Helmintos intestinais de Tayassuidae e Suidae (Mammalia

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“Helmintos intestinais de Tayassuidae e Suidae (Mammalia: Artiodactyla) no
Pantanal: um estudo sobre a circulação de espécies na Reserva Particular do
Patrimônio Nacional SESC Pantanal e seu entorno, Barão de Melgaço, Mato
Grosso, Brasil”
por
Hugo Costa de Souza
Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em Ciências na área
de Saúde Pública.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marcia Chame dos Santos
Rio de Janeiro, setembro de 2014.
i
Esta dissertação, intitulada
“Helmintos intestinais de Tayassuidae e Suidae (Mammalia: Artiodactyla) no
Pantanal: um estudo sobre a circulação de espécies na Reserva Particular do
Patrimônio Nacional SESC Pantanal e seu entorno, Barão de Melgaço, Mato
Grosso, Brasil”
apresentada por
Hugo Costa de Souza
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:
Prof.ª Dr.ª Celeste da Silva Freitas de Souza
Prof. Dr. Valmir Laurentino Silva
Prof.ª Dr.ª Marcia Chame dos Santos – Orientadora
Dissertação defendida e aprovada em 29 de setembro de 2014.
ii
Catalogação na fonte
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica
Biblioteca de Saúde Pública
S729h
Souza, Hugo Costa de
Helmintos intestinais de tayassuidae e suidae
(mammalia : artiodactyla) no Pantanal: um estudo sobre
a circulação de espécies na Reserva Particular do
Patrimonio Nacional SESC Pantanal e seu entorno,
Barão de Melgaço, Mato Grosso, Brasil. / Hugo Costa de
Souza. -- 2014.
xiv,109 f. : il. color. ; tab. ; graf. ; mapas
Orientador: Marcia Chame
Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2014.
1. Helmintos - parasitologia. 2. Biodiversidade.
3. Suínos. 4. Artiodáctilos. I. Título.
CDD – 22.ed. – 616.962
iii
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA
MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE PÚBLICA
SUBÁREA: ABORDAGEM ECOLÓGICA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS
HELMINTOS INTESTINAIS DE TAYASSUIDAE E SUIDAE (MAMMALIA :
ARTIODACTYLA) NO PANTANAL: UM ESTUDO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE
ESPÉCIES NA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMONIO NACIONAL SESC
PANTANAL E SEU ENTORNO, BARÃO DE MELGAÇO, MATO GROSSO,
BRASIL
Hugo Costa de Souza
Dissertação apresentada à Escola
Nacional de Saúde Pública, como parte
das exigências do Programa de Pósgraduação em Saúde Pública, subárea
Abordagem Ecológica das Doenças
Transmissíveis, para a obtenção do título
de Magister Scientiae
Orientadora
Marcia Chame
ENSP/DENSP – FIOCRUZ
Rio de Janeiro
2014
iv
Dedicatória
Por me trazer à vida lucidez
Por me dar gosto ao bom gosto
Por me apoiar, sempre, nas minhas
caminhadas
Por me fazer feliz
Por me amar, incondicionalmente!
Por todos os momentos vividos contigo
Pai, essa dissertação é dedicada a você!
v
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, mestra e amiga Marcia, meus mais sinceros agradecimentos
por deixar fazer parte de sua história. Por me proporcionar momentos marcantes quer no
abraços, quer na vida acadêmica. Este furacão intelectual, dententora de uma sabedoria
diferenciada que me deu o privilégio de vivenciar experiências de vida tão intensa e me
apresentou um outro Brasil diferente de tudo que jamais pudesse imaginar. Obrigado Marcia,
foi uma honra ser seu orientado!
Ao meu Pai, João Pedro de Souza Neto (In Memoriam), grande colaborador dessa
Dissertação, e que partiu antes de sua conclusão. Paizão, sempre em cima, atento a todos os
detalhes da minha vida. Não foi possível terminar de escrever estas linhas sem lembrar das
diárias ligações que fazia a mim durante a produção do texto da qualificação: “Hugão, e ai
filhoca? Quantas páginas já escreveu?” Saudades tua Jacaré, Obrigado por tudo, te amo!
A minha mãe, Warley da Costa, Super Ley, carinhosa e amorosa que por vezes
assume o papel de orientadora me ajudando, estimulando e também puxando minha orelha.
Amo minha Ley, sem ela certamente esta dissertação não estaria finalizada.
Ao meu irmão, Tiago Costa de Souza, amigo fiel hà mais de 30 anos. Passamos por
um último ano bem difícil, mas a rotina da dor só nos fortaleceu e estreitou cada vez mais o
nosso amor. Obrigada irmão, valeu Ti, te amo!
Ao meu amor, Ana Carolina Figueiredo, paixão nascida nos corredores da Escola
Nacional de Saúde Pública que se transformou em todo esse amor e companherismo. Ao
meu lado nos momentos bons e nos momentos difíceis. Sem ela seria muito mais difícil essa
caminhada pois me deu todo apoio necessário para que eu enfrentasse as dificuldades.
Espero tê-la sempre ao meu lado. Te amo morena!
Às minhas famílias, seja os Costas ou Souzas, representadas por suas matriarcas
Maria José da Costa e Marina de Carvalho Souza, queridas avós. Certamente parte do que
sou é reflexo de todo amor que me ofereceram, moldando meu caráter e toda minha forma
de pensar. Sinto-me um privilegiado por ter nascido nestas famílias.
Por passarem das centenas, não é possível citar individualmente cada familiar, mas
um agradecimento especial deve ser feito ao um núcleo duro que está sempre do meu lado:
Agradeço ao meu tio Washington Costa (In Memoriam) por fazer de sua vida uma fonte de
inspiração para mim, saudades! Agradeço aos “Coisinhas” Zé Luis, Rui, Flávia e Nayara por
toda vida vividos juntos com companherismo, amizade e muitas, mas muitas risadas.
Agradeço a minha madrinha Viviane Grace que amo em demasia. Agradeço a minha Tia
vi
Fátima, esposa de meu pai, sempre do seu lado até o fim estendendo seu carinho a mim e a
meu irmão nos momentos mais difíceis.
Agradeço ainda a uma terceira família, que ganhei junto com a Carol, e não pretendo
abandonar jamais: os Alves Figueiredo, em especial a Mônica, minha sogra, e Adriane. Sem
vocês meu caminho certamente seria bem mais árduo, obrigado!
Agradeço ao Professor Adauto Araújo, Luciana Sianto e Gleisse Nunes por toda
ajuda e incentivo dado a minha pesquisa. Sem suas conversas e bate papos acadêmicos este
trabalho não se desenvolveria.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública que muito me
inspiraram para construção deste projeto: Joseli Nogueira, Rosemere Duarte, Sheila
Mendonça, Valmir Laurentino, André Perissé e Sonia Bittencourt.
À Drª Norma Labarthe, por estar comigo sempre me ajudando nesta longa caminhada
pela graduação, mestrado, congressos, trabalhos de campo e também, porque não, nos bares
da vida. Obrigado Professora!
À todos os mestres que passaram por minha vida e foram fontes de inspiração para
que seguisse a carreira científica: Beatriz Brener, Adriana Sodré, Cathia Serra, Teresinha
Ferreira, Flávio Moutinho, Wildeberg Càl Moreira e Lenira Zancan.
A todos do Centro de Controle de Zoonoses de Niterói pelo apoio e suporte dado
para que minha dissertação se concretizasse, em especial Vânia São Paio, Jonas Quieroz,
Maria Cristina, Rosani Loureiro e Rodolfo Teixeira, grandes companheiros de trabalho e,
acima de tudo, grandes amigos! Obrigado.
Agradeço também aos bolsistas e estudantes do Laboratório de Paleoparasitologia e
de Ecologia da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), pela ajuda técnica
na minha empiria, aos cafés sempre quentes na sala de entrada, às risadas na sala de
microscopia e as cervejas às sextas na Pedra do Sal, obrigado Juliana, Priscila, Mônica,
Morgana, Bruna, Érika, Sérgio, Shênia, Thaila e Victor.
Aos meus amigos João Daniel, peça importante na construção deste trabalho, Edison
Amarante, companheiro Veterinário na Saúde Pública, por compartilhar ótimos momentos
no laboratório e Ricardo França, pela força, companheirismo e estímulo nessa caminhada.
Valeu amigos!
Aos meus companheiros de turma de mestrado da ENSP Thaís, Jeferson, Maíra,
Denise, Carol e Ricardo, pelos bons momentos vividos no dia-a-dia da Escola Nacional de
Saúde Pública. Obrigado.
vii
À todos amigos que agreguei em minha longa jornada acadêmica: Aos companheiros
Veterinários da UFRRJ Diego Medeiros, Amanda Codeço, Alan Kardec, Leandro Ferreira,
Rafael Scherer, Bruno Pena, Claudio Gouveia, Lucila Malosa e Adriana Froes. Aos
companheiros Veterinários da UFF Amanda Codeço, Rodrigo Lee, Dani Santos, Neusa
Amboni, Aline Melloni e os MAPS Gabriel Almeida, Simone Monteiro e Janaína Rei. Aos
companheiros Sanitaristas da Especialização em saúde Pública da ENSP Amanda Codeço,
Hugo Almeida e Fábio Rebouças.
Ao agradecer meus amigos, seria injustiça não dedicar um parágrafo especial a minha
grande amiga Amanda Codeço. Companheira que sempre esteve do meu lado nesta jornada
acadêmica, profissional e boêmia e que, apesar da distância, continua sempre conectada
comigo. Obrigado amiga!
Ao Serviço Social do Comércio (SESC) e a Fundação para o Desenvolvimento
Científico e Tecnológico em Saúde (FIOTEC) pela oportunidade e apoio nas pesqusias
realizadas na RPPN SESC Pantanal.
A Fundação Oswaldo Cruz e à Coordenação do Programa de Pós-Graduação pelo
suporte financeiro e investimento em minha pesquisa de dissertação.
viii
RESUMO
A convivência de mais de dez mil anos fez com que homens e porcos compartilhassem
parasitos, frutos da coevolução. Neste cenário inserem-se os taiassuídeos, porcos americanos
que também participam desta complexa relação. Além da via filogenética, a perda de habitats
decorrentes da ação humana gera alterações nos ecossistemas naturais, modificando as
interações parasito/hospedeiro e provocando a emergência e reemergência de doenças nas
populações animais e humanas. E é neste contexto que a Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN) SESC Pantanal, MT surge como cenário para o estudo da convivência
homem-parasito-suíno/taiassuídeo, no qual porcos selvagens, domésticos, asselvajados,
homens e outros animais coabitamesta área. Com objetivo de identificar os helmintos
intestinais em suínos e catetos da RPPN SESC Pantanal, o presente estudo buscou
correlacionar a biodiversidade e a similaridade da fauna helmíntica com sua importância
epidemiológica e suas possíveis consequências com a sanidade animal e saúde pública local.
Para isso, foram utilizados índices de Shannon (H’), de Simpson (Ds) e equitabilidade (J),
além do índice de similaridade de Sorensen. A coleta de amostras de fezes dos animais em
estudo foi realizada em quatro expedições entre os anos de 2009 a 2012 na RPPN SESC
Pantanal. As amostras foram coletadas oportunísticamente e diretamente do solo,
identificadas, analisadas microscopicamente por meio de sedimentação espontânea e os ovos
de helmintos foram medidos e fotografados digitalmente. Das 109 amostras de fezes de
suiniformes coletadas, 53 foram de catetos e 56 de porcos/porcos Monteiros com
positividade para ovos de helmintos intestinais em 67,93% (36/53) e 73,21% (41/56) das
amostras, respectivamente. Onze morfoespécies de ovos de helmintos foram encontradas, 9
pertencem ao Filo Nemathelminthes Classe Nematoda: Ascaris suum, Strongylida 1,
Strongylida 2, Metastrongylus sp., Oxyuridae, Spiruridae, Trichostrongylidae, Nematoda,
Trichurissp., uma pertence ao Filo Platyhelminthes Classe Cestoda (Anaplocephalidae) e
uma ao Filo Acanthocephala, Macracanthorhynchushirudinaceus. Nota para novos registros
de Trichuris sp. e Anaplocephalidae em P. tajacu na região do Pantanal. As prevalências das
morfoespécies em S. scrofa foram 30,36% (n=17/56) de Strongylida 1; 28,57%, (n=16/56)
de Metastrongylus sp. e A. suum; 14,29% (n=8/56); de M. hirudinaceus, 5,36% (n=3/56); de
Strongylida 2 e Oxyuridae; 3,57% (n=2/56);de Spiruridae e Trichuris .sp. 7,9% (n=1/56).
Nas amostras de fezes de P. tajacu a prevalência foi de 66,04% (n=35/53) para M.
hirudinaceus; ; 15,09% (n=8/53) para Metastrongylus sp.; 9,43% (n=5) para Nematoda;
5,66% (n=3/53) para Spiruridae; 3,77% (n=2/53) para Strongylida 1, Strongylida 2 e
Trichonstrongylidae e 1,89% (n=1/53) para Trichurissp. e Anaplocephalidae. A similaridade
entre os helmintos nas duas espécies de hospedeiros foi de 71%, e entre o grupo de helmintos
de importância zootécnica observou-se o compartilhamento de 83% das morfoespécies
encontradas e 80% do compartilhamento de espécies do grupo de importância médica. As
morfoespécies mais encontradas em ambientes silvestres foram Nematoda,
Trichostrongilidae e Anaplocephalidae, com 100% de suas presenças na área da Reserva e o
M. hirudinaceuscom 83,72%. As morfoespécies encontradas com maior frequência nas
comunidades humanas do entorno da Reserva foram o A. suum, Trichuris sp. Oxyuridae com
100% de presença neste ambiente antropizado e o Strongilida 1, Metastrongylus sp. e o
Strongylida 2 com 89,47%, 70,83% e 60% de presença nesta área, respectivamente. Esta
distribuição de helmintos por área antropizada e área silvestre sugerea favorabilidade destes
ambientes à transmissão dos parasitos a fatores do ambientes e não necessariamente ao seu
hospedeiro. Uma melhor compreensão destes mecanismos e fluxos no futuro poderá
possibilitar a indicação de boas práticas para a saúde humana, a criação de suínos na região
e o manejo de taiassuídeos na Reserva.
Palavras-Chave: helmintos, biodiversidade, pantanal, suídeos, taiassuídeos
ix
ABSTRACT
The coexistence of over ten thousand years has made men and pigs share parasites, fruits of
coevolution. In this scenario are inserted the taiassuídeos, american pigs that also participate
in this complex relationship. Besides the phylogenetic pathway, the habitat loss resulting
from human action generates changes in the natural ecosystems, modifying the parasite/host
interactions and triggering the emergence and reemergence of diseases in animal and human
populations. And it’s in this context that the Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN) SESC Pantanal, MT appears as a setting for a study ofcoexistence between manparasite-pig / taiassuídeo in which naturalized swines and wild and domestic pigs cohabit
with men and other animals. To identify intestinal helminths in pigs and collared peccary of
RPPN SESC Pantanal, this study sought to correlate the biodiversity and the similarity of
helminth fauna with their epidemiologic relevance and their possible consequences to animal
health and to the local public health. For this, Shannon (H'), Simpson (Ds) and evenness (J)
index were used, in addition to the Sorensen similarity index. The collection of stool samples
from the animals under study ocurred in four expeditions between the years of 2009 and
2012 to RPPN SESC Pantanal. Samples were collected opportunistically and directly from
the ground, identified, microscopically examined by the Lutz's spontaneous
sedimentation technique and the helminth eggs were measured and digitally photographed.
Among the 109 suiniformes feces samples collected , 53 were from collared pecary and 56
were from pigs/feral hogs tested positive for eggs of intestinal helminths in 67.93% (36/53)
and 73.21% (41/56) of the samples, respectively. Eleven morphospecies of helminth eggs
were found, nine belong to the Phylum Nematoda Nemathelminthes Class: Nematode:
Ascaris suum, Strongylida 1, Strongylida 2, Metastrongylussp, Oxyuridae, Spiruridae,
Trichostrongylidae, nematode, Trichuris sp,; one belongs to the Phylum Platyhelminthes
Class Cestoda (Anaplocephalidae) and another one to the Phylum Acanthocephala,
Macracanthorhynchus hirudinaceus. Note to new records of Trichuris sp. and
Anaplocephalidae in P. Tajacu in the Pantanal region. The prevalence of morphospecies in
S. scrofawas 30.36% (n = 17/56); in Strongylida1 was 28.57% (n = 16/56); in
Metastrongylus spp. and A. suum; 14.29% (n = 8/56); in M. hirudinaceus, 5.36% (n = 3/56);
in Strongylida 2 and Oxyuridae; 3.57% (n = 2/56); in Spiruridae Trichuris .sp. was 7.9% (n
= 1/56). In stool specimens of P. Tajacu the prevalence was 66.04% (n = 35/53); for M.
hirudinaceus; 15.09% (n = 8/53); to Metastrongylus spp.; 9.43% (n = 5); for Nematoda;
5.66% (n = 3/53); to Spiruridae; 3.77% (n = 2/53); to Strongylida 1, Strongylida 2 and
Trichonstrongylidae and 1.89% (n = 1/53) for Trichuris spp. and Anaplocephalidae. The
similarity between helminths in the two host species was 71%, and among the group of
helminths of zootechnical importance was observed the sharing of 83% of the
morphospecies found and 80% of the species sharing from the group of medical importance.
The most frquent Morphospecies found in forest environments were Nematoda, and
Trichostrongilidae Anaplocephalidae, with 100% of their presence in the area of the Reserve
and the M. hirudinaceuswith 83.72%. The most frequent morphospecies found in human
communities around the reserve were A. suum, Trichuris sp. Oxyuridae had 100% of
attendance in this anthropic environment and the Strongilida 1, Metastrongylus sp. and
Strongylida 2 with 89.47%, 70.83% and 60% presence in this area, respectively. This
distribution of helminths in disturbed areas and wild area suggests the favorability of these
environments for the transmission of parasites to environment factors and not necessarily to
their host. A better understanding of these mechanisms and flows in the future may allow
the indication of good practice for human health, pig farming in the region and the
management of the taiassuídeos in the reserve.
Keywords: helminthes, biodiversity, pantanal, suids, taiassuids
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. O Pantanal e suas respectivas sub-regiões delimitadas. ....................................... 22
Figura 2. A) Suínos criados de forma extensiva em íntimo contato com a população humana
e livre acesso aos ambientes domésticos e silvestre, Retiro; Barão de Melgaço, MT. B) Caça
ao porco Monteiro, uma tradição pantaneira. C) Catetos em contato com humanos no
Pantanal sul matogrossense, Miranda-MS. D) Grupo de queixadas usufruindo de um
barreiro, ponto de encontro comum de animais da região pantaneira, Miranda-MS. ......... 25
Figura 3. Porco Monteiro. ................................................................................................... 26
Figura 4. Tayassu pecari – Queixada. ................................................................................. 27
Figura 5. Pecari tajacu – Cateto.......................................................................................... 28
Figura 6. A) Localização da RPPN SESC Pantanal, Município Barão de Melgaço, a partir
do Google Earth. B) Vista aérea do Hotel SESC em Porto Cercado, Poconé, à margem do
Rio Cuiabá. .......................................................................................................................... 36
Figura 7. Mata de acurizal caracterizada pela presença das Palmeiras de Acuris (Scheelea
phalerata), RPPN SESC Pantanal – MT. ............................................................................ 37
Figura 8. Mapa da RPPN SESC Pantanal indicando os pontos de coleta permanentes. ..... 39
Figura 9. Acondicionamento das amostras e anotação da localidade, data da coleta e possível
espécie.. ............................................................................................................................... 40
Figura 10. Identificação das fezes a campo podem ser realizadas com auxílio: A) da coleta
próximo aos animais. Foto: Marcia Chame; B) características morfometricas das fezes. .. 41
Figura 11. Fezes de Pecari tajacu - Coleção de Fezes de Animais Brasileiros do Laboratório
de Ecologia do Departamento de Endemias da Escola Nacional de Saúde Pública............ 42
Figura 12. Fezes de Porco Monteiro (Sus scrofa) - Coleção de Fezes de Animais Brasileiros
do Laboratório de Ecologia do Departamento de Endemias da Escola Nacional de Saúde
Pública. ................................................................................................................................ 42
Figura 13. Ovo larvado de Ascaris suum (58,311 µm x 52,994 µm) em fezes de porcos
domésticos do entorno da RPPN SESC Pantanal. ............................................................... 51
Figura 14. Ovo de Strongylida 1 (73,506 µm x 45,13 µm) encontrado em fezes de Sus scrofa
e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno. ............................................... 52
xi
Figura 15. Ovo de Strongylida 2 (104,557 µm x 50,802 µm) encontrado em fezes de Sus
scrofa e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno. .................................... 52
Figura 16. Ovo de Metastrongylus sp. (33,186 μm x 22,988 μm) encontrado em fezes de Sus
scrofa e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno. .................................... 53
Figura 17. Ovo de Oxiiuridae (80,02 μm x 30,523 μm) encontrado em fezes de Sus scrofa
no entorno da RPPN SESC do Pantanal .............................................................................. 54
Figura 18. Ovo de Spiruridae (40,113 µm x 23,323 µm) encontrado em fezes de Sus scrofa
e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno. ............................................... 54
Figura 19. Ovo de Trichostrongylidae (57,5 µm x 22,5 µm) encontrado em fezes de Sus
scrofa e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno. .................................... 55
Figura 20. Ovo de Trichuris sp. (59,375 μm x 30,471 μm) encontrado em fezes de Sus scrofa
e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno. ............................................... 56
Figura 21. Ovo de Nematoda (40,22 µm x 21,25 µm) encontrado em fezes de Pecari tajacu
na RPPN SESC do Pantanal. ............................................................................................... 56
Figura 22. Ovo de Anaplocephalidae (57,5 μm x 47,5 μm) encontrado em fezes de Pecari
tajacu na RPPN SESC do Pantanal. .................................................................................... 57
Figura 23. Ovo de Macracanthorhynchus hirudinaceus (100,432 μm x 54,494 μm)
encontrado em fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno.
............................................................................................................................................. 58
Figura 24. Prevalência de helmintos em porcos (Sus scrofa) e catetos (Pecari tajacu) na
RPPN Sesc Pantanal e área de entorno com comunidades humanas no período de 2009 a
2012. .................................................................................................................................... 59
Figura 25. Curva de acumulação de espécies de ovos de helmintos encontrados em fezes de
Pecari tajacu no SESC Pantanal, de 2010 a 2012. .............................................................. 63
Figura 26. Curva de acumulação de espécies de ovos de helmintos encontrados em fezes de
Sus Scrofa no SESC Pantanal, de 2010 a 2012. .................................................................. 63
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Sinopse dos helmintos relatados para porco doméstico (Sus scrofa) no Brasil. . 30
Tabela 2. Sinopse dos helmintos relatados para catetos (Pecari tajacu) nas Américas, no
Brasil e no Pantanal. ............................................................................................................ 32
Tabela 3. Resultado das análises parasitológicas de fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu na
RPPN Sesc Pantanal, MT de 2009 a 2012. ......................................................................... 48
Tabela 4. Ovos de helmintos identificados em amostras de fezes de suídeos e taiassuídeos
na RPPN SESC Pantanal, MT de 2009 a 2012. .................................................................. 50
Tabela 5. Prevalência de morfoespécies de ovos de helmintos encontrados em amostras de
fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu no SESC Pantanal, de 2010 a 2012. ........................... 58
Tabela 6. Distribuição de amostras positivas para ovos de helmintos em porcos (Sus scrofa)
e catetos (Pecari tajacu) na RPPN Sesc do Pantanal e seu entorno. ................................... 61
Tabela 7. Índices de biodiversidade de morfoespécies de ovos de helmintos encontrados em
amostras de fezes de S. scrofa e P. tajacu. .......................................................................... 64
Tabela 8. Prevalência de morfoespécies de importância epidemiológica encontrados em
amostras de fezes de S. scrofa e P. tajacu. .......................................................................... 65
Tabela 9. Índice de Similaridade de Sorensen entre as morfoespécies de ovos de helmintos
encontrados em amostras de fezes de S. scrofa e P. tajacu no SESC Pantanal, de 2010 a
2012. .................................................................................................................................... 66
xiii
Sumário
1. Introdução ........................................................................................................................ 17
2. Objetivos.......................................................................................................................... 21
2.1 Objetivos Específicos ................................................................................................ 21
2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................ 21
3. Referêncial Teórico ......................................................................................................... 22
3.1. O Pantanal ................................................................................................................ 22
3.2. Os porcos e taiassuídeos ........................................................................................... 24
3.2.1. Família Suidae ................................................................................................... 25
3.2.2. Família Tayassuidae .......................................................................................... 26
3.3. Helmintíases intestinais de suídeos e taiassuídeos no Pantanal ............................... 28
4. Metodologia ..................................................................................................................... 35
4.1. Área de estudo ......................................................................................................... 35
4.2. Metodologia de coleta de campo .............................................................................. 38
4.3. Suficiência amostral ................................................................................................. 40
4.4. Identificação das fezes .............................................................................................. 41
4.5. Análise parasitológica............................................................................................... 41
4.6. Análise dos resultados parasitológicos ..................................................................... 43
4.6.1. Diversidade de espécies de helmintos a partir do encontro de ovos e larvas
em fezes....... ................................................................................................................ 44
4.6.2. Critérios para classificação de helmintos de importância epidemiológica ........ 46
4.6.3. Similaridade da diversidade de helmintos em Sus scrofa e Pecari tajacu ........ 46
5. Resultados........................................................................................................................ 48
5.1. Análises parasitológicas ........................................................................................... 48
5.1.1. Morfoespécies de ovos de helmintos ................................................................. 51
5.1.2. Prevalência de morfoespécies de ovos de helmintos nas amostras de fezes de
suídeos e taiassuídeos .................................................................................................. 58
5.2. Avaliação das curvas de acumulação de espécies e suficiência amostral ............... 62
5.3. Diversidade de helmintos em Sus scrofa e Pecari tajacu ........................................ 64
5.4. Morfoespécies de importância epidemiológica para a saúde pública ...................... 64
5.5. Similaridade de morfoespécies de ovos de helmintos encontrados nas fezes deSus
scrofa e Pecari tajacu ...................................................................................................... 65
6. Discussão ......................................................................................................................... 67
6.1. Ovos de helmintos encontrados nas análises parasitológicas de fezes de Sus scrofa e
Pecari tajacu ................................................................................................................... 68
6.1.1. Ascaris suum ...................................................................................................... 68
6.1.2. Strongilida 1 e Strongilida 2 .............................................................................. 69
xiv
6.1.3. Metastrongylus sp. ............................................................................................. 71
6.1.4. Oxyuridae .......................................................................................................... 72
6.1.4. Spiruridae .......................................................................................................... 72
6.1.5. Trichostrongylidae ............................................................................................. 73
6.1.6. Trichuris sp. ....................................................................................................... 74
6.1.7. Nematoda ........................................................................................................... 75
6.1.8. Anaplocephalidae ............................................................................................. 75
6.1.9. Macracanthorhynchus hirudinaceus ................................................................. 76
6.2. Curvas de acumulação de morfoespécies e esforço amostral ................................... 77
6.3. Diversidade de helmintos em fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu .......................... 78
6.4. Similaridadeda fauna de helmintos entre Sus scrofa e Pecari tajacu....................... 78
6.5. Importância epidemiológica da fauna de helmintos entre Sus scrofa e Pecari
tajacu ............................................................................................................................... 79
6.6 Distribuição dos helmintos na RPPN SESC Pantanal ............................................... 81
7. Conclusões ....................................................................................................................... 83
8. Complementação de proposta .......................................................................................... 85
Referências Bibliográficas ................................................................................................... 86
Anexo 1 ............................................................................................................................... 98
Anexo 2 ............................................................................................................................. 104
Anexo 3 ............................................................................................................................. 107
Anexo 4 ............................................................................................................................. 107
Anexo 5 ............................................................................................................................. 108
xv
“A zona que servio de campo às nossas pesquisas é o chamado
«Pantanal». É a interminável área absolutamente plana, que
margeia os grandes rios tributários do Prata e que no período
das cheias é inundada por uma camada de água variavel
decrescendo à proporção que sobe o curso dos rios (...). São
centenas de leguas quadradas que ficam durante seis mezes
innundadas. Nos outros seis mezes a água d’esaparece o sólo
argiloso torna-se d’uro (...) cortado aqui e acolá pelos Corichos
(...) onde milhares e milhares de aves aquaticas fazem as suas
abundantes pescarias e servem de caça ás jaguatiricas e
sucurys.
(...) A vida do homem no pantanal segue o rithmo das cheias.
Durante estas vão para o Alto gastar as economias feitas no
tempo da secca. Na secca é a occasião das vaqueiadas; são seis
mezes de vida intensa bohemia, esportiva e violenta.
Neste paiz onde tudo é grande a unidade de medida de terreno
é a legua, o homem está de accordo com as condições locaes é
forte, resoluto, intelligente e de uma resistencia sem limites.
A Fauna embora não tenha a riqueza especifica das zonas de
mattas, tem a riqueza numérica como em nenhuma outra parte.
Pequenos mammiferos e pequenas aves quasi não se vêm. (...)
A quantidade de peixes é formidável e sobretudo a feroz
piranha (Pxjgocíen- tras piraija) a terrivel mutiladora das tetas
das vaccas e ás vezes da ponta da cauda. As capivaras (...)
constituem praga terrivel, não só por destruirem as limitadas
lavouras como por facilitarem a disseminação do mal de
cadeiras.”
Trecho retirado do artigo de Lauro Travassos, Cesar
Pinto e Julio Muniz: “Excursão scientífica ao estado de
Mato Grosso na zona do Pantanal (margens dos Rios S.
Lourenço e Cuyaba) realisada em 1922”.
xvi
1. Introdução
Com mais de dez milênios de convivência o homem e o porco do velho mundo (Sus
scrofa Linnaeus, 1758) compartilham patógenos fruto da coevolução interespecífica1
A Taenia solium Linnaeus, 1758 é exemplo desta interação quando o Cestoda
originalmente humano se adapta ao porco, que passa a ser seu hospedeiro intermediário, a partir
de sua domesticação pelo homem2.
Corroborando estes caminhos evolutivos, estudos recentes apontam história semelhante
para gênero Ascaris3,4,5,6,7, sugerem a hipótese, em artigo de revisão, que o Ascaris lumbricoides
(Linnaeu,1758), Nematoda descrito para humanos, e o Ascaris suum (Goeze, 1782) de porco,
são a mesma espécie. O compartilhamento teria se dado também a partir da domesticação dos
porcos, uma vez que a semelhança genética entre as espécies, em torno de 98,1%8,9 não resulta
em distinções morfológicas relevantes entre os adultos e praticamente nenhuma nos ovos10,11.
Ainda, o adulto do A. lumbricoides possui um tempo de vida maior no humano quando
comparado ao tempo de vida do A. suum nos suínos12,13, sugerindo uma melhor adaptação do
A. lumbricoides ao seu hospedeiro7. Somam-se a isso, os achados de ovos de Ascaris em
coprólitos humanos, anteriores ao início da interação homem-porco há 10 mil anos, apontando
painel sugestivo de direcionamento do fluxo parasitário do homem para porco7.
Da mesma forma, os tricurídeos também compartilharam desta história evolutiva.
Kliks14 cita que o Trichuris trichiura (Owen 1835), parasita de humanos, e o Trichuris suis,
parasitas de porcos, estão estreitamente relacionados. O T. trichiura foi, provavelmente, o
precursor, visto o maior tempo de vida do helminto adulto, sugerindo uma melhor adaptação ao
hospedeiro humano. A presença de Trichuris trichiura na família Hominidae, incluindo o Homo
Sapiens, mostra exemplarmente como os parasitas espelham a filogenia de seus hospedeiros e
os achados paleoparasitológicos de ovos de Trichuris em coprólitos humanos antes da
domesticação do suíno fortalecem a hipótese da transmissão do Trichuris de humanos para o
porco, favorecida pelo compartilhamento de habitats e a proximidade do convívio7.
Desta forma, observam-se dois caminhos evolutivos imbricados na distribuição de
parasitos nas espécies hospedeiras. Aquele originado do processo filogenético, no qual as
espécies de parasitas se mantêm nas espécies sucessoras de seu ramo evolutivo, e a via
ecológica do parasitismo, quando mudanças ambientais, de hábitos e da composição e estrutura
de espécies nas comunidades biológicas promovem novos contatos entre agentes etiológicos,
vetores e hospedeiros15,16. Embora estes arranjos sejam dinâmicos, observa-se a persistência de
helmintos intestinais nos grupos taxonômicos próximos explicitando a história de hospedeiros
17
e parasitos ao longo dos tempos e das mudanças ambientais pelas quais passaram. Entretanto,
os impactos antrópicos determinados pelo crescimento populacional humano exponencial, a
mobilidade de pessoas e de mercadorias e a perda da biodiversidade imprime ritmo, amplitude
e intensidade de modificações tanto na paisagem, quanto na composição e estrutura das
comunidades biológicas17,18.
Uma das questões centrais, mas raramente explícita como consequência dos impactos
ambientais, é o surgimento de novas doenças nas áreas de fronteira ecológica entre ambientes
naturais e antropizados19. Diversos mecanismos contribuem para isso, entre eles, as alterações
na cadeia trófica, provocando sobreposição de nichos e novas interações interespecíficas entre
agentes etiológicos, vetores e hospedeiros20,21. Ostfeld e Keesing22, por exemplo, destacam que
a manutenção da diversidade das espécies em um ecossistema é de vital importância para a
manutenção do efeito de diluição de doenças que ocorre quando diversas espécies hospedeiras
de determinado patógeno são mantidas na comunidade, entre elas boas e más mantenedoras de
agentes etiológicos. A diversidade destas espécies diminui a chance do contato entre espécies
de parasitos, hospedeiro e vetores, e, portanto, da transmissão do parasito para hospedeiros
competentes na manutenção do agente patogênico. Outros fatores ainda controlam a
transmissão dessas espécies como, por exemplo, a presença de predadores e a competição que
regulam a densidade populacional de hospedeiros e mesmo a oferta de alimento, como é o caso
do repasto de vetores em diversas espécies, muitas, incompetentes na dispersão e manutenção
do parasito23.
Neste cenário histórico e evolutivo se deu o encontro entre humanos e porcos em tempos
muito mais recentes do que os de origem desses grupos. Os porcos das Américas, da família
Tayassuidae, surgem há cerca de 34 milhões de anos, ao final do Eoceno, enquanto que os
porcos da família Suidae se diversificaram pela Europa, Ásia e África no final do Oligoceno,
há cerca de 23 milhões de anos. No velho mundo, porcos, pré-hominídeos e hominídeos ocupam
o mesmo ambiente, o que certamente facilitou o fluxo de parasitos entre eles já desde antes da
domesticação3,24,25. Nas Américas há relatos de contatos próximos de tayassuídeos com tribos
indígenas7,26 e é possível que o processo de domesticação estivesse em curso quando da chegada
dos europeus ao continente americano*. Além disso, a introdução de porcos e de outras espécies
de animais de criação do velho mundo nas Américas faz com que hoje haja infecções por
nematódeos e outros helmintos compartilhadas entre as espécies autóctones e alóctones,
inclusive humanos, como o Ascaris sp.7, Stichorchis giganteus27 e o Macracanthorhynchus
hirudinaceus28.
*
Comunicação Pessoal de Luiz Flamarion de Oliveira em 2010 .
18
Neste contexto, o Pantanal do Brasil oferece uma situação peculiar para o estudo da
diversidade de helmintos intestinais entre porcos nativos e domésticos e as pequenas
comunidades humanas.
Como um dos mais importantes biomas brasileiros, o Pantanal vive uma intensa ação
antrópica e compartilha constante tensão entre conservação, ocupação humana, impactos
ambientais e atividades sustentáveis. Considerado a maior planície inundável do mundo, ocupa
38% da área da Bacia do Alto Paraguai, o que corresponde a 138.183 km2, e guarda o aquífero
Guarani, uma das maiores reservas de água do mundo29. Abrange parte dos Estados do Mato
Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, e se estende para a Bolívia e o Paraguai 30. É
considerado um dos 200 locais mais importantes para a conservação da biodiversidade mundial
pela alta diversidade e densidade populacional das espécies31.
A ocupação humana do Pantanal se intensificou há dois séculos e desde então, mostrouse particularmente agressiva com a pecuária extensiva, mas, sobretudo recentemente com a
destruição da cobertura vegetal e do manejo incorreto dos solos para a monocultura de grãos
nos planaltos ao entorno do bioma32. A comunidade humana dispersa no Pantanal traz consigo
expressões culturais características do isolamento ocasionado pelas cheias e vazantes dos
corixos pantaneiros33. As cheias obrigam os longos e enormes deslocamentos das comitivas de
gado para as áreas secas e de venda do gado e as populações isoladas sobrevivem de pequenas
plantações e criações de pequenos animais de subsistência e da pesca ou como barqueiros.
Recentemente parte desta população foi alocada em um ramo econômico crescente na
região, o ecoturismo. A rodovia Transpantaneira, parcialmente completa, assim como a estrada
Miranda-Corumbá, facilita o acesso de milhares de turistas e possibilitam o acesso ao Pantanal.
O crescente número de fazendas turísticas e de pousadas reflete bem a força do crescimento
deste ramo nessa região34.
É nesta perspectiva que foi construída a relação homem-porco no Pantanal. Com papel
privilegiado na mesa do pantaneiro, este animal é criado em quase todas as residências e,
frequentemente, em condições sanitárias inadequadas. Quando não criados, os suínos
participam da dieta da população, por meio da carne de caça do porco Monteiro, grupos de
porcos asselvajados há mais de duzentos anos, costume tradicional do povo pantaneiro35.
Adicionado a este contexto encontram-se os porcos do mato nativos, taiassuídeos que vivem
em simpatria com suínos domésticos ou ferais36.
No conjunto dos parques e reservas de proteção ambiental no Pantanal insere-se a
Reserva Particular do Patrimônio Natural do Serviço Social do Comércio (RPPN SESC
Pantanal), com área em torno de 107.000 hectares, criada em 1998, e formada por antigas
19
fazendas de gado situadas entre os rios Cuiabá e São Lourenço. O SESC realiza no local ações
que associam a conservação da natureza ao ecoturismo como alternativa econômica às
populações pantaneiras, apoiando-se em base de dados coletados cientificamente na própria
Reserva e entorno.
Nas pequenas comunidades do entorno a renda provem dos empregos gerados pelo
SESC na Reserva e no Hotel do SESC, da pesca, da agricultura e pecuária de subsistência.
Nestas áreas as criações de suínos são privilegiadas, mas também sem adequadas condições
higiênico-sanitária. O modelo de convivência entre porcos domésticos e nativos também se
repete nesta região.
Em meados de 2008, a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) foi convidada a estruturar
um projeto para a RPPN SESC Pantanal na expectativa de subsidiar ações do SESC para a
melhoria da qualidade de vida humana na região e para a conservação da biodiversidade local.
O convite foi realizado em resposta à pressão de alguns setores regionais que atribuíam à fauna
silvestre da Reserva o surgimento de diversas doenças na região.
Assim, elaborou-se projeto multidisciplinar chamado “Projetos Integrados em Saúde e
Ambiente SESC Pantanal/FIOCRUZ” com intuito inicial de identificar a ocorrência de
patógenos e contaminações no interior e no entorno da Reserva e a partir dos resultados, apoiar
o planejamento de ações tanto para a conservação da biodiversidade na Reserva quanto para a
assistência às comunidades do entorno, de modo a auxiliar o planejamento de modelo de
desenvolvimento local, de uso da Reserva para o turismo e para conservação.
É essa dinâmica tão peculiar do Pantanal que propicia estudos como o proposto, que
pretende, além de contribuir para o conjunto dos resultados do projeto, identificar os parasitos
de importância epidemiológica compartilhados entre porcos domésticos e silvestres e sua
relação com a saúde pública local. Os resultados possibilitarão a indicação de boas práticas para
a saúde humana, a criação de suínos na região e o manejo de taiassuídeos na Reserva.
20
2. Objetivos
2.1 Objetivos Gerais
Aprofundar o conhecimento a cerca das espécies de helmintos intestinais que parasitam
taiassuídeos e suídeos na RPPN SESC Pantanal, de modo a contribuir para o entendimento da
dinâmica da diversidade destes parasitas no Pantanal brasileiro e suas relações com a saúde das
comunidades humanas locais.
2.2 Objetivos Específicos

