Artigo Original Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe Relationship between the clinical (TNM) and histopathological (pTNM) staging with survival in advanced squamous cell carcinoma of the mouth and oropharynx Resumo Introdução: A criação do sistema TNM, na década de 1940, trouxe uma padronização para o diagnóstico e tratamento do câncer, mas, ao longo do tempo, foi alvo de críticas por não ser um sistema capaz de predizer prognóstico com a precisão esperada. Objetivo: Avaliar o estadiamento clínico (TNM) e patológico (pTNM) como prognóstico de sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. Método: Estudo retrospectivo de 33 prontuários de pacientes com carcinoma espinocelular de boca e orofaringe admitidos em um hospital público de Mogi das Cruzes/SP, sendo selecionados os casos de tratamento com finalidade curativa, não submetidos a tratamento oncológico prévio, não submetidos à cirurgia prévia ou com estádios clínicos III e IV. Resultados: 75,8% dos pacientes eram do gênero masculino, com média de idade de 58,8 anos e prevalência de brancos (70%), 81,8% eram tabagistas e 63,6% etilistas. Foram analisadas as variáveis: T, N, M, pT, pN e pM, as associações das mesmas e sobrevida, somente a presença de metástase à distância teve significância estatística. Além das variáveis diretas do TNM, a análise de infiltração perineural, muscular, linfática, vascular e gênero também não tiveram significância estatística. Conclusão: O sistema TNM não conseguiu predizer prognóstico para pacientes com tumores avançados. Luiz Gustavo Ferraz 1 Emerson Fávero 2 Sérgio Altino Franzi 3 Abrão Rapoport 4 Otávio Alberto Curioni 5 Summary Introduction: The TNM system after 1940 provided the standardization for the treatment and diagnosis of cancer, but criticized because it was not able to predict the prognosis patients. Objective: To evaluate clinical and pathological staging (TNM and pTNM, respectively), such as the survival prognosis in advanced mouth and oropharynx squamous cell carcinoma. Method: A retrospective study was elaborated based on 33 medical charts from patients with mouth and oropharynx squamous cell carcinoma admitted in a public hospital of Mogi das Cruzes, São Paulo. The selected cases corresponded to treatments with a healing purpose, and which had not been submitted to previous oncologic treatment, surgery or with clinical staging III and IV. Results: 75.8% of the patients were men, with a median age of 58.8 years, preponderance of Caucasian patients (70%), and 81.8% made use of tobacco and 63.6 % of alcohol. Among all the analyzed variables (T, N, M, pT, pN, pM, histological factors and gender), their associations and the survival rates, only the distant metastasis presented statistical significance. Conclusion: the TNM classification could not predict prognosis in this study. Keywords: Mouth Neoplasms; Oropharyngeal Neoplasms; Neoplasm Staging; Carcinoma, Squamous Cell; Survival Rate. Palavras-chave: Neoplasias Bucais; Neoplasias Orofaríngeas; Estadiamento de Neoplasias; Carcinoma de Células Escamosas; Taxa de Sobrevida. 1) Mestre em Ciências da Saúde pelo Curso de Pós-Graduação do Hospital Heliópolis, São Paulo/SP. 2) Mestre em Ciências da Saúde pelo Curso de Pós-Graduação do Hospital Heliópolis, São Paulo/SP. 3) Doutor em Medicina pelo Curso de Pós-Graduação em Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do Curso de Pós-Graduação do Hospital Heliópolis, São Paulo. 4) Docente Livre pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Coordenador do Curso de Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis HOSPHEL, São Paulo/SP, Brasil. 5) Doutor em Medicina pelo Curso de Pós-graduação em Otorrino e CCP Universidade Federal de São Paulo. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Heliópolis, HOSPHEL, São Paulo/SP, Brasil. Instituição: Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do Hospital Heliópolis HOSPHEL. São Paulo / SP - Brasil. Correspondência: Rua Cônego Xavier, 276 - 10º andar - 04231-030 - São Paulo / SP - Brasil - E-mail: [email protected] Recebido em 05/03/2010; aceito para publicação em 07/03/2010; publicado online em 30/03/2010. Confilto de interesse: não há. Fonte de fomento: não há 48 ���������������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. Introdução As numerosas proposições de classificação clínica do câncer existentes na literatura e a discordância dos que as utilizavam levaram ao meio científico a necessidade de criação de um sistema que trouxesse uniformidade na avaliação da doença. Esse sistema padronizado foi à pedra fundamental