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ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE
ESQUIZOFRÊNICO: UM ESTUDO DE CASO NO CAPS ADULTO DE
CÁCERES, MT1
Bárbara Forgiarini Bastos Aniceto
Enfermeira especialista em Saúde Mental,
Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres-MT
Raquel Borges Silva
Enfermeira mestre
Professora do Curso de enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT,
Cáceres-MT
[email protected]
Poliana Roma Greve Nodari
Enfermeira especialista,
Professora do Curso de enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT,
Cáceres-MT
[email protected]
Josué Souza Gleriano
Enfermeiro especialista,
Professor do Curso de enfermagem da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Tangará
da Serra-MT
[email protected]
Ingrid Castrillon De Melo
Enfermeira especialista em Saúde Mental
Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres-MT
[email protected]
Resumo: A esquizofrenia é um desafio para todos os profissionais da saúde que
trabalham com Saúde Mental. Objetivou-se caracterizar o paciente frente à doença e
descrever a assistência de enfermagem prestada ao paciente esquizofrênico no
município de Cáceres-MT. Para tanto foi realizado um estudo de caso. A entrevista
foi realizada no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) Adulto no município de
Cáceres-MT, utilizando um roteiro semi estruturado e análise do prontuário. A
paciente foi diagnosticada na pré adolescência e na época os médicos tiveram
dificuldades para identificar o diagnóstico devido aos sintomas que eram
confundidos com o comportamento apresentado por alguns adolescentes. O início
do tratamento foi muito difícil e houve muitas trocas de medicamentos e crises
recorrentes que deixavam a paciente em momentos de euforia e depressão. À
análise do prontuário não foram identificados registros completos das consultadas
de enfermagem. Os poucos registros eram limitados à “paciente participou de ação
educativas em saúde” e o título da ação. Percebe-se que muitas ações de
enfermagem não foram registradas, ou foram registradas de forma insuficiente. Os
resultados ilustram que o enfermeiro encontra dificuldade ao lidar com os pacientes
esquizofrênicos, não sabendo definir a sua prática nos serviços de saúde mental, já
que demandam um atendimento diferenciado, focalizado na estratégia de
reabilitação psicossocial e não apenas nas habilidades científicas e muito menos
1
O presente artigo foi apresentado no SICI 2015 – Simpósio Internacional de Ciências Integradas,
realizado na UNAERP – Campus Guarujá, em 2015.
serviços de vigilância. Conclui-se que a Enfermagem ainda exerce o papel de
prestador de cuidados, afastando-se cada vez mais das ações definidas dentro dos
limites da prática de enfermagem em saúde mental.
Palavras chave: enfermagem psiquiátrica, SAE, Esquizofrenia
Área de conhecimento: Saúde
1. Introdução
A Esquizofrenia, por ser um transtorno cerebral grave, demorado e debilitante,
é uma patologia na qual desperta muito interesse na área de saúde mental (SILVA,
2006). Esta doença gera um grande impacto, não apenas no portador da doença,
mas em toda sociedade e principalmente a família.
Percebem-se grandes dificuldades e limites para se estabelecer um diagnóstico
de agravos à saúde mental, por isso, uma identificação, diferenciação e
categorização desses agravos carecem da assimilação dos sinais e sintomas,
distinção de outras variáveis e avaliação da realidade e da subjetividade do paciente
(OLIVEIRA, 2006).
A esquizofrenia é um desafio para todos os profissionais da saúde que
trabalham com Saúde Mental (GIACON e GALERA, 2006). Apesar de várias
abordagens sobre o assunto, ainda é um transtorno mental de difícil compreensão.
A equipe de enfermagem, juntamente com a equipe multidisciplinar, visando
novas formas de abordagem para conduzir o paciente com Esquizofrenia, num
atendimento que lhe ofereça convívio social, evitando assim o isolamento (CASTRO
e FUREGATTO, 2008), tem um papel importante na reabilitação dos pacientes que
sofrem com transtornos mentais, como a Esquizofrenia.
Assim, se faz necessário estabelecer articulações da equipe de enfermagem
com outros serviços de saúde, setores e comunidade para exercer uma conduta de
assistência para o indivíduo e seus familiares, visando sua compreensão e (re)
inserção social.
Investigar como se dá a assistência de enfermagem aos portadores e como
eles convivem com a doença é necessário, para que se possam promover
estratégias adequadas de atendimento, tanto para o paciente quanto aos seus
familiares, podendo assim, inseri-los na sociedade de forma digna.