Identificar, por microscopia óptica de ovos e larvas de helmintos encontrados em
fezes coletadas no solo, os helmintos intestinais presentes nas populações de
taiassuídeos silvestres e suídeos domésticos na RPPN SESC Pantanal e seu entorno e
dentre eles, identificar as espécies de importância epidemiológica;

Analisar a diversidade de helmintos nas amostras de fezes de taiassuídeos e suídeos e
identificar os helmintos compartilhados entre estes hospedeiros;

Estudar as relações entre os helmintos encontrados e as condições ambientais
observadas que contribuem para agravos à saúde humana e comprometem a
conservação.
21
3. Referêncial Teórico
3.1. O Pantanal
O Pantanal é uma planície aluvial que se torna extensivamente alagada durante a estação
chuvosa. Localizada entre os paralelos 16° e 22° de latitude Sul e os meridianos 55° e 58° de
longitude Oeste, fica situada a apenas 80m a 150m sobre o nível do mar e estende-se por três
países, Brasil, Bolívia e Paraguai, com estimativas de tamanho variando entre 140.000 km2 e
210.000 km2. A porção brasileira situa-se no extremo centro-oeste de território nacional,
ocupando parte dos estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. O Brasil abriga em torno
de 90% do Pantanal, o restante do território pertence ao Paraguai e à Bolívia37.
A planície do Pantanal pode ser dividida em onze sub-regiões de acordo com aspectos
relacionados à inundação, relevo, solo e vegetação30 (Figura 1).
Figura 1. O Pantanal brasileiro e suas respectivas sub-regiões delimitadas38.
O clima do Pantanal se caracteriza por invernos secos (maio a setembro) e verões úmidos,
como o do cerrado. A temperatura anual média é de 25°C. Em janeiro a temperatura média varia
segundo a localidade no Pantanal, de 27° a 29°C e, em julho, de 18° a 23°C. A umidade relativa
do ar se mantém numa média de 70%39.
22
A planície pantaneira é uma depressão no interior da América do Sul, com altitude média
de 100 metros em relação ao nível do mar, cercada por serras e planaltos ao redor de 800 metros
de altura (alguns picos próximos a 1.000 metros, ou mesmo um pouco acima). O entorno possui
relevo considerado dos mais antigos na história da Terra, formada por depósitos do período
Quaternário e muitas de suas fisionomias geomorfológicas atuais são resquícios de uma
complexa história de mudanças paleoclimáticas e paleogeográficas que vêm ocorrendo desde o
Pleistoceno40.
O pulso de inundação da região é relativamente previsível, correspondendo a um ciclo
hidrológico anual influenciado por águas do rio Paraguai e de seus principais tributários e águas
das chuvas41. De Norte a Sul, no eixo do rio Paraguai, o Pantanal tem uma declividade de apenas
37cm/km. Este declive diminui ligeiramente ao sul do Pantanal e eleva-se um pouco perto de
Porto Mortinho. No eixo leste-oeste, a declividade é da ordem de 13,6 a 35cm/km42. O
escoamento é tão lento que os rios costumam extravasar seu leito quando recebem a contribuição
da estação chuvosa nas cabeceiras, o que explica a complexidade e permanente mudança dos
deltas na margem esquerda do Rio Paraguai. O regime de enchentes caracteriza as estações
pantaneiras como “enchente” (outubro a dezembro), “cheia” (janeiro a março), “vazante” (abril
a junho) e “estiagem” (julho a setembro)39.
A paisagem do Pantanal se caracteriza pelo mosaico composto de três distintos biomas
(Cerrado, Floresta Amazônica e Chaco) influenciados por regime sazonal de enchentes43 Abriga
alta diversidade de animais, incluindo 656 espécies de aves, 263 de peixes, 95 de mamíferos e
162 de répteis, a densidade de vida silvestre mais alta dos neotrópicos37.
A ocupação humana na região teve início com grupos indígenas a cerca de 8000 anos e
entre 3000 e 2000 anos atrás toda a planície já estava ocupada por diferentes grupos étnicos44.
Até meados do século XIX são mencionados aproximadamente 70 nações pertencentes aos
grupos linguísticos Tupi-Guarani e Arawak39. Com os constantes conflitos no processo de
colonização do interior brasileiro, a população indígena foi bastante reduzida. Hoje se estima que
residam na Bacia do Alto Paraguai entre 25 a 40 mil indígenas39.
Os índios foram quase que totalmente substituídos pela população proveniente da
colonização como os brancos e negros. Esta miscigenação, tipicamente brasileira, caracteriza
uma população bem adaptada às condições ecológicas locais de forte identidade cultural
resultado de mais de um século de ocupação. Os principais personagens deste cenário são os
“ribeirinhos”, habitantes das margens dos rios com maior proporção de “sangue indígena” e
dedicados à pesca, e os “pantaneiros”, população dedicada a pecuária, também chamada de
“boiadeiros” ou “vaqueiros”45.
23
A fixação humana na região está intimamente correlacionada com as questões políticoeconômicas que marcaram cada período da ocupação. Inicialmente no século XVIII, com as
bandeiras e a descoberta de ouro, foi necessário que se criasse uma “fronteira viva” que
delimitasse o novo território e assim surgiram as primeiras fazendas. Nestes estabelecimentos
eram criados bovinos, suínos e equinos onde muitos se tornaram ferais em razão ao péssimo
manejo feito pelos colonos. A pecuária continuou a ser o grande propulsor da economia local,
principalmente após a introdução do gado nelore em fins do século XIX, animal mais resistente
e rústico que permitiu ampliar a atividade pecuária na planície pantaneira.
Após a construção de Brasília, houve o “boom” populacional na região e com a
intensificação do uso do solo pela monocultura tipo exportação, principalmente a soja, o perfil
econômico e de ocupação vem se alterando. Hoje o Pantanal sofre de intensa interferência
antrópica direta, mas também indiretamente, visto que é fortemente dependente do fluxo de água
proveniente dos planaltos adjacentes. O desmatamento e a alteração do uso do solo nessas regiões
aumentam a erosão nos planaltos e sedimentação dos cursos d’água da planície, modificando
fluxo de água em todo o sistema, incidindo negativamente na biodiversidade32.
3.2. Os porcos e taiassuídeos
Porcos são ungulados da Ordem Artiodactylae Subordem Suiformes. O porco doméstico,
Sus scrofa (Linnaeus,1758) pertence a família Suidae e é oriundo do velho mundo. Está
distribuído quase de maneira cosmopolita em razão da colonização do homem e em algumas
regiões podem ser encontrados em estado feral.
As espécies americanas pertencem à família Tayassuidae e são o Tayassu pecari Link
1795 (Queixada), o Pecari tajacu Linnaeus 1758 (Cateto) e o Catagonus wagneri Rusconi 1930
(Taguá)46. Os catetos são amplamente distribuídos desde o Sul dos Estados Unidos até o Norte
da Argentina, as queixadas vivem do sul do México ao nordeste da Argentina, Equador, Peru,
leste da Bolívia, Paraguai até o Atlântico brasileiro pelas Américas, já o Taguá é endêmico no
Chaco americano e sua distribuição é restrita ao norte da Argentina, Paraguai e sul da Bolívia47.
Estes animais além de apresentarem similaridades fisioanatômicas são considerados
equivalentes ecológicos. Na região Centro-oeste do Brasil e na área deste estudo (Figura 2), tem
se especulado sobre as possíveis interações competitivas entre os porcos nativos e os porcos
ferais, visto a relação de simpatria entre as espécies a partir da colonização e a introdução de
porcos domésticos35,36,48.
24
A
B
D
C
Figura 2. A) Suínos criados de forma extensiva em íntimo contato com a população humana e
livre acesso aos ambientes domésticos e silvestre, Retiro; Barão de Melgaço, MT. Fonte:
Marcia Chame B) Caça ao porco Monteiro, uma tradição pantaneira35. C) Catetos em contato
com humanos no Pantanal sul matogrossense, Miranda-MS49. D) Grupo de queixadas
usufruindo de um barreiro, ponto de encontro comum de animais da região pantaneira,
Miranda-MS50.
acima + (49) bordas do brasil + (50) granville
3.2.1. Família Suidae
A interação de porcos do velho mundo com espécie humana data de mais de 10.000
anos51. A caracterização da espécie Sus scrofa Linnaeus, 1758 é controversa e passa por
constantes modificações. Wilson e Reeder46, por exemplo, consideram a existência de 16
subespécies enquanto Groves¹ elenca 17 subespécies todas, entretanto, próximas a espécie única
e original dos porcos selvagens (Javali ou Wild Boar), e ainda afirma que todas elas podem voltar
ao estado selvagem, readquirindo características fenotípicas perdidas com a domesticação.
O porco em estado feral é uma das espécies invasoras de mamíferos de maior sucesso no
mundo. Na região do Pantanal encontra-se o porco Monteiro, animal descendente dos porcos
domésticos trazidos para o Brasil pelos colonizadores que fundaram Albuquerque (atual
Corumbá), em 177835. Os animais escaparam ao manejo tradicional exercido pelo homem e
encontraram condições propícias para se reproduzirem, transformando-se em animais selvagens.
25
Fisicamente se assemelham aos javalis, de perfil afilado, membros fortes e ágeis e focinho longo
(Figura 3). Vivem aproximadamente 20 anos, sempre em grupos e são agressivos35.
Figura 3. Porco Monteiro52.
Os porcos Monteiro, assim como os porcos domésticos, são geralmente onívoros,
alimentando-se de folhas, sementes, raízes, frutos, insetos, ovos de pássaros, lagartos e pequenos
mamíferos. São mais ativos à noite e apresentam olfato extremamente sensível o que facilita a
localização de alimentos escondidos sob a vegetação. O focinho e as presas são utilizadas para
cavar e cortar raízes53.
3.2.2. Família Tayassuidae
Chamados também de porcos-do-mato ou porcos americanos, os taiassuídeos são
membros da ordem Artiodactyla, Subordem Suiformes, assim como os suínos, e divergiram do
seu ancestral comum no início do Oligoceno, há cerca de 23 milhões de anos54.
Os taiassuídeos apresentam os caninos superiores pequenos voltados para baixo, três
dedos e estômago com quatro câmaras gástricas. Facilmente adaptável a diferentes ambientes,
estão presentes em diferentes biomas americanos como a Caatinga, florestas tropicais, Chaco,
Pantanal e Pampas. Geralmente são onívoros e alimentam-se de folhas, sementes, raízes, frutos,
flores, insetos, ovos de pássaros, lagartos e pequenos mamíferos. São mais ativos à noite e
apresentam também um olfato extremamente sensível facilitando a localização de alimentos
26
escondidos sob a vegetação e da mesma forma utilizam o focinho e as presas para cavar e cortar
raízes47.
A queixada (Tayassu pecari Link, 1795) é o maior dos taiassuídeos, atingindo 1,10 m de
comprimento47. Apresenta pelagem das costas muito longa de coloração negro pardacenta. A
grande quantidade de pelos brancos na mandíbula e focinho lhe confere o apelido de pecari do
lábio branco (White-lipped pecari) (Figura 4). Vive em grandes grupos, geralmente de 50 a 100
indivíduos, compostos por fêmeas e machos de todas as idades e em uma grande variedade de
habitats. Com comportamento agressivo, os animais reverberam através movimentos
mandibulares um alto som bem característico da espécie, o que lhe confere a alcunha de
queixada55.
Figura 4. Tayassu pecari – Queixada56.
Os catetos (Pecari tajacu Linnaeus, 1758) apresentam atividade diurna e crepuscular,
alimentando-se, geralmente, nas primeiras horas da noite. A pelagem varia de marrom a negra,
salpicada de branca; possui uma crina de pelos mais longos que se estende até as ancas e possui
um colar branco sobre o pescoço, disposta de forma oblíqua desde o dorso até os ombros, o que
lhe confere a alcunha de pecari de colar (Collared Peccary)47 (Figura 5). São animais altamente
sociais, mas que formam bandos menores, geralmente, entre dois e 50 indivíduos57.
27
Figura 5. Pecari tajacu – Cateto. Foto: Marcia Chame.
Essas duas espécies vivem em simpatria na maior parte da área de sua ocorrência. Suas
características comportamentais distintas permitem essa coexistência. Os catetos possuem hábito
mais forrageiro que as queixadas, animais com estrutura mandibular mais densa capaz de se
alimentar de elementos mais rígidos como sementes e outros animais36. O comportamento
gregário, com maiores grupos nos queixadas e o horário de atividade, com os catetos mais diurnos
e queixadas de hábitos mais noturnos58, também permitem o uso de mesmos ambientes.
3.3. Helmintíases intestinais de suídeos e taiassuídeos no Pantanal
Apesar da crescente preocupação mundial com a conservação das espécies, comunidades
e ecossistemas, poucos são os trabalhos que relacionam os parasitos ao status das populações
silvestres59. No Pantanal a situação não é diferente, embora a criação de porcos domésticos seja
muito comum nas casas e povoados pantaneiros, e dos estudos com estas espécies serem nos
últimos anos mais intensificadas, as informações relativas à helmintofauna de mamíferos na
região do Pantanal são poucas.
O primeiro relato data da primeira metade do século XIX, quando o naturalista Natterer
coletou endoparasitos de répteis, mamíferos, aves e peixes na região de Cuiabá, MT. Esse
material originou algumas das primeiras descrições de parasitas no Brasil por Diesing e
Rudolphi60.
Travassos e colaboradores61 realizaram uma excursão científica ao norte do Pantanal, às
margens do rio Cuiabá no município de Poconé, MT, e em 43 dias necropsiaram 455 aves, 62
mamíferos, 63 peixes, 25 répteis e dois batráquios. Dos mamíferos examinados nesta excursão,
sete eram suídeos, doméstico ou asselvajado. Dois animais estavam parasitados com o cestoda
28
Stirchochis giganteus, dois com helmintos do gênero Ascaris sp. e espécie não identificada da
ordem Strongylida e dois suídeos com Trichuris sp.
Posteriormente, entre 1938 e 1942, sete outras excursões científicas foram realizadas ao
atual estado de Mato Grosso do Sul, mas sem resultados para suídeos e taiassuídeos62.
Em 2005, Nascimento e colaboradores63,64,65 realizaram um extenso trabalho no Pantanal
de Paiaguás, município de Corumbá, Mato grosso do Sul. Nesta pesquisa realizaram necropsia
de 10 suídeos asselvajados (porcos Monteiro) e 20 taiassuídeos (10 queixadas e 10 catetos). Nos
porcos Monteiro encontraram Oesophagostomum dentatum, Physocephalus sexalatus,
Stephanurus dentatus, Metastrongylus salmie e Stichorchis giganteus, enquanto nos taissuídeos
encontraram indivíduos de P. sexalatus, Ascarops strongylina, Parabronema pecarie,
Texicospirura turki, Trichostrongylus axei, T. colubriformis, Spiculopteragia tayassui, Cooperia
spatulata, C. punctata, Parostertagia heterospiculum, Strongyloides ransomi, Monodontus
aguiari, M. semicircularis, Macracanthorhynchus hirudinaceus, O. dentatum, Eucyathostomum
dentatum, Stichorchis giganteus, Metastrongylus salmi, Dirofilaria acutiuscula. Parte das
espécies que encontraram são inéditas para os hospedeiros não só no Pantanal, mas também no
Brasil e nas Américas, demonstrando a carência de estudos das helmintíases destes animais.
Com relação aos porcos domésticos criados em cativeiro as descrições para helmintíases
no Pantanal não fogem muito ao que se encontra nos registros para criações intensivas e
extensivas, visto que não possuem padrão básico de qualidade higiênico sanitário exigido em
propriedades com boas práticas de manejo66.
Por questões sanitárias e econômicas os parasitos de porcos são estudados de modo a
gerar medidas de controle que atendam as regras de mercado. Desta forma, são fartos os relatos
das parasitoses nos compêndios veterinários, ainda que muitas vezes restritos aos estudos
realizados em criações intensivas e semi-intensivas. As pesquisas que buscam helmintos em
suínos asselvajados também não conseguem ir muito aquém dos achados já descritos para os
animais de cativeiro (Tabela 1).
29
Tabela 1. Sinopse dos helmintos relatados para porco doméstico (Sus scrofa) no Brasil.
Helmintos
Autor
Nematoda
Spirurida
Spirocercidae
Physocephalus sexalatus
Ascarops strongylina
Gongylonematidae
Gongylonema pulchrum
Strongylida
Metastrongylidae
Metastrongylus pudendotectus
Metastrongylus enlongatus
Metastrongylus salmi
Ancylostomatidae
Ancylostoma caninum
Necator americanus
Globocephalus urosubulatus
Trichostrongylidae
Trichostrongylus colubriformis
Trichostrongylus axei
Hyostrongylus rubidus
Haemonchus contortus
Chabertiidae
Oesophagostomum dentatum
Oesophagostomum longicaudatum
Oesophagostomumquadrispinulatum
Bourgelatia diducata
Syngamidae
Stephanurus dentatus
Ascaridida
Ascarididae
Ascaris summ
Kathlaniidae
Cruzia brasiliensis
Trichurida
Trichinellidae
Trichuris suis
Trichuris trichiura
Rhabditida
Strongyloididae
Strongyloides ransomi
Strongyloides stercoralis
Cestoda
Anoplocephalidae
Moniezia benedeni
Taeniidae
Taenia hydatigena
Taenia solium
Echinococcus granulosus
Trematoda
Fasciolidae
Fasciola hepatica
Echinostomatidae
Pinto & Almeida, 1935
Pinto & Almeida, 1935
Unti, 1940
Freire, 1948
Areias & Figueiredo, 1939
Pinto & Almeida, 1935
Gordon, 1922
Travassos, 1915.
Cameron, 1924
Travassos, 1926
Travassos, 1921
Pinto & Almeida, 1935
Costa & Freitas, 1959
Travassos, 1914
Costa & Freitas, 1966
Brito et al., 1981 / Duarte, 1981
Neveu-Lemaire, 1936 / Costa & Freitas, 1966
Pinto, 1935 / Pinto & Almeida, 1935
Carvalho, 1940
Costa, 1965
Freitas & Costa, 1959
Pinto & Almeida, 1935
Schwartz & Alicata, 1930
Pinto & Almeida, 1935
Taylor et al., 2010
Ribeiro, 1951
Pardi et al., 1952
Ribeiro, 1951
Ribeiro, 1951
30
Echinostoma revolutum
Echinocasmussp.
Stephanoprora denticulata
Cladorchiidae
Stichorchis giganteus
Acantocephala
Kohn et al., 1972a
Travassos et al., 1969
Kohn et al., 1972b
Travassos et al., 1927
Oligacanthorhynchidae
Travassos, 1926
Macracanthorhynchus hirudinaceus
*Todas as fontes se encontram referenciadas em Anexo 1.
Além do trabalho de Nascimento e colaboradores64, somente mais dois trabalhos foram
encontrados com relatos de helmintos em porcos Monteiro no Pantanal. Ovando e Ribeiro67 em
trabalho realizado com porcos Monteiro da região do Pantanal encontraram em exame
histopatológico presença de Macracanthorhynchus hirudinaceus, Stephanurus dentatus e ovos
de Metastrongylus sp., em exames de fezes encontraram ovos de Trichuris suis e Strongyloidea
sp. e em achado macroscópico observaram helmintos do gênero Strongyloides sp. Paes e
colaboradores68 observaram em necropsias realizadas a partir de uma amostragem constituída de
193 porcos Monteiro capturados no Pantanal de Mato Grosso do Sul, dos quais 62 da região de
Nhecolândia e 131 da região de Rio Negro, no período de 2002 a 2007, a presença de
Macracanthorhynchus hirudinaceus, Stephanurus dentatus e Metastrongylus sp.
Os relatos de helmintíases intestinais em taiassuídeos na região do Pantanal ainda são
insipientes. Travassos e colaboradores61 foram os primeiros a realizar esta pesquisa, mas desde
então pouco se acrescentou. Grande parte da bibliografia sobre helmintofauna de pecarídeos está
relacionada a criações mantidas em cativeiro destes animais ou em trabalhos realizados fora do
país (Tabela 2).
31
Tabela 2. Sinopse dos helmintos relatados para catetos (Pecari tajacu) nas Américas, no Brasil e no Pantanal.
Helmintos
Nematoda
Spirurida
Spirocercidae
Texicospiura cesticillus
Texicospirura turki
Physocephalus sexalatus
Ascarops strongylina
Gongylonematidae
Gongylonema pulchrum
Gongylonema baylisi
Onchocercidae
Dirofilaria acutiuscula
Habronematidae
Parabronema pecariae
Strongylida
Metastrongylidae
Metastrongylus salmi
Strongylidae
Eucyathostomum dentatum
Ancylostomatidae
Presença confirmada (Autor/data)
Brasil
Américas
---
Pantanal
Lopez-Neyra, 1951
---
Neto & Thatcher, 1986
Nascimento et al., 2005
---
Neto & Thatcher, 1986
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Corn, 1983
Samuel & Low, 1970
---
---
Freitas & Lent, 1937
Samuel & Low, 1970
Lent & Freitas, 1937
Nascimento et al., 2005
Schwartz & Alicata, 1933
Neto & Thatcher, 1986
Nascimento et al., 2005
---
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
---
Travassos, 1937a
Nascimento et al., 2005
---
---
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Chitwood & Cordero de
Campillo, 1966
Schwartz & Alicata, 1933
---
Romero-Castañón et al., 2008
Globocephalus urosubulatus
Trichostrongylidae
Parostertagia heterospiculum
Schwartz & Alicata, 1933
Trichostrongylus colubriformis
Samson & Donaldson, 1968
--Trichostrongylus axei
--Cooperia punctata
--Cooperia spatulata
--Mazamastrongylus (Spiculopteragia) tayassui
Molineidae
32
Monodontus semicircularis
Monodontus aguiari
Nematodirus molini
Chabertiidae
Oesophagostomum sp.
Oesophagostomum dentatum
Syngamidae
Stephanurus dentatus
Rhabditida
Strongyloididae
Strongyloides ransomi
Ascaridida
Ascarididae
Toxocara alienata
Ascaris suum
Kathlaniidae
Cruzia brasiliensis
Trichurida
Trichuridae
Trichuris sp.
Trichinellidae
Capillaria hepatica
Trematoda
Fasciolidae
Fascioloides magna
Cladorchiidae
Stichorchis giganteus
Paramphistomidae
Paramphistomum sp.
Paragonimidae
Paragonimus sp.
Cestoda
-------
Travassos,1929
Nascimento et al., 2005
Travassos, 1937b
Romero-Castañón et al., 2008
Travassos, 1914
---
---
Travassos, 1914
Nascimento et al., 2005
Harwell et al., 1997
---
---
---
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
Sprent, 1982
Hellgreen, 1984
-----
-----
---
Oliveira & Almeida, 2013
---
---
Neto & Thatcher, 1986
---
Mandorino & Rebouças, 1991
Olsen, 1974, apud Sowls, 1997
---
Samuel & Low, 1970
---
---
---
Vaz, 1935
Nascimento et al., 2005
Romero-Castañón et al., 2008
---
---
Carlos et al., 2008
---
---
33
Nascimento et al., 2005
