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“CENTROS” PROPOSTOS NOS SÉCULOS XX E XXI PARA O ESTUDO
DA TEOLOGIA BÍBLICA DO PRIMEIRO TESTAMENTO
MARCOS CARRAH JÚNIOR1
TARCISIO CAIXETA DE ARAUJO2
RESUMO
Muita literatura tem sido produzida, nos séculos XX e XXI, concernente à Teologia Bíblica do
Primeiro Testamento3. As argumentações teológicas precedentes procuram apresentar
possíveis “centros” para o estudo da Teologia Bíblica do Primeiro Testamento em tratados
teológicos de renomados eruditos para tal estudo. Verificou-se que o tema de um possível
“centro” teológico no Primeiro Testamento não é completamente satisfatório por não
compreender todos os livros desse Testamento. Dada à dificuldade de se encontrar um
“centro” para a compreensão do estudo da Teologia Bíblica do Primeiro Testamento, esboça-se
uma descrição das principais discussões levantadas de possíveis “centros” na Teologia Bíblica
do Primeiro Testamento nos séculos XX e XXI.
Palavras-chave: “Centro”, Teologia Bíblica, Primeiro Testamento.
ABSTRACT
A great number of literature has been produced in the twentieth and twenty-first century,
concerning the Biblical Theology of the Old Testament. The preceding theological arguments
have as proposal present several “centers” for the study of Biblical Theology of the Old
Testament in theological treatises of scholars renowned on this area of study. It was found that
the issue of a possible “center” in the Old Testament theology is not completely satisfactory
because it not include all the books of the Old Testament. Given the difficulty of finding a
“center” in the Old Testament for understanding the study of Biblical Theology of the Old
Testament, outlines is a description of the main discussions raised of possible “centers” in
Biblical Theology of the Old Testament in the last century and in the present century.
Keywords: “Center”, Biblical Theology, First Testament.
1
Aluno do 7º período do Curso de Graduação em Teologia na Faculdade Batista de Minas Gerais. Autor de
monografia defendida em julho de 2015, da qual obteve nota máxima. O artigo foi composto de parte da
monografia de conclusão de curso. [email protected].
2
Mestre em Teologia em Biblical Studies, pela Cardiff University (SWBC), Reino Unido, professor da Faculdade
Batista de Minas Gerais das disciplinas: Hebraico Bíblico, Antigo Testamento, Teologia Bíblica do Antigo
Testamento
e
Exegese.
Editor
da
revista
eletrônica
Davar
Polissêmica
da
FBMG.
[email protected]
3
Segundo Ralph L. Smith (2001, p. 62), “o termo Antigo Testamento tem sido rotulado de impróprio, anti-semita
e pejorativo”. Por isso, adotou-se, neste artigo, o termo Primeiro Testamento em lugar de Antigo Testamento.
1. INTRODUÇÃO
Será descrito, neste artigo, de forma resumida, os antecedentes e nascimento da
disciplina Teologia do Primeiro Testamento4, bem como a produção de novos tratados que
suscitam ou não um “centro” na plataforma canônica hebraica para o estudo da Teologia
Bíblica do Primeiro Testamento. Toma-se como literaturas basilares a Teologia do Antigo
Testamento: história, método e mensagem, reeditada em 2001 de Ralph L. Smith e a obra
Teologia do Antigo e Novo Testamento: questões básicas no debate atual, reeditada em 2012
de Gerhard F. Hasel. Faz-se necessário apontar os pressupostos do nascimento e importância
da disciplina Teologia Bíblica do Primeiro Testamento, para uma exposição das colaborações
sobre possíveis “centros” evocadas em obras renomadas nos séculos XX e XXI.
2. ANTECEDENTES E CONCEPÇÃO DA DISCIPLINA TEOLOGIA BÍBLICA
DO PRIMEIRO TESTAMENTO
O estudo da Teologia Bíblica tem sido proposto principalmente por cristãos e não tanto
pelos hebreus5, visto que estudiosos cristãos viam o cumprimento das promessas de Javé6 do
Primeiro Testamento em Jesus e na instituição da igreja como organismo. O hebreu não se
interessava em teologar sobre o Primeiro Testamento.
A teologia do Antigo Testamento é uma disciplina essencialmente cristã, não
por causa do uso do termo “Antigo Testamento” nem porque os cristãos são
mais aptos para sistematizar dados bíblicos ou para teologizar sobre eles, mas
porque Jesus via a si mesmo e a igreja primitiva também o via como o
cumprimento das esperanças e promessas veterotestamentárias. Uma vez que
Jesus fez uso teológico do Antigo Testamento para se referir a si mesmo, os
cristãos que o seguem têm usado o livro teologicamente. Por outro lado, os
4
Resumidamente a Teologia do Primeiro Testamento diferencia-se da Teologia do Segundo Testamento. A
Teologia do Primeiro Testamento estrutura-se apenas no Primeiro Testamento sem fazer diálogo com o Segundo
Testamento. Já no estudo da Teologia Bíblica do Primeiro e Segundo Testamentos há um diálogo entre ambos os
Testamentos. Por uma questão de revelação progressiva e histórica, tendo como ápice a vinda da segunda pessoa
da Trindade à terra, segundo concepção cristã, o “centro” teológico do Segundo Testamento é descrito sobre uma
plataforma canônica cristocêntrica.
