EPIDEMIOLOGIA Introdução: Epidemiologia é a ciência da saúde coletiva que estuda a relação de causa-efeito, ou causa-doença. Para este fim existem diversos tipos de estudos de uma população, cada estudo é indicado para um tipo de hipótese levantada pelo pesquisador. As hipóteses podem ser, entre outras, relação entre exposição ao fator de risco e a doença, ou doença sobre óbitos, ou também a eficácia de determinado medicamento para uma determinada doença. Estuda quantativamente a distribuição dos fenômenos de saúde/doença, e seus fatores condicionantes e determinantes, nas populações humanas. A epidemiologia permite ainda a avaliação da eficácia das intervenções realizadas no âmbito da saúde pública. A análise de determinação causal das doenças em uma coletividade humana, dividida em classes sociais e/ou grupos específicos de populações (ou a distribuição desigual das doenças nas sociedades) exige da epidemiologia uma interação transdisciplinar e estabelece sua dependência a outras ciências a exemplo das: Ciências Sociais (Antropologia, Sociologia, Etnologia); Ciência Política; Estatística; Economia; Demografia; Ecologia e História. Por outro lado sua origem, histórica e conceitual, na Clínica médica e dependência de ambas à Patologia (estudada inicialmente como série de casos) para identificação do objeto de análise, o processo saúde/doença, é responsável pela grande cisão da epidemiologia moderna em epidemiologia social e a epidemiologia clínica, sendo essa última, portanto a aplicação de métodos epidemiológicos à prática clínica e a primeira, a ciência que responde às demandas da medicina preventiva e promoção da saúde com a teoria da multicausalidade das doenças e as necessárias intervenções sócio-econômicas para redução da pobreza, melhoria das condições de vida e saneamento do meio - ambiente. No decurso dos últimos 60 anos, a definição de epidemiologia tem vindo a alargar-se desde a sua preocupação com as doenças infecto-contagiosas e outras doenças transmissíveis (o estudo das epidemias) até abarcar, presentemente, todos os fenômenos relacionados com a saúde das populações. Uma das classificações mais simples é feita em função dos objetivos do estudo, dividindo estes em Descritivos e Analíticos, contudo seus limites nem sempre são facilmente identificáveis. Os estudos descritivos geralmente se limitam ao registro da freqüência de eventos ou agravos patológicos observando sua variação no tempo e espaço. Enquanto que, os estudos analíticos têm como objetivo explicar as características dessa freqüência ou associações entre estas e outros fatores observados, a exemplo dos estudos que buscam estabelecer um nexo ou relação de causa efeito entre um determinado agente patogênico e um aspecto específico do meio ambiente, considerando-se a tríade de fatores que intervém e condicionam o aparecimento e desenvolvimento de uma doença (agente, hospedeiro, ambiente). A grande maioria dos estudos epidemiológicos é observacional (não-experimental) referem-se à pesquisa de situações que ocorrem naturalmente, a exemplo das freqüências de nascimentos e óbitos, os estudos de intervenção (experimental) geralmente são associados à epidemiologia clínica, destinados à avaliação de da eficácia de medicamentos, vacinas, exames e procedimentos médico – terapêuticos. ASPECTOS CONCEITUAIS A epidemiologia é uma disciplina básica da saúde pública voltada para a compreensão do processo saúde-doença no âmbito de populações, aspecto que a diferencia da clínica, que tem por objetivo o estudo desse mesmo processo, mas em termos individuais. Como ciência, a epidemiologia fundamenta-se no raciocínio causal; já como disciplina da saúde pública, preocupa-se com o desenvolvimento de estratégias para as ações voltadas para a proteção e promoção da saúde da comunidade. A epidemiologia constitui também instrumento para o desenvolvimento de políticas no setor da saúde. Sua aplicação neste caso deve levar em conta o conhecimento disponível, adequando-o às realidades locais. Se quisermos delimitar conceitualmente a epidemiologia, encontraremos várias definições; uma delas, bem ampla e que nos dá uma boa idéia de sua abrangência e aplicação em saúde pública, é a seguinte: "Epidemiologia é o estudo da freqüência, da distribuição e dos determinantes dos estados ou eventos relacionados à saúde em específicas populações e a aplicação desses estudos no controle dos problemas de saúde. Essa definição de epidemiologia inclui uma série de termos que refletem alguns princípios da disciplina que merecem ser destacados (CDC, Principles, 1992): Estudo: a epidemiologia como disciplina básica da saúde pública tem seus fundamentos no método científico. Freqüência e distribuição: a epidemiologia preocupa-se com a freqüência e o padrão dos eventos relacionados com o processo saúde-doença na população. A freqüência inclui não só o número desses eventos, mas também as taxas ou riscos de doença nessa população. O conhecimento das taxas constitui ponto de fundamental importância para o epidemiologista, uma vez que permite comparações válidas entre diferentes populações. O padrão de ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença diz respeito à distribuição desses eventos segundo características: do tempo (tendência num período, variação sazonal, etc.), do lugar (distribuição geográfica, distribuição urbano-rural, etc.) e da pessoa (sexo, idade, profissão, etnia, etc.). Determinantes: uma das questões centrais da epidemiologia é a busca da causa e dos fatores que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença. Com esse objetivo, a epidemiologia descreve a freqüência e distribuição desses eventos e compara sua ocorrência em diferentes grupos populacionais com distintas características demográficas, genéticas, imunológicas, comportamentais, de exposição ao ambiente e outros fatores, assim chamados fatores de risco. Em condições ideais, os achados epidemiológicos oferecem evidências suficientes para a implementação de medidas de prevenção e