UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE DOENÇA HEPÁTICA APÓS TERAPIA ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES PORTADORES DO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA, COINFECTADOS COM O VÍRUS DA HEPATITE C. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIENCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE VICENTE SPERB ANTONELLO Julho de 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE DOENÇA HEPÁTICA APÓS TERAPIA ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES PORTADORES DO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA, COINFECTADOS COM O VÍRUS DA HEPATITE C. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIENCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE ALUNO: VICENTE SPERB ANTONELLO ORIENTADORA: CRISTIANE VALLE TOVO Julho de 2011 Catalogação na Publicação A634d Antonello, Vicente Sperb Doença hepática após terapia antirretroviral em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana, coinfectados com o vírus da hepatite C / Vicente Sperb Antonello. – 2011. 105f. : graf. ; tab. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) -- Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Programa de PósGraduação em Hepatologia, 2011. “Orientadora: Prof.ª Cristiane ValleTovo”. 1. HIV. 2. Imunodeficiência humana. 3. Hepatite C. 4. Coinfecção. 5. Hepatotoxicidade. I.Título. CDD 616.9792 CDU 616.98 Bibliotecária Ruth Borges Fortes de Oliveira- CRB 10/501 AGRADECIMENTOS Muitas são as pessoas que merecem meu agradecimento por haverem contribuído, de diferentes maneiras, para que eu conseguisse realizar esta pesquisa. Aos meus pais, Ivan e Hilda, que me ensinaram os conceitos de Humanidade, Honestidade e Trabalho. Ao meu irmão Jerônimo, minha cunhada Tatiana e minha afilhada Luiza por ser uma bênção em minha vida. À minha namorada Vanice por compreender a necessidade deste projeto e por me apoiar em todo o seu curso. À minha orientadora, Dra. Cristiane Valle Tovo pelos seus ensinamentos, credibilidade e oportunidade que me proporcionou. Ao colega de profissão, Dr. Dimas Alexandre Kliemann pelo apoio e pelas oportunidades proporcionadas. Ao Chefe do Departamento de Infectologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição, Dr. Breno Riegel Santos por permitir e apoiar a execução desta obra. À Secretaria do Programa de Pós-Graduação da UFCSPA, especialmente à Luciani, que com atenção e dedicação sempre estiveram à disposição para me ajudar. Em especial a todos portadores de HIV, por serem as pessoas mais importantes deste trabalho. “Las ideologias dividen al hombre, el amor con sus hilos los une en su nombre.” Ricardo Arjona LISTA DE ILUSTRAÇÕES Referentes ao Artigo 1 Figura 1 – Variação de AST durante 48 semanas de avaliação..............................35 Figura 2 – Variação de ALT durante 48 semanas de avaliação..............................36 Referentes ao Artigo 2 Figura 1 – Variação de linfócitos T-CD4 durante 48 semanas de avaliação..................................................................................................................54 Referentes ao Artigo 3 Figura 1 – Comparação do APRI entre os grupos estudados...............................70 LISTA DE TABELAS Referentes ao Artigo 1 Tabela 1. Características basais dos pacientes antes da introdução de HAART.....................................................................................................................31 Tabela 2. Variação da média de aspartato aminotransferase (AST) durante 48 semanas de acompanhamento................................................................................32 Tabela 3. Variação da média de alanina aminotransferase (ALT) durante 48 semanas de acompanhamento................................................................................33 Tabela 4. Associação entre Hepatotoxicidade e variáveis demográficas nos grupos estudados.................................................................................................................34 Referentes ao Artigo 2 Tabela 1. Características de Base da População em Estudo antes da introdução de HAART.....................................................................................................................52 Tabela 2. Variação da contagem de linfócitos T-CD4 durante 12 meses de avaliação..................................................................................................................53 Referentes ao Artigo 3 Tabela 1. Comparação das variáveis nos grupos estudados..................................71 LISTA DE SIGLAS AIDS – Síndrome da Imuno-deficiência Humana ALT - Alanina aminotransferase APRI – Índice de Aminotransferases e Plaquetas AST - Aspartato aminotransferase CV – Carga Viral ELISA – Enzyme Linked Immunosorbent Assay HAART – “Highly Active Antiretroviral Therapy” ou Terapia Antirretroviral Altamente Ativa em português HCV – Vírus da Hepatite C HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana HSH - Homens que mantém relações sexuais com homens IL – Interleucina IMC – Índice de Massa Corporal PI - Inibidores de Protease NRTI - Inibidores da transcriptase reversa análogos dos nucleosídeos NNRTI - Inibidores da transcriptase reversa não análogos dos nucleosídeos PCR – Reação cadeia polimerase SIDA – Síndrome da Imuno-deficiência Humana SPSS - Statistical Package for the Social Sciences UDI – Uso de drogas injetáveis TP – Tempo de Protrombina VL – Viral Load SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................01 1.1 Infecção pelo HIV....................................................................................01 1.2 Coinfecção por HIV/HCV.........................................................................03 1.3 Avaliação inicial dos pacientes coinfectados por HIV/HCV.....................06 1.4 Fibrose hepática na coinfecção HIV/HCV...............................................08 1.5 Coinfecção por HIV/HCV após HAART...................................................10 1.6 Hepatotoxicidade secundária a HAART..................................................13 1.7 Hipótese do trabalho...............................................................................14 2 OBJETIVOS..........................................................................................................15 2.1 Objetivo Primário.....................................................................................15 2.1 Objetivos Secundários.............................................................................15 3 ARTIGO I: “Hepatotoxicidade após Terapia Antirretroviral em pacientes portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), coinfectados com o Vírus da hepatite C (HCV).”