5
O termo hebreu é o mesmo título atribuído ao judeu. Dada à perspectiva deste artigo, adota-se o termo hebreu.
Segundo R. Laird Harris (1998, p. 1072), o termo “é empregado no AT em referência a um grupo étnico
específico”.
6
Considerar-se-á como critério a simplificação do termo Javé, que vem do tetragrama hebraico hfwh:y (YHWH)
em respeito à própria epistemologia do nome do Eterno em hebraico, bem como em não manipulá-Lo pelo seu
próprio nome. Visto que não é um conceito substitutivo para Deus, porém uma chave hermenêutica em acessar o
precioso nome do Eterno, visto que não pode limitá-Lo pela escrita. Pois o nome de qualquer ser significa algo, é
a fama, o objetivo de sua existência. E com o objetivo de escapar de uma entificação, ou seja, fazer do Eterno um
entre tantos, preferiu-se adotar a transliteração simplificada para o português de seu tetragrama Javé, para que não
se comprometa a Sua transcendência. Como contribui Jean-Noël Aletti et all (2011, p. 35), “porque chamar
alguém pelo nome significa ter de certo modo algum poder sobre ele”.
2
judeus, que têm mostrado pouco interesse por teologia ao longo da história,
não têm escrito teologias da Bíblia hebraica (SMITH, 2001, p. 18).
Muitos eruditos cristãos apontam uma cristianização concernente à Teologia Bíblica do
Primeiro Testamento, ou uma sistematização cristológica com um olhar eclesiástico. A igreja
parte dos antecedentes históricos e promessas contidas no Primeiro Testamento para o
cumprimento dessas no Segundo7 Testamento e sua continuidade na história a partir do evento
Cristo. Porém, ao longo da história, levantaram-se eruditos que não tiveram apenas um olhar
cristológico concernente ao Primeiro Testamento, unilateral, de não apenas cristianizar todo o
Primeiro Testamento. Eruditos apontam para um equilíbrio e continuação histórica progressiva
das Escrituras, que teve como gêneses o Primeiro Testamento, sem centralizar normativamente
apenas na pessoa de Cristo.
Esforços foram sendo depositados para um equilíbrio no propósito de perceber uma
progressão da Revelação de Javé8 que amplia-se de forma orgânica. Para que ambos os
Testamentos venham se aliançar em que se possa fazer um movimento de ida e vinda
concomitantemente em continuidade, do Primeiro para o Segundo Testamento, e vice-versa,
não sendo unilateral em suas perspectivas e abordagens, como também respeitando-os em suas
construções que lhes são peculiares.
Jesus falou com autoridade, originalidade, novidade e liberdade ao lidar com
as escrituras do Antigo Testamento. Ele se colocou acima delas; não
considerava o Antigo Testamento completo ou a última palavra de Deus, mas
aceitava-o como as primeiras palavras de Deus. Jesus disse: “Não penseis que
vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”
(Mt 5.17) (SMITH, 2001, p. 23).
Tais prerrogativas apontam para o nascimento da Teologia no próprio texto bíblico, em
que grupos fizeram desses Testamentos usos teológicos, em extrair do próprio texto a Teologia
para uma interpretação exegética e hermenêutica. Assim, o interesse em fazer Teologia do
Primeiro Testamento não estaria exclusivamente atrelado às passagens mencionadas e
cumpridas no Segundo Testamento? Possivelmente não, apesar de eruditos do Segundo
Testamento usarem teologicamente o Primeiro Testamento para construir uma teologia
complementar e concernente àquela. Alguns têm recusado em não fundir as perspectivas,
acrescentando algo novo no processo da Revelação histórica e progressiva, bem como outros a
usaram forçosamente, numa falta de percepção ou pelo excesso dos escritos do Primeiro
Testamento no uso de alegorias, a saber:
7
Por critério de comparação em relação ao Primeiro Testamento, levantado por Ralph L. Smith (2001, p. 62),
adota-se, neste artigo, a terminologia Segundo Testamento em lugar de Novo Testamento.
8
Segundo Gerhard von Rad (2006, p. 16), Revelação seria que “Javé se revelou a seu povo – e, de um modo
especial, a cada geração – nos fatos históricos que se tornaram palavra e na palavra que se tornou histórica”.
3
Muitos antigos pais da igreja não mantiveram a perspectiva neotestamentária
do Antigo Testamento. Envolveram-se em amargas controvérsias com alguns
judeus e com grupos heréticos antigos. Usavam o Antigo Testamento para
defender sua fé e como uma fonte para seu ensino, mas ao fazê-lo recorriam
muitas vezes ao uso excessivo de alegoria e tipologia [...] Tais extremos na
interpretação do Antigo Testamento eram uma característica dos primeiros
séculos da igreja cristã (SMITH, 2001, p. 24).
