Biogeociclos: Uma visão molecular das enzimas e dos mecanismos envolvidos nos ciclos dos elementos - Parte III CARLA CARNEIRO* E JOSÉ J . G MOURA ' Parte III: Biogeociclo do Hidrogénio e do Carbono Título corrente: Biogeociclos dos elementos dência as partes dos ciclos para os lares de organismos: nos metanogéni- quais existe um conhecimento detalha- cos (Methanobacterium, Methanococ- do da estrutura tridimensional do bioca- cus e Methanosarcina sp.), pois o H2 é talisador envolvido. Mais ainda, são essencial à sua sobrevivência; em orga- apresentadas hipóteses mecanísticas nismos que se podem adaptar e utilizar Palavras chave: Ciclos dos elementos, que resultam, muitas delas, da análise o H, como única fonte de energia (R. Azoto, Enxofre, Hidrogénio, Carbono estrutural. Os avanços da biologia mole- europha, B. japonicum, R. capsulatus); cular e das técnicas de análise estrutu- em organismos fixadores de azoto (Rhri- ral permitem, que neste momento, haja zobium, Anabaena, Azotobacter e Fran- Nota prévia disponível um conjunto de informação kia sp.) ou ainda, dadas as interelações, Este a rt igo é a parte Ill de uma série de que permite uma análise detalhada das entre o metabolismo do H 2 e outros pro- artigos publicados neste Boletim que relações estrutura e função dos biocata- cessos bioquímicos e fisiológicos. Para pretendem dar uma visão molecular es- lisadores que controlam as transforma- os fixadores de azoto, o H2 é tanto um trutural e mecanísticas das enzimas en- ções occorentes nos ciclos. produto obrigatório, como um potencial volvidas nos principais ciclos dos ele- O a rt igo é dividido em 3 pa rt es: inibidor da redução do N 2 pela nitroge- 1 — Biogeociclo do AZOTO aumentar a eficiência da fixação do N2 ... a circulação dos elementos químicos 2 — Biogeociclo do ENXOFRE (hipótese de reciclagem do H 2 ). Compa- no planeta é um processo complexo 3 — Biogeociclo do HIDROGÉNIO e do mentos. nase; assim, as hidrogenases podem Relembrando que foi dito anteriormente com muitas e variadas ve rt entes. Os vá- rativamente com os procariotas existem CARBONO rios ciclos elementares são muito mais tante para algumas ordens, tais como: do que simples reacções químicas. São em parte biológicos e em parte geoquí- 3. Ciclo do Hidrogénio micos, pois envolvem a participação de 3.1. Introdução microrganismos e estão associados a grupos de elementos metálicos. Uma variedade de enzimas e múltiplos transportadores electrónicos (que com estas interactuam) asseguram a catálise, passo a passo, por formação de intermediários chave. poucos estudos em eucariotas apesar do facto da produção de H2 ser impor- Vários aspectos do metabolismo do hi- protozoários anaeróbios, algas verdes unicelulares e alguns fungos anaeróbios (Robson, 2001). 3.2. Hidrogenases drogénio têm sido estudados, com algum detalhe, em cerca de sessenta São conhecidas pelo menos 13 classes espécies, na sua maioria organismos de hidrogenases. Todas, à excepção de procariotas com uma gama de funções uma estão directa ou indirectamente alargada que inclui: aeróbios e anaeró- envolvidas no metabolismo energético e bios, autotrófos e heterotrófos, fotossin- podem ser classificadas com base na téticos, metanogénicos, redutores do sua função fisiológica em consumidoras aspectos estruturais das enzimas envol- sulfato, fixadores de azoto, organismos ou produtoras de H2. As consumidoras, vidas nos ciclos dos elementos. Os ci- fermentativos, hipertermófilos, protozoá- catalisam a oxidação do H 2 acoplada a clos não são apresentados de modo rios, parasitas e fungos anaeróbios. O reacções de conservação de energia (fo- exaustivo, mas procura-se pôr em evi- estudo tem incidido em classes particu- tossíntese, respiração, formação de É objectivo desta série de a rt igos rever 1 REQUIMTE, Depa rtamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, 2829-516 Monte de Caparica, Po rt ugal Morada: Professor José J. G. Moura, Depa rtamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Quinta da Torre, 2829516 Monte de Caparica, Portugal. Tel: +351-21-2948382, Fax: +351-21-2948550, e-mail: [email protected], web www.dq.fct.unl.pt/bioin/ Morada presente: Depa rtamento de Sistemas e Informática, Escola Superior de Tecnologia, Instituto Politécnico de Setúbal, Rua Vale de Chaves, EstefaniIha, 2910-761 Setúbal. 48 QuÌMICA A temente, não necessitam desta enzima Glucose (Robson, 2001). As hidrogenases catalisam a activação reversível do hidrogénio molecular, de r transportadores electrónicos (oxd) acordo com a seguinte equação: H2 H2r=>2H'+2e transportadores electrónicos (red) ATP H' Todas, com excepção de duas famílias, são metaloenzimas contendo, centros de Fe-S e/ou centros de NiFe (com propriedades de coordenação não usuais) ou grupos hémicos. Algumas contêm Piruvato também grupos prostéticos não metálicos, FAD e FMN. Todas as metalo CoA drogenases contêm Fe e/ou Ni e podem transportadores electrónicos (oxd) C O, hi- J H2 ser divididas em duas classes: as que contêm apenas ferro (FeH) e as que transportadores electrónicos (red) contêm níquel e ferro (NiFeH). As pri- H+ meiras são bidireccionais e as segundas efectuam essencialmente a oxidação do H 2 (Lemon e Peters, 2001; Robson, 2001; Moura et al., 1998; Pereira, Acetil-CoA 2001; Carepo, 2002). Os organismos contendo estes dois H2 B 2H' 2e- Metanogénese Acetogénese Desnitrificação Redução do azoto Fotossíntese Redução do sulfato Redução do enxofre Redução do fumarato tipos de hidrogenases geralmente coexistem em nichos anaeróbios, impedindo a acumulação de H2. A relação simbiótica existente entre um organismo autotrófico, um produtor de H2 e de CO e um hospedeiro que utilize o H2 e o CO para produção de adenosina trifosfato (ATP) e metano, constitui a base de evo- figura 1. (A) Função fisiológica das hidrogenases produtoras de hidrogénio no catabolismo da glucose a acetil-CoA. (B) Papel das hidrogenases consumidoras de hidrogénio como fonte de equivalentes redutores noutros processos metabólicos (Adaptado de Lemon e Peters, 2001). lução dos eucariotas (Frey et al., 2001; Lemon e Peters, 2001). A principal função das hidrogenases em bactérias anaeróbias é a regeneração da NAD(P)H, redução do azoto ou do sul- transporte electrónico, fotossintética e fato, metanogénese); as produtoras de respiratória (Frey et al., 2001; Lemon e H2, catalisam a redução de H' acoplada Peters, 2001; Robson, 2001). à eliminação de excesso de poder redutor através da re-oxidação de nucleotídeos de piridina reduzidos e transporta- Em alguns organismos o papel das hi- forma oxidada dos transportadores electrónicos gerada em caminhos catabólicos. O H2 produzido neste ciclo pode ser utilizado como fonte de energia noutros drogenases é ainda mais relevante pelo processos metabólicos em que o H2 facto destes possuirem mais do que serve como fonte de electrões, em pro- dores electrónicos (figura 1). No uma hidrogenase: em E. coli e M. voltae entanto, duas outras funções foram atri- são conhecidas quatro, em D. vulgaris e buídas, nos últimos anos, às hidrogena- R. eutropha três. Muitos sistemas ses: uma família parece funcionar como podem ser expressos simultaneamente, sensor de um complexo genético que mas noutros, as enzimas são expressas controla a expressão de outras hidroge- diferencialmente dependendo das con- nases e a outra, as hidrogenases bidi- dições de crescirnento. Outros organis- sulfato e nitrato e as hidrogenases reccionais, que podem servir como tam- mos possuem apenas uma hidrogenase estão normalmente associadas a trans- porizadores redo X da cadeia de (A. vinelandii) e muitos outros, aparen- portadores electrónicos de membrana. cessos redutivos tais como a fixação do azoto molecular. Quando o H2 é utilizado na produção