UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CURSO DE LETRAS GRUPO 02 – Lingüística III COMPONENTES: Bruno Rafael, Jurandir Oliveira, Marcelo Gallo, Sandra Gregório e Rita Vieira. PROFESSORA: Cleide Pedrosa Faye 1) Segundo Marcuschi, as posições teóricas em relação a categorias como discurso e texto dependem da noção de língua com a qual se trabalha. Sabendo disso, compare a noção de língua estruturalista e a noção sociointeracionista proposta pelo autor. Os sociointeracionistas admitem que a língua é uma estrutura, um sistema de signos que se relacionam por contraste e são distribuídos em vários níveis hierárquicos, como afirmam os estruturalistas. Porém, as diferenças entre as duas perspectivas são mais importantes do que essa convergência. Conceitos saussureanos como: a imanência, a autonomia, a préderteminação e a homogeneidade do sistema, bem como a centralização dos estudos no código, não são adotados pelos sociointeracionistas. A grande diferença de abordagem, entretanto, pode ser resumida na oposição decisiva entre a noção de língua estruturalista: “Língua é forma, não substância”; e a noção sociointeracionista: “Língua é atividade, é prática sociointerativa de base cognitiva e histórica”. Ou seja, enquanto os estruturalistas acreditam que todos os fenômenos da língua se situam dentro do sistema, os sociointeracionistas acreditam que a língua possui sim um sistema de base, mas que ele não é auto-suficiente. Seu funcionamento está também condicionado por fatores externos variados e complexos. Não se admite em uma perspectiva sociointerativa que o contexto seja desprezado. A língua deve ser estudada em seu funcionamento social, cognitivo e histórico e em suas condições de produção e recepção uma vez que o sentido se produz situadamente. 2) Como, segundo Marcuschi, se relacionam os conceitos de texto, discurso e gênero? Texto e discurso não são vistos como duas coisas diferentes, mas como maneiras complementares de focar a produção lingüística em funcionamento, como aspectos complementares da atividade enunciativa, sendo que o texto se daria no plano da configuração, o plano das formas lingüísticas e de sua organização e o discurso se daria no plano da enunciação, do funcionamento enunciativo e efeitos de sentido. Assim, ao definir texto como uma unidade de sentido, um evento comunicativo em que convergem ações lingüísticas, sociais e cognitivas, o autor também define discurso. Unindo texto e discurso na cena enunciativa está o gênero que condiciona, uma vez escolhido o discurso, a esquematização textual. Ou seja, o gênero liga o discurso como uma atividade mais universal e o texto como uma peça particularizada e a configura numa determinada composição observável, de acordo com modelos correspondentes a formas sociais reconhecíveis nas situações de comunicação em que ocorrem. 3) Identifique no texto os elementos referenciais catafóricos e anafóricos. Enquanto todo mundo se preocupa com o desmatamento e a extinção das espécies, outra catástrofe ecológica se aproxima sem que ninguém a perceba: Estamos acabando com os minerais da terra. E isso pode abrir uma crise tecnológica, pois, várias invenções, das mais fúteis às mais essências, poderão deixar de existir. Quer um exemplo: As reservas mundiais de lítio parecem gigantescas – 14 milhões de toneladas, que dão para mais cem anos de consumo. Só que cada carro elétrico, grande esperança para reduzir o aquecimento global, usa pelo menos oito quilos de lítio. E o mundo produz, a cada ano, 71 milhões de carros. Se todos fossem elétricos, todo o lítio do mundo seria consumido em apenas 12 anos – e não sobraria nada para fazer as baterias usadas em laptops, câmeras e outros aparelhos. Até que a humanidade colonize outros planetas ou aprenda a sintetizar matéria, a saída é uma só: consumir menos e reciclar mais. “a”perceba: introduzindo a informação de que estamos acabando com os minerais da terra. Quer um exemplo: introduzindo a informação sobre as reservas mundiais de lítio. A saída é uma só: Introduzindo uma solução para o problema: consumir menos e reciclar mais. Sinal Fechado Composição: Chico Buarque/Paulinho da Viola – Olá! Como vai? – Eu vou indo. E você, tudo bem? – Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você? – Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... Quem sabe? – Quanto tempo! – Pois é, quanto tempo! – Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios! – Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem! – Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí! – Pra semana, eu prometo, talvez nos vejamos... Quem sabe? – Quanto tempo! – Pois é... Quanto tempo! – Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas... – Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança! – Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente... – Pra semana... – O sinal... – Eu procuro você... – Vai abrir, vai abrir... – Eu prometo, não esqueço, não esqueço... – Por favor, não esqueça, não esqueça... – Adeus! – Adeus! – Adeus! 