Artigo Original Valor do protocolo diagnóstico e terapêutico no tratamento do câncer da cabeça e pescoço no Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis, São Paulo Value of diagnosis and therapeutic protocol on the treatment of head and neck cancer at Department of Head and Neck Surgery and Otorhinolaryngology of Hospital Heliópolis, São Paulo Resumo Introdução: Cerca de 500 casos novos de câncer de cabeça e pescoço são atendidos anualmente no Hospital Heliópolis (SP). As taxas de sobrevida global em cinco anos variam com o sítio do tumor e seu estadiamento e, assim sendo, torna-se necessário o estabelecimento de diretrizes de tratamento visto que na experiência de grupos de ponta predominam indicações monoterápicas nos casos iniciais (I e II) e politerápicas nos avançados (III e IV). A tomada da melhor decisão terapêutica passa drasticamente pela mudança do paradigma, norteado pelos resultados da literatura, onde constatamos resultados de sobrevida nem sempre satisfatórios. Como paradigma terapêutico no câncer de cabeça e pescoço, a abordagem deve ser multiprofissional ad initio. Métodos: No Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis (SP) de 2000 a 2010, 1908 pacientes foram matriculados no Registro Hospitalar de Câncer, dos quais 1537 eram neoplasias epidermoides e 351 outras neoplasias. A faringe, laringe, boca e glândulas salivares corresponderam com 80,54% dos casos. O tratamento da lesão primária se baseou na ressecabilidade, dano estético e/ou funcional, autonomia de escolha e condições clínicas e a abordagem cervical dependeu da localização da lesão primária ou da presença da metástase linfonodal. Ambulatoriamente os pacientes foram acompanhados trimestralmente com exame físico loco-regional e exames de imagem. Os pacientes diagnosticados com recidiva tumoral foram avaliados quanto à possibilidade de resgate cirúrgico e/ou radioterápico, além de protocolos de quimioterapia de suporte. Para aqueles sem possibilidade terapêutica considerou-se as técnicas de paliação oncológica com participação multiprofissional, além de suporte familiar. Resultados: Sua aferição é feita por meio da sobrevida global e livre de doença, tendo os estádios I e II cifras de remissão há 5 anos em torno de 100%. Porém, 10% a 15% evoluem mal, com metástases regionais ou à distância, o que leva a seguimento cuidadoso nos 2 primeiros anos, introduzindo atualmente o uso bienal de PetCT. Os estádios III e IV cursam com 40% de recidiva regional e 10% à distância com Otávio Alberto Curioni 1 José Francisco de Sales Chagas 2 Marcelo Marcucci 3 Abrão Rapoport 4 Rogério Aparecido Dedivitis 5 Cláudio Roberto Cernea 6 Lenine Garcia Brandão 7 Abstract Introduction: about 500 new cases of head and neck cancer are treated annually in Hospital Heliópolis (SP). The overall survival rates in five years vary with the site of the tumor and its staging and, therefore, becomes necessary to establish treatment guidelines as in the experiences of the top groups the monotherapy predominate in early cases (I and II) and polytherapy in advanced (III and IV). Taking the best decision for changing dramatically the paradigm, guided by the results of the literature, where survival results are not always satisfactory. As a therapeutic paradigm in head and neck cancer, the approach must be multidisciplinary “ad initio”. Method: at the Department of Head and Neck Otolaryngology Heliópolis Hospital (SP) from 2000 to 2010, 1908 patients were enrolled in the Hospital Cancer Registry of wich 1537 were squamous cell cancer and 351 other neoplasia. The pharynx, larynx, mouth and salivary glands corresponded to 80.54% of cases. The treatment of the primary lesion was based on resectability, aesthetic damage and/or functional autonomy of choice and clinical conditions and cervical approach depended on the location of the primary lesion or the presence of lymph node metastasis. Ambulatory patients were followed quarterly with locoregional physical examination and imaging studies. Patients diagnosed with recurrent tumor were evaluated for the possibility of salvage surgery and/or radiotherapy, and support chemotherapy protocols. For those without therapeutic possibility was considered the techniques of palliative cancer with multidisciplinary involvement, and family support. Results: their measurement is performed through overall and disease free survival, and the stages I and II figures of remission at 5 years at around 100%. However, 10% to 15% regional or distant metastases, which leades to careful follow-up in the first 2 years, introducing the use of currently biennial PetCT. The stages III and IV course with 40% of regional recurrence and 10% at a distance with a predominance of combination therapy and should be included as a routine adjuvant and neoadjuvant chemotherapy, which although not proven their effectiveness in increasing overall survival increases by 20% disease-free survival. 