...............................................................................................16 4 ARTIGO II: “Immune Restoration in HIV Infected Patients and Hepatitis C Virus Coinfection during Highly Active Antiretroviral Therapy”.....….................................43 5 ARTIGO III: “Uso do score APRI na avaliação de doença hepática, após início de terapia antirretroviral, em pacientes portadores do HIV coinfectados com HCV versus monoinfectados por HIV”..............................................................................58 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................77 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................82 APÊNDICE A..........................................................................................................101 APÊNDICE B..........................................................................................................102 APÊNDICE C.........................................................................................................103 APÊNDICE D.........................................................................................................104 1 INTRODUÇÃO 1.1 Infecção pelo HIV Desde o seu reconhecimento, em 1981, a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tem mudado significativamente seu padrão epidemiológico, e atualmente também a abordagem ao seu tratamento, sendo considerada uma doença crônica [1]. Estima-se que atualmente, 40 milhões de pessoas são infectadas pelo HIV em todo mundo [2,3]. Desde a descrição original em 1981 de casos não-usuais de homens homossexuais previamente saudáveis com pneumonia por Pneumocystis carinii e Sarcoma de Kaposi, muitos avanços no entendimento da Síndrome da Imunodeficiência adquirida (SIDA) tem sido alcançados. A identificação de um retrovírus citopático em 1983 e o desenvolvimento de um teste sorológico diagnóstico para HIV-1 em 1985 serviu como base para a evolução no desenvolvimento do diagnóstico [1, 4, 5]. Adicionalmente, a introdução dos primeiros antirretrovirais em 1987 e a posterior combinação de tratamentos, também conhecida como HAART (“Highly Active Antiretroviral Therapy” ou Terapia antirretroviral altamente ativa em português) em 1996, revolucionou a terapia para o HIV. Nos três anos após a introdução de HAART, a mortalidade e morbidade associada à SIDA diminuiu 60 a 80%. O estudo EuroSIDA, comparou este período inicial de HAART, a era préHAART e o período após a consolidação da HAART (1998 a 2002). Houve um decréscimo sustentado na mortalidade e progressão para SIDA com uso de HAART. Apesar da ausência de cura, a história natural da doença foi modificada radicalmente [4, 5]. A infecção pelo HIV é geralmente transmitida através de relação sexual, exposição a sangue contaminado ou transmissão perinatal. No entanto, o modo de transmissão da infecção pelo HIV pode ser variado nos diferentes países. Em áreas com recursos limitados, o sexo vaginal é responsável por 70 a 80% dos casos de SIDA e transmissão perinatal e uso de drogas injetáveis (UDI) conta por 5 a 10% cada [6]. Por outro lado, durante os primeiros 25 anos da epidemia da SIDA nos Estados Unidos da América, o contato sexual entre homens e UDI contavam por cerca de metade dos casos [7]. A contribuição relativa das diferentes rotas de transmissão tem variado através dos anos nos Estados Unidos da América. O número estimado de casos de SIDA permanece relativamente estável, mas o número de casos entre homens que mantém relações sexuais com homens (HSH), entre heterossexuais adultos e adolescentes tem aumentado, enquanto casos entre usuários de drogas injetáveis têm diminuído [8]. Entre as mulheres, o modo mais comumente relatado de aquisição de HIV é por transmissão heterossexual. Entretanto, muitos pacientes que contraíram a infecção pelo HIV não sabem do seu status soropositivo [8]. Populações minoritárias também têm risco aumentado para a infecção pelo HIV [8-10]. Taxas de infecção pelo HIV em mulheres negras não-hispânicas são 19 vezes maior que as mulheres brancas não-hispânicas [9]. Fatores de risco para transmissão do HIV incluem a carga viral do HIV, ausência de circuncisão, grande número de parceiros sexuais, relação sexual desprotegida, presença de doenças sexualmente transmissíveis com úlcera genital, e fatores genéticos e do hospedeiro [11-13]. 1.2 Coinfecção por HIV/HCV Atualmente, outro problema tem sido destaque no cenário do tratamento antirretroviral: a coinfecção dos vírus do HIV e da Hepatite C (HCV). Com a introdução de HAART o aumento na sobrevida destes pacientes trouxe à tona a emergência da infecção pelo HCV e as doenças hepáticas crônicas como importantes causas de morbidade e mortalidade somadas ao HIV/SIDA [3,4]. Devido a rotas de transmissão semelhantes, a coinfecção entre HIV e HCV é comum na atualidade, porém difere um pouco dos grupos de risco para HIV ou HCV isolados, estando presente a coinfecção principalmente nos usuários de drogas injetáveis e em pacientes que se submetem a transfusões de sangue e derivados [2, 3, 14]. Nos Estados Unidos da América, estima-se que 30 a 35% dos pacientes infectados pelo HIV são coinfectados pelo HCV [2, 3, 15]. Taxas semelhantes são encontradas no Brasil [16]. A intersecção da epidemia de HIV e HCV têm implicações clínicas significativas e levanta muitos desafios para os pacientes e os profissionais de saúde envolvidos. Um profundo entendimento da história natural da doença hepática nesta complexa população de pacientes é fundamental para o manejo adequado. O vírus do HIV (um retrovírus) e HCV (um flavivírus) são vírus RNA. Durante o estágio crônico da infecção tanto pelo HIV e HCV, uma carga viral relativamente estável é mantida [17, 18]. Entretanto, no cenário de coinfecção HIV e HCV, os níveis de HCV RNA aumentam após a soroconversão para HIV e continuam a aumentar através do tempo comparado com pacientes monoinfectados por HCV [19, 20]. Os níveis de viremia de HCV estão inversamente relacionados com contagens de linfócitos T-CD4 na maioria dos estudos [20, 21]. Da mesma forma, após a introdução de HAART ou o uso abusivo de álcool, a viremia de HCV pode aumentar transitoriamente [22]. O aumento global da carga viral de HCV não têm implicações para a gravidade da doença hepática, mas possui impacto na resposta ao tratamento. Um estudo avaliou se os níveis mais elevados de viremia do HCV em pacientes infectados pelo HIV podem estar relacionados com a imunossupressão [23]. Os investigadores fundamentaram que se os níveis elevados de replicação ocorreram devido à diminuição da pressão imune seletiva, em seguida, uma taxa reduzida de alterações nucleotídicas seria de esperar dentro do próprio vírus. No entanto, em uma investigação de seqüências do envelope do HCV em 79 pacientes, com ou sem coinfecção