Nascimento et al., 2005
---
Anoplocephalidae
Moniezia benedeni
Cladorchiidae
Schizotaenia descrescens
Alicata, 1932
Rego, 1961
---
Wright, 1932 apud Sowls,
1997
---
---
Travassos, 1926
Nascimento et al., 2005
Machado-Filho, 1963
---
Acantocephala
Oligacanthorhynchidae
Macracanthorhynchus hirudinaceus
Oligacanthorhynchus major
-----
34
4. Metodologia
4.1. Área de estudo
O Brasil possui um conjunto de áreas naturais protegidas por lei, de usos distintos e
denominadas Unidades de Conservação (UC) com o fim de conservar a rica biodiversidade do
País. Somente o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) gere 310 UC federais, além
das unidades sob gestão estadual, municipal e particular69. Comparada aos demais biomas
brasileiros, o Pantanal possui poucas UCs e estas estão distribuídas em 11 Parques, duas Estações
Ecológicas, duas Áreas de Proteção Ambiental e 11 Reservas Particulares do Patrimônio Natural,
totalizando 900 mil hectares70.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é uma categoria de unidade de
conservação privada71 criada com objetivo de conservar a diversidade biológica e, na qual seus
proprietários podem desenvolver atividades de ecoturismo, educação ambiental e pesquisa
científica. A iniciativa para criação da RPPN é ato voluntário do proprietário e não acarreta perda
do direito de propriedade. O título de RPPN dado a uma área particular é de caráter perpétuo. O
alto grau de fragmentação dos biomas tornam as RPPNs importante instrumento de conservação
da natureza aliado aos esforços de criação de unidades de conservação de domínio público72.
A RPPN SESC Pantanal, com seus 106.644 ha, é uma das maiores do País e representativa
do bioma pantaneiro e das ações positivas que podem gerar para as comunidades presente no
entorno da Reserva. É administrada pelo SESC, Serviço Social do Comércio, instituição de
direito privado, sem fins lucrativos, mantida por empresários do comércio de bens e serviços com
finalidade de proporcionar o bem-estar e qualidade de vida do comerciário, sua família e da
sociedade.
A Reserva situa-se no Município de Barão de Melgaço, ao sul de Cuiabá. Os limites
terrestres a sul são estabelecidos com a Reserva Indígena Perigara, da nação indígena Bororo, a
oeste por fazendas tradicionais de criação de gado, cujas dimensões variam entre grande e médio
porte, a nordeste se limita com as pequenas e médias propriedades rurais das comunidades de
São Pedro de Joselândia e Pimenteiras e ao norte com o rio Cuiabá e a leste com o rio São
Lourenço. Nas margens opostas dos dois grandes rios, confronta-se com propriedades médias e
grandes de criação de gado. Na margem do rio São Lourenço a reserva é vizinha a uma das
35
maiores fazendas pantaneiras, a Santa Lúcia e no rio Cuiabá, é vizinha ao Hotel SESC Porto
Cercado (Figura 6).
Figura 6. A) Localização da RPPN SESC Pantanal, Município Barão de Melgaço, a partir do Google
Earth. B) Vista aérea do Hotel SESC em Porto Cercado, Poconé, à margem do Rio Cuiabá.
A RPPN SESC Pantanal destina-se preservação das espécies, ao turismo ecológico, à
pesquisa científica e ao desenvolvimento sustentável das comunidades em seu entorno73.
Sob influência do regime de cheias e vazantes dos rios Cuiabá (ao norte e a oeste) e São
Lourenço (a leste), as cheias na região da RPPN não difere muito do contexto pantaneiro que
possui médias históricas entorno de 4 metros. O pico das cheias ocorre no período de março a
início de abril, para logo haver uma queda acentuada no nível dos rios em junho e julho até a
subida das águas a partir de outubro74.
O clima é caracterizado basicamente por duas estações, a estação da seca no meio do ano
e chuvas concentradas no fim e no início de cada ano75. As quedas de temperatura com a chegada
de friagens são, geralmente, muito bruscas: em menos de 12 horas o termômetro pode alcançar
30° C e chegar a menos de 10° C nas madrugadas. Os períodos anteriores ao início da estação
chuvosa apresentam elevações da temperatura, quando as máximas diárias ficam em torno de 40°
C. O mês mais chuvoso é janeiro, com variações entre 150 milímetros e 250 milímetros. O de
menor precipitação é julho, com média entre 10 a 40mm73.
36
Já foram descritas 189 espécies de plantas, entre aquáticas e terrestres, englobando as
ervas, arbustos e árvores76. As principais fitofisionomias presentes são as matas ciliares,
densamente ocupadas por palmeiras de acuris (Scheelea phalerata) (Figura 7), os Cambarazais
ocorrendo em vários pontos da Reserva com predomínio do cambará (Vochysia divergens); os
cerrados e cerradões dominando a região central e norte com vegetação típica de cerrado; a mata
seca caracterizada pela presença de grandes árvores como o jatobeiro-mirim (Hymenaea
courbari) e a ximbuva (Enterolobium contortisiliquum); os campos inundáveis, onde a presença
de gramíneas reforça a dificuldade que outras plantas possuem em fixar-se nesta região
estacionalmente alagada e, por fim, o brejo, área alagada ou úmida de forma perene onde se
instalam plantas típicas desse ambiente como o piri (Cyperus sp.) e a cruz-de-malta (Ludwigia
sp.)73.
Figura 7. Mata de acurizal caracterizada pela presença das Palmeiras de Acuris
(Scheelea phalerata), RPPN SESC Pantanal – MT.
A fauna da RPPN está parcialmente inventariada para alguns grupos e já bastante
aprofundada para outros. Dentre os insetos foram identificadas 28 espécies de borboletas, com
estudos de pelo menos oito ordens e 103 famílias. 157 espécies de peixes são encontradas nos
cursos d’água da Reserva, diversidade que representa 60% do total da bacia do alto Rio Paraguai.
O primeiro Plano de Manejo da RPPN76 lista 27 espécies de répteis e 23 de anfíbios. Entre as
aves estão descritas 340 espécies77 e entre os mamíferos 83 espécies, das quais 10 espécies estão
37
ameaçadas de extinção no Brasil, reforçando a importância do caráter conservacionista da
RPPN73.
A ocupação humana na área do Pantanal de Barão de Melgaço se deu pelos índios Bororo,
grupo do tronco linguístico Jê, que habitava as partes mais secas do Pantanal e suas bordas, e na
margem da Reserva permanecem até hoje. Há registro de moradores em Barão de Melgaço de
1750 e do nascimento de Poconé, na margem direita do Rio Cuiabá, em frente à RPPN, em 1777
a partir das minas de ouro do Beripoconé. Atualmente Barão de Melgaço possui população
pequena, em torno de 7591 habitantes, onde mais da metade se encontra em área rural78. Poconé,
entretanto, é uma cidade bem maior, com população mensurada pelo Censo de 2010 de 31.779
habitantes78.
As principais atividades econômicas nas duas cidades antes da implantação da RPPN era
a pecuária extensiva. Atualmente grande parte da receita dos municípios advém do ICMS
ecológico gerado com a criação da Reserva. A implantação da RPPN SESC Pantanal implicou
de imediato, na ampliação dos investimentos em preservação ambiental, no acesso das
populações locais a novas tecnologias, na expansão do emprego direto e indireto e na capacitação
dos recursos humanos locais, com reflexos diretos na melhoria da qualidade de vida da população
dos dois municípios. Programas articulados de aproveitamento dos recursos extrativistas com
envolvimento direto de segmentos sociais mais carentes vêm estimulando o surgimento de novas
propostas, com ênfase no aproveitamento racional das potencialidades regionais sem prejuízo de
sua maior riqueza, a biodiversidade do Pantanal73.
As comunidades do entorno imediato da RPNN são pequenas, situadas no munícipio de
Barão de Melgaço, e se restringem ao Retiro de São Bento, Colônia de Santa Isabel na margem
do Rio São Lourenço e Pimenteira e São Pedro de Joselândia, esta última a maior delas. Boa
parte das pessoas trabalham na Reserva, como guardas-parque ou ainda em serviços temporários.
4.2. Metodologia de coleta de campo
Para a coleta de amostras de fezes de catetos e porcos buscou-se cobrir todas as
fitofisionomias da reserva, assim como nas vilas do entorno e as comunidades ribeirinhas.
Contou-se com a infraestrutura dos postos de apoio para pernoites e o processamento adequado
das amostras e com a logística da RPPN para acesso e deslocamento entre os postos de apoio e
demais áreas.
Desta forma, foram utilizados no interior da RPPN seis áreas de coleta
permanentes, os postos de São Joaquim, Santo André, São Luiz, Santa Maria, Espírito Santo,
Estirão e ainda outros exploratórios. Nas comunidades do entorno as coletas foram realizadas
38
em São Pedro de Joselândia, Pimenteiras, Retiro, Colônia de Santa Isabel e ainda em Porto
Cercado (Figura 8).
Figura 8. Mapa da RPPN SESC Pantanal indicando os pontos de coleta permanentes.
Todos pontos de coleta foram georrefenciados com auxílio de GPS (Garmin e-trex®) em
UTM Datum South American Data 69. A cada coleta os pontos eram identificados com, além da
localidade, a data, nome do coletor e a possível espécie (Figura 9). Em razão da complexa
sazonalidade da região, foram realizadas duas coletas durante a estação seca e duas na estação
chuvosa.
39
Figura 9. Acondicionamento das amostras e anotação da
localidade, data da coleta e possível espécie. Foto: Norma
Labarthe.
As áreas de coleta foram percorridas à pé, à cavalo ou de quadriciclo. As coletas de fezes
foram feitas de forma oportunística ao longo de trilhas, estradas e aceiros entre os postos de apoio
da Reserva e nas comunidades percorridas, nas margens de lagoas, baías, barreiros, rios e corixos
e ao redor dos quintais e ruas das comunidades e eventualmente em chiqueiros. Buscou-se obter
amostras representativas das espécies de interesse no mosaico da paisagem e no gradiente de
presença humana.
As fezes coletadas no campo foram secas naturalmente no ambiente, embaladas em sacos
plásticos e identificadas quanto à localização e sua possível origem. Fezes úmidas para as quais
não foi possível realizar a secagem foram acondicionadas em saco plástico e conservadas em
solução de Railliet & Henry, a fim de impedir crescimento de fungos e bactérias e garantir a
conservação de ovos e larvas de helmintos.
4.3. Suficiência amostral
Uma das questões levantadas nos estudos de comunidades biológicas em que se busca
descobrir a riqueza e composição de espécies numa determinada região é se o número amostral
coletado é suficientemente representativo para gerar as respostas pretendidas.
Considerando esta problemática foi realizada a construção de curvas de acumulação de
espécies para, assim, avaliar a suficiência amostral do estudo, como descrito em Krebs79. O
resultado gráfico mostra duas curvas, uma na qual se observa o número de espécies de
morfoespécies de ovos de helmintos registradas versus o número cumulativo de amostras
40
analisadas e a outra (mais fina) que descreve a média da distância (Sorensen) entre as amostras
e o conjunto amostral, como uma função do tamanho amostral. A curva projetada permite
identificar se o número de morfoespécies de ovos helmintos se estabiliza com o aumento amostral
e com isso novas coletas não garantiriam o encontro de novas espécies.
4.4. Identificação das fezes
A identificação das amostras foi realizada em campo pela observação da morfologia e
métricas das fezes e ainda, quando existente, pela associação com vestígios, tais como buracos
no solo escavados pelos porcos, pegadas e rastros ou ainda a observação direta do animal80
(Figura 10).
Figura 10. Identificação das fezes a campo podem ser realizadas com auxílio: A) da coleta próximo aos
animais. Foto: Marcia Chame; B) características morfometricas das fezes. Foto: Hugo Costa.
4.5. Análise parasitológica
No Laboratório as amostras foram tombadas no banco de dados da Coleção de Fezes de
Animais Brasileiros do Laboratório de Ecologia do Departamento de Endemias da Escola
Nacional de Saúde Pública. As amostras íntegras foram medidas, comprimento e maior diâmetro
em milímetros e escaneadas em tamanho real para arquivo digital das imagens (Figura 11 e 12).
Todas as informações das amostras estão registradas em banco de dados em EXCEL®.
41
Figura 11. Fezes de Pecari tajacu - Coleção de Fezes de Animais Brasileiros do
Laboratório de Ecologia do Departamento de Endemias da Escola Nacional de Saúde
Pública.
Figura 12. Fezes de Porco Monteiro (Sus scrofa) - Coleção de Fezes de Animais
Brasileiros do Laboratório de Ecologia do Departamento de Endemias da Escola
Nacional de Saúde Pública.
42
Para análise parasitológica, cerca de 5g de fezes secas foram reidratadas em solução
aquosa de fosfato trissódico a 0,5%81, por 72hs. Tanto as amostras que em campo foram
acondicionadas em meio líquido conservante, quanto as que foram reidratadas em laboratório,
foram homogeneizadas com auxílio de bastão de vidro em um Becker. Essa mistura foi então
coada em gaze dupla colocadas sobre funil para que os restos alimentares macroscópicos
pudessem ser triados do meio líquido a ser sedimentado em cálice, de acordo com a técnica de
sedimentação espontânea de Lutz82. Em todas as etapas as amostras foram mantidas em formol
acético (solução de Railliet & Henry), para conservação em recipientes fechados e devidamente
etiquetados para análise microscópica.
Com o sedimento obtido depois de 48h, foram confeccionadas lâminas para leitura
microscópica. O material retido na gaze foi acondicionado em recipientes contendo também
solução de Railliet & Henry, etiquetados e adicionados à Coleção de Fezes de Animais
Brasileiros do Laboratório de Ecologia do Departamento de Endemias da Escola Nacional de
Saúde Pública.
Foram confeccionadas 15 lâminas, com 20μl cada, com o sedimento de cada amostra,
para a identificação e registro morfológico e métrico dos ovos, comprimento e largura em
micrômetros, além do registro digital das imagens, com o uso do Software IMAGEPRO®. Todos
os ovos encontrados foram medidos em aumento de 400 x.
A identificação dos ovos e larvas dos helmintos encontrados nas fezes foi baseada na
morfologia, tamanho e estruturas características como opérculos, espessura, ornamentos e tipos
de membranas, acúleos, organização de massa embrionária, bainha, entre outras. Estas foram
comparadas às descrições disponíveis na literatura. Ovos distintos identificados de uma família,
mas sem identificação de gênero ou espécie, foram tratados como morfoespécie de modo a
distingui-los e não prejudicar o cálculo de riqueza e diversidade da helmintofauna.
4.6. Análise dos resultados parasitológicos
Ovos encontrados foram identificados em microscopia de luz ao menor taxa possível,
considerando as restrições de identificação existentes, de acordo com a literatura específica. As
medidas dos ovos foram realizadas com auxílio do software IMAGEPRO® e registradas em
planilhas para possibilitar o cálculo das médias, desvios padrão e valores máximos e mínimos do
43
comprimento e largura, de forma a subsidiar a identificação taxonômica e registrar a morfometria
destes na região.
Para detalhamento da morfologia e métricas dos ovos as médias, desvio padrão e
amplitude do comprimento e largura dos ovos foram calculadas.
Análises estatísticas simples de frequência de ocorrência de ovos foram obtidas para cada
espécie ou morfoespécie de helminto identificada nos dois hospedeiros estudados, com intuito
de conhecer as espécies de maior prevalência na região.
4.6.1. Diversidade de espécies de helmintos a partir do encontro de ovos e larvas em fezes
Diversos são os índices disponíveis para o cálculo de diversidade de espécies. Hubálek83,
por exemplo, lista e avalia 24 índices e é fato não existe um único capaz de fornecer em apenas
um valor a real diversidade de uma determinada comunidade ecológica. Hurlbert84 critica o uso
dos índices per se e ressalta que o ideal é conhecer as características dos índices existentes,
avaliando seus prós e contras. Idealmente os valores obtidos devem estabilizar a partir de um
tamanho relativamente pequeno do universo amostral e devem também ter sensibilidade quanto
à adição de espécies e à presença de espécies raras, ou seja, deve ser capaz de distinguir
comunidades com maior número destas espécies.
O índice de riqueza é mensurado pela simples contagem do número de espécies presente
na comunidade. É um índice, simples, claro e direto, entretanto é importante ressaltar que para a
contagem ser representativa é necessária uma amostra significativa, que consiga contabilizar
inclusive espécies raras20. No entanto, a utilização apenas do índice de riqueza como indicador
de diversidade biológica não é suficiente uma vez que ele não apresenta relação linear da área
amostrada com o número de indivíduos amostrados e a presença de espécies raras têm o mesmo
peso que as espécies abundantes.
Desta forma, para o cálculo de diversidade de ovos de espécies de helmintos encontradas
nas fezes das espécies hospedeiras estudadas foram escolhidos os índices de Shannon (H’) e
Simpson (Ds) por serem os índices classicamente utilizados e por isso, possíveis de serem
comparados com outros estudos. Estes foram calculados com auxílio do Software PCORD®versão6.185. Os resultados foram confrontados por testes estatísticos clássicos de
significância de diferenças.
O índice de Shannon (H’) foi utilizado por estimar diversidade de espécies da
helmintofauna nos dois hospedeiros pois é incrementado tanto pelo adicionamento de uma nova
44
espécie quanto pela equitabilidade da ocorrência destas. Considera portanto, as espécies raras em
relação aos hospedeiros.
Para este estudo os elementos da fórmula foram adequados para o cálculo da diversidade
de ovos encontrados em amostras de fezes, uma vez que a ocorrência da espécie está vinculada
a presença dela ou não às amostra. Sendo assim, o índice de diversidade de Shannon foi calculado
por meio da fórmula:
Onde:
Pi é originalmente a proporção da espécie em relação ao número total de espécimes
encontrados nos levantamentos realizados, neste caso, consideramos a proporção de amostras
positivas para determinada espécie/morfoespécie de helminto em relação ao total de amostras
analisadas.
i = o número de indivíduos de cada espécie (abundância da espécie),
neste caso
consideramos o número de amostras nas quais cada espécie/morfoespécie de helminto foi
encontrada.
S = o número de espécie/morfoespécies (riqueza).
n = número total de espécies, neste caso equivalente ao número total de amostras.
A abundância relativa de cada espécie (pi) é calculada pela proporção dos indivíduos de
uma espécie pelo número total dos indivíduos da comunidade. No caso deste estudo, a
abundância relativa pi foi calculada pela proporção de amostras positivas para cada
espécie/morfoespécie de helminto relativizada pelo número total de amostras.
O índice de Simpson (Ds) foi usado para estimar a dominância das diferentes espécies de
helmintos em relação aos hospedeiros. Este índice, diferentemente, mas complementar ao índice
de Shannon, considera além do número de espécies/morfoespécies (s) e o total de números de
indivíduos (N), a proporção do total de ocorrência de cada espécie/morfoespécie. Por isso gera,
além da riqueza e abundância, a indicação de dominância de espécies numa comunidade.
Para cálculo do índice de Simpson utiliza-se a fórmula:
45
Onde:
S = o número de espécies/morfoespécies
N = número total de espécies presentes/morfoespécies
n = o número de exemplares por espécies
No caso deste estudo, n foi considerado como o número de amostras positivas para a
espécie/morfoespécie de helmintos.
Este Índice varia de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1, maior a chance das espécies serem
iguais, portanto a biodiversidade ser menor.
As diferenças da significância da diversidade de espécies/morfoespécies de helmintos
entre os hospedeiros foram verificadas pelo teste T proposto por Poole86.
Índices de heterogeneidade levam em consideração a riqueza e a equitabilidade. O índice
de Simpson considera também a abundância de cada espécie e indica a probabilidade de dois
indivíduos sorteados de uma comunidade pertencerem à mesma espécie. O índice de Shannon,
bem sensível a espécies raras e a variações na abundância, complementa as informações trazidas
pelo índice de Shannon.
4.6.2. Critérios para classificação de helmintos de importância epidemiológica
Para o presente trabalho foram definidos dois grupos de importância epidemiológica, um
de importância zootécnica e outro grupo de importância médica.
O grupo de helmintos de importância zootécnica compreende as espécies mais
importantes no que tange a sanidade suína no Brasil relatadas nos principais compêndios
veterinários66,87,88,89,90. Esta informação levanta outras preocupações, além da sanidade produtiva
do rebanho suino local, pois acometem também a saúde dos animais silvestres, visto que
pecarídeos podem compartilhar com suínos domésticos os mesmos helmintos.
Os helmintos de importância médica são as espécies zoonóticas de importância
epidemiológica para a saúde humana. Para isso foi estabelecido como critério a presença de relato
científico de caso descrito no Brasil.
4.6.3. Similaridade da diversidade de helmintos em Sus scrofa e Pecari tajacu
46
Para calcular a similaridade da fauna helmíntica entre S. scrofa e P. tajacu utilizou-se o
Índice de Similaridade de Sorensen (IS)91. A partir dele é possível fazer inferências sobre a
sobreposição de habitats, hábitos e fluxos de helmintos entre elas.
