DOENÇAS CAUSADAS POR FUNGOS E BACTÉRIAS

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Maçã Fitossanidade
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Frutas do Brasil, 38
DOENÇAS
CAUSADAS POR
FUNGOS E BACTÉRIAS
Rosa Maria Valdebenito Sanhueza
INTRODUÇÃO
As doenças da macieira podem causar perdas importantes para o produtor,
com a inutilização da fruta para comercialização, o enfraquecimento das plantas e, portanto, a diminuição da produção e da produtividade, causando a morte
da planta, inviabilizando, assim, essa
atividade produtiva. Para a redução das
perdas causadas por essas moléstias, exige-se treinamento para o reconhecimento de suas características, infra-estrutura e investimentos para a implementação
das recomendações de controle. A seguir, serão apresentadas as principais
doenças da cultura e seu controle.
DOENÇAS QUE AFETAM
RAMOS, FOLHAS E FRUTOS
A sarna-da-macieira é a doença mais
importante da macieira; se não controlada pode inutilizar toda a produção da
fruta, porque as principais cultivares
cultivadas são altamente suscetíveis,
obrigando o produtor a usar proteção permanente das plantas durante
o período de risco de ocorrência de
infecção.
Outras doenças da parte aérea da
macieira são as conhecidas como “doenças de verão”, porque seus sintomas são
visíveis com maior intensidade nesse
período do ano. Entre elas, encontram-
se a podridão-branca (Botryosphaeria dothidea,
sinn. B. berengeriana), a podridão-amarga
(Glomerella cingulata, Colletotrichum ssp.), a
mancha da cv. Gala por Colletotrichum ssp.
e a podridão-olho-de-boi (Cryptosporiopsis
perennans / Pezicula malicorticis).
Essas doenças ocorrem na segunda
metade do ciclo vegetativo das plantas e,
por tornarem-se evidentes próximo da
colheita e não se dispor de métodos
eficazes de controle, causam muitas
perdas. Nos anos com verões chuvosos
e temperaturas amenas, as podridões
branca, amarga e, em alguns pomares, a
olho-de-boi causam perdas de até 30%
da produção da maioria das cultivares e
a mancha-foliar-de-Glomerella provoca o
desfolhamento da planta e a perda da
qualidade de comercialização dos frutos, comprometendo a próxima safra,
principalmente na cv. Gala. O impacto
potencial dessas doenças no Sul do Brasil foi constatado no ciclo 1997-1998,
quando verificaram-se perdas de 10% a
20% em pomares da cv. Fuji com alta
infestação por B. dothidea e podridão
amarga, doenças que continuaram a se
manifestar durante a frigorificação.
Sarna-da-macieira
(Venturia inaequalis)
Características da doença
O patógeno sobrevive no inverno
nas folhas que foram infectadas no ciclo
vegetativo anterior e que, após a sua
queda, permanecem no solo do pomar.
Nessa condição, desenvolvem-se os
pseudotécios que, nas condições do Brasil, no fim do inverno e durante a primavera, irão liberar os ascósporos que darão origem às infecções primárias.
A partir das lesões iniciais, ocorrem
ciclos sucessivos de infecção, sempre
que houver ambiente propício e tecidos
suscetíveis.
A liberação dos ascósporos ocorre
sempre após uma chuva, principalmente durante o dia, mas, ocasionalmente,
pode ocorrer sob condições de orvalho
prolongado e de noite. A disseminação
dos ascósporos e dos conídios é feita
principalmente pelo vento.
O período de maior suscetibilidade
da planta à infecção ocorre do início da
brotação até o estádio J, diminuindo nas
folhas maduras e nos frutos maiores que
5 cm de diâmetro.
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Maçã Fitossanidade
A infecção nos frutos é inicialmente superficial, com massas de conídios
marrom-esverdeadas (Fig. 2). As lesões
mais velhas desenvolvem aspecto de
cortiça e racham-se à medida que os
frutos crescem. Nessa situação, acontece também a deformação das maçãs.
As lesões nos frutos cicatrizam após os
tratamentos químicos, mas não há cura
total. Novas áreas com conídios surgirão na presença de alta umidade e na
ausência de proteção (Fig. 3). Nas folhas, porém, os tratamentos curativos
são mais eficazes e as lesões curadas são,
em geral, amarelo-avermelhadas e com
margens irregulares.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Frutas do Brasil, 38
Sintomas
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Fig. 2. Sarna inicial em frutos novos.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
A sarna-da-macieira ocorre em folhas, flores e frutos. As primeiras infecções ocorrem em pontas verdes, inicialmente na parte inferior das folhas. Sobre as lesões desenvolve-se uma massa
aveludada de conídios (Fig. 1). Infecções
graves geralmente causam a queda das
folhas e dos frutos, debilitando e prejudicando o desenvolvimento das plantas
no ciclo seguinte.
Fig. 1. Folha com lesões esporuladas de
sarna da macieira.
Fig. 3. Frutos maduros com lesões de sarna apresentando
massas conidiais escuras.
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Maçã Fitossanidade
Controle
Redução das perdas causadas pela
doença é obtida com cultivares resistentes, obtidas por diferentes programas de
melhoramento no exterior, destacando-se ‘Prima’, ‘Priscilla’, ‘Jonafree’,
‘Liberty’ e ‘Freedom’. No Brasil foram
obtidas as cultivares Fred Hough e
Catarina. Em geral as cultivares resistentes à sarna são suscetíveis às doenças
de verão e tem suscetibilidade variável
as outras doenças que ocorrem na primavera.
A redução do inóculo inicial é obtida pelas práticas que estimulam a decomposição das folhas no período do
Frutas do Brasil, 38
outono-inverno. Isso é conseguido pela
aplicação de uréia 5% nas plantas com
±30% de queda de folhas, molhando-se
também a faixa da projeção da copa na
fileira. Tratamentos adicionais sobre as
folhas podem ser feitos com suspensões
de esterco.
O manejo equilibrado das plantas e
o seguimento das recomendações quanto à adubação, à abertura da copa e ao
raleio são indispensáveis para se obter
redução da incidência da doença.
O controle químico é obtido com
fungicidas de contato, sistêmicos e parcialmente sistêmicos, com efeitos protetor, curativo em pré-sintomas e/ou
erradicante (Tabela 1).
Tabela 1. Fungicidas para uso na macieira (2003).
Nome
Marca comercial/ingrediente ativo
Captan 500 PM2 /captan
Captan SC2/captan
Orthocide 5002/captan
Folpan e Folpet /folpet
Bravonil 750 PM/chlorothalonil
Bravonil ULTREX 825
GD/chlorothalonil
Frowncide 500SC/fluazinam
Mythos/pirimethanil
Manzate 800/mancozeb3
Dithane PM /mancozeb3
Delan/dithianon
Stroby/kresoxim-methil
Curativos para a sarna5
Folicur/tebuconazole
Score/difenoconazole
Baycor/bitertanol
Palisade/fluquinconazol
Venturol/dodine
Dodex/dodine
Systhane/miclobutanil
Rubigan/fenarimol
Trifmine/triflumizole
Anvil/hexaconazole
Erradicantes
Venturol
Dodex
Benzimidazóis4,5
Cercobim 500 FW/Tiofanato metílico
Metiltiofan/Tiofanato metílico
Dosagem para 100 L de agua1
Sozinho
240 g
250 mL
240 g
240 g
200 g
150 g
Em mistura
160 g
180 mL
160 g
160 g
130 g
100 g
100 mL
100-150g
240 g
200 g
50-125 g
20 Ml
75 mL
160 g
160 g
50 g
-
50 g
14 mL
60 g
20
60 g
50-90 mL
12 g
60 mL
70 g
15 mL
30 g
10 mL
25g
20
10 g
40 mL
40 g
10 mL
50-90 g
85-130 mL
70 g
90 g
1. Corresponderá a dose média no ciclo de 1000 l/ha
2. Captan + Ag Bem para mancha foliar
3. Utilizar 3 kg/ha para mancha foliar
4. Uso eficaz somente no início de detecção de lesões
5. Será importante conhecer sensibilidade do patógeno aos IBE, benzimidazois e ao Dodine para definir a estratégia de
utilização.
Fonte: Bonetti et al., 2001.
