SUSCEPTIBILIDADE DO INTESTINO ANTERIOR DE LAGARTAS HÍBRIDAS DE Bombyx mori AO NUCLEOPOLYHEDROVIRUS Alana Lucia Oro (PIBIC/CNPq-UNIOESTE), Rose Meire Costa Brancalhão, Ednéia Fátima Brambilla Torquato, Celeste da Rocha Paiva, Lucinéia de Fátima Chasko Ribeiro (Orientadora), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ CCBS/ Cascavel, PR Ciências Biológicas - Morfologia Palavras-chave: citopatologia. Baculoviridae, Bombyx mori, intestino anterior, Resumo: O Bombyx mori nucleopolyhedrovirus (BmNPV) foi utilizado para analisar a susceptibilidade das células do intestino anterior de lagartas de B. mori. Para tanto lagartas híbridas de B. mori de 5º estádio larval foram inoculadas com uma suspensão viral e o intestino anterior preparado e analisado em microscopia de luz. Os resultados evidenciaram que as células do intestino anterior não são susceptíveis ao BmNPV Introdução No Brasil a sericicultura é uma atividade agrícola realizada por pequenos produtores em comunidades rurais, inseridos na agricultura familiar. O Paraná é o principal estado produtor brasileiro, e se destaca por contribuir com mais de 90% da produção de casulos verdes, o equivalente á 5.700 toneladas (Abrasseda, 2008). Um sério problema para a atividade sericícola é a incidência de doenças nos barracões de criação de Bombyx mori, L., 1758 (Lepidoptera:Bombycidae), sendo as de etiologia viral as maiores responsáveis por perdas na produção, em especial os vírus entomopatogênicos da família Baculoviridae. Os baculovírus atualmente estão subdivididos dois gêneros, o Granulovirus (GV) e o Nucleopolyhedrovirus (NPV) (Brancalhão, 2002). O Nucleopolyhedrovirus, possui um DNA circular de dupla fita, associado com proteínas do capsídeo, formando o nucleocapsídeo (Brancalhão et al., 2009). Este é envolto por um envelope lipoprotéico e todo o conteúdo viral permanece no interior do poliedro viral, ou corpo de oclusão, formado por poliedrina, conferindo proteção aos vírions contra a sua desativação em ambiente desfavorável (Torquato et al, 2006b). Existem dois fenótipos virais distintos de nucleocapsídeos, os PDVs (polyhedra-derived vírus) e os BVs (budded vírus), que desempenham diferentes papeis no ciclo infeccioso do vírus. Os PDVs, são os poliedros com o envelope lipoprotéico sintetizado “de novo”no núcleo celular hospedeiro, responsável pela infecção primária ou horizontal de inseto para Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. inseto, já os BVs, brotam da membrana plasmática hospedeira para o meio extracelular, sendo responsáveis pela infecção secundária ou sistêmica da doença no corpo do inseto (Potrich et al., 2007). No estágio larval, B. mori é particularmente susceptível ao NPV, e a infecção ocorre principalmente por via oral, pela ingestão de alimento contaminado com poliedros virais (Ribeiro et al., 2009b). O canal alimentar em lagartas de B. mori apresenta-se morfologicamente dividido em intestinos anterior, médio e posterior, e suas transições cárdia e piloro. Histologicamente, todas as regiões do intestino são formadas por uma camada de células epiteliais sobre uma lâmina basal, e uma face luminal revestida por uma estrutura laminar, a íntima, que confere proteção (Chapman, 1998). O NPV é poliorganotrófico e em lagartas de B. mori já foram detectados vários tecidos alvos (Ribeiro et al., 2009a), no entanto até o momento não eixtem relatos na liteatura sobre a susceptibilidade do intestino anterior. Desta forma o objetivo deste trabalho foi o de analisar a susceptibilidade das células do intestino anterior de lagartas híbridas de B. mori frente ao BmNPV. Materiais e métodos Após a ecdise, 50 lagartas híbridas de B. mori de 5º estádio foram alimentadas com discos foliares de amoreira (Morus