O índice de Sorensen se adéqua muito bem ao estudo de comunidades uma vez que é
semimétrico e é calculado pela razão do número de espécies de helmintos compartilhadas entre
suínos e taiassuídeos sobre o somatório do número total de morfoespécies de ovos de helmintos
encontrados nas duas espécies de hospedeiros.
Para cálculo do índice de Sorensen utiliza-se a fórmula:
IS = 2 W / (A+B)
Onde:
W = espécies de helmintos compartilhadas entre S. scrofa e P. tajacu
A = espécies de helmintos que ocorrem em S. scrofa
B = espécies de helmintos que ocorrem em P. tajacu
Foram testados três grupos diferentes de parasitos, para comparar o quanto cada grupo
compartilha de helmintos, definidos por:
A- Helmintos parasitos em geral, incluindo os possíveis falsos parasitos
B - Helmintos de importância zootécnica
C- Helmintos de importância médica
47
5. Resultados
5.1. Análises parasitológicas
Nas quatro expedições ao SESC Pantanal foram coletadas 803 amostras de fezes de
mamíferos sendo 118 amostras de suiniformes, dentre as quais nove amostras de fezes de
queixadas, 53 de catetos e 56 de porcos/porcos Monteiros. Pelo pequeno número amostral frente
a outras espécies, as amostras de queixadas não foram analisadas no presente trabalho evitando
possíveis viéses de interpretações.
Nas 56 amostras de fezes de Sus scrofa analisadas a prevalência de amostras positivas
para ovos e larvas de helmintos intestinais foi de 73,214% (41/56), enquanto que para as 53
amostras de fezes de Pecari tajacu a prevalência foi de 67,925% (36/53). Observou-se o
poliparasitismo em 83,01% (n=44) das amostras de catetos e 85,71% (n=48) nas amostras de
porcos. Das amostras de fezes analisadas de catetos, 33,96% (n=18) apresentaram apenas uma
morfoespécie de ovo, 26,41% (n=14) apresentaram ovos de duas morfoespecies, 5,66% (n=3)
três e 7,54% (n=4) quatro morfoespécies de ovos em uma mesma amostra. Nas amostras de fezes
de porcos, 46,85% (n=24) apresentaram apenas uma morfoespécie de ovo, 16,07% (n=9)
apresentaram ovos de duas morfoespecies, 14,28 % (n=8) de três e não foi encontrada nenhuma
amostra com 4 ou mais morfoespécies de ovos (Tabela 3).
Tabela 3. Resultado das análises parasitológicas de fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu na RPPN Sesc
Pantanal, MT de 2009 a 2012.
Sus scrofa
Pecari tajacu
41/56 (73,214%)
36/53 (67,925%)
N especie de helmintos (S)
8
9
N amostras positivas para 1 parasito
24
18
N amostras positivas para 2 parasitos
9
14
N amostras positivas para 3 parasitos
8
3
N amostras positivas para 4 parasitos
0
4
N amostras positivas para helmintos
48
Onze morfoespécies de ovos de helmintos foram encontradas no conjunto de amostras
analisadas de fezes de porcos e taiassuídeos.
Nove morfoespécies pertencem ao Filo Nemathelminthes Classe Nematoda: Ascaris
suum,
Strongylida
1,
Strongylida
2,
Metastrongylus
sp.,
Oxyuridae,
Spiruridae,
Trichostrongylidae, Nematoda, Trichuris sp., um pertence ao Filo Platyhelminthes Classe
Cestoda (Anaplocephalidae) e uma ao Filo Acanthocephala, Macracanthorhynchus hirudinaceus
(Tabela 4).
Dentre os ovos dos helmintos encontrados, ovos de Nematoda não identificados foram
presentes somente em amostras de P. tajacu, assim como os ovos de Trichostrongilidae e
Anaplocephalidae. Ascaris suum e ovos de Oxyuridae foram encontrados somente em amostras
de S. scrofa (Tabela 4).
49
Tabela 4. Ovos de helmintos identificados em amostras de fezes de suídeos e taiassuídeos na RPPN SESC Pantanal, MT de 2009 a 2012.
Helmintos
Nematoda
Ascaridida
Ascarididae
Ascaris suum
Strongylida
Strongylida 1
Strongylida 2
Metastrongylidae
Metastrongylus sp.
Oxyuridae
Spiruridae
Trichostrongylidae
Trichurida
Trichuris sp.
Nematoda
Cestoda
Anaplocephalidae
Acantocephala
Oligacanthorhynchidae
Macracanthorhynchus
hirudinaceus
Sus scrofa (n total = 56)
Pecari tajacu (n total = 53)
N positivas
Frequência
16
28,571
899
17
3
30,357
5,357
16
3
2
---
Amplitude medidas ovos (µm)
Média
Desvio padrão
65,258 - 32,500
64,663 X 52,489
5,512 x 4,872
41,388 - 79,541
62,93 - 117,151
21,762 - 49,779
27,066 - 75,29
67,824 x 40,023
94,959 x 51,337
6,842 x 3,959
8,244 x 6,199
115
--9
7
61,675 - 28,551
104,391 - 75,549
51,418 - 21,644
57,5 - 42,5*
47,5 - 21,189
42,68 - 11,111
32,191 - 21,644
27,5 – 15*
45,698 x 33,652
87,888 x 31,569
37,071 - 19,549
49,643 x 22,857
6,538 x 4,491
6,765 x 4,023
6,882 - 5,159
6,026 x 4,190
1,887
9,434
5
10
62,911 - 54,385
54,323 - 37-335
32,717 - 27,489
30,798 - 45,335
60,094 x 30,309
44,829 x 25,645
3.036 x 1,889
5,467 x 4,428
1
1,887
21
67,5 – 45*
65 – 40*
52,262 X 49,286
6,016 X 6,574
35
66,038
1399
121,347 - 64,358
68,415 - 32,5
98,715 X 54,899
9,133 X 5,633
N (ovos) N positivas
Frequência
N (ovos)
Comprimento
Largura
---
---
---
78,292 - 40,796
1845
148
2
2
3,773
3,773
3
6
28,571
5,357
3,571
---
326
437
5
---
8
--3
2
15,094
--5,66
3,773
1
---
1,786
---
1
---
1
5
---
---
---
8
14,286
144
*Ovos medidos com régua ótica milimétrica.
50
5.1.1. Morfoespécies de ovos de helmintos
Filo Nemathelminthes
Classe Nematoda
Família Ascarididae
Ascaris suum Linnaeus 1758
Ovos ligeiramente ovais ou quase redondos de cor castanha, com dupla membrana. A
membrana externa é albuminosa e mamilonada e a membrana interna é espessa. De tamanho
médio de comprimento 64,663 µm e 52,489 µm de largura o ovo em seu interior ou é larvado ou
possui uma célula germinativa não segmentada. Para diferenciá-los da espécie A. lumbricoides
foi utilizado critérios epidemiológicos como hospedeiro, abundância e local de coleta, visto que
à microscopia ótica o A. suum é de difícil diferenciação para A. lumbricoides. Ovos encontrados
em amostras suínos.
Figura 13. Ovo larvado de Ascaris suum (58,311
µm x 52,994 µm) em fezes de porcos domésticos
do entorno da RPPN SESC Pantanal.
Strongylida 1
Ovos de tamanho médio com amplitudes variando entre 41,388 µm e 79,541 µm de
comprimento e entre 21,762 µm e 49,779 µm de largura, com tamanho médio de 67,824 µm de
comprimento e 40,023µm de largura e desvio padrão de 6,842µm de comprimento e 3,959µm de
largura. Possui casca delgada e lisa contendo em seu interior massa embrionada morulada. Estes
ovos foram encontrados nos catetos e porcos domésticos. Ovos com tamanho e aparência dos da
51
família Trichostrongylidae, entretanto ainda semelhantes aos da família Ancylostomatidae o que
não permitiu sua distinção.
Figura 14. Ovo de Strongylida 1 (73,506 µm x 45,13 µm)
encontrado em fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu na
RPPN SESC do Pantanal e seu entorno.
Strongylida 2
Ovos de estrongilídeos grandes encontrados em suínos e taiassuídeos, de casca fina e lisa
com massa embrionária ou larva em seu interior. A média do comprimento foi de 94,959 µm e
51,337 µm de largura, com um desvio padrão de 8,244 µm e 6,199 µm para comprimento e
largura respectivamente. A amplitude variou de 62,93 µm a 117,151 µm de comprimento e
27,066 µm a 75,29 µm de largura. Ovos semelhantes aos do gênero Trichostongylus sp.
Figura 15. Ovo de Strongylida 2 (104,557 µm x 50,802
µm) encontrado em fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu
na RPPN SESC do Pantanal e seu entorno.
52
Família: Metastrongylidae
Metastrongylus sp. Molin, 1861
Ovos arredondados de casca dupla rugosa, bem definida e interior larvado. A amplitude
observada foi 61,675 µm e 28,551 µm para o comprimento e 47,5 µm e 21,189 µm para a largura.
A média dos tamanhos dos ovos foi de 45,698 µm de comprimento e 33,652 µm de largura, com
desvios padrão 6,538 µm e 4,491 µm, respectivamente. Ovos encontrados em amostras de suínos
e taiassuídeos.
Figura 16. Ovo de Metastrongylus sp. (33,186 μm
x 22,988 μm) encontrado em fezes de Sus scrofa
e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu
entorno.
Oxyuridae
Ovos castanhos, grandes e alongados, elipsoides e assimétricos com dupla casca, sendo a
externa bem espessa. Em seu interior observou-se massa embrionada e envaginação polar para
saída da larva. A amplitude do comprimento variou de 104,391 μm a 75,549 μm e a da largura
de 42,68 μm a 11,111 μm. A média dos tamanhos dos ovos foi de 87,888 μm de comprimento
por 31,569 μm de largura, desvio padrão de 6,765 μm e 4,023 μm, respectivamente. Ovos
encontrados em amostras de suínos. Esta morfoespécie de oxiurídeo é comum em lagartos e
roedores, caracterizando assim um provável falso parasitismo.
53
Figura 17. Ovo de Oxiiuridae (80,02 μm x 30,523 μm)
encontrado em fezes de Sus scrofa no entorno da RPPN SESC
do Pantanal
Spiruridae
Ovo pequeno com dupla casca lisa e larva em seu interior. Presença em sua região polar
uma estrutura semelhante a um opérculo. Possui amplitude de tamanho variando em entre 51,418
μm e 21,644 μm de comprimento e entre 32,191 μm e 21,644 μm de largura. A média dos
tamanhos dos ovos foi de 37,071 μm de comprimento por 19,549 μm de largura, com desvio
padrão de 6,882 μm para o comprimento e de 5,159 μm para a largura. Encontrado em amostras
de suínos e taiassuídeos.
Figura 18. Ovo de Spiruridae (40,113
µm x 23,323 µm) encontrado em fezes
de Sus scrofa e Pecari tajacu na RPPN
SESC do Pantanal e seu entorno.
54
Trichostrongylidae
Ovos de tamanho pequeno, delgados, elipsoides de casca fina e larva em seu interior
circundada de espaço hialino. A amplitude dos ovos medidos foi de 57,5 µm a 42,5 µm para o
comprimento e de 27,5 µm a 15 µm para largura, com tamanho médio dos ovos de 49,643 µm
de comprimento e 22,857 µm de largura e desvios padrão de 6,026 µm para o comprimento e
4,190 µm para a largura. Ovos encontrados em amostras de taiassuídeos.
Figura 19. Ovo de Trichostrongylidae (57,5 µm x
22,5 µm) encontrado em fezes de Sus scrofa e
Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu
entorno.
Família Trichuridae
Trichuris sp. Roederer, 1761
Ovos escuros com dois opérculos polares salientes de coloração transparente em formato
característico de barril. Interior com massa embrionária distinta. A amplitude dos tamanhos
variou de 62,911 μm a 54,385 μm de comprimento e de 32,717 μm a 27,489 μm de largura. A
média dos tamanhos dos ovos foi de 60,094 μm de comprimento por 30,309 μm de largura, com
desvio padrão de 3.036 μm para o comprimento e 4,023 μm para a largura. Encontrado em
amostras de suínos e taiassuídeos.
55
Figura 20. Ovo de Trichuris sp. (59,375 μm
x 30,471 μm) encontrado em fezes de Sus
scrofa e Pecari tajacu na RPPN SESC do
Pantanal e seu entorno.
Nematoda
Ovos encontrados em amostras de taiassuídeos somente. Apresentam formato elipsoidal,
extremidades polares simétricas e uma casca espessa, com as superfícies interna e externa
rugosas e aderentes. Ovos de tamanho médio com amplitudes entre 54,323 µm e 37 µm a 33,5
µm de comprimento e entre 30,798 µm e 45,335 µm de largura. Tamanho médio de 44,829 µm
de comprimento e 25,645 µm de largura e desvio padrão de 5,467 µm de comprimento e 4,428
µm de largura.
Figura 21. Ovo de Nematoda (40,22
µm x 21,25 µm) encontrado em fezes
de Pecari tajacu na RPPN SESC do
Pantanal.
56
Filo Platyhelminthes
Classe Cestoda
Anaplocephalidae
Ovo com formato quadrangular, dupla camada espessa e presença de aparelho piriforme
caracterizado pela invaginação da terceira membrana envolta no embrião hexacanto. A amplitude
dos tamanhos encontrada foi de 67,5 µm a 45 µm de comprimento e entre 65 µm e 40 µm de
largura, com tamanho médio de 52,262 µm de comprimento e 49,286 µm de largura, desvios
padrão 6,016 µm e 6,574 µm, respectivamente. Pelas características morfológicas e
epidemiológicas é um possível ovo de Moniezia sp. encontrados somente em amostras de fezes
de taiassuídeos.
Figura 22. Ovo de Anaplocephalidae (57,5 μm x
47,5 μm) encontrado em fezes de Pecari tajacu na
RPPN SESC do Pantanal.
Filo Acanthocephala
Família Oligacanthorhynchidae
Macracanthorhynchus hirudinaceus Pallas, 1781
Grandes ovos escuros e fusiformes com três espessas e rugosas cascas de cor castanha
escura. Presença em seu interior de uma larva acanthor. A amplitude dos ovos variou entre
121,347 μm e 64,358 μm de comprimento e entre 68,415 μm e 32,5 μm de largura. A média do
tamanho dos ovos foi de 98,715 μm de comprimento por 54,899 μm de largura, e desvio padrão
de 9,133 μm para o comprimento e 5,633 μm para a largura. Encontrado em amostras de suínos
e taiassuídeos.
57
.
.
.
Figura 23. Ovo de Macracanthorhynchus hirudinaceus
(100,432 μm x 54,494 μm) encontrado em fezes de Sus
scrofa e Pecari tajacu na RPPN SESC do Pantanal e seu
entorno.
5.1.2. Prevalência de morfoespécies de ovos de helmintos nas amostras de fezes de suídeos
e taiassuídeos
Das 56 amostras de fezes coletadasde Sus scrofa, a morfoespécie Strongylida 1 foi a de
maior prevalência, 30,36% (n=17/56); seguida por Metastrongylus sp. e Ascaris suum, 28,57%,
(n=16/56), Macracanthorhynchus hirudinaceus,14,29% (n=8/56), Strongylida 2 e Oxyuridae
5,36%, (n=3/56); Spiruridae, 3,57% (n=2/56); e Trichuris sp., 7,9% (n=1/56) (Tabela 5).
Nas amostras de fezes de Pecari tajacu a morfoespécie de maior frequência foi o
Macracanthorhynchus hirudinaceus (n=35; 66,04%) seguida por Metastrongylus sp. (n=8;
15,09%), Nematoda (n=5; 9,43%), Spiruridae (n=3; 5,66%), Strongylida 1, Strongylida 2 e
Trichonstrongylida (n=2; 3,77%) e Trichuris sp. e Anaplocephalidae (n=1; 1,89%) (Tabela 5).
A morfoespécie de ovos de Oxyuridae observada em três amostras de fezes de Sus scrofa,
é provavelmente um falso parasito de origem de répteis.
Tabela 5. Prevalência de morfoespécies de ovos de helmintos encontrados em amostras de fezes
de Sus scrofa e Pecari tajacu no SESC Pantanal, de 2010 a 2012.
Morfoespécies de helmintos
Sus scrofa (N=56)
58
Pecari tajacu (N=53)
N amostras
positivas
%
entre
total
N amostras
positivas
%
5
9,43
Nematoda
---
Ascaris suum
16
28,57
---
---
Strongylida 1
17
30,36
2
3,77
Strongylida 2
3
5,36
2
3,77
Metastrongylus sp.
16
28,57
8
15,09
Oxyuridae
3
5,36
---
---
Spiruridae
2
3,57
3
5,66
Trichostrongylidae
---
---
2
3,77
Trichuris sp.
1
1,79
1
1,89
Anaplocephalidae
---
---
1
1,89
Macracanthorhynchus hirudinaceus
Total de ovos encontrados
8
41
14,29
35
36
66,04
Considerando a prevalência de ovos de helmintos presentes nas amostras de porcos e
catetos, em relação às localidades de coleta, observou-se a prevalência exclusiva em fezes de P.
tajacu dos ovos não identificados de Nematoda, Trichostrogylidae e Anaplocephalidae na área
da reserva. Ascaris suum, Trichuris sp. e Oxyuridae foram observados exclusivamente nas
amostras de fezes de porcos das comunidades humanas (Figura 24 e Tabela 6).
Prevalência
100,00
50,00
0,00
Ovos de helmintos
Aréa Silvestre
Entorno da Reserva
Figura 24. Prevalência de helmintos em porcos (Sus scrofa) e catetos (Pecari tajacu) na RPPN Sesc
Pantanal e área de entorno com comunidades humanas no período de 2009 a 2012.
59
Considerando as amostras de fezes positivas para cada morfoespécie de ovos de helmintos
encontrados, observou-se 65 ocorrências de morfoespécies de ovos em amostras do entorno
contra 58 ocorrências de morfoespécies em amostras da Reserva. As localidades que
apresentaram o maior número de amostras positivas para ovos de morfoespécies de helmintos
foram São Pedro de Joselândia, com 38 morfoespécies, Santa Maria com 24, Santo André com
14 e Colônia de Santa Isabel com 12 aparições (Tabela 6).
Cabe relatar que São Pedro de Joselândia é a maior comunidade do entorno e contígua a
Reserva e que Santa Maria e Santo André são postos de apoio da Reserva. Santa Maria fica na
margem do rio São Lourenço de onde se acessa por barco a Colônia de Santa Isabel, na outra
margem do rio a cerca de 1 hora a montante.
60
Tabela 6. Distribuição de amostras positivas para ovos de helmintos em porcos (Sus scrofa) e catetos (Pecari tajacu) na RPPN Sesc do Pantanal e seu entorno.
Nematoda
Localidade
N
%
Santa Maria
2
40
São Joaquim
1
20
Santo André
1
20
Ascaris
suum 1;2
N
%
Strongylida
12
Strongylida
22
Metastrongylus
sp.2
N
N
N
%
5
20,83
1
4,17
1
4,17
%
%
Oxyuridae
N
%
Spiruridae 2
Trichostrongylidae
N
%
N
%
3
60
1
50
1
50
Trichuris
sp.1;2
N %
Anaplocephalidae 2
M. hirudinaceus1;2
Sub Total
Amostras
positivas
N
%
N
%
1
100
12
27,91
6
13,95
8
9
20,93
14
4
9,30
4
2
4,65
4
2
4,65
3
1
2,33
1
36
83,72
58
1
2,33
RESERVA
Baia das Pedras
Estrada nova sul
5,26
1
20
0,00
1
20
São Luiz
0,00
Aceiro Bodoque
0,00
5
Sub-total
1
100
1
5,26
1
0
0
2
10,53
2
20
40
7
29,17
0
0
3
100
3
60,00
2
100
0
0
1
100
24
COMUNIDADES HUMANAS E ENTORNO
Barreiro do Sal
Retiro São Bento
2
12,5
4
21,05
2
8,33
Pimenteira
1
6,25
1
5,26
1
4,17
Colônia Santa Isabel
2
12,5
8,33
11
68,75
12
16
100
17
São Pedro de Joselândia
0
Sub-total
Total
5
0
16
19
1
20
2
63,16
2
40
12
50
89,47
3
60
17
70,83
5
24
2 100
3
100
3
2
40
2
40
5
1
Helmintos de importância médica
Helmintos de importância zootécnica
* Devem ser consideradas amostras com poliparasitismo.
2
61
1
11
5
5
0
2
0
2 100
0
2
1
0
11,63
12
1
2,33
38
7
16,28
67
43
125
A distribuição dos ovos de helmintos encontrados nas amostras de fezes coletadas na
Reserva mostra Santa Maria com maior parte das amostras positivas (n=24) dentro da Reserva
e São Pedro de Joselândia (n=38) no entorno.
A espécie Macracanthorhynchus hirudinaceus prevaleceu em toda a região (83,72%) e
esteve presente em todas as localidades de coleta no interior da Reserva e também em São Pedro
de Joselândia e na Colônia Santa Isabel (Tabela 6).
Observou-se também a presença de ovos de Nematoda não identificados e
Trichostrongylidae, dois dos três prováveis falsos parasitos, exclusivamente na área da Reserva.
Nas comunidades humanas e entorno da Reserva as morfoespécies mais prevalentes
foram as de importância zootécnica. Das 67 ocorrências de morfoespécies de ovos em amostras
positivas nas regiões antropizadas, 64 foram de importância zootécnica (Tabela 6).
Tendo São Pedro de Joselândia 68,75% das aparições de Ascaris suum, Strongylida 1
(63,16%) e Metarstrongylus sp. (70,83%) apontam para o estabelecimento destas parasitoses
de importância zootécnica na região.
Acrescenta-se às comunidades do entorno a presença das três morfoespécies de
importância médica, Ascaris suum e Trichuris sp., exclusivamente nestas regiões e ainda M.
hirudinaceus (Tabela 6).
5.2. Avaliação das curvas de acumulação de espécies e suficiência amostral
A avaliação de suficiência amostral calculada pelas curvas de acumulação de espécies
de helmintos (Species Areas Curves) não se estabilizou para os taiassuídeos como pode ser
visualizado na Figura 25, enquanto que para as amostras de porcos ela estabiliza já com 40º.
amostra analisada (Figura 26).
62
Figura 25. Curva de acumulação de espécies de ovos de helmintos encontrados em
fezes de Pecari tajacu no SESC Pantanal, de 2010 a 2012.
Figura 26. Curva de acumulação de espécies de ovos de helmintos encontrados em fezes
de Sus Scrofa no SESC Pantanal, de 2010 a 2012.
63
5.3. Diversidade de helmintos em Sus scrofa e Pecari tajacu
A riqueza de espécies de helmintos encontrados em fezes de cateto (S=9) e porcos (S=8)
diferiu apenas por uma espécie em termos númericos (Tabela 3), no entanto, observou-se
diferenças na composição da fauna helmintológica entre as duas espécies e também na
prevalência dos ovos encontrados em ambas (Tabela 7), como já tratado anteriormente.
Os resultados obtidos para os índices de diversidade utilizados apontam valores do
índice de Shannon maiores para suínos, H’ =1,491, do que para os taiassuídeos, H’ =0,5115,
sem diferença significativa entre eles (p-valor>0,001). Da mesma forma, a dominância (Ds)
explicitada pelo índice de Simpson também foram maiores para os suínos (Ds=0,7151, J=0,717)
do que para os taiassuídeos (Ds=0,2152, J=0,2328) (p-valor >0,001).
Tabela 7. Índices de biodiversidade de morfoespécies de ovos de helmintos encontrados em amostras
de fezes de S. scrofa e P. tajacu.
Índices de biodiversidade
Riqueza de sp. (R)
Shannon (H')
Simpson (Ds)
Equitabilidade (J)
Helmintos de Sus scrofa
8
1,491
0,7151
0.717
Helmintos de Pecari tajacu
9
0,5115
0,2152
0.2328
p-valor>0,001 (H’, Ds)
5.4. Morfoespécies de importância epidemiológica para a saúde pública
Considerando os dois grupos de helmintos de importância epidemiológica, ovos de oito
espécies de importância zootécnica foram encontrados nas amostras de fezes, tanto de porcos
como de catetos (Tabela 8 e 9). Destas oito, cinco foram encontradas em fezes de ambos
hospedeiros, a saber, Strongilida 1, Strongilida 2, Metastrongylus sp., Trichuris sp., Spiruridae
e Macracanthorhynchus hirudinaceus.
Ovos de Trichuris sp. e Macracanthorhynchus hirudinaceus, helmintos com
importância médica foram encontrados em fezes dos dois hospedeiros estudados, enquanto que
Ascaris suum foi encontrado somente em S. scrofa e ovos de Anaplocephalidae apenas em P.
tajacu (Tabelas 8 e 9).
As maiores prevalências foram de Macracanthorhynchus hirudinaceus em fezes de P.
tajacu (66,04%) coletadas de todas as localidades, exceto na comunidade do Retiro de São
Bento; Strongylida 1 encontrado em 30,35% das amostras de ambas as espécies também em
localidades da reserva e entorno; Ascaris suum (28,57%), somente nas amostras de fezes de
64
porcos coletadas exclusivamente nas comunidades do entorno (Retiro de São Bento,
Pimenteira, Colônia Santa Isabel e São Pedro de Joselândia) e ainda Metastrongylus sp
(28,57%) observados também em amostras de ambas espécies, dentro e fora da reserva (Tabelas
8 e 9).
Interessante apontar que das 30,35 % das amostras positivas para Ascaris suum, 63,16%