de ATP, esta está acoplada à redução de pequenas moléculas, tais como o dióxido de carbono, QUÍMICA 49 3.2.1. Hidrogenases contendo ferro (FeH) As FeH são encontradas exclusivamente em organismos anaeróbios estritos, razão pela qual, são rápida e irreversivelmente inibidas pelo oxigénio (Albracht, 2001). Estão também presentes em D. vulgaris, um redutor do sulfato, e no organismo sacarolítico C. pasteuria- num nos quais, a enzima actua tanto no consumo como na produção de H2. Apesar de estruturalmente relacionadas, as FeH, apresentam diferenças quanto ao número de centros de Fe-S e podem, genericamente, ser divididas em dois grupos: um caracterizado por um conteúdo de aproximadamente 14 átomos de Fe/mole de enzima e o segundo, representado pelas hidrogenases com 20 átomos de Fe/mole. São, em geral, heterodímeros a(3, enzimas penplasmáticas (D. desulfuricans, D. vulga- ris) ou citoplasmáticas (C. pasteurianum). C. pasteurianum possui duas figura 2. Representação esquemática da FeH de C. pasteurianum. Os co-factores estão representados por modelos "stick and ball" (Adaptado de Lemon e Peters, 2001). hidrogenases, Cpl e Cpll, distintas pela sua preferência na redução do protão A FeH de C. pasteurianum (Cpl) (figura protónicos (Lemon e Peters, 2001). ou oxidação do H2. 2), uma enzima monomérica de 60 kDa, Para a FeH dimérica de D. desulfuri- Foram obtidas as estruturas de Raios-X para duas FeH, a de C. pasteurianum (Peters et at., 1998) e a de D. desulfuri- está organizada em quatro domínios: cans, a subunidade maior inclui o sítio um designado activo e três acessórios. activo e o domínio tipo Fd, enquanto O domínio activo, o maior (correspon- que a mais pequena está enrolada á cans (Nicolet etal., 1999). As FeH de C. dente a dois terços da proteína global) pasteurianum e de D. desulfuricans coordena o sítio activo, um centro bime- possuem em comum um domínio, que tálico com dois átomos de ferro, o agre- contém o sítio activo e três centros de gado H, e os domínios acessórios alber- [4Fe-4S], mas diferem no facto da pri- gam os restantes centros de Fe-S, meira ser citoplasmática e constítuida possivelmente envolvidos no transpo rt e bunidade menor, necessário para a por uma única cadeia polipeptídica e a electrónico de/para o sítio activo. Dois translocação da proteína para o espaço segunda ser periplasmática e composta resíduos adjacentes, uma cisteína e periplasmático (Fontecilla-Camps et al., por duas subunidades. uma lisina, funcionam como doadores 2001). volta da molécula e é semelhante ao Cterminal da Cpl. A diferença na estrutura quaternária deve-se à existência de um peptídeo sinal, no N-terminal da su- figura 3. 0 agregado H de C. pasterianum (A) e de D. desulfuricans (B) (Adaptado de Lemon e Peters, 2001). 5O I QUÍMICA figura 4 Disposição espacial e possível percurso electrónico entre o agregado H e os centros de Fe-S mais próximos da superfície na FeH de C. pasteurianum (Adaptado de Lemon e Peters, 2001) No domínio activo, o agregado H está lo- cluem a ligação em ponte, por uma cis- atribuídos com base na semelhança es- calizado na base de uma abertura for- teína (Cis382), entre os sub-agregados, trutural de dois deles, com ferredoxinas mada por dois lóbulos essencialmente 2Fe e 4Fe. No sub-agregado 2Fe, os conhecidas. O N-terminal contém o equivalentes, consistindo cada um átomos de ferro estão ligados por dois centro de [2Fe-2S1 e é composto por deles em quatro folhas enxofres em ponte mas pertencem a apenas duas folhas 13 perpendiculares e R torcidas, ro- deadas por hélices a. As quatro cisteí- uma molécula de 1,3-propanoditiol; um uma única hélice a; os ligandos, quatro nas, que funcionam como ligandos, oxigénio, coordenado assimetricamente cisteínas, pe rt encem ao "loop" que liga estão localizadas nos "loops" que ligam a um dos ferros pode eventualmente uma das folhas as folhas (3 individuais. O agregado H (fi- funcionar como o ligando em ponte (em proximal do N-terminal contém um cen- gura 3A) pode ser considerado como substituição do ligando CO em ponte). A tro de [4Fe-4S] (FS4C), coordenado por sendo formado por um sub-agregado de diferença mais significativa entre as três cisteínas e uma histidina (His94) [2Fe-2S] (2Fe) ligado a um sub-agrega- duas estruturas prende-se com a posi- envolvida na modelação do potencial do de [4Fe-4S1 (4Fe) por uma cisteína ção de coordenação vaga no átomo de deste centro, de modo a facilitar a trans- em ponte (Cis503). No sub-agregado de ferro distal do agregado H. Para Cpl o ferência electrónica de/para o agregado 2Fe, os átomos de ferro estão coordena- ferro está coordenado por uma molécu- H e parceiros electrónicos. O domínio dos por dois ligandos diatómicos, não la de água, duas moléculas diatómicas e anterior, está ligado ao domínio catalíti- R à hélice a. O domínio proteícos (uma molécula de CO e outra três ligandos em ponte. Em D. desulfu- co por um domínio que contém os ou- de CN) e estão ligados em ponte por ricans existe uma posição de coordena- tros dois centros de [4Fe-4S], FS4B e dois enxofres e uma molécula adicional ção vaga, no que se propõe ser o estado FS4A, coordenados exclusivamente por de CO. Esta molécula diatómica serve reduzido da FeH, pelo que a estrutura cisteínas. O arranjo espacial dos centros para afinar as propriedades electrónicas obtida para Cpl representa a forma oxi- sugere a existência de um percurso do ferro na activação do H 2 , o mesmo dada. A verificar-se o proposto, as dife- electrónico entre estes e o agregado H. acontecendo nas NiFeH. O ferro distal renças observadas podem ser atribuí- Existem, contudo, dois caminhos alter- do subagregado 2Fe, está ainda ligado a das às diferentes condições de nativos, que ligam o agregado H a doa- uma molécula de água que desempe- cristalização (os cristais de D. desulfuri- dores/aceitadores externos: através dos nha uma função catalítica (Lemon e Pe- cans foram preparados na presença de centros FS2 ou FS4C, via FS4A e FS4B ters, 2001). ditionito e hidrogénio como agentes re- (figura 4) (Lemon e Peters, 2001). O agregado H de D. desulfuricans (figura 3B) apresenta características co- dutores) (Fontecilla-Camps etal., 2001; Lemon e Peters, 2001). Um possível mecanismo para a oxidação do H2 pode envolver a libertação da muns com o descrito anteriormente Os três domínios que contêm os agrega- molécula de água ligada ao ferro distal para Cpl mas, existem diferenças im- dos adicionais de Fe-S, três centros de do centro 2Fe e concomitante ligação portantes a registar. As semelhanças in- [4Fe-4S1 e um centro [2Fe-2S1, foram do H2 formando hidreto. Os electrões do QUÍMICA figura 5. Representação esquemática da NiFeH de D. gigas. Os cofactores estão representados por modelos "stick and ball" (Adaptado de Frey et al., 2001). de oxi- H2 seriam então transferidos a partir do pelo substrato (o H 2 ) na ausência centro 2Fe para o centro 4Fe e, daqui, génio (Albracht, 2001; Robson, 2001). através dos agregados adicionais, para o aceitador final. A Cis299 e a Lis358 funcionariam como doadores de protões. O mecanismo de produção do H2 é menos claro. Apesar de reconhecida a importância do ligando permutável do ferro distal na catálise, a protonação envol- Aparentemente, as NiFeH e as FeH, não Com quatro estruturas disponíveis, D. cia de aminoácidos, no entanto, o sítio gigas (Volbeda et al., 1995), D. vulgaris activo parece ser semelhante. As hidro- (Higuchi etal., 1997), D. fructosovorans genases, sensora de H2 e bifuncional, (Montet et al., 1997), D. desulfuricans são também NiFeH (Robson, 2001). (Matias et al., 2001) e Dm. Baculatum, As NiFeH são heterodímeros que parti- dada a pa rt icipação de dois ácidos de lham duas subunidades em comum: a Lewis (Lemon e Peters, 2001). maior (a) que contém o sítio activo, um e ferro (NiFeH) 2001). são relacionadas em termos da sequên- vendo uma espécie metal-hidreto é rara, 3.2.2. Hidrogenases contendo níquel R. capsulatus, A. vinelandii, W. succinogenes) (Frey et al., 2001; Robson, centro binuclear de Ni-Fe, e a mais pequena (13) que geralmente contém três uma NiFe(Se)H (Garcin et al., 1999), a estrutura de D. gigas, a primeira a ser determinada, é considerada o protótipo destas enzimas (Fontecilla-Camps et al., 2001). centros de Fe-S, dois centros de [4Fe- A estrutura de Raios-X da NiFeH de D. As NiFeH são um grupo mais diverso, 4S] e um centro de [3Fe-4S]. Apesar da gigas (figura 5) revela um heterodímero, do que as FeH, e estão presentes em or- variabilidade no que diz respeito à com- de forma globular, extremamente com- ganismos anaeróbios e aeróbios, tais posição das subunidades, a subunidade pacto em resultado de inúmeras inte- como redutores de sulfato, chemohete- de Ni é conservada. São enzimas peri- racções entre a subunidade maior e a rotróficos, chemolitotróficos, metanogé- plasmáticas (género Desulfovibrio) ou menor. A subunidade maior coordena, nicos e fototróficos. Apesar da inactiva- podem estar em interacção com a face para além do sítio activo, o centro binu- cão pelo oxigénio, a maioria destas exterior da membrana citoplasmática clear de Ni-Fe, um ião magnésio (Mg 2 1 enzimas pode ser activada por redução, (em B. japonicum, E. coli, R. eutropha, no C-terminal (ou um ferro como em A B figura 6. Estruturas do sítio activo de diferentesNiFe A) hidrogenase de D. gigas no estado nativo B) hidrogenase de D. vulgaris M estado nativo C) hidrogenase NiFeSe de Dm baculatus reduzida D) hidrogenase de D. vulgartis M reduzida. A verde está representado o Ni, a vermelho o Fe, a amarelo o S. O C a cinzento, a azul o N e a lilás o O. (coordenadas retiradas do PDB). c o 51 52 I QUÍMICA Ni -A Ni -B H'.c Fite' rip do ka no né Ni -SU Levi& n opid• — Ni SI, dois distantes, numa geometria pirâmi- O mapa de densidade electrónica da es- de quadrangular muito distorcida, en- trutura refinada a 2,54 quanto que o átomo de ferro possui seis a existência de densidade electrónica, ligandos numa geometria octaédrica na posição em ponte entre os dois me- distorcida. Três dos ligandos do ferro tais, revelando um outro ligando em são moléculas diatómicas, dois CN (en- ponte entre o Ni e o Fe. A natureza volvidos em ligações por pontes de hi- deste ligando em ponte tem sido sujeita - activaçAo redutiva 11 2 Ni-L n^ ur° 1I' é yo. + H Ni-C) H',f ree;klu ^ M,,d (Ni -R) A mostrou ainda drogénio com a proteína) e um CO a debate, tendo no entanto sido propos- (completamente rodeado por resíduos to tratar-se de uma espécie oxigenada, hidrofóbicos). Um ligando g-oxo (deriva- baseado em estudos anteriores de EPR do do 0 2 ), em ponte entre os metais de 17 0 e ENDOR que revelaram a exis- completa a esfera de coordenação. O tência de alargamento de linha dos si- ião magnésio, no C-terminal, possui nais de Ni nos estados inactivos do en- uma coordenação octaédrica. Os ligan- zima (Ni-NB). dos, são três moléculas de água, um figura 7. Intermediários estáveis e respectivas interconversões na NiFeH de D. gigas A estrutura tridimensional da NiFe de D. glutamato (G1u46), um grupo carbonilo vulgaris M foi obtida com uma resolução (Adaptado de Frey et al., 2001). da cadeia principal e uma histidina de 1,8 (His536) (Frey etal., 2001). centro activo é muito semelhante ao ob- Dm. baculatus). Na subunidade menor, A estrutura de Raios-X da hidrogenase servado para a hidrogenase de D.Gigas. A de D. Gigas foi obtida inicialmente com As diferenças observadas são relativas os três centros de Fe-S, a cerca de 12 A e o sistema de coordenação do de distância e num arranjo quase linear, uma resolução de 2,85 A, e revelou que aos ligandos diatómicas do Fe, quenes- formam um corredor interno que permi- o centro activo da enzima era um centro ta altura foram identificadas como um te a transferência de electrões, entre o heterodinuclear de Ni e outro metal. A SO, uníco e um CN . Também o ligando sítio activo e um transportador específi- natureza do segundo metal no sítio acti- em ponte é, neste caso, proparo tratar- co, um citocromo b ou c. Uma cisteína vo, só ficou clara após resolução da es- (Cis533) em ponte no sítio activo, ligan- trutura a 2,54 do apical do níquel, pode estar envolvi- banda-0 de 57 Fe , tendo este sido identi- da na catálise (Frey et al., 2001; Rob- A e de estudos de ENDOR ficado como um Fe (figura 6A). - -se de um enxofre inorgânico. A coordenação dos ligandos no Fe é octaédrica, ligeiramente distorcida, enquanto que os ligandos do Ni assumem um sistema penta coordenado de pirâmide qua- son, 2001). A subunidade maior está organizada em três camadas dispostas de modo paralelo, relativamente à interface das subunidades, e compreende cinco domínios (Frey et al., 2001). No sítio activo, o Ni é coordenado por drangular (figura 2.3.B). Em D. gigas a quatro tiolatos provenientes de 4 cisteí- forma oxidada (que corresponde à nas, duas terminais (Cis 65 e Cis530) e forma inactiva da enzima) é denomina- duas em ponte com o Fe (Cis68 e da estado Ni-A, enquanto que em D. Cis533). O Fe para além dos dois tiola- vulgaris corresponde ao estado Ni-B. tos em ponte com o Ni é coordenado Permanece, no entanto, por esclarecer A da su- por três moléculas diatómicas. Estudos se esta diferença se deve á diferente na- perfície, está ligado à enzima por quatro combinados de estrutura de Raios-X e tureza do ligando em ponte (um oxigé- cisteínas. Duas, ligam em ponte os dois espectroscopia de FTIR identificaram nio ou um enxofre respectivamente), ou metais e as outras duas ligam apenas o estes ligandos como dois CN e um CO se reflecte uma alteração no estado fun- níquel. Na forma oxidada, o átomo de revelando assim a natureza organome- cional. A conversão do estado Ni-A (não níquel possui três ligandos próximos e tálica deste centro. reactivo) numa forma reactiva (figura 7) O sítio activo (figura 6), a 30 - figura 8. (A) Percurso electrónico do sítio activo ao aceitador externo e (B) transferência protónica entre o Ni e o Mg na NiFeH de D. gigas (Adaptado de Frey et al., 2001). QUÍMICA figura 9 Representação esquemática da CODH de O. carboxidovorans. Os co factores estão representados por modelos "stick and ball" (Adaptado de Dobbek et a1., 2001 a). envolve uma conversão rápida a Ni-SU O percurso entre o sítio activo e a su- das à transferência de protões, e podem seguida de uma conversão lenta, for- perfície, envolvendo electrões, protões e de ce rt o modo, justificar a existência do mando-se Ni-SI. A activação completa, H2, é efectuado por caminhos específi- centro de magnésio, perto da superfície. por redução, gera o estado Ni-C. Os re- cos, facilitado pelo arranjo espacial dos Este facto pode conferir uma função sultados experimentais são consistentes três centros. O centro proximal pode di- adicional, para além da função estrutu- e reflectem diferenças conformacionais rectamente permutar electrões com o ral óbvia, e um possível envolvimento no significativas entre os estados Ni-A, Ni- sítio activo, enquanto que, o distal me- processo proteolítico do C-terminal da B, Ni-SI e Ni-C; a inactivação, na pre- deia através da histidina, as permutas subunidade maior imaturada (Fontecilla sença de oxigénio, é também explicada electrónicas com um parceiro electróni- etal., 2001; Frey etal., 2001). por oxidação e conversão ao estado Ni- co, um citocromo multihémico provavel- A (Fontecilla-Camps etal., 2001; Frey et mente (figura 8A). A participação do al., 2001). centro [3Fe-45] é ainda pouco clara na medida em que, o potencial que apre- Na subunidade menor podem ser defi- senta, é