Frutas do Brasil, 38
Maçã Fitossanidade
Condições de chuva acumulada
superior a 20 mm lava os fungicidas de
contato e o efeito deles dura no máximo
7 dias. Os fungicidas sistêmicos e parcialmente sistêmicos não são afetados pela
chuva 4 horas após a aplicação. Devem
ser aplicados em intervalos de 7 dias e,
no caso da maioria dos inibidores de
síntese do ergosterol, há perda de eficiência sob condições de temperatura inferior a 10ºC. Um resumo das características e das recomendações de uso dos
fungicidas utilizados para o controle
dessa doença consta das Tabelas 1 e 2 .
Nos períodos de grande crescimento vegetativo e de risco epidemiológico grave, os fungicidas devem
ser aplicados nas doses máximas e em
intervalos menores aos usados normalmente.
O conhecimento das condições de
ambiente que possibilitam o início das
epidemias de sarna (Tabela 3) e o
monitoramento do inóculo primário
constituem a base dos sistemas de alerta
da sarna. Esses estudos são a base das
Estações de Aviso Fitossanitário, que
atuam na maioria dos países produtores
de maçãs, inclusive no Brasil.
Aplicação dos fungicidas
A quantidade de ingrediente ativo
necessário para proteger as plantas e
registrado para uso é indicado normalmente pela quantidade de produto em
100 L de água. Dependendo do país e da
região essa dose é relacionada à aplicação de 1000 a 2000 L no sistema convencional. Contudo, a dose por hectare
utilizada é variável e depende da estimativa que o produtor faz da quantidade
necessária para molhar o volume da
copa de seu pomar e do maquinário
utilizado (800 a 4000 L), e de 100 a
400 L, no caso de uso de técnicas melhoradas de pulverização. Dessa forma, recomenda-se a racionalização da aplicação dos pesticidas utilizando-se o conceito do “volume da fileira de plantas”,
conhecido em inglês como Tree Row
Volume (TRV). O volume é calculado
usando-se as fórmulas seguintes:
• Volume da copa: 10.000 m 2 x altura da copa (m) x diâmetro médio da
copa (m)/distância entre as filas (m).
• Volume de calda (L/ha): volume
de copa (m3) x 0,015 +150 L.
• TRV (kg ou L/ha ): quantidade
registrada x Volume de Calda /300.
Tabela 2. Características dos principais grupos de fungicidas usados no controle de
sarna.
B Metoxiacrilates (MOA)
Estrobilurinas
Kresoxim-methil (Stroby)
Anilino-Pirimidinas (ANP)
Pirimethanil (Mythos)
Inibidores da Síntese do Ergosterol
(IBE ou DMI)
Fenarimol, Miclobutanil, Hexaconazole,
Bitertanol, Tebuconazole, Triflumizole,
Difenoconazole, Fluquinconazole
Fonte: Valdebenito Sanhueza et al., 2002.
- Efeito curativo baixo.
- Efeito protetor alto.
- Aplicar em intervalos de 10 dias e repetir com 40-50 mm de
chuva acumulada.
- Mistura adequada: MOA com IBE.
- Efeito secundário: pode acelerar a maturação.
- Efeito curativo médio (72 h).
- Efeito protetor médio (< Frutos).
- Mistura adequada: ANP e protetor.
- Efeito da temperatura: pouco afetados pela baixa temperatura
em relação aos IBE.(0ºC, 5ºC e 10ºC).
- Absorção rápida.
- Efeito curativo alto (96 h).
- Efeito protetor médio.
- Mistura adequada: IBE- protetores.
- Diminuição de eficiência em baixa temperatura (<10ºC).
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Maçã Fitossanidade
Frutas do Brasil, 38
Tabela 3. Molhamento foliar necessário para o início da infecção primária de sarna-damacieira causada por Venturia inaequalis, em diferentes condições de temperatura, e o
período requerido para o desenvolvimento de conídios.
Temperatura
média
Molhamento (h)
(F)
(C)
Infecção
Leve
78
77
76
63-75
62
61
60
59
58
57
56
55
54
53
52
51
50
49
48
47
46
45
44
43
42
41
40
39
38
37
33 - 36
25.6
25.0
24.4
17.2-23
16.7
16.1
15.6
15,0
14.4
13.9
13.3
12.8
12.2
11.7
11.1
10.6
10.0
9.4
8.9
8.3
7.8
7.2
6.6
6.1
5.5
5.0
4.4
3.9
3.3
2.7
0.5 - 2.2
13
11
9.5
9
9
9
9.5
10
10
10
11
11
11.5
12
12
13
14
14.5
15
15
16
17
19
21
23
26
29
33
37
41
48
Infecção
Moderada
Infecção
Grave
Período
de
Incubação
17
14
12
12
12
13
13
13
14
14
15
16
16
17
18
18
19
20
20
23
24
26
28
30
33
37
41
45
50
55
72
26
21
19
18
18
20
20
21
21
22
22
24
24
25
26
27
29
30
30
35
37
40
43
47
50
53
56
60
64
68
96
9
10
10
11
12
12
13
13
14
14
15
15
16
16
17
17
-
Fonte: adaptado de Mills, 1944 e modificado por A L. Jones.
Resistência de Venturia
inaequalis aos fungicidas
O uso freqüente de fungicidas com
ação específica no metabolismo do
patógeno tais como os benzimidazois,
os inibidores da síntese do ergosterol, as
anilino-pirimidinas e as estrobilurinas,
podem conduzir à seleção de estirpes
resistentes a esses produtos.
No Brasil, o grande número de períodos de infecção por V. inaequalis que
ocorrem anualmente nos pomares de
macieiras, a concentração das áreas de
plantio de cultivares suscetíveis, o alto
vigor e longo o período de crescimento,
e a alta pluviosidade, exige o uso freqüente de fungicidas específicos e com
efeito curativo. Nessas condições, pode
haver perda de controle sendo favorecido o surgimento de resistência.
As primeiras constatações mundiais de resistência de Venturia inaequalis a
fungicidas no campo foram feitas em
pomares que utilizaram com freqüência
os benzimidazóis. Nesse caso, a população resistente passou a predominar sobre a sensível em curto prazo e houve
falha de controle. No presente, na maior parte das regiões produtoras de maçã,
a ocorrência generalizada de resistência
tem impossibilitado o uso de todos os
fungicidas desse grupo entre os quais
ocorre a resistência cruzada. Pelo fato
de a população resistente ser tão competitiva como a sensível, continua a predominar indefinidamente. Nessa situação,
se for feito um tratamento, ocorre a
seleção dos isolados resistentes e, na
Frutas do Brasil, 38
segunda, a infecção é generalizada pelo
predomínio das estirpes não controladas. O segundo caso estudado de resistência desse patógeno foi com o dodine.
Essa situação foi menos grave quanto às
conseqüências da perda de controle, mas
de ocorrência também generalizada.
Os inibidores do ergosterol constituem um grupo de fungicidas de importância mundial para o controle de
doenças das plantas. Constatações de
resistência com impacto econômico
sobre as culturas de fitopatógenos a esses produtos têm sido relatadas em doenças importantes, tais como oídio de
cereais e cucurbitáceas e, recentemente
em Venturia inaequalis.
No Brasil, levantamentos da sensibilidade de isolados selvagens desse
patógeno aos IBE vêm sendo feito nos
Estados de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul.
A presença de fenótipos resistentes
aos IBE na população obtida nos pomares não necessariamente sugere a perda
de controle da doença, como ocorre no
caso dos benzimidazóis, visto que a distribuição da freqüência de sensibilidade a
esses fungicidas na população do
patógeno é contínua, podendo variar de
altamente sensível a altamente resistente. Assim, estudos da população selvagem de V. inaequalis ao fluzilazole têm
mostrado por exemplo fatores de resistência que variam de 0 a 300. Esta sensibilidade tem preservado o uso efetivo
desses fungicidas mas, na presença de
alta pressão de seleção a freqüência de
isolados resistentes têm mostrado variar gradualmente, até causar falha de controle com as doses normalmente recomendadas para esses produtos. Contudo, essa mudança na composição da sensibilidade da população de V. inaequalis
não tem significado quebra significativa
nos pomares comerciais do controle pelos IBE, talvez pelo uso geral deles em
um sistema preventivo e, normalmente,
em mistura com produtos protetores.
Maçã Fitossanidade
Na atualidade, com a disponibilidade de outros grupos de fungicidas, as
anilino-pirimidinas (Ex.: Pirimethanil) e
as estrobilurinas (Ex.: Kresoxim methil), é
possível diminuir o número de tratamentos de IBE, incorporando-os ao sistema de produção, usando-se no máximo três a quatro tratamentos de cada
grupo por ciclo. Entretanto, como já foi
constatada resistência de patógenos a
esses dois grupos de fungicidas em outros países, será desejável monitorar
permanentemente a sensibilidade da
população de V. inaequalis a eles no país.
