A evolução da cirurgia oncológica ao longo dos anos | VEJA.com

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18/01/2017
A evolução da cirurgia oncológica ao longo dos anos | VEJA.com
A evolução da cirurgia oncológica ao longo dos anos |
VEJA.com
Hoje, procedimento é fundamental na oncologia: ele faz parte
do tratamento inicial de cerca de 75% dos pacientes com
câncer
Por Luiz Paulo Kowalski
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A cirurgia é o mais antigo tratamento de pacientes com câncer. Diversos procedimentos cirúrgicos
foram realizados esporadicamente desde a Antiguidade, mas somente a partir da segunda metade
do século XIX, com os adventos da anestesia e da assepsia, passaram a ter destaque. Naquela
época, a cirurgia era a única possibilidade de tratamento para a maior parte dos pacientes.
Grandes cirurgiões como Billroth e Kocher-Langenbeck criaram as primeiras técnicas para
tratamento de tumores, que foram utilizadas e aprimoradas por mais de 100 anos. A cirurgia
oncológica, como conhecemos hoje, teve início com Halsted, ao descrever a mastectomia radical no
fim do século XIX.
Nesse procedimento, Halsted estabeleceu o que, por décadas, foi o chamado padrão ouro em
cirurgia de câncer de mama. A operação de William S. Halsted consistia em retirar toda a mama, os
músculos peitorais e os linfáticos da axila, o que trazia transtornos estéticos e funcionais significativos
para as pacientes. Um procedimento que, sob a ótica dos avanços das técnicas cirúrgicas atuais, é
algo impensável (por ser altamente mutilador), mas que, na época, foi uma revolução e salvou
milhares de vidas.
Os princípios halstedianos passaram a ser aplicados não somente em tratamento de tumores da
mama, mas também para os de colo uterino, cólon e reto, pâncreas, cabeça e pescoço, entre outros.
Pelo menos um terço dos casos de câncer passou a ser tratado com esses procedimentos, mas o
risco de mortalidade ainda era alto e as sequelas, muito significativas.
Ao longo do tempo, surgiram alternativas como a radioterapia, mas as escolas cirúrgicas e
radioterápicas competiam e nenhum progresso significativo foi registrado até os anos 60. Na década
de 70 passou-se a utilizar a cirurgia combinada com a radioterapia e dava-se início ao uso da
quimioterapia em alguns tumores com grande risco de disseminação para órgãos distantes (a
chamada metástase). A competição entre especialidades deu lugar à colaboração e, com ela, um
salto na sobrevida de pacientes com câncer. Naquele momento, a remissão completa do câncer já
era possível em cerca de 50% dos casos. No entanto, as sequelas do tratamento ainda eram
significativas.
http://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/a-evolucao-da-cirurgia-oncologica-ao-longo-dos-anos/
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No fim do século XX houve um notável avanço em todas as modalidades: novos equipamentos de
radioterapia reduziam as sequelas do tratamento combinado, novos esquemas de quimioterapia
ajudavam a aumentar a sobrevida. A cirurgia passou a ser moldada às necessidades dos pacientes.
Algumas cirurgias que, mesmo sendo ultrarradicais, proporcionavam baixas possibilidades de
controle sobre a doença, foram substituídas ou abandonadas. Com a associação de tratamentos
passou-se a preservar o órgão afetado e ao mesmo tempo registrou-se aumento nas taxas de
sobrevida. Nessa época, cerca de dois terços dos pacientes com câncer eram curados.
O que já se viu ao longo do século XXI foi a evolução da radioterapia (com técnicas que irradiam o
tumor e poupam algumas estruturas próximas) e quimioterapia (com drogas alvo específicas,
imunomodulação e terapia personalizada). Com a cirurgia oncológica não foi diferente. Mas o que
realmente fez mudar a cirurgia? Foi, sem dúvida, a mentalidade do cirurgião.
O cirurgião é sabedor hoje de que ele não está mais sozinho para decidir o tratamento de um
paciente. O processo de decisão sobre o tratamento é realizado em conjunto, por equipes
multidisciplinares. Compreendendo melhor a história natural de cada tipo de tumor, uma série de
cirurgias mais conservadoras se consolidou, entre elas a retirada parcial de tecido mamário
(quadrantectomias) seguidas de reconstrução da mama, assim como a limpeza cada vez mais
conservadora dos linfonodos na axila.
Neste novo cenário, o objetivo é obter o mesmo resultado de sobrevida, com muito menos sequelas e
melhora na qualidade de vida do paciente. Agora não mais nos preocupamos em tratar a doença
câncer, mas sim em tratar o paciente com câncer.
Nos últimos anos, o papel da cirurgia foi sendo ampliado ainda mais, passando até a contribuir para
a prevenção do câncer. Em pacientes com alterações genéticas específicas que o predispõem a um
risco aumentado para desenvolvimento de câncer, a cirurgia pode prevenir o desenvolvimento de
câncer de tireoide, mama e intestino.
Além disso, pacientes que, depois de tratados, recidivavam (a doença voltava), anteriormente eram
considerados fora de possibilidades de tratamento, mas hoje, em certas condições, eles podem ser
operados. Cirurgias paliativas com finalidade de controle de sintomas também contribuem
significativamente para melhorar as condições de sobrevida do paciente.
Nos últimos anos também houve um avanço extraordinário com a incorporação de novas tecnologias,
como a laparoscopia e a robótica. Elas permitem que alguns procedimentos cirúrgicos possam ser
realizados com incisões mínimas ou até mesmo sem incisões em locais visíveis, possibilitando menor
tempo de cirurgia e de internação, menos sequelas estéticas (em casos de tumores de cabeça e
pescoço, por exemplo), menos sangramento e mais rápido retorno do paciente à sua rotina.
A cirurgia faz parte do tratamento inicial de cerca de 75% dos pacientes com câncer.
Aproximadamente 90% deles, em algum momento, necessitam de alguma cirurgia com finalidade de
diagnóstico, tratamento ou suporte para outras terapias. No entanto, nem sempre a cirurgia é o
primeiro tratamento a ser feito.
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O que podemos dizer é que, quando é necessário operar, existe mais segurança hoje em dia. São
diversos sistemas de controle de qualidade, além da atuação de um grupo de médicos e de uma
equipe multidisciplinar que auxiliam o cirurgião oncologista a realizar de forma eficiente e segura o
seu papel no tratamento do câncer.
O cirurgião, atualmente, tem também o papel fundamental de esclarecer ao paciente o que se pode
esperar da cirurgia, quais são os riscos e potenciais benefícios, assim como as alternativas e
consequências de ser ou não submetido ao procedimento.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil – cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista
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