pelo HIV, nenhuma divergência significativa foi demonstrada ao longo do tempo entre os dois grupos. Outra forma da infecção pelo HIV aumentar a replicação do HCV é através do próprio vírus; um estudo in vitro demonstrou que a proteína do invólucro do HIV (gp120) pode aumentar a replicação do HCV através do envolvimento de correceptores celulares de HIV, como CXCR4 ou CCR5 [24]. Uma vez que a eficiência relativa de transmissão difere de acordo com a rota, a prevalência da coinfecção varia significativamente entre os vários grupos de risco. Em um ensaio clínico, por exemplo, a soroprevalência de HCV em pacientes infectados pelo HIV variou de 73% nos usuários de drogas intravenosas para apenas 4% nos pacientes considerados de baixo risco [15, 25]. A seqüência de infecções também tende a se agregar, por via de transmissão. Por exemplo, usuários de drogas injetáveis geralmente adquirem o HCV antes da infecção pelo HIV, enquanto HSH normalmente estão infectadas com o HIV antes de adquirir a infecção pelo HCV [26, 27]. O HCV é transmitido eficientemente por via percutânea, e as taxas de seroprevalência são mais elevadas em usuários de drogas injetáveis e pacientes que receberam produtos derivados de sangue contaminados, antes da introdução do rastreio da hepatite C na década de 90. O consumo de drogas injetáveis é atualmente a principal rota de transmissão do HCV nos Estados Unidos da América e no Brasil, uma vez que o risco de infecção pelo HCV após transfusões atualmente é muito baixo [16, 28]. Entre parceiros heterossexuais, o HIV é muito mais facilmente transmissível através de relações sexuais que o HCV [29, 30]. O risco de transmissão sexual do HCV é extremamente baixo em casais monogâmicos [31], mas parece aumentar em pacientes que relatam múltiplos parceiros sexuais [29, 32]. A epidemiologia da hepatite C em HSH infectados pelo HIV varia conforme a região geográfica. A soroprevalência de HCV nestes pacientes nos Estados Unidos da América varia de cerca de 4 a 8 %, que é semelhante à encontrada em pacientes homossexuais não infectados pelo HIV [33], mas maior do que o relatado para toda a população (1,8%) [34]. Em um estudo com 689 HSH na Holanda, a prevalência de HCV foi de 0,4% entre os HSH HIV-negativos e 18% entre os HSH HIV-positivos [35]. Nos últimos anos, novas infecções pelo HCV parecem ser especialmente comuns entre HSH infectados pelo HIV; a transmissão do HCV pode ser reforçada pela lesão da mucosa e ou concomitante presença de outras doenças sexualmente transmissíveis [29]. Entre HSH, sexo anal não protegido, fisting e sexo grupal [35] estão associados com a aquisição de HCV [36, 37]. A transmissão vertical pelo HCV parece ser facilitada pela coinfecção pelo HIV. Uma meta-análise de 10 estudos demonstrou que a coinfecção materna aumenta as chances de transmissão vertical do HCV em aproximadamente 90 por cento (Odds Ratio = 1.9; IC95%; 1.4-2.7), em comparação com a infecção pelo HCV materna isoladamente [38]. Há relatos de casos raros de profissionais de saúde que simultaneamente adquiriram HIV e HCV por via percutânea [39]. 1.3 Avaliação inicial dos pacientes coinfectados por HIV/HCV Todos pacientes infectados pelo HIV devem ser avaliados para infecção por HCV; aqueles com sorologia positiva devem ser testados para reação cadeia polimerase (PCR) RNA qualitativo e quantitativo, confirmando a presença de HCV e sua viremia, e servindo de base para a terapia [40]. Essas recomendações se aplicam também para pacientes com aminotransferases persistentemente normais, já que pacientes podem ter fibrose hepática avançada, apesar da falta de achados laboratoriais [41]. A sensibilidade e especificidade de ELISA de terceira geração alcança cerca de 99% [40]. Entretanto, pacientes com imunossupressão grave (contagens de linfócitos T-CD4 menores que 100 células/mm3) podem ter um resultado falso negativo devido à incapacidade de formação de anticorpos; embora isto ocorra em menos de 5% dos pacientes [42, 43]. Ademais, os pacientes infectados com HIV que tiverem sorologia negativa para HCV e com fatores de risco (UDI, por exemplo) ou aumento inexplicado de transaminases, devem ser testados com PCR RNA para HCV [44]. A avaliação histológica através da biópsia percutânea do fígado é o teste diagnóstico padrão ouro para determinação de fibrose hepática, do prognóstico e do tratamento em pacientes com hepatite C crônica [3]. Marcadores séricos de fibrose hepática poderiam substituir a necessidade da biópsia ou identificar aqueles pacientes com doença hepática avançada que se beneficiariam ou não do procedimento. O índice da relação aspartato aminotransferase sobre plaquetas (APRI) é um marcador de fibrose hepática em pacientes portadores de HCV [4547]. O APRI parece não estar aumentado em portadores do vírus do HIV isoladamente em uso de HAART [47]. 1.4 Fibrose hepática na coinfecção HIV/HCV Há autores que defendem a idéia de que pacientes coinfectados por HIV e HCV têm taxas de progressão de fibrose aceleradas, quando comparados com pacientes monoinfectados por HCV. A compreensão dos mecanismos subjacentes à imunopatogênese destas infecções virais persistentes poderia levar a novas estratégias terapêuticas [27]. A progressão da fibrose hepática pode estar relacionada à fraca resposta imune-celular aos antígenos do HCV em pacientes infectados pelo HIV. A Infecção pelo HIV é caracterizada pela diminuição acentuada do número de linfócitos T-CD4 circulantes, deficiência funcional de linfócitos T-CD4 e CD8, e desregulação da expressão de CD28, uma molécula de coestimulação necessária para a ativação efetiva de linfócitos [48]. Pacientes com baixa contagem absoluta de linfócitos TCD4 têm uma diminuição na resposta específica para HCV por linfócitos T-CD8 [49]. Esta observação fornece uma possível ligação entre imunossupressão avançada e progressão de doença hepática, tendo em vista que a resposta mediada por linfócitos T-CD8 são consideradas de importância primordial na resposta imune à infecção viral. Além disso, HAART pode restaurar a resposta imune-celular aos antígenos do HCV [50]. Outra hipótese sugere que a ativação imunológica crônica, secundária à infecção pelo HIV, influencia a progressão da doença hepática através da circulação aumentada de citocinas pró-inflamatórias. A ativação imunológica crônica pode ser mediada pela translocação de produtos microbianos devido à integridade prejudicada mucosa intestinal [51]. Rompimento da barreira da mucosa ocorre em conjunto com a depleção de linfócitos T-CD4 no tecido linfóide associado ao intestino durante a infecção inicial pelo HIV. A translocação de produtos microbianos é inferida por altos níveis circulantes de lipopolissacarídeos séricos; em contraste, o tratamento com HAART reduz os níveis de lipopolissacarídeos séricos [52]. Células estreladas hepáticas ativadas mediam a formação de colágeno na fibrose hepática relacionada ao HCV. Um estudo descobriu que os níveis de ativação das células estreladas hepáticas estiveram diretamente associados com a ativação imune-celular de linfócitos T-CD4 e CD8 e reforçaram a expressão gênica da interleucina-15 (IL-15), sugerindo um papel patogênico para IL-15 na mediação da progressão da fibrose hepática em pacientes coinfectados por HIV e HCV [53]. Um ligante indutor de apoptose relacionado com o fator de necrose tumoral media a apoptose em hepatócitos normais e é regulado durante a infecção pelo HCV [54]. A infecção pelo HCV induz vias imunoregulatórias e inflamatórias que podem contribuir para a progressão da fibrose hepática [53]. Estas citocinas próinflamatórias podem ter um efeito deletério sobre a doença pelo HIV também. 