Controle da temperatura de operação em células a combustível tipo Pem (membrana eletrolítica polimérica) David D. Pereira, Luis A. M. Riascos Universidade Federal do ABC Neste trabalho é proposto um sistema de controle com base na temperatura limite de operação para PEMFCs (polymer electrolyte membrane fuel cells – células a combustível tipo membrana eletrolítica polimérica). Entendese como temperatura limite de operação a máxima temperatura na qual a célula pode operar sem danificar-se, e esta temperatura é obtida a partir do modelo matemático da célula a combustível. A vantagem do modelo é o incremento da tensão de saída da pilha, aumentando assim a eficiência da mesma. O modelo foi simulado no software Matlab e se mostrou estável e consistente sob diferentes condições de operação. Palavras-chave – Células a combustível, fontes de energia, sistemas de controle, temperatura de operação I. INTRODUÇÃO A crescente preocupação com o efeito estufa, poluição sonora e escassez de combustíveis fósseis, entre outros, faz aumentar a cada dia a demanda por fontes de energia livres de poluição. Na faixa de potência entre 0 – 200 kW as células a combustível do tipo Pem são as melhores candidatas. Estas células operam a baixas temperaturas, o que permite rápida inicialização, além de apresentar alta densidade de carga, alta eficiência e poluição zero. Infelizmente, seu desempenho, estabilidade, confiabilidade e custo, hoje em dia, ainda não é suficiente para substituir as tradicionais fontes de energia para aplicações móveis e estacionárias, e, portanto se fazem necessárias pesquisas para baixar o custo e aumentar a eficiência e estabilidade desses equipamentos. Para projetar e operar uma célula a combustível é preciso entender sua dinâmica. Além disso, um sistema de controle se faz necessário para garantir que a umidade relativa e temperatura de operação estejam dentro dos limites prescritos, evitando assim danos às peças componentes da pilha. Neste trabalho, é apresentado uma técnica de controle baseada na temperatura limite de operação, que é a máxima temperatura segura na qual uma célula a combustível pode operar. Células a combustível são aparelhos que aliam as melhores qualidades dos motores a combustão e baterias: tais como os motores podem ser supridas de combustível (e, portanto, têm maior autonomia), e tais como as baterias fornecem energia elétrica sem poluição química e sonora e apresentam maior eficiência. O combustível (hidrogênio) é suprido em um eletrodo poroso (o ânodo), onde se espalha até alcançar a região catalítica do ânodo, separando-se em prótons e elétrons. Os prótons fluem por um eletrólito (a membrana polimérica) enquanto os elétrons passam por um circuito elétrico externo, gerando energia elétrica. No outro lado da célula, oxigênio é espalhado pelo cátodo e alcança a região catalítica. Nesta região, prótons, elétrons e oxigênio reagem, formando apenas água e calor residual como subprodutos. II. MODELAGEM MATEMÁTICA Diversos modelos matemáticos para PEMFCs podem ser encontrados na literatura [1, 2, 3, 4]. Basicamente a modelagem matemática é dividida em modelagem eletroquímica (que determina a voltagem de saída da célula) e em modelagem termodinâmica (que estuda a umidade relativa e temperatura de operação da célula). 