4) De acordo com a teoria da enunciação e dentro do conceito de sistema pronominal Benveniste defende a existência de duas pessoas do discurso. Na música “Sinal Fechado” identifique quem são essas pessoas e comente a singularidade que elas apresentam. A primeira pessoa está composta de duas pessoas que entabulam um diálogo. A curiosidade é que é um diálogo que não está descrito em discurso indireto, então é a transcrição real do diálogo e por isso cada pessoa do diálogo está na primeira pessoa do singular. A segunda pessoa é que ouve ou lê a letra da música. Curiosamente qualquer pessoa pode se sentir protagonista deste diálogo, pois retrata uma possibilidade real cotidiana de todos nós. 5) Que diferença apresenta o texto com relação às situações no tempo que Benvenites costuma usar para definir discurso e história? Que tipo de idéia esta variação dá ao texto? Benvenites diz que o tempo do discurso é um relato e, portanto, está geralmente no passado simples. Aqui apesar de não ser utilizado este tempo verbal tem-se a percepção clara do acontecimento ocorrendo num passado pontual, isto é, no momento em que o diálogo ocorreu. A variação do uso do tempo verbal, apesar de situar o fato contado num tempo do passado dá uma idéia de uma ação que pode repetir-se a qualquer momento. 6) Na poesia de Clarice Lispector, ela consegue escrever duas poesias em uma dando-lhes sentido totalmente opostos. Explique dentro do conceito de estruturação da seqüência como a escritora consegue isso e que elementos ela usa para tanto. Não te amo mais. Estarei mentindo se disser que Ainda te quero como sempre quis. Tenho certeza de que Nada foi em vão. Sei dentro de mim que Você não significa nada. Não poderia dizer nunca que Alimento um grande amor. Sinto cada vez mais que Já te esqueci! E jamais usarei a frase EU TE AMO! Sinto, mas tenho que dizer a verdade: É tarde demais... (Clarice Lispector) Como parte de um mesmo texto, a leitura usa os mesmos conectores nos dois sentidos. A forma de buscar sentidos diferentes está centrada no uso de frases afirmativas como: Nada foi em vão; Já te esqueci!; Eu te amo!. Quando estas frases são precedidas por uma afirmação ou negação elas assumem um papel afirmativo ou negativo e assim se consegue o resultado esperado. 7) Na letra da música “Meu caro amigo” o autor Francisco Buarque de Holanda situa o texto numa conjuntura e a utiliza para efetuar uma crítica através de alguns elementos de coesão textuais. Que elementos são eles e como se percebe a conjuntura de que se fala? Meu Caro Amigo Chico Buarque Composição: Chico Buarque / Francis Hime Meu caro amigo me perdoe, por favor Se eu não lhe faço uma visita Mas como agora apareceu um portador Mando notícias nessa fita Aqui na terra tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Muita mutreta pra levar a situação Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça E a gente vai tomando e também sem a cachaça Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu não pretendo provocar Nem atiçar suas saudades Mas acontece que não posso me furtar A lhe contar as novidades Aqui na terra tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta É pirueta pra cavar o ganha-pão Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu quis até telefonar Mas a tarifa não tem graça Eu ando aflito pra fazer você ficar A par de tudo que se passa Aqui na terra tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta Muita careta pra engolir a transação E a gente vai engolindo cada sapo no caminho E a gente vai se amando que, também, sem um carinho Ninguém segura esse rojão Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever Mas o correio andou arisco Se me permitem, vou tentar lhe remeter Notícias frescas nesse disco Aqui na terra tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta A Marieta manda um beijo para os seus Um beijo na família, na