do estadiamento do câncer nos últimos 40 anos. Originalmente descrito por Denoix e Schwartz, em 1948, o sistema TNM foi incorporado como um sistema de classificação formal em 1953, pela União Internacional Contra o Câncer (UICC - Union Internacional Contre le Cancer) e pelo Congresso Internacional de Radiologia. A sua elaboração, à época, considerou cinco propósitos: ajudar médicos a definirem um tratamento, fornecer indicações de prognóstico, facilitar as avaliações dos resultados terapêuticos, permitir o intercâmbio de informações entre os centros de tratamento e contribuir para a pesquisa contínua em câncer1. Nos Estados Unidos, o sistema TNM foi adotado em 1959 e em 1988, a AJCC (American Joint Committee on Cancer) chegou para a unificação das duas classificações. O sistema de estadiamento clínico TNM vem sendo criticado há muito por tratar-se de um método que considera o tamanho do tumor e a extensão de sua disseminação anatômica, mas não considera a biologia clínica do câncer, tanto em sua forma estrutural quanto em sua função fisiológica, bem como não leva em consideração as comorbidades do paciente acometido1. Inúmeras modificações foram propostas ao longo do tempo, até que chegássemos à classificação atual, devido à necessidade permanente de estabelecer-se o melhor fator prognóstico e o melhor tratamento da doença. Por esta razão, outros fatores prognósticos passaram a ser pesquisados, assim como formas diversas de tratamento que pudessem levar a melhor resultado. O objetivo desse estudo é avaliar o estadiamento clínico (TNM) e patológico (pTNM), baseado na convenção da União Internacional contra o Câncer-UICC/2002, como prognóstico de sobrevida no carcinoma espinocelular avançado da boca e orofaringe. Método Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, sob o número 001950, em 8 de agosto de 2008. Foram avaliados retrospectivamente 33 prontuários de pacientes com diagnóstico histopatológico de carcinoma epidermoide avançado de cavidade oral e orofaringe (estádios clínicos III e IV) no período entre janeiro de 2005 e agosto de 2008, admitidos no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital de Clínicas Luzia de Pinho Melo-SPDM da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, em Mogi das Cruzes, para tratamento curativo. Ferraz et al. O estudo foi retrospectivo, baseado em prontuários médicos, onde avaliamos o exame propedêutico da cavidade oral, orofaringe e pescoço à admissão na rede ambulatorial. Dos prontuários analisados, inicialmente foi feita coleta dos respectivos dados, previamente registrados no atendimento inicial e classificados de acordo com o sistema TNM da UICC-AJCC/2002. Após, foi feita reavaliação com recorte dos blocos histológicos dos pacientes em questão, tendo sido analisados o sítio primário da lesão, estádio histopatológico (pTNM), a presença ou não de infiltração perineural, de invasão vascular e linfática. Todos os dados foram anotados em planilha específica. Foram critérios de elegibilidade: confirmação histopatológica de carcinoma epidermoide primário da cavidade oral ou orofaringe; prontuários médicos com dados clínicos completos pré-tratamento, obtidos através do Serviço de Arquivo Médico (SAME) – Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo; tratamento realizado com finalidade curativa; pacientes não submetidos a tratamento oncológico prévio; e pacientes com estádio clínico III ou IV. Em relação aos dados anatomopatológicos, foram avaliados: grau de diferenciação histológica dos tumores segundo a classificação de Broders (1941); tamanho do tumor (pT); embolização linfática; embolização vascular; infiltração perineural; invasão muscular; linfonodos metastáticos no esvaziamento cervical (pN); comprometimento de margens cirúrgicas; e presença de metástases à distância (pM). Os prontuários médicos nos quais os pesquisadores encontraram discordância sobre o exame clínico (estádios clínicos) foram levados para discussão preliminar entre os mesmos e aqueles em que não houve concordância, foram, então, submetidos a um terceiro pesquisador, também especialista pela SBCCP-AMB, determinando a correta avaliação deste estadiamento clínico. Foram recortados e realizadas novas análises das peças cirúrgicas de 33 pacientes selecionados, segundo os critérios de elegibilidade apresentados, por dois médicos patologistas. Dos blocos de parafina originais, novas secções histológicas foram obtidas e submetidas a protocolo de coloração pela hematoxilina e eosina. Foram estudados o tipo de tumor, sua dimensão, infiltração perineural e muscular, embolização vascular