1) Modelagem eletroquímica A voltagem de saída de uma única célula é definida como o resultado da seguinte expressão [1]: 𝑉𝐹𝐶 = 𝐸𝑁𝑒𝑟𝑛𝑠𝑡 − 𝑉𝑎𝑐𝑡 − 𝑉𝑜ℎ𝑚𝑖𝑐 − 𝑉𝑐𝑜𝑛 (1) ENernst representa a tensão reversível de circuito aberto: 𝐸𝑁𝑒𝑟𝑛𝑠𝑡 = 1,229 − 0,85 ∙ 𝑇 − 298,15 + 4,3 ∙ 10−5 ∙ 𝑇 ∙ 1 ln 𝑃𝐻2 + ∙ ln 𝑃𝑂2 (2) 2 onde PH2 e PO2 são as pressões do hidrogênio e oxigênio, respectivamente, e T (K) é a temperatura de operação. Vact é a queda de tensão devida à ativação dos eletrodos: 𝑉𝑎𝑐𝑡 = − 𝜉1 + 𝜉2 ∙ 𝑇 + 𝜉3 ∙ 𝑇 ∙ ln 𝑐𝑂2 + 𝜉4 ∙ 𝑇 ∙ ln 𝐼𝐹𝐶 (3) onde i (i = 1...4) são coeficientes específicos para cada tipo de célula, IFC (A) é a corrente elétrica e cO2 (atm) é a concentração de oxigênio. Vohmic é a queda de tensão associada à condução de prótons pelo eletrólito e elétrons pela resistência interna: 𝑉𝑜ℎ𝑚𝑖𝑐 = 𝐼𝐹𝐶 ∙ 𝑅𝑀 + 𝑅𝐶 (4) onde RC e RM () são, respectivamente, as resistências ao fluxo de elétrons e à transferência de prótons pela membrana. Vcon é a queda de tensão resultante dos efeitos de transporte de massa, que afeta a concentração dos gases reagentes: 𝑉𝑜ℎ𝑚𝑖𝑐 = −𝐵 ∙ ln 1 − 𝐽 𝐽 𝑚𝑎𝑥 𝑅𝑀 + 𝑅𝐶 (5) onde B (V) é uma constante que depende de cada tipo de célula, Jmax é a máxima densidade de corrente elétrica e J é a densidade de corrente produzida pela célula. Fig. 1 ilustra a curva de polarização de uma PEMFC para diferentes temperaturas aplicando a modelagem acima. Os parâmetros de uma célula a combustível são apresentados na Tabela I. Considerando uma pilha composta por várias células, a tensão total de saída pode ser representada por VS=n·VFC, onde n é o número de células que compõem a pilha. reação química e calor removido. Três formas de remoção de calor são consideradas: a remoção de calor pelo ar de reação, pelo sistema de refrigeração e por trocas de calor com o ambiente [4]. Como pode ser observado na figura 1, a temperatura influencia na tensão de saída da célula: quanto maior for a temperatura de operação, maior será a tensão de saída. TABELA I PARÂMETROS Fig. 1 – Curva de polarização 2) Modelagem termodinâmica A umidade relativa é calculada de acordo com a seguinte expressão: 𝑅𝐻𝑜𝑢𝑡 = 𝑃𝑤 𝑖𝑛 +𝑃𝑤 𝑔𝑒𝑛 𝑃 𝑠𝑎𝑡 −𝑜𝑢𝑡 (6) onde Pwin é a pressão parcial da água do ar de entrada, Pwgen é a pressão parcial da água gerada na reação química e Psat-out é a pressão de saturação do ar de saída. A relação estequiométrica necessária para manter a umidade relativa desejada é calculada de acordo com a seguinte expressão [2,3]: 𝜆= 42,1∙𝑃 𝑎𝑖𝑟 𝑅𝐻 𝑑𝑒𝑠 ∙𝑃 𝑠𝑎𝑡 −𝑜𝑢𝑡 −𝑃𝑤 𝑖𝑛 − 0,188 (7) onde Pair é a pressão do ar e RHdes é a umidade relativa de saída desejada, mantida entre 80 % e 100 %. Se a umidade relativa do ar de saída estiver abaixo do limite, a membrana pode ressecar-se, diminuindo drasticamente a condutividade do eletrólito; se estiver acima desse limite, os eletrodos podem inundar-se, dificultando a passagem dos gases reagentes [2, 3]. A pressão de saturação é calculada como segue [4]: 𝑃𝑠𝑎𝑡 = 0,01751 + 0,016786 ∙ 𝑒 𝑇 23,55 (8) onde Psat é calculada em bar e T é dada em ºC. A variação da temperatura é calculada de acordo com a seguinte equação diferencial [1]: 𝑑𝑇 𝑑𝑡 = ∆𝑄 𝑀∙𝐶𝑠 (9) onde M (kg) é a massa total da pilha, Cs (J/kg