Mancha-das-folhas-efrutos-da-macieira por
Glomerella cingulata
(Colletotrichum gloeosporioides)
Características da doença
As cultivares Gala e Golden
Delicious ocupam aproximadamente
50% da área brasileira plantada com
macieiras e, nos últimos dez anos, vêm
sendo afetadas gravemente por uma
doença que causa mancha e queda precoce das folhas, e manchas com deformação dos frutos (Fig.4). Esses sintomas
foram descritos em 1983, no Paraná,
onde desde então a doença vem ocorrendo anualmente. O principal agente causal foi identificado como Glomerella cingulata
(Colletotrichum gloeosporioides). As primeiras
infecções ocorrem geralmente nas folhas novas e na parte baixa e interna das
plantas. Logo após a generalização do
ataque nas plantas, inicia-se a queda das
folhas e, em menor intensidade, dos
frutos.
Os prejuízos relacionados com essa
doença são graves e, na ausência de controle, o produtor pode sofrer perda total
da produção do ano e reduzir a do ano
seguinte. A sobrevivência tanto da fase
perfeita como da imperfeita do fungo
ocorre na macieira principalmente nos
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40
Maçã Fitossanidade
As manchas nos frutos e nos
pedúnculos são superficiais, de cor marrom-clara, esféricas, de 1 a 3 mm de
diâmetro, escurecendo e cicatrizando a
seguir (Fig. 5). Não há desenvolvimento
posterior dessas lesões na forma de podridão amarga. No entanto, estirpes associadas à podridão amarga das maçãs
que estejam contaminando a superfície
podem infectá-los a partir das lesões nos
frutos.
Infecções iniciadas antes da colheita podem continuar o desenvolvimento
durante a frigorificação e a comercialização dos frutos (Fig. 6 e 7).
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
ramos, frutos mumificados, gemas e, em
menor grau, nas folhas infectadas do ciclo anterior.
Observações do início de epidemias mostram que condições propícias para
o desenvolvimento da doença ocorrem
na presença do patógeno, quando a temperatura média diária no ambiente atinge no mínimo 15 oC-16 oC, após uma
chuva superior a 5 mm, com períodos
de 48 ou mais horas de molhamento
foliar e umidade relativa superior a 90%.
Nessas condições, 2 a 3 dias após o início
do período de infecção, surgem os sintomas nas folhas novas. Nos frutos, no
entanto, o período de incubação é de 7
a 10 dias.
Frutas do Brasil, 38
Foto: Liberaci Pedro de Couto.
Fig. 4. Queda precoce das folhas provocada pela mancha
foliar da Gala e ausência de sintomas na cv. Fuji.
Fig.5. Manchas e amarelecimento de folhas pela mancha-foliar.
Sintomas
Nas folhas as lesões são inicialmente avermelhadas, sem margens definidas, distribuídas ao acaso no limbo
foliar, e de tamanho que varia de 1 mm
a 4 mm de diâmetro. A lesão evolui até
tornar-se amarelo-acinzentada, às vezes
com margens marrom-avermelhadas
(Fig.5). No centro da lesão, desenvolvem-se pontos escuros, que são os corpos de frutificação do fungo causador da
doença.
Fig. 6. Pintas nos frutos ocorrida pelo ataque da mancha-foliar da ‘Gala’.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Frutas do Brasil, 38
Fig. 7. Sintomas de sarna (superior) e da
mancha-foliar da ‘Gala’ (inferior) em maçãs frigorificadas.
Medidas que facilitem a ventilação
nas macieiras diminuem o acúmulo de
umidade nas plantas, reduzindo a duração do período de molhamento de folhas e frutos, otimizando, assim, a proteção química.
Grande importância terá também
na prevenção da doença a retirada e a
destruição dos frutos com podridãoamarga e a escolha de cultivares polinizadoras não-suscetíveis ao ataque de
G. cingulata/C.gloeosporioides nos pomares
de ‘Gala’ e ‘Golden Delicious’.
Avaliações da suscetibilidade de
cultivares a essa doença mostraram que
as cvs. Mollies Delicious, Fuji, Everest,
Griffier, Hilliery, Malus atro-sanguinea e
Malus robusta são resistentes, enquanto
‘Gala’, ‘Royal Gala’, ‘Pink Lady’, ‘Golden
Delicious’, ‘Belgolden’ e ‘Granny
Smith’ são suscetíveis.
Controle
As práticas de controle mais importantes são as que visam reduzir as
fontes de infecção para que, na primavera seguinte, haja a menor quantidade
possível de inóculo. Assim, no inverno,
devem-se eliminar as folhas ou promover sua decomposição, proteger as plantas com produtos cúpricos, além de retirar e queimar os restos de poda e os
frutos mumificados.
Maçã Fitossanidade
Na primavera, as práticas têm por
objetivo diminuir as fontes de infecção
e aumentar a ventilação nas plantas.
Recomenda-se manter o pomar livre de
ramos, folhas ou frutos doentes, formar
as plantas com ramos dispostos à altura
mínima de 80 cm do solo, utilizar poda
e/ou nutrição equilibrada para obter
plantas sem enfoliamento excessivo,
melhorar a drenagem do pomar, eliminar ou ralear os quebra-ventos e manter
no máximo a 20 cm a altura das invasoras na fileira.
No presente, recomenda-se o controle químico da mancha-foliar-porGlomerella com o uso dos fungicidas
mancozeb, captan, chlorothalonil e
dithianon, e fosfitos sempre que a chuva
acumulada no intervalo atinja 30 mm.
Esses produtos devem ser utilizados na
dose registrada, em intervalos máximos
de 10 dias e, aplicados de acordo com o
volume da copa das árvores, para se
conseguir a cobertura uniforme e total
de frutos e folhas.
Após a colheita, continuar o tratamento das plantas infectadas até o fim de
março, para reduzir o inóculo no pomar,
evitar a queda precoce das folhas e prevenir prejuízos no desenvolvimento e na
qualidade das gemas frutíferas das macieiras no próximo ciclo vegetativo. Isso pode
ser feito com o mancozeb, o enxofre e o
oxicloreto de cobre, utilizando-os alternadamente durante esse período.
Podridão amarga
(Glomerella cingulata/
C. gloeosporioides e
C. acutatum)
Características da doença
O patógeno pode sobreviver nos
frutos mumificados, nos cancros e na
superfície das plantas. A infecção começa pela epiderme intacta. Contudo, feri-
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Maçã Fitossanidade
Frutas do Brasil, 38
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
das abertas por insetos, granizo ou por
outras lesões da epiderme facilitam a
infecção. A doença ocorre em grande
parte no pomar, mas continua a se desenvolver na câmara fria. O patógeno
causa podridões em várias fruteiras de
clima temperado.
Sintoma
Podridão firme, aquosa, deprimida, circular e de cor marrom. Na epiderme afetada podem ser observados
círculos concêntricos, com pontos alaranjados de aspecto ceroso correspondentes às frutificações conidiais (Fig. 8)
e, no caso das lesões serem originadas
pela fase perfeita (G. cingulata), pequenas
elevações pretas, os peritécios, desenvolvem-se no centro das lesões (Fig. 9).
Nas lesões iniciais a polpa afetada pode
apresentar a forma de cone invertido.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Fig. 9. Podridão-amarga de maçãs por
isolados de G. cingulata.
Controle
A redução do inóculo inicial é obtida pela remoção e pela destruição de
frutos doentes e ramos com cancros,
prática que deve continuar durante a
primavera.
O controle químico tem resultados
variáveis, provavelmente porque seu sucesso depende da sensibilidade aos
fungicidas dos isolados patogênicos dominantes no pomar. Os produtos
recomendados para o controle da doença são os de contato (folpet, captan,
dithianon, chorothalonil) e os benzimidazóis. Estes últimos são efetivos para
C. gloeosporioides, mas não o são para
C. acutatum.
Fig. 8. Podridão-amarga com massas
conidiais alaranjadas.
Cancros-dos-ramos e podridão-branca-das-maçãs por
Botryosphaeria dothidea =
B. beringeriana = B. ribis
ssp. e podridão-preta-dasmaçãs por Botryosphaeria
obtusa (Physalospora
malorum)
córtex dos ramos ou o caule das mudas
ou então o tronco das plantas adultas.