e linfática, além da presença de lesão em linfonodos cervicais. O comprometimento de margens também foi analisado e as mesmas consideradas positivas quando coincidentes com a lesão, exíguas quando estava a 2mm da lesão e negativas quando a mais de 2mm da lesão. Os resultados foram registrados em planilha específica, e a partir daí, foi refeito o estádio patológico de cada caso (pTNM) e classificação clínica em estádio III, IVA, IVB ou IVC. Foram realizadas análise descritiva unidimensional, análise descritiva multidimensional, associação e dependência de dados qualitativos e análise de sobrevivência. A análise será dividida em duas partes. A primeira, descritiva, traz uma visão geral dos pacientes e verifica a associação de variáveis considerando a situação do pa- Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 49 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. ciente performance status na data da última avaliação. Já a segunda parte, denominada análise de sobrevida, determina taxa e média de sobrevida dos pacientes e verifica a possível influência de algumas co-variáveis em suas curvas de sobrevivência. Como método estatístico, usamos o teste exato de Fischer, pelo número de casos, com a seguinte execução: 20< N<40; máximo de 20% das caselas com frequência esperada menor do que 5; e o nível de significância usado (alfa) foi de 5%, ou seja, alfa = 0,05 para todas as comparações. Resultados A análise descritiva mostrou que, entre os pacientes estudados, 75,8% eram do sexo masculino e 24,2% do gênero feminino. A idade, obtida no momento da primeira avaliação, variou entre 41 e 79 anos, com média de 58,8 anos. Não houve diferença significativa entre a média de idade, quando a análise se deu correlacionando a idade e o sexo, sendo a média de 58,2 para o sexo masculino e 60,8 para o sexo feminino. Houve prevalência de caucasianos na população, sendo estes 70% contra 30% de não caucasianos. A atividade profissional mais frequente foi de pedreiro, em 15% dos pacientes. A principal queixa apresentada foi à presença da lesão (36,4%), seguida de dor (30,3%), presença de tumor (18,2%), disfagia (12,1%) e alteração da fala (3%). No grupo estudado, 81,8% eram tabagistas e 63,6% eram etilistas; a associação do tabagismo com o etilismo esteve presente em 60,6% dos casos. A distribuição de frequência dos sítios do tumor primário se deu por: lábio (24,2%), base de língua (18,2%), palato duro (15,2%), soalho (12,1%), língua oral (9,1%), tonsila palatina (9,1%), palato mole (9,1%) e região jugal (3%). Com relação à abordagem do pescoço, em 30% dos casos não houve proposta de esvaziamento cervical, em 24,2% foi realizado esvaziamento radical unilateral; em 24,2% o esvaziamento supra-omo-hoideo unilateral; em 9,1% o esvaziamento supra-omo-hioideo bilateral; em 6,1% o esvaziamento radical bilateral e em 6,1% os esvaziamentos radical e supra-omo-hioideo associados. Quanto ao estadiamento clínico TNM, categoria T, obtivemos 90,9% de casos T3; 6,1% de casos T4 e 3,0% de casos T2. Para a categoria N, encontramos 78,8% de casos sem metástase cervical; 12,1% de casos N1, 3,0% de casos N2b; 3,0% de casos N2c e 3,0% de casos N3. Já na categoria M, 100% dos casos não tinham doença metastática à distância (Tabelas 1 e 2). Quando associamos as categorias T, N e M para a composição do estadiamento clínico, obtivemos os seguintes agrupamentos com ordem decrescente de frequência: T3NOMO (75,8%), T3N1M0 (9,1%), T2N2cM0 (3%), T3N2bM0 (3%), T3N3M0 (3%), T4N0M0 (3%) e T4N1M0 (3%), o que permitiram a organização do grupo em estádios III, IV A e IV B, com distribuição conforme a Tabela 3. Quanto ao estadiamento patológico pTNM, a categoria pT apresentou pT3 com maior frequência 63,6%, se50 Ferraz et al. Tabela 1. Distribuição de frequência da categoria T. Válidos Frequência % % Válida T2 1 3,0 3,0 3,0 T3 30 90,9 90,9 93,9 100,0 T4 2 6,1 6,1 Total 33 100,0 100,0 % Acumulada Tabela 2. Distribuição de frequência da categoria N. Válidos Frequência % % Válida % Acumulada 26 78,8 78,8 78,8 N0 N1 4 12,1 12,1 90,9 N2b 1 3,0 3,0 93,9 N2c 1 3,0 3,0 97,0 100,0 N3 1 3,0 3,0 Total 33 100,0 100,0 Tabela 3. Distribuição de frequência de estadiamento clínico. Válidos Frequência % % Válida Estádio III 28 84,8 84,8 84,8 Estádio IVA 4 12,1 12,1 97,0 100,0 Estádio IVB 1 3,0 3,0 Total 33 100,0 100,0 % Acumulada Tabela 4. Distribuição de frequência de categoria PT. Válidos pT1 Frequência % % Válida % Acumulada 6 18,2 18,2 18,2 pT2 3 9,1 9,1 27,3 pT3 21 63,6 63,6 90,9 pT4 3 9,1 9,1 100,0 Total 33 100,0 100,0 Tabela 5. Distribuição de frequência de categoria pN. Válidos