UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS EMIVAL PINHEIRO AGRA JÚNIOR ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO ÁCIDO GÁLICO Anápolis - GO 2011 ii EMIVAL PINHEIRO AGRA JÚNIOR ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO ÁCIDO GÁLICO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Farmácia da Universidade Estadual de Goiás como exigência parcial à obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Orientador: Prof. Dr. Plínio Lázaro Faleiro Naves Anápolis - GO 2011 iii Dedico este trabalho a Deus, Pai e Criador presente em todos os dias de minha vida, e a família pelo amor incondicional, pois sem ambos não seria possível transpassar esta etapa. iv AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado força e coragem, para enfrentar e superar todas as dificuldades que surgiram no caminho trilhado até aqui. Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Plínio Lázaro Faleiro Naves, pela orientação e dedicação concedidos para realização deste trabalho. Agradeço aos companheiros de laboratório o Prof. Diorgenes Santana e o Técnico Sr. Osvaldo Gomes Pinto, pela convivência, horas de risadas e, principalmente, pelo conhecimento construído. v “Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. Albert Einstein (1879-1955) "Prefiro ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo". (Raul Seixas) vi RESUMO Os agentes antimicrobianos estão entre as poucas drogas que exercem efeito curativo sobre a enfermidade do paciente, por agirem diretamente sobre o agente causador da doença, um micro-organismo patogênico. Os antimicrobianos são uma das classes de medicamentos mundialmente mais utilizadas, porém muitas vezes de forma inapropriada. A utilização inadequada do arsenal antimicrobiano disponível vem contribuindo para a emergência de micro-organismos resistentes a várias classes destes compostos, além de ser preocupante o decréscimo no número de novas drogas lançadas pela indústria farmacêutica com mecanismos de ação inovadores, sendo uma possível estratégia para tentar driblar os mecanismos e fatores de resistência que os micro-organismos desenvolveram, especialmente, as bactérias. Neste contexto, o foco de pesquisas para obtenção de novas substâncias tem se voltado às fontes naturais, principalmente as plantas; as quais são capazes de sintetizar substâncias complexas que as protegem contra ataques de insetos e micro-organismos. Dentre estas substâncias, destaca-se a classe dos taninos, presentes em várias partes da planta e encontrado em abundância no reino vegetal. Esta classe possui compostos com exímias propriedades, como: antioxidante, formação de complexos com proteínas e variadas indicações terapêuticas; as quais foram catalogadas pela etnofarmacologia e etnobotânica, por meio da sabedoria popular. Os taninos são divididos em hidrolisáveis e condensados, sendo os primeiro subdivididos em galotaninos e elagitaninos, os quais são formados por unidades do ácido gálico, um composto sintetizado a partir do ácido chiquímico, apresentando propriedades semelhantes as dos taninos. Diante do exposto baseando-se na literatura atual, o objetivo foi reunir informações a respeito das atividades do ácido gálico, como por exemplo, a antimicrobiana; além de ressaltar outras empregabilidades deste composto e de seus derivados. Os trabalhos em nível laboratorial podem contribuir com subsídios suficientes para confirmar uma possível atividade antibiótica deste composto, podendo gerar as bases para o desenvolvimento de novos medicamentos. PALAVRAS-CHAVE: Antimicrobianos. Fatores de Resistência. Taninos. Ácido gálico. vii LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Anel azetidinona (β-lactâmico) ·········································································16 FIGURA 2 - Ciprofloxacino, com Flúor na posição 6, e piperazina na posição 7 ·························· 19 FIGURA 3 - Clortetraciclina ····························································································· 20 FIGURA 4 - Conjugação ································································································· 24 FIGURA 5 - Processo de Transdução ················································································ 25 FIGURA 6 - Transformação ····························································································· 26 FIGURA 7 - Estrutura do β- 1,2,3,4,6-pentagaloil-D-glicose ··················································· 34 FIGURA 8 - Ácido tânico, ligações meta-depsídica ······························································ 35 FIGURA 9 - Divisão dos taninos hidrolisáveis ······································································ 35 FIGURA 10 - Taninos condensados ·················································································· 36 FIGURA 11 - Estrutura do ácido gálico ················································································42 FIGURA 12 - Rotas de síntese do ácido gálico ···································································· 43 FIUGRA 13 - Hidrólise do ácido tânico pela tanase, R1 (galoil) R2 (digaloil)································· 44 FIGURA 14 - Tanase estearase e depsidase ········································································44 FIGURA 15 - Obtenção do Propil galato ············································································· 45 viii LISTA DE ABREVEATURAS E SÍMBOLOS ATCC - Sigla em inglês do Centro de coleção de células de micro-organismos padronizados dos Estados Unidos da América (American Type Culture Collection) CLSI - Sigla em inglês do Instituto de padrões laboratoriais e clínicos (Clinical and Laboratory Standards Institute) CMB - Concentração mínima bactericida CMI - Concentração mínima inibitória DMSO - Dimetilsufóxido FDA - Sigla em inglês do órgão de Administração de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos da América (Food and Drugs Administration) GA - Sigla em inglês para Ácido Gálico (Gallic acid) HCl - Ácido clorídrico HHDP - Ácido hexa-hidroxi-difênico HPLC - Sigla em inglês para Cromatografia liquida de alta performance (High Performance Liquide Chromatography) KDa - Quilodalton LPCL - Sigla em inglês para Cromatografia líquida de baixa performance (Low Performance Liquide Chromatography) OMS - Organização Mundial da Saúde PGG - (1,2,3,4,6-Penta-O-Galloyl-β-D-Glucopyranos) PDA - Sigla em inglês para o meio de cultura Ágar dextrose de batata (Potato Dextrose Agar) pH - potencial hidrogeniônico °C - Grau Celsius % - por cento (porcentagem) g - grama mm - milímetro m/v - massa por volume mg/mL - miligrama por mililitro µg/mL - micrograma por mililitro ix SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ··············································································· 11 2. FONTE DE DADOS ········································································ 13 3. ANTIMICROBIANOS ····································································· 14 3.1. CLASSES DE ANTIBIÓTICOS ························································· 15 3.1.1. β-Lactâmicos ················································································ 16 3.1.2. Aminoglicosídeos ·········································································· 17 3.1.3. Polipeptídios ················································································· 18 3.1.4. Glicopeptídios ··············································································· 18 3.1.5. Rifampicina ·················································································· 18 3.1.6. Quinolonas e fluorquinolonas ··························································· 19 3.1.7. Tetraciclinas ················································································· 20 3.1.8. Clorafenicol ··················································································· 20 3.1.9. Macrolídeos ·················································································· 21 3.1.10. Sulfonamidas ················································································ 21 3.2. NOVOS MECANISMOS DE AÇÃO ANTIMICROBIANA ························ 22 3.3. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA ······························· 23 3.3.1. Fatores de Resistência ··································································· 26 4. DESCOBERTA DE NOVOS ANTIBÓTICOS ········································ 28 4.1. FONTES DE ANTIBIÓTICOS NATURAIS ··········································· 29 4.2. ATUAÇÃO DA ETNOFARMACOLOGIA ············································· 30 4.3. AUXÍLIO DA FARMACOGNOSIA ····················································· 31 5. TANINOS ····················································································· 32 5.1. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS ······················································ 33 5.1.1. Taninos Hidrolisáveis ····································································· 34 5.1.2. Taninos Condensados ···································································· 36 5.2. ATIVIDADES BIOLÓGICAS ····························································· 37 5.2.1. Propriedade de Complexação com Proteínas ······································ 39 5.3. UTILIZAÇÃO INDUSTRIAL ······························································ 40 5.4. PLANTAS TANÍFERAS COM AÇÃO ANTIMICROBIANA ······················ 41 6. ÁCIDO GÁLICO ············································································ 42 6.1. BIOGÊNESE ················································································ 43 x 6.2. APLICAÇÕES DO ÁCIDO GÁLICO ··················································· 44 6.3. POSSÍVEIS ATIVIDADES FARMACOLÓGICAS ·································· 46 6.4. DERIVAÇÃO QUÍMICA DO ÁCIDO GÁLICO ······································ 48 7. CONCLUSÃO ··············································································· 50 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ·················································· 52 11 1. INTRODUÇÃO A descoberta de substâncias que apresentam atividade antimicrobiana é considerada uma das maiores contribuições para a terapêutica no século XX. Os antibióticos representam os poucos fármacos que atuam de forma curativa no paciente, pois têm a finalidade de combater o verdadeiro motivo da doença, no caso, micro-organismos patogênicos. Esta classe de medicamentos encontra-se dentre as classes mais usadas mundialmente, entretanto, está