1.5 Coinfecção por HIV/HCV após HAART Pacientes coinfectados pelos vírus HIV/HCV progridem, muitas vezes, para doença hepática crônica, e à cirrose. Dois autores demonstraram, em estudos diferentes, que 15 a 25% de pacientes coinfectados evoluíram para cirrose em 10 a 15 anos, comparados com 3-6% dos monoinfectados por HCV, no mesmo período de tempo [2, 55]. No entanto, estes estudos foram realizados anteriormente ao aparecimento da HAART. O HIV parece acelerar a doença hepática pelo HCV, especialmente quando associada à progressão da imunodeficiência [2, 3]. Fatores de risco associados com maiores taxas de progressão para fibrose hepática incluem uso de álcool, idade avançada e contagens de linfócitos T-CD4 menor que 200 células/mm3 [55, 56]. Em estudos com pacientes monoinfectados por HCV, a esteatose hepática tem sido associada com um risco aumentado na progressão de fibrose hepática, quando comparados com pacientes sem esteatose hepática. Estudos posteriores sugerem que a esteatose pode ter um importante papel na progressão da fibrose hepática, especialmente em pacientes coinfectados com HIV e HCV [57-59]. A esteatose hepática em pacientes portadores de HIV pode estar relacionada a uma variedade de fatores, incluindo-se a infecção por HCV genótipo 3, uso de terapia antirretroviral, ou fatores metabólicos, como obesidade visceral e resistência insulínica [57]. O papel da HAART na história natural do HCV tem sido amplamente discutido. A terapia antirretroviral pode aumentar inicialmente a atividade necro- inflamatória hepática e acelerar a progressão da hepatite C crônica [2, 3]. Dessa forma, muitos estudos sugerem que a coinfecção de HIV com HCV pode aumentar o risco de desenvolver doença hepática após a instituição da terapia antirretroviral, e que hepatite C crônica age como um fator de risco independente para progressão da doença hepática e hepatotoxicidade em pacientes coinfectados em vigência de HAART [2]. No entanto, existem efeitos benéficos em longo prazo do seu uso no curso do HCV em pacientes coinfectados, sugerindo que HAART e a supressão viral revertem o curso desfavorável da doença hepática pelo HCV nestes pacientes pelo mecanismo de reposta imunológica, principalmente naqueles com baixas contagens de linfócitos T-CD4, com diminuição da atividade necro-inflamatória [3, 60, 61]. Adicionalmente, outros autores têm demonstrado que o uso de HAART comparado com o não tratamento leva a um declínio na mortalidade por doença hepática e diminuição nas taxas de progressão à fibrose, mostrando que, em coinfectados, o não tratamento com HAART, leva na maioria das vezes à progressão da doença hepática [62-64]. Bani-Sadr et al sugerem ainda que a carga viral do HCV pode ser influenciada, de acordo com a escolha no regime HAART [65]. No entanto, há dados conflitantes sobre se uma droga em particular ou classe de drogas afetam as taxas de progressão da fibrose hepática [66, 67]. O papel do HCV na progressão da doença pelo HIV permanece incerto [3]. Em um estudo prospectivo de 1955 pacientes, não houve diferenças no risco de desenvolvimento de doença definidora de SIDA ou risco de morte, quando comparados pacientes infectados e não infectados por HCV [68]. Os achados não foram afetados pelo uso ou não uso de HAART. Por outro lado, um estudo com 3111 pacientes sem tratamento prévio para HIV que iniciaram HAART, a positividade para HCV foi fator de risco independente para um evento clínico definidor de SIDA ou morte [69]. Os fatores responsáveis pelos achados conflitantes não estão claros, embora um fator seja a carga viral para HCV [20, 70-72]. Dois estudos demonstraram a relação entre níveis aumentados de HCV RNA e aumento no risco de progressão clínica para SIDA e mortalidade associada à SIDA [20, 73]. A replicação pelo HCV poderia resultar na ativação imune generalizada que estaria associada com diminuição na sobrevida em pacientes coinfectados com HIV [73, 74]. Em relação à reconstituição imune de linfócitos T-CD4 em coinfectados, a literatura também é controversa. Alguns estudos observacionais mostraram que pacientes coinfectados com HIV e HCV têm uma recuperação deficiente de linfócitos T-CD4 comparados com pacientes infectados com HIV, após o início de HAART [75, 76]. No entanto, outros estudos não encontraram este mesmo efeito em pacientes coinfectados [77-79]. Apesar dos dados apresentados, não há relatos na literatura sobre a reconstituição imune em coinfectados com imunossupressão grave (linfócitos T-CD4 < 100 células/mm3). 1.6 Hepatotoxicidade secundária a HAART Hepatotoxicidade, caracterizada pelo aumento das taxas de citólise hepatocelular e aumento significativo dos níveis séricos das transaminases, é uma complicação relativamente comum em pacientes HIV positivos recebendo HAART. O aumento de enzimas hepáticas pode ser observado em cerca de 6 a 30 % dos pacientes sob terapia antirretroviral. Entretanto, hepatotoxicidade grave (definida como o aumento dos níveis de transaminases maior do que cinco vezes o limite normal), que leva a descontinuação do tratamento, tem sido reportada em menos de 10 % dos pacientes em tratamento [2, 3]. Estudos sugerem que hepatite crônica pelo vírus C aumenta o risco de hepatotoxicidade por terapia antirretroviral [80-83]. Alguns autores postularam que a hepatite C está associada com um risco aumentado de hepatotoxicidade para todos os regimes de tratamento antirretroviral [84, 85], enquanto outros encontraram um risco aumentado apenas com certos agentes antirretrovirais, tais como o ritonavir ou nevirapina [80, 86]. Além da hepatotoxicidade, outra hipótese para o aumento de transaminases e progressão da doença hepática nos pacientes coinfectados, seria a ativação da hepatite C com aumento nos níveis de HCV RNA, após o início de HAART, quadro resultante do mecanismo de síndrome inflamatória da reconstituição imune. Fatores