Frequência % % Válida % Acumulada pN0 22 66,7 66,7 66,7 pN1 2 6,1 6,1 72,7 pN2b 6 18,2 18,2 90,9 pN2c 3 9,1 9,1 100,0 Total 33 100,0 100,0 guida de pT1 (18,2%), pT2 (9,1%) e pT4 (9,1%). Quanto à categoria pN, obtivemos 66,7% de casos pN0, 18,2% de casos pN2b, 9,1% de casos pN2c e 6,1% de casos pN1, conforme as Tabelas de 4 a 6. Quando associamos as categorias pT e pN para a composição do estadiamento patológico, obtivemos os seguintes agrupamentos em ordem decrescente de frequência: pT3pN2b (63,6%), pT1pN1 (18,2%), pT2pN2a (9,1%) e pT4pN2c (9,1%). Essas associações permitiram a organização do grupo em estádios patológicos II, III e IVA, conforme a distribuição mostrada na Tabela 7. ���������������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. Ferraz et al. Tabela 6. Distribuição de frequência de categorias pN em agrupamentos. Frequência % Sem metástase linfonodal Válidos 22 66,7 % Válida % Acumulada 66,7 66,7 com metástase linfonodal 11 33,3 33,3 100,0 Total 33 100,0 100,0 Tabela 7. Distribuição de frequência de estadiamento patológico. Válidos Frequência % % Válida Estádio II 1 3,0 3,0 % Acumulada 3,0 Estádio III 20 60,6 60,6 63,6 Estádio IVA 12 36,4 36,4 100,0 Total 33 100,0 100,0 Tabela 8. Distribuição das frequências de estadiamentos clínico e patológico em conjunto. Estádio III Estádio Estádio IVA IVB Total Estádio AP Estádio II Contagem % TNM clínico 1 3,6% 0 , 0% 0 , 0% 1 3,0% Estádio III Contagem % TNM clínico 20 71,4% 0 , 0% 0 , 0% 20 60,6% Estádio IVA Contagem % TNM clínico 7 25,0% 4 1 12 100,0% 100,0% 36,4% Total 28 100,0% 4 1 33 100,0% 100,0% 100,0% Contagem % TNM clínico A avaliação e dimensionamento do tumor e de suas metástases também foram objetos da pesquisa, com interesse na comparação entre o que foi mensurado para a composição do estadiamento clínico e o que foi encontrado na análise anatomopatológica. Para a categoria T, em 70% dos casos do estudo não houve diferença em relação à categoria pT; em 30% dos casos a categoria T foi diferente da categoria pT. Quanto à categoria N, em 63,6% dos casos não houve diferença em relação à categoria pN; em 36,4% essa diferença esteve presente. Os dados de agrupamento em estádios clínicos com os dados de agrupamento em estádios anatomopatológicos mostram a correlação entre a avaliação da doença elaborada antes e depois do tratamento (Tabela 8). A análise histológica mostrou que a invasão vascular esteve presente em 30,3% dos casos (Tabela 9), a invasão perineural em 48,5% dos casos (Tabela 10), a embolização linfática em 24,2% dos casos (Tabela 11) e a infiltração muscular em 84,8% dos casos (Tabela 12), tendo sido esta a característica mais predominante. As margens cirúrgicas de ressecção foram livres em 72,7% dos casos, comprometidas em 15,2% e exíguas em 12,1% dos casos. A recidiva local esteve presente em 9,1% dos pacientes até a data da última avaliação e a recidiva regional em 3,0% deles. A metástase à distância foi encontrada em 9,1% dos pacientes e, em 100% desses casos, o sítio acometido foi o pulmão. Ao final do período de avaliação do estudo, 72,7% dos pacientes encontravam-se vivos e sem registro da Tabela 9. Distribuição de frequência de invasão vascular. Válidos Frequência % % Válida Ausente 23 69,7 69,7 % Acumulada 69,7 Presente 10 30,3 30,3 100,0 Total 33 100,0 100,0 Tabela 10. Distribuição de frequência de infiltração perineural. Válidos Frequência % % Válida % Acumulada Ausente 17 51,5 51,5 51,5 Presente 16 48,5 48,5 100,0 Total 33 100,0 100,0 Tabela 11. Distribuição de frequência de invasão vascular linfática. Válidos Frequência % % Válida % Acumulada Ausente 25 75,8 75,8 75,8 Presente 8 24,2 24,2 100,0 Total 33 100,0 100,0 Tabela 12. Distribuição de frequência de infiltração muscular. Válidos Frequência % % Válida % Acumulada Ausente 5 15,2 15,2 15,2 Presente 28 84,8 84,8 100,0 Total 33 100,0 100,0 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 51 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. Ferraz et al. Gráfico 1. Curva de sobrevida segundo estimador de Kaplan-Meier. Gráfico 2. Curva de sobrevida segundo estimador de Kaplan-Meier. Comparação das categorias de T. Gráfico 3. Curva de sobrevida segundo estimador de Kaplan-Meier. Comparação das categorias de N. Gráfico 4. Curva de sobrevida segundo o estimador de Kaplan-Meier. Comparação dos agrupamentos em estádios clínicos. doença, 18,2% morreram em decorrência da doença, 6,1% morreram em decorrência de outra doença e 3,0% encontravam-se vivos e com doença em atividade. A observação dos pacientes variou de um a 41 meses, com média de 14; quanto ao óbito, este