entre as mais utilizadas de forma incorreta (TRIPATHI, 2003). O prejuízo desta maneira errônea de se fazer o uso de antibióticos é constatada pelo aumento progressivo de bactérias resistentes aos mais variados agentes antimicrobianos. Estes micro-organismos dispõem de diversas maneiras de adquirirem e, principalmente, sintetizarem mecanismos e fatores de resistência, os quais lhes conferem proteção contra a ação dos fármacos. Fato preocupante que instiga as indústrias farmacêuticas a desenvolverem novos antibióticos, indubitavelmente com mecanismos de ação inovadores (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; OLIVEIRA JUNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). Neste contexto, o interesse por antibióticos inovadores se intensificou devido ao baixo índice de novos agentes antimicrobianos lançados e, sobretudo pelo alto índice de resistência encontrado nos micro-organismos. As fontes naturais que podem fornecer novas substâncias bioativas, especialmente, antibióticos têm sido alvo de inúmeros estudos, sendo os vegetais uma das fontes mais promissoras. Pois estes organismos são capazes de sintetizar compostos complexos que os protegem contra micro-organismos patogênicos, como fungos e bactérias (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; MOLINA et al., 2008; RATES, 2011). As plantas se tornaram um grande campo de pesquisa pelo seu baixo custo, fácil manuseio, e no quesito da descoberta de substâncias com atividade terapêutica, há a sabedoria popular como aliada. O conhecimento sobre vegetais que possuem indicação para o tratamento de alguma moléstia é passado de geração para geração em determinadas comunidades e regiões por todo o mundo. Utilizando ferramentas como a etnobotânica, etnofarmacologia e a farmacognosia, os estudos com plantas medicinais se tornam mais fáceis e orientados, pois se pesquisará as que supostamente apresentam alguma atividade terapêutica, ao invés 12 de escolhê-las aleatoriamente. (MOLINA et al., 2008; RATES, 2011). A espinheira-santa, barbatimão, hamamélis, pitangueira são plantas indicadas para o tratamento de feridas, úlceras, queimaduras, diarréia, hemorróidas, inflamações bucais, além de apresentar atividade antimalárica, antifúngica, antibacteriana e antiinflamatória. Essas plantas são ricas em uma classe de compostos denominada por taninos, os quais representam a segunda maior classe compostos vegetais e são a quarta substância mais encontrada em diversas partes das plantas. São divididos em taninos hidrolisáveis e condensados, sendo o primeiro subdividido em galotaninos e elagitaninos (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). Estas subclasses de taninos são compostas por oligômeros do ácido gálico (ácido 3,4,5-tri-hidroxi-bênzóico), sintetizado pelos vegetais através da via metabólica do ácido chiquímico. Este composto fenólico é empregado na indústria devido a sua atividade antioxidante e pela propriedade de complexar-se com proteínas, fato que desperta o interesse de pesquisadores em utilizar o ácido gálico e seus derivados no desenvolvimento de novas moléculas bioativas (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005; SANTOS, 2007). O objetivo do presente trabalho, baseado na literatura atual, é o de reunir dados sobre a atividade antimicrobiana do ácido gálico. Abordando as classes de antibióticos existentes, os mecanismos e fatores de resistência microbianos que levam às pesquisas por novos antibióticos a partir de fontes naturais, como as plantas medicinais. Destacar a utilização dos taninos e enfatizar as pesquisas in vitro com ácido gálico, como possível agente terapêutico e principalmente antimicrobiano. 13 2. FONTE DE DADOS Buscou-se artigos originais em português, inglês e espanhol que abordassem o tema utilizando as bases de dados online, SciELO e Pub-Med, livros e o Google Acadêmico como site de busca. O critério de escolha para inclusão dos artigos priorizou os trabalhos de revisão bibliográfica, artigos mais recentes, dissertações de mestrado, todos com busca pelas palavras-chave: Agentes antimicrobianos, mecanismos de resistência a antibióticos, descoberta de novos antibióticos, compostos bioativos de fontes naturais, etnofarmacologia, taninos e ácido gálico. 14 3. ANTIMICROBIANOS Os antimicrobianos podem ser definidos como substâncias que têm a capacidade de reduzir o crescimento ou até matar micro-organismos, em baixas concentrações. Tais compostos podem ser sintetizados naturalmente, pelos próprios micro-organismos que as utilizam como mecanismo de defesa frente a outras espécies. Há também os semissintéticos, onde os antimicrobianos naturais são modificados em laboratório para que suas propriedades sejam melhoradas, e os sintéticos propriamente ditos, ou seja, obtidos por síntese química, como as sulfonamidas e as quinolonas. Organismos superiores também produzem substâncias contra os micro-organismos, por exemplo; os anticorpos, e alguns micróbios utilizam produtos metabólicos, tais como o etanol, o ácido láctico e o peróxido de hidrogênio, com a função de competir contra os micro-organismos (SERRA, 2011; TRIPATHI, 2003). O uso de agentes antimicrobianos foi um grande marco para a terapêutica do século XX, pois ampliou a visão sobre o efeito das drogas no organismo do paciente que até então atuavam de forma direta sobre as células e seus mecanismos. Com os antibióticos, os resultados obtidos foram inovadores, pois constatou-se que eles atuavam sobre os agentes agressivos que se distinguem das células do indivíduo, ou seja; sua ação terapêutica é de inibir/matar os micro-organismos infecciosos, causando mínimas ou nenhuma reação desconfortante e tóxica ao receptor. Devido a esta propriedade, os antibióticos representam uma das poucas classes de medicamentos que realmente, possuem um efeito curativo (OLIVEIRA JUNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). Antes que estes agentes fossem obtidos a partir de organismos vivos, o ser humano procurou usar de substâncias químicas para curar os males que os micróbios causavam, como o mercúrio usado por Paracelso no século XVI no combate a sífilis; os corantes seletivos para micro-organismos usados por Ehrlich no início do século XX, como o azul de metileno e o vermelho de tripano que em altas concentrações, se tornavam tóxicos para a célula microbiana. O Prontosil, um corante sulfonamídico testado por Domagk em 1935, descobriu-se que a substância ativa não era a que conferia cor, mas a para-aminobenzeno sulfonamida, e em 1938 foi lançada a primeira sulfonamida, a sulfapiridina (SERRA, 2011; TRIPATHI, 2003). 15 Através de Pasteur em 1877, iniciou-se o uso da antibiose ou amensalismo para o combate aos micro-organismos patogênicos, quando o mesmo inibiu o crescimento de bacilos do antraz por meio de outras bactérias provenientes do ar. Mas o grande marco desta nova linha de pesquisa surgiu com Fleming em 1929, onde Staphylococcus foram destruídos por uma substância produzida pelo fungo Penicilium, a qual era difusível pelas placas de cultura. Fleming a denominou como penicilina, sendo isolada e purificada somente em 1939, por Chain e Florey (TRIPATHI, 2003). Houve também a descoberta da estreptomicina na década de 40 por Waksman e colaboradores. Pesquisaram e isolaram esta substância a partir de actinomicetos, abrindo as portas para a descoberta da eritromicina, tetraciclinas, clorafenicol, e outros antibióticos extraídos destes micro-organismos que vivem no solo (SERRA, 2011; TRIPATHI, 2003). 3.1. CLASSES DE ANTIMICROBIANOS Através de intensos estudos sobre os mecanismos internos e externos das bactérias, garantiu-se o desenvolvimento de fármacos específicos e direcionados para sítios-alvos delas. Podem ser divididos em dois grupos, os bactericidas que provocam a morte dos micro-organismos causadores da infecção, como: os βlactâmicos (penicilinas, cefalosporinas, carbapenéns e monobactâmicos), os aminoglicosídeos (estreptomicina, gentamicina, neomicina), polipeptídios (polimixina B, colistina, bacitracina, tirotricina), glicopeptídios (vancomicina, teicoplanina), rifampicina, quinolonas (ciprofloxacina, ácido nalidíxico, norfloxacina), dentre outros. (OLIVEIRA JÚNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). E os bacteriostáticos que inibem o crescimento do micro-organismo ao interferirem no metabolismo intermediário, ou na síntese de proteínas, como: as tetraciclinas (oxitetraciclina, doxiciclina), o clorafenicol que é um derivado do nitrobenzeno, os macrolídeos (azitromicina, eritromicina, roxitromicina) e as sulfonamidas (sulfadiazina), as sulfonas (dapsona), ácido paraaminossalicílico (PAS), o etambutol, entre outros (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; OLIVEIRA JÚNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). 16 3.1.1. β-Lactâmicos Talvez seja a classe de antibióticos mais conhecida devido a descoberta da penicilina, por Alexander Fleming, e pelo fato de ter sido amplamente utilizada durante a segunda guerra mundial. Os fármacos pertencentes a este grupo podem ser considerados bacteriostáticos e bactericidas, pois atuam inibindo a síntese da parede celular bacteriana ao se ligarem à enzima transpeptidase, a qual participa da ligação cruzada dos peptideoglicanos durante a formação da parede celular bacteriana, logo após a divisão celular da bactéria; deixando-a suscetível à lise osmótica (HARDMAN & LIMBIRD, 2005; OLIVEIRA JÚNIOR, 2011). Todos os fármacos pertencentes a esta classe possuem o mesmo mecanismo de ação, tendo em sua estrutura o anel azetidinona com quatro membros, também chamado de anel β-lactâmico (Figura 1), e uma estrutura de cinco (tiazolidínico) ou seis (di-hidrotiazínico) membros que constitui as penicilinas e as cefalosporinas respectivamente, além dos carbapenêmicos, e monobactâmeas (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]). Figura 1 - Anel azetidinona (β-lactâmico) (TRIPATHI, 2003). Dentro do grupo das penicilinas têm-se cinco subgrupos: das penicilinas propriamente dita, como a benzilpenicilina, conhecida como penicilina G; as aminopenicilinas, como a amoxicilina; as carboxipenicilinas, como a ticarcilina; as isoxazolipenicilinas, como a flucloxacilina; e as acilureidopenicilina, como a 17 piperacilina. Os fármacos que estão no grupo das cefalosporinas são divididos em primeira, segunda, terceira e quarta gerações, como por exemplo: Cefalotina, Cefaclor, Ceftriaxona e a Cefepima respectivamente (HARDMAN & LIMBIRD, 2005; OLIVEIRA JUNIOR, 2011). No grupo dos Carbapenêmicos, tem-se o Imipenem e Meropenem, usados apenas em casos excepcionais quando ainda não se conhece o micro-organismo infeccioso; a fim de evitar resistência ao antibiótico. No grupo das monobactamas, há o Aztreonam, com espectro direcionado à enterobactérias. Como muitas bactérias desenvolveram mecanismos de resistência aos fármacos desta classe através de enzimas como a β-lactamase e a penicilinase, sendo essa específica para a bezilpenicilina; foram desenvolvidas substâncias que inibem essas enzimas, sendo adicionadas aos antibióticos β-lactâmicos para protegê-los, como o Ácido Clavulânico, a Tazobactama e a Sulbactama (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; HARDMAN & LIMBIRD, 2005; OLIVEIRA JUNIOR, 2011). 