A falta de informação a cerca desses pacientes nos remete a atenção para um
problema, levando ao questionamento, com relação à compreensão da assistência
de enfermagem ao paciente portador de Esquizofrenia.
Com isso, o objetivo deste estudo foi compreender o paciente esquizofrênico
relacionando seu comportamento com a assistência de enfermagem, caracterizando
o paciente frente à doença e descrevendo a assistência de enfermagem prestada ao
paciente esquizofrênico no município de Cáceres-MT.
2. Revisão bibliográfica
O termo esquizofrenia foi criado em 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler.
A palavra derivada do grego “skhiz” (dividida) e “fren” (mente) (BIRCHWOOD, 1989
in TOWNSED, 2002).
Categoricamente, a esquizofrenia é classificada por variedade de sintomas,
mas a maioria dos indivíduos desenvolve de modo lento e gradual, onde passa a
conviver com uma sensação de estranhamento, de que “algo mudou”, sem definir
exatamente o que possa ser.
Há vários tipos de esquizofrenia, o diagnóstico diferencial é feito de acordo os
sintomas predominantes.
Segundo Oliveira et al. (2006), a seguir, estão os tipos de esquizofrenia:

Paranóide: Presença de delírios de perseguição e de grandeza;

Desorganizada: Discurso e comportamento desorganizado, afeto
embotado ou inadequado;

Catatônica: Imobilidade motora (flexibilidade cérea) alternada com
atividade motora excessiva, negativismo em atender a uma solicitação,
mutismo, movimentos estereotipados e repetição de palavras ou sons como
um eco (ecolalia);

Indiferenciada: Associa sintomas dos tipos anteriores;

Residual: Ausência de sintomas produtivos proeminentes,
comportamento desorganizado associado a sintomas negativos.
A esquizofrenia é diagnosticada no fim da adolescência ou começo da vida
adulta. A incidência do aparecimento vai dos 15 aos 25 anos de idade para os
homens e dos 25 aos 35 anos para as mulheres (APA, 2000).
A diferença de idades é esclarecida na literatura da seguinte forma: os homens
passam estresse mais cedo que as mulheres, que apresentam taxas de hormônios
contínuas. Os hormônios femininos têm efeitos semelhados com os neurolépticos,
por isso os sintomas surgem mais tardiamente, apenas quando as taxas hormonais
começam a diminuir (TOSTES, 1989 apud GIACON, 2006).
Nos últimos anos sugere uma prevalência aproximada para 1 ano é de quase
1%. Estima-se que a incidência deve estar entre 1 a 7 casos novos para cada
10.000 habitantes por ano (ASSUMPÇÃO, 2009).
A esquizofrenia é um dos principais problemas de saúde pública da atualidade,
demandando considerável investimento do sistema de saúde e ocasionando amplo
sofrimento para o paciente e sua família (GIACON e GALERA, 2006).
A identificação das pessoas que apresentam transtorno mental, principalmente
a esquizofrenia, demanda um olhar integrado da equipe de saúde, apontando ao
reconhecimento de problemas possíveis de saúde mental, que deriva numa atitude
de descrição, promoção de saúde e/ou reconhecimento, acolhimento e cuidado às
pessoas e famílias em sofrimento (OLIVEIRA et al, 2006).
A assistência de enfermagem em saúde mental antes da Reforma Psiquiátrica
era realizada de forma descompassada, onde o cuidado ao paciente era subsidiar as
internações médicas (DAMÁSIO, MELO e ESTEVES, 2008).
Após a Reforma Psiquiátrica surge um novo conceito de assistência com
propostas diferenciadas.
Para Damásio, Melo e Esteves, (2008)
[...] a função do enfermeiro não admite mais a noção de “cura”, mas de
reabilitação, reinserção social e, portanto, o instrumento para esse fim não
condiz aos meios conservadores como físicos, químicos coercitivos, mas
outros que proporcionem a escuta e a valorização do sujeito-cidadão que
sofre mentalmente.
O enfermeiro, inserido na equipe interdisciplinar e multiprofissional, passa
utilizar o relacionamento terapêutico, para exercer um papel reconhecido como
“agente terapêutico” por sua capacidade de influir nas relações interpessoais, de
modificar o ambiente e de orientar as interações em grupo (DAMÁSIO, MELO e
ESTEVES, 2008).