foram coletadas em São Pedro de Joselândia, assim como 68,75% das 28,57% amostras
positivas para Metastrongylus sp.
Trichuris sp. foi observado em somente uma amostra coletada em Pimenteira (1,89%).
Tabela 8. Prevalência de morfoespécies de importância epidemiológica encontrados em amostras
de fezes de S. scrofa e P. tajacu.
Morfoespécies
Ascaris suum
Macracanthorhynchus
hirudinaceus
Trichuris sp.
Importância
Zootécnica
Médica
Zootécnica
Médica
Zootécnica
Médica
Metastrongylus sp.
Zootécnica
Spiruridae
Zootécnica
Strongilida 1
Zootécnica
Strongilida 2
Zootécnica
Anaplocephalidae
Zootécnica
Hospedeiro
S. scrofa
P. tajacu
(n=56)
(n=53)
Doenças Relacionadas
28,57 %
(n=16)
---
Ascaridíase
14,28 %
(n=8)
66,04 %
(n=35)
Macracantorrincose
1,78 %
(n=1)
1,89 %
(n=1)
Tricuríase
28,57 %
(n=16)
3,6%
(n=2)
30,35 %
(n=17)
5,35 %
(n=3)
15,09 %
(n=8)
5,7%
(n=3)
3,77 %
(n=2)
3,77 %
(n=2)
1,89 %
(n=1)
---
Metastrongilose
Espiruridiose
Esfogaostomíase
Tricosntrongilose
Monieziose
5.5. Similaridade de morfoespécies de ovos de helmintos encontrados nas fezes deSus
scrofa e Pecari tajacu
Os resultados obtidos do Índice de Sorensen, considerando o cálculo grupo a grupo,
indicam o compartilhamento de 71% do total de morfoespécies de ovos de helmintos
encontrados nas amostras de fezes das duas espécies de hospedeiros. Dentre o grupo de
helmintos de importância zootécnica observou-se o compartilhamento de 83% das
morfoespécies encontradas e 80% do compartilhamento de espécies do grupo de importância
médica (Tabela 9).
65
Tabela 9. Índice de Similaridade de Sorensen entre as morfoespécies de ovos de helmintos encontrados
em amostras de fezes de S. scrofa e P. tajacu no SESC Pantanal, de 2010 a 2012.
Helmintos compartilhados (w)
Helmintos de S. scrofa (a)
Helmintos de P. tajacu (b)
Índice de Sorensen (IS)
Helmintos em
Geral
6
Helmintos de importância
zootécnica
5
Helmintos de
importância médica
2
8
6
3
9
6
2
0,71
0,83
0,80
66
6. Discussão
Os trabalhos anteriores realizados para estudos de helmintos em suídeos e taiassuídeos
no Pantanal foram feitos a partir de necropsias dos animais e descrição dos vermes adultos, sem
qualquer referência a morfologia ou métricas dos ovos encontrados. Comparando o universo de
espécies de helmintos já descritas para P. tajacu e Sus scrofa nestes estudos, o número de
morfoespécies encontradas neste estudo, a partir do estudos dos ovos nas fezes, foi de menos
da metade das espécies descritas (Tabelas 1 e 2). Este fato pode ser reflexo das limitações do
método de estudo92, mas também e provavelmente, das condições de vida livre que os animais
ainda mantém na região, o que garante a baixa transmissão de parasitos93. Deve-se ainda
considerar que apesar das limitações, o estudo permitiu a coleta e a análise de número
considerável de amostras e que se utilizado os métodos clássicos exigiria o sacrifício de dezenas
de animais na natureza.
Dentre os ovos das 19 espécies de helmintos já descritas para Pecari tajacu no
Pantanal65 (Tabelas 1 e 2), somente Trichuris sp. e ovos do Cestoda Anaplocephalidae não
haviam sido registradas para este bioma, embora já tenham sido descritas para outros, como a
Amazônia94 e São Paulo95 respectivamente. Os ovos de helmintos encontrados nas amostras de
Sus scrofa, certamente são de espécies conhecidas.
Diversas espécies de parasitos relatados e encontrados neste estudo são comuns aos dois
hospedeiros e, provavelmente, já existiam antes da separação das espécies no Oligoceno. Outras
coevoluiram com as espécies nos seus processos de especiação e se adaptaram aos novos
hospedeiros após a introdução dos suídeos no Novo Mundo, como o Ascaris suum7. Há ainda
aquelas especificas, como Parabronema pecariae96 e o Mazamastrongylus tayassui97,
exclusivos de tayassuídeos. Entretanto, aquém todas as diferenças morfológicas entre os
hospedeiros, o compartilhamento de helmintos entre taiassuídeos e suídeos parece ser mais
regra do que exceção.
Na região, o mosaico de fisionomias e o regime de seca e cheia dos rios determinam a
distribuição das espécies e também das comunidades humanas que entre si compartilham
diversos ambientes. Desbiez e colaboradores35 citam como habitats de preferência do P. tajacu
no Pantanal as áreas de cerrado, floresta e, principalmente, as bordas de floresta, em
contraposição aos suínos asselvajados que dão preferências às planícies alagadas. O uso de
ecótones pelos catetos favorece o contato deste hospedeiro com diversas outras espécies,
inclusive as domésticas e o contato com parasitos e vetores dessas áreas.
67
Outro fator importante na região é uso de barreiros por parte dos catetos. Na RPPN
SESC Pantanal existem áreas de depressões com solos úmidos e escassa cobertura vegetal,
denominadas barreiros, que são importantes unidades componentes do hábitat para diversas
espécies que buscam não só suplementação hídrica, mas também de minerais (geofagia) e
alimentar, já que forrageam à procura de presas, sementes, gramíneas e fruto sem suas bordas.
Estes locais funcionam como uma verdadeira interseção no nicho de diversos vertebrados
existentes no local, fazendo com que sejam também uma interseção no nicho de diversas
espécies de parasitas que acompanham seus hospedeiros. Em trabalho na RPPN SESC Pantanal,
Coelho43 relata que os barreiros locais são compartilhados por 37 espécies de vertebrados
distintas e, entre as espécies aqui estudadas, os catetos utilizam mais frequentemente os
barreiros que porcos Monteiros.
A população no entorno da reserva, como em todo o Pantanal, cria suínos de forma
semi-extensiva. Estes animais têm acesso tanto à área antropizada do peridomicílio quanto às
bordas das áreas silvestres. O máximo de confinamento que esta vara pode chegar é a criação
em pocilgas, mas ainda assim as mesmas apresentam baixíssimo grau de salubridade em razão
da manutenção de antigas práticas de manejo que incluem criação dos animais junto a lama e
seus excrementos e alimentação com restos alimentares. Tais ambientes facilitam a dispersão e
manutenção de diversos parasitas circulantes na população e ainda de parasitos resistentes98.
6.1. Ovos de helmintos encontrados nas análises parasitológicas de fezes de Sus scrofa e
Pecari tajacu
6.1.1. Ascaris suum
Presente em amostras de S. scrofa com prevalência de 28,571% (n=16), o A. suum é
uma das parasitoses mais comuns na produção suinícola mundial, seja qual for o seu modo de
organização99.
Estudos sobre a prevalência de ascaridíase em rebanhos de Javalis oriundos de
criadouros semi-extensivos no triangulo mineiro e noroeste de São Paulo mostraram-se bem
distintas, 46,9% e 3%, respectivamente100,101. Em criações suínas domésticas infectadas
naturalmente por A. suum, os índices de positividades foram de 14,52% - 22% no estado da
Bahia102,103, 3% em Goiânia, estado de Goiás104, 33,3% no estado do Rio de Janeiro105, 36,92%
no Distrito Federal106, 64,3% no Município de Jabotical, Estado de São Paulo107 e 65,8% no
Município de Selvíria, Mato Grosso do Sul108.
68
Ainda, Nishi e colaboradores109 em Minas Gerais e São Paulo e D’Alencar e
colaboradores110 na região Nordeste do Brasil encontraram prevalência de A. suum em granjas
de suínos de sistema de confinamento de 1,6%, 3,5% e 0.09% respectivamente, locais que
preditivamente teriam níveis de salubridade suficientemente elevada para evitar a ascaridíase
suína. Esses resultados mostram a variação das condições epidemiológicas e da distribuição do
parasito em todo o Brasil, independentemente do tipo de produção empreendida na criação de
porcos.
Nota relevante neste estudo foi a presença de A. suum em suínos asselvajados no
Pantanal, dado inédito na literatura sobre helmintofauna destes animais. Este primeiro relato de
ascaridíase em porcos Monteiro no Pantanal Matogrossense, aponta o risco de transmissão desta
parasitose para os taiassuídeos e também para os suídeos de criação semi-extensiva, uma vez
que se observa nos últimos anos a expansão das áreas de uso desse grupo de animais111.
A ausência de ascarídeos em P. tajacu no presente trabalho é condizente com a
literatura. No Brasil não há relatos de catetos parasitados por A. suum e nas Américas há apenas
dois relatos no Texas, Estados Unidos112,113 e um em Iquitos, Peru114.
Todos esses relatos são referentes a criações em cativeiros, nas quais uma nova dinâmica
entre parasito e hospedeiro foi criada e possibilitou a transmissão. Leles e colaboradores7, em
recente revisão, sugerem com aporte de diversas evidências que o Ascaris suum é o próprio
Ascaris lumbricoides, parasito de humanos, em processo de adaptação a um novo hospedeiro,
neste caso os suínos.
Analisando sob esta ótica é possível inferir que o A. suum ainda não é um helminto bem
estabelecido em suídeos quando comparado ao A. lumbricoides em humanos, vide seu menor
período pré-patente e de sobrevivência no organismo parasitado115. Com isso é razoável deduzir
que o A. suum ainda não dispõe dos meios adequados para manter esta nova relação com os
pecarídeos, resultando, por enquanto, em poucos relatos desta nova associação.
6.1.2. Strongilida 1 e Strongilida 2
A morfoespécie Strongilida 1 esteve presente nos dois hospedeiros com maior
prevalência em suínos (n=17; 30,36%) que em taiassuídeo (n=2; 3,77%). Não foi possível
chegar a táxons menores visto que nesta ordem a identificação apenas por ovos ficou
comprometida tamanha a semelhança deles entre as famílias. O mais próximo que se poderia
chegar, de acordo com dados da literatura, seriam ovos da família Trichostrongylidae, que se
assemelham muito aos ovos encontrados desta morfoespécie, e ainda com relatos destes na
69
região61,64,65. Entretanto a semelhança dos ovos também com ovos da famila Ancylostomatidae,
ainda que não relatados na região do Pantanal parasitando suínos e taiassuídeos, impossibilitou
a aproximação da identificação desta morfoespécie como Trichostrongylidae.
A prevalência de Strongilida 2 foi bem menor que a da Strongilida 1 em porcos e catetos,
5,36% (n=3) e 3,77% (n=2) respectivamente. No entanto convém ressaltar que ambas
morfoespécies apresentaram maior prevalência em amostras de fezes de suínos.
Da mesma forma, não se pode chegar a táxons menores para a morfoespécie Strongilida
2 em razão da semelhança dos ovos aos de diversas outras famílias da Ordem Strongylida.
Entretanto, os ovos desta morfoespécie que apresentou média de 94,959 µm x 51,337 µm (SD
8,244 x 6,199) diferiu dos de Strongilida 1 com 67,176 µm x 39,658 µm - SD 7,516 x4,319 - e
em relação ao tamanho superior do ovo e do estágio de maturação da mórula já ganhando
contornos de larvas.
Os estrongilídeos mais comuns em suínos e pecarídeos são os ancilostomatídeos como
o Globocephalus urosubulatus, e os trichostrongilídeos, como o Oesophagostomum sp.,
Hyostrongylus rubidus, Trichostrongyluls axei e T. colubriformis, todas já descritas para estes
hospedeiros64,65,116,117,118,119,120, com exceção do H. rubidus que nunca foi relatado para P.
tajacu.
As características morfológicas dos ovos da morfoespécie Strongilida 1 (média de
tamanho de 67,176 μm x 39,658 μm, casca fina, mórula bem definida e formato elipsoidal) são
compatíveis com os ovos de G. urosubulatus, Oesophagostomum sp. e H. rubidus (tamanho
dos ovos descrito na literatura 50μm x 30 μm; 75-70 μm x 40-35 μm; 75-70 μm x 40-35 μm,
respectivamente). Já a morfoespécie Strongilida 2, por possuir um tamanho maior, casca fina e
larva pré formada (média de tamanho de 94,959 μm x 51,337 μm) se assemelha a outras
espécies do gênero Trichostrongylus sp. como T. colubiformes e o T. axei (ovos, de acordo com
a literatura, medindo 80 μm x 45 μm e 110 μm x 60 μm respectivamente).
É importante destacar que os estrongilídeos compatíveis com os ovos das morfoespécies
Strongilida 1 e Strongilda 2 deste estudo não são parasitas espécie específicos e são comuns a
diversos animais de criação como bovinos, equinos e pequenos ruminantes.
Bowman90 relata em seu compêndio a problemática da caracterização de espécies de
estrongilídeos pela inspeção microscópica ou micrometria, abordando ao tema a frase “Um
dilema diagnóstico”. Ainda, Indre e colaboradores122 expõem a dificuldade de se diferenciar
ovos de estrongilídeos em trabalho realizado com ovos de helmintos de ovelhas, apresentando
algumas contradições nos tamanhos de ovos encontrados com os descritos na literatura. Tais
referências vêm a corroborar com a real dificuldade encontrada no presente trabalho para a
70
classificação de estrongilídeos presumindo um diagnóstico por microscopia óptica de seus
ovos.
6.1.3. Metastrongylus sp.
Os ovos da morfoespécie Metastrongylus sp. apresentaram prevalência considerável, se
comparada aos demais, tanto em suínos como em pecarídeos (n=16; 28,57% e n=8; 15,09%
respectivamente). As principais espécies que acometem os dois hospedeiros são M. enlongatus,
M. salmi, e o M. pudendotectus com nota de relevância ao M. salmi que já foi descrito no
Pantanal parasitando P. tajacu e S. scrofa, neste segundo caso, porcos Monteiro64,65.
A prevalência deste parasita nas populações de suínos varia muito. Em Selvíria, Mato
Grosso do Sul, Zocoller e colaboradores108 encontraram uma prevalência de 34,2% de
Metastrongylus sp. em suínos oriundos de abatedouros clandestinos, enquanto na mesma
cidade, Theil e colaboradores123 não encontraram o helminto nas análises de fezes em porcos
criados de forma semi-intesiva. Pinto e colaboradores103 obtiveram prevalência de 14% em
suínos domésticos criados na periferia de Itabuna, sul da Bahia, mesmo estado onde Costa102,
em amplo trabalho sobre helmintíases em suínos descreveu prevalência de 43,6%, de
metastrongilíase. Já Aguiar106 encontrou uma prevalência pequena, 3,79%, de metastrongiliose
em suínos de criações familiares em Brasília, Distrito Federal. Por fim, Nascimento e
colaboradores64 encontraram prevalência de 50% de Metastrongylus salmi em porcos Monteiro
naturalmente infectados, capturados no período de 1994 a 1997 nos municípios de Pedro Gomes
e Corumbá (Pantanal de Paiaguás), resultados mais elevados do que o encontrado neste
trabalho.
Em pecarídeos, apenas um estudo encontrado na literatura estima a frequência de
Metastrogylus sp. em P. tajacu. Nascimento e colaboradores65 encontraram uma frequência de
50 % de Metastrongylus salmi em catetos oriundos dos municípios de Pedro Gomes e Corumbá
(Pantanal de Paiaguás). É importante ressaltar que o universo amostral deste estudo limitou-se
a 10 animais de cada uma dessas espécies e que não há muitos estudos que relatam a espécie e
sua prevalência na região estudada.
Nota-se que a variação de prevalência deste parasito provavelmente se mantém em
função da resistência dos ovos no ambiente, da presença ou ausência de seu hospedeiro
intermediário, que são anelídeos ou moluscos, e o acesso do hospedeiro definitivo ao mesmo.
Os ovos, assim como as larvas, podem sobreviver por vários meses em solo úmido e quando
enterrados mantém-se viáveis por até mais que um ano, e por período superior nos tecidos dos
71
hospedeiros intermediários124. Este dado epidemiológico traz a tona questões como a circulação
integrada deste parasito nos seus hospedeiros, com S. scrofa e P. tajacu se infectando com a
ingestão de anelídeos ou moluscos presentes nas áreas de uso e convivência destes animais.
6.1.4. Oxyuridae
Ovos da morfoespécie Oxyuridae foram encontrados em amostras de fezes de S. scrofa
(n=3, 5,36%), somente. Oxiurídeos são parasitos comuns de roedores, lagartos e pássaros, e o
fato de que a maior parte dessas espécies compartilham suas áreas de uso com suídeos e
taiassuídeos levanta a hipótese deste parasita ser um falso parasita ou um parasita acidental,
uma vez que não há relatos na literatura de espécies desta família em suínos. Somente três
amostras de fezes de porcos da localidade Retiro de São Bento foram positivas para ovos de
Oxyuridae e é provável que sejam fruto da ingestão de algum animal por eles infectados.
6.1.4. Spiruridae
Espirurídeos são helmintos com ciclo dixênico tendo os coleópteros escarabeídeos
coprófagos como seus hospedeiros intermediários, responsáveis por dar continuidade ao ciclo
biológico. Dentre as espécies com relatos frequentes no Pantanal em S. scrofa e P. tajacu, estão
o Physocephalus sexalatus e o Ascarops strongylina64,65,94 e ainda, somente para os pecarídeos,
a Dirofilaria acutiuscula65. Esta última é um filarídeo e por não ser um helminto intestinal não
possui importância para o presente trabalho125.
Os ovos da morfoespécie Spiruridae apresentaram média de comprimento e largura de
37,071 µm e 19,549 µm, respectivamente. Tais valores se assemelham a média dos valores dos
ovos de P. sexalatus (31-45 µm x 12-26 µm) e de A. strongylina (30-37 µm x 18-21
µm), entretanto, assim como os estrongilídeos, a diferenciação morfológica dos ovos à
microscopia ótica destes dois espirurídeos é irrealizável126.
A prevalência do ovo desta morfoespécie em fezes de porcos e catetos no presente
estudo de 3,571% (n=2) e de 5,66% (n=3) respectivamente, é baixa e reflete a vida livre e o
hábito alimentar especialmente herbívoro dos catetos em liberdade, embora nestas condições
também possam consumir moluscos e artrópodes47.
O encontro de espirurídeos em porcos domésticos, asselvajados ou não, relaciona-se às
condições de criação que oferecem a oportunidade destes animais ingerirem coleopteros. Ao
72
abordar espirurídeos em suínos, a literatura científica explicita que quanto mais a criação for se
“extensivando”, maior será a infestação destes helmintos na vara. A prevalência de P. sexalatus
encontrada por Nascimento e colaboradores64 em porcos Monteiros oriundos do Pantanal sul
mato-grossense foi de 80%. Porcos criados de maneira extensiva em Minas e na Bahia
apresentaram prevalência, respectivamente, de 83,87% e 30,8% para A. strongylina e, em
Minas, 85,5% para o P. sexalatus102,127. Em criações mais controladas os índices de prevalência
foram menores para os helmintos desta família. Em javalis criados sob regime semi-intensivo
no noroeste de São Paulo, Gomes e colaboradores101 apontaram para P. sexalatus e A.
strongylina, as prevalências de 5,6% e 27,8%, respectivamente. Da mesma forma, Kasai e
colaboradores107 publicam prevalências de 3,6% para P. sexalatus e 21,4% para o A. strongylina
em suínos de criação doméstica de Jaboticabal (SP), assim como Jesus e Muller128 que anotam
a prevalência de 30% para A. strongylina em Pelotas (RS).
Constata-se então, que mudanças no sistema de criação interferem nas taxa de infecção
por esse grupo de parasitas, com o controle 100% possível como relatado por Nishi e
colaboradores109 e D’Alencar e colaboradores110, que estudaram a helmintofauna de suínos em
sistema fechado e não encontraram espirurídeos.
6.1.5. Trichostrongylidae
Ovos da morfoespécie Trichostrongylidae foram encontrados em apenas duas amostras
de fezes de pecarídeos (3,77%). A morfologia alongada dos ovos encontrados (Figura 17) não
se assemelha às das espécies desta família de Nematoda descritas para as famílias Suidae e
Taiassuidae pois apresentam formato elipsoide regular como por exemplo o gênero
Molineus129. Esta diferença, além de outras obviamente, já levou a alguns autores a incluir estes
últimos em um nova família, Molineidae, dentro da superfamília Trichostrongyloidea130,131,132.
A morfologia dos ovos encontrados são comparáveis aos ovos de Trichostrongylidae
encontrados em carnívoros silvestrese domésticos133,134,135. Levando-se em conta a presença de
diversos carnívoros na região do SESC Pantanal e o encontro somente de sete ovos em apenas
duas amostras de P. tajacu (Tabela 4), é possível considerar este achado como um falso
parasitismo.
73
6.1.6. Trichuris sp.
A tricuríase é uma afecção parasitária comum em suídeos e teve presença confirmada
nos dois hospedeiros pesquisados, embora em somente uma das amostras de cada um dos
hospedeiros estudados.
De grande importância nas criações de suínos, o Trichuris suis apresenta prevalência
significativa nos estudos realizados em porcos domésticos e asselvajados. Carneiro e
colaboradores104, Francis e colaboradores105, Pinto e colaboradores103 e Aguiar106 citam
prevalências de 10%, 40%, 8%, 14,39%, respectivamente, em suínos criados de forma semiextensiva. Ainda, Mundim e colaboradores100 relatam a prevalência de 29% e Gomes e
colaboradores101 de 30,3% em javalis criados em cativeiro.
A baixa prevalência desta morfoespécie em suínos no presente trabalho pode ser
justificada pela biologia do parasita e a própria dinâmica climática e pluvial do Pantanal. O
Trichuris suis é transmitido pela ingestão de ovos infectantes que são altamente resistentes e
podem permanecer infecciosos por 11 anos em condições externas99. No entanto, os ovos dos
parasitas desenvolvem-se muito lentamente136 e isso pode dificultar sua transmissão em um
ambiente marcado pela distinções climáticas abruptas e constante modificação do espaço
físico35. Ainda, Larsen e Roepstorff137 observaram que ovos de T. suis reduzem significamente
sua infectividade no verão pois são bem sensíveis a altas temperaturas e umidade, característica
esta constante do clima do Pantanal. Estes motivos foram também, provavelmente, a explicação
de Ribeiro e Ovando67 terem achado apenas poucos ovos (+) em uma amostra de fezes de porco
Monteiro no pantanal sul matogrossense.