associados com esta condição incluem baixa idade, percentagem de linfócitos T-CD4 menor que 15%, e percentagem de linfócitos T-CD8 maior que 65% [87, 88]. Servin-Abad et al descreveram o aumento de enzimas hepáticas em 85 pacientes coinfectados que iniciaram o uso de HAART e demonstraram que o grupo de maior risco para desenvolver aumento de transaminases eram aqueles com aumentos de aspartato aminotransferases (AST) e tempo de protrombina (TP), e níveis baixos de albumina, antes do início do tratamento com HAART. É importante ressaltar que neste trabalho foi acompanhado apenas o grupo de coinfectados HIV/HCV, sem grupo controle [89]. Mesmo que a hepatotoxicidade possa ser mais comum em pacientes HCV, a clara vantagem da terapia antirretroviral supera o risco de lesão hepática. Estudos também mostram o impacto positivo do tratamento antirretroviral na progressão da fibrose hepática em pacientes com coinfectados [63]. A possibilidade de acompanhamento de pacientes coinfectados por HIV e HCV em uso de HAART no Hospital Nossa Senhora da Conceição, do Grupo Hospitalar Conceição, despertou a possibilidade de investigação da evolução e prognóstico destes pacientes. Na esteira desta investigação observaram-se outras situações, como o diagnóstico menos invasivo de fibrose hepática e a reconsituição imunológica em coinfectados HIV/HCV, também relatados nesta dissertação. 1.7 Hipótese de trabalho A hipótese inicial do presente trabalho é de que pacientes com infecção pelo vírus HIV e coinfectados com o vírus da hepatite C, quando em uso de HAART apresentam maior ocorrência de hepatotoxicidade do que aqueles pacientes monoinfectados por HIV também em uso de HAART. 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Primário Avaliar a prevalência e o risco de hepatotoxicidade em coinfectados por HIV e HCV que iniciam HAART comparados com os monoinfectados por HIV. 2.2 Objetivos Secundários - Avaliar a resposta imunológica após o início de HAART em pacientes coinfectados HIV/HCV comparados com monoinfectados por HIV. - Avaliar a fibrose hepática utilizando o APRI em pacientes coinfectados com HIV e HCV comparados com monoinfectados por HIV. 3 ARTIGO I Hepatotoxicidade após Terapia Antirretroviral em pacientes portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), coinfectados com o Vírus da hepatite C (HCV). Formatado conforme as normas da Revista Brazilian Journal of Infectious Diseases Vicente Sperb Antonello1, 2, Dimas Alexandre Kliemann2, Breno Riegel Santos2, Cristiane Valle Tovo3. 1 Serviço de Controle de Infeção Hospitalar, Hospital Fêmina, Porto Alegre, RS. 2 Serviço de Infectologia, Hospital Nossa Senhora da Conceição, Porto Alegre, RS. 3 Serviço de Gastroenterologia, Hospital Nossa Senhora da Conceição, Porto Alegre, RS. Resumo Introdução: A introdução da terapia antirretroviral altamente ativa aumentou a expectativa de vida dos pacientes portadores de HIV significativamente, e, dessa forma, a doença hepática pelo HCV é hoje uma importante causa de morbimortalidade nestes pacientes. Estudos sugerem que hepatite crônica pelo vírus C aumenta o risco de hepatotoxicidade por terapia antirretroviral. O objetivo do presente estudo é avaliar o risco e a incidência de hepatotoxicidade nos pacientes coinfectados com HIV e HCV, comparados com os monoinfectados pelo HIV. Métodos: Foram acompanhados 30 pacientes coinfectados com HIV/HCV e 35 pacientes monoinfectados por HIV de agosto de 2008 a agosto de 2010, desde o início da terapia antirretroviral, a cada três meses, com avaliação clínica e laboratorial. Resultados: Os pacientes coinfectados tiveram antes da introdução da terapia antirretroviral níveis médios de transaminases maiores que o grupo de monoinfectados (p<0,001). Após o início da terapia antirretroviral, a magnitude de aumento dos níveis de AST e ALT foi maior no grupo de pacientes coinfectados com HCV, independente do tipo de antirretroviral em uso, comparado aos monoinfectados. Do total, 22 (73%) pacientes coinfectados apresentaram algum grau de hepatotoxicidade. Por outro lado, apenas sete (20%) pacientes monoinfectados desenvolveram algum grau de hepatotoxicidade. Nenhum paciente em estudo apresentou hepatotoxicidade grave. O risco de um paciente desenvolver hepatotoxicidade quando coinfectado foi 3,7 vezes o risco de um monoinfectado (RR 3.7; 95% IC, 1,8-7,4; p<0,001). Conclusão: O presente estudo demonstrou que os pacientes coinfectados estão em maior risco para o desenvolvimento de hepatotoxicidade, porém o benefício clínico e imunológico da terapia antirretroviral é superior ao risco de hepatotoxicidade, raramente justificando a descontinuação da terapia. Palavras-chave: HIV, Hepatite C, Coinfecção, Hepatotoxicidade. Abstract Introduction: The introduction of highly active antiretroviral therapy (HAART) increased the life expectancy of patients with HIV. Nowadays the liver disease by hepatitis C virus (HCV) is a major cause of morbidity in these patients. Authors suggest that chronic HCV increases the risk of hepatotoxicity after HAART initiation. Methods: We analyzed 30 patients coinfected with HIV/HCV and 35 HIV monoinfected patients from August 2008 to August 2010 since the introduction of HAART, and every three months, with clinical and laboratory evaluation until the end of twelve months. The aim of this study is to assess the risk and incidence of hepatotoxicity in coinfected compared to monoinfected patients. Results: Patients coinfected had before the introduction of HAART average levels of transaminases higher than the monoinfected group (p<0.001). After initiation of HAART, the magnitude of increased levels of AST and ALT were higher in patients coinfected, regardless of type of HAART used. Of the total, 22 (73%) of coinfected patients had some degree of hepatotoxicity. Only 7 (20%) of monoinfected patients had some degree of hepatotoxicity. No patient had severe hepatotoxicity. The risk of hepatotoxicity after HAART in a coinfected patient was 3.7 times the risk of a monoinfected (RR 3.7, 95% CI, 1.8 to 7.4, p <0.001). Conclusion: This study showed that coinfected patients are at increased risk for developing hepatotoxicity, but the clinical and immunological benefit of HAART are higher than the risk of hepatotoxicity, and rarely justify discontinuation of therapy. Keywords: HIV, Hepatitis C, Coinfection, Hepatotoxicity. Introdução Desde o seu reconhecimento, em 1981, a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tem mudado significativamente seu padrão epidemiológico, e atualmente também a abordagem ao seu tratamento, considerada uma doença crônica [1]. Estima-se que atualmente, 40 milhões de pessoas são infectadas pelo HIV em todo mundo [2,3]. Atualmente, outro problema tem sido destaque no