Os enfermeiros desempenham um papel essencial na assistência ao portador
de esquizofrenia, seja qual for a fase da doença. Na prática, os enfermeiros tem
dificuldade na realização ao cuidado devido à ansiedade frente aos sintomas
provocados pela esquizofrenia, dificultando a comunicação interpessoal e a
concretização da relação de ajuda (CASTRO e FUREGATTO , 2008).
O cuidado torna-se mais apropriado quando o enfermeiro com seu
conhecimento, agilidade técnica e cognitiva, entende a importância de organizar
uma assistência sistematizada, individualizada e, principalmente, articulada com as
necessidades do paciente e da família (FARIA e CHICARELLI, 2009).
Para tanto ele desenvolve a Sistematização da Assistência de Enfermagem
(SAE), que é um processo de Enfermagem que deve ser realizado, de modo
deliberado e sistemático, em todos os ambientes, públicos ou privados, em que
ocorre o cuidado profissional de Enfermagem (BRASIL, 2009).
É necessário enfatizar que a correta utilização da SAE no processo de
enfermagem impulsiona não só a um cuidado humanizado, mas é também voltado a
resultados, e estes, de baixo custo. Ainda segundo a mesma autora, impele as
enfermeiras a realizarem uma autoanálise de suas ações e a refletirem em
melhorias a serem implantadas para um cuidado pleno e efetivo (ALVAROLEFEVRE, 2005).
O Processo de Enfermagem é o método sistemático e organizado, voltado ao
cuidado do cliente em suas necessidades individuais. Consiste de cinco passos,
inter-relacionados e dinâmicos são eles: investigação, diagnóstico, planejamento,
implementação e evolução (ALVARO-LEFEVRE, 2005).
O profissional de enfermagem deve ter em mente que o paciente com esta
patologia é um ser humano singular no qual apresenta alterações comportamentais
e emocionais, assim tendo que estabelecer propósito adequado e determinado na
assistência às necessidades terapêuticas tendo a participação do portador e seu
familiar (CASTRO e FUREGATTO, 2008).
No relacionamento enfermeiro/paciente a comunicação com o paciente, sua
capacidade de ouvir e interagir contribuiu para a promoção do vínculo, do
acolhimento e adesão do paciente ao tratamento psicossocial. Os enfermeiros
devem buscar acolher e apoiar as famílias na superação das dificuldades
enfrentadas, mostrando-lhes a importância do seu papel na facilitação da inserção
social de seu membro adoecido (JORGE et al, 2006).
Apesar da doença, o profissional deve acreditar na remissão dos sintomas e
na capacidade de inserção desse paciente a sociedade. O enfermeiro e sua equipe
devem estabelecer ações para atender as necessidades do paciente com
esquizofrenia (CASTRO e FUREGATTO, 2008).
3. Materiais e Métodos
Trata-se de um estudo qualitativo do tipo estudo de caso, no qual foi realizado
com portador de esquizofrenia no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Adulto de
Cáceres-MT.
A pesquisa qualitativa se preocupa nas ciências sociais, ou seja, ela trabalha
com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos
fenômenos que podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO,
2007).
A pesquisa qualitativa preocupa-se com os aspectos da realidade que não
podem ser quantificados através de fórmulas ou dados estatísticos (MINAYO, 2007).
Estudo de caso consiste em um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos
objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento. Seus
resultados, de modo geral, são apresentados em aberto, ou seja, na condição de
hipóteses, não de conclusões (GIL, 2002).
Os dados foram coletados através de entrevista com o paciente e análise do
seu prontuário.
A entrevista foi realizada no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) no
município de Cáceres-MT, utilizando um roteiro semi estruturado, contendo
perguntas para identificar a compreensão do paciente frente à doença.
Na análise do prontuário foi identificada a assistência de enfermagem prestada
ao entrevistado. As informações presentes no prontuário foram importantes para
identificar como se deu a assistência do enfermeiro, inserido na equipe
multidisciplinar, ao esquizofrênico, seus familiares e a inserção do mesmo a
comunidade.
A realização da entrevista, bem como a análise do prontuário da paciente, se
deu após a aprovação deste projeto de pesquisa por este comitê de ética em
pesquisa (CEP/UNEMAT). O TCLE foi assinado no momento da abordagem dos
pesquisadores aos pesquisados para a explicação dos objetivos da pesquisa e a
adesão ao TCLE, a partir da aprovação deste projeto neste comitê de ética
CEP/UNEMAT.