muito mais elevado do que os nidos dois domínios: o primeiro, o N-ter- centros redox envolvidos na activação minal que coordena o centro [4Fe-4S] dst do H2. Existem também vários canais (perto da superfície), consiste em cinco protónicos que ligam o sitio activo à su- folhas Uma rede de canais hidrofóbicos, que liga o sítio activo à superfície, funciona na permuta do H2, facilitando a sua rápida difusão de/para o sítio activo. A função de cada um dos canais foi testada utilizando xenon e contrariamente ao que acontece com as moléculas de H2, o Xe, não é difundido para o sítio activo; paralelas rodeadas por várias perfície, incluem a cisteina, grupos car- hélices a, com uma topologia típica das boxilato (de glutamatos conservados) e o H2, difunde sempre pelos canais hi- flavodoxinas. O segundo, o C-terminal, moléculas de água interiores. Um cami- drofóbicos e nunca ao acaso. Assim, que liga os centros de [3Fe-4S1 e de nho possível para os protões (figura 8), estes canais hidrofóbicos, desempe- [4Fe-4S1 pro , (perto do sítio activo), é dentro da subunidade maior, começa nham um papel funcional de extrema menos organizado e mais variável em na cisteína (Cis530) ligada ao centro de impo rt ância na transferência e armaze- termos da composição em centros de Ni-Fe (que é substituida por Se nas Ni- namento do gás na molécula, e um Fe-S e na sequência de aminoácidos. A FeSeH), que estabelece ligações por papel instrumental no metabolismo do distribuição espacial destes centros, es- pontes de hidrogénio com um resíduo gás (Fontecilla et al., 2001; Frey et al., sencialmente ao longo de uma linha conservado (G1u18 em D. gigas). Este 2001). recta, revela que o centro de [3Fe-4S1 carboxilato está ligado a uma molécula está localizado a meia distância dos dois de água do magnésio, pe rt o da superfí- R centros de [4Fe-45]. Nos centros de cie, por uma serie de ligações por pon- [3Fe-4S] e o de [4Fe-4S] pr0 „ cada ferro, tes de hidrogénio envolvendo quatro num arranjo aproximadamente tetraé- moléculas de água estruturais, o C-ter- drico, está ligado a três enxofres inorgânicos e a uma cisteína. O centro de [4Fe-4S] ds , possui uma coordenação invulgar, pelo facto de estar coordenado por três cisteínas e a uma histidina ex- minal da cadeia principal e uma molécula de água adicional e um outro resíduo conservado (G1u46 em D. gigas) (Fontecilla-Camps et al., 2001; Frey et al., 2001). Na tentativa de esclarecer o mecanismo de catálise têm sido efectuados diversos estudos envolvendo compostos modelo, que revelam compatibilidade entre estruturas semelhantes, para o sítio activo, com cargas globais muito diversas. A estrutura de Raios-X para a forma reduzida apresenta duas possibilidades de ligação do substrato: envolvendo o ligando em ponte ou a posição de coor- posta ao solvente (Fontecilla-Camps et As ligações moléculas de água-metal denação vaga no níquel; ambas pode- al., 2001; Frey etal., 2001). parecem ser específicas e bem adapta- riam ligar o H2 ou o hidreto (formado na 53 54 I QUÍMICA pa rt ir do substrato, via molibdénio, para aceitadores externos como seja o citocromo b561 (Dobbek etal., 2001 a). As estruturas de Raios-X, existentes para Ohgotropha (O.) carboxidovorans (figura 9) e Hidrogenophaga (H.) pseu- doflava, apresentam uma topologia global e um arranjo das subunidades semelhantes. São dímeros, em forma de borboleta, resultado da disposição de topo entre as duas molibdoproteínas e figura 10. Representação esquemática da CODH de O. carboxidovorans. Os co-factores estão representados por modelos "stick and ball" (Adaptado de Dobbek et al., 2001 a). figura 11. Representação esquemática da subunidade L da CODH de O. carboxidouorans (Adaptado de Dobbek et al., 2001 a). cuja inte rface é essencialmente hidrofóbica (Dobbek etal., 2001 a). A subunidade L (figura 10), em forma de coração, pode ser subdividida em clivagem heterolítica do H 2 ). Contudo a as Mo-[2Fe-2S]-FAD CODH, de bacté- dois domínios. O N-terminal, exclusiva- posição apical livre, no níquel é o local rias aeróbias e as Ni-[4Fe-4S1 CODH, de mente em folha mais acessível e, como tal, mais prová- bactérias anaeróbias. Algumas Ni- pode ser adicionalmente subdividido vel à ligação do H2, facto consistente CODH, enzimas bifuncionais, formam em duas partes. A primeira parte é com- com a pequena distância existente entre um complexo com a sintetase da acetil posta por duas zonas, em hélice a, se- os dois metais. Deste modo, o mecanis- CoA (ACS/Ni-CODH) (Dobbek et al., guidas de folha mo de catálise não é ainda consensual, 2001 b). maioria das interacções existentes no dada a ince rt eza relativamente ao estado de oxidação do níquel ou do grau de protonação e oxidação das suas cisteínas, e só nova investigação permitirá o seu esclarecimento (Frey etal., 2001). As CODH catalisam a reacção de oxidação do CO de acordo com a seguinte reacção: CO + H 2 0 —>CO 2 + 2H+ + 2e4.2.1. Desidrogenases do monóxido 4. Ciclo do carbono 4.1. Introdução 0 monóxido de carbono (CO), um gás atmosférico, contribui para a eliminação de radicais hidroxilo na atmosfera; apenas um quinto é utilizado por microrga- de carbono contendo molibdénio (MoCODH) As Mo-CODH para além de catalisarem a oxidação do CO apresentam também actividade de desidrogenase do hidrogénio molecular (Dobbek etal., 2001 a). [3, e o C-terminal que 13 e é responsável pela dímero, e a segunda pa rt e, que consiste em três folhas f3 antiparalelas, rodeadas por seis hélices a. O co-factor MCD está ligado entre os dois domínios por inúmeras ligações por pontes de hidrogénio. O enrolamento global desta subunidade é muito semelhante à correspondente na Mop, exceptuando no canal de acesso do substrato que é mais estreito (Dobbeck etal., 2001 a). A subunidade M (figura 11) liga a molécula de FAD e pode ser subdividida em três domínios. O N-terminal, responsá- nismos do solo contribuindo, desta A Mo-CODH é uma enzima membranar, vel pela ligação da molécula de FAD, é forma, para restabelecer o equilíbrio que gera uma força proto motriz, via ci- composto por três folhas j3 paralelas, ro- deste elemento. O CO é absorvido ape- tocromo b561 , para uma cadeia respira- deadas por duas hélices a e apresenta nas nas camadas superficiais em condi- tória insensível ao CO. É composta por um motivo com duas glicinas. O domí- ções aeróbias e tem um tempo de vida dois heterotrímeros com uma massa nio central, com uma topologia mista, cu rt o no solo (Dobbek et al., 2001 a). molecular de 273 kDa. Cada heterotrí- em hélice a/folha mero é constituído por três subunidades nucleotídeo da molécula de FAD. O C- diferentes: a subunidade L, que contém terminal, contém quatro folhas 13 antipa- a molibdopterina (do tipo MCD), a su- ralelas, que terminam num feixe de três 4.2. Desidrogenases do monóxido de carbono [3, rodeia a porção di- A capacidade de oxidar o CO é uma ca- bunidade M, a flavoproteína, com uma hélices a, e está ligado ao domínio cen- racterística metabólica de vários grupos molécula de FAD ligada de um modo tral por um "loop" flexível que interactua de Bacteria e Archaea. O CO é utilizado não covalente, e a subunidade S, que apenas com o anel isoaloxazina da mo- como substrato no crescimento de uma contém dois centros de [2Fe-2S1, com lécula de FAD, que é o co-factor mais variedade de bactérias, incluindo as massas de 88,7, 30,2 e 17,8 kDa, res- exposto ao solvente (a porção dinucleo- bactérias redutoras de sulfato (BRS). A pectivamente. O sítio activo é único, um tídeo está acessível a pa rt ir do solvente). desidrogenase do monóxido de carbono agregado [MoSCui, em que o molibdé- No entanto, o arranjo das subunidades (CODH) é a enzima chave na utilização nio da MCD está coordenado ao cobre L, M e S permite