K) é a capacidade térmica específica da pilha e ΔQ é a taxa de variação de calor (i.e. a diferença entre calor gerado na Parâmetro N A L 𝑃𝑂2 𝑃𝐻2 𝑅𝐶 B ξ1 ξ2 ξ3 ξ4 Ψ Jn Jmax I. Valor 4 62,5 cm² 0,025 cm 0,2095 atm 1,4762 atm 0,003 Ω 0,015 V -0,948 0,00286 + 0,0002 ln 𝐴 + 4,3 ∙ 10−5 ln 𝑐𝐻2 7,22 ∙ 10−5 −1,06153 ∙ 10−4 23 0,022 A/cm² 0,672 A/cm² T EMPERATURA ÓTIMA DE OPERAÇÃO A temperatura ótima de operação é a maior temperatura na qual uma PEMFC pode operar preservando umidade relativa de saída e mínima relação estequiométrica recomendadas. Combinando as equações (7) e (8), obtemos [4]: 𝑇𝑜𝑝𝑡𝑖𝑚𝑎𝑙 = 96,25 + 23,55 ∙ ln 1 𝑅𝐻 𝑑𝑒𝑠 ∙ 0,421 ∙𝑃 𝑎𝑖𝑟 𝜆+0,188 + 𝑃𝑤 𝑖𝑛 + 0,01751 (10) A figura 2 ilustra a temperatura ótima em função da relação estequiométrica e da umidade relativa de saída para temperatura ambiente de 25 ºC e umidade relativa ambiente de 50 %. Observe que, quanto maior a umidade relativa de saída, e quanto menor a estequiometria, maior será a temperatura de saída. Foi testado, com base na equação (10), um controlador PI (proportional-integral) para células a combustível. As figuras 3 e 4 mostra a evolução da temperatura em dois casos distintos: a presença ou não de umidificador. Na ausência de um umidificador, as condições de entrada são as condições ambientes, e, portanto, podem ser consideradas constantes. Na presença Fig. 2 – Toptimum em função da estequiometria e umidade relativa de um umidificador, as condições de entrada não podem ser consideradas constantes pois as condições de entrada são influenciadas pelo ar de saída . A célula opera mais eficientemente com umidificador, mas em aplicações portáteis o peso e tamanho extra do umidificador devem ser evitados [1, 4]. O umidificador considerado é ilustrado na figura 5. Fig. 5 – Umidificador do ar de entrada para células a combustível Fig. 3 – Evolução da temperatura em PEMFC sem umidificador Fig. 4 – Evolução da temperatura em PEMFC com umidificador I. CONCLUSÃO A operação de uma célula a combustível requer um sistema de controle para garantir que as variáveis da célula permaneçam em limites de segurança, evitando assim panes nos componentes da pilha. Nesta pesquisa, foi testado um sistema de controle baseado na temperatura limite de operação, que é a máxima temperatura na qual a célula pode operar preservando uma mínima umidade relativa de saída e estequiometria. O sistema de controle proposto considera a umidade relativa de saída desejada e mínima relação estequiométrica como condições dadas; portanto, o ajuste da temperatura limite de operação depende basicamente das condições do ar de entrada. Em células a combustível sem umidificador, as condições do ar de entrada podem ser consideradas constantes, diferentemente de uma célula a combustível com umidificador, onde as condições do ar de entrada podem variar junto com as condições do ar de saída. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. J. Larminie and A. Dicks, Fuel Cell Systems Explained, John Wiley & Sons, New York _2003_. 2. L. A. M. Riascos, M. G. Simoes, and P. E. Miyagi, J. Power Sources, 165, 267_2007_. 3. L. A. M. Riascos, J. Power Sources, 184, 204 _2008_. 4. L. A. M. Riascos, and D. D. Pereira, The Electrochemical Society, 156 _2009_.