A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA Bruna Caroline Petry1 Clarice Brutes Stadtlober2 RESUMO O presente artigo sobre a matemática na Educação Infantil no âmbito da pré-escola (4 – 6 anos) tem como objetivo compreender como se efetiva o ensino e a aprendizagem da Matemática no Espaço e Tempo da pré-escola. Buscou-se primeiramente esclarecer a importância dos espaços e dos tempos na Educação Infantil para a construção da socialização e da rotina das crianças, definindo os respectivos conceitos. Na sequência, foram demonstradas algumas possibilidades para ensinar Matemática, permitindo que se entenda a relevância do ensino desta disciplina para a vida da criança. E, por último, mostrou-se que o espaço e o tempo nas rotinas da Educação Infantil se relacionam com o ensino e a aprendizagem da Matemática. Conclui-se a partir dessa pesquisa bibliográfica, que o ensino e a aprendizagem da matemática podem ocorrer através da resolução de problemas que surgem nos jogos e brincadeiras em um espaço e tempo favorável a isso, sendo que o professor é o mediador dessas aprendizagens das crianças. PALAVRAS-CHAVE: Espaço. Tempo. Matemática. Educação Infantil. ABSTRACT This article about mathematics in kindergarten at the pre-school (4-6 years) aims to understand how effective teaching and learning of Mathematics in Space and Time preschool. We sought to first clarify the importance of space and time in kindergarten for the construction and routine socialization of children, defining the respective concepts. Following, some possibilities for teaching mathematics were demonstrated, allowing them to understand the relevance of the teaching of this discipline to the child’s life. And lastly, it was shown that the space and time in the routines of early childhood education relate to the teaching and learning of mathematics. We conclude from this literature that the teaching and learning of mathematics can occur through the resolution of problems that arise in games and play in a space and time favorable to it, and the teacher is the facilitator of such learning of these children. KEYWORDS: Space. Time. Mathematics. Childhood Education. NOTAS INTRODUTÓRIAS Este estudo tem por proposta fazer a discussão sobre as possibilidades de aprender e de ensinar Matemática na Educação Infantil no espaço e tempo da pré-escola, justificando-se a sua relevância, tendo em vista que, traz indagações a acadêmica de 1 2 Acadêmica do 4º Período do curso de Pedagogia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA). E-mail [email protected]. Artigo orientado pela professora Clarice Brutes Stadtlober. Professora do curso de Pedagogia do Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA), professora do Colégio Cenecista Sepé Tiaraju e da rede pública estadual de Santo Ângelo, mestre em Educação nas Ciências – Unijuí. E-mail – clarice. [email protected]. INTERFACES: Educação e Sociedade 81 Bruna Caroline Petry - Clarice Brutes Stadtlober pedagogia instigando-a a refletir sobre o como pode propor a sua prática após a sua formação, que metodologias utilizar para melhor ensinar. O tema em estudo possibilita inúmeros questionamentos, tendo com hipótese que a matemática possui grande relevância na vida da criança, que é através dela que, ao longo do tempo, a criança vai compreendendo o mundo ao seu redor. O ensino da matemática na Pré-Escola deve ser de boa qualidade, pois o contato com essa disciplina é de suma importância para o seguimento da vida escolar e cotidiana da criança. Aprender e ensinar essa disciplina são tarefas desafiadoras, pois ela exige grande interesse e participação tanto do professor como do aluno, que trabalhando em conjunto, significam conceitos e constroem conhecimentos. O ensino é um conjunto de atividades planejadas cuidadosamente para cada idade, em específico dos 4 aos 6 anos, onde esse planejamento deve ser flexível a novas perguntas e interesses dos alunos. A realização da pesquisa tem como principais autores, Maria Carmem Barbosa, abordando o estudo sobre o tempo, Kátia Stocco Smole, referindo-se ao ensino da Matemática na Educação Infantil através de jogos e brincadeiras infantis, Miguel Zabalza, referenciando o espaço, e ainda