sp.), pulverizados com 10 µL da suspensão viral de BmNPV a uma concentração de 8 x 10 6 COPs/ mL (COPs= corpos de oclusão poliédricos por mililitro), e outras 50 lagartas controle alimentadas com discos foliares contendo água filtrada. Durante o processo as lagartas permaneceram confinadas individualmente em copos descartáveis e ao final da alimentação, as mesmas foram transferidas para caixas identificadas, em sala climatizada, recebendo folhas de amoreira isentas de BmNPV, até o final do experimento. Paralelamente, foi realizada a análise da sintomatologia, como parâmetro adicional para confirmação da infecção pelo vírus. Na preparação para a microscopia de luz, do 1º ao 9º dia pósinoculação (dpi), com intervalos de 24 horas, as lagartas inoculadas foram aleatoriamente selecionadas, anestesiadas com éter etílico, e dissecadas. O intestino foi exposto e a região anterior com a porção inicial do intestino médio foram retirado e fixados em DuBosq Brasil (Beçak; Paulete, 1976), por 24 horas, e após este período, as regiões intestinais prosseguiram as etapas histológicas convencionais (Brancalhão et al., 2002). Cortes histológicos seqüenciais, com 7 µm, obtidos em micrótomo Olympus CUT4055, foram corados pela técnica de coloração HE, para a análise geral do epitélio (Junqueira; Carneiro, 1983), e a técnica de Azan modificada para corpos de oclusão virais (Hamm, 1966), para a análise do susceptibilidade. A análise do laminário foi realizada e documentada em fotomicroscópio Olympus BX60. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Resultados e Discussão As análises sintomatológicas das lagartas híbridas de B. mori no 5º estádio inoculadas com o BmNPV, demonstraram uma infecção clássica pelo Nucleopolyhedrovirus. As primeiras alterações metabólicas foram a diminuição de apetite e lentidão dos movimentos, observados entre o 3º e 4º dpi, e posteriormente a alteração na coloração do tegumento, de branco para amarelo esbranquiçado, no 5º e 6º dpi (BRANCALHÃO et al., 2002). As lagartas demonstraram ainda sinais de geotropismo negativo, como o observado por Torquato et al., (2006a). No final da infecção, do 7º ao 9º, foram observadas rupturas no tegumento e extravasamento de hemolinfa, de aparência leitosa, devido a lise do tecido gorduroso e aos poliedros virais, ocasionando a morte do inseto (BRANCALHÃO, et al., 2002; BRANCALHÃO; RIBEIRO, 2003). As análises histopatológicas e citopatológicas realizadas no epitélio do intestino anterior de B. mori inoculadas pelo BmNPV, mostraram inexistência de poliedros virais no núcleo das células que formam as regiões do intestino anterior, sendo que as células permaneceram intactas e sem alterações em todos os tempos analisados. Já os tecidos circunvizinhos ao intestino anterior, como o tecido gorduroso e traquéias, apresentaram todos os sintomas da infecção descritos na literatura (BRANCALHÃO et al., 2002), confiramando a virulência do inoculo. A infecção nestas células é caracterizada inicialmente pela presença do viroplasma e hipertrofia nuclear e na fase mais avançada da replicação viral, ocorre o rompimento da membrana nuclear, a citólise celular e a consequente liberação dos poliedros no corpo do inseto (RAHMAN; GOPINATHAN, 2004). Conclusões Em conclusão, este estudo confirmou a virulência do isolado geográfico do BmNPV, pois as lagartas inoculadas manifestaram a doença, e evidenciou que as células do intestino anterior das lagartas híbridas de B. mori não são susceptíveis a infecção viral pelo BmNPV. Referências Abrasseda – Associação Brasileira de Fiações de Seda. Disponível em: (<http://www.youblisher.com/p/16902-ABRASSEDA-2008/>). Acesso em: 23 jul. 2010. Beçak, W.; Paulete J. 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