3.1.2. Aminoglicosídeos Esta classe de antimicrobianos esta envolvida com a inibição da síntese proteica bacteriana, pois o mecanismo de ação consiste na ligação à subunidade 50S dos ribossomos o que impede que esta traduza o mRNA, por isso são considerados antimicrobianos bactericidas. Estes antibióticos são constituídos por um grupo amino básico e uma unidade de açúcar, e possuem ótimo sinergismo com os β-lactâmicos, pois os aminoglicosídeos precisam de transporte ativo para adentrarem no citoplasma bacteriano. Pertencem a esta classe antibióticos como: a Amicacina, Tobramicina, Gentamicina, Netilmicina e a Estreptomicina, sendo esta a primeira representante da classe, isolada do Streptomyces griseus em 1944 (BARROS, 2001; OLIVEIRA JUNIOR, 2011). 18 3.1.3. Polipeptídios Os polipeptídios são considerados agentes bactericidas de ação rápida, pois tem a capacidade de se ligarem aos fosfolipídios presentes na membrana celular bacteriana, provocando uma desorganização da mesma ou a formação de pseudoporos; ocasionando o extravasamento de íons, aminoácidos e etc. São comumente usados em formas farmacêutica tópicas, devido a sua toxicidade por uso oral e principalmente sistêmico. Pertencem a esta classe antibióticos como a Polimixina B, Colistina, Bacitracina e Tirotricina. (HARDMAN & LIMBIRD, 2005; TRIPATHI, 2003). 3.1.4. Glicopeptídios Os representantes desta classe são a vancomicina e a teicoplanina, usados como última escolha frente a cepas resistentes a vários antibióticos. Atuam destruindo a parede celular bacteriana, pois se ligam ao resíduo polipeptídico terminal D-Ala-D-Ala, inibindo o processo de transpeptidação feito pela enzima transpeptidase; interrompendo assim a biossíntese da membrana celular da bactéria. Por serem incapazes de penetrar na membrana celular de bactérias Gramnegativas, estes antimicrobianos são utilizados contra as Gram-positivas resistentes e também em algumas espécies de Enterococcus (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; OLIVEIRA JUNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). 3.1.5. Rifampicina O Streptomyces mediterranei produz uma substância chamada de rifamicina B, a qual serve para obtenção de um derivado semi-sintético denominado Rifampicina. Este antibiótico bactericida se liga à RNA polimerase bacteriana, especificamente no gene repoB; sendo esta uma possível explicação para o fato 19 que ela não se liga à RNA polimerase dos mamíferos. É considerado o único fármaco que inibe a transcrição bacteriana. É muito utilizado em sinergismo com outros fármacos no tratamento da tuberculose, visto que a resistência à rifampicina desenvolvida pelos bacilos causadores desta doença é muito baixa (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; TRIPATHI, 2003). 3.1.6. Quinolonas e fluorquinolonas São fármacos bactericidas considerados inibidores das topoisomerases. O ácido nalidíxico surgiu em 1962 por meio da síntese da cloroquina, muito utilizada contra patógenos urinários. Devido a concentração da droga no plasma e nos tecidos não ser terapêutica contra infecções sistêmicas, houve a necessidade de se desenvolver novos compostos a partir da quinolona que sofreu fluoração na posição 6 e uma substituição de piperazina na posição 7 (FIGURA 2); abrindo caminho para o descobrimento de novos compostos, em sua maioria fluorados: ciprofloxacino, levofloxacino e norfloxacino. O mecanismo de ação dos compostos desta classe esta no fato de inibirem a DNA-girase que é responsável pela abertura das fitas de DNA da bactéria, preparando-a para a replicação ou transcrição. A ação bactericida certamente ocorre devido à digestão do material genético por exonucleases, cuja produção é sinalizada quando ocorre algum defeito no DNA (HARDMAN & LIMBIRD, 2005; OLIVEIRA JUNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). FIGURA 2 - Ciprofloxacino, com Flúor na posição 6, e piperazina na posição 7 (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010). 20 3.1.7. Tetraciclinas Constituem uma classe de antibióticos caracterizados por um núcleo de quatro anéis cíclicos. São obtidas de actinomicetos que vivem no solo. A clortetraciclina (Figura 3) foi isolada em 1948 a partir do S. aureofaciens, ganhando destaque frente à penicilina e a estreptomicina na época por ser ativa via oral e de amplo espectro. Seu mecanismo se baseia na complexação com a subunidade 30S ribossomal, evitando a ligação do aminoacetil-t-RNA ao complexo mRNA-ribossomo; bloqueando a adição de novos peptídeos à cadeia protéica, e consequentemente a liberação de proteínas é inibida. Outros exemplos desta classe são: a tetraciclina, oxitetraciclina, demeclociclina, metaciclina, doxiciclina e minociclina (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]; TRIPATHI, 2003). Figura 3 - Clortetraciclina (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010). 3.1.8. Clorafenicol O clorafenicol é obtido do Streptomyces venezuela, e atualmente é sintetizado e apenas o isômero R,R possui atividade. Este antibiótico bactericida se liga na subunidade 30S do ribossomo bacteriano, impedindo o movimento do mesmo sobre o mRNA. Por atuar no mesmo sítio de ação que a lincosamida e os macrolídeos, este medicamento não deve ser administrado concomitantemente a eles (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; HARDMAN & LIMBIRD, 2005). 21 3.1.9. Macrolídeos Os macrolídeos possuem ação bacteriostática e bactericida em baixas e altas concentrações respectivamente. Interrompem a biossíntese de proteínas bacterianas, pois se ligam ao sítio P da subunidade 50S do ribossomo da bactéria, inibindo o processo de translocação. Com o sítio P "ocupado", o ribossomo não consegue se mover sobre o mRNA para expor o próximo códon e dar sequência à formação da cadeia peptídica. O grande representante desta classe é a eritromicina, isolada em 1952 a partir do Streptomyces erythreus. Por apresentar uma instabilidade em meio ácido, diversos efeitos colaterais, e fraca biodisponibilidade, foram desenvolvidos fármacos com melhor características físico-químicas e farmacocinéticas, maior espectro de ação e com reações adversas mais tênues que a eritromicina, a qual foi substituída gradualmente pelos macrolídeos de segunda geração como a claritromicina, a roxitromicina e a azitromicina (OLIVEIRA JUNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). 3.1.10. Sulfonamidas Esta classe de antibiótico é derivada da sulfanilamida (p-aminobenzeno sulfonamida), e seus principais integrantes são: a sulfadiazina que possui ação curta de 4 a 8 horas; o sulfametoxazol e sulfametopirazina com ação intermediária; sulfacetamida sódica, sulfassalazina, mafenida, sulfadiazina de prata, sendo essas para fins especiais, como a última que é usada para tratamento de queimaduras. O mecanismo de ação destes compostos se dá pela sua semelhança estrutural ao PABA (ácido p-aminobenzóico), um constituinte do meio utilizado pelas bactérias para obtenção de ácido fólico. Com isso as sulfonamidas inibem a folato sintetase bacteriana, impedindo a formação do ácido fólico e prejudicando várias reações metabólicas essenciais. Impede também a ligação do PABA ao radical da pteridina para formar o ácido diidropteróico, o qual se conjuga com o ácido glutâmico; a fim de produzir o ácido diidrofólico. Outra forma de atuação das sulfonamidas está no fato de serem incorporadas pela bactéria, devido a sua semelhança com o PABA, levando à formação de um folato alterado metabolicamente que é bastante lesivo à 22 célula (HARDMAN & LIMBIRD, 2005; TRIPATHI, 2003). O antibiótico sulfametoxazol pode ser combinado com a trimetoprima, formando o cotrimoxazol. Trata-se de uma associação entre uma sulfonamida de ação intermediária e da trimetoprima, uma diaminopirimidina relacionada com a pirimetamina, um agente malárico inibidor seletivo da enzima bacteriana diidrofolato redutase. As duas substâncias separadas apresentam ação bacteriostática, porém sua combinação desenvolve uma ação bactericida devido à inibição das enzimas folato sintetase e diirdrofolato redutase durante o metabolismo do ácido fólico bacteriano. Ambas possuem meia vida de aproximadamente 10 horas, e tem espectro de ação contra vários micro-organismos como: Salmonella typhi, Serratia, Klebsiella e até cepas resistentes às sulfonamidas, por exemplo: E. coli, S. aureus, S. pyogenes, dentre outros (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; TRIPATHI, 2003). 3.2. NOVOS MECANISMOS DE AÇÃO ANTIMICROBIANA Ainda não há um grande número de substâncias que possuam diferentes mecanismos de ação, para serem usados no tratamento às doenças infecciosas. A busca por estes compostos inovadores é a esperança de se obter vantagens no combate aos micro-organismos resistentes e aos novos patógenos que possam surgir. Dentre as novas substâncias que atuam de forma diferenciada em relação às classes já existentes, pode se destacar os lipodepsipeptídeos daptomicina e friulimicina B e a oxazolidinona linezolida (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; MILLS, 2006). O mecanismo de ação da daptomicina, consiste na desorganização de múltiplas funções da membrana celular bacteriana que é invadida pelo composto, o qual possui várias cadeias alquílicas em sua estrutura. Mesmo pertencendo a mesma classe dos lipodepsipeptídeos, a friulimicina B apresenta um mecanismo diferenciado sendo capaz de inibir a formação do lipídeo I; um precursor na síntese de peptideoglicanos da parede celular (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010). Na classe das oxazolidinonas, destaca-se a linezolida com ação bacteriostática de amplo espectro, principalmente contra bactérias que possuem 23 resistência ao inibidores da síntese de proteínas como as Gram-positivas. O mecanismo da linezolida consiste em se ligar à subunidade ribossomal 50S, evitando desta maneira a união com a subunidade 30S o que prejudica a formação do ribossomo 70S, interferindo na síntese protéica da bactéria (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]). 