Em pecarídeos a tricuríase já não é tão comum. A literatura relata apenas a presença de
Trichuris sp. parasitando Pecari tajacu na Venezuela138 e na Amazônia brasileira94. Em ambos
os casos não foram confirmados se estas espécies eram de fato T. suis visto a dificuldade de
diferenciação de ovos deste gênero3,139,140. O presente trabalho relata o primeiro caso de
Trichuris sp. em catetos no Pantanal.
74
6.1.7. Nematoda
Os ovos da morfoespécie Nematoda foram encontrados apenas em pecarídeos com
frequência de 9,43% (n=5) nas amostras analisadas. Se assemelham aos ovos de estrongilóides
pelo aspecto elipsóide e presença de larva bem formada, entretanto são menores (média de
44,829 µm x 25,645 µm), mais alongados e de aspecto bem menos robustos que os
estrongilóides em geral. Apesar do tamanho e aspecto também se assemelharem aos de ovos de
espirurídeos, são maiores que estes e apresentaram casca rugosa, incompatível com os ovos
descritos para esta família.
Assim, por não se assemelharem a nenhum ovo de helminto já relatado para o
hospedeiro estudado, tão pouco aos conhecidos que pudessem ser a ele relacionado, está
morfoespécie foi classificada somente quanto ao Filo. Da mesma forma que outros ovos, é
possível que estes também sejam falsos parasitos, cuja transmissão se dá pela sobreposição de
áreas de uso com outros animais. Corrobora com essa suspeita o fato de as amostras positivas
para estes ovos terem sido coletadas no entorno dos barreiros de Santo André e do Barreiro do
Sal. Como já elucidou anteriormente Coelho43, os barreiros são locais comuns a várias espécies
o que facilita o fluxo de parasitas entre diferentes hospedeiros.
6.1.8. Anaplocephalidae
Encontrada em apenas uma amostra de cateto (1,89%) os ovos desta morfoespécie (já
foram descritos neste hospedeiro no Brasil95 como Moniezia benedeni. Os ovos encontrados
apresentaram aparelho piriforme rodeado por um claustro quadrangular, característico do
gênero Moniezia. Entretanto, não se pode descartar outro gênero desta família, o
Anaplocephala, que também possui aparelho piriforme rodeado por camada globular que em
algum momento pode se tornar quadrada.
Comum em animais de criação, os helmintos da família Anaplocephalidae causam
parasitose de prevalência incrementada com os períodos de maior atividade dos ácaros
oribatídeos, hospedeiro intermediário dos ciclos biológicos deste grupo de vermes. Os ácaros
de vida livre são microscópicos (0,5 a 1,5 mm), coprófagos, vivem no solo e abundam nos
estratos ricos em húmus e portam larvas cisticercóides destes platelmintos141. A maior atividade
destes ectoparasitas, nos períodos da primavera e outono, pode ser relacionada com o encontro
deste trabalho, já que a amostra positiva foi coletada no início da primavera de 2009. Entretanto
a limitação do número amostral não permite maiores estrapolações quanto a esta relação,
ficando a proposta para futuras pesquisas.
75
6.1.9. Macracanthorhynchus hirudinaceus
Os ovos do acantocéfalo M. hirudinaceus foram os de maior prevalência em catetos
(n=35; 66,04%) com diferença importante da prevalência registrada em amostras de fezes de
suínos (n=8; 14,29%).
Da mesma forma que o helmintos espirurídeos, a transmissão desta espécie de
acantocéfalo varia de acordo com o acesso dos hospedeiros aos besouros coprófagos que a
transmite e assim, amostras oriundas de animais livres, asselvajados ou criados em sistemas
semi-extensivos ou extensivos tendem a possuir maior prevalência deste parasito. Pinto e
colaboradores103 relatam prevalência de 12% em suínos domésticos criados em precárias
condições de manejo higiênico-sanitário e Nascimento e colaboradores65 encontraram
prevalência de 10% do acantocefalo em necropsias feita com 10 catetos proveniente do Pantanal
Sul-matogrossense. As criações de suinos confinadas e intensificadas com o sistema de criação
apresentam prevalência menor ou nula de M. hirudinaceus66,142. Desta forma, a ausência da
parasitose parece estar mais relacionada ao confinamento e, portanto, ao impedimento do
contato dos porcos com elementos do ambiente natural do que das condições sanitárias que
possam estar presentes nas criações intensivas.
No ciclo deste acantocéfalo, a fêmea presente no intestino delgado dos mamíferos libera
ovos para o ambiente que só se tornam infectantes se forem ingeridos pelos besouros
escarabeídeos coprófitos. A forma larvar (a acanthella) se desenvolve durante três meses na
cavidade geral das larvas dos escarabeídeos143,144. Assim, o besouro pertencente a família
Scarabaeidae é parte fundamental do ciclo deste parasita e diversas espécies tem sua existência
confirmada no inventário da RPPN SESC Pantanal73.
A alta prevalência de M. hirudinaceus em catetos deve-se provavelmente aos seus
hábitos alimentares com o forrageamento e fussamento do solo em busca de raízes, pequenos
vertebrados e insetos, que incluem escarabeídeos fimícolas36,47. Suínos criados de forma
extensiva também podem ter acesso aos besouros, pois, assim como os catetos, possuem hábito
alimentar onívoro e de forrageamento. Entretanto as amostras de fezes de suínos coletadas nas
comunidades de entorno da RPPN SESC Pantanal foram em sua maioria de suínos domésticos
criados de forma semi-extensiva, com acesso controlado ao ambiente externo, justificando de
certa forma a menor prevalência de M. hirudinaceus nestes hospedeiros.
Ainda, esta relação entre o M. hirudinaceus e besouros coprófagos no pantanal podem
servir como base para futuros estudos sobre a influência da composição das comunidades
biológicas e das redes tróficas na transmissão de doenças parasitárias. Nichols e Gomez145
sugerem que, assim como outros estudos onde a diversidade de espécies hospedeiras podem
76
estar inversamente correlacionadas com sucesso a transmissão de patógenos23,146,147, a
diversidade de escarabeídeos podem influenciar diretamente a transmissão de parasitas que tem
seu ciclo biológico atrelado a estes. É nesta perspectiva que o Pantanal e suas complexas
comunidades biológicas, se transforma em cenário ideal para pesquisa futuras que podem
correlacionar a transmissão da macracantorricose à diversidade de escarabeídeos.
6.2. Curvas de acumulação de morfoespécies e esforço amostral
Os resultados obtidos com a curva de acumulação demonstraram que o número de
morfoespécies de ovos em fezes de S. scrofa tende a se estabilizar na 40ª, com o encontro de
oito morfoespécies. Entretanto, embora a curva plotada para os resultados de P. tajacu também
tenha apresentado inflexão na 40ª amostra, ela ainda tendeu ao crescimento mesmo ao final da
53ª. amostra analisada.
Segundo McCune e Colaboradores91, a não estabilização da curva de acumulação de
espécies se dá ou pelo baixo número amostral analisado em relação a área de ocupação da
espécie e seu tamanho populacional, pela ocorrência frequente de espécies raras registradas ou
ainda, daquelas não relacionadas ao objeto de estudo. No caso deste trabalho é possível
considerar que os três argumentos sejam pertinentes. Considerando a amplitude da distribuição
geográfica de P. tajacu no território nacional e as variações populacionais e dos grupos, a
sobreposição de habitats aos de outros hospedeiros, a dieta herbívora com forte componente
onívoro e oportunista da espécie148 é compreensível o encontro crescente de espécies raras, a
medida que se analisa mais amostras, e ainda, de falsos parasitos que indicam conquistas de
novos espaços e novos contatos. Desta forma, para se estabelecer com mais acurácia o
panorama epidemiológico desses animais na região a ampliação de análises parasitológicas
devem ser feitas. Cabe no entanto considerar, como mostra a inclinação da curva construída,
que os esforços de coleta em tão vasta área de acesso difícil e de análise deverão ser exaustivos
e com baixo retorno imediato.
A tendência de estabilidade da curva de acumulação de espécies em fezes de S. scrofa
quando comparada a do P. tajacu, pode refletir também de certa forma e ainda de modo
incipiente, o ambiente mais restrito e controlado em que vivem suínos. Geralmente em
ambientes de criação, ou ao redor a áreas de ocupação humana, estes animais não conseguem
se expor às diversidade de vias de transmissão que existem nas áreas naturaias. Por isso tendem
a ter menor diversidade de parasitos nestas áreas, mas com a preponderância de espécies de alta
prevalência e potencial epidemiológico quando comparados à fauna helmintológica de animais
77
de vida livre. Estes normalmente apresentam alta diversidade e baixa prevalênciade parasitas,
especialmente os de importância epidemiológica93.
Incertezas na identificação das espécies contidas nas amostras de fezes também podem
ser considerados motivos que levam a não estabilização das curvas de acumulação, mas que só
serão superados com esforços continuados de pesquisa e o investimento de novas técnicas de
identificação, como as moleculares, para espécies ainda desconhecidas.
6.3. Diversidade de helmintos em fezes de Sus scrofa e Pecari tajacu
Os índices de diversidade de Shannon (H’) e de Simpson (Ds) foram baixos para porcos
(H’=1,491 e Ds = 0,7151) e catetos (H’=0,5115, Ds= 0,2152), considerando outras
comunidades de parasitas em outras espécies135,149. Os valores superiores para porcos, deve-se
a maior equitabilidade (J=0,717) de morfoespécies como Strongylida 1, Metastrongylus, A.
suum e M. hirudinaceus para esta espécie, do que acalculada para P. tajacu (J=0,2328). Ainda
assim, as diferenças entre eles não foram estatisticamente significativas (p-valor>0,001).
A presença de espécies raras ou falsos parasitos em poucas amostras de fezes de
taiassuídeos e a alta prevalência de M. hirudinaceus nas amostras (66,0%) explicam em parte a
os índices baixos para os catetos.
6.4. Similaridade da fauna de helmintos entre Sus scrofa e Pecari tajacu
A similaridadede 71% da fauna helmintológica evidenciada pelo índice de Sorensen
corroboram com a proximidade filogenética51 e semelhanças fisioanatômicas47 entre as espécies
estudadas. O compartilhamento das espécies de importância médica (86%) e de zootécnica
(83%) reflete também a baixa especificidade destes helmintos, capazes de circular não só entre
os suínos e taiassuídeos, mas também entre outros ungulados silvestres e de criação e
eventualmente também entre animais de outras ordens.
O alto índice de similaridade de helmintos de importância médica nas duas espécies,
mostra a importância que o compartilhamento de helmintos destes hospedeiros ganham nas
questões pertinentes a saúde pública e suas interrelações com as comunidades silvestres. O
aprofundamento de estudos a respeito de parasitos de animais de vida livre se faz necessário vide o
pequeno número de trabalhos relacionados à helmintofauna destes animais na região do
Pantanal e da potencialidade do rompimento de novas barreiras biológicas e acometimento de
novas espécies por estes parasitos. Da mesma forma, a circulação de porcos em estado
78
doméstico e asselvajado por amplas áreas contribui para a dispersão das parasitoses entre eles,
os taiassuídeos e entre outros animais silvestres, com potencial ainda não estudado de dispersão
para outras regiões.
No Pantanal, os fatores ambientais parecem exercer importância na determinação da
similaridade da fauna helmíntica de porcos e catetos. A coabitação das áreas de uso entre porcos e
taiassuídeos é um fator relevante, ainda mais quando estes possuem um elo que reduz o hiato
entre o ambiente antrópico e o silvestre, representado pelo porco Monteiro. Este animal circula
livremente pelas planícies de charcos, bordas de florestas e áreas de pasto podendo carrear
helmintos antes restritos ao ambiente silvestre para as comunidades humanas e ainda pela
ingesta de sua carne, oriunda da caça, tradição comum na cultura pantaneira.
A dinâmica de cheias e vazantes do Pantanal é outro fator ambiental crucial na dispersão
de patógenos por veiculação hídrica. As morfoespécies encontradas neste estudo são
extremamente resistentes à dessecação e a hiperosmolaridade tônicae ainda podem ser
carreadas
pelos
seus
hospedeiros
intermediários/paratênicos
por
diversos
quilômetros144,150,151,152,153. Essas características facilitam a não só a dispersão como a
manutenção destes helmintos no ambiente.
Recentemente os rios afluentes das principais artérias da Bacia do Alto-Paraguai vem
passando por sucecessivos represamentos por conta do setor energético para construção de
pequenas hidrelétricas. Esta intervenção antrópica altera o pulso das cheias e reduz a velocidade
dos meandros pantaneiros154. Ainda não se sabe ao certo até quando esta transformação pode
resultar em emergência de doenças na região, mas o que se pode teorizar, pelo que foi visto na
presente pesquisa, é que uma menor velocidade no escoamento dos rios facilita a perpetuação
de patógenos de veiculação hídrica, no caso as helmintíases.
O corrente trabalho exercita uma reflexão a respeito da importância da manutenção da
biodiversidade como proteção à emergência de doenças. A função ecológica mais importante
no Pantanal é o pulso das cheias, assim a conservação da naturalidade deste pulso é alvo de
conservação para o Pantanal como um todo.
6.5. Importância epidemiológica da fauna de helmintos entre Sus scrofa e Pecari tajacu
As morfoespécies de parasitos encontrados foram classificadas de acordo com a
importância zootécnica para as criações de suínos e taiassuídeos e enfermidades que mais
acometem animais silvestres66,87,88,89,90.
79
Seis morfoespécies puderam ser suficientemente identificadas para caracterizar
parasitoses de importância zootécnicas, são elas: Metastrongylus sp., Trichuris sp.,
Macracanthorhynchus hirudinaceus Ascaris suum Anaplocephalida e Spiruridae. As duas
morfoespécies de estrongilídeos encontradas, Strongilida 1 e Strongilida 2, foram adicionados
à lista em razão da importância que helmintos desta ordem possuem para estes hospedeiros155.
As doenças também foram relacionadas aos gêneros mais comuns encontrados parasitando
estes animais no Brasil98,106.
Assim, uma das morfoespécies mais comuns neste estudo, o Metastrongylus, causa a
metastrongilose que se caracteriza por causar lesões nos pulmões, restritas ao bordo ventral
diafragmático, próximo à extremidade caudal causando distúrbios respiratórios e pneumonias
em suínos156. Mesmo as infecções leves podem afetar adversamente o crescimento e a taxa de
conversão alimentar dos animais87. Interessante ressaltar, que durante a coleta de campo muitos
criadores de suínos queixavam-se de seus animais estarem com “verme nos pulmões”,
coincidindo assim com a prevalência considerável do helminto na presente pesquisa.
A tricuríase, ascaridíase, macracantorrincose, esfogaostomíase e a monieziose são
enfermidades que acometem o intestino delgado dos animais causando, basicamente,
sintomatologias parecidas como destruição dos enterócitos, dos capilares sanguíneos e
ulceração da mucosa157, resultando em hipoxia tecidual, diarréia mucosa sanguinolenta,
anemia, hipoalbuminemia, anorexia e desidratação158. Competem ainda com hospedeiro pelo o
alimento presente no trato digestivo como ferro e vitamina B12159.
A espiruridiose e a tricosntrongilose são enfermidades que acometem o estômago de
suinos e podem ocasionar gastrite catarral, por vezes diftérica, com ulceração e secreção de um
muco viscoso, podendo o animal apresentar como sinais clínicos anemia, inapetência e melena
ocasional160.
Como se pode notar, em todas as doenças ocorre um comprometimento no
desenvolvimento do animal e em alguns casos a intensa parasitose pode levar a morte. Este
aspecto de perda produtiva deve ser considerado quanto à importância do suíno na alimentação
da população pantaneira residente no entorno da RPPN. Tendo o porco como uma das principais
fontes proteicas, esta população depende do animal não somente como fonte alimentar, mas
também como fonte de renda39. A sua depreciação resulta em perda significativas para uma
comunidade já bem carente.
Importante frisar também o aspecto silvestre da doença. Populações de taiassuídeos e
suínos asselvajados parasitados tendem a ser menos competitivos em razão da morbidade
80
resultante das enfermidades89. Mais debilitados, os animais perdem mobilidade, acesso a
alimento e a reprodução.
As morfoespécies encontradas de importância médica foram assim classificdas por
possuírem relações com humanos bem relatadas na literatura, como o caso do
Macracanthorhynchus hirudinaceus. Diversos casos deste parasita já foram descrito em
humanos na Ásia161,162,163,164,165,166, na Oceania167,168, Europa169, na África170, na América do
Norte171, na América do Sul172 e até no Brasil, onde Gonzaga173, em pesquisa de parasitos em
fezes humanas em Natal, Rio Grande do Norte, encontrou duas amostras positivas para M.
hirudinaceus em um universo de 1236 amostras.
As maiores incidências deste parasitismo em humanos na Ásia podem ser explicadas
pelo hábito da população naquela região de se alimentar de artrópodes, entre eles hospedeiros
do M. hirudinaceus como besouros e escaravelhos174, diferente das demais regiões citadas onde
a contaminação acidental pode ser o principal motivo atribuído às infecções. A
macracantorricose humana é uma doença gastroentérica responsável por uma enterite
eosinofílica, causando muita dor abdominal podendo evoluir até a quadros mais graves como
perfuração intestinal165,166.
A tricuríase e a ascaridíase humana fazem parte das doenças negligencidas de
importância médica mais por causa de suas relações filogenéticas entre humanos e suínos do
que o fato de serem helmintos característicos de animais e infectarem humanos acidentalmente,
como o caso do M. hirudinaceus. Os dois gêneros de parasitos possuem uma longa história de
interação com humanos5,175 e a hipótese corrente é de que ambos iniciaram suas relações com
os suínos a partir da domesticação destes animais há 10,000 anos7,51. Observou-se neste estudo,
dois helmintos específicos de suínos (Ascaris suum e Trichuris suum) mas com certa aptidão de
infectar humanos, visto suas ligações filogenéticas139,175. A fisiopatologia destas helmintíases se
assemelham com a de espécies correlatas em humanos. A. lumbricoides e T. trichuria provocam
infecção intestinal, em geral assintomática ou com poucos sintomas, como dor abdominal,
diarréia, vômitos e anorexia. Em infecções maciças podem causar importantes complicações,
como deficiência nutricional, pneumonite, obstrução intestinal e dos ductos pancreático e biliar,
entre outras, algumas vezes fatais176.
6.6 Distribuição dos helmintos na RPPN SESC Pantanal
Como relata Coelho43 os barreiros tem papel importante na dinâmica da fauna regional,
especialmente na seca onde todos os animais compartilham o acesso a água. Pelo menos cinco
81
barreiros principais estão no perímetro de Santa Maria: o do Farofa, da Figueira, da Catraca, do
Acuã e do Sal, e neles foram registradas 24 espécies de mamíferos, 11 de aves e duas de répteis.
Justamente neste posto, a maior parte das amostras positivas foram encontradas. Cabe lembrar
que este posto também é o que dá apoio e acesso a Colônia de Santa Isabel e permite o embarque
e desembarque de pessoas e materiais. Todos essse fatores parecem contribuir para o número
de amostras positivas na localidade e a elevada diversidade de morfoespécies encontradas que,
junto com Santo André, apresentaram as maiores riquezas de espécies e prevalências.
A dispersão de Macracanthorhynchus hirudinaceus em porcos e catetos e em todas as
localidades amostradas relaciona-se ao ciclo biológico do parasito e a presença dos besouros
coprófagos abundantes na região e ao inevitável encontro de vetores, parasitas e hospedeiros.
Apesar dos porcos serem os principais hospedeiros deste acantocéfalo, o parasito tem relato na
literatura em tamanduás177, cavalos178, carnívoros179 e ungulados silvestres180, o que reforça a
presença elevada deste parasita em um local onde diversas espécies convivem, como é Santa
Maria.
São Pedro de Joselândia é a maior comunidade do entorno da reserva e sua população,
basicamente rural, cria animais domésticos para sustento próprio ou captação de renda. Por
conta deste fato é visível a presença de morfoespécies características de criações suínas como
Ascaris suum, Strongylida 1 e Metarstrongylus sp., nesta comunidade. Tal fato traz
preocupações quanto a sanidade sunícola destas criações visto que as citadas morfoespécies são
de importância zootécnicas, e sua alta prevalência pode trazer graves consequências a esta
comunidade como a perda produtiva do rebanho e prejuízo financeiro.
Outra nota importante é a presença das três morfoespécies de importância médica nas
comunidades do entorno, e ainda, duas delas, Ascaris suum e Trichuris sp., exclusivamente
nestas regiões. A hipótese que se levanta é que estas parasitoses se perpetuam nestas
comunidades que as mantém muito em conta de seus inadequados esgotamento doméstico e
manejo sanitário de suas criações suínas, não sofrendo interferência do ambiente silvestre na
sua propagação. Esta suposição leva a reflexão quanto ao fluxo de parasitoses entre os
diferentes ambientes estudados e as preocupações da população do entorno, que
corriqueiramente acusam a Reserva de trazer problemas à saúde da comunidade e seus animais.
82
7. Conclusões