o acesso ao anel isoa- de CO, como fonte de carbono no cres- por uma cisteína em ponte. Os centros loxazina apenas, por um dos lados da cimento de bactérias carboxidotróficas. de Fe-S e a molécula de FAD estão en- subunidade M, pe rt o da região de inter- Podem-se definir dois tipos de CODH: volvidos na transferência electrónica, a face (Dobbek et al., 2001 a). QUÍMICA A subunidade S (figura 12), muito se- do ligando em ponte para o molibdénio, melhante à Mop nas estruturas primá- reduzindo-o. A regeneração da forma rias e terciária, está localizada entre as fechada do agregado [MoSCu], conduz subunidades L e M e pode ser dividida à libe rt ação do CO 2 e à reoxidação do em dois domínios, cada um contendo molibdénio (por reposição do ligando hi- um centro de [2Fe-2S]. O N-terminal, droxo por uma molécula de água) num semelhante ao encontrado nas ferredo- processo conce rt ado, cuja força motriz xinas de plantas contendo centros de é a estabilidade do produto formado. Os [2Fe-2S], é composto por uma hélice centros de Fe-S facilitam a reoxidação perpendicular e cinco "13 barrel" parciais do molibdénio por transferência electró- e contém o centro de [2Fe-2S] d , s1 (distal nica, pois o co-factor MCD está adja- relativamente à MCD) ou centro de cente ao centro de [2Fe-2S] 5 , 0, Daqui, ferro-enxofre do tipo II. Está localizado são transferidos para a molécula de na inte rf ace das subunidades M e L e é FAD, via centro de [2Fe-2S] ds ,, para responsável por mediar a transferência doadores externos, como por exemplo o electrónica entre o centro do tipo I e a citocromo b molécula de FAD. O domínio C-terminal, contém um feixe de quatro hélices a, com uma simetria dupla e alberga no seu interior (a cerca de 11 A da superfí- 1 (Dobbek etal., 2001 a). 4.2.2. Desidrogenases do monóxido de carbono contendo níquel (Ni- figura 12. Representação esquemática do CODH) subunidade S da CODH de O. carboxidouorans (Adaptado de Dobbek et al., 2001 a). cie) o centro de [2Fe-2S]prox ou do tipo As Ni-CODHs podem ser divididas em I (Dobbek etal., 2001 a). quatro classes (figura 14). As ACS/Ni- As subunidades S, M e L são estabilizadas, essencialmente, por interacções hidrofílicas. CODH das classes I e II são enzimas compostas por cinco subunidades; a classe I está presente em organismos que sintetizam acetil CoA, a partir de O sítio activo (figura 13), na subunidade CO 2 e H2, e a classe II pe rt ence a orga- A da superfície, está acessível nismos que efectuam uma metanogé- por um túnel hidrofóbico e é formado nese acetoclástica. As ACS/Ni-CODH da M a 17 xilação da acetil CoA a CO 2 (Lindahl, 2002). Estas enzimas estão presentes apenas em organismos primitivos e, para além de desempenharem um papel fundamental no ciclo do carbono e na degradação de poluentes, podem estar implicadas na origem da vida. por um centro dinuclear único, um classe Ill consistem em duas proteínas Para as enzimas monofuncionais, as es- agregado [MoSCu]. O molibdénio, está independentes, um tetrâmero a213 2 truturas de Raios-X existentes para as ligado a um cobre por uma cisteína em (ACS/Ni-CODH) e um heterodímero y8 Ni-CODHs de Carboxidothermus (C.) ponte. O molibdénio apresenta uma (CoFeSP). As subunidades a, 0, ye 8 da hydrogenoformans e Rhodospirillum geometria pirâmide quadrangular; a po- classe I/II são homólogas das subunida- (R.) rubrum são essencialmente equiva- sição apical é ocupada por um ligando des G3, a, y e 8, respectivamente, da lentes. A única diferença diz respeito ao oxo e os ligandos equatorias são os dois classe Ill. A classe IV é constituída por agregado C, agregado de Dobbek no ditiolenos do anel de pirano da pterina, enzimas monofuncionais do tipo a 2 , que caso de C. hydrogenoformans e agrega- um ligando oxo e o enxofre coordenado catalisam apenas a conversão reversível do de Drennan, para R. rubrum (Dob- ao cobre. O cobre está ligado ao enxofre CO/CO 2 . A subunidade a é homóloga da bek et al., 2001 b; Drennan et al., equatorial, em ponte, e a uma cisteína subunidade a das classes I/II e da su- 2002). (Cis388), estabelecendo a ligação cova- bunidade ¡3 da classe Ill (Lindahl, lente do co-factor de molibdénio à ca- 2002). deia da polipeptídica (Dobbek et al., 2001 a). Apesar de filogeneticamente relacionadas, as Ni-CODH diferem em termos Ilações relativas ao mecanismo reaccio- metabólicos, na composição das subu- nal foram obtidas utilizando um análogo nidades e na função catalítica. As enzi- do substrato, o n-butil isocianato (n- mas monofuncionais catalisam exclusi- BIC). O substrato (CO) chega ao agrega- vamente a oxidação reversível do CO a do [MoSCu] através de um canal pró- CO 2 , de acordo com a equação descrita prio. A inserção do CO entre o cobre e o anteriormente. As enzimas bifuncionais, enxofre em ponte liberta o cobre, dando que adicionalmente catalisam a síntese origem á "forma aberta" do agregado. de acetil CoA, são designadas por sinte- Este, sofre então um ataque nucleofíli- tases da acetil CoA/desidrogenares do co, do grupo hidroxo do molibdénio, re- monóxido de carbono (ACS/Ni-CODH). sultando em CO 2 ligado. Os electrões li- Um segundo grupo destas enzimas bertados são então transferidos, através pode, no entanto, catalisar a descarbo- figura 13. Representação esquemática do co- factor da CODH de O. carboxidouorans (Adaptado de Dobbek et al., 2001 a). -,^•Gln 240 r T MCD r ! Mo f^'^ • / Cu ' . 2 s-4Cis388 ' „ ^^ •GIu 763 55 56 QU[MICA Classe I e II agregados BCDEF fA o Classe Ill Y a agregados Classe IV figura 14. As quatro S BCD classes de Ni -CODH (Adaptado de Lindahl, 2002). a C. hydrogenoformans acopla a oxidação rotação (Dobbek etal., 2001 b; Lindahl, do CO à redução de protões a hidrogé- 2002). 17), está covalentemente ligado à ca- nio molecular (H,), no processo de obtenção de energia. A Ni-CODH (figura 15), em forma de cogumelo e com uma O agregado C (e C') de Dobbek (figura deia polipeptídica por cinco cisteínas e Cada subunidade é composta por três domínios: o N-terminal, o do meio e o C- uma histidina e pode ser dividido em dois subagregados: um agregado topologia essencialmente em hélice a, é terminal. O N-terminal, predominante- composta por duas subunidades idênti- mente em hélice a, é composto por dois cas (67,5 kDa), ligadas de um modo co- subdomínios funcionais: o primeiro con- e um agregado [3Fe-4S1. Em ambos os valente e com uma orientação o rt ogonal tém as regiões de ligação dos agregados subagregados, o ferro possui uma geo- entre si. Contém cinco agregados de Fe- B e D e o segundo possui duas folhas j3 metria tetraédrica; contudo, no primeiro S de três tipos, denominados B, C e D. que contribuem para a ligação dos dois está coordenado a três enxofres e um azoto (Cis295, His261), enquanto que [NiSFe], que inclui o ferro FCII (coordenado a uma cisteína e a uma histidina), Os agregados B (e B') e D são centros centros de Fe-S. O agregado B, (ou B') de [4Fe-4S], cubanos típicos, envolvi- está coordenado por quatro cisteínas no segundo, está coordenado a quatro dos nas transferências intra e intermole- (Cis48, Cis51, Cis56 e Cis70), segundo enxofres. O níquel, com uma geometria cular, respectivamente. Os agregados C um padrão típico das Fd. O agregado D, quadrangular plana, possui quatro en- (e C'), novos agregados assimétricos do o vértice do "V" invertido, está coorde- xofres como ligandos e está deslocado nado, de um modo covalente às duas do plano em cerca de 0,3 subunidades, através de dois resíduos 2002). tipo [NiFe,S 5 ], constituem o sítio activo; como distam entre si cerca de 33 A, funcionam como dois sítios activos independentes. Em cada subunidade, o agregado D, dista cerca de 10 A do agregado B e a 11 A de distância está o agregado C da outra subunidade, num arranjo em forma de "V" invertido (figura de cisteína (Cis39 e Cis47). Os domínios "do meio" e o C-terminal, possuem uma A (Lindahl, O agregado C de Drennan (figura 18), é essencialmente um cubano do tipo topologia de "Rossmann" e ligam o agre- [NiFe 3 S 4 1, ligado a um ferro FCII. As gado C, que se situa na interface dos duas estruturas são semelhantes, ex- três domínios. Dois resíduos carregados cepto num enxofre que liga em ponte o positivamente estão envolvidos na catá- níquel e o ferro FCII, e no ligando adi- duas subunidades e está localizado lise: a Lis563, que liga em ponte o ní- cional do níquel, presumivelmente um pe rt o da superfície, segundo o eixo de quel e o ferro, por ligação por ponte de CO. No entanto, este tipo de agregado hidrogénio, e a His93, que pa rt icipa na misto, entre um metal e um centro de 16). 