À medida que as lesões crescem, a
epiderme solta-se, e o aspecto apresentado é que sugeriu o nome comum à
doença: cancro-papel. Na superfície
desenvolvem-se pontuações pretas, que
correspondem às fases sexuada e
assexuada do patógeno (Fig.10).
Características da doença
Esses fungos ocorrem nos pomares,
causando cancros de ramos das plantas
adultas ou do caule em mudas. Nos
ramos, os cancros iniciam-se a partir de
ferimentos causados pela poda ou por
agentes climáticos ou biológicos, a partir da ferida deixada pela queda das folhas.
Nos frutos, podem ter penetração
direta nos tecidos, e, mais facilmente,
naquelas com danos por insetos, granizo
ou escaldadura por sol. A infecção pode
ser iniciada a partir de esporos desenvolvidos em ramos atacados das plantas ou
em ramos de poda que, ficando no solo,
são colonizados pelos patógenos. Outras fontes de inóculo são as frutas mumificadas nas plantas.
O fungo pode infectar a fruta durante todo o período de desenvolvimento com ascósporos e com conídios formados principalmente durante os meses de setembro a março nos ramos de
poda que ficam no pomar.
Lesões aparentemente cicatrizadas, por ocasião da colheita, geralmente
apresentam podridão após períodos prolongados de armazenagem.
Sintomas
Os cancros iniciam-se por lesões
marrom-avermelhadas, com margem
definida, que afetam principalmente o
43
Maçã Fitossanidade
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Frutas do Brasil, 38
Fig. 10. Cancro-de-ramos por
Botryosphaeria dothidea.
A podridão dos frutos é marromescura, relativamente seca, não deprimida e geralmente profunda na
epiderme. Inicia-se com um ponto marrom-escuro ou vermelho (Fig. 11), às
vezes, com o centro preto, a partir do
qual se desenvolve uma podridão circular de cor marrom-clara, às vezes com
círculos concêntricos mais escuros
(Fig. 12). As podridões iniciais não apresentam corpos de frutificações do
patógeno e a polpa apresenta lesões
marrom-claras, com margens definidas
e geralmente circulares. A seguir, e mais
freqüentemente no caso das podridões
por B. dothidea, desenvolve-se nas frutas
uma decomposição interna firme, de
44
Maçã Fitossanidade
Frutas do Brasil, 38
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
cor marrom-clara, que apresenta
exsudação (Fig. 13). Nas podridões por
B. obtusa (Fig. 14), a fruta pode escurecer
e mumificar. Na superfície dessas maçãs, observam-se picnídos pretos e, às
vezes, micélio verde-escuro. A podridão
desenvolve-se lentamente nas câmaras
frias e continua rapidamente durante a
comercialização.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Fig. 13. Frutas com fermentação interna
causada pela podridão-branca.
Fig. 14. Podridão-preta por Botryosphaeria
obtusa.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Fig. 11. Infecção inicial da podridão-amarga.
Fig. 12. Diferentes sintomas de podridão-branca.
Controle
A eliminação dos frutos mumificados e dos ramos com cancros reduzem o
inóculo inicial. Outra prática necessária é a destruição dos ramos grossos de
poda e a trituração ou a queima dos
ramos de poda de inverno e da poda
verde.
O controle químico é feito com
fungicidas protetores a cada 10 dias,
alternando com benzimidazóis em
uma aplicação mensal, especialmente
nas cvs. Fuji e Golden Delicious e Granny
Smith.
Frutas do Brasil, 38
45
Maçã Fitossanidade
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Podridão-olho-de-boi
(Cryptosporiopsis
perennans / Pezicula
malicorticis)
Características da doença
Sintomas
Podridão de cor marrom-clara com
o centro amarelo-pálido, de forma mais
ou menos circular, às vezes com margens marrom-escuras ou avermelhadas,
deprimidas, de textura firme e desenvolvimento lento (Fig. 15). Internamente,
os tecidos apresentam-se desidratados e
com cavernas que surgem no centro da
lesão e/ou em outras áreas da podridão,
como resultado da compactação de áreas afetadas (Fig. 16 e 17). As margens
entre os tecidos doentes e os sadios são
bem definidas. Sob condições de umidade e, no centro das lesões mais velhas,
podem-se desenvolver estruturas escuras que produzem massas de conídios
branco-alaranjados.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Fig. 15. Podridão-olho-de-boi.
Fig. 16. Podridão-olho-de-boi infectando a cavidade peduncular.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
É uma doença que foi identificada
recentemente (1996) na Embrapa Uva e
Vinho, em Vacaria e Tainhas, RS, e em
Fraiburgo, SC, e vêm crescendo em
importância. A sobrevivência do patógeno ocorre nos ramos com cancros.
As condições propícias para o início da
infecção são invernos suaves e alta
pluviosidade, temperatura média de
20oC e até 0oC para o desenvolvimento
da podridão dos frutos. A infecção inicia-se pela epiderme intacta ou pelas
lenticelas, quando o fruto está próximo
da maturação, sem precisar de ferimentos, apesar do processo ser facilitado pela ocorrência deles, por exemplo
em ferimentos por granizo ou insetos. A infecção surge, em geral, em prée pós-colheita.
Fig. 17. Podridão-olho-de-boi afetando os
carpelos e apresentando cavernas na polpa
afetada.
Maçã Fitossanidade
Frutas do Brasil, 38
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Controle
A redução de inóculo é obtida principalmente eliminando-se os cancros.
O uso de fungicidas cúpricos no inverno e de protetores em pré-colheita
auxilia na redução das perdas por essa
doença.
Podridão-carpelar (Alternaria ssp., Fusarium ssp.,
Botrytis cinerea,
Botryosphaeria dothidea,
Cryptosporiopsis
perennans, etc.)
Fig. 18. Sintomas externos da podridãocarpelar.
Fotos: Rosa M. V. Sanhueza.
46
Características da doença
Esta moléstia é uma doença secundária, que ocorre nas cultivares que
possuem canal calicinar curto e aberto
como a cv. Fuji e as do grupo Delicious.
Os fungos predominantes na época em
que os frutos apresentam essa abertura
penetram até a cavidade dos carpelos e,
dependendo do vigor das plantas e provavelmente da qualidade dos frutos,
podem desenvolver ou não a podridãocarpelar. A decomposição dos tecidos
das maçãs poderá ocorrer em pré- ou em
pós-colheita.
Sintomas
Os frutos afetados no campo são
mais coloridos, geralmente deformados
e, em geral, não se desenvolvem e caem
antes da colheita. Na região dos carpelos
e, dependendo do tipo de patógeno
envolvido, desenvolvem-se podridões
secas ou aquosas, de cor preta, amarela, marrom-clara ou marrom-escura
(Fig. 18 e 19).
A
B
Fig.19. Sintomas internos podridãocarpelar.
Mancha-necrótica-foliar
(Distúrbio de origem nãopatogênica)
Características da doença
Este problema é um distúrbio
fisiológico que tem relação com alternância de temperaturas, chuva e baixa
luminosidade. Afeta principalmente as
cultivares Golden Delicious e cvs. relacionadas.
Frutas do Brasil, 38
Maçã Fitossanidade
Sintomas
PODRIDÕES DE RAÍZES
Caracteriza-se pela ocorrência de
manchas necróticas irregulares, nas folhas maduras. Em geral, as folhas do
segmento médio dos ramos são mais
afetadas. As lesões são inicialmente
amareladas e logo tornam-se necróticas,
e as folhas amarelecem e caem a seguir.
O problema ocorre geralmente a partir
de dezembro e é mais grave no fim do verão.
As podridões de raízes da macieira
são a causa de perdas elevadas pela morte de plantas, tanto em pomares novos
como em produção no Sul do Brasil.
Levantamentos mostraram que,
somente nos anos 1985 e 1986, essa
morte variou de 0,5% a 15% por ano,
representando uma redução média de
1% a 2% da área por pomar.
Os fatores que contribuem para a
ocorrência dessas doenças são, principalmente, mudas contaminadas, deficiência no preparo e correção do solo na
implantação, uso freqüente de grade lateral que corta as raízes e dissemina os
patógenos, e a falta de orientação técnica para reduzir o inóculo da doença.
O diagnóstico apropriado e a caracterização dos patógenos e da doença
são essenciais para determinar medidas
de controle adequado. Este manual visa
auxiliar técnicos e fruticultores no diagnóstico preliminar.