Seria imprescindível a normatização da Teologia do Primeiro Testamento para um
contexto cristão? Seria o Primeiro Testamento fruto de interpretação tópica ou temática
pertinente aos cristãos? Tais questionamentos hodiernos, por um lado, apontam um equilíbrio
em respeitar os Testamentos, porém, por outro lado, muitas ponderações ao Primeiro
Testamento, no período dos pais da igreja, foram atribuídas como um receptáculo de mistérios
a serem desvendados por interpretações avulsas e até mesmo alegóricas, levando a extremos
tipológicos em que o texto é vitimado por colocações ou julgamentos desconexos e distantes
da época de seus primeiros ouvintes e que muitas vezes se chocava com aqueles que
interpretavam de maneira historiográfica e literária.
O mais agravante se deu no período Medieval, que ignorou o uso do Primeiro
Testamento, evitando a pesquisa e a iluminação de verdades bíblicas. Assim, seu uso era
restrito a poucas pessoas, pois temia-se o desvio imputado da igreja cristã9, com seus dogmas
como autoridade em detrimento do que se estaria circulando das Escrituras. Como corrobora
Ralph L. Smith (2001, p. 25), “o menor desvio de qualquer ensino da igreja naqueles dias
traria sobre a cabeça do inovador a condenação da igreja”.
No decorrer dos séculos, com o florescimento da Reforma Protestante, a formatação de
uma disciplina teológica que compreendesse o Primeiro Testamento viu-se de suma
importância, na delineação histórica, literária e gramatical, incentivando assim a pesquisa e
compreensão em si. Evidenciou-se, então, um encorajamento na busca de uma correta
interpretação numa perspectiva histórica, progressiva e gramatical da Revelação de Javé,
germinando, assim, a disciplina de Teologia Bíblica do Primeiro Testamento.
A construção de uma teologia em conformidade com toda a palavra divina tem
fomentado o anseio de estudiosos em torno de uma disciplina que a trate como tal. Assim
sendo, como disciplina acadêmica, a Teologia Bíblica do Primeiro Testamento remonta à Era
da Modernidade ou Razão, cujo período suscita purulações racionalistas de liberdade de
pensamento e teor crítico literário, redacional e da Teoria das fontes. Esse período é marcado
também pelo cientificismo-filosófico. Assim, afirma Ralph L. Smith (2001, p. 16), que “a
disciplina em sua forma moderna teve início no final da década de 1700 como tentativa de
9
Na Idade Média a igreja cristã era uma só, universal, oficial.
4
libertar o estudo teológico da Bíblia dos grilhões da teologia dogmática e de seu uso incorreto
da Bíblia para sustentar suas crenças”.
Essa libertação se dá quando se passou a adotar a Teologia do Primeiro Testamento
pelo método histórico-gramatical na sua interpretação. Tal método descritivo valoriza a
história e sua progressão linear. Elucubrando assim, na Era da Razão, uma disciplina de
Teologia Bíblica do Primeiro Testamento, desafiando os postulados tipológicos e “mitos”, até
então prefigurados à respeito de tal teologia, sustentado pela autoridade da igreja e Estado.
Tais asserções levaram eruditos a evocarem a pedra fundamental da disciplina em
1787. Segundo Smith (2001, p. 21), uma palestra de Johann Philipp Gabler na Universidade de
Altdorf faz a distinção da teologia dogmática para a bíblica, separando, enfim, as perspectivas
teológicas dos dois Testamentos de forma conceitual ou racional, demitizando as narrativas e
feitos contidas no Primeiro Testamento.
Para Gabler, a teologia dogmática é didática e normativa em caráter e ensina
o que um teólogo em particular decide acerca de uma matéria de acordo com
seu caráter, tempo, idade, lugar, seita ou escola. A teologia bíblica é histórica
e descritiva em caráter, transmitindo o que os escritores sagrados pensavam
acerca de assuntos sagrados (SMITH, 2001, p. 29).
Essa escolha aponta para uma ressignificação do Primeiro Testamento, adotando-se
classicamente um novo modo de interpretar, por meio do método histórico-gramatical,
essencial para os cristãos e hebreus. Estes se inseriram na construção de uma Teologia Bíblica
do Primeiro Testamento após a II Guerra Mundial, conforme Ralph L. Smith (2001, p. 59) que
“o relacionamento entre judeus e cristãos tem sido tema de uma enorme quantidade de escritos
e debates acalorados desde 1945”. Assim sendo, inspirou outros estudiosos a escreverem
teologias bíblicas que vieram a contribuir na propulsão de novos tratados na busca de um
“centro” teológico.
Como afirma Ralph L. Smith (2001, p. 86), “pelo uso do termo teologia entendemos
que o conteúdo do Antigo Testamento é tanto humano como divino”. Dessa forma, surgem
novos tratados para o estudo da Teologia Bíblica do Primeiro Testamento evocando ou não
possíveis “centros” na plataforma canônica majoritária do Primeiro Testamento de construção
e progressão teológica.