cenário do tratamento antirretroviral: a coinfecção pelos vírus do HIV e da Hepatite C (HCV). Com a introdução de HAART (“Highly Active Antiretroviral Therapy” ou Terapia antirretroviral altamente ativa em português) o aumento na sobrevida destes pacientes trouxe à tona a emergência da infecção pelo HCV e as doenças hepáticas crônicas como importantes causas de morbidade e mortalidade somadas ao HIV [3,4]. Devido a rotas de transmissão semelhantes, a coinfecção entre HIV e HCV é comum na atualidade, porém difere um pouco dos grupos de risco para HIV ou HCV isolados, estando presente a coinfecção principalmente nos usuários de drogas injetáveis e em pacientes que se submetem a transfusões de sangue e derivados [2, 3, 5]. Nos Estados Unidos da América, estima-se que 30 a 35% dos pacientes infectados pelo HIV são coinfectados pelo HCV [2, 3, 6]. Pacientes coinfectados pelos vírus HIV/HCV progridem, muitas vezes, para doença hepática crônica, e à cirrose. Dois autores demonstraram, em estudos diferentes, que 15 a 25% de pacientes coinfectados evoluíram para cirrose em 10 a 15 anos, comparados com 3-6% dos monoinfectados pelo HCV, no mesmo período de tempo [2, 7]. No entanto, estes estudos foram realizados anteriormente ao aparecimento da HAART. O HIV parece acelerar a doença hepática pelo HCV, especialmente quando associada à progressão da imunodeficiência [2, 3]. Fatores de risco associados com maiores taxas de progressão para fibrose hepática incluem uso de álcool, idade avançada e contagens de linfócitos T-CD4 menor do que 200 células/mm3 [7, 8]. O papel da HAART na história natural do HCV tem sido amplamente discutido. A terapia antirretroviral pode aumentar inicialmente a atividade necroinflamatória hepática e acelerar a progressão da hepatite C crônica [2, 3]. Dessa forma, muitos estudos sugerem que a coinfecção de HIV com HCV pode aumentar o risco de desenvolver doença hepática após a instituição da terapia antirretroviral, e que hepatite C crônica age como um fator de risco independente para progressão da doença hepática e hepatotoxicidade em pacientes coinfectados em vigência de HAART [2]. No entanto, existem efeitos benéficos em longo prazo no curso da infecção pelo HCV em pacientes coinfectados, sugerindo que o uso de HAART e a obtenção da supressão viral revertem o curso desfavorável da doença hepática pelo HCV nestes pacientes pelo mecanismo de reposta imunológica, principalmente naqueles com baixas contagens de linfócitos T-CD4, com diminuição da atividade necro-inflamatória [3, 9, 10]. Adicionalmente, outros autores têm demonstrado que o uso de HAART leva a um declínio na mortalidade por doença hepática e diminuição nas taxas de progressão à fibrose, mostrando que, em coinfectados, a ausência de tratamento com HAART, leva na maioria das vezes à progressão da doença hepática [11-13]. O objetivo do presente estudo é avaliar a ocorrência de hepatotoxicidade e seus fatores associados nos pacientes coinfectados com HIV e HCV, comparados com os monoinfectados pelo HIV. Pacientes e Métodos Este é um estudo observacional e prospectivo. Todos os participantes são portadores de HIV em acompanhamento no Serviço de Infectologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição de Porto Alegre, um hospital terciário, referência para o atendimento de pacientes com HIV. O grupo incluído para estudo foi o de pacientes HIV positivos, sem tratamento prévio que estavam iniciando HAART. Foram excluídos durante o estudo pacientes portadores do vírus da hepatite B, pacientes em tratamento ou previamente tratados para hepatite C e pacientes em uso ativo de drogas ilícitas ou álcool. Também foram excluídos aqueles pacientes que não retornaram à segunda visita, e os pacientes com uso irregular de HAART ou falha virológica, definida quando não há queda de dois logaritmos na carga viral para HIV em três meses e a não indetectabilidade no sexto mês. Para análise houve a categorização do grupo em dois subgrupos: monoinfectados pelo HIV e coinfectados com HIV e HCV. Os dados demográficos e laboratoriais foram avaliados antes da instituição do tratamento antirretroviral, com cinco visitas, a cada três meses até o final de doze meses. A cada três meses, os pacientes compareciam a uma visita ambulatorial para orientações, avaliação clínica e laboratorial. Os exames laboratoriais constavam da mensuração de aminotransferases (AST e ALT), plaquetas, tempo de protrombina e albumina, além da contagem de linfócitos TCD4 e carga viral do HIV. O tipo de terapia antirretroviral utilizada foi também registrado, sendo posteriormente avaliados e comparados entre os grupos. Fibrose hepática foi avaliada por biópsia, utilizando-se o escore METAVIR [14]. O uso de medicações hepatotóxicas como tuberculostáticos, sulfonamidas e antifúngicos, foi registrado para avaliação e comparação entre os grupos para ocorrência de hepatotoxicidade. Os dados foram coletados no período entre agosto de 2008 a agosto de 2010. Hepatotoxicidade, definida pela elevação de ALT ou AST, foi classificada de acordo com os critérios do AIDS Clinical Trials Group (ACTG) e Sulkowski et al [15, 16]: grau I, 1.25–2.5 vezes o valor do limite superior da normalidade (LSN); grau II, 2.51–5.0 vezes o valor do LSN; grau III, 5.1–10 vezes o LSN; grau IV, >10 vezes o LSN. Hepatotoxicidade leve foi definida por graus I e II, e toxicidade grave por graus III e IV, ambos pelos critérios do ACTG. Com o objetivo de evitar fatores de confusão, aqueles pacientes com níveis de AST e/ou ALT maiores que o LSN antes do início de HAART foram classificados baseando-se em alterações relativas ao valor de base e não o LSN pré-estabelecido: grau I, 1.25–2.5 vezes o valor de base; grau II, 2.6–3.5 vezes o valor de base; grau III, 3.6–5 vezes o valor de base; grau IV, >5 vezes o valor de base. Hepatotoxicidade leve foi definida por graus I e II, e toxicidade grave por graus III e IV [15, 16]. Análise Estatística Para a análise estatística, foi utilizada avaliação descritiva com média e desvio padrão para variáveis contínuas e frequência e percentagem para variáveis categóricas. Na comparação para as médias entre grupos, utilizamos o teste t de Student - Fischer e, para análise das frequências, o teste qui-quadrado. Para avaliar o comportamento das variáveis ao longo do acompanhamento entre os grupos foi utilizado o teste de Equações generalizadas, considerando-se o quiquadrado de Waldt para significância, tendo em vista que as variáveis tinham distribuição normal. Também foram considerados os deltas em relação ao valor basal, controlando-se para o valor basal. Para as comparações múltiplas, foi utilizado teste de Bonferroni. Para avaliar o risco de desenvolvimento de hepatotoxicidade nos pacientes com e sem coinfecção, utilizamos uma análise de regressão de Poisson com variância robusta. As variáveis incluídas no modelo foram aquelas que se relacionaram na análise bivariada com a hepatotoxicidade com significância estatística abaixo de 0,05. O programa usado como banco de dados foi o Microsoft Excel e, na análise, o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para Windows. Ética Todos os indivíduos incluídos no estudo concordaram em participar do estudo mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Nossa Senhora da Conceição, protocolo n.