Os dados serão analisados de acordo com a Análise de Conteúdo Bardin
(2002). De acordo com Bardin (2002) a análise de conteúdo é descrita em três
etapas:
a) Pré-análise: fase de organização e sistematização das ideias, em
que ocorre a escolha dos documentos a serem analisados e a
elaboração de indicadores que orientarão a interpretação final,
cotejando o material coletado com as hipóteses levantadas.
b) Exploração do material: é a codificação dos dados brutos para se
alcançar o núcleo de compreensão do texto, estabelecendo a
categorização dos dados.
c) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: os dados brutos
são cotejados com as categorias construídas procurando tornar
significativas as informações obtidas.
Após esse tratamento, os dados serão apresentados e discutidos com a
abordagem qualitativa, apresentando os dados obtidos com as entrevistas e
selecionando uma fala representativa de um ator social para exemplificar.
O projeto foi encaminhado para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual de Mato Grosso - UNEMAT, onde foi aprovado pelo Parecer
Nº 686.278, de 11 de Junho de 2014.
Os resultados obtidos no estudo são apresentados na instituição, em forma de
monografia e ao término da pesquisa serão disponibilizados os resultados obtidos
para a cidade, e para todos aqueles nos quais possam interessar.
4. Resultados
A.L.A., 35 anos, natural de Cáceres-MT, solteira, sem filhos. Segundo grau
completo, renda familiar é de três salários mínimo, atualmente está desempregada,
reside com a mãe e a tia.
A paciente relata, antes do diagnóstico de Esquizofrenia, que desde criança (7
a 8 anos) sempre precisou dormir acompanhada e de luz acesa, pois, apresentava
pesadelos e visões deixando-a com medo, com episódios de gritos noturnos e
perturbada, a ponto de apresentar desmaios em vias públicas, apresentava também
quadro de insônia persistente que a fazia dormir na escola durante o dia. Os
acontecimentos eram relatados aos pais que por sua vez não acreditavam.
Na adolescência tinha dificuldades para se alimentar, por sentir muitas
náuseas. A primeira vez a se falar na doença foi aos 11 anos, sem definir um
diagnóstico, mas fazendo uso de medicação para epilepsia. O início da doença foi
muito difícil, pois, o diagnóstico era incerto e houve muitas trocas da medicação, e a
cada troca ela apresentava recaída de alguns sintomas que já vinham apresentando
melhoras. As mudanças da infância para a adolescência muitas vezes contribuíram
para dificultar o diagnóstico, pois, os médicos consideravam que eram
comportamentos relacionados à “adolescência”. Quando estudava havia muitas
crises.
Somente aos 15 anos foi conclusivo o diagnóstico da doença tendo como
enfoque maior hereditariedade, pois sua avó, mãe de seu pai apresentava os
mesmos sintomas. A paciente relata que estava com a irmã mais velha, que a
apoiou em todos os momentos junto com os familiares. Ao descobrir a doença
tentou suicídio. Foi encaminhada a ser internada no Adauto Botelho em Cuiabá,
porém a família não permitiu.
Após descobrir o diagnóstico, deu-se início ao tratamento (15 anos) em Cuiabá,
acompanhada pelos médicos do Adauto Botelho ou na maioria das vezes, pelos
médicos das Policlínicas da Capital. Hoje com 35 anos, suas consultas com o
médico é de 3 em 3 meses no CAPS Adulto de Cáceres. Conforme a regressão das
crises, as medicações foram trocadas.
No CAPS Adulto, ao iniciar seu tratamento, no ano de 2009, a paciente era
atendida por médico psiquiatra, psicóloga, enfermeira, terapeuta ocupacional e
assistente social.
Para a paciente a assistência do Enfermeiro, sintetizava em aplicar injeções,
vacinas e dar alimentação.
De acordo com a paciente, o relacionamento paciente-profissional (enfermeiro)
no CAPS era tranquilo, “ela media a pressão”. Relata que teve um tempo no CAPS
onde havia uma enfermeira muito boa, carinhosa, onde solicitou vários exames,
inclusive de vista, que diagnosticou astigmatismo e miopia.
