Diário de Minas, 3 de setembro de 1960, sábado

Diário de Minas
Belo Horizonte
3 de setembro de 1960
BALLET KLAUSS VIANNA CRIA DANÇA BRASILEIRA: PRIMEIRA
APRESENTAÇÃO DE O AMANUENSE BELMIRO SERÁ NA CAPITAL
- “Procuro criar um ballet que seja a expressão mesma da índole do nosso povo.
Não recorro às facilidades e à exterioridades pseudo-folclóricas em que caíram
muitos. Meu objetivo é refletir a alma do povo” – declarou ao reportes o professor
e coreógrafo Klauss Vianna.
O Ballet Klauss Vianna realizará nos próximos dias 10, 11, 12 e 13 deste mês a
sua primeira temporada anual de dança após a fundação oficial como entidade
artística amadora. Atualmente, o dirigente do grupo, Klauss Vianna cria um
programa inteiramente novo, que é apresentado primeiramente para o público da
capital e, mais tarde, nas diversas cidades do interior de Minas e capitais de
outros estados.
Bailarino do Rio.
Este ano foi convidado para tomar parte no festival o primeiro bailarino do Teatro
do Rio de Janeiro (ex-Municipal), Dennis Gray, que é também coreógrafo, tendo
montado, para o Ballet do Rio de Janeiro, uma coreografia que muito agradou à
primeira dama do ballet mundial, Margot Fonteyn.
Dennis Gray montou para o Ballet Klauss Vianna um bailado intitulado Delírio,
inspirado na Rapsódia Sueca de Charles Wildman tendo se encarregado também
dos cenários, figurinos e libreto deste número. Como bailarino Dennis Gray
apresentará um dos números que o tornaram famoso Dança da Fita, trecho do
famoso bailado russo A Papoula Vermelha coreografia de Igor Shwesoff.
Já estão prontos e sendo ensaiados os sete números que serão apresentados
durante a temporada de ballet, que são os seguintes:
1- Concerto Barroco – música de Antônio Vivaldi. Coreografia Klauss Vianna.
2- Jazz – música de John Lewis, com piano e bateria. Coreografia Klauss Vianna.
3- Delírio – música de Charles Wildman. Coreografia Dennis Gray.
4- Arabela, a Donzela e o Mito - baseado no romance O Amanuense Belmiro de
Cyro dos Anjos, dançado sem música, apenas com sons e ruídos.
5- Caso do Vestido – baseado no poema de Carlos Drummond de Andrade.
Coreografia Klauss Vianna.
6- Solidão – música especialmente composta pelo maestro Sérgio Magnani.
Coreografia Klauss Vianna.
7- Dança da Fita – dançado por Dennis Gray.
Originalidade.
Original foi a solução encontrada por Klauss Vianna para o número Arabela, a
Donzela e o Mito, em que os bailarinos dançam acompanhados de sons e ruídos,
pois o bailado não tem música. A parte inicial, na qual o personagem é um
funcionário público, é dançada com o som de uma máquina de escrever. Também
o Caso do Vestido é dançado sem música, sendo o poema falado nos bastidores
por alguns elementos do Teatro Experimental.
Os cenários e figurinos estão sendo cuidadosamente preparados por dois dos
nossos melhores artistas plásticos: Wilma Martins (figurinos) e Augusto Degois
(cenários).
Homenagem e ingressos.
Com o número Solidão, o Ballet Klauss Vianna prestará uma homenagem ao
maestro Sérgio Magnani, autor da partitura, que regerá a orquestra da Sociedade
Mineira de Concertos Sinfônicos durante os espetáculos.
O festival será apresentado nos dias 10, 11, 12 e 13 de setembro. O espetáculo
do dia 12, segunda-feira, será dedicado à orquestra, em benefício da qual
reverterá toda a renda da noite.
Os ingressos para a estréia e para os demais espetáculos já podem ser
encontrados na sede do Ballet Klauss Vianna, à av. Bias Fortes, 532, ou
encomendados pelo telefone 4-2843. Os ingressos para o espetáculo do dia 12
podem ser adquiridos na sede da Sociedade Coral de Belo Horizonte.