ocorreu com média de 15 meses e mediana de 10 meses. As variáveis apresentadas acima foram analisadas comparativamente ao óbito com o intuito de avaliar o papel isolado de cada uma na evolução dos casos. A seguir, mostramos a análise da comparação das variáveis em conjunto, para a composição dos sistemas de estadiamentos clínico e patológico e assim, a comparação destes com status clínico. Análise de sobrevida. Pelos Gráficos 1 e 2, podemos constatar as mesmas observações obtidas dos relacionados à sobrevida; isto ocorreu porque todos os pacientes que foram a óbito ou que foram censurados pertenciam à mesma categoria T, não refletindo, portanto, diferença sobre o panorama global. Com p= 0,653 não houve significância estatística para afirmarmos que a categoria T influenciou a sobrevida. As curvas de sobrevida do Gráfico 3 são de difícil análise, pois as categorias N1 da variável N contêm apenas um indivíduo cada uma. Com isso, não é possível obter dados apenas pela observação da curva. Podemos constatar que embora o maior número de óbitos tenha ocorrido na categoria N0 (4/24), eles representaram 16,7% da mesma; a categoria N1 teve um óbito (1/4) que representou 25% daquele grupo, já a categoria N2B teve um óbito (1/1) que representou 100% daquela amostra. Com p = 0,248 a categoria N também não teve significado estatístico para afirmarmos que influenciou a sobrevida, embora tenha havido diferenças no tempo médio e mediano desta sobrevida. Quanto à sobrevida pelo esta- 52 ���������������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. Ferraz et al. Gráfico 5. Curva de sobrevivência segundo estimador de KaplanMeier. Comparação das categorias de PT. Gráfico 6 – Curva de sobrevida segundo estimador de Kaplan-Meier. Comparação das categorias de pN. diamento clínico (Gráfico 4) III e IV A/B, percebemos que as curvas são similares no período de 30 meses. A mesma situação da categoria N ocorre quando analisamos a categoria pT (Gráfico 5). Com apenas um indivíduo (n) nas categorias 1 e 4 da variável pT, a interpretação fica bastante dificultada. Novamente, a existência de apenas um indivíduo nas categorias 3 e 4 dificultam a interpretação das curvas do Gráfico 6. controle local para o carcinoma espinocelular da orofaringe tratado com radioterapia, concluiu que a categoria T foi o fator mais importante para prever tal controle, tendo o volume do tumor um valor menos pronunciado. Todos os resultados obtidos nas séries descritas corroboraram os demais relatados na literatura, que como consenso, identificam a categoria T como um dos principais fatores prognósticos do câncer da boca e da orofaringe5. Não obstante, este estudo não foi capaz de reproduzir os mesmos índices, contrapondo-se aos resultados da literatura, já que a categoria T, com p=0,653, não teve impacto de significância estatística na sobrevida. A categoria pT quando comparada à sobrevida, nos nossos resultados, também não apresentou significância estatística, embora, em números absolutos, tenha mostrado os piores resultados nas categorias pT4 e pT3, respectivamente, aí seguindo a tendência da literatura. Com relação à doença metastática no pescoço, ao contrário da maior parte das referências encontradas, nossa série também não conseguiu reproduzir os mesmos resultados, não tendo tido a categoria N qualquer interferência na sobrevida. A comparação de dois sistemas de estadiamento clínico, o UICC1982 e o UICC1987/AJCC 1988 e a análise de fatores prognósticos, tiveram resultado semelhante ao do nosso estudo; mesmo reclassificando a categoria N de um sistema para o outro, não houve interferência da mesma na sobrevida, estando esta, em ambos os estudos, subordinada à categoria T, corroborando os dados encontrados nesta pesquisa2. O estudo de fatores prognósticos do câncer de tonsila constatou que entre os fatores pesquisados: idade, gênero, padrão de crescimento da lesão (endofítico ou exofítico), tipo de lesão (ulcerada ou não), categoria T, categoria N, modalidade de tratamento e dose de radioterapia; somente categoria N, o gênero e a dose da radioterapia foram às variáveis que não tiveram significância estatística3. Os resultados encontrados nas duas séries descritas acima, embora estejam em concordân- Discussão Em nosso estudo, a idade média da população foi de 58,8 anos, com distribuição de gênero de 75,8% de homens e 24,2% de mulheres; com relação ao estádio não foi possível estabelecer comparação, já que o propósito desse estudo foi à análise de pacientes com tumores avançados, portanto, com 100% dos casos em estádio III e IV. As distribuições de gênero e idade