Foram encontradas ovos de 11 morfoespécies de helmintos em fezes de suídeos e
taiassuídeos na RPPN SESC Pantanal, das quais oito em Sus scrofa e nove em Pecari
tajacu.

Trichuris sp. e Anaplocephalidae em P. tajacu constituem novos registros de helmintos
para catetos na região do Pantanal.

Não houve diferença dos índices de diversidade de Shannon e Simpson calculada para
os helmintos de suinos e catetos no universo amostral estudado e os valores encontrados
foram baixos comparados aos da fauna helmintológica de outras espécies de outras
regiões.

Foram identificadas oito morfoespécies de importância zootécnica na região: Ascaris
suum, Macracanthorhynchus hirudinaceus, Trichuris sp., Metastrongylus sp.,
Spiruridae, Strongilida 1, Strongilida 2 e Anaplocephalidae.

Foram identificadas três morfoespécies de importância médica: Ascaris suum,
Macracanthorhynchus hirudinaceus, Trichuris sp.

Sus scrofa e Pecari tajacu compartilham 71% das espécies de helmintos na RPPN SESC
Pantanal e dentre estas 83% das espécies compartilhadas são de importância zootécnica
e 80% são de importância médica.

Macracanthorhynchus hirudinaceus apresentou distribuição mais ampliada estando
presente em todas as localidades pesquisadas, sugerindo maior adaptabilidade do
parasita as diferentes nuances climáticas e ecológicas do Pantanal.
83

As morfoespécies mais encontradas em ambientes silvestres foram Nematoda,
Trichostrongilidae e Anaplocephalidae, com 100% de suas presenças na área da Reserva
e o Macracanthorhynchus hirudinaceus com 83,72%. As morfoespécies de helmintos
encontradas com maior prevalência nas comunidades humanas do entorno da Reserva
foram o Ascaris suum, Trichuris sp. Oxyuridae com 100% de presença nestes ambientes
antropizados e o Strongilida 1, Metastrongylus sp. e o Strongylida 2 com 89,47%,
70,83% e 60% de presença nesta área, respectivamente.

As curvas de acumulação de espécies indicam a necessidade de aumentar o universo
amostral em futuras pesquisas na região, especialmente para P. tajacu, visto a notória
presença de espécies raras e falsos parasitas.

A distribuição dos parasitas na Reserva e seu entorno parecem estar determinada mais
pelos fatores ambientais, antrópicos e ecológicos que criam condições favoráveis a
transmissão do parasita, do que a estrutura fisiológica ou filogenética do parasita com
seu hospedeiro, fato que pode ser observado pela distribuição de Macracanthorhynchus
hirudinaceus mais prevalente na área da Reserva e de Ascaris summ totalmente
prevalente nas comunidades humanas.