o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que aborda tanto o estudo sobre o tempo, o espaço e a Matemática. O ESPAÇO CONSTRUINDO A SOCIALIZAÇÃO E O TEMPO CONSTRUINDO A ROTINA DAS CRIANÇAS NA PRÉ-ESCOLA A especificidade do espaço e do tempo da criança na sua relação com a família é diferente do espaço e do tempo dela na Pré-Escola. No primeiro caso, essa relação ocorre através da fragilidade e da dependência da criança para com a família, onde tudo depende do que a criança necessita. Já no segundo caso, a criança tem a escola como um espaço público e institucionalizado, onde todos os acontecimentos tem uma organização, uma intenção, sendo realizados por profissionais qualificados. 82 INTERFACES: Educação e Sociedade A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA O profissional da pré-escola deve ter uma formação especial, tendo que ser um mediador das aprendizagens do aluno e também ter “[...] domínio dos conhecimentos científicos básicos, tanto quanto conhecimentos necessários para o trabalho com a criança pequena [...].” (REDIN, 1998, p.51). Durante muitos anos a pré-escola estava voltada somente para uma finalidade “[...] para guarda e para o cuidado, de pouca atenção à formação profissional dos educadores infantis e de um atendimento precário em todos os sentidos não se dissiparão como em um passe de mágica.” (HORN, 2004, p.14). Um professor de qualidade é aquele que está atento a todos os elementos que estão postos em uma sala de aula, aquele que disponibiliza para as crianças momentos de interação com o ambiente em que elas estão. Um ambiente organizado em espaços, onde a criança, a partir da interação com seus pares aprende. O espaço na Pré-Escola precisa proporcionar condições para que a criança se desenvolva e aprenda. Segundo BRASIL: [...] é preciso que o espaço seja versátil e permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e pelos professores em função das ações desenvolvidas. Deve ser pensado e rearranjado, considerando as diferentes necessidades de cada faixa etária, assim como os diferentes projetos e atividades que estão sendo desenvolvidos. (1998 a, p. 69) Os espaços, na Educação Infantil, devem ser organizados em ambientes ou “cantos”, que possibilita ao professor organizar a sala de aula com diferentes funções, como espaços para jogos, artes, leitura, projetos, entre outros. Faz parte do papel do professor organizar a sala para ter diversas maneiras para concretizar a aprendizagem dos alunos. Zabalza nos apresenta algumas concepções de espaço, entre elas, “extensão indefinida, meio sem limites que contém todas as extensões finitas. Parte dessa extensão que ocupa cada corpo.” (1998, p. 230) Essa é a concepção física de espaço, definida por adultos, mas, segundo o professor Enrico Battini citado por Zabalza, para as crianças espaço é: INTERFACES: Educação e Sociedade 83 Bruna Caroline Petry - Clarice Brutes Stadtlober [...] o que sente, o que vê, o que faz nele. Portanto o espaço é sombra e escuridão; é grande, enorme ou, pelo contrário, pequeno: é poder correr ou ter que ficar quieto, é esse lugar onde ela pode ir para olhar, ler, pensar. O espaço é em cima, embaixo, é tocar ou não chegar a tocar; é barulho forte, forte demais ou, pelo contrário, silêncio, é tantas cores, todas juntas ao mesmo tempo ou uma única cor grande ou nenhuma cor... O espaço, então, começa quando abrimos os olhos pela manhã em cada despertar do sono; desde quando, com a luz, retornamos para o espaço. (Battini (1982) apud ZABALZA, 1998, p. 231) As crianças, portanto, tem uma concepção diferente da do adulto, referente ao espaço, mas as duas concepções são importantes. No ambiente escolar, o espaço é local de aprendizagem. Esse espaço é organizado em ambientes, significando que todo o espaço está organizado, provocando diferentes sensações, o ambiente não é o tamanho ou a dimensão, ele é os móveis, os materiais, as relações, o tempo, o currículo. Segundo Zabalza (1998) o ambiente possui quatro dimensões, a Dimensão Física que se refere ao aspecto material (piso, janela, paredes), a Dimensão Funcional, se relaciona com a forma de utilização do espaço, para que ele serve, a Dimensão Temporal, que diz respeito a utilização do tempo, quando cada atividade será realizada e ainda a Dimensão Relacional, que são as diferentes relações estabelecidas em sala de aula. Barbosa afirma que: Os espaços são utilizados de acordo com as rotinas propostas. Muitas vezes, as crianças ficam durante todo o dia em um único espaço, que apenas se transforma ao longo do dia pela organização do tempo. Em outras instituições, a rotina, para se desenvolver, utiliza-se de diferentes ambientes [...]