Danos De Pygiopachymerus lineola (Chevrolat, 1871) (Coleoptera: Chrysomelidae:Bruchinae) Em Sementes De Cássia-Grande (Cassia grandis L.) Murilo Correia Santos(1); Silvanne Silva Santos(2); Rozimar de Campos Pereira(3) (1) Estudante de Graduação; Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas; Campus Universitário; Cruz das Almas; [email protected]; (2) Técnica de Laboratório; Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; (3) Professora Adjunta; Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas; [email protected] RESUMO O presente trabalho objetivou identificar e caracterizar os danos ocasionados a sementes de Cassia grandis L.(cássia-grande) por um inseto granívoro. Com este intuito, de fevereiro a março de 2013 foram coletadas 100 vagens, diretamente de cinco árvores utilizadas na arborização da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, campus Cruz das Almas. Posteriormente, as vagens foram encaminhadas ao laboratório e depositadas em um balde de plástico com tampa. Foi quantificado o total de sementes sadias, chochas e predadas contido nas vagens. Em relação aos danos ocasionados pelo bruquídeo, das 100 vagens avaliadas no presente trabalho, foram encontradas 2.318 sementes, destas, 1438 sadias, 165 chocas e 715 atacadas por Pygiopachymerus lineola, correspondendo a 62,1%, 7,1 % e 30,8 %, respectivamente. O substrato das sementes que foi consumida pelo inseto foi obtido através da diferença de peso entre sementes sadias e predadas, pesadas em cinco lotes contendo 20 sementes cada. O bruquíneo foi responsável pelo consumo de 42,5% do substrato das sementes. Desta forma, o referido ataque pode comprometer a germinação das sementes de forma irreversível, afetando assim a produção de mudas. Palavras-chave: Entomologia florestal; Árvore ornamental; Insetos granívoros. INTRODUÇÃO A espécie Cassia grandis (Cássia-rosa) é uma árvore nativa, pertencente à família Leguminosae, subfamília Caesalpinioideae (Caesalpinaceae). É uma árvore de crescimento rápido, que atinge um porte de 15 a 20 metros de altura e 40 a 60 centímetros de diâmetro de tronco. É uma espécie extremamente ornamental, principalmente quando em flor, podendo ser utilizada no paisagismo em geral. Sua floração acontece a partir do final de agosto com a planta quase totalmente despida de sua folhagem, prolongando-se até novembro. Os frutos amadurecem em agosto e setembro, entretanto permanecem na árvore por mais alguns meses (LORENZI, 2002). O fruto é um legume lenhoso indeiscente, cilíndrico, irregular, medindo de 11 a 60 cm de comprimento e 34 a 50 mm de diâmetro, com duas suturas longitudinais e nervuras salientes, grossas, que ligam as suturas. Quebrando o pericarpo, aparecem os septos circulares que separam as sementes, e uma massa preta, pegajosa e adocicada. O fruto maduro é marrom-escuro externamente, e contém 9 a 50 sementes. A semente é dura, oval ou obovóide, aplainada de um lado e carinada do outro, IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [407] ISSN: 2318-6631 brilhante, castanho-amarelo-claro, com excisão no hilo, medindo até 1 cm de comprimento. A sua dispersão é autocórica, do tipo barocórica (por gravidade); zoocórica, notadamente por mamíferos terrestres, e hidrocórica, devido a sua ocorrência freqüente junto aos cursos de água. É uma espécie pioneira (PIÑA-RODRIGUES et al., 1997) a secundária inicial. As sementes da cassia grandis L. são de comportamento ortodoxo e mantêm a viabilidade por até 5 anos em ambiente não controlado, câmara fria, ou em câmara seca. As sementes dessa espécie devem ser semeadas a uma profundidade máxima de 2 cm (DUARTE, 1978). A repicagem, quando necessária, pode ser feita de duas a três semanas após a germinação. É uma espécie com potencial agroflorestal para zonas secas, principalmente na América Central, sendo recomendada para