3. TRATADOS SOBRE O “CENTRO” NA TEOLOGIA BÍBLICA DO PRIMEIRO
TESTAMENTO
Muito se tem conjecturado sobre qual seria o “centro” na plataforma teológica no
Primeiro Testamento nos séculos XX e XXI. Tais abordagens, de certa forma, são de grande
5
importância e relevante para um bom entendimento do escopo do Primeiro Testamento. Para
tanto, a descrição desses novos tratados sobre o “centro” teológico, são de obras consagradas
no meio acadêmico, em que se tem acesso na língua portuguesa, fruto de traduções e reedições
nos dias atuais, a saber:
Há uma ampla diversidade de perspectivas representadas pelas várias
teologias, de modo que elas devem ser usadas com grande cautela. Algumas
teologias refletem uma perspectiva que rebaixa o significado ou a
fidedignidade de determinadas partes ou passagens do AT em favor de outras.
Outras respeitam cuidadosamente a univocidade das escrituras. Assim
mesmo, o reconhecimento desse tipo de preconceito não significa que as
teologias não sejam úteis (STUART, 2008, p. 173).
Achou-se relevante descrever os “centros” propostos de algumas teologias
concernentes ao Primeiro Testamento de autores renomados nos séculos XX e XXI, cujas
obras tiveram grande importância para o estudo teológico a respeito do “centro”. E ainda têm
significância e atualização nos dias atuais no estudo da Teologia Bíblica do Primeiro
Testamento. Como afirma Stuart (2008, p. 174), “não se deve presumir que as obras mais
recentes sejam automaticamente mais valiosas que as mais antigas [...] porque as teologias
diferem uma da outra”. Mediante tal situação, muito corrobora a assertiva de Gerhard Hasel
(2012, p. 160-161) que postula sobre um “centro” teológico no Primeiro Testamento,
Um único conceito, tema, motivo ou idéia da Escritura pode tornar-se um
centro que, por sua vez, funcionaria como princípio organizador para uma
espécie de estrutura sistemática de uma teologia do AT. Isso se faz com base
numa pressuposição tácita enraizada em premissas filosóficas que remontam
à teologia escolástica10 da época medieval.
A escolha sistemática na construção de uma teologia se enquadra muitas vezes na
disposição da fórmula Javé-ser humano-salvação, pressupondo o sustento de uma espécie de
denominador comum diante da diversidade do Primeiro Testamento como unidade uníssona
sistematizada por parte de alguns, bem como a negação a tal pressuposição por outros.
Fazendo assim, que ordeiramente se estenda de forma inteligível mediante um “centro”
proposto ou não.
Aqueles que querem sistematizar com base num determinado centro têm,
obviamente, de sobrepor tal centro aos diversos e múltiplos encontros entre
Deus e o ser humano ao longo de um período tão extenso e só conseguem
tratar adequadamente daquelas partes do rico testemunho bíblico que se
enquadram no arcabouço deste centro, seja qual for (HASEL, 2012, p. 164).
Mediante o exposto, tais especulações e embates puderam ser desenvolvidos por
grandes tratados teológicos nos séculos XX e XXI, em que se tem em língua portuguesa, na
Segundo Bengt Hagglund (1981, p. 139-140), “o termo escolástica refere-se à teologia que tomou forma nas
universidades ocidentais, principiando em meados do século XI, alcançando seu apogeu no século XIII, e
deteriorando na Baixa Idade Média, sendo finalmente destruída pelo humanismo e pela Reforma. O caráter
distintivo da escolástica foi seu emprego do método filosófico [...] o material teológico, também foi estudado de
acordo com métodos e formas de pensamento filosóficos. Desde o início, a lógica foi considerada ciência básica”.
10
6
busca e enquadramento de um possível “centro” como unidade basilar, ou sua própria negação
por parte de outros grandes autores. Diante disso, tais perspectivas se sobrepõem a diversos e
múltiplos “centros” ou plataformas teológicas propostas e que serão descritas a seguir.
3.1 “Centro” na perspectiva de Asa Routh Crabtree
Asa Routh Crabtree nasceu em Russell na Virgínia, Estados Unidos da América, em
1889, vindo a falecer em 1965. No Brasil, foi pastor e membro da Comissão de Revisão da
atual Sociedade Bíblica do Brasil. Em sua obra Teologia do Velho Testamento de 1980, Asa
Routh Crabtree debruça-se sobre a plataforma de seu tratado teológico evocando “a pessoa de
Javé e as experiências com Ele” como “centro” do Primeiro Testamento. Segundo Crabtree
(1980, p. 11), “o Velho Testamento é teocêntrico, no sentido de que todos os seus assuntos são
centralizados na natureza, nos propósitos e nas relações de Deus com a sua criação, com o
homem, e especialmente com o povo de Israel”. No entanto, parte do próprio Javé qualquer
ação e propósito desenvolvido pelo ser humano, a saber:
O princípio unificador desta literatura singular na história das religiões da
humanidade revela-se nas atividades do Senhor no espírito e na vida do povo
que tinha libertado, redimido e escolhido para representar o seu amor e a sua
graça entre as nações e os povos do mundo. De geração em geração os
escritores e pregadores transmitiram ao seu povo o conhecimento revelado do
caráter e das exigências éticas da justiça divina, sempre insistindo na
fidelidade de Israel no cumprimento das suas responsabilidades como o povo
escolhido do Senhor. Em todos os períodos da história, o único Deus, Criador
de todas as coisas e Governador da história, está sempre falando ao povo de
Israel (CRABTREE, 1980, p. 294).