0 agregado D, liga em ponte as figura 15. Representação esquemática da Ni- CODH de C. hydrogenoformans (Adaptado de Dobbek et al., 2001 b). estabilização do substrato ligado (Dob- [4Fe-4S], está presente na redutase do bek etal., 2001 b). O canal que conduz sulfito e nas hidrogenases contendo A da ferro (Dobbek et al., 2001 b; Lindahl, ao sítio activo, o agregado C a 18 superfície, possui uma densidade positi- 2002). va perto da superfície e acomoda várias O mecanismo de oxidação do monóxido moléculas de água, mas apresenta um de carbono (CO a CO 2 ) mais aceite, carácter hidrofóbico junto do centro de neste momento, (figura 19) envolve a li- níquel. As ramificações existentes, perto gação do CO ao níquel e de uma molé- dos agregados B, constituem locais de cula de água ao ferro FCII. Após ataque entrada de moléculas de água necessá- nucleofílico ao CO ligado, o protão car- rias durante o ciclo catalítico (Dobbek et boxílico é provavelmente aceite por resí- al., 2001 b; Lindahl, 2002). duos básicos (Lis563 e His93), facilitan- QUÍMICA do deste modo a dissociação da molécula de dióxido de carbono (CO 2 ). Os dois electrões entregues à enzima originam o estado C r„,. Se os electrões B saem, um de cada vez, via agregado 51 B/agregado D, forma-se então o estado C,, para o qual existem evidências ex- 446' 70 70' 446 perimentais. No entanto, o modo como ma enquanto o CO 2 se dissocia, não 11 ^t A os dois electrões são entregues à enzi- C ' está ainda completamente esclarecido, ficando por determinar onde se depositam os dois electrões no agregado C. Es 261' - tudos de mutagénese dirigida revelaram que a His299 e a Cis675 são resíduos figura 16. Arranjo espacial dos co-factores na Ni-CODH de C. hydrogenoformans (Adaptado de Dobbek et al., 2001 b). importantes na catálise (Lindahl, 2002). As enzimas bifuncionais (as ACS/NiCODH) possuem, como sítio activo, um outro agregado denominado agregado A, no qual o níquel está acoplado a um centro de [4Fe-4S] (figura 20). No esta- entre o agregado A e o grupo metilo; as metano como produto final. Ë no entan- espécies a reduzir antes da sua transfe- to, o heterodisulfito (e não o metano) rência são ainda desconhecidas (Lin- que desempenha um papel funcional dahl, 2002). chave nestes organismos; a sua redu- do A o „ o níquel está coordenado por A dupla função das ACS/Ni-CODH está uma cisteína (ligando em ponte), duas associada ao facto do produto da reac- histidinas e uma metionina. Duas cisteí- ção redox ser o substrato da reacção de nas conservadas formam uma ligação síntese. O CO formado no agregado C, dissulfureto, constituindo o local D na por redução do CO 2 , é transpo rt ado ao forma oxidada (D ox ) (Lindahl, 2002). agregado A, por um túnel específico, O mecanismo de síntese proposto (figura 21) envolve a redução dielectrónica do local D (distinto do agregado D), transferência do grupo metilo para o níquel, enquanto o local D é oxidado. O grupo metilo é transferido sob a forma de um catião (CH 3 *), numa reacção do tipo SN 2 pouco usual, pois envolve a pa rt icipação do centro metálico. De seguida, liga-se a molécula de CO, que se insere na ligação formada, originando onde é utilizado na síntese de acetil CoA (Lindahl, 2002). 4.3. Metil coezima M redutase (MCR) A metil coenzima M redutase (MCR) catalisa a redução da metil-coenzima M (sulfonato de 2 -(metiltio) etano) com a coenzima B (fosfato de treonina 7 -mercaptoheptanol) com formação de metano e heterodisulfito (figura 22), de acordo com a reacção: um intermediário H 3 C-C(0)-Ni 2 i. Uma CH 3 -S -CoM + H-S -CoB —> base (provavelmente uma histidina) CH4 + CoM -S-S -CoB capta um protão da CoA e o tiolato resultante ataca o grupo carbonilo do intermediário H 3 C-C(0)-Ni 2 +. Finalmente, o local D é novamente reduzido e a acetil CoA é libertada. O "local D", permite que o níquel mantenha o estado de oxi- ção (no citoplasma), a coenzima M (CoM) e coenzima B (C oB), está associado a um processo de conservação de energia (envolve complexos membranares e está acoplada ao transpo rt e electrónico). Desta forma os metanogénicos vivem como os redutores de sulfato, às custas da clivagem da ligação disulfureto (a metil-CoM é um intermediário central no metabolismo energético), com a diferença de que os primeiros são independentes de uma fonte externa de enxofre (como aceitador electrónico) pois podem reoxidar o "enxofre reduzido" com o CO 2 ou outro substrato carbonado. Os dois processos estão acoplados via reacção da MCR (Grabarse et ai., 2001). A MCR é uma enzima solúvel, com uma massa molecular de 300 kDa, compos- A MCR foi, até à data, isolada exclusiva- ta por três subunidades diferentes: a mente de arqueobactérias metanogéni- (McrA, 66 kDa), (3 (McrB, 48kDa) e 7 cas, anaeróbios estritos que crescem (McrG, 37 kDa), formando um hetero- em, H 2 e CO 2 , formato, acetato, metila- hexâmero do tipo a2R2 minas, metiltiois ou metanol formando co-factor, duas coenzima F 430r um tetra- figura 17. Agregado de Dobbek (Adaptado de figura 18. Agregado de Drennan. Sobreposição (a fino) do agregado de Dobbek (Adaptado de Lindahl, 2002). - 2. Possui como dação (Ni 2 +) durante a metilação (Lindahl, 2002). A inserção do CO e as reacções de eliminação são comuns na química organometálica; porém, são pouco frequentes em biologia, pelo que está ainda por esclarecer a ordem segundo a qual, o mecanismo decorre. Do mecanismo proposto é conhecida apenas a ligação Lindahl, 2002) 57 58 I QUÍMICA H :B :ii-H F Niz\ S ^Fe^ ^ Ni`+ ep+ H :B rÓ-H CO H' o r—:B :B :b\^ 0 H CE---•O - H r Fez* Ni^+ S/ 11 (Ci red t) H20 } e Ni 2+ Ni l+ Fe2+ e(Cünt) figura 19 Mecanismo proposto para oxidação do CO e redução do CO2 pelas Ni-CODHs (Adaptado de Lindahl, 2002). pirrol de níquel, fo rt emente ligadas de • 1' ^, ^Q,: H`:B :B Fez + i ez+ Ni\ Fe2+ H':B ^ 6^i\+ ^ e 2+ H'.