arborização de culturas perenes. Na Colômbia, é de uso comum em cercas vivas (DUARTE & MONTENEGRO, 1987). É uma espécie ornamental, principalmente pela beleza das flores róseas (que lembram as do pessegueiro), que aparecem logo após a queda total das folhas, dando à árvore um belíssimo aspecto (BRAGA, 1960). É usada em paisagismo e arborização urbana nas regiões tropicais das Américas, bem como em outros continentes (LORENZI, 1992). Possuem restrições quanto ao seu uso, pois não suportam bem as podas, sofrendo podridões e entrando em decadência cedo e o tamanho de suas vagens lenhosas, que chega a pesar quase 1 kg. A espécie está perfeitamente adaptada a todas as regiões quentes do País, onde já é muito empregada na arborização urbana de grandes avenidas (GUIA DE ARBORIZAÇÃO, 1988; SOARES, 1990; COSTA & HIGUCHI, 1999). Na cidade de Recife, PE, é uma das dez espécies mais usadas na arborização de ruas (BIONDI, 1985). Os bruquíneos dividem-se, quanto à realização da postura, em dois grupos: os que põem os ovos nos frutos da planta hospedeira, acarretando o desenvolvimento das larvas nas sementes desses frutos atacados, e os que põem os ovos diretamente sobre a semente, quando esta se encontra separada do respectivo fruto, conseqüentemente, as larvas que deles eclodem penetram na semente e se desenvolvem. Sob o ponto de vista econômico os bruquíneos são bastante importantes podendo desenvolver-se continuamente nas sementes armazenadas (LIMA, 1955). Em espécies ornamentais encontram-se associados insetos, parasitóides, predadores, bem como patógenos. Um dos componentes desse nicho é a família Bruchidae, que se constitui de insetos associados a sementes de várias espécies vegetais de importância agrícola, podendo afetar a germinação e a qualidade das sementes, principalmente quando armazenadas (CARVALHO; FIGUEIRA, 1999). Além de importantes para a agricultura, esses insetos granívoros também causam danos em frutos e sementes de espécies florestais, tanto nativas quanto exóticas, incluindo as utilizadas como ornamentais. Nascimento (2009), por exemplo, verificou o ataque em sementes de plantas de Albizzia lebbeck (Benth.) (albízia), utilizadas na arborização de ruas e avenidas de cidades do Estado do Rio de Janeiro, ocasionado pelas espécies Bruchidius sp., Merobruchus paquetae Kingsolver, 1980 (Coleoptera: Bruchidae) e Stator limbatus (Horn, 1873) (Coleoptera: Chrysomelidae: Bruchinae). Na maioria das vezes, práticas inadequadas na poda de espécies arbóreas em vias públicas fazem com que estas sofram estresse e tornem-se mais susceptíveis a ocorrência de pragas e doenças. Diante do exposto, o presente estudo objetivou identificar e quantificar os danos da espécie responsável pelo ataque a sementes de Cassia grandis L. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado através da coleta de frutos em árvores de Cassia grandis L., de diferentes idades pertencentes a arborização da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, campus Cruz das Almas, latitude sul de 12º 40’ 19” e longitude oeste de 39º 06’ 22”, distante da capital baiana, Salvador, aproximadamente 146 km por rodovia (BR 324, BR 101 e BA 420). Nos meses de fevereiro e março de 2013, foram coletadas 100 vagens de cinco árvores de Cassia grandis L., sendo diretamente das árvores com auxilio do podão. IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [408] ISSN: 2318-6631 Depois de realizadas as coletas, os frutos foram encaminhados até o Laboratório de Entomologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde se procedeu a avaliação de dano. Para tanto, as vagens foram acondicionadas em um balde plástico com tampa. A partir do total de sementes encontradas nas vagens (N), foi verificada a percentagem (%) de sementes sadias (Ss), chocas (Sc) e sementes predadas (Sp) pelo inseto granívoro. Para o cálculo da