O fluxo parasitário parece estar apontando a transmissão de helmintos de porcos
domésticos para os catetos, visto a presença de parasitos característicos de suínos
parasitando taiassuídeos como Macracanthorhynchus hirudinaceus, Trichuris sp.
Strongilida 1 e Strongilida 2 e não ao contrário.
84
8. Complementação de proposta
O presente trabalho foi parte integrante de um conjunto maior de pesquisas realizadas
na RPPN SESC Pantanal e gerou, antes mesmo de sua conclusão, produção bibibliográfica
pertinente às questões da ocorrência dos parasitas e suas relações com as comunidades do
entorno. Estes resumos, apresentados em Congressos pelo Brasil (Anexo 3, 4 e 5), mostraram
a importância do estudo da diversidade de helmintos intestinais em animais silvestres e
domésticos no escopo da saúde pública e suas implicações para saúde humana.
Embora este estudo esteja direcionado à avaliação das parasitoses intestinais de porcos
domésticos e nativos é importante que estes resultados gerem ações para a qualidade da saúde
ambiental local e se aproxime da vida das pessoas. Desta forma, pretende-se expandir as
atividades para o levantamento das parasitoses nas populações humanas do entorno,
especialmente, São Pedro de Joselândia, Pimenteira, Porto Cercado e Retiro, com o objetivo
exploratório de identificar a presença e prevalência das helmintíases nestas populações e suas
relações com os porcos.
85
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97
Anexo 1
Bibliografia da sinopse de helmintos que parasitam Sus scrofa no Brasil.
Physocephalus sexalatus
Ascarops strongylina
PINTO, C & J.L. ALMEIDA. 1935. Sinopse dos helmintos dos
animais domésticos do Brasil. O Campo, Rio de Janeiro, 6 (8):
54-63.
Gongylonema pulchrum
UNTI, O. 1940. Informes sobre parasitos de cães e ratos da
cidade de Curitiba (Est. Paraná). Rev. Biol. Hyg. São Paulo 10
(2): 109-111.
Metastrongylus
enlongatus
AREIAS, A. & A. FIGUEIREDO. 1939. Do Metastrongylus
elongatus (Dujardin,1845). Rev. Med. Pernambuco 9 (3): 6974.
Metastrongylus salmi
PINTO, C & J.L. ALMEIDA. 1935. Sinopse dos helmintos dos
animais domésticos do Brasil. O Campo, Rio de Janeiro, 6 (8):
54-63.
Metastrongylus
pudendotectus
FREIRE, J.J. 1948. Incidência helmíntica em suínos do Rio
Grande do Sul. BIol. Dir. Prod. Animal, Porto Alegre, 5 (7): 710.
FREIRE, J.J. & R.A. DI PRIMIO. 1948. Fauna zooparasitária
riograndense. Veterinária, Rio de Janeiro, 2 (1): 36-44.
98
Ancylostoma caninum
GORDON, R.M., 1922. The occurrence of Ancylostomes
resembling Necator americanus amongst domestic pigs in
Amazonas. Ann. Trop. Med. Parasit., Liverpool, 16 (3): 295296.
Necator americanos
TRAVASSOS, L. 1915. Uncinaria carinii Il.sp. (nota prévia).
Brazil Med. 29 (10):79-80.
Globocephalus
urosubulatus
CAMERON, T.W.M., 1924. On the genus lobocephalus Molin,
1861. Jour. Helminth. 2 (2): 65-76.
TRAVASSOS, L. 1926. Ascaris retusa (Rud. 1819). BoI. Biol.
São Paulo 4: 87-93.
Trichostrongylus
colubriformis
FREITAS, M.G. 1951. Ocorrência de nematóides do gênero
"Trichostrongylus" nos animais domésticos de Minas Gerais.
Ciência e Cultura, São Paulo, 3 (4): 265.
Trichostrongylus axei
TRAVASSOS, L. 1921. Notas helmintológicas. Brazil Méd. 35
(2): 67.
Hyostrongylus rubidus
PINTO, C & J.L. ALMEIDA. 1935. Sinopse dos helmintos dos
animais domésticos do Brasil. O Campo, Rio de Janeiro, 6 (8):
54-63.
99
Haemonchus contortus
COSTA, H.M.A. & FREITAS, M.G. 1959. Novos achados
helmintológicos em animais domésticos de minas Gerais. Arq.
Esc. Sup. Vet., Belo Horizonte, 12: 293-7
Oesophagostomum
dentatum
TRAVASSOS, L. 1914. Contribuição para o conhecimento da
fauna helmintológica brasileira. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 6
(2): 3-7
Oesophagostomum
longicaudum
COSTA, H.M.A. & M.G. FREITAS. 1966. Nota sobre
Bourgelalia diducta, Oesophagostomum longicaudum e
Globocephalus urosubulatus (Nematoda-Strongyloidea) em
suíno de Minas Gerais, Brasil. Arq. Esc. Vet. U.F.M.G., Belo
Horizonte, 18: 53-57.
BRITO, D.B.; M. FRANCIS; N.M.S. FREIRE & D.C.
GOMES. 1981. Primeira citação de G. urosubulatus, o.
quadrispinulatum e A. strongylina parasitando suínos no Rio de
Janeiro. Rev. Brasil. Med. Vet 4 (2): 9-10
Oesophagostomum
quadrispinulatum
DUARTE, M.J.F. 1981. Helmintos parasitas dos animais
domésticos no Estado do Rio de Janeiro. Arq. Esc. Vet.
U.F.M.G., Belo Horizonte, 33 (1): 67-98
Bourgelatia diducta
NEVEU-LEMAIRE, M. 1936. Traité D'Helmintologie
Médicale et Veterinaire. Paris, Vigot Fréres Ed., 1514pp
100
COSTA, H.M.A. & M.G. FREITAS. 1966. Nota sobre
Bourgelalia diducta, Oesophagostomum longicaudum e
Globocephalus urosubulatus (Nematoda-Strongyloidea) em
suíno de Minas Gerais, Brasil. Arq. Esc. Vet. U.F.M.G., Belo
Horizonte, 18: 53-57.
PINTO, C. 1935a. Contribuição ao estudo do "Stephanurus
dentatus" Diesing, 1839, agente etiológico da estefanurose dos
suínos. "Strongylata: Stephanuridae". O Campo, Rio de
Janeiro, 6 (lI): 27-30
Stephanurus dentatus
PINTO, C & J.L. ALMEIDA. 1935. Sinopse dos helmintos dos
animais domésticos do Brasil. O Campo, Rio de Janeiro, 6 (8):
54-63.
Ascaris suum
CARVALHO, J.C. 1940. Contribuição para o conhecimento da
fauna helmintológica de Minas Gerais. Ceres, Viçosa, 5 (I):
411-423.
COSTA, H.M.A. 1965. Alguns aspectos sobre helmintos
parasitos de Sus domesticus Linnaeus, 1758, procedentes do
Estado da Bahia, Brasil. Arq. Esc.Vet. U.F.M.G., Belo
Horizonte, 17: 11-14.
Cruzia brasiliensis
COSTA, H.M.A. 1965. Cnda brasiliensis sp.n. (NematodaCruziidae) parasita de Sus domesticus. Arq. Esc. Vet.
U.F.M.G., Belo Horizonte, 17: 61-69.
101
Trichuris suis
FREITAS, M.G. & H.M.A. COSTA. 1959b. Lista de helmintos
parasitos dos animais domésticos do Brasil. Arq. Esc. Vet
U.F.M.G., Belo Horizonte, 12: 443-510.
Trichuris trichiura
PINTO, C & J.L. ALMEIDA. 1935. Sinopse dos helmintos dos
animais domésticos do Brasil. O Campo, Rio de Janeiro, 6 (8):
54-63.
Strongyloides ransomi
SCHWARTZ, B. & J.E. ALICATA . 1930. Species ofthe
nematode genus Strongyloides parasitic domestic swine. Jour.
Agric. Res. U.S. Dept. Agric. 40 (1): 11-23.
Strongyloides stercoralis
PINTO, C & J.L. ALMEIDA. 1935. Sinopse dos helmintos dos
animais domésticos do Brasil. O Campo, Rio de Janeiro, 6 (8):
54-63.
Stichorchis giganteus
TRAVASSOS, LAURO PEREIRA; PINTO, CESAR
FERREIRA; MUNIZ, JULIO. - Excursäo scientifica ao estado
de Mato Grosso na zona do Pantanal (margens dos rios S.
Lourenco e Cuyabá) realisada em 1922. Mem. Inst. Oswaldo
Cruz; 20(2):249-69, 1927.
Fasciola hepática
Taenia hydatigena
RIBEIRO, P.A. Causas de rejeição de suínos abatidos no Brasil
Central nos anos 1936/49. Rev. Fac. Med. Vet. São Paulo, 4(3):
421-68, 1951
Echinococcus
granulosus
102
Echinostoma revolutum
KOHN, A., BUHMHEIM, U., COSTA, HMA. Infestação
natural de Echinostoma revolutum (Froelich, 1802)
(Trematoda, Echinostomatidae) em porco doméstico. Atas
Soc.Biol. Rio de Janeiro 16(1): 5-6, 1972(a).
Echinochasmus
TRAVASSOS, LAURO PEREIRA; FREITAS, J. F.
TEIXEIRA DE; KOHN, ANNA. - Trematódeos do Brasil.
Mem. Inst. Oswaldo Cruz; 67(Unico):1-886, 1969.
Stephanoprora
denticulata
KOHN, A., BUHMHEIM, U., COSTA, HMA.Ocorrencia de
Stephanoprora denticulata (Rudolphi, 1802) Odhner, 1911
(Trematoda, Echinostomatidae) em porco domestico no Brasil.
Atas Soc.Biol. Rio de Janeiro 15(3): 121-3, 1972(b).
PARDI, M.C.; DUARTE, G.G.; ROCHA, U.F. Cisticercose em
bovinos e suínos.
Taenia solium
Macracanthorhynchus
hirudinaceus
(Análise estatística de dados colhidos pelo S.I.F. nº 2, do
D.I.P.O.A., do Ministério da Agricultura, junto ao Frigorífico
Anglo de Barretos, Estado de São Paulo, Brasil). Revista da
Faculdade de Medicina Veterinária. v.4, p.613-28, 1952
MELO, H.J.H., RIBEIRO, H.S. Helmintos parasitas dos
animais domésticos no Estado de Mato Grosso. Arq. Esc. Vet.
U.F.M.G. v.29, n.2, p.161-164, 1977.
103
Anexo 2
Bibliografia da sinopse de helmintos que parasitam Pecari tajacu nas Américas e no
Brasil.
Dirofilaria acutiuscula
LENT & FREITAS. 1937. Contribuição ao estudo do gênero
Dirojilaria Railliet & Henry, 1911. Mem.Inst. Oswaldo Cruz 32
(1): 37-54.
Eucyathostomum dentatum
TRAVASSOS, L. 1937a. Eucyathostomum dentatum Molin,
1861 (Nematoda: Strongyloidea). Mem. Inst. Oswaldo Cruz 32
(I): 95-100.
Gongylonema baylisi
FREITAS, J.F.T. & H. LENT. 1937. Notas sobre
Gongyloneminae Hall, 1916 (Nematoda: Spiruroidea). Mem.
Inst. Oswaldo Cruz 32 (2): 299-304.
Oesophagostomum dentatum
TRAVASSOS, L. 1914. Contribuição para o conhecimento da
fauna helmintológica brasileira. Mem. Inst. Oswaldo Cruz 6 (2):
3-7.
Monodontus semicircularis
TRAVASSOS, L. 1929. Sobre o Monodontus circularis (Molin,
1861). Rev. Mus. Paulista 16: 3-15.
Nematodirus molini
TRAVASSOS, L. 1937c. Revisão da família Trichostrongylidae
Leiper, 1912. Monografia Inst. Oswaldo Cruz 1: VII+512p.
104
Texicospirura turki
Texicospirura Cesticillus
Toxocara Alienata
Ascaris Summ
Capillaria hepatica
Moniezia benedeni
CHITWOOD, M. B.; CORDERO DE CAMPILLO,
M., 1966: Texicospirura turki gen. et sp.n. Nematoda:
Spiruroidea from the stomach of the peccary in the United
States, and a key to the genera of Ascaropsinae. J. Parasit, 52: 2,
307-310.
LOPEZ-NEYRA, C.R. 1951. Los Ascaropsinae (NematodaSpirurata). Rev. Ibér. Parasitol. *11 *(2): 89-223.
SPRENT, J.F.A. 1982. Ascaroid nematodes of South Americn
mammals, with a definition of a new genus. J. Helminth. 56:27595
HELLGREEN, E.C.R.L. LOCHMILLER, AND W.E. GRANT.
1984. Infection of captive adult collared peccaries, Dicotyles
tajacu (Woodburne 1968) with the nematode Ascaris sum
(Goeze, 1782). Proc. Helminthol. Soc. Wash. 51:160-61
MANDORINO, I.; REBOUÇAS (1991): Capilaríase hepática
em caititu - Tayassu tajacu (L.). Arquivos do Instituto Biologico
58, 61-62
ALICATA, J. E. 1932. The occurrence of Moniezia benedeni in
a peccary. J. Parasitol. 19(1): 83
105
REGO, A A. 1961. Tayassus albirostris (Illig.) novo hospedeiro
de Moniezia benedeni (Moniez, 1879) (Cestoda,
Anoplocephalidae). Rev. Brasil. Biol., 21 (2): 139-141. Revista
Brasileira de Biologia, 21 (2): 139-141
MACHADO-FILHO, D. A. 1963. Nova espeécie do gênero
Oligacanthorhynchus major
‘‘Macracanthorhynchus’’ Travassos, 1916, parasito de ‘‘Tayassu
Tajacu’’ (L., 1758) (Archiacanthocephala
Oligacanthorhynchidae). Revista Brasileira de Biologia
23:409–412.
Macracanthorhynchus
hirudinaceus
TRAVASSOS, L. Contribuicoes para o conhecimento da fauna
helminthologica brasileira. XX. Revisäo dos Acanthocephalos
brasileiros. Parte II. Família Echinorhynchidae Hamann, 1892,
sub-fam. Centrorhynchinae Travassos, 1919. Mem. Inst.
Oswaldo Cruz; 19(1):31-125, 1926..
106
Anexo 3
ENCONTRO NACIONAL DE EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA
FMVZ/USP – SÃO PAULO-SP (Março 2012)
HELMINTOS INTESTINAIS DE SUÍDEOS DOMÉSTICOS E
TAYASSUÍDEOSSILVESTRES NA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO
NATURAL SESC PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL
João Daniel Oliveira Santos1 ([email protected]); Hugo Costa de Souza1;
Marcia Chame12 ([email protected]),
1Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública -Escola Nacional de Saúde
Pública, Fiocruz
2 Programa Institucional Biodiversidade & Saúde – Presidência, Fundação Oswaldo
Cruz
Agência de fomento: SESC Pantanal/ FIOCRUZ/FIOTEC
A fragmentação e a perda de habitats decorrentes das mudanças ambientais globais
operam alterações em ecossistemas naturais e antropizados, modificam as interações
parasito/hospedeiro podendo provocar a emergência e reemergência de doenças nas
populações animais e humanas. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN)
SESC Pantanal e seu entorno é um exemplo da convivência entre animais domésticos
e silvestres. O objetivo deste trabalho é estudara distribuição e o fluxo parasitário
interespecífico entre os Tayassuídeos, caititu (Pecari tajacu Linnaeus, 1758) e qu
eixada (Tayassu pecari Linnaeus, 1758) e suídeo, porco doméstico (Sus scorfa
Linnaeus, 1758), e suas implicações para a saúde do ecossistema da Reserva e as
populações humanas em seu entorno. Para isso foram coletadas diretamente do solo
amostras de fezes destas espécies. As análises parasitológicas foramrealizadas por
sedimentação espontânea de Lutz (1919). De cada amostra, um volume de 20 µl de
sedimento foi acondicionado em lâmina para observação em microscopia óptica
(400X), em busca da presença de ovos e larvas de helmintos. Estes foram registrados
por fotografia digital e suas medidas mensuradas. Foram lidas 10 lâminas por
amostra. Os resultados preliminares de 10 amostras de fezes de caititus foram
positivos (100%) nas quais observaram-se quatro morfoespécies distintas de ovos de
helmintos: Acantocephala,possivelmente Macracanthorhynchus hirudinaceus (Pallas,
1781) em 100%; Cestoda, Anaplocephalidae em 10% eNematoda,
Trichonstrongylidae em 20%, possivelmente Molineus semicircularis(Molin, 1761),
Ascarididae em 60% e Spirurida em 30%. Quatro morfoespécies de Nematoda em
fezes de tayassuídeo não foram identificados. Das quatro amostras de fezes de
porcos domésticos, três foram positivas (75%) paraduas morfoespécies:um Cestoda
não identificado (25%) e um Nematoda, Ascarididae (75%). As espécies encontradas
podem parasitar diferentes hospedeiros da fauna silvestre, doméstica e humanos
como o Macracanthorhynchus hirudinaceus de ciclo biológico zoonótico. A prevalência
de helmintos generalistas e zoonóticos traz à saúde pública preocupações inerentes
aos fluxos parasitários entre as populações humanas e a ocupação dos ambientes
naturais e sua antropização.
Anexo 4
107
XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA VETERINÁRIA
SÃO LUIZ – MA (Outubro 2012)
HELMINTOS INTESTINAIS DE ANTAS NA RESERVA PARTICULAR DO
PATRIMÔNIO NATURAL SESC PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL
João Daniel Oliveira Santos1; Hugo Costa de Souza1; Marcia Chame1,2
1 Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública - Escola Nacional de Saúde Pública,
Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, [email protected]
2 Programa Institucional Biodiversidade & Saúde – Presidência, Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, RJ
A relação parasito-hospedeiro é fruto de processo coevolutivo que reflete não só a filogenia,
mas as relações ambientais e suas mudanças. Estudos sobre a diversidade de helmintos em uma
comunidade biológica permitem assim, a observação de fluxos migratórios, a chegada de
espécies exóticas, alterações de dieta e disponibilidade de recursos e impactos antrópicos. A
Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) SESC Pantanal está localizada na planície
sedimentar dos rios da Bacia do Alto Paraguai com regime hidrológico de cheias e secas. A
flutuação sazonal do nível da água regula os processos ecológicos locais, compartilhados por
animais domésticos e pelo homem, e faz com que o fluxo parasitário entre as espécies seja
facilitado nas épocas de cheia. O objetivo do presente trabalho é estudar a distribuição de
helmintos intestinais em antas (Tapirus terrestris Linnaeus, 1758) e suas implicações para a
saúde dos ecossistemas da Reserva e as populações humanas em seu entorno. Para isso, fezes
de antas foram coletadas diretamente no solo. No laboratório, as fezes foram sedimentadas para
a preparação de lâminas de acordo com o método de sedimentação espontânea de Lutz (1919).
De cada amostra, fez-se a leitura de 15 lâminas contendo 20μl de sedimento, em busca de ovos
e larvas de helmintos. Estes foram observados e fotografados em microscopia óptica (400x) e
os ovos tiveram suas medidas mensuradas. Os resultados preliminares de dez amostras indicam
que metade (n=5) foi positiva, nas quais se observaram seis morfoespécies distintas de ovos de
helmintos: Strongylidade (30%), Ancylostomatidae (20%), Trichostrongylidae (20%),
Spirocercidae (10%), Trematoda (10%) e uma morfoespécie não identificada (10%). Das
espécies identificadas, todas são parasitas descritaspara anta, exceto ada Familia
Trichostrongylidae, não relatada para este hospedeiro. Isto pode indicar o compartilhamento de
parasitos deste hospedeiro com outros animais, inclusive os domésticos e de criação. A
continuidade dos trabalhos permitirá aprimorar o diagnóstico ao menor taxa possível, assim
como identificar a coocorrência destes helmintos entre espécies, de modo que se avalie o
potencial zoonótico dos parasitas encontrados e se compreenda o fluxo de parasitoses na região.
Palavras-chave: Tapirus terrestris; helmintos intestinais, Pantanal,
Órgão de financiamento: SESC Pantanal/FIOCRUZ/FIOTEC
Anexo 5
108
XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA. FLORIANÓPOLIS - SC /
(Outubro 2013)
MACRACANTHORHYNCHUS HIRUDINACEUS, (ACANTOCEPHALA:
OLIGACANTHORHYNCHIDAE) EM SUÍDEOS E TAIASSUÍDEOS NA RPPN SESC
PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL
Hugo Costa de Souza1; João Daniel Oliveira Santos1; Marcia Chame2
1 Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública - Escola Nacional de Saúde Pública,
Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ, [email protected]
2 Programa Institucional Biodiversidade & Saúde – Presidência, Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, RJ, [email protected]
A fragmentação e a perda de habitats decorrentes das mudanças ambientais globais operam
alterações em ecossistemas naturais e antropizados, modificam as interações
parasito/hospedeiro podendo provocar a emergência e reemergência de doenças nas populações
animais e humanas. A Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) SESC Pantanal, MT
e seu entorno é um bom exemplo de ambientes onde patógenos podem circular em diferentes
hospedeiros muito pela convivência entre animais domésticos e silvestres. Esta característica
torna-a cenário ideal para o estudo de espécies potencialmente reemergentes como o
Macracanthorhynchus hirudinaceus, um endoparasito de suínos zoonótico. O objetivo do
presente trabalho é estudar a frequência de ocorrência deste acantocéfalo em populações
silvestres de caititu (Pecari tajacu) e porcos monteiro (Sus scrofa) de modo que levante
reflexões quanto ao surgimento de novas doenças nas áreas de fronteira ecológica entre
ambientes naturais e antropizados. Para isso foram coletadas diretamentedo solo amostras de
fezes destas espécies. As análises parasitológicas foram realizadas por sedimentação
espontâneade Lutz (1919). De cada amostra, um volume de 20 μl de sedimento foi
acondicionado em lâmina para observação emmicroscopia óptica (400X), em busca da presença
de ovos e larvas de helmintos. Estes foram registrados por fotografia digital e suas medidas
mensuradas. Foram lidas 10 lâminas por amostra. Os resultados preliminares de 56 amostras de
fezes de caititus mostraram positividade em 21(37,5%) para o acantocéfalo e nas 12 amostras
de porco monteiro a positividade foi de 3 (25%). A frequência do helminto nestes animais traz
preocupações quanto ao transito destes em populações animais domésticos e humanas. O
posterior estudo deste fluxo parasitário entre os diferentes hospedeiros pode trazer uma melhor
compreensão de como a ocupação dos ambientes naturais e sua antropização pode vir a trazer
implicações para a saúde do ecossistema da Reserva e as populações humanas em seu entorno.
Macracanthorhynchus hirudinaceus; Pecari tajacu; Sus scrofa; Pantanal
Órgão de financiamento: SESC Pantanal; FIOCRUZ/FIOTEC
109
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