3.3. MECANISMOS DE RESISTÊNCIA BACTERIANA Um dos problemas de maior importância clínica é a resistência dos microorganismos aos agentes antibacterianos, onde se percebe uma espécie de "tolerância" a eles semelhante a observada em organismos superiores. A resistência bacteriana pode ocorrer de forma natural, no caso em que bactéria sempre foi resistente ao mecanismo de ação do antibiótico, por não possuir o processo metabólico ou o sítio-alvo aonde o mesmo atuará; como por exemplo, o B. subitilis que produz a bacitracina e o Streptomyces que sintetiza a estreptomicina, logo serão naturalmente insensíveis a estes antibióticos respectivamente (OLIVEIRA JÚNIOR, 2011; TRIPATHI, 2003). Há também a chamada resistência adquirida, onde o micro-organismo desenvolve uma proteção contra o efeito terapêutico do antibiótico após entrar em contato, ou não com este; por um certo período de tempo. Isto varia de espécie para espécie, pois os estafilococos e coliformes conseguem desenvolver resistência rapidamente enquanto o Streptococcus pyogenes e espiroquetas, ainda não alcançaram resistência significativa à penicilina que é usada a mais de 40 anos (TRIPATHI, 2003). A resistência adquirida pode surgir por meio de mutação ou transferência gênica. Sendo que a mutação consiste em processos espontâneos e aleatórios, pois trata-se de uma alteração genética estável e hereditária que se dá entre os microorganismos; mesmo que estes não entrem em contato com o antibiótico. Isto causa o surgimento de células mutantes que consequentemente, irão necessitar de uma concentração maior do antimicrobiano para serem inibidas. Desta maneira surgem as cepas resistentes que logo substituirão as sensíveis, conferindo àquela espécie o fator de resistência (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]; TRIPATHI, 2003). 24 O processo de mutação e surgimento do fator resistente pode ocorrer por etapa única, onde surge um elevado grau de resistência vinculado à apenas uma alteração gênica que ocorre rapidamente, como por exemplo, a resistência da E. coli e Staphylococcus à rifampicina (TRIPATHI, 2003). Ou através de etapas múltiplas, onde estão envolvidas diversas alterações gênicas com as quais a sensibilidade ao antibiótico, é reduzida gradualmente por etapas. Embora o processo de mutação auxilie as bactérias a desenvolverem esses fatores de resistência, elas acabam por reduzirem a suas características de virulência, por exemplo; gonococos com resistência à penicilina e estafilococos resistentes à rifampicina, já apresentam redução dos seus fatores de virulência (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; TRIPATHI, 2003). Já a resistência fomentada pela transferência gênica, ocorre de um microorganismo para outro por intermédio da conjugação, transdução ou transformação; sendo a primeira a de maior importância para a disseminação do fator de resistência (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]; TRIPATHI, 2003). A conjugação (Figura 4) envolve a transferência de DNA cromossômico ou extracromossômico, no caso de plasmídio; de uma bactéria doadora para uma receptora através de uma ponte ou pilus sexual, formando um tubo de proteínas que conectam os citoplasmas das bactérias, geralmente bacilos Gram-negativos. A bactéria doadora carrega o gene de resistência e passa-o para a receptora que o incorporará em seu material genético, se tornando assim capaz de sintetizar o fator que lhe conferirá a resistência (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]; TRIPATHI, 2003). FIGURA 4 – Conjugação (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]). 25 Isto pode ocorrer até mesmo entre micro-organismos não patogênicos e patogênicos, principalmente por intermédio dos que constituem a microbiota normal do indivíduo. Eles se tornam resistentes devido a exposição a algum antibiótico, e transportam o fator de resistência para os micro-organismos patogênicos que estão habitando o meio, principalmente por contaminação de água e/ou alimentos ingeridos. Outro fato que pode se desenvolver sendo o mais preocupante, é a aquisição concomitante de resistência a múltiplos fármacos, onde ocorre a troca de fatores de resistência entre as bactérias (TRIPATHI, 2003). A transdução consiste na transferência do gene provedor da resistência por meio de um bacteriófago que certamente, obteve tal fator de uma bactéria infectada por ele anteriormente; desta forma ele poderá transmiti-lo a outra a ser infectada (FIGURA 5). Os bacteriófagos são apontados como responsáveis por casos de resistência a antibióticos como clorafenicol, penicilina e eritromicina (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]; TRIPATHI, 2003). FIGURA 5 – Processo de Transdução (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]). A transformação ocorre quando uma bactéria resistente morta ou decomposta acaba por liberar no meio, moléculas ou fragmentos de seu DNA, os quais poderão ser absorvidos por outras bactérias; salvo que o DNA capturado apenas será incorporado ao cromossomo bacteriano se o mesmo for semelhante ao da bactéria receptora, tornando-as capazes de reproduzirem o mesmo fator de resistência da doadora (FIGURA 6) (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]). Este processo não desperta tanta preocupação do ponto de vista clínico, por ocorrer em casos isolados 26 como a resistência à penicilina G por pneumococos que sofreram alteração da proteína de ligação da penicilina (TRIPATHI, 2003). FIGURA 6 - Transformação (UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]). Ainda pode ocorrer a chamada resistência cruzada, onde um micro-organismo desenvolve resistência simultânea a vários antibióticos, mesmo contra os quais ele não foi exposto. Tal fato acontece com antimicrobianos de um mesmo grupo ou que sejam quimicamente similares, por exemplo; uma resistência à determinada sulfonamida implicará insensibilidade a todas as outras, esta é a denominada resistência cruzada homóloga. Porém há os casos de resistência cruzada heteróloga, a qual acomete antibióticos que possuam mecanismos de ação semelhantes ou partilhem do mesmo sistema de transporte, por exemplo, entre a tetraciclina e o clorafenicol. (OLIVEIRA JUNIOR, 2011; HARDMAN & LIMBIRD, 2005; TRIPATHI, 2003). A resistência cruzada pode ser bidirecional ou recíproca, onde a resistência de um micro-organismo pode cruzar com a de outro e vice-versa, como a entre a eritromicina e a clindamicina; ou unidirecional, onde a resistência passa de uma bactéria a outra (OLIVEIRA JUNIOR, 2011; HARDMAN & LIMBIRD, 2005). 3.3.1. Fatores de Resistência A forma de se obter a resistência varia de espécie para espécie de patógeno, resultando no surgimento de vários fatores de resistência, como a tolerância à droga, a capacidade de destruir o fármaco e a impermeabilidade ao antimicrobiano (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; TRIPATHI, 2003). 27 A tolerância à droga está ligada com a perda de afinidade do sítio-alvo dos micro-organismos pela molécula ativa do agente antimicrobiano, caso que ocorre com cepas de pneumococos que desenvolvem proteínas alteradas de ligação à penicilina, tornando-se resistente a ela; ou S. aureus que sintetizam uma RNA polimerase que não se liga à rifampicina e até a aquisição de vias metabólicas alternativas; vista em bactérias insensíveis às sulfonamidas que passam a uitlizar o ácido fólico pré-formado, ao invés de sintetizá-lo por meio do PABA encontrado no meio (TRIPATHI, 2003). O fator de resistência de destruição do fármaco consiste basicamente na elaboração de uma enzima por parte do micro-organismo que inativará a droga, assim, por exemplo: a clorafenicol acetil transferase que é vista em E. coli, S. typhi e H. influenzae; e gonococos, estafilococos e Haemophilus capazes de sintetizarem a β-lactamase que inativa a penicilina G. Há relatos sobre coliformes capazes de acetilar, fosforilar e/ou adenilar antibióticos da classe dos aminoglicosídeos (BARROS, 2001; UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]; TRIPATHI, 2003). A impermeabilidade a muitos antibióticos está intimamente ligada aos mecanismos de transporte específico, como no caso dos hidrofílicos, os quais necessitam adentrar na célula bacteriana através das "porinas", que são proteínas formadoras de canais na membrana bacteriana responsáveis pela passagem do agente antimicrobiano para dentro da célula. A resistência surge quando estes mecanismos são perdidos pela cepa, resultando em alterações na bomba de efluxo e permeabilidade externa da membrana. Isto promove a redução da concentração do antibiótico sem sua modificação química, devido a existência de proteínas dependentes de energia e, dirigidas por plasmídios na membrana celular; as quais bombeiam antibióticos como a tetraciclina para fora da célula (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; UNIVERSIDADE DE LISBOA, [200-?]; TRIPATHI, 2003). Esses mecanismos já foram detectados para eritromicina e fluorquinolonas, e também em cepas de gonococos que são menos permeáveis à penicilina G, e o P. falciparum resistente à cloroquina por acumular uma menor quantidade do fármaco dentro da célula (TRIPATHI, 2003). Com todo este contexto de resistência aos agentes antimicrobianos, é de extrema importância à adoção de medidas para se prevenir e minimizar a insensibilidade de micro-organismos aos fármacos, através de incentivos a prevenção de infecções bacterianas com o uso de vacinas, a não utilização de 28 antibióticos de modo inadequado e nem por um período prolongado de tempo, a preferência ao uso de antimicrobianos que possuam ação rápida e de espectro estreito, tratamento intenso nas infecções por patógenos que apresentam facilidade em desenvolver resistência como o S. aures, Proteus, M. tuberculosis e E. coli, controle e prevenção da disseminação de micro-organismos resistentes, e a descoberta e desenvolvimento de novos antibióticos (ALLGINTON; RIVEY, 2001; GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; TRIPATHI, 2003). 