Controle
A redução de perdas ocorre, geralmente, com o uso de fungicidas do grupo
dos ditiocarbamatos. Resultados semelhantes são obtidos com a aplicação de
óxido de zinco.
DOENÇAS SECUNDÁRIAS
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Neste grupo incluem-se a fuligem
(Peltaster fructicola, Gastrumia polystigmata,
Leptodontium elatius) (Fig. 20), a sujeira-demosca (Zygophiala jamaicencis) e outras
manchas de folhas ocasionalmente constatadas, como a mancha-de-Alternaria sp.
e Marssonina sp. O controle dessas doenças
é obtido quando feitos os tratamentos
citados para as outras doenças de verão.
Fig. 20. Fuligem em maçãs.
Sintomas na parte aérea
Na primavera as plantas doentes
têm brotação esparsa, lançamentos e
folhas pequenas de coloração verde-clara ou amarelada. Nos meses de novembro e dezembro esses sintomas são mais
marcantes, observando-se também
floração antecipada e grande quantidade de frutos estabelecidos.
No verão, além da redução no
crescimento, pode aparecer um avermelhamento das folhas e o surgimento de
pigmentação amarelada ou rosa, nos
ramos expostos ao sol. Isso ocorre pela
falta de enfolhamento das plantas doentes. Nessa época, é evidente também,
um número de frutos pequenos e muito
coloridos. Logo após a colheita, o
desfolhamento é antecipado.
47
48
Maçã Fitossanidade
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Esses sintomas podem ocorrer em
toda a planta ou, às vezes, em alguns ramos.
Dependendo da intensidade da doença, a
morte da planta pode ocorrer tanto logo
após o início da brotação, como durante o
período de crescimento (Fig. 21).
Esses sintomas também são comuns
a outros tipos de doenças, como: cancros-do-tronco ou dos ramos; galha-da-coroa
ou de raízes (Fig. 22); ou ainda com
encharcamento do solo e morte das raízes.
Tipos de podridões
Podridão por Armillariella
(armillaria) (Armillariella
mellea)
Características da doença - o patógeno é um fungo de solo e, sem uma
planta suscetível, pode viver muitos anos
em restos de madeira. Os rizomorfos
são as principais estruturas para disseminação. Pode haver contaminação
entre plantas pela água, pelo solo, ou
pelo contato de raízes. Não é necessário
ferimento para a infecção. Afeta muitas
fruteiras de clima temperado, sendo a
pereira e a figueira as menos suscetíveis.
Os fatores que favorecem a doença
são mudas contaminadas no viveiro;
plantas pouco vigorosas; temperatura
do solo entre 17ºC e 24ºC e danos no
sistema radicular.
Sintomas - a podridão é medianamente úmida, mole, branca-amarelada
e o cerne mantém-se firme. Entre a casca
e o lenho observam-se placas de micélio
em forma de leques branco-amarelados,
aveludados e firmes (Fig. 23). Às vezes,
na superfície das raízes, desenvolvem-se
estruturas semelhantes às de raízes finas
(rizomorfos), de cor marrom-escuro.
No colo das plantas podem desenvolver-se grupos de cogumelos amarelados
e pequenos.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Fig. 21. Definhamento e morte de plantas
por podridão das raízes.
Frutas do Brasil, 38
Fig. 22. Galhas-das-raízes na macieira
(“Burr knots”).
Fig. 23. Podridão da raiz e tronco por
Armillariella.
Controle - a redução das perdas por
essa doença pode ser obtida com a eliminação de todas as raízes das plantas
mortas, a desinfecção do solo e a colonização com Trichoderma. Além do
manejo cuidadoso que evitar ferimentos
e aumentar o vigor das plantas, evitar
o deslocamento de solo de plantas
doentes para as vizinhas, fazer uso de
mudas sadias e tratar as raízes com fungicidas e adubação mais calagem do solo
na cova.
49
Maçã Fitossanidade
sentando-se a epiderme separada dos
tecidos internos. O lenho das raízes apodrecidas permanece duro e escurecido.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Frutas do Brasil, 38
Podridão do colo e das raízes
por Phytophthora cactorum e
Phytophthora ssp.
Fig. 24. Avanço da podridão por
Phytophtora.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Características da doença - o
patógeno pertence ao grupo de fungos
aquáticos, sendo associado à podridãode-raiz em viveiros e pomares. O fungo
vive no solo, e a liberação de esporos e
sua disseminação é favorecida pela água.
Possui órgãos de resistência responsáveis pela sobrevivência no solo, em
raízes, ou em restos de tecidos doentes.
Afeta a maioria das fruteiras de clima
temperado.
Os fatores que favorecem a doença
são mudas contaminadas no viveiro,
alta umidade do solo, injúrias por
ferimentos ou encharcamento do solo e
região do colo das plantas, suscetibilidade
dos porta-enxertos e tipos de manejo do
solo que causem diminuição do vigor
das plantas.
Sintomas - as lesões podem estar localizadas na região do colo, na inserção
das raízes principais, na raiz pivotante e,
às vezes, no extremo distal das raízes.
Nas podridões iniciais, observamse tecidos amarelados a marromavermelhados, úmidos, localizados no
córtex das raízes.
Lesões avançadas são marrom-escuro-avermelhadas, úmidas (Fig. 24 e
25) e, na região afetada, os tecidos são
facilmente destacáveis, desfiam-se, apre-
Fig. 25. Podridão por Phytophtora nas mudas.
Nessa podridão, não ocorrem estruturas dos fungos (micélio visível) e
não existem desenhos, com exceção das
regiões de avanço da podridão.
Nas raízes mortas, encontra-se somente o lenho. Em condições de solo
seco, podem ser encontrados restos de
tecidos mortos, de cor marrom a preto,
secos, aderidos ao lenho das raízes, com
a epiderme solta.
Controle - é recomendado utilizar
porta-enxertos resistentes, como EM 9
e Marubakaido, e, quando constatados
os sintomas que comprometam acima
de 50% das raízes, o arranquio das plantas e de uma das plantas vizinhas a cada
lado das mortas. A seguir, deve ser feita
a desinfecção do solo e a colonização do
solo com Trichoderma. Nas áreas de alta
incidência, devem ser feitos o tratamentos das plantas vizinhas às mortas, com
fungicida sistêmico específico (fosethilAl ou metalaxil), evitando condições
que favoreçam a manutenção de umidade na região do colo da planta, como por
exemplo, a presença de invasoras e a
falta de drenagem, promovendo, por
outro lado, o uso cuidadoso de ferramentos para capina e a seleção de mudas, avaliando a presença de lesões no
colo e nas raízes e tratando as raízes com
fungicidas específicos já citados, antes
do plantio.
Roseliniose por Rosellinia
necatrix (Dematophora)
Características da doença - o patógeno afeta a maioria das fruteiras de
clima temperado. Os fatores que favorecem a doença são mudas contaminadas
no viveiro, danos causados por ferimentos nas raízes e na região do colo das
plantas, alta suscetibilidade da maioria
dos porta-enxertos disponíveis e tipos
de manejo do solo que causem diminuição do vigor das plantas.
Sintomas - a podridão é marromamarelada, úmida e mole. Afeta raízes e
colo das plantas, podendo comprometer a casca e o cerne das raízes. A epiderme da raiz fica preta, e na superfície,
observa-se micélio cotonoso verde-escuro a preto.
Em algumas condições, observa-se
micélio branco na região abaixo da
epiderme, a qual se desprende com facilidade. Na superfície das raízes, podem
ser observadas riscas ou pontos pretos,
Frutas do Brasil, 38
cujo centro apresenta massas brancas de
micélio no tecido lesionado e cordões
marrom-escuros de micélio sobre a raiz
(Fig. 26 e 27).
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Maçã Fitossanidade
Fig. 26. Podridão-branca-das-raízes por
Rosellinia necatrix.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
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Fig. 27. Podridão-branca por Rosellinia
necatrix apresentando tecidos cinzentos e
pontos pretos.
Controle - as medidas de controle
disponíveis são pouco eficazes fato que
exige a prevenção da contaminação do
solo do pomar. Isso pode ser obtido,
principalmente, evitando o plantio em
solo recém-desmatado, em campo bruto, ou em solo com cultura prévia de
fruteiras ou de viveiro. Após constatada
a doença, deve-se proceder à eliminação
das plantas com sintomas, retirando
todas as raízes e pelo menos uma planta
vizinha a cada lado da morta. Recomenda-se ainda, para evitar o alastramento
da infestação do solo do pomar, o isolamento das áreas com focos de plantas
doentes, construindo valos de 80 cm de
profundidade, recheados com cal e forrados com lona de plástico. No solo das
covas deve ser feita a desinfecção e a
aplicação de Trichoderma antes do
replantio, a seleção das mudas e o tratamento das raízes com fungicida e adubação mais calagem do solo na cova.