1)Doutor pelo Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Chefe do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis, São Paulo. 2)Doutor em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Cirurgião do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis, São Paulo. 3)Doutor em Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Chefe do Departamento de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Heliópolis, São Paulo. 4)Professor Livre Docente pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diretor Técnico de Depto. do Hospital Heliópolis, São Paulo. 5)Professor Livre Docente. Supervisor do Grupo de Laringe do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 6)Professor Associado do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 7)Professor Titular do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Instituição: Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis. São Paulo / SP - Brasil. Correspondência: Abrão Rapoport - Rua Cônego Xavier, 276, 5° andar - São Paulo/SP - Brasil - CEP 04231-030 - E mail: [email protected] Recebido em 29/12/2011; aceito para publicação em 04/11/2012; publicado online em 17/12/2012. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 4, p. 159-162, outubro / novembro / dezembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 159 Valor do protocolo diagnóstico e terapêutico no tratamento do câncer da cabeça e pescoço no Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis, São Paulo. predomínio de associação terapêutica, devendo-se incluir de rotina a quimioterapia de adjuvância e neoadjuvância, que apesar de não estar comprovada sua eficácia no aumento da sobrevida global, aumenta em 20% a sobrevida livre de doença. O seguimento cuidadoso inclui a PetCT para detecção precoce de recidivas, onde poderá haver necessidade de mobilização de equipe multidisciplinar para paliação terapêutica e terminalidade de vida. Curioni et al. The careful follow-up includes PetCT for early detection of recurrence, where there may be need to mobilize multidisciplinary therapy for palliation and terminal of life. Key words: Head and Neck Neoplasms; Protocols; Diagnosis; Therapeutics. Descritores: Neoplasias de Cabeça e Pescoço; Protocolos; Diagnóstico; Terapêutica. INTRODUÇÃO Aproximadamente 500 casos novos de câncer de cabeça e pescoço são atendidos anualmente no Hospital Heliópolis da Secretaria de Estado de Saúde, um dos pólos de Oncologia de São Paulo. As taxas de sobrevida global em cinco anos variam de acordo com o sítio do tumor, bem como com seu estadiamento, visto que pacientes diagnosticados mais precocemente têm melhores índices de remissão e cura. Todavia, em nosso meio, 60% dos pacientes são diagnosticados tardiamente nos estádios III e IV, o que naturalmente compromete a sobrevida global e livre de doença1,2. Assim sendo, torna-se necessário o estabelecimento de diretrizes de tratamento para o câncer de cabeça e pescoço, apesar da inexistência de estudos controlados para guiar em propostas terapêuticas, visto que, usualmente, as séries históricas contemplam experiências de grupos de ponta, onde predominam indicações monoterápicas nos casos iniciais (I e II) e politerapias nos avançados (III e IV). A tomada da melhor decisão terapêutica passa drasticamente pela mudança do paradigma, norteado pelos resultados da literatura, onde constatamos resultados de sobrevida nem sempre satisfatórios. O paciente com câncer de cabeça e pescoço usualmente é do gênero masculino, etilista e/ou tabagista e, mais recentemente, é ligado a uma relação próxima do HPV, estabelecida para as neoplasias epidermoides das vias aerodigestivas superiores. A triagem dos pacientes de risco no câncer de cabeça e pescoço é dependente dos sintomas/sinais de alarme como ulcerações de mucosa, amolecimento dentário, odinofagia, disfagia, rouquidão otalgia reflexa, paralisia facial, massas orbitárias e periobitárias e linfonodos no pescoço. Quanto ao diagnóstico e estadiamento, o primeiro é conseguido pelo