na população seguiram o mesmo padrão encontrado na literatura como demonstram outros estudos2-4. Nos nossos resultados, a avaliação do tamanho do tumor à apresentação estatisticamente não influenciou a sobrevida dos pacientes, embora, em números absolutos, das variáveis encontradas T2, T3 e T4, a que teve a maior mortalidade pela doença foi à variável dos pacientes classificados em T3, com 20% dos casos, enquanto que 100% dos pacientes classificados em T2 e T4 estavam vivos e sem doença ao final do período de observação. Na literatura, a comparação dos dois sistemas de estadiamento clínico, o UICC 1982 e o UICC 1987/AJCC 1988 e análise de fatores prognósticos, para o carcinoma espinocelular da região tonsilar, revelou na análise multivariada, uma influência dominante da categoria T, que promove maior intervalo livre de doença, em cinco anos, para pacientes classificados nas categorias T2 e T1 e pior para os classificados nas categorias T3 e T42. O estudo do impacto do volume do tumor primário no Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 53 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. cia com os resultados de nossa pesquisa, contrapõemse aos de outros autores que estabelecem o linfonodo metastático como fator prognóstico importante e de aspecto negativo. O valor prognóstico do linfonodo metastático e a sua relação com a sobrevida livre de doença no câncer de cabeça e pescoço, através da comparação do tratamento cirúrgico e com radioterapia adjuvante, quando indicada, de tumores com foco primário desconhecido (esvaziamento cervical) e tumores de cavidade oral, orofaringe e hipofaringe (sítio primário e pescoço), levando-se em consideração o fator N da classificação TNM para os tumores com foco primário desconhecido e T e N para os casos de lesão primária identificada. A sobrevida livre de doença foi semelhante nos dois grupos, mesmo submetidos à estratificação quanto ao parâmetro T, em relação àqueles com lesão primária conhecida6. Em concordância com a literatura, o comprometimento cervical, independente do tamanho do tumor, foi determinante para a evolução de pacientes com tumores da cabeça e pescoço, observação que não se mostrou diferente para os tumores metastáticos com foco primário desconhecido. Um viés nesse estudo foi a pequena quantidade de casos no grupo de tumores com foco primário desconhecido. A avaliação dos resultados de tratamento do carcinoma espinocelular de tonsila em estádio avançado, pela preservação de órgãos e por cirurgia do sítio primário, constataram que os únicos fatores determinantes para uma pior sobrevida global e sobrevida livre de doença foram à categoria T (T3 e T4) e a categoria N (N2c e N3), sendo que os resultados de ambos os tratamentos foram comparáveis. Esses relatos mostram que a categoria N não é como a categoria T, uma unanimidade quando considerada como fator prognóstico isoladamente, embora seu valor no estadiamento clínico seja inconteste. A avaliação da categoria pN também seguiu a mesma tendência da categoria N neste estudo e não influenciaram a sobrevida, contrariando resultados da literatura, estes também controversos7. Análise do valor prognóstico do linfonodo metastático e sua relação com a sobrevida livre de doença no câncer de cabeça e pescoço compararam o estádio patológico pN dos respectivos sítios primários avaliados no estudo: boca, orofaringe, hipofaringe com tumor primário desconhecido. Concluíram que a sobrevida livre de doença entre os tumores com sítio primário conhecido e os com sítio primário desconhecido não teve diferença estatística significante. Nesse estudo o estádio patológico pN6, assim como em nossa série, não influenciou a sobrevida. Ainda neste estudo, quando avaliamos o estádio clínico TNM na sua forma agrupada, relacionando-o com a sobrevida, os resultados não mostraram diferença estatisticamente significante entre as diferentes categorias associadas. Essa observação também não corroborou os dados da literatura, que mostram o estadiamento clínico como um entre os principais fatores determinantes da sobrevida, principalmente quando a associação desses fatores leva em consideração a categoria T, histori54 Ferraz et al. camente o ponto comprovadamente de maior impacto nesses índices. O estadiamento patológico pTNM também seguiu a mesma tendência do estadiamento clínico e não trouxe influência à sobrevida. O estudo que comparou os sistemas de estadiamento da UICC 1982 e UICC 1987/AJCC 1988 e a análise de fatores prognósticos para o carcinoma de região tonsilar, constataram que a categoria T foi o fator isolado de maior