51
Maçã Fitossanidade
novas, com ápice amarelo, branco no
início e preto na maturação. Outros
agrupamentos de estruturas associadas
são semelhantes à cabeça de palito de
fósforo sobre um pedúnculo, com tamanho de 3 a 5 cm de comprimento.
As plantas que apresentam podridão
avançada, quebram-se facilmente no colo
quando arrancadas. (Fig. 28 e 29).
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Frutas do Brasil, 38
Xilariose (cortiça ou podridãopreta-das-raízes) por Xylaria
mali e Xylaria sp.
Fig. 28. Frutificações pretas (estomas sexuados) de
Xilaria em plantas doentes.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Características da doença - o patógeno é um fungo de solo associado a alto
teor de matéria orgânica e solos recémdesmatados. Parasita poucas plantas frutíferas (macieira e nogueira) e pode contaminar plantas vizinhas pelo contato
de raízes, porém a contaminação é lenta.
Os fatores que favorecem a doença
são mudas contaminadas no viveiro,
ferimentos no colo e nas raízes, pomar
ou viveiro instalados em solos recémdesmatados, plantas pouco vigorosas ou
com manejo que induza a estresse. Ex.:
poda severa de verão.
Sintomas - podridão amarelada, medianamente úmida, com bolsões de
micélio branco. As raízes com podridão
avançada são amareladas, leves, quebram-se como cortiça e têm desempenho ou linhas pretas irregulares. Na
primavera, podem surgir, no colo das
plantas, estruturas semelhantes a raízes
Fig. 29. Podridão por Xilaria na base do tronco.
Controle - eliminação da planta com
todas as raízes, desinfecção das covas
com brometo de metila e colonização
com Trichoderma.
52
Maçã Fitossanidade
Podridão por Sclerotium
(Sclerotium rolfsii)
diminuam o vigor das plantas. O uso de
fungicidas em viveiro tem sido eficiente
para o controle de focos da doença,
devendo-se efetuar adubação e calagem
do solo na cova.
Podridão-branca por Corticium
(Corticium galactinum)
Características da doença - o patógeno é fungo do solo, geralmente
saprófito, podendo ter vários hospedeiros. Ataca preferentemente plantas em
início de produção, em solos recémdesmatados. A disseminação se faz por
mudas e solo contaminados. A contaminação entre plantas vizinhas e o desenvolvimento da doença é lenta. Tem longa sobrevivência no solo.
Os fatores que favorecem a doença
são os pomares estabelecidos em solos
recém-desmatados e danos na região do
colo e na coroa de raízes principais.
Sintomas - a podridão é brancoamarelada, mais ou menos seca e mole.
Às vezes, aumenta na forma de manchas
da raiz. Em estádios avançados, afeta a
raiz inteira. Na superfície, das raízes
desenvolve-se um crescimento pulverulento branco com o centro amarelado,
onde são encontrados os basidiósporos. Essa
estrutura pode encontrar-se aderida à raiz ou
ao colo das plantas. As raízes, quebradiças,
esmigalham-se com facilidade, permanecendo sempre brancas (Fig. 31).
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Características da doença - o patógeno é fungo de solo, com grande quantidade de hospedeiros. Sobrevive no solo
por longos períodos, na forma de
escleródios.
Os fatores que favorecem a doença
são os restos de culturas, que são a base
de alimentação os quais estimulam a
infecção e a ocorrência de injúrias na
raiz ou colo das plantas. Geralmente a
podridão tem origem em solo e mudas
contaminadas.
Sintomas - podem ocorrer no colo
e em raízes de plantas, no viveiro ou no
pomar. A podridão é marrom-amarelada, mais ou menos úmida e, às vezes,
com micélio branco no tecido afetado.
Geralmente, em plantas adultas, não
afeta o cerne das raízes. No colo das
plantas e no solo ao redor, há desenvolvimento de micélio branco e de
escleródios branco-amarelados, semelhantes a sementes (Fig. 30).
Frutas do Brasil, 38
Fig. 30. Podridão por Sclerotium.
Controle - as mudas devem ser selecionadas e tratadas com fungicida, devese executar o arranquio da maior parte
das raízes, a desinfecção do solo e a
aplicação de Trichoderma. Devem-se evitar práticas que causem ferimentos e
Fig.31. Podridão por Corticium.
Frutas do Brasil, 38
Podridão por Rhizoctonia
(Rhizoctonia solani)
e Fusarium sp.
Características da doença - os patógenos são fungos do solo, com larga faixa
de hospedeiros, e com estruturas de sobrevivência. Sua ocorrência está associada a solos de campo.
Os fatores que favorecem a doença
são a ocorrência de danos nas raízes,
restos de cultura e plantas com pouco
vigor.
Sintomas - podridões marrom-claras, mais ou menos secas, localizadas no
colo e raízes principais e nas raízes finas.
No caso de Rhizoctonia ocorre desenvolvimento de micélio marrom e cotonoso
na superfície das raízes.
Controle - as mudas devem ser
sadias e tratadas com fungicida, efetuar
arranquio das raízes e desinfecção do
solo e utilizar um manejo do pomar que
evite ferimentos e aumente o vigor das
plantas e adubação mais calagem do solo
na cova.
Doença do replantio
(Etiologia complexa)
Características da doença - o problema ocorre quando as macieiras são
plantadas em solo previamente plantado com viveiro ou com pomar, e é
causado por um conjunto de fatores que
podem ocorrer em associação ou não.
Nos fatores etiológicos têm sido citados
nematoides, fungos diversos, entre os
quais destacam-se os do gênero Pythium,
problemas nutricionais e toxinas.
As plantas afetadas sofrem redução
de crescimento, tornando-se suscetíveis
a outras moléstias, que atrasa a entrada
em produção do pomar. A doença pode
ocorrer mesmo que o pomar anterior
tenha sido cultivado com outra espécie
de fruteira de clima temperado.
Sintomas – de um modo geral, as
plantas afetadas apresentam redução do
sistema radicular, diminuição drástica
de raízes finas e crescimento reduzido da
parte aérea (Fig. 32). Nas plantas mais
afetadas pode ocorrer o amarelecimento
ou avermelhamento precoce das folhas.
A intensidade dos sintomas depende do
local, os quais são mais severo nos portaenxertos de menor vigor.
Fotos: Rosa M. V. Sanhueza.
Controle - deve ser efetuado o arranquio da planta doente, com a retirada de
todas as raízes, a desinfecção do solo e a
aplicação de Trichoderma evitar danos à
região do colo e das raízes das plantas e
também o deslocamento de solo de plantas doentes para as vizinhas; manejar
cuidadosamente para aumentar o vigor
das plantas, proceder à adubação e à
calagem do solo na cova e utilizar mudas
sadias.
53
Maçã Fitossanidade
A
B
Fig. 32. Macieiras com (A) e sem (B) a doençado-replantio.
Controle - recomenda-se fazer diagnóstico laboratorial da severidade potencial da doença no solo a ser replantado, para definir melhor as práticas de
manejo do solo a serem adotadas. Solos
que tiveram pomares ou viveiros devem
ser adubados e corrigidos, e neles devem
ser cultivadas gramíneas pelo menos
durante um ano. No solo da cova de
replantio deve ser utilizado fosfato mono
amônico (MAP), na dose de 200 g/m 3,
Maçã Fitossanidade
incorporando-o logo abaixo da raiz da
muda por ocasião do plantio. De preferência, nos locais onde há alto potencial
de ocorrência severa dessa doença,
devem ser utilizados porta-enxertos vigorosos e com sistema radicular avantajado.
PRINCIPAIS DOENÇAS
QUARENTENÁRIAS PARA O
BRASIL
Cancro-europeu-daspomáceas (Nectria galligena)
O cancro-europeu é também conhecido como cancro-das-macieiras ou
cancro-por-Nectria, causado pelo fungo
Nectria galligena que tem como forma imperfeita Cylindrocarpon heteronema e é uma
doença quarentenária para o Brasil.