Cecília e nas crianças O Francis aproveita pra também mandar lembranças A todo o pessoal Adeus A forma que o autor encontrou de manter a coesão foi através da repetição do “mote”: Aqui na terra tão jogando futebol Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll Uns dias chove, noutros dias bate sol Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta; que precede sempre um comentário crítico à situação geral do país na época da ditadura militar e à reação das pessoas diante das dificuldades. Percebemos também os dêiticos que são as várias tentativas de “falar” algo ainda que de forma dissimulada. Além deles nos deparamos com nomes como Francis Hime que também são muito expressivos desta época. 8) De acordo com a Teoria de Atos de Fala, classifique: a) Ato locucionário b) Ato ilocucionário c) Ato perlocucionário a) Consiste na emissão de um conjunto de sons, organizados de acordo com regras da língua, constituindo-se de um ato referencial (designar uma entidade do mundo extralingüístico) e um ato de predição (atribuir-se a essa entidade certa propriedade, característica, estado ou comportamento. b) Consiste na força do conjuntos de sons, ou seja, do ato locucionário. Essa força pode ser uma ordem, uma promessa, uma pergunta, etc. Pode ser realizado de forma explícita (através de perfomativos como “o mar é azul”) ou de forma explícita (sem uso de perfomativos como “eu assevero que o mar é azul). c) Consiste no efeito causado sobre o interlocutor: agradá-lo, assustá-lo, ameaçá-lo, etc. As vezes o(s) efeito(s) produzido(s) pode(m) ser diferente(s) do(s) que o autos pretendia. 2) Identifique na charge abaixo: a) O ato locucionário b) O ato Ilocucionário c) O ato perlocucionário a) A emissão do enunciado “costelinha de porco, por favor”. b) Força de pedido de forma implícita: eu quero / gostaria que você me trouxesse uma costela de porco, por favor. c) Levando em consideração o papel da charge, diríamos que o efeito exercido foi de susto, já que o homem está se protegendo da gripe suína, mas está pedindo porco. Em outro contexto, o efeito exercido pelo autor seria de obedecer ao cliente, cumprindo o papel de garçom, trazendo seu pedido. 10) Dentro da Teoria de Atos de Fala, alguns autores não levam em consideração o contexto real do uso da língua, sendo analisados enunciados isolados. Van Dijk chama a atenção para o fato de que em um texto há sempre um objetivo principal (macro ato ou ato global) e objetivos secundários (atos acessórios). Identifique alguns desses atos, explicitando qual seria o ato principal, no diálogo abaixo. Ato de saudação – Ato de despedida –– Ato de justificativa –– Ato preparatório – Ato de reconhecimento – Ato de fundamentação - Alô! Marcelo? Ato de reconhecimento - Sim sou eu, quem fala? Ato de reconhecimento - Bruno!!! Tudo bem??? Ato de saudação - Opa, tudo sim e você? Ato de saudação - Tudo bem também... Marcelo, você tem como me conseguir as anotações da aula de Lingüística III? Eu acho que a professora vai elaborar uma prova muito difícil!!! Ato de solicitação / Ato de justificativa - Tenho sim...Você vai pra aula amanhã? - Vou sim! Leva pra mim por favor... Ato de pedido- Ato principal ou Macroato - Pode deixar! - Até logo! Ato de despedida 11) Identifique o problema de inferência na tirinha abaixo que causou o ato perlocucionário de desmaio no pai de Mafalda, mostrando a importância da contextualização dos atos de fala, e seus possíveis efeitos. Tradução: - O quê você vai ser quando crescer, Susanita? - Vou ser mãe! - Seu pai é bem original para descansar. A Teoria dos Atos de Fala tem sido alvo de muitas críticas, em especial por ser uma teoria unilateral, colocando uma ênfase quase exclusiva no locutor, tratando mais a ação e não a interação. Basicamente só se levam em conta enunciados isolados, examinados fora de um contexto real de uso. No caso na tirinha acima, a frase “vou ser mãe” emitida por Susanita, faz com que o pai de Mafalda infira que Susanita está grávida (o que não poderia ser verdade já que ela não teria idade para isso, causando assim a reação de desmaio e não o que ela deseja ser no futuro, pois ele não entendeu em que contexto foi expressado esse enunciado, ou seja, uma conversa de criança na qual o importante era saber os planos futuro ou profissão de outra criança ao chegar na fase adulta. O sentido é construído na hora da interlocução, no interior da qual os interlocutores se constituem e são constituídos.