Perante a análise do prontuário pode-se observar que o paciente é inserido
através de uma ficha de acolhimento, como um contrato individual. A assistência é
voltada a uma ficha de avaliação de Enfermagem que contém exame físico sucinto.
Na filha de evolução é realizado pelo Enfermeiro (a) anotações acerca de aferição
de pressão, aspectos como interação social, medicação, emocional e a participação
em atividades proposta pelo serviço de saúde mental.
Atualmente o CAPS não possui médico psiquiatra e enfermeiro. Suas
atividades resumem-se em palestras as terças-feiras e atividade física as quintasfeiras, “quando tem” (relato da paciente).
5. Discussão
A esquizofrenia é bastante variada e influenciada por uma série de
fatores, tais como: idade de início da doença, tipo de esquizofrenia, gênero,
além de fatores ambientais e individuais que podem interferir no seu
prognóstico (MAIA e TEGAN, 2004).
Para Faria e Chicarelli (2009), a gravidade dos sintomas, capacidade de
adaptação à realidade, intervenção farmacológica, adesão ao tratamento, entre
outros também dificultam e muito um prognóstico correto. Impede ainda, quando o
início se dá na infância, pois a dificuldade de distinguir um quadro psicótico na
infância do mundo fantasioso da fase normal do desenvolvimento é quase
impossível (MAIA e TEGAN, 2004).
Por ser uma doença de difícil diagnóstico acaba sendo confundida com outras
doenças como Transtorno Bipolar, ocorrendo uso inadequado de medicações,
mascarando ainda mais os sinais e sintomas da Esquizofrenia (MAIA e TEGAN,
2004).
Assumpção (2009), acrescenta que o tratamento é complexo e abrange
distintas modalidades de abordagem, não somente a eliminação dos sintomas
produtivos da doença, presente na fase aguda, mas cada vez mais o que se procura
é a recuperação da funcionalidade do paciente em sua vida diária.
De acordo Barlow e Durand (2010), o índice de esquizofrenia é equivalente
para homens e mulheres, cerca de 1% da população desenvolverá a doença em
alguma ocasião.
Nos homens se inicia dos 15 a 25 anos e nas mulheres dos 25 a 35 anos
respectivamente. Há grandes transformações físicas, emocionais e aquisição de
responsabilidades no final da adolescência para a vida adulta. O surgimento da
psicose se dá, muitas vezes, pela pressão que o jovem sofre, devido a essas
mudanças (TOSTES, 1989 apud GIACON, 2006).
No período em que a família se encontra com a nova posição, ocorre uma
desordem do grupo na tentativa de se adaptar. Diante disso, há uma necessidade de
ajudar está família, pois sua adequação pode colaborar pouco para estabilização e
melhora do paciente, levando todo grupo ao sofrimento mental (SCHNEIDER, 2000
apud GIACON, 2006).
Para Santos e Capocci (2003), isso acontece porque os familiares não tem
conhecimento e informação a cerca da patologia e não sabem como proceder com o
familiar doente.
Cabe de alguma forma aos familiares do portador de esquizofrenia, cuidar e
administrar o membro que sofre, cabe a ela promover o contato entre o doente e os
serviços de saúde existentes (VILLARES, 1999 apud SANTOS e CAPOCCI, 2003).
As redes de assistência psicossocial seguem o princípio de descentralização e
da territorialização, que tem como base não só o diagnóstico e a cura da doença,
mas que cuida do paciente como indivíduo e cidadão (DAMÁSIO, MELO e
ESTEVES, 2008).
A assistência psicossocial é um conjunto de atividades que visa melhorar a
qualidade de vida das pessoas que apresentam problemas severos e persistentes
no campo de saúde mental (ROCHA, 2007 apud DAMÁSIO, MELO e ESTEVES,
2008). Essas atividades incluem coordenação de grupos de pacientes em oficinas e
outros temas, e visita domiciliar o que ajuda o paciente e a sua família a conviver
com a sociedade (CASTRO e FUREGATO, 2008).
Na assistência psicossocial, os pacientes têm a sua disposição equipes
multidisciplinares para o acompanhamento terapêutico no serviço de saúde o que irá
promover a inserção social do mesmo na comunidade (DAMÁSIO, MELO e
ESTEVES, 2008).
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são considerados suporte de
mudança do modelo de atenção em saúde mental, possibilitando o atendimento à
demanda crescente de pacientes em sofrimento psíquico e deixando de lado as
internações em hospitais psiquiátricos e mantendo um tratamento junto à família e
amigos (DAMÁSIO, MELO e ESTEVES, 2008).