Frutas do Brasil, 38
lesões dos ramos (Fig. 33). Essa fase do
fungo (Cylindrocarpon heteronema) é disseminada pelo vento e pode ocorrer durante
todo o período de desenvolvimento da
cultura, na presença de temperaturas
amenas e de umidade. O fungo ocorre
em toda a região produtora de pomáceas
do Chile e, ocasionalmente, no Uruguai
e na Argentina. No Canadá e nos Estados Unidos da América, está presente
em diversos estados. É bastante agressivo no noroeste dos Estados Unidos e
no norte da Califórnia. Diversos países
europeus produtores de pomáceas
constataram a presença de N. galligena.
As maiores perdas ocorrem na ‘Red
Delicious’ e outras cultivares. Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e
Japão também apresentam esta doença.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
54
Características da doença
A fase perfeita apresenta peritécios,
estruturas esféricas de cor avermelhada e tamanho semelhante ao do ovo
do
ácaro-vermelho-das-macieiras
(Panonychus ulmi). Essas estruturas desenvolvem-se durante o período de repouso
das plantas, em grupos ou espalhados na
superfície dos cancros velhos e, às vezes,
nos cancros novos.
A partir da primavera, os ascósporos podem ser ejetados e disseminados
pelo ar, ou acumulados no ápice do
peritécio, formando uma massa gelatinosa que dispersa os esporos, quando
atingida por respingos de água.
Esse fungo manifesta-se também
sob a forma assexuada ou imperfeita,
que produz aglomerados de esporos,
que podem apresentar cor branca, creme, amarela ou rosa-clara, formados, de
preferência, sob condições de chuva ou
de alta umidade relativa, no centro das
Fig. 33. Sintoma do cancro-europeu em
ramo com esporulação.
O patógeno desenvolvido nos ramos infetados pode sobreviver na forma de micélio, no verão, e de peritécios,
no outono. Períodos úmidos estimulam a formação de esporos assexuados
nos cancros, que causarão a infecção
Frutas do Brasil, 38
nas feridas de queda de folhas e, às vezes,
de frutos de cultivares tardias.
O período de suscetibilidade dos
ferimentos produzidos pela queda das
folhas é variável, podendo oscilar entre
1 hora a 28 dias após a queda. No entanto, os primeiros 4 dias são o período
mais suscetível. Períodos prolongados
de queda de folhas, na presença de chuva,
geralmente predispõem à maior incidência de infecção, que será visível no
próximo ciclo. Outro período de suscetibilidade pode ocorrer na primavera,
se, nas cicatrizes da queda das flores,
ocorrerem rachaduras por onde pode se
iniciar a infecção. Condições de 6 horas de
molhamento e temperaturas de 14°C a
15,5ºC são necessárias para iniciar a infecção. O período de incubação em ramos
novos pode ser de poucos dias no outono
ou na primavera, ou de semanas, durante
o inverno. A seguir, a penetração no córtex
ocorre lentamente; na primavera, o fungo
invade até a madeira.
Seu desenvolvimento será somente
detido em períodos de aumento de temperatura, durante os quais a planta pode
produzir um círculo elevado de tecido
sadio ao redor da lesão.
Vários fatores podem favorecer o
desenvolvimento dessa doença. Entre
eles incluem-se as práticas de manejo
que causem crescimento excessivo das
plantas e as condições que originem
estresse na cultura.
A doença causa destruição de mudas
de um ano, de ramos novos e de centros
de frutificação, diminuindo a produtividade das plantas.
Em pomares severamente afetados
e com cultivares suscetíveis, as plantas
devem ser podadas para eliminar os
ramos afetados. Essa prática pode levar
à modificação de sua estrutura e, finalmente, à morte das plantas.
Nectria galligena pode infectar macieiras, pereiras européias e asiáticas e
marmeleiro. A suscetibilidade varietal
é variável, dependendo do local onde é
feita a avaliação. Nos Estados Unidos,
Maçã Fitossanidade
macieiras ‘Delicious’ e suas mutantes,
‘Prima’ e ‘Priscilla’, são muito suscetíveis. As cultivares Jonathan, Gala e Fuji
são intermediárias e ‘Golden Delicious’
é menos afetada. Em Portugal, porém,
‘Gala’, ‘Fuji’ e ‘Priscilla’ são muito suscetíveis, ‘Golden Delicious’ é intermediária e ‘Jonathan’ menos suscetível.
Pereiras ‘d´Anjou’, ‘Old Home’ e
‘Beurre Bosc’ são muito suscetíveis,
enquanto ‘Barttlet’ e ‘Winter Nelis’ são
mais resistentes.
Na Europa, plantas ornamentais bem
como árvores do mato nativo são hospedeiras desse patógeno, fato que contribui
para a perpetuação do patógeno.
Sintomas
A infecção inicia-se, geralmente,
pela contaminação dos ferimentos da
queda das folhas, da base das gemas, nas
feridas causadas pela poda no início do
outono, ou em qualquer outro tipo de
lesão das plantas.
Os sintomas são evidentes somente
na primavera e consistem de manchas
com margens definidas, de tonalidade
avermelhada a marrom-escuro, que se
encontram ao redor das cicatrizes
foliares, nos ramos novos, ou nos centros de frutificação, estrangulando, às
vezes, os ramos afetados (Fig. 33 e 34).
À medida que a lesão se desenvolve, forma-se um cancro constituído
por áreas concêntricas, alternadas por
tecidos sadios e doentes ao redor de um
setor central mais deprimido. Esses cancros podem afetar ramos de um ou mais
anos e o tronco das plantas. A casca,
nessas lesões, rompe-se e, nas margens,
pode ser observada a epiderme solta
como papel. Na presença de umidade,
os frutos podem ser contaminados pelo
fungo em pré-colheita ou após caírem
no chão, desenvolvendo uma podridão
firme, de cor marrom-escura, geralmente iniciada pela infecção das lenticelas, cálice ou ferimentos.
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Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Maçã Fitossanidade
Fig. 34. Infecção inicial de ramo pelo cancro-europeu.
Controle
O controle dessa doença é fundamentado principalmente na poda dos
ramos afetados, na proteção dos cortes
de poda e no uso de tratamentos
fungicidas. A poda e a queima dos ramos
doentes devem ser feitos no verão, para
diminuir a população do patógeno no
pomar, quando se iniciar a queda das
folhas. Os ramos infectados devem ser
removidos do pomar e destruídos, para
evitar que deles se originem novas infecções. Calda bordalesa 10:10:100, outras
formas de cobre, ziram, captan ou
benzimidazóis, devem ser aplicados nas
doses recomendadas para cada produto,
durante a queda das folhas, e no estádio
B, no início da brotação.
Fogo-bacteriano-daspomáceas (Erwinia amylovora)
Características da doença
O fogo bacteriano (Fire blight) causado pela bactéria Erwinia amylovora é uma
Frutas do Brasil, 38
das doenças mais destrutivas da macieira e pereira em muitos países produtores e constitui uma das maiores ameaças
para esse setor produtivo no Brasil.
Nos Estados Unidos da América a
primeira constatação foi em 1780, no
Estado de Nova York. Até 1993 tinha
sido constatada em toda a América do
Norte, na América Central, em vários
países da Europa, na Ásia, na África e até
mesmo na Nova Zelândia. Entretanto,
não se tem registro da presença dessa
bactéria na Austrália, na África e na
América do Sul.
A bactéria sobrevive no inverno,
em países temperados, nos cancros desenvolvidos no ciclo anterior e em pequenas lesões nos ramos, invisíveis a
olho nu. Na primavera, a bactéria penetra nos tecidos pelos ferimentos ou
estômatos e multiplica-se entre as células. Após surgirem nos tecidos os
exsudatos bacterianos, a disseminação
do patógeno, no pomar e regiões vizinhas, ocorre com o auxílio de respingos
de chuva, insetos, pássaros, ferramentas, trânsito de maquinários e do homem .
O fogo bacteriano possui uma fase
residente em todos os tecidos, durante a
qual não induz sintomas na planta, colonizando-a na forma epífita ou endófita.
Dessa forma, qualquer tecido das plantas cultivadas em pomares ou viveiros
infestados pode carregar o patógeno,
mesmo em baixa concentração e sem
apresentar sintomas.
As condições ótimas para infecção são temperaturas de 15ºC a 18ºC,
umidade relativa superior a 90% durante a primavera, principalmente no período fenológico de flores abertas e na
presença de lesões causadas pelo vento
ou por granizo. Essas condições, normalmente, ocorrem nas regiões produtoras de pomáceas no sul do Brasil.