ã kCired2^ Go2 pelas subunidades a, a', R e (3'. As subunidades y e estão dispostas acima e está disposta de tal modo que o plano um modo não covalente. A coenzima (figura 23) é o tetrapirrol mais satu- abaixo deste centro (Grabarse et al., canal. O níquel, apresenta uma geome- 2001). tria octaédrica em que os quatro ligan- F430 rado de entre os conhecidos; possui apenas cinco ligações duplas, das quais dois pares estão conjugados, mas estão separadas por duas ligações simples formando um sistema com pouca conjugação. A sua cor amarela, em contraste, com a cor vermelha das porfirinas e corrinoides é, muito provavelmente, resultado deste baixo grau de conjugação. Biosinteticamente a coenzima F430 do sirohemo e da VitB 12 . A MCR é rapidamente inactivada por 0 2 e CHCI 3 por conversão do Ni (I), activo, a Ni (II), inactivo. Um aminoácido modificado (tio-Glia445) é proposto ter uma participação activa na catálise (Grabarse etal., 2001). A subunidade a pode ser dividida em quatro domínios: o do N-terminal, o domínio a+(3, o domínio em hélice a e o Cterminal, todos envolvidos na ligação da coenzima F430. Os domínios N- e C-ter- minal, são responsáveis pelas interacções com as subunidades adjacentes. A topologia do domínio a+(3, com quatro folhas (3 antiparalelas ladeadas por hélices a, é semelhante ao encontrado na transferase do formilo. O domínio em hélice a é composto por oito hélices a, do anel pirrólico é perpendicular ao dos equatoriais são os azotos do anel pirrólico e o quinto é um oxigénio (da cadeia lateral da Glna'147); a sexta posição está vaga e disponível para ligar o substrato. Para além da cavidade estreita, que liga a superficie e o co-factor de níquel, existe uma cavidade adicional correspondente ao sítio de ligação da metil-CoM; dada a geometria da cavidade, esta entra com o seu grupo sulfonato, em primeiro lugar. Os factores que conduzem a esta orientação, não são no de diferentes dimensões, formando entanto conhecidos, mas a existência uma estrutura em sanduíche organiza- de resíduos carregados positivamente, da em três camadas. A subunidade (3 é na parte mais estreita, podem determi- essencialmente igual à subunidade a; nar esta orientação. A sua entrada antes A estrutura de Raios-X obtida para M. muito provavelmente evoluiram de um da CoB é também essencial, porque thermoautotrophicum (figura 24) revela ancestral comum. A subunidade yapre- após entrada desta última a cavidade uma molécula compacta com forma senta um enrolamento misto a/ 1 3, no fica bloqueada. A CoB está orientada de elíptica. O hetero-hexâmero pode ser qual quatro folhas 13 antiparalelas estão forma que o grupo tioheptanol aponta descrito como sendo um dímero de trí- rodeadas por duas hélices a. Tal como na direccção do níquel e os grupos fos- meros a13y, em que o centro é formado as subunidades a e 13 também o N- e o fato na direcção da entrada (Grabarse et C-terminal, desta subunidade, funcio- al., 2001). nam como elo de ligação com as outras figura 20. Agregado A (adaptado de Lindahl, 2002). subunidades (Grabarse et al., 2001). O mecanismo catalítico proposto (figura 26), com base em estudos bioquímicos A MCR possui dois sítios activos inde- e espectroscópicos, pressupõe a forma- A. Cada sítio ção de um anião radical disulfito como pendentes que distam 50 activo é composto por uma coenzima intermediário. A reacção tem início no apenas acessível, a pa rt ir da super- estado Ni(I) para o qual a MCR não pos- fície, por um longo canal, em forma de sui substratos ligados (A). A metil-CoM funil. Este é formado por resíduos das liga-se, através o seu grupo metilo, ao F430 (B) e ocorre uma subunidades a, a', (3 e y (ou a', a, (3' e Ni(I) da coenzima /) evidenciando que um trímero não é clivagem heterolítica, no carbono sulfu- suficiente para a catálise. No fundo rado, formando-se metil-Ni(III) deste canal, a coenzima F430 (figura 25) F430 F430 (C). 0 anião tiolato da CoM, formado ante- QUÍMICA 59 :B R—S Ni t+ 2e' VIpI CH 3 -Co 3 + J B Co \ ^ RS: Sg . Ni + CO CH3 :B \ S —S^ ^ N 2+ CH3 ^ I ^° H*,\ R^' :S^ CH3 C ^ \$ CADA \ l H + :B N 2+ d l :B R$—S+ N2 c=_O : ¡ .B H+,B :O^ ,CH3 b c—^SCoA ^i RS--- •N 2 ' C R --. °Q^ ,c1-1, C H8CoA Ni ' c^\" R—§--.Ni HCoASH + R figura 21. Agregado A (adaptado de Lindahl, 2002) riormente, é então oxidado pela espécie sulfito é, deste modo, facilitada (Grabar- Ni(III), altamente reactiva, formando um se etal., 2001). radical S'. Concomitantemente a metilNi(III) F430 é reduzida a metil-Ni(II) (D). A clivagem heterolítica proposta é consistente com uma inversão na esterioquímica. Seguidamente a metil-Ni(II) F430 é irreversivelmente protonada for- mando-se CH 4 e Ni(II) F430 (E); este conformacionais que induzem a exclusão da CoM-S-S-CoB. No entanto, este mecanismo não é con- Na presença dos substratos a única mo- sistente com algumas observações ex- lécula de água encontrada no sítio acti- perimentais, nomeadamente o facto de vo (entre a CoM e a CoB) é excluída, o ser necessário a redução da MCR com que indica que a catálise decorre num Ti(III) para que esta se torne activa. ambiente completamente hidrofóbico e Assim é proposto que o resíduo modifi- facilita a formação do produto, o meta- cado (tio-Glia445) funcione como re- no. Foram identificados três canais para cão da CoB e transferência do seu pro- ceptor de electrões, através da sua liga- o solvente, que ligam o sítio activo à su- tão à Tira367, por intermédio do radical ção tio, formando um anião radical perfície, um dos quais com evidências passo, está acoplado com a desprotona- S' CoM. No passo final o radical S' reage tiocetil. O Ni(II) seria então reduzido a experimentais que demostram a sua re- com o anião tiolato da CoB formando-se Ni(I) e o radical tiocetil regenerado pela levância para o ciclo catalítico. Assim, o anião radical heterodisulfito (F), um transferência electrónica do anião radi- redutor fo rt e, capaz de reduzir o Ni(II) a cal disulfito. O facto de tio-GIia445 fun- Ni(I) (G) por um mecanismo ainda des- cionar como parceiro redox na catálise conhecido. Conjugando o facto de que o apresenta vantagens, pois a formação Ni(I) adopta, preferencialmente, uma de Ni(I) antes da formação do heterodi- um número equivalente de moléculas de solvente, devem entrar ou sair quando os substratos entram e os produtos da reacção saem (Grabarse et al., 2001). coordenação quadrangular plana, e que sulfito previne a formação de um aduc- o ligando axial (Glna'147) pode aumen- to, pouco favorável, Ni(II)-S-CoM, para tar a nucleofilicidade do níquel, na além de que a re-redução da tioligação Nesta série de 3 a rt igos abordámos as- coenzima pode ser responsável pelas alterações pectos moleculares de ciclos de ele- F430, a expulsão do heterodi- Conclusão (A), CoB (B) e heterodisulfito (C) (Adaptado de Grabarse et al., 2001). figura 22. Estruturas da metil-CoM 60 I QUÍMICA mentos relevantes do ponto de vista bio- feito nas correlações estrutura/função. Jorge Pereira pela ajuda na obtenção de lógico: enxofre, azoto, hidrogénio e car- Adicionalmente, uma melhor definição inúmeras figuras. bono. A resolução a nível atómico das das distâncias entre centros redox e a estruturas 3D de enzimas chave envolvi- identificação de parceiros redox especí- das nestes processos permite explorar, ficos permite uma análise detalhada da propôr e interpretar propriedades catalí- cinética (intra e intermolecular), definir ticas e conduz a uma melhor com- percursos de transferência electrónica, preensão de dados espectroscópicos. Um avanço considerável tem vindo a ser detalhar a forma de reconhecimento desses parceiros, bem como inferir pp 110-158, Taylor & Francis • Cammack, R. (2001) "The catalytic machinery" in Hydrogen as a fuel, (R. Cammack, M. Frey, R. Robson, Eds), Cap 8, pp 159180, Taylor & Francis Como nota final devemos referir que • Carepo, M., Tierney, D. L., Brondino C. D., muitos destes ciclos se interpenetram. Yang, T. C., Pamplona, A., Telser, J., Moura, bactérias redutoras de sulfato (BRS) que podem utilizar nitrato como via alternativa respiratória ao sulfato, como resposta/adaptação a condições ambientais (fig. 27). Este caso permite compreender e integrar as necessidades químicas e biológicas envolvidas no I., Moura, J. J. G., Hoffman. B. M. (2002) JACS , 281-286 • Dobbek, H., Gremer, L., Meyer, 0., Huber, R. (2001 a) "CO dehydrogenase" in Handbook of Metalloproteins, (A. Messerschmidt, R. Huber, T. Poulos, K. Wieghardt, Eds), Vol 2, pp 1136-1147, John Wiley & Sons, LTD • Dobbek, H., Svetlitchnyi, V., Gremer, L., Huber, R., Meyer, O. (2001 b) "Crystal struc- metabolismo destes organismos, que ture of a carbon monoxide dehydrogenase têm a capacidade de participar num reveals a [Ni-4Fe-5S1 cluster", Science, 293, grande "ciclo biogeoquímico", com in- 1281-1285 tervenção de várias enzimas chave. Este • Drennan, C.L., Heo, J., Sintchak, M.D., exemplo demonstra que, na ausência Schreiter, E., Ludden, P.W. (2002) "Life on de sulfato e na presença de nitrato, são carbon monoxide: x-ray structure of Rhodos- induzidas enzimas dissimilativas (redu- pirillum rubrum NiFeS carbon monoxide tases do nitrato e nitrito, ver Pa rte I). O dehydrogenase", PNAS, 98, 11973-11978 metabolismo do hidrogénio é também • Fontecilla-Camps, J.