Alcoolismo: São dados relevantes acerca do alcoolismo: 80 a 90% dos adolescentes do mundo ocidental são consumidores de álcool a despeito das leis de proibição de consumo nesta faixa etária; 60 a 80% das vítimas fatais em acidentes de trânsito no nosso país apresentam alcoolemia positiva quando os motoristas são submetidos a testes; 70% dos processos criminais por homicídio apresentam o envolvimento do álcool através do agente ou da vítima; 8 a 12% dos maiores de 15 anos são dependentes de álcool neste país; 21% dos adultos preenchem critérios diagnósticos para transtorno por uso do álcool; 30% dos leitos masculinos ocupados por pacientes em hospitais têm suspeição de alcoolismo e, por fim, 50% dos leitos ocupados em hospitais psiquiátricos são devido a esta enfermidade. Os dados mencionados nos chegam através de publicações de especialistas no assunto, que consideram de suma importância nosso entendimento acerca do diagnóstico, tratamento e conduta diante do alcoolismo. A OMS encara o alcoolismo como um grave problema de saúde pública diante dos números alarmantes como os anteriormente citados. É importante reconhecer indivíduos sob maior risco de desenvolver problemas clínicos associados ao consumo do álcool. O critério proposto por clínicos de atenção primária na Inglaterra considera de grande risco o consumo igual ou superior a 350g de álcool absoluto por semana ( em média 50 g dia ) para os homens; valores que diferem para mulheres que são indivíduos ainda mais suscetíveis a problemas por apresentarem diferente perfil enzimático, sendo que para mulheres é considerado risco consumir em torno de 210g absolutos de álcool por semana ( uma média de 30 g dia ). Assim, um homem que ingerisse álcool em excesso seria aquele que consumisse mais do que 3 copos e meio de vinho, 2 garrafas de cerveja, ou 3 doses e meia de destilados ao dia; ou a mulher que ingerisse mais do que 2 copos de vinho, 1 garrafa de cerveja ou 2 doses de destilados ao dia. Embora conhecido mundialmente como prioridade na saúde pública, o problema ainda costuma ser identificado em seus estágios finais quando as perdas já contabilizadas são enormes e o estágio clínico é muitas vezes irreversível. Razões sobram para isto, é realmente difícil para os familiares intervirem nesta situação quando a pessoa atingida costuma minimizar e esconder o seu envolvimento com o álcool; e até mesmo porque dados como estes citados não são de domínio tão público. O alcoolismo cria suas raízes na cultura no momento em que todas as comemorações são vinculadas ao uso e abuso da bebida alcoólica. A mídia participa reforçando sistematicamente e com aguçada ênfase este conceito de afinidade entre comemoração, felicidade e o álcool. Estes conceitos são internalizados desde cedo através de gerações e o álcool passa a ser visto e presenciado com naturalidade. Quando um indivíduo sofre de alterações afetivas, sejam elas: depressão, ansiedade, fobias ou até mesmo alguns conflitos temporários e adaptativos de determinadas fases do desenvolvimento ( como a timidez da adolescência ) tornase o álcool um recurso de fácil acesso para a resolução de suas dores. Acredito como profissional da área de saúde mental que a maioria dos casos que avaliamos e que está relacionado ao álcool como demonstram as estatísticas está também envolvida com outra base diagnóstica, ou seja, outras patologias bastante suscetíveis ao álcool. É absolutamente compreensível o uso do álcool como um paliativo de sintomas importantes tais como: o nervosismo, a ansiedade, o medo ou até mesmo a solidão. Além deste aspecto é importante salientar a necessidade de diagnosticar a patologia familiar presente quando avaliamos, em consultório, um paciente com qualquer outro diagnóstico específico. Sabemos que filhos de mães depressivas e usuárias de álcool apresentam alto índice de alteração de conduta e desajuste na tenra infância e adolescência, bem como é possível afirmar que muitos pacientes depressivos ou com outros desajustes sociais graves são filhos de alcoolistas. O custo afetivo do alcoolismo para o paciente e seus familiares é inestimável. Muitos pacientes procuram ajuda quando apresentam quadros avançados clinicamente como de cirrose terminal ou completo desajuste. Desajuste este que inicia pelo financeiro e laboral, percorrendo instâncias vitais do ser humano até aniquilar com seus relacionamentos mais próximos: filhos, companheiros e amigos. Não há razão para fecharmos os olhos diante desta realidade e sabemos que todos nós, profissionais da área de saúde mental, temos o dever de alertar o nosso público cliente para os danos que o álcool pode vir a causar, especialmente por estar perpetuado em nossa cultura.