. (2006, p. 134) Sendo assim, o espaço está intimamente ligado ao tempo. Eles são fonte de poder social. Algumas instituições educacionais tem o tempo da modernidade, rígido, mecânico, elas seguem rigidamente o relógio. Mas existe também a preocupação com o uso do tempo, de modo que as crianças se sintam parte desse mundo e que se situem 84 INTERFACES: Educação e Sociedade A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA em uma rotina diária na sala de aula, através de um tempo lógico e não somente cronológico. Muitas vezes as crianças ficam o dia todo na escola e se deparam com rotinas monótonas, repetitivas, que a cercam. Isso deve ser analisado pelos professores da Pré-Escola, que devem organizar o tempo para que diversas atividades sejam realizadas, como: “[...] atividades mais ou menos movimentadas, individuais ou em grupos, com maior ou menor grau de concentração; de repouso, alimentação, higiene, atividades referentes aos diferentes eixos de trabalho.” (BRASIL, 1998 a, p. 73). As rotinas devem proporcionar a aprendizagem e o entendimento de espaço e de tempo, deve ser compreensível e clara. Elas são um meio para orientar as crianças e até mesmo o professor e representam também, segundo o RCNEI “[...] a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático, ou seja, o tempo de trabalho educativo realizado com as crianças. A rotina deve envolver os cuidados, as brincadeiras e as situações de aprendizagens orientadas (BRASIL,1998 a, p. 54)”. Essa rotina deve ser adaptada a um horário de turno integral (manhã e tarde) e também ao de turno parcial (manhã ou tarde), sendo que a sequência dos momentos pode ser alterada, de acordo com circunstâncias que ocorrerem. Desta forma “[...] cada educador(a) deverá fazer as alterações que considerar convenientes, adaptando os tempos da rotina diária, seja ao horário de funcionamento da sua escola infantil, seja ao grupo de crianças com o qual trabalha.” (ZABALZA, 1998, p.186) Seguindo uma sequência diária, uma ordem, as crianças irão compreender o porquê de existir uma rotina, o motivo pelo qual eles devem se organizar conforme o planejado feito com os colegas e a professora sobre o que irá acontecer naquele dia. Essa rotina pode ser organizada de maneira que exista um momento de acolhida, “[...] enquanto se espera que todas as crianças cheguem à sala de aula, uma das pessoas adultas fica na porta para receber pais e mães.” (ZABALZA, 1998, p. 187), o tempo de planejamento, que segundo Zabalza (1998) é o primeiro momento da sequência planejar-fazerrevisar. INTERFACES: Educação e Sociedade 85 Bruna Caroline Petry - Clarice Brutes Stadtlober Na sequência deve existir o tempo de trabalho, que é o momento mais longo da rotina diária, onde a criança realiza o que se propôs a fazer. Após este, está o tempo de organizar, onde professor e alunos organizam os materiais e a sala, este é o momento ideal para que a criança realize a classificação, a seriação, desenvolva a cooperação e a autonomia. Há ainda o tempo de revisão, o tempo do lanche, tempo de trabalho em pequenos grupos, tempo de roda, entre outros tempos que podem ser organizadas as aulas na Pré-Escola. A ajuda de um adulto para que as crianças interiorizem a rotina diária é essencial, sendo que o professor (a) deve avisar quando acaba e inicia outro tempo, organizar e planejar os tempos para que sejam diversificados. A rotina é um instrumento de utilidade educativa, que, conforme afirma Zabalza, não se pode deixar de apontar: [...] que uma rotina é, principalmente, uma estrutura organizacional pedagógica que permite que o educador(a) promova atividades educativas diferenciadas e sistemáticas de acordo com as experiências que se quiser colocar em prática, além daquelas que surgem naturalmente, seja por sugestão de uma criança ou do grupo.