Essa escolha aponta para as atividades divinas no percurso da história humana, de
forma soberana designando e revelando sua vontade ao Seu povo eleito. Diante disso, Crabtree
(1980, p. 23) afirma que “é esta interpretação profética das atividades de Deus na história de
Israel que produziu o Velho Testamento”. Tal assertiva da “pessoa de Javé” constrói uma
variedade de experiências dos hebreus com Javé atrelada às necessidades espirituais em cada
período da história humana, tendo a “pessoa de Javé” como seu eixo teológico. Tais
experiências foram vividas no próprio Êxodo e diásporas.
3.2 “Centro” na perspectiva de Claus Westermann
Claus Westermann nasceu em 1909 na Alemanha, vindo a falecer em 2000. Foi um
pastor que serviu no exército alemão no período nazista, com a função de tradutor na frente
russa. Em sua obra Theologiedes Alten Testaments in Grundzügen, de 1985, cujo título em
7
português é Os Fundamentos da Teologia do Antigo Testamento, reeditado em 2011, Claus
Westermann não evoca um “centro” na plataforma teológica basilar da estrutura do Primeiro
Testamento, como outros teólogos expuseram em seus tratados. Diz ele,
Nem se deverá cair no equívoco de dar preferência apriorística a um setor em
detrimento de outro, nem será feliz declarar determinado conceito como
sendo o mais essencial acima de todos os restantes, tais como Aliança,
Eleição ou Salvação, ou então inquirindo logo de início qual seja a verdade
central do Antigo Testamento. Acontece que o Novo Testamento possui seu
centro indiscutível na paixão, morte e ressurreição do Cristo, para o qual
convergem os evangelhos e do qual procedem as cartas apostólicas. Fugindo
o Antigo Testamento à semelhança estrutura, torna-se impraticável transferir
do Novo para o Antigo Testamento a questão da verdade central
(WESTERMANN, 2011, p. 15).
Para Claus Westermann, o Primeiro Testamento deveria ser visto como uma revelação
de Javé na história, cuja descrição se faz a partir da ação e os decretos de Javé como salvação,
bênçãos proferidas e condenações, bem como descreve a resposta humana aos atos, louvor e
lamento aos mandamentos e leis instauradas pelo próprio Javé à comunidade eleita. Assim,
Claus Westermann percebia o Primeiro Testamento a partir de um todo sobre o que se afirma
de Javé na extensão do Primeiro Testamento. Comenta ele:
Será, portanto, o próprio cânon do Antigo Testamento que indicará os
elementos específicos dos sucedidos deste mesmo Antigo Testamento.
Possuímos com isso um ponto de partida objetivo de uma Teologia do Antigo
Testamento independente de posições antecipadas sobre o que seja essencial e
indispensável em semelhante empresa. Ao perguntarmos o que o Antigo
Testamento afirma sobre Deus, a dita tripartição11 da Bíblia hebraica indicara
o caminho (WESTERMANN, 2011, p. 17).
A ênfase da tradição histórica e narrada é elencada a cada geração, tornando-se um
ponto importante e central para o hebreu e para o cristão no estudo da Teologia Bíblica do
Primeiro Testamento, na experiência do ser humano com Javé, como corrobora Smith (2001,
p. 57) que “tradição pode referir-se ao processo de transmissão assim como ao conteúdo do
material passado para frente”. Evoca-se então, hábitos ou costumes atrelados à fé na estrutura
da ética e relacionamento com Javé e o próximo a partir da narração histórica de todo Cânon12
do Primeiro Testamento, sem que houvesse um “centro” uníssono em sua extensão.
3.3 “Centro” na perspectiva de Eugene H. Merrill
Claus Westermann (2011, p. 16) descreve que “o Antigo Testamento tem sua origem e foi transmitido em
tríplice arranjo: Torá, Profetas e Escritos”.
12
Segundo Jean-Noël Aletti et all (2011, p. 21-22), “O termo cânon deriva do grego kanôn, que, por sua vez, é
tomado do hebraico qânêh, cujo primeiro significado, tanto em hebraico como em grego, é ‘cana, caule de cana,
junco’, e daí ‘vara, régua, norma’. Com este último significado, o termo cânon aparece no século IV de nossa era,
para designar, em ambiente cristão, a lista dos livros que faziam parte das Escrituras Sagradas”.