Porém, Esperidião et al (2009) ressalta que o enfermeiro ao atuar em serviços
de assistência psiquiátrica como o CAPS, se depara com a falta de conhecimento
específico sobre a área vivendo uma situação embaraçada de papéis.
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) caracteriza-se por porta de entrada
preferencial do SUS, inclusive de pacientes que necessitam de cuidado em saúde
mental. Deve incluir intervenções básicas como psicoeducacionais simples e a
intermediação de ações intersetoriais (BRASIL, 2013).
Atualmente no SUS há uma grande quantidade de pacientes portadores de
doenças mentais, porém esses pacientes são atendidos por generalistas que visa
apenas o fornecimento de medicações (BRASIL, 2013).
Há que fornecer cuidados também as comorbidades clínicas, muitas vezes
negligenciado haja vista que um paciente esquizofrênico faz uso de medicações
muito forte e que podem inclusive agravar o quadro (BRASIL, 2013).
Chaves (2007), diz que os profissionais de enfermagem devem respeitar cada
paciente individualmente realizando um diagnóstico diferenciado a cada um. Para o
enfermeiro que trabalha com clientes com esquizofrenia, as questões de
autopercepção incluem lidar com os sintomas psicóticos, temer pela segurança
pessoal e lidar com a frustração resultante de recidivas e repetidas admissões
hospitalares (VIDEBECK, 2012).
Ensinar simultaneamente o paciente e a família sobre o manejo dos sintomas e
a adesão aos medicamentos é útil. A educação do paciente e de sua família pode
também dissipar mitos e oferecer sugestões para a melhora da comunicação com a
equipe (STUART e LARAIA, 2001).
Para Giacon e Galera (2006), as ações de enfermagem são voltadas as
necessidades de cada família individualmente, tendo como princípio a reorganização
dos sintomas dos pacientes e uma prevenção para futuros episódios, melhorando a
qualidade de vida do paciente e grupo familiar.
O enfermeiro precisar estabelecer uma relação terapêutica, para isso necessita
de paciência, fornecendo explicações claras, objetivas e de fácil compreensão,
estabelecendo ao paciente uma relação de confiança, proporcionando uma
orientação voltada à realidade (VIDEBECK, 2012).
Giacon e Galera (2006) destacam que as ações de enfermagem discutidas na
literatura são:
implementar avaliações biopsicossociais com atenção às características
culturais do paciente; criar e implementar planos para melhorar as
condições de saúde do paciente e de sua família; orientar paciente e família
sobre as características da doença, do tratamento e sobre os recursos
disponíveis; promover e manejar, dentro da saúde mental, os efeitos da
doença através do ensino, da pesquisa, proporcionando adequado
aconselhamento à família e ao paciente; manejar e coordenar sistemas de
integração de cuidados que integrem as necessidades do paciente e da
família, promovendo um entendimento e uma melhor aceitação da doença,
o que leva à melhor adesão ao tratamento e uma melhor reabilitação social.
Damásio, Melo e Esteves, (2008) descrevem que o enfermeiro encontra
dificuldade ao lidar com os pacientes esquizofrênicos, não sabendo definir a sua
prática nos serviços de saúde mental, já que demandam um atendimento
diferenciado, focalizado na estratégia de reabilitação psicossocial e não apenas nas
habilidades científicas e muito menos serviços de vigilância.
É importante observar que a maioria dos enfermeiros (a) ressaltam a falta de
preparo para atuarem em Saúde Mental, pois alegam não estarem informados sobre
as mudanças políticas que vem ocorrendo na área (OLIVEIRA e ALESSI, 2003).
Com base em seu pouco conhecimento no assunto e concentrar-se em ações
de setor burocrático-administrativo, o enfermeiro acaba se afastando da parte
integrada e efetiva das ações ao paciente com transtorno mental (ESPERIDIÃO et
al, 2011).
Os enfermeiros mantêm as práticas tradicionais – triagem e controle
principalmente medicamentoso dos pacientes em crise – embora o discurso
aponte para atividades de relacionamento interpessoal e trabalho
interdisciplinar (OLIVEIRA e ALESSI 2003 apud MONTEIRO e ROCHA,
1998).