(1998, p.195) Sendo assim, pode-se afirmar que a orientação espacial e a noção de tempo faz com que as crianças compreendam o que seja a rotina, sem essa compreensão elas não conseguirão se localizar no espaço e no tempo da sala de aula. Há ainda a socialização através do espaço onde as crianças brincam e permanecem com outras crianças e o professor. Professor e aluno constroem juntos essas noções e, por meio das experiências, transformam as rotinas em algo divertido e construtivo, reafirmando a importância de uma organização e do planejamento. Após abordarmos sobre o espaço e o tempo nas rotinas da Pré-Escola, serão apresentadas discussões sobre as metodologias que podem ser utilizadas para que o ensino e a aprendizagem da matemática se efetivem. 86 INTERFACES: Educação e Sociedade A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NA PRÉ - ESCOLA As crianças estão mergulhadas em um mundo onde os conhecimentos matemáticos fazem parte integrante da sua vida. Elas utilizam uma série de situações envolvendo números, quantidades, noções. “Utilizando recursos próprios e pouco convencionais, elas recorrem a contagem e operações para resolver problemas cotidianos, como conferir figurinhas, [...] mostrar com os dedos a idade [...].” (BRASIL, 1998 b, p.207). Mas, para entendermos isso, devemos primeiramente entender o significado da Matemática, que segundo Duhalde é: [...] uma ciência em si mesma totalmente abstrata; portanto, pode se desenvolver a partir de raciocínios lógicos e, consequentemente, independente da realidade que lhe deu origem. É por este motivo que, mais que nenhuma outra ciência, seu ensino deve ser contextualizado. (1998, p. 34). Para que a criança compreenda o raciocínio abstrato da matemática o professor tem a função de “[...]auxiliar o desenvolvimento infantil por meio da organização de situações de aprendizagem nas quais os materiais pedagógicos cumprem um papel de auto-instrução, quase como um fim em si mesmo.” (BRASIL, 1998 b, p.209). Sendo assim, primeiro se trabalha o conceito no concreto para depois trabalhar no abstrato. Entende-se que o concreto e o abstrato se caracterizam por: [...] duas realidades dissociadas, em que o concreto é identificado com o manipulável e o abstrato com as representações formais, com as definições e sistematizações. Essa concepção, porém, dissocia a ação física da ação intelectual, dissociação que não existe do ponto de vista do sujeito. (BRASIL, 1998 b, p.209) As crianças necessitam compreender o que será estudado, não basta apresentar a elas conceitos se elas não puderem vivenciar situações que a façam contextualizar esses conceitos. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, afirma que as noções da matemática são construídas de várias maneiras: INTERFACES: Educação e Sociedade 87 Bruna Caroline Petry - Clarice Brutes Stadtlober [...] a partir de experiências proporcionadas pelas interações com o meio, pelo intercâmbio com outras pessoas que possuem interesses, conhecimentos e necessidades que podem ser compartilhados. As crianças têm e podem ter várias experiências com o universo matemáticos e outros que lhe permitam fazer descobertas, tecer relações, organizar o pensamento, o raciocínio lógico, situar-se e localizar-se espacialmente. (1998 b, p.213) Essas aprendizagens lógico-matemáticas requerem do professor uma intenção e um planejamento, aonde o mesmo irá, “[...] reconhecer a potencialidade e a adequação de uma dada situação para a aprendizagem, tecer comentários, formular perguntas, suscitar desafios, incentivar a verbalização pela criança etc. [...].” (BRASIL, 1998 b, p. 213). A escola tem o papel de formar pessoas para o mundo e a matemática é um instrumento para isso, ela é uma linguagem universal que dá sentido ao ser sujeito da comunidade em que vive. Sendo assim, Manoel de Moura apud Kishimoto: [...] a iniciação no conhecimento da matemática requer escolha de conteúdo e forma de construção de significados que podemos chamar de alfabetização. Desse modo, cabe ao educador a escolha de certos conhecimentos considerados basilares para que quem tiver acesso a eles possa se apropriar de conteúdos e maneiras de lidar com estes, adquirindo