porcentagem utilizou-se a seguinte equação: %= (Ss,Sc,Sp x 100)/N O conteúdo (massa) da semente consumida pelo inseto foi obtido pela diferença de peso (em gramas) entre sementes sadias e sementes predadas. Para tanto, as sementes sadias e predadas foram separadas em cinco lotes contendo 20 unidades cada, e pesadas em balança eletrônica de precisão, marca Shimadzu, modelo AUY 220. RESULTADOS E DISCUSSÃO A espécie encontrada predando sementes de cássia-grande, foi identificada como Pygiopachymerus lineola (Chevrolat, 1871) pertencente a ordem Coleoptera, família Chrysomelidae, subfamília Bruchinae (Figura 1). Figura 1 - Adulto de Pygiopachymerus lineola (Chevrolat, 1871) (Coleoptera: Chrysomelidae: Bruchinae), encontrado atacando sementes de Cassia grandis L. (cássia-grande). em Cruz das Almas, Ba. Fevereiro e Março de 2013. Pygiopachymerus lineola (Chevrolat, 1871) (Coleoptera: Chrysomelidae: Bruchinae), possui a característica de se desenvolver no interior das sementes, e emergir após atingir o estágio adulto. Em um estudo realizado por Ribeiro-Costa & Costa (2002), sobre a postura de Pygiopachymerus lineola em Cassia leptophylla, as autoras verificaram que os ovos são depositados pela fêmea sobre as vagens e a postura consiste de três ou mais ovos, distribuídos de forma aleatória na superfície da vagem, sendo observadas em alguns casos, posturas em áreas com o tegumento ligeiramente danificado. As fêmeas depositam seus ovos sobre as vagens, sendo distribuídas de forma aleatória na superfície da vagem (Figura 2). IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [409] ISSN: 2318-6631 Figura 2 - Postura de Pygiopachymerus lineola em frutos de Cassia grandis L. Este bruquídeo já foi registrado predando sementes de diversas espécies arbóreas, também pertencentes ao gênero Cassia e utilizadas como ornamentais. Quanto aos danos ocasionados pelo bruquídeo, das 100 vagens avaliadas no presente trabalho, foram encontradas 2.318 sementes, destas, 1438 sadias, 165 chocas e 715 atacadas por Pygiopachymerus lineola, correspondendo a 62,1%, 7,1 % e 30,8 %, respectivamente. A perda decorrente do ataque apresentou-se menos severa que as verificadas por Ferraz e Carvalho (2001), que em seu trabalho, realizado também com Pygiopachymerus lineola em sementes de Cassia fistula, encontraram 62,8% de sementes sadias, 32,2% de sementes atacadas e 5,0% de sementes chocas. O peso médio das 100 sementes sadias foi de 9,661g e 5,552g de sementes predadas. Sendo assim, em média 4,109g de substrato foi consumido, correspondendo a 42,5% de massa de semente consumida. Oliveira & Costa (2009) para sementes de A. mearnsii atacadas por S. limbatus verificaram um consumo de 39,6%. As larvas consumiram os cotilédones e a testa das sementes da cássia-grande (Figura 3), que podem vim a comprometer na germinação. IV CONEFLOR – III SEEFLOR/ Vitória da Conquista (BA), 25 a 28 de Novembro de 2013. - Resumo Expandido [410] ISSN: 2318-6631 Figura 3 - Semente de Cassia grandis L. (cássia-grande) sadia (A) e semente atacada (B) por Pygiopachymerus lineola (Chevrolat, 1871) (Coleoptera: Chrysomelidae: Bruchinae). Fevereiro e Março de 2013. CONCLUSÕES Os danos causados pelo ataque do bruquíneo identificado como Pygiopachymerus lineola, em sementes de Cássia grandis L., comprometem a viabilidade da semente, podendo afetar de forma negativa na germinação, comprometendo assim a produção de mudas via sexuada desta espécie. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIONDI, D. Diagnóstico da arborização de ruas da cidade do Recife. 1985. 167 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba. CARVALHO, A. G.; FIGUEIRA, L. K. Biologia de Pygiopachimerus lineola (Chevrolat, 1871) (Coleoptera: Bruchidae) em frutos de Cassia javanica L. (Leguminosae: Caesalpinioideae). 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