º 136/08 de 04/08/2008 e da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de porto Alegre, protocolo n.º 3414/10 com parecer complementar n.º 483/10 de 19/11/10. Resultados Pacientes De agosto de 2008 a agosto de 2010, um total de 97 pacientes portadores de HIV sem tratamento prévio foram inicialmente recrutados e iniciaram antirretrovirais. Destes, 32 pacientes foram excluídos (33%), conforme os critérios estabelecidos, ficando o grupo circunscrito a 65 pacientes (67%). As características de base dos pacientes antes do início de HAART encontram-se na Tabela 1. Destes, 51 (78%) pacientes iniciaram regimes contendo inibidores da transcriptase reversa análogos dos nucleosídeos (NRTI) e inibidores da transcriptase reversa não análogos dos nucleosídeos (NNRTI) (todos utilizando efavirenz) e 14 (22%) iniciaram regimes contendo NRTI e inibidores de protease (PI) com o booster ritonavir (10 pacientes utilizando lopinavir/ritonavir e 4 pacientes utilizando atazanavir/ritonavir). Trinta pacientes (46%) eram HCV positivos, confirmados por PCR, e trinta e cinco (54%) eram negativos para HCV. Uso de drogas injetáveis (UDI) foi a rota principal de infecção por HCV relatada pelos pacientes no grupo de coinfectados com HIV/HCV, representado por 20 pacientes (66%). Quando comparados, os grupos de coinfectados com HIV/HCV e monoinfectados por HIV não tiveram diferenças em relação ao gênero, idade, cor, índice de massa corporal (IMC), medida de linfócitos T-CD4, Carga viral para HIV, albumina e tempo da protrombina antes do início de HAART, conforme observado na Tabela 1. Nenhum dos pacientes teve diagnóstico clínico ou histopatológico de cirrose hepática. Não houve perda de seguimento entre os pacientes que foram incluídos no estudo. Em relação ao grupo de coinfectados, a maioria era portador do genótipo 1 (22 pacientes [73%]). Biópsia hepática foi realizada em 16 (53%) dos 30 pacientes do grupo de coinfectados. Quando avaliada histopatologia hepática utilizando o escore METAVIR [14] em 16 pacientes, dois pacientes (12%) coinfectados tinham fibrose hepática grau 1, oito (50%) tinham fibrose grau 2, um (6%) tinham fibrose grau 3 e cinco (32%) não tinham fibrose hepática (F0). Não houve registro de fibrose grau 4 nos pacientes. Quando avaliada a contagem de linfócitos T-CD4 antes e após a introdução de HAART a cada três meses, não houve diferença estatística entre os grupos durante o acompanhamento. Da mesma forma o comportamento das curvas para contagem de linfócitos T-CD4 foi semelhante em todas as visitas entre os grupos, utilizando-se o teste das Equações de Estimativas Generalizadas. Níveis de transaminases antes e após início de HAART Os pacientes coinfectados apresentaram níveis médios de AST e ALT antes da introdução de HAART maiores que o grupo de monoinfectados (p<0,001), conforme Tabela 2 e 3. Após o início de HAART, AST e ALT séricos aumentaram significativamente nos grupos de pacientes coinfectados com HIV e HCV. Já nos pacientes monoinfectados os níveis de AST e ALT não tiveram variação significativa durante as 48 semanas de acompanhamento. O uso de PI ou NNRTI não agiu como fator de risco para aumento de transaminases em nenhum dos grupos estudados. A magnitude de aumento dos níveis de AST e ALT foi maior no grupo de pacientes coinfectados com HCV, independente do tipo de HAART em uso. Usando o Teste de Equações generalizadas, o comportamento das curvas foi diferente entre os grupos para AST e ALT, como mostra as Figuras 1 e 2, considerando os deltas em relação aos valores basais e controlando para o valor basal, com p = 0,012 tanto para AST quanto para ALT. A idade, gênero, tipo de HAART, IMC e contagem de linfócitos T-CD4 não influenciaram a variação de AST ou ALT. Para albumina e tempo de protrombina, a média antes e após o início de HAART foi semelhante, não havendo diferença em nenhum período durante o seguimento de 48 semanas. Desenvolvimento de Hepatotoxicidade Vinte e dois pacientes (73%) coinfectados apresentaram algum grau de hepatotoxicidade para AST ou ALT. Por outro lado, apenas 7 (20%) pacientes monoinfectados apresentaram algum grau de hepatotoxicidade, com diferença estatisticamente significativa entre os grupos. Quando avaliada a AST no grupo de coinfectados, hepatotoxicidade grau 1 ocorreu em 15 pacientes (50%) e grau 2 em 2 pacientes (7%). Não foi registrada hepatotoxicidade de graus 3 ou 4 neste grupo. Em relação aos pacientes monoinfectados apenas 3 (9%) dos pacientes tiveram hepatotoxicidade grau 1. Não foi registrada hepatotoxicidade de graus 2, 3 ou 4 neste grupo. Por outro lado, quando avaliados níveis de ALT em coinfectados, hepatotoxicidade grau 1 ocorreu em 14 pacientes (47%) e grau 2 em 6 (20%). Já os monoinfectados tiveram hepatotoxicidade grau 1 em 5 (14%) pacientes e grau 2 em apenas 2 (6%) destes. Nenhum paciente desenvolveu hepatotoxicidade grave, definida como grau 3 ou 4. O tipo de HAART não esteve associado ao risco de hepatotoxicidade. O uso de prévio de drogas injetáveis esteve associado ao risco de hepatotoxicidade. Quando avaliado o período em que ocorreu a hepatotoxicidade nos pacientes, verificou-se que em 18 pacientes (62%), a hepatotoxicidade ocorreu até o sexto mês de avaliação, com recuperação e posterior melhora das transaminases nos meses subsequentes. A ocorrência de hepatotoxicidade não esteve relacionada com o gênero, tipo de HAART, uso de álcool prévio ou uso de medicações hepatotóxicas outras que não os antirretrovirais (Tabela 4). Hepatotoxicidade não esteve relacionada com a idade dos pacientes, variação de linfócitos T-CD4 ou o genótipo 3. O risco de um paciente desenvolver hepatotoxicidade quando coinfectado foi 3,7 vezes maior do que o risco de um monoinfectado (RR 3.7; 95% IC, 1,8-7,4; p<0,001). Quando ajustada esta relação para UDI, este risco foi de 3.3 vezes (RR 3.3, 95% IC, 1,2-9,5; p<0,001). Desfechos Clínicos e Efeitos Adversos Ao final de 48 semanas de avaliação, apenas três pacientes (10%) no grupo de coinfectados e 3 pacientes (8.6%) no grupo de monoinfectados não se apresentaram na última visita de seguimento. Dois pacientes descontinuaram a terapia devido a intolerância aos antirretrovirais, e quatro pacientes descontinuaram por