4. DESCOBERTA DE NOVOS ANTIBIÓTICOS O anseio das pesquisas por substâncias com possível potencial antibiótico, está relacionado à fatores como: as altas taxas de resistência que vêm aumentando principalmente em ambientes hospitalares, a necessidade de substâncias que atuem de maneira diferente e inovadora, o baixo índice de novos agentes antimicrobianos aprovados pelo FDA e o uso irracional de fármacos industrializados; provocando a seleção de micro-organismos cada vez mais insensíveis a estes compostos, justificando a urgência na descoberta de novos medicamentos efetivos contra os agentes infecciosos (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; MOLINA et al., 2008) . Devido a estes fatores, nos últimos anos o foco das pesquisas mudou drasticamente, pois anteriormente as buscas se concentravam em novos organismos produtores de antibióticos, como os fungos e bactérias; e também no desenvolvimento de derivados semi-sintéticos a partir de antimicrobianos mais antigos, com a finalidade de aumentar suas propriedades mais desejáveis ou até modificar os espectros de atividade. Porém nos último 10 anos a atenção se voltou para as fontes naturais ainda não pesquisadas, principalmente as plantas, fato que o uso de fitoterápicos tem ganhado intensa utilização em vários países, principalmente no Brasil que possui uma grande diversidade de espécies vegetais (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; MOLINA et al., 2008; TRIPATHI, 2003). 29 4.1. FONTES DE ANTIBIÓTICOS NATURAIS A necessidade por novos agentes antimicrobianos, tem levado os pesquisadores a explorarem ecossistemas ricos em seres pouco estudados, principalmente em habitats que possuem mudanças drásticas de pH, temperatura, luminosidade e umidade; pois além de serem ambientes propícios a novas descobertas, sabe-se que os antibióticos naturais, ou seja, aqueles produzidos por outros organismos vivos, possuem estruturas químicas por demais complexas; fato que é de extrema importância pois tal complexidade pode ter interações específicas, com receptores ou alvos situados nos micro-organismos patogênicos (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010). Um ambiente que desperta grande interesse é o marinho, onde são encontradas as actinobactérias, as quais são capazes de sintetizar compostos que demonstraram certa atividade antibacteriana e antitumoral, por exemplo, a policíclico abissomicina que inibe a síntese do ácido p-aminobenzóico e é extraída de uma actinobactéria marinha do gênero Verrucosispora. Outra fonte são as bactérias do solo que a história dos antibióticos demonstra ser uma área promissora para descoberta novas moléculas antimicrobianas. Há também o estudo com microorganismos simbiontes que habitam insetos, e com os chamados endofíticos que não possuem caráter patogênico e vivem no interior das plantas; porém muitos desses micro-organismos não são cultiváveis por meio das técnicas utilizadas em laboratórios de microbiologia (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010). As plantas se tornaram uma fonte de estudo sobre moléculas quimicamente ativas por serem capazes de biossintetizar seus próprios compostos, inclusive antimicrobianos, os quais as protegem de ataques por micróbios patogênicos. E o que viabiliza o estudo sobre tais plantas que possuem esse potencial, é o fato de serem utilizadas há muito tempo pelo homem nas mais diversas regiões em todo o planeta. Essas espécies popularmente como vegetais com ação terapêutica são conhecidas "plantas medicinais", as quais são de fácil manuseio e apresentam baixo custo para o cultivo (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010; MOLINA et al., 2008). 30 Outro fatores contribuem para a crescente procura por drogas vegetais, como por exemplo: os efeitos indesejáveis provenientes dos medicamentos sintéticos, as vezes pelo uso incorreto e/ou abusivo dos mesmos; a decepção com a medicina convencional frente a impossibilidade de cura, principalmente com as infecções resistentes; e o triste fato de que muitas camadas da população mundial se quer tem acesso aos medicamentos (RATES, 2001). 4.2. ATUAÇÃO DA ETNOFARMACOLOGIA A descoberta de substâncias bioativas provenientes de fontes naturais como as plantas têm se tornado mais frequentes, e este aumento deve-se ao estudos realizados principalmente em comunidades tradicionais em várias localidades no mundo e em diversas regiões do Brasil. As pessoas que habitam essas áreas desenvolveram a habilidade de utilizar os vegetais de seu habitat para fins terapêuticos, como o tratamento de doenças que geralmente acometem aquela comunidade, ou a cura de enfermidades causadas por agentes sobrenaturais, medidas preventivas, dietas e manutenção do bem-estar (ELISABETSKY; SOUZA, 2007). Com isto a etnobotânica e a etnofarmacologia atuam como interlocutoras entre o conhecimento adquirido de forma empírica, e preservado na cultura popular, com o desenvolvimento tecnológico para uso comercial; pois estas disciplinas tem a finalidade de levantar dados sobre plantas usadas como "remédios", resgatando e organizando as informações que advêm da sabedoria do povo; pois desta maneira as pesquisas para a obtenção de novos fármacos não se desenvolverão a partir de plantas coletadas ao acaso; mas através de uma quimiotaxonomia orientada e fundamentada na medicina popular (ELISABETSKY; SOUZA, 2007). E cabe à etnofarmacologia especificamente utilizar de suas ferramentas com o propósito de desenvolver estudos químico/farmacológicos sobre a flora medicinal, permitindo avaliar hipoteticamente a atividade farmacológica e principalmente as substância ativas existentes, as quais conferem o efeito terapêutico atribuído e relatado pela população que faz uso de determinada planta ou até associações entre duas ou mais. Um exemplo desta habilidade de curar enfermidades através das 31 plantas medicinais está no tratamento do mal-de-guta, uma doença que ocorre entre os caboclos atribuída a Mãe-d'água que os fazia espumar pela boca e seus membros tremerem ritmicamente. Por meio da etnofarmacologia diagnosticou-se possíveis casos de epilepsia, e o remédio usado para seu tratamento é constituído pela associação dos sumos extraídos de Cissus sicyoides L., Ruta graveolens L., Aeolanthus suaveolens G., conhecidas como cipó-pucá, arruda e catinga-de-mulata respectivamente, e uma colher de sementes de gergelim; a mistura então é administrada oralmente após ser filtrada em um pedaço de pano. Os estudos sobre os fitoconstituintes ativos da planta apresentaram para ambas a presença de lactonas com ação anticonvulsivante, o que torna plausível o uso popular (ELISABETSKY; SOUZA, 2007). 4.3 AUXÍLIO DA FARMACOGNOSIA Ciência destinada ao estudo de substâncias e compostos ativos obtidos a partir de fontes naturais como as plantas, os animais e micro-organismos. Seguindo a risca os termos etimológicos da palavra gnose (conhecimento) e pharmacon (fármaco ou veneno), trata-se de uma aliada de exímia importância para a etnofarmacologia na descoberta de possíveis fármacos extraídos principalmente dos vegetais, pois através da farmacognosia podem-se desenvolver estudos sobre a origem, rota biossintética, composição e estrutura química, propriedades físicoquímicas, farmacológicas e toxicológicas das substâncias ativas; sendo este último fator de grande relevância, pois muitos compostos contidos nos vegetais são tóxicos até em pequenas concentrações, consolidando esta ciência como uma ferramenta indispensável na busca incessante por novos insumos farmacológicos seguros e eficazes (RATES, 2001). Os dados estatísticos afirmam de forma concisa o quão é importante fazer uso dos conhecimentos farmacognósticos, pois cerca de 121 substâncias provenientes de vegetais são utilizadas na terapêutica, 25% dos medicamentos prescritos no mundo tem origem vegetal, e dentre os 252 fármacos ditos essenciais ou básicos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) 11% advêm de plantas, e uma grande parcela dos medicamentos sintéticos são obtidos através de fontes 32 naturais. Vários fármacos ilustres compõe a lista de produtos naturais aplicados em diversos âmbitos terapêuticos, como a atropina e a escopolamina, obtidas da Atropa belladona; a morfina e a codeína extraídas da Papaver somniferum; a quinidina e a quinina, ambas encontradas em espécies de Cinchona; o paclitaxel produzido a partir de espécies de Taxus; a digoxina presente em espécies de Digitalis, e também, a vinblastina e a vincristina, sintetizadas pela Catharantus roseus (RATES, 2001). A farmacognosia procura organizar todas as moléculas estudadas e isoladas em diferentes classes de metabólitos secundários, de acordo com a via metabólica que são sintetizadas, componentes químicos estruturais, propriedades físicoquímicas, dentre outras. As principais classes existentes destes compostos são: a dos flavonóides, cumarinas, alcalóides, cromonas, quinonas, xantonas, lignanas, metilxantinas, terpenos, heterosídeos cardioativos, saponinas e taninos; sendo esta última classe de destaque por representar o quarto constituinte mais abundante nos vegetais, depois da celulose, hemicelulose e lignina (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). 5. TANINOS Tanino é um termo amplamente usado para caracterizar a segunda maior classe de compostos fenólicos, que assim como os demais possui a função primordial e essencial de proteger os tecidos do vegetal contra o ataque de insetos, fungos ou de bactérias. Os taninos possuem alto peso molecular de 500 a 3000 Dalton, caracterizam reações comuns aos fenóis e combina-se com celulose e pectina, além de precipitarem alcalóides, gelatina e proteínas (LOGUERCIO et al., 2005; SANTOS; MELLO, 2007). São encontrados em diversas partes da planta como raiz, casca, caule, folhas e frutos, principalmente os "verdes", ou seja; não maduros, onde se encontra uma das principais características atribuídas aos compostos desta classe, a propriedade de conferir adstringência para proteger o vegetal e seus frutos contra os herbívoros. Esta sensação ocorre devido à precipitação de glucoproteínas salivares, provocando assim a perda do poder lubrificante (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; 33 ARAÚJO, 2005). A proteção notória encontrada em plantas que tem grande quantidade de taninos, é que elas apresentam uma maior resistência à ataques de insetos e micro-organismos como bactérias e fungos do que as demais. Esses compostos são encontrados em abundância no reino vegetal e foram separados em dois grupos: taninos hidrolisáveis e taninos condensados, devido a algumas diferenças em suas estruturas químicas. (MELO, 2008 ; SANTOS; MELLO, 2007). 5.1. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS Assim como a maioria dos compostos fenólicos os taninos não são encontrados de forma livre na natureza, mas na forma de ésteres ou heterosídeos, o que lhes permitem serem solúveis em água e solventes orgânicos polares, consequentemente insolúveis em acetato de etila e solventes orgânicos apolares. Os taninos possuem uma reatividade química tremenda, principalmente pela presença de várias quantidades de grupos hidroxilas, permitindo a formação de ligações de hidrogênio, intra e intermoleculares. Um dado que comprova tal característica extremamente reativa é a possibilidade de se ligar um mol de taninos a doze moles de proteínas; fato que justifica o uso da precipitação de gelatina na confirmação da existência de taninos em determinada amostra (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005). São substâncias facilmente oxidáveis, seja por enzimas vegetais como a tanase, ou até por influência de metais; como o cloreto férrico, responsável por indicar a presença de taninos e também de demais compostos fenólicos ao escurecer a solução que os contém, podendo apresentar coloração azul na presença de taninos hidrolisáveis e cor esverdeada se houver taninos condensados, sendo que esses ainda precipitam sob tratamento de formaldeído e HCL à quente (SANTOS; MELLO, 2007). 34 5.1.1. Taninos Hidrolisáveis Recebem esta denominação os taninos que podem ser hidrolisados por enzimas como a tanase, por ácidos ou bases dando origem a álcoois, açúcares e ácidos carboxílicos fenólicos. Porém a principal característica desta classe de taninos está intimamente ligada ao fato de que seus compostos são formados por um poliol central, frequentemente uma β-D-glicose, a qual possui os grupos funcionais hidroxilas esterificadas por moléculas do ácido gálico, observado na (FIGURA 7) onde é demonstrado o composto β-1,2,3,4,6-pentagaloil-D-glicose, considerado como o precursor de ambas as classes do taninos hidrolisáveis (galotaninos e elagitaninos), por representar o grau máximo de substituição possível na molécula de glicose esterificada pelo radical galoil (BATTESTIN; MATSUDA; MACEDO, 2004; MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). FIGURA 7 - Estrutura do β- 1,2,3,4,6-pentagaloil-D-glicose (SANTOS; MELLO, 2007). Para ser considerado um tanino, a molécula de glicose deve conter no mínimo três hidroxilas esterificadas para permitir que a ligação e precipitação de proteínas ocorram. Há uma grande variedade de taninos hidrolisáveis, uns formados pela oxidação de unidades de ácidos gálicos vizinhos e, outros, pela oxidação do anel aromático presente na estrutura. Dentre os taninos hidrolisáveis existem duas 35 subclasses: o galotaninos e os elagitaninos que diferem estruturalmente (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). Os galotaninos surgem a partir da esterificação da glicose por grupos fenólicos formados por ácido gálico, ou digálico, pois ocorrem ligações metadipsídicas entre duas moléculas do radical galoil (FIGURA 8); desta maneira é possível observar o maior grau de substituição da glicose, constituído por 10 a 12 resíduos de ácido gálico (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). Os elagitaninos são formados por moléculas do ácido hexa-hidroxi-difenoil-Dglicose (HHDP), o qual pode se desidratar a partir de uma hidrólise ácida das ligações ésteres formadas entre dois radicais galoil adjacentes, liberando o ácido difênico que ao se rearranjar dará origem a lactona estável dos elagitaninos (FIGURA 9), denominada de ácido elágico (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). FIGURA 8 - Ácido tânico, ligações meta-depsídica (SANTOS; MELLO, 2007). 36 FIGURA 9 - Divisão dos taninos hidrolisáveis (MELO, 2008). 5.1.2. Taninos Condensados Conhecidos como proantocianidinas que através de tratamento com ácido mineral à quente, produzem pigmentos de cor avermelhada como a delfinidina e cianidina, pertencentes à classe das antocianidinas. Os taninos condensados são polímeros e oligômeros constituídos pela condensação de unidades de flavonóides, como a leucoantocianidinas (flavan-3,4-diol) e catequinas (flavan-3-ol) por meio de ligações carbono-carbono (FIGURA 10). Não sofrem hidrólise por não possuírem ligações do tipo éster e meta-depsídica, nem resíduos de carboidratos como os taninos hidrolisáveis. Apresentam alo peso molecular, alguns com até 20 KDa devido a presença de 2 a 50 unidades de flavonóides em suas estruturas químicas (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007; MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005). 37 Catequina (flavan-3-ol) Leucoantocianidina (flavan-3,4-diol) FIGURA 10 - Taninos condensados (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). Os taninos condensados possuem uma enorme diversidade estrutural devido a localização das ligações interflavanas, e em menor proporção, as possíveis derivações como O-metilalação ou O-glicosilações. A estereoquímica conferida pela presença de três centros quirais no anel B e a grande quantidade de grupos hidroxilas, desperta interesse na área médica e nutricional, pois estes compostos apresentam potencial antioxidativo que pode trazer benefícios à saúde humana. (SANTOS; MELLO, 2007; MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005). 5.2. ATIVIDADES BIOLÓGICAS A medicina popular faz uso de espécies vegetais ricas em tanino para o tratamento de moléstias como queimaduras, hemorragias, problemas renais, diarréia, reumatismo, hipertensão arterial, feridas, problemas estomacais (náuseas, gastrite, azia, úlcera), problemas do sistema urinário, infecções nos olhos e garganta, como antiinflamatório e alguns testes in vitro apontam diversas atividades antimicrobianas, contra fungos e bactérias ARAÚJO, 2005; SANTOS; MELLO, 2007). (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; 38 Essas inúmeras atividades farmacológicas supostamente estão ligadas as características gerais da classe, independente se são hidrolisáveis ou condensados; como a capacidade de sequestrar radicais livres e atuar como antioxidante; complexar-se com íons metálicos, pro exemplo, o manganês, o ferro, o vanádio, o alumínio, o cobre, o cálcio, dentre outros; e também com macromoléculas como polissacarídeos e principalmente proteínas. (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005; SANTOS; MELLO, 2007). O emprego terapêutico para curar queimaduras, feridas e inflamações está na capacidade dos taninos formarem uma espécie de camada protetora, através da complexação do tanino com proteínas e/ou polissacarídeos que recobrem os tecidos epiteliais lesionados, promovendo proteção a eles contra a exposição ao meio externo, e provavelmente possível contaminações bacterianas; colaborando para que os tecidos se regenerem naturalmente. Estima-se que a eficácia do tratamento para úlcera gástrica, ocorra da mesma maneira ao proteger a mucosa do estômago (SANTOS; MELLO, 2007). A atividade anti-inflamatória também está relacionada ao potencial de complexação do tanino, testes feitos em ratos demonstraram que esses compostos se ligam a enzimas mediadoras da resposta inflamatória, bloqueando, por exemplo, a hialuronidase ativada e evitando a degranulação de mastócitos (SANTOS; MELLO, 2007). Há também indícios que o tanino possa se complexar com a enzima transcriptase reversa, dificultando a replicação do vírus do HIV (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005). Outra atividade anti-viral seria o fato destes compostos se ligarem às proteínas constituintes do capsídeo do vírus, ou até nos receptores da membrana da célula do hospedeiro, bloqueando a adsorção e invasão do vírus nas células (SANTOS; MELLO, 2007). Devido à capacidade antioxidativa contra o oxigênio do ar, e sequestrante de radicais livres encontrados geralmente no meio intracelular, os taninos podem apresentar um inestimável potencial na inibição de problemas degenerativos como câncer, esclerose múltipla, aterosclerose e também sobre o processo de envelhecimento; pois ao se complexarem com estas espécies oxigenadas reativas, eles podem interceptar o oxigênio ativo de tal forma que o impossibilite de causar futuros danos; pois serão formados apenas radicais estáveis. (SANTOS; MELLO, 2007). 39 Os mecanismos de ação antimicrobiana dos taninos podem ser explicados a partir de três hipóteses. A primeira pressupõe que os taninos atuem inibindo enzimas bacterianas e fúngicas e/ou formando complexos com os substratos das mesmas; a segunda hipótese destaca a ação dos taninos sobre as funções da membrana celular dos micro-organismos, modificando seu metabolismo; e a terceira fundamenta-se na complexação dos taninos com íons metálicos, diminuindo a quantidade de íons essenciais para o metabolismo microbianos, disponível no meio (LOGUERCIO et al., 2005). Várias bactérias são sensíveis aos taninos, por exemplo, Bacillus anthracis, Streptococcus pneumonia, Shigella dysenteriae e Staphylococcus aureus, frente a concentrações mínimas de apenas 0,5 g/L (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005). 5.2.1. Propriedade de Complexação com Proteínas A capacidade de se ligarem às proteínas formando complexos que precipitam em soluções, como o que ocorre com as gelatinas usadas para identificar taninos em amostras, é a propriedade que caracteriza muito bem esta classe de metabólitos secundários. Esta propriedade é atribuída a enorme quantidade de hidroxilas presente na estrutura química dos taninos, sendo estas as responsáveis por formarem as ligações estáveis com as proteínas. Tal capacidade está intimamente ligada a flexibilidade e ao peso molecular do tanino, pois quanto maior a quantidade de grupos galoil-ésteres presentes na estrutura, maior será a afinidade deste compostos para com as proteínas (LOGUERCIO et al., 2005; SANTOS; MELLO, 2007). Porém vale ressaltar que os taninos podem formar complexos reversíveis ou irreversíveis, dependendo do estado de oxidação dos mesmos. As complexações reversíveis se formam a partir das ligações de hidrogênio que ocorrem entre a hidroxila presente nos taninos com a amida das proteínas, e também por meio de interações hidrofóbicas onde a porção aromática dos taninos interage com as cadeias laterais alifáticas ou aromáticas dos aminoácidos, salvo que isto ocorre apenas com taninos não oxidados (SANTOS; MELLO, 2007). Geralmente a complexação do tipo irreversível acontece quando os tecidos da planta são de alguma maneira lesionados, o que abre espaço para oxidação por 40 meio de catálise enzimática ou auto-oxidação. Ao serem oxidados, os fenóis dos taninos são convertidos em quinonas que se ligam aos grupos nucleofílicos da proteína, como o amino da lisina e os sulfidrilos da cisteína; dando origem desta maneira às ligações covalentes (MELO, 2008). Os complexos reversíveis podem ser convertidos em irreversíveis se os mesmos forem mantidos em solução de pH alto ou expostos ao ar, o que promoverá o acontecimento da mesma reação supracitada para os complexos irreversíveis (SANTOS; MELLO, 2007). 