ISOLAMENTO DE LINHAGENS DE BACTÉRIAS LÁTICAS DE PRODUTOS VEGETAIS PROVENIENTE DA REGIÃO DO SEMI-ÁRIDO BAIANO, VISANDO A SUA UTILIZAÇÃO EM PROCESSOS BIOTECNOLÓGICOS. Ana Paula OLIVEIRA1, Elinalva Maciel PAULO2, Ivelise SANTIAGO³ 1 Bolsista PROBIC/UEFS, Graduanda do curso de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, email: [email protected] 2 Orientadora: Docente do Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, email: [email protected] ³Participante do Projeto, Graduada em Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Feira de Santana, email: [email protected] Palavras chave: Semiárido, bactérias láticas, isolamento bacteriano. Introdução A região do semiárido baiano é considerada um ambiente extremófilo, contendo uma vasta biodiversidade de micro-organismos. Dentre eles destacam-se os microorganismos pertencentes ao grupo das bactérias láticas. Estas possuem potencial biotecnológico de grande interesse industrial (PAULO, 2010). A importância de tais bactérias reside no fato da maioria delas serem seguras para consumo humano, não causando enfermidades aos consumidores, razão pelo qual são bastante utilizadas como culturas iniciadoras em alimentos fermentados, como produtos probióticos, bioconservantes de alimentos e como inibitórios de patógenos causadores de infecção alimentar (PAULO, 2010). Os vegetais são um meio adequado para o crescimento destes micro-organismos. Esse crescimento é favorecido também pela alta atividade de água, baixa acidez e potencial de oxi-redução relativamente alto dos vegetais (FRANCO, 2002). O pH destes produtos não favorece, em geral, a proliferação de micro-organismos, principalmente os patogênicos, podendo haver apenas desenvolvimento de micro-organismos deteriorantes como bolores, leveduras, bactérias lácticas e outros microrganismos ácido tolerantes como bactérias acéticas. (TORREZAN, 2000). Numa perspectiva biotecnológica, as BAL têm um potencial de aplicação diversificado, desde o controle do processo fermentativo na produção de alimentos fermentados até a sua utilização como probióticos na saúde humana e animal (INÊS et al., 2008). De acordo com o exposto este trabalho tem como objetivo obter bactérias láticas provenientes da biodiversidade microbiana da região do semiárido baiano com o intuito de utilizá-las como cultura "starter" na elaboração de produtos fermentados derivados do leite. Materiais e métodos Foi utilizado a uva como substrato para isolamento das BAL. A amostra foi coletada em feira-livre localizada na cidade de Feira de Santana-BA, uma cidade integrante do semiárido baiano. Todos os procedimentos de coleta e transporte da amostra foram realizados de forma asséptica. Isolamento e caracterização morfo-fisiológica dos isolados de Bactérias Láticas O isolamento das BAL procedeu-se de acordo com Paulo (2010), onde foi utilizado o meio DE MAN, ROGOSA e SHARPE - MRS (1960). Inicialmente realizaram-se testes preliminares de identificação de bactérias láticas que consistiu em: coloração de Gram, teste da catalase e redução do nitrato a nitrito. Em seguida, realizaram-se alguns testes de caracterização bioquímica dos isolados: produção de gás a partir da glicose; lactofermentação a 15ºC, 35ºC e 45ºC; tolerância bacteriana ao cloreto de sódio em diferentes concentrações (4%, 6% e 8%); produção de amônia a partir da arginina; fermentação de diferentes carboidratos (CHAVES, 1999). Todos os testes foram realizados em triplicatas. Caracterização molecular dos isolados de Bactérias Láticas A caracterização molecular foi realizada através do sequenciamento do gene 16S. Para tal, procedeu-se a extração de DNA, Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) e Eletroforese, seguindo os procedimentos de Moitinho (2013). As amostras obtidas foram sequenciadas no GenBank pelo programa BLAST. Resultados e Discussões No primeiro teste não houve crescimento de bactérias láticas, sendo observado apenas o crescimento de leveduras que pode ser justificado pelo baixo pH (1,5) que a amostra possuía antes da diluição. No segundo teste foi adicionado o suco de uva comercial diluído que contém anti-fúngicos (sorbato de potássio) utilizado com o objetivo de inibir o crescimento de leveduras. Foi adicionado também 2% de frutose que de acordo com Stamer (1970) é responsável pelo início do crescimento das BAL. Porém, foi observado um crescimento pequeno de BAL, talvez por conta da concentração do sorbato de potássio. No terceiro teste foi utilizado o suco de uva comercial diluído em 40% e 2% de frutose, o que possibilitou um maior crescimento de BAL na amostra. O pH também foi de grande importância para o crescimento destes micro-organismos, pois inicialmente encontrava-se a 1,5 e foi corrigido para 5,0 no segundo e terceiro teste. Segundo Inês et al., (2008), o pH é um dos parâmetros mais importantes que afeta o comportamento das BAL na uva, influenciando a duração da fase de latência, a taxa de crescimento e consequentemente a duração da FML (Fermentação Malolática), as espécies que crescem no vinho, o seu comportamento metabólico e a sua sobrevivência. O etanol, metabolito principal resultante da FA (Fermentação Alcoólica) por Saccharomyces cerevisiae, também afeta os parâmetros de crescimento das BAL e a sua atividade maloláctica. A capacidade de sobrevivência e crescimento das BAL decresce à medida que as concentrações de etanol aumentam (WIBOWO et al., 1985). Devido as dificuldades para isolamento, foram obtidas apenas 9 colônias da Uva, sendo