exame dirigido das vias aerodigestivas superiores, seguido de biópsia e posteriormente é feito o estadiamento da doença pelo sistema TNM da UICC/ AJC (2009), que descreve a extensão anatômica da doença primária (T1-T4), a presença ou não de metástase regional (N0-N3) ou à distância (M0-1). Após essa fase, é feito o estadiamento radiológico (TC, RNM e FDG PET/ CT). O estadiamento das recidivas pode ser feito pela TC e RNM e, na falha desta, opta-se pelo FDG PET/CT. Como paradigma terapêutico no câncer de cabeça e pescoço, partindo-se da premissa do predomínio de neoplasias epidermoides de disseminação loco-regional (lesão primária + metástase linfonodal no pescoço), a abordagem deve ser multiprofissional ad initio, envolvendo cirurgião, radioterapeuta, radiologista, oncologista clínico, odontólogo (estomatologista, cirurgião buco-maxilo-facial), nutricionista, enfermagem, fonoaudiológico, psicólogo, assistente social, fisioterapeuta, cirurgião plástico e paliativista. MÉTODO No Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorinolaringlogia do Hospital Heliópolis, São Paulo, de 2000 a 2010, 1908 pacientes foram matriculados no Registro Hospitalar de Câncer, dos quais 1537 eram neoplasias epidermoides e 351 outras neoplasias – Tabela 1. Quanto ao tratamento das neoplasias epidermoides de cabeça e pescoço, podemos assim equacioná-lo: I) Tratamento da lesão primária Existem poucas evidências que definem a escolha do tratamento cirúrgico e/ou radioterápico para o sítio primário. Há que se considerar na opção terapêutica variáveis tais como: Ia) Protocolo de Estomatologia A implementação de diretrizes terapêuticas é baseada em evidências científicas, com adaptações às particularidades de nosso meio e considerando a expectativa e qualidade de vida dos pacientes. O objetivo de tal é delimitar estratégias plausíveis para obtermos resultados consistentes com a necessidade do paciente. A avaliação odontológica do paciente com câncer de cabeça e pescoço ocorre em três momentos distintos: 1. Pré RxT/QT: nessa fase, realizamos o planejamento do caso, baseados nas informações da doença primária, “status oral” do paciente, proposta terapêutica antineoplásica, exame físico loco-regional e exame radiográfico. Definido o planejamento, o paciente é submetido, inicialmente, a procedimentos cirúrgicos (exodontias e demais focos infecciosos), seguidos de tratamento restaurador com ionômero de vidro, terapêutica periodontal básica e orientações de higiene oral. Para a prevenção do trismo, há instruções para exercitar a máxima abertura bucal, protrusão e lateralidade durante todo o período da RxT. 160 e���������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 4, p. 159-162, outubro / novembro / dezembro 2012 Valor do protocolo diagnóstico e terapêutico no tratamento do câncer da cabeça e pescoço no Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis, São Paulo. Tabela 1. Pacientes com câncer de cabeça e pescoço de 2000 a 2010. Localização N° % Faringe Glândulas salivares Laringe Boca Tireoide/paratireoide Pele/partes moles Primário oculto Cavidade nasal/seios paranasais Osso 414 388 369 340 135 104 80 28 8 22.06 20.68 19.67 18.13 7.20 5.55 4.72 1.49 0.42 Total 1866 100.0 2. Trans RxT/QT: são realizados retornos semanais, até o final da radio/quimio. Nessas consultas, são avaliados o surgimento dos efeitos agudos e instituídas manobras de acordo com a necessidade. Estabelecido o diagnóstico de mucosite (segundo classificação da OMS), são implementadas medidas de reforço na importância da higiene oral, com escovas ultra macia para reduzir a microbiota; se a escovação for dolorosa, prescrevem-se anestésico tópico antes (Lidocaína geleia a 2%) e creme dental com alta concentração de flúor. Como medida terapêutica, indica-se o uso de laser de baixa potência (LBP): aplicações diárias ou em dias alternados de LBP nas áreas com alterações clinicamente visíveis, com laser modo vermelho, potência 40mW e dose de 10 J/cm2 (especificações do aparelho disponível no Serviço). A candidose geralmente ocorre nos pacientes com algum grau de xerostomia. O diagnóstico é clínico, com raspagem da pseudomembrana. Nos casos duvidosos, realiza-se citologia esfoliativa, colhendo duas amostras (lâmina 1 – palato duro / lâmina 2 – dorso de língua). Estabelecido o diagnóstico, faz-se a remoção mecânica das pseudomembranas, com gaze umedecida em clorexidine e preserve-se Nistatina suspensão oral: bochechar 5 ml, durante 1 minuto e deglutir, 