controle. Estados ou eventos relacionados à saúde: originalmente, a epidemiologia preocupava-se com epidemias de doenças infecciosas. No entanto, sua abrangência ampliou-se e, atualmente, sua área de atuação estende-se a todos os agravos à saúde. Específicas populações: como já foi salientado, a epidemiologia preocupa-se com a saúde coletiva de grupos de indivíduos que vivem numa comunidade ou área. Aplicação: a epidemiologia, como disciplina da saúde pública, é mais que o estudo a respeito de um assunto, uma vez que ela oferece subsídios para a implementação de ações dirigidas à prevenção e ao controle. Portanto, ela não é somente uma ciência, mas também um instrumento. Epidemia A ocorrência, numa comunidade ou região, de casos de doença, acidente, malformação congênita, comportamento especificamente relacionado com a saúde ou outros acontecimentos relacionados com a saúde que ocorre em um determinado momento e espaço, é um fato até aqui normal, já que interagimos com o ambiente e outras formas de vida. Um surto epidêmico ocorre quando há um grande desequilíbrio com o agente (ou surgimento de um), sendo este posto em vantagem. Este desequilíbrio é comum quando uma nova estirpe do organismo aparece (mutação) ou quando o hospedeiro é exposto pela primeira vez ao agente. O número de casos indicativos da presença de uma epidemia devida a um agente transmissível varia de acordo com o agente, dimensão, tipo e estado imunitário da população exposta, experiência ou falta de experiência prévia com o agente responsável e com o tempo, local, forma de ocorrência e seu comportamento na população. Endemia Designa-se como endemia qualquer fator mórbido ou doença espacialmente localizada, temporalmente ilimitada, habitualmente presente entre os membros de um população e cujo nível de incidência se situe sistematicamente nos limites de uma faixa endêmica que foi previamente convencionada para uma população e época determinadas. Difere da epidemia por ser de caráter mais contínuo e restrito a uma determinada área. Assim, por exemplo, no Brasil, existem áreas endêmicas de febre amarela na Amazônia, áreas endêmicas de dengue, etc. Por vezes, uma endemia pode evoluir para uma epidemia, existindo, nesse caso, uma doença endemo-epidémica. Esta oposição entre endemia e epidemia, entretanto, tem sido esbatida com os novos conhecimentos adquiridos quanto aos fatores ecológicos que condicionam o desenvolvimento de uma doença. O termo "endémico" passou a referir-se, de forma mais ajustada, ao grau de prevalência de uma doença, ou seja à proporção entre o número total de casos da doença e o número de indivíduos em risco de a adquirir, numa área geografica e temporalmente bem definida. Ao viajar para uma área endêmica é aconselhável e, por vezes, necessário que o viajante seja vacinado. Pandemia É uma epidemia (uma erupção de uma doença infecciosa) que pode se alastrar por uma região extensa, como uma cidade, país, ou continente, ou até mesmo pelo mundo. Prevenção primária é o conjunto de ações que visam evitar a doença na população, removendo os fatores causais, ou seja, visam a diminuição da incidência da doença. Tem por objetivo a promoção de saúde e proteção específica . São exemplos a vacinação, do tratamento de água para consumo humano, de medidas de desinfecção e desinfestação, ou de acções para prevenir a infecção por VIH (como ações de educação para a saúde e/ou distribuição gratuita de preservativos, ou de seringas descartáveis aos toxicodependentes). Prevenção secundária é o conjunto de ações que visam identificar e corrigir o mais precocemente possível qualquer desvio da normalidade, de forma a colocar o indivíduo de imediato na situação saudável, ou seja, têm como objetivo a diminuição da prevalência da doença.Visam ao diagnóstico, ao tratamento e à limitação do dano. Um exemplo é o rastreio do cancro do colo uterino, causado pela transmissão sexual do HPV. Prevenção terciária é o conjunto de ações que visam reduzir a incapacidade de forma a permitir uma rápida e melhor reintegração do indivíduo na sociedade, aproveitando as capacidades remanescentes. Como exemplo, podem-se citar ações de formação a nível de escolas e ou locais de trabalho que visem anular atitudes fóbicas em relação a um indivíduo infectado pelo VIH. Outro exemplo, a nível da saúde ocupacional, seria a reintegração daquele trabalhador na empresa, caso não pudesse continuar a exercer, por razões médicas, o mesmo tipo de atividades. Notificação Consiste na comunicação da ocorrência de determinada doença/agravo à saúde ou surto, feita às autoridades sanitárias, por profissionais de saúde ou qualquer cidadão, visando a adoção das medidas de intervenção pertinentes. Notificação Compulsória é a notificação obrigatória de casos de doenças da listagem de doenças de notificação compulsória . Além das DNC todo e qualquer surto ou epidemia, assim como a ocorrência de agravo inusitado, independente de constar na lista de doenças de notificação compulsória, deve ser notificado. Notificação de surtos A noção de surto apresenta diferentes acepções. No limite confunde-se com o conceito de epidemia. Duas noções: 1. Ocorrência de dois ou mais casos epidemiologicamente relacionados1. 2. Epidemia de proporções reduzidas, atingindo uma pequena comunidade humana. Muitos restringem o termo para o caso de instituições fechadas, outros usam como sinônimo de epidemia2. Estas noções devem ser entendidas com devida precaução. É necessário avaliar a situação epidemiológica do agravo na localidade em questão para definir a existência ou não de um surto. A notificação de surtos será realizada de duas maneiras: 1. Agravo conhecido : Para a ocorrência de surtos de agravos identificados 2. Notificação sindrômica : Para a ocorrência de surtos cujo agente não foi identificado mas que caracteriza um padrão de sinais, sintomas e evolução que podem ser agrupados sob a rubrica de uma síndrome. No momento da notificação procurar-se-á descrever os principais sinais, sintomas e a evolução dos casos.