estas purificadas no meio MRS através do método de semeadura em estria composta com esgotamento de inoculo. Dentre as 9 colônias isoladas, 7 foram bacilos Gram-positivos, 2 foram cocobacilos Gram-positivos e todos os isolados apresentaram catalase negativa. Os isolados foram preservados em meio LEL (Leite extrato levedura) e acondicionados imediatamente no ultra freezer, para testes posteriores (PAULO, 2010). De acordo com os critérios de Chaves (1999), no teste de produção de gás a partir da glicose, 7 isolados foram considerados homofermentativos, por não produzirem gás e 2 isolados foram consideradas heterofermentativos, por produzirem gás. No teste de lactofermentação apresentado, observa-se que dos 9 isolados, todos cresceram a 35ºC, sendo todos os integrantes do grupo das bactérias láticas que são considerados essencialmente mesófilicos. Nas demais temperaturas houve variação dos isolados com relação ao crescimento neste substrato; crescimento a 15ºC e a 45°C, crescimento a 15ºC, mas não a 45ºC, crescimento a 45ºC, mas não a 15ºC. Também neste teste de lactofermentação foram observadas algumas características importantes para identificação dessas bactérias láticas, a saber; aspecto do crescimento no meio LDR 10%, produção de soro, aspecto do coagulo (firme ou caseínoso) e produção de gás nas diferentes temperaturas. As informações de crescimento das bactérias láticas no leite são importantes para a escolha da linhagem que devera ser utilizada na elaboração dos tipos de produtos derivados de leite fermentado. No teste de tolerância bacteriana ao cloreto de sódio apresentou crescimento de todos os isolado a 4 %, 6% e 8%, podendo assim serem classificados como halófilos. Segundo Poffo (2011), as taxas de crescimento de algumas bactérias tendem a aumentar com o aumento da concentração salina. No teste da arginina apenas 2 isolados produziram amônia. A capacidade das culturas de fermentar diferentes carboidratos foi testada como descrita por Davis (1955) (Tabela 1), sendo crucial para a identificação dos isolados. Os resultados obtidos foram classificados segundo o Manual Bergey. Desta forma identificou-se que os isolados possam pertencer aos gêneros Lactobacillus e Leuconostoc. TABELA 1: Fermentação em diferentes açúcares Amostras A B C D E F G + + + + + + U103 + + + + + + U203 + + + + + + U204 + + + + + + U205 + + + + + + U206 + + + + + + U207 + + + + + + MC4 + + + + + + MC7 + + + + MC8 A-Arginina. B-Manitol. C-Esculina. D-Lactose. E-Arabinose. F-Trealose. G-Sorbitol. H-Amido. H - Para a realização da identificação molecular foram selecionadas as estirpes que tiveram a identificação fenotípica referente ás bactérias de interesse na produção de produtos fermentados. Após a extração do DNA foi feita uma eletroforese para confirmação, prosseguindo com a realização da PCR, sendo realizada outra eletroforese para confirmar a amplificação. As bactérias foram identificadas no GenBank pelo programa BLAST como mostra o resultado na tabela 2. Tabela 2. Identificação das sequências. Amostra Linhagem Identificada U103 MC08 Acetobacter malorum Staphylococcus sp. clone CH2 Percentual de identificação 95 97 Na identificação fenotípica os isolados U103 e MC08 foram identificados como pertencentes ao grupo de bactérias láticas. No entanto, na identificação molecular foi encontrada alta similaridade destes isolados para as bactérias Acetobacter malorum e Staphylococcus sp. clone CH2, respectivamente. O gene 16S rRNA é uma região altamente conservada entre diferentes especies de bacteria e archaea, sendo este gene usado para estudos filogenéticos (WEISBURG, 1991). Por ser um primer universal pode ter acontecido o fragmento de DNA extraído das bactérias láticas possuírem sequências de nucleotídeos de alta similaridade com as espécies encontradas. Considerações Finais As bactérias do ácido lático isoladas da Uva são utilizadas na elaboração de diversos produtos, a saber, bebidas láticas ou alcoólicas fermentadas, constituindo serem de grande potencial biotecnológico. Os resultados da identificação molecular não foram congruentes com os resultados da identificação fenotípica, isso pode ter acontecido porque foram utilizadas regiões intergênicas universais para bactérias. Sendo o grupo das Bactérias Láticas constituído por espécies diversas, sugere-se que sejam construídos primers específicos para o grupo das BAL e que se realize novos processos de amplificação e sequenciamento do DNA destas estirpes. Referências Bibliográficas CHAVES, A. H. et al. Isolamento de Lactobacillus acidophilus a Partir de Fezes de Bezerros. Rev. bras. zootec., v.28,n.5, p.1086-1092, 1999. DAVIS, G. H. The classification of lactobacilli from the human mouth. Journal of Geberal Microbiology, 13: 481-93, 1955. DE MAN, J.C.; ROGOSA, M.; SHARPE, M.E. A medium for cultivation of lactobacilli. J. Appl. Bacteriol., 23,130-135, 1960. FRANCO, Bernadette D. LANDGRAF, M. DESTRO, M. T. Microbiologia dos Alimentos. Editora Atheneu, São Paulo, 2002. INÊS, A., Tenreiro, T., Tenreiro, R., Mendes-Faia, A. (2008), Revisão: As bactérias do ácido láctico do vinho – Parte I, Ciência Técnica Vitivinícola 23, 81-96. PAULO, E. M. Produção de exopolissacarídeos (EPS) por bactérias láticas visando microencapsulação de Lactobacillus acidophilus La-5 pelo processo de Spray drying. 2010. Tese 212f. (Doutorado em Biotecnologia), Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2010. POFFO, F. SILVA, Marcus A. C. 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