4 x dia por 10 dias. 3. Pós RxT/QT: uma semana após o término da radio/ quimio e quinzenalmente até o final do primeiro mês. Deve-se retornar a cada dois meses, no primeiro ano e a cada três meses no segundo em diante. Serão avaliadas e instituídas manobras relativas aos efeitos tardios, considerando-se o resultado terapêutico e o prognóstico do caso. Em caso de xerostomia (avaliada pela escala subjetiva): orientação para aumentar a quantidade e a frequência de ingestão de líquidos, evitando bebidas gasosas; uso de estimulação mecânica da salivação, com gomas de mascar sem açúcar, diariamente; prescrição de substituto artificial da saliva, de preferência contendo lactoperoxidase, a ser usado à vontade; se não for possível o uso da saliva artificial: bochecho com solução bicarbonatada. A hiposalivaçãso poderá ser Curioni et al. confirmada pela mensuração do fluxo salivar não estimulado (RTOG). As estratégias de prevenção da cárie de radiação passam pela aplicação tópica de verniz com flúor nos dentes remanescentes e o uso de bochechos domiciliares com solução aquosa de fluoreto de sódio 0,05%, antes de dormir, por tempo indefinido. Uma vez estabelecido a instalação do processo, escarifica-se e restaura-se com CIV. Em caso de exposição ou necrose pulpar, encaminha-se para tratamento endodôntico e sepultamento; dentes anteriores podem ser restaurados com resina composta fotopolimerizável. As exodontias pós-radioterapia são geralmente contra-indicadas, por serem o principal fator de risco para osteoradionecrose. Nos casos onde a exodontia é inevitável, deve-se realizá-la o mais breve possível após o término da RxT, sob antibioticoterapia, com mínima manipulação tecidual, realizando redução do alvéolo e fechamento primário da ferida, com acompanhamento clínico rigoroso. Nesse momento, são avaliadas também estratégias de paliação. Ib) Grande ressecabilidade e radicalidade O padrão de ressecção cirúrgica isolado ou associado a radio/quimioterapia deve contemplar a radicalidade e, sempre que possível, a ressecabilidade com conservação da função. Ic) Dano estético/funcional causado pelo procedimento terapêutico A perda tanto da função quanto o estético fazem habitualmente parte do tratamento oncológico em neoplasias malignas de cabeça e pescoço. Id) Autonomia da escolha do paciente Deve sempre considerar o princípio da autonomia de escolha do paciente, que é intransferível. Ie) Condições clínicas e o estadiamento TNM A padronização terapêutica é função das condições clínicas e da extensão da neoplasia maligna. II) Tratamento do pescoço Sabido que essas neoplasias cursam com linfonodos cervicais metastáticos (N+), há que se considerarem os casos falso-negativos onde a propedêutica palpatória e a imagem não conseguem localizar as micrometástases. Assim, dependendo da localização da lesão primária, o tratamento do pescoço eletivo é mandatório antes do aparecimento da metástase. Constatada a presença de metástase clínica e/ou radiológica da metástase linfonodal, o esvaziamento cervical funcional ao clássico é opção terapêutica, rotineiramente seguida de irradiação isolada ou associada à quimioterapia adjuvante. III) Segmento ambulatorial Todos os pacientes submetidos à associação terapêutica devem ser seguidos de três em três meses, com exames loco-regionais associados aos de imagem (tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética) e, anualmente, de FDG-PET CT. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 4, p. 159-162, outubro / novembro / dezembro 2012 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 161 Valor do protocolo diagnóstico e terapêutico no tratamento do câncer da cabeça e pescoço no Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia do Hospital Heliópolis, São Paulo. IV) Recorrência da doença As neoplasias epidermoides de cabeça e pescoço cursam com cifras significativas (40 a 50%) de recidivas loco-regionais distância e em (8 a 10%). Diante do diagnóstico da recorrência, devem ser consideradas o resgate cirúrgico, reirradiação e protocolos quimioterápicos de suporte, ao lado das técnicas de paliação oncológica. As estratégias de paliação constituem-se em técnicas onde a participação multiprofissional (médicos, dentistas, enfermeiros, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e psicólogos) contribui para o bem-estar dos pacientes e núcleo familiar nessa fase onde a doença avançada merece toda a atenção dos diferentes profissionais. Deve-se associar sempre a terminalidade com a qualidade de vida do paciente portador do câncer de cabeça e pescoço que não alcança a cura terapêutica. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1. Estádios iniciais (I e II) A aferição dos resultados terapêuticos do câncer de cabeça e pescoço é feito usualmente por meio de parâmetros de sobrevida global (SG) e livre de doença (SLD). Enquanto o diagnóstico precoce (estádios I e II) permite o emprego tanto da cirurgia quanto da radioterapia de forma isolada alcançando cifras de remissão a 5 anos de aproximadamente 100%, devem considerar-se aqueles casos que, apesar da precocidade da detecção, em 10 a 15% evoluem mal, cursando com metástases regionais (N+) ou à distância (M+). Considerado isto, o seguimento dos pacientes deve ser cuidadoso nos dois primeiros anos (três em três meses com TC e/ou RNM). Após essa fase, a revisão clínica deve ser semestral e o controle por imagens (TC, RNM) anual, até o 5° ano de sobrevida. Após o quinto ano até o décimo ano, a revisão clínica deve ser anual e a imagem bienal através de PET CT. 2. Estádios avançados (III e IV) O câncer de cabeça e pescoço nos estádios avançados classicamente cursa com remissão até dois anos, seguidos em cifras significativas (40%) de recidivas regionais e de 10% de metástases à distância após o quinto ano de sobrevida. Nesses casos, há o predomínio das irradiações nos pacientes sem linfonodos metastáticos para o pescoço (T3-4 N0M0), enquanto que nos casos N+, opta-se pelo tratamento cirúrgico tanto da lesão primária quanto das metástases regionais. Aqui, no entanto, independente da presença ou não de metástases, devem-se incluir de Curioni et al. rotina, quimioterapias de adjuvâncias e neoadjuvância, que apesar de não estar comprovada sua eficácia no alongamento da SG (sobrevida geral), aumenta em 20% o período de SLD (sobrevida livre de doença). Tais fatos implicam seguimento cuidadoso tanto clínico quanto imagenológico já no primeiro ano, pois a PET CT torna-se mandatória no sentido de detectar precocemente áreas de recorrência da lesão permitindo tanto o resgate cirúrgico quanto a irradiação. Tais procedimentos, contudo, devem ser criteriosos, compatibilizados com a expectativa de qualidade de vida dos pacientes, usualmente, de forma limitada (resgates cirúrgicos seletivos e reirradiações em campos limitados)3,4. 3. Paliação e terminalidade da vida Considerado no algoritmo terapêutico que a cirurgia e/ou radioterapia devem ser empregadas com chance de sucesso nos estádios iniciais e associados à quimioterapia nas fases avançadas, partimos para o paradigma que deve contemplar a recorrência da lesão, onde há que se mobilizar a equipe multidisciplinar para atender a paliação terapêutica e a fase terminal de vida5. Sabese que, nesses momentos, o paciente mais se apega à vida e dos seus cuidadores, pois pior que a constatação do insucesso do tratamento, é a sensação de abandono que fatalmente é percebida pelo portador de uma neoplasia maligna. Trata-se de uma patologia que exaure fisicamente pacientes, familiares e profissionais de saúde, além de financeiramente causar desequilibro que pode até impedir a continuidade dos cuidados6-8. REFERÊNCIAS 1. Argiris A, Karamouzis MV, Raben D, Ferris RL. Head and neck cancer. Lancet. 2008; 371:1695-709. 2. Forastiere A, Koch W, Trotti A, Sidransky D. Head and neck cancer. N Engl J Med. 2001; 345:1890-900. 3. Koo BS, Lim YC, Lee JS, Choi EC. Recurrence and salvage treatment of squamous cell carcinoma of the oral cavity. Oral Oncol. 2006;42:789-94. 4. Lim JY, Lim YC, Kim SH, Kim JW, Jeong HM, Choi EC. Predictive factors of isolated distant metastasis after primary definitive surgery without systemic treatment for head and neck squamous cell carcinoma. Oral Oncol. 2010; 46:504-8. 5. Rapoport A, Curioni OA, Dedivitis RA, Chedid HM, Amar A. Revisão do paradigma terapêutico do câncer de hipofaringe. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço. 2011;40:17-20. 6. Dean M, Fojo T, Bates S.Tumour stem cells and drug resistance. Nat Rev Cancer 2005;5:275-84. 7. Lim YC, Oh SY, Cha YY, Kim SH, Jin X, Kim H. Cancer stem cell traits in squamospheres derived from primary head and neck squamous cell carcinomas. Oral Oncol. 2011;47:83-91. 8. Leemans CR, Braakhuis BJ, Brakenhoff RH. The molecular biology of head and neck cancer. Nat Rev Cancer. 2011;11:9-22. 162 e���������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.41, nº 4, p. 159-162, outubro / novembro / dezembro 2012