não só informação, mas também um método ou um modo geral de ação. (2013, p.110) A alfabetização matemática diz respeito a uma apropriação de conhecimentos de mundo, onde o professor, como parte de um coletivo, também aprende a usar da melhor maneira os instrumentos simbólicos para que a aprendizagem se efetue. Mas, ainda existe a ideia de que as crianças aprendem a matemática, os conceitos, os números, por repetição e memorização, iniciando do mais fácil para o mais difícil. Essa ideia é muito questionada e estudada, já que essa aprendizagem é muito restrita e vazia, sem significação. Por esse motivo, o ensino da matemática pode se tornar mais eficaz se forem utilizados brincadeiras, jogos e a resolução de problemas, sendo que isso auxilia o desenvolvimento infantil e potencializa o 88 INTERFACES: Educação e Sociedade A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA conhecimento. A educação infantil sendo um local propício para jogos e brincadeiras, melhora a aprendizagem da matemática, já que existe uma participação ativa da criança. É indispensável ressaltar que o jogo em si não faz com que a criança aprenda, mas a partir de uma significação dada pelo professor, de uma mediação adequada do que irá ocorrer, a criança aprender através do jogo e da brincadeira. Essas aprendizagens podem acontecer quando as crianças convivem socialmente com o outro e quando possuem o contato com jogos e brincadeiras, elas têm um encanto natural em brincar e jogar. Ao brincar o aluno: “[...] amplia sua capacidade corporal, sua consciência do outro, a percepção de si mesmo como um ser social, a percepção do espaço que o cerca e de como pode explorá-lo.” (SMOLE et. al, 2000 a, p.13), além de desenvolver as noções matemáticas. As brincadeiras devem ser planejadas e situadas pelo professor aos alunos, ao contrário os mesmos não vão entender o porquê estão brincando. Se não for feita a devida apresentação, a criança ficará eufórica para brincar, tomados de forma indiferente das ações pedagógica pelos alunos, como se fosse convencional somente brincar, não utilizando as mesmas para as aprendizagens em matemática. Ao brincar, o aluno se defronta com o respeito a regras e a solução de problemas, ações importantes nas aulas de matemática. É papel do professor, fazer com que os alunos respeitem a ideia de todos, valorizem e discutam os mais diversos raciocínios. Por isso, a ação pedagógica em matemática deve proporcionar ao aluno o trabalho em grupos, de forma que ocorra “[...] o desenvolvimento da sociabilidade, da cooperação e do respeito mútuo entre os alunos, possibilitando aprendizagens significativas.” (SMOLE et. al, 2000 a, p.15). Quando brinca, a criança também: [...] se defronta com desafios e problemas, devendo constantemente buscar soluções para as situações a ela colocadas. A brincadeira auxilia a criança a criar uma imagem de respeito a si mesma, manifestar gostos, desejos, dúvidas, malestar, críticas, aborrecimentos, etc. (SMOLE et. Al, 2000 b, p.14) INTERFACES: Educação e Sociedade 89 Bruna Caroline Petry - Clarice Brutes Stadtlober O professor pode estimular as crianças a resolverem problemas e tomarem decisões sozinhas, possibilitando a construção de novos conhecimentos. Ele também deve demonstrar todos os tipos de soluções para tal problema que aparecerem e fazer com que os alunos busquem interagir com os colegas para solucioná-los. “Resolver problemas é atividade básica de fazer e pensar em matemática, que justifica a necessidade de aprender conceitos e procedimentos específicos dessa área do conhecimento.” (SMOLE et, al, 2000 b, p.5). Quando as crianças errarem, o professor deve estimulálas a corrigir esse erro e rever suas respostas. Isso faz com que ela perceba aonde falhou e descubra por si só o seu processo de aprendizagem, tendo autonomia para continuar aprendendo. Segundo Smole, “a interação entre os alunos, a socialização de procedimentos encontrados para solucionar uma questão e a troca de informações são elementos indispensáveis nas aulas de matemática [...].” (2000 a, p. 14) Enfim, pode-se destacar até aqui a relevância da resolução de problemas e da utilização dos jogos e brincadeiras nas aprendizagens de matemática. A matemática