O ensinamento Enfermagem Psiquiátrica/Saúde Mental encara o desafios de
uma nova abordagem onde busca romper o modelo de atendimento que foca
apenas nos sintomas da doença, em atendimento as orientações das Diretrizes
Curriculares Nacionais (FERNANDES et al, 2009).
A enfermagem em saúde mental é abordada pelas instituições de ensino por
um processo teórico-prático conservadores, pautando o princípio a Psiquiatria Asilar
com ações curativista (SILVA et al, 2004),
Fernandes et al (2009) ressalta ainda que é preciso que as instituições
formadoras venham requerer a reconstrução dos seus Projetos Políticos
Pedagógicos no que se trata à atenção a saúde mental, capazes de agirem aos
princípios propostos pela Reforma Psiquiátrica, constituindo profissionais com
pensamentos críticos para avaliar e intervir nos problemas de saúde de cada
indivíduo.
6. Conclusões
A Esquizofrenia é um transtorno ainda de difícil compreensão, pois os
enfermeiros apresentam certas dificuldades frente a este transtorno mental, devido à
complexidade da doença e seus sintomas dificultam o diagnóstico preciso, trazendo
assim, certo prejuízo ao tratamento.
Diante do estudo de caso nota-se que a Enfermagem ainda exerce o papel de
prestador de cuidados, afastando-se cada vez mais das ações definidas dentro dos
limites da prática de enfermagem em saúde mental. As ações de enfermagem se
distanciam cada vez mais ao atendimento proposto pela Reforma Psiquiátrica que
incorpora a característica psicossocial, levando a estratégias de ações voltadas na
concepção organicista.
É evidente que as ações do enfermeiro como aferição de pressão, aplicação de
injeção e vacinas e fornecimento de alimentação são pertinentes ao exercício da
Enfermagem, porém não devem limitar ou se sobrepor aos cuidados com os
usuários dos serviços em Saúde Mental.
É valido ressaltar que dirigir ações voltadas à família do paciente, favorece o
tratamento, pois dessa forma estrutura-se a relação familiar/profissional/serviço.
Enxergar o familiar como parceiro na busca do cuidado ao portador de esquizofrenia
é essencial e potencializa o cuidado, ajudando-o a enfrentar a doença e as crises,
tão logo se reinserindo na sociedade.
Vale lembrar, tão importante como à prestação do cuidado é também a
documentação escrita que foi usada, pois muitas decisões legais baseiam-se de que
“se não foi registrado, não foi feito”. As anotações nos permitem avaliar de forma
considerável as negligencias por parte da Enfermagem no que se refere o cuidado
prestado ao paciente com esquizofrenia.
Espera-se que este estudo possa refletir e estimular a investigação acerca da
formação e preparo dos profissionais de Enfermagem diante da realização dos
cuidados em pacientes com transtornos mentais, especificamente para este estudo
a esquizofrenia em serviços de Saúde Mental.
7. Referências
ALVARO-LEFEVRE, R. Aplicação do processo de enfermagem: promoção do
cuidado colaborativo. São Paulo: Artmed. 5ª ed, 2005.
APA (American Psychiatric Association). Diagnostic and stafistical manual of
mental disorders (4th ed., text revision). Washington, DC: American Psychiatric
Association, (2000).
ASSUMPÇÃO, T. M. Esquizofrenia. In: ASUMPÇÃO JUNIOR, F. B. Psicopatologia:
Aspectos Clínicos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução COFEN nº 358. Dispõe sobre a
Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do
Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre
o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Brasília:
Ministério da Saúde, 2009.
________. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Caderno de
Atenção Básica nº 34: Saúde Mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
CASTRO, S. A.; FUREGATO, A. R. F. Conhecimento e atividades da enfermagem
no cuidado do esquizofrênico. Revista Eletrônica de Enfermagem. v. 10, n. 4, p.
957-65, 2008. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n4/v10n4a08.htm.
Acesso em: 04/12/2013.
DAMÁSIO, V. F.; MELO, V. C, ESTEVES, K. B. Atribuições do Enfermeiro nos
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ESPERIDIÃO, E.; CRUZ, M. F. R.; SILVA, G. A. Perfil e atuação dos Enfermeiros da
Rede Especializada em Saúde Mental de Goiânia-Goiás. Revista Eletrônica de
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FARIA, E. F.; CHICARELLI, A. M. Assistência de enfermagem ao paciente portador
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