Porta-enxertos e copas de macieiras de importância econômica são suscetíveis à doença. As cultivares mais
plantadas no Brasil, ‘Gala’, ‘Fuji’ e
‘Golden Delicious’, são consideradas de
suscetibilidade média a alta e os portaenxertos mais plantados na atualidade,
EM 9 e EM 26, são classificados como
altamente suscetíveis. A infecção dos
rebrotes desses no pomar pode matar a
planta, mesmo quando a copa for resistente. Na atualidade, pomares estabelecidos no Brasil utilizam os porta-enxertos MM 106, M 7 e M 111, de resistência
média à infecção.
Sintomas
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
A colonização bacteriana causa
a murcha, o escurecimento e a morte
das flores, frutinhos, folhas e ramos
(Fig. 35). A queima de brotos novos
inicia-se pela infecção dos ápices de crescimento, o que causa murcha e escurecimento da área afetada. Esses ramos apresentam a ponta curvada, na
forma de gancho (Fig. 36). Com umidade relativa alta, todos os tecidos afetados
produzem exsudações, ou cirros, contendo a bactéria. Ramos secundários e o
tronco também podem ser afetados.
Nas plantas com porta-enxertos suscetíveis, após a infecção dos seus brotos, a
doença torna-se sistêmica, matando a
planta.
Fig. 35. Cancro causado pelo fogobacteriano.
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Maçã Fitossanidade
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Frutas do Brasil, 38
Fig. 36. Infecção de terminais florais pelo fogo-bacteriano.
Os frutos podem ser infectados em
todos os estádios de desenvolvimento e,
quando pequenos, após a infecção, desidratam, escurecem e ficam aderidos à
planta. Frutos infectados na fase de
maturação apresentam podridão nos
tecidos próximos às sementes; sobre as
lesões ocorre abundante exsudação
bacteriana.
Controle
Como muitas outras doenças causadas por bactérias, o fogo-bacteriano é
de difícil controle e tem causado a
extinção de áreas produtoras de peras e
maçãs em várias regiões do mundo.
As práticas de controle recomendadas
incluem: a) retirada e queima dos ramos
afetados; b) desinfecção das ferramentas
com hipoclorito de sódio a 1% ou álcool
etílico a 70%; c) uso de variedades resistentes, quando possível; d) utilização de
cobre no início da brotação e aplicação
de estreptomicina ou de oxitetraciclina
durante a floração.
A otimização das aplicações de
antibióticos consegue-se com o uso do
sistema de alerta Maryblyt, desenvolvido pelo pesquisador P. W. Steiner, da
Universidade de Maryland, USA. Entretanto, o controle químico vem apresentando limitações, pelo rápido
surgimento de estirpes resistentes do
patógeno aos bactericidas utilizados.
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Maçã Fitossanidade
Recomendações para
prevenir a entrada
do patógeno no Brasil
Pelos riscos de perdas que a introdução dessa doença pode acarretar para
a produção brasileira de pomáceas e
visando evitar danos futuros para o produtor, são sugeridas algumas medidas
preventivas:
• Impedir a introdução de mudas,
porta-enxertos ou estacas de culturas
hospedeiras da bactéria de regiões onde
a doença ocorre.
• Favorecer a importação de mudas
de países onde a doença não ocorre ou
encontra-se restrita a locais distantes
dos viveiros (Ex.: África do Sul, Portugal, Austrália, América do Sul).
• Proibir a importação de frutos,
sementes ou pólen de pomares
infectados. Nesse caso, os frutos de pomares sem sintomas, provenientes de
regiões onde a doença ocorre, deverão
ser desinfetados antes da embalagem.
• Estabelecer um programa de treinamento para extensionistas e técnicos
que atuam no setor, para viabilizar o
diagnóstico precoce da doença, e um
sistema de informação permanente entre as organizações de produtores e os
serviços oficiais envolvidos com a introdução de material vegetal no Brasil.
• Avaliar o sistema de alerta
Maryblyt em todas as regiões produtoras de pomáceas no sul do Brasil.
PODRIDÕES DE MAÇÃS
FRIGORIFICADAS
A maioria parte do refugo nos
galpões de embalagens é causada pelas
podridões de frutos armazenados atingindo perdas de 35% e variando de 0,5%
a 3% do total de perdas de maçãs, quando
utilizadas todas as recomendações de
manejo.
Frutas do Brasil, 38
A gravidade das perdas dependem,
fundamentalmente, das condições de
manejo dos frutos e da presença dos
patógenos e seu contato com a fruta. Os
fatores mais importantes desse manejo
que podem aumentar a incidência de
podridões são os seguintes: maturação
de colheita avançado, danos na fruta,
condições de alta pluviosidade no período de pré-colheita e contaminação nos
galpões de seleção de frutas A diminuição da contaminação é obtida com o uso
de desinfectantes como o hipoclorito de
sódio (0,01%), ou com o digluconato de
clorhexidina (0,02%).
Outra alternativa disponível para a
desinfestação de frutas é o controle físico de P. expansum com luz ultravioleta de
baixo comprimento de onda (UV-C/
254 nm).
A higienização e a desinfecção
de bins e sacolas é uma medida adicional à de controle da contaminação do
ambiente.
A proteção química dos frutos é
feita com fungicidas utilizados em pré e
pós-colheita (Benzimidazoles mais protetores e iprodione (0,075%) ou
tiabendazole (0,06%), respectivamente).
O monitoramento da ocorrência de estirpes dos patógenos resistentes aos
fungicidas utilizados constitui prática
necessária e permanente para detectar
falhas no controle químico dessas doenças.
Tipos de podridões
As podridões que ocorrem em
pós-colheita podem ter sido iniciadas
no campo ou a infecção das frutas podem ocorrer no período da colheita e da
pós-colheita. As primeiras são originadas no campo e incluem as doenças já
referidas no grupo de doenças da parte
aérea. As segundas serão descritas a
seguir.
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Sintomas – podridão-aquosa, mole,
deprimida, profunda, com margens internas e externas bem definidas. A área
de penetração do fungo apresenta-se
como uma mancha aquosa e translúcida,
adquirindo tons bege-claro, tanto na
epiderme como na polpa. Em condições
de alta umidade, desenvolvem-se sobre a
área afetada pequenas massas brancas e
azuis, constituídas de micélio e esporos
do fungo. A podridão é de desenvolvimento rápido, e os tecidos afetados podem ser destacados facilmente das frutas
(Fig. 37).
Fig. 37. Podridão por P. expansum (mofoazul).
Podridão por Alternaria ou
podridão-marrom (Alternaria
alternata e Alternaria sp.)
Sintomas - podridão mais ou menos
seca, circular, firme, levemente deprimida e geralmente profunda. Na
epiderme, apresenta cor marrom-escura e, em condições de alta umidade,
verifica-se o crescimento de micélio
verde-acinzentado na superfície. Internamente, a podridão, no início, é marrom, e mais tarde, na área central, observam-se áreas pretas e cinzentas, levemente desidratadas e firmes. As margens
entre tecido sadio e doente são bem
definidas (Fig. 38). Esse fungo é também
associado ao desenvolvimento da podridão-carpelar-das-maçãs.
Fig. 38. Podridão por Alternaria.
Podridão por Botrytis
ou mofo-cinzento
(Botrytis cinerea)
Sintomas – podridão firme, relativamente seca, irregular, não deprimida
e geralmente profunda. Na epiderme e
na polpa, apresenta cor bege, inicialmente clara, que escurece em lesões
mais antigas (Fig. 39). Na epiderme desenvolve-se micélio abundante, acinzentado, com setores de aspecto pulverulento, onde se encontram os esporos do
fungo. Algumas estirpes podem desenvolver estruturas escuras (esclerócios)
na superfície das frutas .
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Podridão por Penicillium ou
mofo-azul (Penicillium
expansum Link)
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Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
Frutas do Brasil, 38
Fig. 39. Podridão por Botrytis (mofo cinzento).
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Podridão por Rhizopus
(Rhizopus nigricans)
Sintomas e sinais - provoca lesões
bege-claras, úmidas, moles, translúcidas,
de margens irregulares. A polpa tornase aquosa, e as margens da área são
afetadas, bem definidas. Na superfície
da área afetada, desenvolve-se micélio
branco-cinzento, com os conidióforos
visíveis (Fig. 40).
Foto: Rosa M. V. Sanhueza.
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Fig. 40. Podridão por Rhizopus.
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