-C., Frey, M., Garcin, integrado e representa um modo subtil E., Higuchi, Y., Montet, Y., Nicolet, Y., Volbe- de suplementar equivalentes redox (na da, A. (2001) "Molecular architectures" in ausência de compostos orgânicos) ou Hydrogen as a fuel, (R. Cammack, M. Frey, utilizar excesso de electrões (em condições limitantes de substratos respiratófigura 24. Representação esquemática aa MCR de M. thermoautotrophicum. Os co-factores estão representados por modelos "stick and ball" (Adaptado de Grabarse et al., 2001). Cammack, M. Frey, R. Robson, Eds), Cap 7. volvidos. Um bom exemplo é o metabolismo de figura 23. Estrutura do tetrapirrol de níquel, coenzima F430, presente na MCR de M. thermoautotrophicum (Adaptado de Grabarse et al., 2001). • Albracht, S.P.J. (2001) "Spectroscopy-the functional puzzle" in Hydrogen as a fuel, (R. sobre a regulação dos metabolismos en- H,NOC COOH Bibliografia rios — sulfato ou nitrato) conduzindo à evolução de hidrogénio. O consórcio com bactérias formadoras de metano R. Robson, Eds), Cap 6, pp 93-109, Taylor & Francis • Frey, M., Fontecilla-Camps, J.C., Volbeda, A. (2001) "Nickel-iron hydrogenases" in Handbook of Metalloproteins, (A. Messerschmidt, R. Huber, T. Poulos, K. Wieghardt, (BFM) é mais um exemplo de integração Eds), Vol 2, pp 880-896, John Wiley & Sons, de ciclos biológicos, utilizando hidrogé- LTD nio e dióxido de carbono na formação • Garcin, E., Vernède, X., Hatchikian, E.C., de metano. Um exemplo que integra Volbeda, A., Frey, M., Fontecilla-Camps, J.C. pa rtes dos ciclos do azoto, enxofre, car- (1999) "The crystal structure of a reduced bono e hidrogénio. [NiFeSe] hydrogenase provides an image of the activated catalytic center", Structure Fold. Des., 7, 557-66 • Grabarse, W., Shima, S., Mahlery, F., Duin, E.C., Thauer, R.K., Ermler, U. (2201) Agradecimentos Os autores agradecem ao PRAXIS e COST apoio financeiro. Um agradecemento aos grupos de Bioinorgânica, Biofísica de Proteínas e Cristalografia de figura 25 Co -factor da MCR de M. thermoautotrophicum (Adaptado de Grabarse et al., 2001). Proteínas do R EQU I MTE/CQFB/DQ/ FCT/UNL por muitas contribuições. Ao "Methyl-coenzyme M reductase" in Handbook of Metalloproteins, (A. Messerschmidt, R. Huber, T. Poulos, K. Wieghardt, Eds), Vol 2, pp 897-914, John Wiley & Sons, LTD • Higuchi, Y., Yagi, T., Yasuoka, N. (1997) "Unusual ligand structure in Ni-Fe active center and an additional Mg site in hydrogenase revealed by high resolution X-ray struc- QUÍMICA I HS-Co-B Co-B-SH Co-M-SCH3 HO-Tir ' N ^ N Co-M-S HO-Tir CH3 N— N N N/ Nim/ —^ I Co-M-S-S-Co-B S-Co -B Co- M - V B yl - HS-Co-B HO - Tir Co-M-S N—N CH3 HO-Tir / NiV N---N /Ni a / O I C N-N SLo-B Co-M-S y HO-Er Co-M-S• S-Co-B HO-Tir HCH3 y l HS-Co-B Co-M S_ • CH3 HO-Er N—N N„,/ N O `s,/ NO/ N figura 26. Mecanismo proposto para a formação do heterodisulfito pela MCR de M. thermoautotrophicum (Adaptado de Grabarse et al., 2001). figura 27. Integração do metabolismo por acção conjunta de urna bactéria de sulfato (BRS) e uma bactéria metanogénica (BFM). ture analysis", Structure (London), 5, 1671- and modelling studies of its interaction with • Pereira, A. S., Tavares, P., Moura, I., 80 the tetraheam cytochrome c(3)", J. Biol. Moura, J. .J. G., Huynh B. H., (2001) JACS, • Lemon, B.J., Peters, J.W. (2001) 'Iron-only Inorg. Chem., 6, 63-81 hydrogenases" in Handbook of Metalloproteins, (A. Messerschmidt, R. Huber, T. Poulos, K. Wieghardt, Eds), Vol 2. pp 738-751, • Moura, J. .J. G., Moura, I., Teixeira, M., Xavier, A. V., Fauque, G. D., LeGall, J. 123.2771-2782 • Peters, J.W., Lanzilotta, W.N., Lemon, B.J., Seefeldt, L.C. (1998) "X-ray crystal structure of the Fe-only hydrogenase (Cpl) from Clos- John Wiley & Sons, LTD (1998) in "Metal ions in biological systems", tridium pasteurianum to 1,8 angstrom reso- • Lindahl, P.A. (2002) "The Ni-containing vol 23 (Siegel, H. & Siegel, ?a, eds), pp285- lution", Science, 282, 1853-8 carbon monoxide dehydrogenase family: 314, Marcel Dekker, Inc., New York and • Robson, R. (2001) "Biodiversity of hydro- light at the end of the tunnel?", Am. Chem. Basel. genases" in Hydrogen as a fuel, (R. Cam- Soc., 41, 2097-2105 • Matias, P.M., Soares, C.M., Saraiva, L.M., Coelho, R., Morais, J., LeGall, J., Carrondo, M.A. (2001) "[Ni-Fe] hydrogenase from De- • Nicolet, Y., Piras, C., Legrand, P., Hatchi- mack, M. Frey, R. Robson, Eds), Cap 2, pp 9-32, Taylor & Francis kian, C.E., Fontecilla-Camps, J.C. (1999) "Desulfovibrio desulfuricans iron hydrogena- • Volbeda, A., Charon, M.-H, Piras, C., Hatchikian, E.C., Frey, M., Fontecilla-Camps, sulfovibrio desulfuricans ATCC 27774: gene se: the structure shows unusual coordination sequencing, three-dimensional structure de- to an active site Fe binuclear center", Struc- iron hydrogenase from Desulfovibrio gigas", termination and refinement at 1,8 angstrom ture Fold. Des., 7, 13-23 Nature (London), 373, 580-7 J.C. (1995) "Crystal structure of the níquel- 61 bscribe Now! ChemPhysChem — Where A EUROPEAN JOURNAL Chemistry Meets Physics Meets Chemistry... CHEMPHYSCHEM OF CHEMICAL PHYSICS AND PHYSICAL CHEMISTRY ChemPhysChem amalgamates the wide and flourishing field ranging — to name just a few topics — • from atmospheric science to hard and soft condensed matter • from femtochemistry to nanotechnology • from complex biological systems to single molecule research • from clusters and colloids to catalysis and surface science • from electro- to photochemistry 5/.2 00 1 Cents, Papers from distinguished scientists worldwide, such as BwJPemmnGoss{oneWCn Spe<w uoq OMYnYCpn,l,nbw.p.IJ Be.gen.5 Mut.e MEMiMI Bq..4.G.5cnmidH. web. <We,:.wtaw.e 44WILEY VCH Z. I. Alferov C. Amatore C. D. Bain V. Balzani C. Brduchle E. A. Carter A. Corma F.C. De Schryver ChemPhysChem A European Journal of Chemical Physics and Physical Chemistry 2002 Volume 3, 12 issues per year, ISSN Print 1439-4235 ISSN Electronic 1439-7641 Available as a separate journal and as a part of attractive packages with Angewandte Chemie (Int. Ed.) Please visit www.chemphyschem.com ❑ www.interscience.wiley.com At the institutional rate*: electronic print ChemPhysChem ❑ € 598, ❑ C. A. Mirkin C. N. R. Rao J.-M. Savéant R. J. Saykall,v G. Wegner C. Zannoni R. N. Zare A. H. Zewail Virtual Sample Copy: FREE online access to full text of sample copy: Please enter my/our 2002 subscription to ❑ G. Ertl C. Friend J. S. Kilby H. Kroemer R. Lavery J.-M. Lehn R. D. Levine H. Matsuhara — sFr 1028,— US$ 648,— 598, ❑ € ❑ sFr 1028,❑ US$ 648,— At the personal member rate: print ❑ € 148,— ❑ sFr 248,— El US$ 158,— Europe Switzerland All other countries * For a 5 0/e premium, institutions can also choose both print and online access. Please tick: ❑ private ❑ business ❑ Please send me a free sample copy Name Address City/Postcode Country Date/Signature Please return this order form to your local bookseller or to: Customers in Germany, Austria, and Switzerland: WILEY-VCH Reader Service P. O. Box 10 11 61, D-69451 Weinheim, Germany Phone: +49 (0) 6201-606 147 Fax: +49 (0) 6201-606 172 e-mail: [email protected] Customers in all other areas: John Wiley & Sons, Ltd. Journals Administration Department 1 Oldlands Way Bognor Regis West Sussex, P022 9SA, UK Phone:+44 (0) 1243-779 777 Fax: +44 (0) 1243-843 232 e-mail: [email protected] *WILEY-VC^ 111