Curso de Antropologia da Política “Antropologia da Moral e das Moralidades” 2015 PPGAS/UFSCar Prof. Jorge Mattar Villela Ementa: Desde há muitas décadas os investimentos da antropologia têm-se deparado com um dilema incontornável devido ao esquema próprio dessa atividade do conhecimento. Ciência híbrida, a antropologia propõe-se colocar diante de seus objetos de pesquisa impondo às suas e aos seus praticantes a condição de tradutores, ou intérpretes, ou iniciados, ou neófitos das vidas, das sociedades ou das culturas alheias. Condição básica da pesquisa, como princípio de método, antropólogas e antropólogos esforçam-se em liberar-se de diversos princípios que presidem as suas vidas corriqueiras para imergirem nas de seus hóspedes. Encontram-se aqui algumas das dificuldades da pesquisa: os princípios morais e os princípios éticos de quem pesquisa, coleta e redige textos antropológicos, as etnografias em muitos casos chocam-se com os de quem os recebem e apresentam os seus modos de viver, agir de pensar. Em diversas oportunidades as pesquisas de campo e as etnografias deparam-se com desafios morais. Quando, e eis aqui o principal objetivo teórico e prático deste curso, os princípios morais dos anfitriões pesquisados contrapõem-se aos dos hóspedes a escrita etnográfica esbarra em dilemas que são simultaneamente teóricos, metodológicos, éticos e morais. Diante desse quadro, duas grandes opções se têm oferecido: a opção pelo relativismo cultural, a opção pelo universalismo. Esse debate, essas duas alternativas insuficientes, revitalizaram as discussões acerca da moral e da moralidade em antropologia no meado da década de 1995. Esse curso visa, portanto, interpelar antropologicamente os impasses morais de uma possível antropologia da moral e das moralidades. Esse objetivo pretende-se atingir por meio da leitura de 3 grupos de textos. O primeiro módulo será dedicado às leituras de alguns pensadores que tanto forneceram as bases alternativas para pensar a moral e a ética quanto abriram as possibilidades de escapar, em certos casos mesmo antes de o dilema se apresentar, às alternativas do relativismo e do universalismo. No segundo módulo 1 veremos os textos meta-antropológicos voltados para os problemas teóricos e metodológicos da antropologia da moral e das moralidades produzidos a partir da década de 1990 até os dias atuais. Finalmente, no terceiro módulo, veremos como alguns antropólogos e antropólogas lidaram com o problema de escrever etnografias quando impasses graves se lhes impuseram. Pretende-se dar conta, sem assim, de temas complexos como o que fazer quando moralidades pretensamente locais chocam-se com as que consideramos a moral universalista, aquela que tem sido permanentemente inventada para nós desde há 250 ou 300 anos. Módulo I Primeira Sessão 12/03 Apresentação do curso. Discussão do funcionamento, dos textos e das datas. Segunda Sessão 19/03 Durkheim, E. 1920 [1917]. “Introduction à la Morale”. Revue Philosophique, 89 Nietzsche. F. W, 1913 [1888] La Généalogie de la Morale. prólogo e primeira dissertação. Paris, Mercure de France. Edição alternativa em português Ed. Brasiliense. Terceira Sessão 26/03 Foucault, M. 1984. História da Sexualidade II. O uso dos prazeres. Introdução e capítulo 1. ________ “L’usage des Plaisirs et Techniques de Soi”. 1994 [1983] In: Dits et Écrits IV. Paris, Gallimard. ________ “Les Techniques de Soi”. 1994 [1985]. In: Dits e Écrits IV. Paris, Gallimard. Quarta Sessão 09/04 Jullien, François 2001 [1995]. Fundar a Moral. Diálogo de Mêncio com um filósofo das Luzes. São Paulo: Discurso Editorial. Capítulos 1 a 10. Módulo II Quinta Sessão 16/04 Scheper-Hugues, N. 1995. “The Primacy of the Ethical: Proposition for a Militant Anthropology”. Current Anthropology. Vol 36, n.3. pp. 409-440. D’Andrade, R. “Moral Models in Anthropology”. Current Anthropology. Vol. 36, n3. pp. 399408. Sexta Sessão 23/04 Hollow, S. 1997, “Introduction”. In: The Ethnography of Moralities. Howell, S. (org.). Londres: Routledge. 2 Heintz, M. 2009 “Introduction”. In: The Anthropology of Moralities. Heintz, M. (org.). Oxford: Berghahn Books. Fassin, D. 2012 “Introduction”. In: A Companion to Moral Anthropology. Oxford: WilleyBlackwell. Sétima Sessão 30/04 Goodale, M. 2009 “Between Facts and Norms: towards an Anthropology of ethical practice”. In: The Anthropology of Moralities Fassin, D. 2007. “Beyond Good and Evil?: questioning the anthropological discomform with morals”. Anthropological Theory. Herzfeld, M. 2005 [1997] Cultural Intimacy. Social poetics in the Natio-State. Londres: Routledge. (alternativa tradução: Intimidade Cultural. 2008. Lisboa: Edições 70.) Oitava Sessão 07/05 Zigon, J. 2007. “Moral Breakdown and the ethical demand. A theoretical framework and the ethical demand”. Anthropological Theory, 7,2 Laidlaw, J. 2002. “For an Anthropology of Ethics and Freedom”. JRAI, N.S 8. Faubion, J. 2001. “Toward an Anthropology of Ethics: Foucault and the pedagogies of autopoiesis”. Representations 74, 1. Módulo III Nona Sessão 14/05 Biondi, K. e Adalton M. 2010. “Memória e Historicidade em Dois ‘Comandos’ Prisionais”. Lua Nova, 79. Marques, A. C. 2002. Intrigas e Questões. Tramas sociais e brigas de famílias no sertão de Pernambuco. Rio de Janeiro: Relume Dumará. cap. 5. Décima Sessão 21/05 Strathern, M. 1997. “Double Standards”. In: The Ethnographies of Moralities. Abu-Lughod, L. 2013. Do Muslim Women Need Saving? Cambridge: Harvard University Press. cap. a definir Ferraz de Lima, J. 2013. Mulher Fiel. As famílias das mulheres dos presos relacionados ao Primeiro Comando da Capital. Diss. Mestrado PPGAS-UFSCar. cap. 1. Décima Primeira Sessão 28/05 Humphrey, C. 1997. “Exemplars and Rules: aspects of the discurse of moralities in Mongólia”. In: The Ethnographies of Moralities. Robbins, J. 2007. “Between Reproduction and Freedom: morality, value, and radical change”. Ethnos, 72,3. Décima Segunda Sessão 11/06 Gregory, Chris 2012. “On Money debt and morality: some reflections on the contribution of economic anthropology”. High, 2008. “Welth and Envy in the Mongolian Gold Mines”. LSE Research Online. 27,3. 3