11
8
Eugene H. Merril nasceu em 1934, em Anson, nos Estados Unidos, é professor no
Dallas Theological Seminary de Primeiro Testamento e presidente da Sociedade Teológica
Evangélica. É considerado atualmente uma das maiores autoridades em estudos do Primeiro
Testamento. Em sua obra Everlasting dominion: A theology the Old Testament de 2006,
traduzida para o português como Teologia do Antigo Testamento, com publicação em 2009,
Eugene H. Merril sustenta o tema “soberania” de Javé como o “centro”, em cuja plataforma de
sua teologia é norteada pelas ponderações da Revelação e agir de Javé na ambiência tanto
espiritual quanto terrena:
A soberania de Deus é um importante tema da revelação do Antigo
Testamento. Na verdade, não é inexato considerá-la o principal tema da
revelação, o princípio prioritário do pensamento bíblico em torno do qual
tudo o mais gira. Qualquer percepção de Deus que lhe atribua algum outro
papel que não o de soberano sobre toda a criação resulta em dualismo
ontológico, no qual ele é co-igual ao universo material e/ou espiritual ou, no
mínimo, apresenta-o limitado em alguns aspectos de sua natureza e obra
(MERRIL, 2009, p. 616).
Essa escolha de Eugene H. Merrill se deu na percepção que o autor teve na forma como
Javé se revela a partir da narrativa da criação no livro de Gênesis e que se processa em todo o
Cânon do Primeiro Testamento, como governante de tudo que Ele criou e fez. Essa ponderação
temática de Merrill arrola-se numa plataforma de operação de Javé na história com seus
propósitos inevitáveis com a participação humana em gerenciar a Sua obra e representá-Lo a
indicar uma redenção e reconciliação.
3.4 “Centro” na perspectiva de Gerhard Hasel
Gerhard Hasel nasceu em 1935, vindo a falecer em 1994. Foi teólogo e professor
adventista do Primeiro Testamento. Em seu obra Old and New Testament Theology: Basic
issues in current debate, cuja tradução é Teologia do Antigo e Novo Testamento: Questões
básicas no debate atual, reeditada em 2012, Gerhard Hasel (2012, p. 166) posiciona-se “de que
o AT não tem um centro”, que não há um tema ou palavra-chave sistemática ou organizacional
na compreensão única da estrutura canônica do Primeiro Testamento, com base na fórmula
Deus-ser humano-salvação, porém, pode urgir um “centro” na própria descrição da fé
sustentada pela tradição no Primeiro Testamento da ação de Javé para com o mundo e a
humanidade.
Em nossa opinião, o AT é tão rico que não produz um centro para a
sistematização ou organização de uma teologia veterotestamentária. A outra
percepção é que pode haver um centro no AT que funcione como um aspecto
unificador apesar de sua riqueza e variedade, mas ele não presta a ser usado
9
como um princípio ou critério de organização ou sistematização para escrever
uma teologia do AT. Por uma questão de conveniência, este centro pode ser
chamado de ‘teológico’ (HASEL, 2012, p. 172).
Num segundo momento, Gerhard Hasel aponta um possível “centro” teológico baseado
no critério intrínseco revelado ou oculto ao Primeiro Testamento apontando para o próprio
“Javé”, em cuja plataforma teológica é traçado a partir de alguns posicionamentos da
multiplicidade de Sua auto revelação em ações e palavras vinculadas pela tradição,
Uma teologia veterotestamentária que reconhece Deus como o centro
dinâmico e unificador não é forçada a tornar este centro um princípio estático
de organização. Com Deus como centro dinâmico e unificador, o AT permite
que escritos ou blocos de escritos bíblicos falem por si mesmos na medida em
que suas teologias individuais têm condições de emergir [...] Uma teologia do
AT que reconhece Deus como o centro unificador e dinâmico oferece a
possibilidade de descrever as ricas e variadas teologias e de apresentar os
vários temas, motivos e idéias longitudinais [sic] (HASEL, 2012, p. 174-175).
Gerhard Hasel aponta “Javé” como o eixo principal de onde se estrutura sua teologia na
extensão do Primeiro Testamento, sustentada pela tradição, tendo complementariedade com o
Segundo Testamento. Assim sendo, o próprio autor aponta num segundo momento, uma
centralidade na “pessoa e ações de Javé” para ambos os Testamentos alavancada pela história
da tradição.
3.5 “Centro” na perspectiva de Gerhard von Rad
Gerhard von Rad nasceu em 1901 em Nuremberg, na Alemanha. Foi pastor em Baviera
e professor de assuntos teológicos do Primeiro Testamento. Em 1944 serviu ao exército
alemão durante o Regime Nazista, sendo responsável pelo alojamento dos soldados, mas logo
veio a ser prisioneiro do próprio Regime Nazista. Foi solto em 1949, vindo a falecer em 1971
em Heidelberg, Alemanha. A Teologia Bíblica do Primeiro Testamento estruturada por
Gerhard von Rad, em sua obra Theologie dês Alten Testaments de 1957, já se encontra
reeditada desde 2006 sob o título Teologia do Antigo Testamento, cujo desenvolvimento deuse numa ambiência de profundo antissemitismo, instaurada na II Guerra Mundial.
Von Rad foi um exímio crítico literário que evocou um esquema hermenêutico
interpretativo do Primeiro Testamento a partir de alguns temas relacionados à exposição
narrativa da tradição histórica do povo hebreu na Teologia Bíblica do Primeiro Testamento.