é essencial para o entendimento de mundo por parte da criança e o seu ensino deve ser levado a sério pelo professor. Ele deve participar dessas brincadeiras, sugerir o registro das mesmas após brincar e sempre interagir com os alunos, perguntando levantando hipóteses e justificativas sobre o que está desenvolvendo. Na seguinte seção deste artigo, abordaremos a relação da matemática com o espaço e o tempo na Pré-Escola, sendo que os três estão intimamente ligados. A RELAÇÃO DA MATEMÁTICA COM O ESPAÇO E O TEMPO NA PRÉ-ESCOLA Ensinar Matemática no espaço e no tempo da pré-escola é um assunto que desafia muitos professores. O ensino da Matemática para as crianças dos 4 aos 6 anos é importante, pois a matemática 90 INTERFACES: Educação e Sociedade A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA está no dia a dia da criança e estará presente em toda vida escolar. Dessa forma, os três assuntos podem caminhar juntos, espaço, tempo e matemática. O trabalho no espaço da sala de aula torna-se relevante na aprendizagem da matemática, “[...] pois é um espaço que acontecem encontros, trocas de experiências, discussões e interações entre as crianças e o professor. Também é nesse espaço que o professor observa seus alunos, suas conquistas e dificuldades.” (SMOLE, 2003, p. 11). Portanto, as crianças devem se sentir parte deste espaço, que deve ser acolhedor, encorajador e estimulante. Desta forma, as crianças se sentirão dispostas a aprender, fazendo com que a sala se torne “[...] uma oficina de trabalho de professores e alunos [...].” (SMOLE, 2003, p. 12). O ambiente da sala de aula deve ter: [...] momentos para leitura e produção de textos, trabalhos em grupo, jogos, elaboração de representações pictóricas e elaboração de livros pelas crianças. Variando os processos e as formas de comunicação, ampliamos a possibilidade de significação para uma ideia surgida no contexto da classe. (SMOLE, 2003, p. 12). A apresentação desses vários espaços e tempos faz com que, um aluno ao fazer uma colocação, possa provocar outros a pensarem e se situarem na aprendizagem que está ocorrendo. O professor nesse momento “[...] anima e mantém a rede de conversas, bem como coordena ações. [...] tenta discernir, durante as atividades, as novas possibilidades que poderiam abrir-se a classe, orientando e selecionando [...].” (SMOLE, 2003, p. 12). Uma maneira de organizar o espaço e o tempo na sala de aula para a matemática é promovendo um tempo de jogos e de brincadeiras. O aluno da pré-escola com 4, 5 ou 6 anos aprecia brincar e resolver problemas através dos jogos. O professor pode preparar uma mesa com jogos de encaixar e empilhar, outra mesa com o tangram, outra com quebra-cabeça, enfim, inúmeras atividades propostas a eles. INTERFACES: Educação e Sociedade 91 Bruna Caroline Petry - Clarice Brutes Stadtlober Dessa forma, as brincadeiras, os jogos e as atividades corporais auxiliam no desenvolvimento da criança em relação a noções e conceitos de matemática, através da ampliação de suas competências corporais, pessoais e espaciais. Com relação a isso, Wallon considerava que o pensamento da criança está intimamente ligado ao seu esquema corporal, onde só ocorre a aprendizagem se ela puder ter ações físicas com o ambiente. Já Piaget afirma que o corpo e a aprendizagem tem uma inter-relação. “Em Piaget encontramos que as percepções e os movimentos, ao estabelecerem relação com o meio exterior, elaboram a função simbólica que gera a linguagem, e esta dá origem à representação e ao pensamento.” (SMOLE, 2000 a, p.15). As mais diversas noções matemáticas podem ser manifestadas a partir do jogo e das brincadeiras, entre elas: noção de espaço e forma, números e operações, medidas, entre outros. Utilizar as brincadeiras como estratégias de ensino de matemática é diferente do convencional. Os alunos de 4 a 6 anos de idade devem aprender a contar, a realizar operações numéricas simples, utilizar grandezas e medidas, explorar figuras e formas, utilizar o dinheiro etc., são as ações básicas para essa idade, e todas elas podem ser exploradas através de jogos e brincadeiras. Exemplos de brincadeiras e jogos: amarelinha (uso da contagem oral, espaço, formas), jogo com bolas de gude ou bolita (contagem, classificação, comparação de tamanhos), brincadeira com bola, como queimada, boliche, batata quente... (contagem, operações de mais e menos, concentração), jogos de mesa como quebra-cabeça, memória, dominó, loto, jogo da velha, brincadeiras com corda, de perseguição, de roda, de esconde-esconde, entre outras, podem auxiliar as crianças a aprenderem matemática e ludicamente as inserir nos universo dos números e das quantidades. Esta maneira de ensinar matemática pode ser diferente da tradicional, que utiliza a memorização e a repetição, mas não podemos deixar de salientar que o professor deve sempre ter claro a que pretende trabalhar, somente assim a criança poderá significar os conceitos que o professor visa ensinar. 92 INTERFACES: Educação e Sociedade A MATEMÁTICA NO ESPAÇO E TEMPO DA PRÉ-ESCOLA O tempo e o espaço que irão ocorrer essas atividades devem ser esclarecidos pelo professor e entendida pelos alunos. Esses espaços podem ser na sala de aula, no pátio, na cozinha da escola, entre outros espaços e tempos. O papel do professor é organizar e promover a interação dos alunos com o conhecimento matemático. Segundo BRASIL: [...] a instituição de educação infantil pode ajudar as crianças a organizarem melhor as suas informações e estratégias, bem como proporcionar condições para a aquisição de novos conhecimentos matemáticos. O trabalho com noções matemáticas na educação infantil atende, por um lado, às necessidades das próprias crianças de construírem conhecimentos que incidam nos mais variados domínios de pensamento; por outro, corresponde a uma necessidade social de instrumentalizá-las melhor para viver, participar e compreender um mundo que exige diferentes conhecimentos e habilidades. (1998 b, p.207) Portanto, o professor e a própria instituição de Educação Infantil devem se comprometer com as aprendizagens e estabelecer espaços e tempos para que ocorra de fato a aprendizagem e um ensino de qualidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo teve como tema o espaço, o tempo e a Matemática no âmbito da pré-escola (4 – 6 anos), sendo que o mesmo nos trouxe a possibilidade de compreendermos a importância de organizar as aulas e a rotina das crianças em tempos e espaços para que a aprendizagem da matemática se torne significativa. O problema de pesquisa que guiou este estudo trás como pergunta “Quais as possibilidades de aprender e de ensinar a Matemática nos espaços e tempos da pré-escola?”, tentando buscar respostas para guiar o professor a ensinar os alunos. Com a pesquisa pode-se perceber que um dos espaços e tempos em que isso pode ocorrer é através de jogos e brincadeiras, onde o professor pode planejar momentos para tal. INTERFACES: Educação e Sociedade 93 Bruna Caroline Petry - Clarice Brutes Stadtlober Sabe-se a relevância que a matemática tem na vida das crianças, já que assim ela vai compreendendo a vida ao seu redor. Aprender e ensinar matemática não são tarefas fáceis, mas com o empenho dos alunos e do professor, organizando momentos e situações de aprendizagem adequadas, isso se concretizará. Assim, os jogos e as brincadeiras podem auxiliar essas ações e provocar os alunos a resolver problemas e buscarem suas próprias respostas. Dessa forma, a matemática está no cotidiano da criança e o professor deve organizar e planejar a aula para que a criança vivencie o mundo abstrato da matemática com o contextualização através dos jogos, brincadeiras em diversos tempos e espaços. Esses momentos acontecem, quando a sala de aula está organizada em espaços e tempos que provocam o aluno a interagir com os mesmos. Sendo assim, conclui-se que essa pesquisa foi relevante para a docência, sendo que trouxe meios para compreender como pode ocorrer o ensino e a aprendizagem da matemática e ainda respostas a possíveis dúvidas que o professor tenha quanto ao ensino da mesma. Este estudo também apresentou algumas estratégias para ensinar a matemática e demonstrou a relação entre espaço e tempo e o ensino e aprendizagem da matemática na pré-escola. REFERÊNCIAS BARBOSA, Maria Carmem Barbosa. Por amor e por força: Rotinas na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. 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