importância, sendo que pacientes com pescoço positivo não tiveram impacto na sobrevida livre de doença, assim como não encontraram significância estatística entre a associação das diferentes categorias N e a sobrevida livre de doença2. Não houve, naquele estudo, diferença na sobrevida entre os estádios de I a III e o estádio IV, quando o parâmetro foi à classificação UICC 1987/AJCC1988, ainda que nem todos os pacientes do estudo tenham sido reclassificados. Quando o parâmetro foi à classificação UICC 1982, os resultados foram os mesmos. O trabalho apontou dois fatos importantes, a impossibilidade de reclassificação de todos os pacientes e a subordinação da categoria N à categoria T no prognóstico. Nas duas classificações, a categoria T era muito semelhante e bastante dominante e, em ambas, a categoria N não teve valor prognóstico claro, mostrando que o novo sistema criado ainda não era o ideal. No nosso estudo, os resultados, exceto pela categoria T, foram bastante semelhantes, embora não tenhamos podido relacioná-los com o domínio de uma categoria especificamente, apesar da grande distribuição de casos e óbitos na categoria T3 e não tenhamos tido estádios I e II nas nossas estatísticas. O estudo do estádio dos tumores à apresentação em carcinoma de cabeça e pescoço observou que o sistema TNM ainda era o mais acurado indicador prognóstico. A avaliação de pacientes com tumores de diferentes sítios primários baseados na classificação UICC 1997, considerando estádios I e II como precoces e III e IV como avançados. Do total da amostra, cerca de 61% foi estádio III ou IV e cerca de 39% estádio I ou II. Para todos esses sítios, a média de duração dos sintomas foi de 6,1 meses no grupo com doença precoce e de 4,6 meses no grupo de doença avançada, sem uma diferença estatisticamente significante. Não se conseguiu estabelecer relação entre estádio ao diagnóstico e duração dos sintomas, mostrando que doença avançada não significa necessariamente demora para o diagnóstico8. O sistema TNM, quando relacionado com o tempo de evolução da doença, pode ser um parâmetro importante para avaliar o comportamento biológico, agressivo ou não, de um tumor. Contudo, as lacunas deixadas pelo sistema TNM de classificação dos tumores e sua dificuldade em fazer um adequado prognóstico, fizeram com que muitas críticas a ele fossem levantadas ao longo do tempo e outros fatores prognósticos fossem pesquisados. Em análises multivariadas, ambos os fatores mantiveram suas significâncias9. A análise de possíveis fatores prognósticos isolados que pudessem ter influenciado a sobrevida neste estudo, além dos fatores morfológicos contemplados na ���������������������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. classificação do sistema TNM, incluiu a avaliação dos parâmetros histopatológicos do tumor. Entre a infiltração perineural, muscular, linfática e vascular, nenhuma das variáveis apresentou influência significativa na sobrevida, muito embora a infiltração vascular tenha apresentado tendência de significância (p = 0,054), fato que talvez pudesse ser corroborado em uma análise com número maior de casos. Assim como os fatores histopatológicos, o gênero também não influenciou a sobrevida, corroborando o achado da literatura em uma série3 e contrapondo em outra9. Fatores prognósticos relacionados ao tratamento e outros ao tumor e ao paciente não foram testados. Quando analisamos a eficiência do sistema TNM para predizer prognóstico em nosso estudo, vimos que ele não desempenhou esse papel com sucesso; nem mesmo a categoria T exerceu seu papel clássico de influência. Embora a distribuição dos casos tenha se dado com muito maior quantidade no estádio III (28), nos estádios IVA e IVB, o número de óbitos foi proporcional em relação ao do grupo de estádio III. A única categoria que teve papel marcante na sobrevida foi a M, que quando positiva, já está inserida no mais avançado estádio IV C. Considerando que as estimativas baseadas somente no TNM foram relativamente imprecisas nesse estudo, seja por tratar-se de análise com reduzido número de casos, seja por período de observação curto, parece sensato pensarmos que o prognóstico de cada um não pode ser dado somente por um sistema baseado exclusivamente nos aspectos morfológicos da doença, e que tem dificuldade em prever prognóstico individualmente. Um sistema clínico de classificação precisa incorporar variáveis do paciente; a extensão anatômica do câncer é apenas um dos fatores para a decisão sobre o tratamento, a avaliação científica sobre o prognóstico e sobre esse tratamento podem ficar incompletas devido