Tendo não apenas uma palavra-chave ou tema único na plataforma teológica majoritária, como
“centro” teológico no Primeiro Testamento, mas um conjunto de atos narrados historicamente
que acabaram formando sua teologia, como afirma Nelson Kilpp (In RAD, 2006, p. 19),
10
von Rad abdica da busca por um centro do Antigo Testamento por entender
que este representa os testemunhos de várias experiências da revelação divina
e que recontá-las é a maneira mais adequada de elaborar uma teologia do
Antigo Testamento. Por este motivo, a sua obra apresenta, em ambos os
volumes, uma teologia das tradições (por exemplo, as tradições do
Hexateuco, no 1º volume, e as tradições proféticas, no 2º volume).
Gerhard von Rad aponta os atos de Javé a partir dos credos contidos no Hexateuco 13 e
na promessa patriarcal nas narrativas históricas do povo hebreu como relevância ao
testemunho de fé no Primeiro Testamento. Assim, a história da salvação, as tradições
históricas e proféticas foram a plataforma que o norteou para esboçar sua teologia do Primeiro
Testamento. Segundo Smith (2001, p. 75), “von Rad alegou que o Hexateuco tem como centro
uma confissão primitiva de fé israelita, encontrada em Deuteronômio 26.5-9”. Esta passagem
bíblica, considerada como um credo pelo autor, recita o feito miraculoso de Javé e a aliança
entre seu povo, resumindo assim o Hexateuco. Ele afirma que,
O centro de gravidade das ações divinas sobressaiu então do conjunto das
narrativas de caráter mais épico e, com esta periodicidade, sobrelevaram-se os
relacionamentos teológicos mais precisos, ligando entre si as diversas épocas,
o que ainda não estava caracterizado nos sumários mais antigos. As etapas
mais marcantes no conjunto formam as alianças feitas por Javé [...] A
‘aliança’ era então uma relação jurídica e oferecia o máximo de garantias nas
relações entre as comunidades humanas (RAD, 2006, p. 129).
Gerhard von Rad coloca os credos no somatório do conjunto da Revelação para
confessar a fé dos hebreus em Javé, colocando-os numa situação integral de lembrança entre
ambas as partes envolvidas: Javé e o hebreu. Segundo von Rad (2006, p. 130), “esta lembrança
se encontra nos dois conjuntos de tradições totalmente distintos desde a origem, o da ‘aliança’
com os patriarcas e o da tradição do Sinai”, porém, parte de Javé a ação reveladora.
Gerhard von Rad não postula uma unilateralidade advinda de Javé, mas uma correlação
entre Javé e o ser humano no seu tratado teológico, concebendo a maneira relacional de Javé
com o mundo, Israel e todos os povos. Tais postulações partem do hebreu e a forma como
refletia sobre Javé e seus atos na história, estendido nos diversos conjuntos literários. Mais
tarde, von Rad admite Javé como possível “centro” do Primeiro Testamento.
3.6 “Centro” na perspectiva de Walter C. Kaiser Jr.
Walter C. Kaiser Jr. nasceu em 1933, nos Estados Unidos da América, vindo a tornarse professor e uma das grandes autoridades concernente ao estudo da Teologia do Primeiro
13
Segundo von Rad (2006, p. 132), os livros da Torah se compilam de Gênesis à Josué, estruturando assim um
Hexateuco em torno da aliança envolvendo observação da Lei e a promessa da realização da terra prometida,
como afirma “a aliança de Abraão e a de Moisés são postas em relação uma com a outra e com o conjunto do
desenrolar da história da salvação do Gênesis a Josué”.
11
Testamento e Arqueologia Bíblica. Em sua obra Toward an Old Testament Theology de 1978,
com tradução para o português na reedição de 1984, sob o título de Teologia do Antigo
Testamento, Walter C. Kaiser Jr. aponta a temática da “Promessa” como “centro” da Teologia
Bíblica do Primeiro Testamento. Logo em seu prólogo, Kaiser Jr. (1984, p. viii) afirma que
“gostaríamos, vigorosamente, de propor que o elemento da ‘promessa’ é aquele centro que
pode ser demonstrado em cada período do cânon”. Ou ainda, a partir:
De nenhum princípio como ‘vara de adivinhação abstrata’ por cima do texto
poderia se esperar como resultado tantos valiosos frutos teológicos. Somente
uma reivindicação que o próprio texto levantou poderia ter chamado nossa
atenção para semelhante constelação14 de temas e conteúdo interconexos
como se acha neste único plano de Deus – Sua promessa. O progresso dessa
doutrina pode ser medido e descrito historicamente. Além disso, incluirá seu
próprio padrão para uma norma permanente por meio da qual se pode julgar
aquele dia e todos os demais dias por uma vara de medida que reivindica ter
sido colocada pelo próprio Deus sobre o escritor das Escrituras e, ao mesmo
tempo, sobre todos os leitores subseqüentes [sic] (KAISER JR., 1984, p. 1516).
Walter C. Kaiser Jr. atrela-se ao termo “Promessa” na plataforma testamentária do
processo histórico de todas as épocas, na forma como Javé agia livremente na sua relação com
o ser humano, sendo importante na compreensão histórica da palavra divina para as posteriores
gerações. Essa escolha se estrutura numa teologia totalmente diacrônica15 vinculada ao
contexto antecedente e antigo do povo hebreu, que foi descrito e contido no Primeiro
Testamento, cujo registro bíblico encontra correlação com o registro da humanidade na
história.
