta. Uma reflexão radical, rigorosa e de
conjunto.
REFERÊNCIAS
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. Belo Horizonte:
PAX Editora, 2010.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Vol. 1. 16 ed. São Paulo: Paulus, 2011.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. Vol.
1. 5 ed. São Paulo: Paulus, 2011.
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 18 ed.
Campinas – SP: Autores Associados, 2009.
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