à rígida aderência a um sistema baseado somente na avaliação anatômica10,11,12. Em contrapartida às novas propostas, o TNM foi sendo modificado através dos anos, tentando atender às necessidades de um melhor sistema de estadiamento, principalmente no que se refere aos desmembramentos dos agrupamentos e à criação de mais subdivisões de categorias. Com isso, tornou-se mais extenso e mais complexo, dificultando em parte sua aplicabilidade clínica, um de seus principais trunfos sempre. A análise do estadiamento e do prognóstico no câncer de cabeça e pescoço, mostrou que o acréscimo de prefixos ao sistema, para designar tumor recidivado, residual, estádio patológico, clínico, além do fator de certeza (c-fator) e os prefixos L para invasão linfática e V para invasão vascular, permitiu que o TNM trouxesse informações mais detalhadas sobre a doença, e o consideraram, ainda assim, um método de fácil utilização13. Outra modificação foi à análise do sistema TNM como terapeuticamente não mandatário na abordagem do câncer, propôs um novo algoritmo para definição de tratamento denominado METS14. Esse algoritmo baseia-se no critério molecular para avaliação de sensibilidade ou resistência a drogas, na presença de Ferraz et al. doença em sítio diferente do primário para avaliação de necessidade de terapia sistêmica, em características do tumor primário como tamanho e grau de diferenciação para avaliação de necessidade de ablação local e nos sintomas apresentados, para proposição de melhor tempo e intensidade de tratamento. Trata-se de um modelo de abordagem que tenta aliar a base anatômica do TNM a fatores do paciente e, principalmente, moleculares do tumor. Aliás, marcadores moleculares estes que se tornaram o advento mais desafiador no tratamento do câncer, já que podem orientar o melhor benefício terapêutico do tratamento com drogas específicas. Obviamente uma grande mudança em um tão consagrado sistema gerará enorme discussão e a aplicabilidade de outro método qualquer terá de ser testada clinicamente ao esgotamento. Independentemente do sistema adotado, novos conceitos talvez precisem ser considerados para que se estabeleça um novo padrão de abordagem. O conceito de cura, a subjetividade de sobrevida, o avanço dos recursos diagnósticos, o mito da presença de metástase à distância e a desproporcionalidade do conceito de perspectiva precisam ser relativizados14. Os resultados obtidos no diversos trabalhos da literatura, por vezes se contrapõem em alguns pontos específicos, embora todos eles, de forma global, tragam um consenso sobre a necessidade de considerarmos novos fatores para elaboração de prognóstico no câncer de cabeça e pescoço. Apesar disso, nenhum destes novos sistemas foi capaz de ocupar o espaço do sistema TNM, seja pela dificuldade de colocá-los na prática clínica diária, seja pela rígida aderência da comunidade médica e científica a esse sistema. A crença essencial na morfologia, provável herança do pensamento vigente no século 20, também chamado de “século dos cirurgiões”, talvez seja a principal razão para o fato. Com a evolução, houve a abertura do campo, mais profissionais e uma visão mais ampla passaram a povoar o território da oncologia, com a apreciação de fatores não morfológicos, variáveis clínicas e principalmente da biologia molecular. Se no século XX, a cirurgia ficou marcada por seu grande desenvolvimento e pela maior contribuição ao avanço da medicina, talvez possamos constatar que o real avanço ainda está por vir, neste século XXI, a partir das pesquisas com a biologia molecular. Conclusões O sistema TNM não conseguiu predizer prognóstico nesse estudo, não sendo capaz de individualizar a avaliação para pacientes com tumores avançados. Referências 1. Piccirillo JF, Feinstein AR. Clinical symptoms and comorbidity: significance for the prognostic classification of cancer. Cancer. 1996;77(5):834-42. 2. Mak-Kregar S, Hilgers FJ, Baris G, Schouwenburg PF, Hart GA. Carcinoma of the tonsillar region: comparison of two staging systems and Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.39, nº 1, p. 48-56, janeiro / fevereiro / março 2010 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 55 Relação do estadiamento clínico (TNM) e histopatológico (pTNM) com a sobrevida no carcinoma espinocelular avançado de boca e orofaringe. analysis of prognostic factors. Laryngoscope. 1990;100(6):634-8. 3. al-Abdulwahed S, Kudryk W, al-Rajhi N, Hanson J, Jenkins H, Gaedke H, Jha N. Carcinoma of the tonsil: prognostic factors. J Otolaryngol. 1997;26(5):296-9. 4. 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