3.7 “Centro” na perspectiva de Walther Eichrodt
Walther Eichrodt nasceu em 1890 na Alemanha, vindo a falecer em 1978. Foi professor
de Teologia na Universidade de Basiléia e que reacendeu o valor ao Primeiro Testamento, em
uma época de perseguições e acusações antissemitas, em que colocavam o valor do Primeiro
Testamento em juízo na ambiência da II Guerra Mundial. Nessa época, o partido nazista tinha
objetivos de atingir os hebreus ao extermínio e a destruição de seu livro sagrado. Ao mesmo
Walter C. Kaiser Jr. (1984, p. 14), concernente à palavra evocada “Promessa”, aponta que “o AT o conheceu
sob uma constelação de palavras tais como promessa, juramento, bênção, descanso e semente”. O teólogo em
questão opta pela “Promessa” como sendo o eixo na plataforma escriturística majoritária para o estudo da
Teologia Bíblica do Primeiro Testamento.
15
Segundo Ferdinand de Saussure (S/D, p. 107), é “a substituição de um elemento por outro no tempo”, ou seja,
diz respeito ao acompanhamento histórico dos processos de evolução da língua e sua diversidade no decorrer do
tempo, fazendo aproximações entre si pelo uso da fala. Esta faz as modificações para que entrem em uso de forma
sincrônica, ou estática. Esse paradigma diacrônico é tratado na sucessão do período histórico.
14
12
tempo em que atacavam o hebreu e suas Escrituras, desejavam-se exaltar a chamada raça
ariana e o nacionalismo do Estado alemão.
Em sua obra Theologie des Alten Testaments, de 1933, com reedição em 2004 para o
português, sob o título de Teologia do Antigo Testamento, Walther Eichrodt evoca um “centro”
estrutural e tendência básica teológica do Primeiro Testamento sustentando a relação do povo
com Javé, e vice-versa, pelo tema da “Aliança” ou “Pacto de Javé para com Israel” como
unidade bíblica do Primeiro Testamento e compreensão de sua estrutura. Como afirma
Eichrodt (2004, p. 23), “a aliança entre Yahweh e Israel é um elemento original em todas as
fontes, mesmo que elas se apresentem, em parte, de maneira muito fragmentada”. Esse tema
estava imensamente atrelado à fé do povo hebreu, como fundamento incomparável ou
contrastante às outras nações circunvizinhas ao Oriente Próximo, a saber:
Apesar de todas as objeções que nos fizeram, seguimos mantendo como
conceito central aquele da aliança. A partir deste conceito, explicamos a
unidade estrutural e a tendência básica permanente da mensagem do Antigo
Testamento. Pois nessa aliança se resume a convicção básica de Israel estar
em uma relação especial com Deus (EICHRODT, 2004, p. 9).
Essa escolha é logo identificada pelo índice de sua obra, arrolando quase todos os
títulos e subtítulos à palavra “Aliança”, apontando ainda, para uma continuidade que
desemboca no Segundo Testamento. Walther Eichrodt (2004, p. 12) afirma que “o Novo
Testamento, justamente no que é seu conteúdo central, nos remete ao testemunho de Deus na
antiga aliança”. Estrutura-se, assim, um diálogo bíblico evolutivo e relacional da religião
hebraica [judaísmo] e cristã apresentando a realidade divina em cada época entrelaçada e
embasada pela “Aliança”.
4. CONCLUSÃO
Procurou-se descrever a importância do nascimento da disciplina Teologia Bíblica do
Primeiro Testamento e as colaborações de autores renomados com seus tratados teológicos no
asteamento de um “centro” na plataforma teológica majoritária em que se estrutura o Primeiro
Testamento. No entanto, as conjecturas até aqui levantadas, ou proposições, muitas vezes não
contornam todos os livros desse Testamento. Ou não englobam adequadamente o Primeiro
Testamento de forma ampla e ainda instauram um posicionamento profilático, que precisam
ser refletidas, a formar um ponto de vista teológico compreensivo de toda perspectiva em torno
de um “centro” para o Primeiro Testamento.
Muitas colocações e questionamentos quanto a este assunto serão erigidos por parte
daqueles que estudam a Teologia Bíblica do Primeiro Testamento. Contudo, diante do que fora
13
exposto, será que um conceito isolado ou uma palavra-chave pode ser empregado como
unidade estrutural teológica do Primeiro Testamento? Assim, evoca-se a dificuldade de abarcar
em uma palavra-chave ou tema, um “centro” para todo o Primeiro Testamento devido aos
variados pontos de vistas ou tratados suscitados por teólogos e estudiosos no que concerne ao
Primeiro Testamento.
Esses estudiosos produziram inúmeros tratados, mas não há um conceito único em
unidade com os outros tratados, em que atravesse todos os livros do Primeiro Testamento, com
uma só plataforma que pudesse unir todas as lacunas em uma só expressão, tendo então,
fragmentações e desnorteantes dificuldades de juntá-los num só quadro.
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