5.3. UTILIZAÇÃO INDUSTRIAL Os taninos são amplamente usados no âmbito industrial e até antes de surgir o termo indústria, pois os curtumes que curtiam a pele animal para transformá-la em couro a muitos milênios atrás, usavam de extratos obtidos de plantas taníferas para tal feito. Hoje se sabe que os taninos contribuíam para a obtenção de um material resistente a abrasivos, ao calor e impermeável a água como o couro, por meio da complexação dos taninos com as fibras de colágenos presentes na pele do animal; e além de conferir-lhe resistência e proteção contra a decomposição por microorganismos. O extrato tânico para ser usado nos curtumes era proveniente de árvores ricas em taninos, como a acácia (Acacia mearnsii) e o quebracho (espécies de Schinopsis); mas espécies do gênero Tsuga, Castanea, Quercus e Terminalia, também forneciam tal extrato (MELO, 2008; MELLO; SANTOS; SIMÕES 2007). A sensação adstringente presente em sucos de frutas, bebidas, chás e vinhos revelam ao paladar a presença de taninos, os quais são usados na indústria alimentícia como antioxidantes para seus produtos (MELO, 2008), e no caso do vinho tinto, eles auxiliam no processo de envelhecimento, além de conferirem aparência e sabor distintos ao vinho (SANTOS; MELLO, 2007). Há também o emprego de taninos como base para agentes floculantes e coagulantes utilizados no tratamento de água (MELO, 2008), formação de polímeros aglutinantes a partir da reação entre taninos condensados e formaldeído, os quais desempenham a função de reduzir o fluxo de água nas barragens. Outra utilização está na produção de borracha, de corantes para a indústria têxtil, na estabilização do solo em fundações de construções e na complexação com metais pesados solúveis 41 na água, como o cobre que é usado para preservar a madeira, o ferro utilizado em plantações deficientes do mesmo e ao se ligar o chumbo, contribui para controlar a poluição nas estradas (MELO, 2008; SANTOS; MELLO, 2007). 5.4. PLANTAS TANÍFERAS COM AÇÃO ANTIMICROBIANA Os taninos são metabólitos secundários encontrados em praticamente todas as plantas, pois constituem uma linha de defesa química contra predadores devido a sua adstringência que torna as folhas e frutos impalatáveis aos animais fitófagos. Alguns vegetais que possuem taninos dentre seus constituintes fitoquímicos têm apresentado diversas ações terapêuticas, principalmente antibacterianas; como a espinheira-santa, barbatimão, pitangueira, hamamélis, dentre outras (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAÚJO, 2005). LOGUERCIO et al (2005) Testaram o extrato hidroalcólico a 10% (m/v) de folhas de jambolão sobre 17 bactérias Gram-postivas e Gram-negativas, patogênicas ao ser humano e a animais. O jambolão (Syzygium cumini (L.) membro da família Mirtaceae, oriunda da Índia oriental possui a casca, sementes e folhas ricas em taninos e saponinas. O suco dos frutos é utilizado como adstringente, diurético, antidiabético, estomáquico, contra diarréias crônicas, disenteria e menorragia. A decocção da casca é também utilizada como enxaguante bucal para o tratamento de doenças das vias orais como estomatites, aftas, afecções da garganta, dentre outras. Observou-se pela média dos diâmetros do halo de inibição (em mm), medidos através do método de difusão em ágar que o extrato alcoólico de jambolão apresentou atividade antimicrobiana sobre as 17 cepas testadas, com halos apresentando de 12 a 26,67mm de diâmetro. LIN et al (2011) Extraíram e purificaram 680g do 1,2,3,4,6-Penta-O-Galloyl-βD-Glucopyranose a partir da Eustigma oblongifolium , pertencente a família botânica Hamamelidecae. Testou-se o composto para avaliar a inibição de crescimento e formação de biofilme por Staphylococcus aureus, o qual foi inoculado em 96 poços em placa microtiter de poliestireno. Os resultados obtidos comprovaram que em baixa concentração a substância não é capaz de impedir o crescimento bacteriano desta cepa, entretanto consegue inibir a formação do biofilme sobre superfícies de poliestireno, policarbonato e borracha de silicone, sendo que este último material despertou grande interesse por ser amplamente utilizado no revestimento de 42 cateteres. Concluiu-se que o PGG (1,2,3,4,6-Penta-O-Galloyl-β-D-Glucopyranos) é potencialmente útil para estes dispositivos médicos que ao serem revestidos por substâncias e componentes que o contenham, principalmente a borracha de silicone, poderão evitar a formação de biofilme. Engels et al (2009) Conseguiram obter da manga ( Mangifera indica L.), alguns galotaninos que foram separados por cromatografia líquida de baixa pressão (LPCL), depois submetidos a testes em (HPLC) que resultaram em três extratos puros de taninos hidrolisáveis: o penta-, hexa- e hepta-O-galloylglucose, os quais foram usados em testes de diluição em ágar para se avaliar seu potencial antibacteriano. As bactérias ácido-láticas não foram inibidas, entretanto constatou-se diminuição na proliferação de bactérias Gram-positivas, e bactérias Gram-negativas como a Escherichia coli tiveram crescimento reduzido. Conclui-se que o crescimento bacteriano poderia ser restaurado caso fosse adicionado ferro ao meio de cultura; atribuiu-se o potencial inibitório dos taninos hidrolisáveis à sua propriedade de complexarem com metais, dentre eles o ferro. 6. ÁCIDO GÁLICO O Ácido Gálico é um composto encontrado nos vegetais, trata-se de um metabólito secundário derivado do ácido chiquímico, este que por sua vez desencadeia uma via metabólica importante para as plantas, pois é formado pela condensação de dois metabólitos da glicose, o fosfoenolpiruvato e a eritrose-4fosfato. Quimicamente denominado como ácido 3,4,5-tri-hidróxi-benzóico, o ácido gálico é o principal composto que dá origem aos galotaninos e elagitaninos, os quais são subclasses dos taninos hidrolisáveis, sendo formados pelas reações de esterificação da glicose pelo ácido gálico ou por ligações meta-dipsídicas formadas entre moléculas do mesmo. Sua forma molecular é dada por C6H2(OH)3COOH.(H2O) (FIGURA 11); apresenta-se como pó cristalino de coloração branca ou pálida. É solúvel em acetona, acetato de etila e DMSO, apresenta baixa solubilidade em água fria, e não é solúvel em clorofórmio e benzeno (POLEWSKI; KNIAT; SLAWINSKA, 2002; SANTOS, 2007). 43 FIGURA 11 - Estrutura do ácido gálico (SANTOS; MELLO, 2007). 6.1. BIOGÊNESE Ainda não foi definido como o ácido gálico é sintetizado no vegetal, existem suposições para três possíveis rotas metabólicas que tentam explicar o mecanismo mais provável para tal acontecimento (FIGURA 12). Uma das rotas propõe que a reação se inicie com a L-fenilalanina, a qual é convertida em ácido caféico, posteriormente em ácido 3,4,5-tri-hidroxi-cinâmico e por fim ao ácido gálico; o motivo pelo qual esta rota ainda é questionada, se dá ao fato de nunca ter sido encontrado na natureza um dos precursores que participam desta via, o ácido 3,4,5-tri-hirdroxicinâmico (MELLO; SANTOS, 2007). Outra via sugere que a degradação da cadeia lateral apenas ocorra após uma outra etapa, onde posteriormente ao ácido caféico tem-se a formação do ácido protocatéquico e consequentemente a formação do galato, sendo esta a forma ionizada do ácido gálico (MELLO; SANTOS, 2007). Uma terceira rota foi proposta após testes com vegetais e fungos do tipo Phycomyces. Como os taninos são sintetizados pela via do ácido chiquímico, supõese que ocorra uma aromatização direta do 3-des-hidrochiquimato, reação que poderia levar à formação do ácido gálico (MELLO; SANTOS, 2007). 44 FIGURA 12 - Rotas de síntese do ácido gálico (SANTOS; MELLO, 2007). 6.2. APLICAÇÕES DO ÁCIDO GÁLICO O ácido gálico pode ser obtido de forma industrial a partir de um processo enzimático no qual se utiliza a tanino-acil-hidrolase (E.C.3.1.1.20), comumente chamada de tanase. Esta enzima que pode ser encontrada naturalmente em algumas espécies de fungos e no estômago de ruminantes, é responsável pela hidrólise das ligações meta-depsídicas e ésteres presentes na estrutura química dos taninos hidrolisáveis, como por exemplo; a do ácido tânico que é muito usado para esta finalidade (FIGURA 13). Por realizar estes dois processos de clivagem, a tanase pode ser classificada em tanase estearase e tanase depsidase (FIGURA 14) (BATTESTIN; MATSUDA; MACEDO, 2004; POLEWSKI; KNIAT; SLAWINSKA, 2002). 45 FIGURA 13 - Hidrólise do ácido tânico pela tanase, R1 (galoil) R2 (digaloil) (BATTESTIN; MATSUDA; MACEDO, 2004). FIGURA 14 - Tanase estearase e depsidase (BATTESTIN; MATSUDA; MACEDO, 2004). Uma vez isolado, o ácido gálico ou (GA) abreviação do termo gallic acid; pode ser empregado em indústrias químicas e farmacêutica, como por exemplo, na síntese de ésteres antioxidantes como o pirogalol que é usado na indústria alimentícia e o chamado propil galato (FIGURA 15); utilizado para proteger óleos e produtos ricos em lipídeos contra a oxidação. O GA é aplicado na produção de resinas semicondutoras e trimetropim, um importante antibiótico anti-malárico; possuindo ainda a capacidade de retirar resíduos do ácido hipocloroso, reduzir a peroxidação dos fosfolipídeos presentes no cérebro bovino e quelar metais 46 formando complexos bastante estáveis, por exemplo, com o ferro (III) (BATTESTIN; MATSUDA; MACEDO, 2004; POLEWSKI; KNIAT; SLAWINSKA, 2002). FIGURA 15 - Obtenção do Propil galato (BATTESTIN; MATSUDA; MACEDO, 2004). 6.3 POSSÍVEIS ATIVIDADES FARMACOLÓGICAS Substâncias fenólicas são reconhecidamente detentoras de exímia atividade antioxidante contra o oxigênio do ar, e por atuarem como sequestradores de radicais livres endógenos, despertando o interesse pela possível utilização contra patologias degenerativas, contra o envelhecimento prematuro, processos inflamatórios, cicatrização, dentre outros. Devido ao seu potencial antioxidante, o ácido gálico tem a propriedade de atuar como um ótimo inibidor do oxigênio ativo nos radicais livres que são associados como etiologia e patogenia de diversas doenças, por exemplo: o câncer, a diabetes, problemas cardiovasculares e o processo de envelhecimento (POLEWSKI; KNIAT; SLAWINSKA, 2002; STIEVEN; MOREIRA; SILVA, 2009). Alguns estudos demonstraram que o ácido gálico possui atividade antifúngica contra Fusarium semitectum, Fusarium fusiformis e Alternaria altternata (POLEWSKI; KNIAT; SLAWINSKA, 2002). WU et al (2009) Realizaram testes com Fusarium oxysporum f. sp.niveum em meio de cultura PDA (Potato Dextrose Agar), ao qual foi adicionado artificialmente ácido gálico durante o seu preparo. Esse fungo causa distúrbios vasculares em espécies vegetais como melancia, tomate, feijão, 47 algodão e etc. Avaliou-se o crescimento das colônias em placas, a produção de micotoxinas e enzimas patogênicas. Embora a quantidade de enzimas como pectinase, celulase, amilase e proteinase tenham aumentado na presença do ácido gálico; ele reduziu a virulência do fungo por ter restringido a produção de micotoxina. Nas placas onde foi cultivado, observou-se que o crescimento miceliano tornou-se menor, diminuindo o diâmetro das colônias em relação ao controle, concluindo que o GA possui certa atividade frente ao Fusarium oxysporum f. sp.niveum. JIM et al (2011) Estudaram a ação biológica do ácido gálico como um possível inibidor do fator nuclear (NF)-ĸB acetiltransferase, o qual atua sobre as células da micróglia através da neurotoxina β-amilóide, provocando a disfunção cognitiva. Constatou-se que o GA produziu um efeito protetor sobre as células neuronais por reduzir a granulação e, consequentemente expressão de citocinas, além de inibir o fator kappa B. Concluiu-se que o ácido gálico apresentou uma possível aplicação terapêutica contra a progressão inflamatória da doença de Alzheimer. Estudos utilizaram ácido gálico em formulações cosméticas, assim MANOSROI et al (2011) Pesquisaram sobre a utilização de Terminalia chebula Retz, uma planta pertencente à família Combretaceae, muito difundida na cultura tailandesa por promover a longevidade. Desenvolveu-se um gel que contém em sua formulação uma fração semi-purificada do ácido gálico extraído a partir da T. chebula. Avaliou-se a irritação da fórmula na pele de coelhos, e voluntários humanos. Foi verificada o nível da elasticidade e aspereza da pele, após a aplicação do gel e comprovou-se que a fórmula testada sem o ácido gálico causou irritação na pele dos coelhos, enquanto as formulações que o continham ajudou a reduzir os valores de rugosidade na pele humana. Conclui-se que a adição do GA proferiu maior estabilidade química à formulação e apresentou certa atividade antienvelhecimento. Em relação à ação antibacteriana, (RÚA et al., 2010) Investigaram esta possível atividade com a combinação de metabólitos secundários, para avaliar o efeito destes sinergismos sobre Escherichia coli ATCC 35128. Testou-se associações entre ácido gálico e o ácido protocatéquico; ácido gálico e ácido caféico e quercetina associada a rutina, ambos diluídos em meio nutriente. Aplicou-se estas associações em um sistema modelo de carne, onde obtiveram diminuição do crescimento bacteriano sem morte celular por ambas as combinações a 20 graus C°. 48 Porém as associações mais eficazes foram do ácido gálico com ácido caféico e da quercetina com rutina, pois a 4 graus C°, não detectaram células viáveis após 14 ou 21 dias de incubação, salvo que a combinação quercetina-rutina, demonstrou menor tempo de redução decimal em relação ao ácido gálico com ácido caféico. Os resultados obtidos comprovaram o efeito sinérgico entre os metabólitos, principalmente por serem utilizados em baixas concentrações. VAQUERO RODRÍGUEZ et al (2011) testaram seis compostos fenólicos puros (hidroquinona, timol, carvacrol, hidroxianisol butilado, ácido gálico e galato de octila) a fim de determinar a CMI (Concentração Mínima Inibitória) e a CMB (Concentração Mínima Bactericida) contra várias cepas de Staphylococcus aureus provenientes de carne, produtos lácteos, infecções humanas, surtos de intoxicação e estirpes de referência ATCC (American Type Culture Colection). O galato de octila e a hidroquinona apontaram melhores valores para CMI, 20,89 e 103,05 mg/mL, respectivamente. Para CMB encontraram 40,84; 194,37; 417,46 e 581,90 mg/mL para galato de octila, hidroquinona, carvacrol e timol sequencialmente nesta ordem; salvo que os isolados a partir da carne foram mais resistentes que os advindos dos produtos lácteos. Concluiu-se que cada um dos compostos fenólicos testados apresentaram mecanismos de ação contra S. aureus, sendo o galato de octila o agente antimicrobiano que apresentou maior atividade antioxidante. De acordo com DERITA et al (2009) este derivado do ácido gálico é de interesse industrial, pois pode ser adicionado como antioxidante de produtos alimentícios, assim como outras moléculas derivadas do GA. 6.4. DERIVAÇÃO QUÍMICA DO ÁCIDO GÁLICO Sabe-se que a síntese de análogos a partir de princípios ativos isolados naturalmente tem contribuído para a obtenção de novos agentes terapêuticos. Este fato tem sido evidenciado para o ácido gálico que por ter em sua estrutura três hidroxilas e a função carboxila no carbono 1, permitindo variadas reações de síntese orgânica como metilação, acetilação e esterificação. Os derivados do ácido gálico são amplamente utilizados na indústria alimentícia como antioxidante e também na indústria de cosméticos e farmacêutica. Alguns estudos tem demonstrado que estas 49 substâncias apresentam potencialidade terapêutica, principalmente como anticarcinogênica, antimicrobiana, antiviral, além de atuarem como seqüestradores de espécies reativas de oxigênio (DERITA et al., 2009; ALVES, 2010). Alterações químicas na molécula do ácido gálico podem modificar e até melhorar suas propriedades biológicas. Pesquisas comprovam que a ação fungistática do ácido gálico só ocorre acima de 3.200µg/mL, e alguns derivados como o galato de nonila e o galato de octila apresentam CMI em torno de 25 e 40µg/mL, respectivamente. Outros testes frente ao S. cereviseae observaram uma CMI de 6,25 µg/mL para o galato de nonila e 12,5 µg/mL para o galato de decila. (DERITA et al., 2009; KUBO, 2002). Frente a esses dados DERITA et al (2009) Realizaram testes com 15 galatos (ésteres de metila até octodecila) e outros seis análogos, dentre eles, o pirogalol, o ácido 3,4,5-acetil-benzóico e o ácido gálico, frente a leveduras como C. albicans, fungos dermatófitos como o Microsporum gypseum e fungos hialohifomicetos como Aspergilius flavus e niger. Avaliou-se a importância do comprimento da cadeia carbônica dos compostos, a hidrofobicidade, as hidroxilas livres e os tipos de fungos testados. A CMI de cada composto foi determinada através da técnica de microdiluição em caldo de cultura padronizada pela CLSI (Clinical and Laboratory Standards Institute). Os resultados demonstraram que a série dos 15 galatos de alquila obteve CMI menor que 250µg/mL, os fungos dermatófitos foram os mais sensíveis com CMI na faixa de 8 a 250 µg/mL, as três hidroxilas livres não são suficientes para gerar ação inibitória e a lipofilicidade apontou divergências, não correlacionando os valores da curva com as CMI. O composto que apresentou melhor atividade foi o galato de nonila, e o mecanismo de ação para este e os demais está provavelmente relacionado com a síntese do ergosterol. A partir dos resultados obtidos nos trabalhos, sugerem-se novos estudos mais aprofundados e específicos com a finalidade de descobrir e conhecer melhor as atividades biológicas do ácido gálico e de seus derivados, com a finalidade de se encontrar a melhor maneira de desenvolver um novo fármaco, especialmente antimicrobiano. (GUIMARÃES; MOMESSO; PUPO, 2010.) 50 7. CONCLUSÃO A presente revisão bibliográfica abordou a possível atividade antimicrobiana do ácido gálico. Um composto fenólico denominado quimicamente por ácido 3,4,5tri-hidroxi-bênzóico, sintetizado pelos vegetais através da via metabólica do ácido chiquímico. O ácido gálico pode ser obtido através de processos industriais envolvendo reações enzimáticas a partir da tanase, uma enzima encontrada naturalmente no estômago de ruminantes e também em fungos, capaz de quebrar as ligações meta-dipsídicas entre as moléculas deste ácido que ao estarem interligadas dão origem aos galotaninos e elagitaninos, os quais são subclasses dos taninos hidrolisáveis, ou seja, taninos passíveis de hidrólises por reações ácidas e ação enzimática como da tanase. Os taninos são divididos em hidrolisáveis e condensados, constituem a segunda maior classe de compostos fenólicos encontrados nas plantas, conferindo sabor adstringente e as protegendo contra animais fitófagos, insetos e ataques microbianos por bactérias e fungos. As plantas taníferas, ou seja, produtoras de significante quantidade de taninos são utilizadas a milênios nos curtumes para transformar a pele animal em couro, devido a propriedade destes compostos de formarem complexos com as proteínas. Esses vegetais são utilizados pela medicina popular para o tratamento de feridas, úlceras, queimaduras, diarréia, hemorróidas, inflamações bucais, além de apresentar atividade antimalárica, antifúngica, antibacteriana e antiinflamatória. Plantas como espinheira-santa, barbatimão, hamamélis, pitangueira, entre outras, fazem parte da cultura as popular, e seu uso é difundido a várias gerações. Estes dados foram obtidos através de ferramentas importantes como a etnofarmacologia e etnobotânica que investigam as plantas utilizadas para fins terapêuticos em determinadas culturas, regiões e comunidades. Aliada a estas temos a ciência da farmacognosia, a qual estuda as plantas medicinais, extraindo e identificando os componentes fitoquímicos quanto sua estrutura e propriedades químicas, separando-os em classes, como a dos taninos, o que permite o desenvolvimento de estudos que corroborem a utilização terapêutica de determinadas plantas. Com certeza os vegetais são fonte de descoberta de novas substâncias bioativas, principalmente de possíveis antibióticos, visto que são capazes de 51 sintetizar substâncias que os protegem contra micro-organismos patogênicos. A pesquisa por antibióticos inovadores se intensificou devido ao baixo índice de novos agentes antimicrobianos lançados e principalmente pelo alto índice de resistência encontrado nos micro-organismos, especialmente nas bactérias, frente a grande variedade de agentes antimicrobianos existentes. O lançamento de novos fármacos tem se tornado desafiador para as indústrias farmacêuticas nos últimos tempos, e a situação dos antibióticos é alarmante. O ácido gálico surge como um possível candidato ao desenvolvimento de algum novo fármaco, inclusive como agente antimicrobiano. Estudos in vitro têm demonstrado seu amplo potencial terapêutico e, até o presente momento, as pesquisas com ácido gálico e seus derivados apresentam resultados parciais. É necessário realizar mais testes laboratoriais que avaliem a eficácia do ácido gálico tanto in vitro quanto in vivo, reunindo dados que possibilitem futuramente a síntese de novos medicamentos com ação antimicrobiana. 52 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLINGTON, D. R.; RIVEY, M. P. Quinupristin/dalfopristin: a therapeutic review. Clinical therapeutics, Missoula, v. 23, n. 1, p. 24-44, jan. 2001. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/>. Acesso em: 04 de nov. de 2011. ALVES, C. Q. 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