razões não explicadas. Estes pacientes tiveram seus dados incluídos até a confirmação virológica de abandono de tratamento HAART. Nenhum paciente suspendeu terapia antirretroviral devido à hepatotoxicidade. Discussão Hepatotoxicidade, caracterizada pelo aumento das taxas de citólise hepatocelular e aumento significativo dos níveis séricos das transaminases, é uma complicação relativamente comum em pacientes HIV positivos recebendo HAART [2, 17, 18] O aumento de enzimas hepáticas pode ser observado em cerca de 6 a 30 % dos pacientes com terapia antirretroviral [16, 19]. Entretanto, hepatotoxicidade grave (definida como o aumento dos níveis de transaminases maior do que cinco vezes o limite normal), que leva a descontinuação do tratamento, tem sido reportada em menos de 10 % dos pacientes em tratamento [2, 16]. No presente estudo, 29 pacientes (45%) do total apresentaram algum grau de hepatotoxicidade, sendo esta percentagem maior no grupo de pacientes coinfectados, o que está de acordo com a literatura apresentada. Entretanto nenhum paciente apresentou hepatotoxicidade grave ou necessitou suspender o uso de HAART por este motivo. Estudos sugerem que hepatite crônica pelo vírus C aumenta o risco de hepatotoxicidade por terapia antirretroviral [16, 19-22]. Alguns autores postularam que a hepatite C está associada com risco aumentado de hepatotoxicidade para todos os regimes de tratamento antirretroviral [23, 24], enquanto outros encontraram um risco aumentado apenas com certos agentes antirretrovirais, tais como o ritonavir ou nevirapina [21, 25]. No presente trabalho, o grupo de coinfectados apresentou hepatoxicidade grau 1 e 2 em 22 pacientes (73%). Apesar disto, o tipo de HAART não esteve associado ao risco de hepatotoxicidade. Os dados apresentados no presente trabalho se aproximam dos dados de alguns autores, que demonstram incidência de hepatotoxicidade em coinfectados com HIV e HCV variando de 25 a 75% [16, 18, 26, 27]. No entanto é importante ressaltar que na maioria dos outros estudos, os pacientes tinham contagens de linfócitos TCD4 semelhantes ou maiores que 200 células/mm3, situação que pode subestimar a ocorrência de hepatotoxicidade, diferente do presente estudo. No grupo de coinfectados o risco de desenvolver hepatoxicidade foi 3.7 vezes maior do que nos pacientes monoinfectados (RR 3.7; 95% IC, 1,8-7,4; p<0,001), achado semelhante com o descrito por den Brinker et al e Sulkowski et al [16, 20]. Quando avaliado o uso concomitante de HAART e medicações hepatotóxicas, não houve diferença entre os grupos, não sendo este um fator de confusão para hepatotoxicidade. No presente estudo verificou-se que em 18 pacientes (62%) a hepatotoxicidade ocorreu até o sexto mês de avaliação. Os dados demonstram a ocorrência de hepatotoxicidade mais precocemente, decorrente da coinfecção HIV e HCV, com mecanismo imuno-mediado dependente das contagens iniciais de linfócitos T-CD4, conforme descrito por alguns autores [18, 28, 29]. Dessa forma, além da hepatotoxicidade, outra hipótese para o aumento de transaminases em coinfectados, seria a ativação da Hepatite C com aumento nos níveis de HCV RNA, após o início de HAART, quadro resultante do mecanismo de síndrome inflamatória da reconstituição imune. Fatores associados com esta condição incluem baixa idade e baixas contagens de linfócitos T-CD4 [30, 31]. Mesmo que a hepatotoxicidade possa ser mais comum em pacientes com HCV, estudos mostram o impacto positivo do tratamento antirretroviral na progressão da fibrose hepática em pacientes coinfectados [10, 12]. O presente estudo demonstrou que apesar do risco aumentado de hepatotoxicidade que os coinfectados apresentam, os benefícios superam os riscos, já que estes apresentam excelente resposta imunológica semelhante aos monoinfectados por HIV e dificilmente a hepatotoxicidade é grave, ou seja, raramente justifica descontinuação da terapia. Finalmente, os dados apresentados no presente estudo demonstram que os pacientes portadores de HIV possuem um risco considerável de hepatotoxicidade secundário ao uso de HAART. Os pacientes coinfectados com HIV e HCV estão em maior risco, sugerindo que estes possam desenvolver hepatotoxicidade cumulativa e síndrome inflamatória da reconstituição imune após início da terapia antirretroviral, não estando relacionada com o tipo de HAART em uso. Dessa forma, é importante saber que coinfectados por HIV e HCV estão em maior risco de desenvolver hepatotoxicidade após introdução de HAART e que estes pacientes devem ter acompanhamento rigoroso e periódico para avaliação de enzimas e função hepática. Acreditamos que o seguimento dos pacientes por um maior período de tempo poderá trazer informações valiosas a este importante assunto. Tabela 1. Características basais dos pacientes antes da introdução de HAART. Coinfectados HIV/HCV (n=30) Monoinfectados HIV (n=35) P Masculino, n (%) 22 (73%) 23 (66%) > 0.05 Feminino, n (%) 8 (27%) 12 (34%) > 0.05 Idade (anos) 41.8 + 7.9 38.8 + 10.1 0.09 UDI no passado 20 (66%) 2 (6%) < 0.05 Caucasianos 18 (60%) 24 (68%) > 0.05 23.6 + 2.1 24.3 + 3.6 0.68 CD4+, células/ mm 116.3 + 87.7 117 + 101.6 0.98 HIV RNA (cópias/mL) 182000 207000 0.56 AST (U/l) 41.4 + 20.1 28.5 + 11.1 < 0.01 ALT (U/l) 38.1 + 17.3 26 + 12.4 < 0.01 Albumina 3.4 + 0.7 3.5 + 0.8 0.73 Tempo de Protrombina 93.2 + 10.8 96.6 + 8.1 0.19 IMC 3 UDI: Uso de drogas injetáveis; IMC: Índice de massa corporal; AST: Aspartato aminotransferase; ALT - Alanina aminotransferase Tabela 2. Variação da média de aspartato aminotransferase (AST) durante 48 semanas de acompanhamento Coinfectados HIV/HCV (n=30) Monoinfectados HIV (n=35) P AST (Semana 0) 41.4 + 20.1 28.5 + 11.1 < 0.01 AST (Semana 12) 46 + 24.8 28.7 + 17.5 < 0.01 AST (Semana 24) 54.6 + 27.1 25.4 + 10.7 < 0.01 AST (Semana 36) 43.9 + 10.5 22.9 + 8.7 < 0.01 AST (Semana 48) 51.5 + 22.6 22.5 + 8.7 < 0.01 AST: Aspartato aminotransferase; ALT - Alanina aminotransferase Tabela 3. Variação da média de alanina aminotransferase (ALT) durante 48 semanas de acompanhamento Coinfectados HIV/HCV (n=30) Monoinfectados HIV (n=35) P ALT (Semana 0) 38,1 + 17,3 26 + 12,4 < 0.01 ALT (Semana 12) 47,4 + 29,9 32,4 + 29,8 < 0.01 ALT (Semana 24) 61,9 + 33,9 25,3 + 15,1 < 0.01 ALT (Semana 36) 50,7 + 15,4 24,8 + 22,2 < 0.01 ALT (Semana 48) 62,1 + 38,5 25,2 + 15,9 < 0.01 AST: Aspartato aminotransferase; ALT - Alanina aminotransferase Tabela 4. Associação entre Hepatotoxicidade e variáveis demográficas nos grupos estudados. Hepatotoxicidade Coinfectados 22 (77,3%) Monoinfectados 7 (20%) Gênero Masculino 22 (48,9%) Gênero Feminino 7 (35%) HAART 1 23 (45,1%) HAART 2 6 (42,9%) Uso prévio de álcool 11 (57,9%) Sem uso de álcool prévio 11 (32,4%) UDI prévio 16 (72,7%) Sem UDI prévio 8 (25%) Medicação Hepatotóxica 14 (48,3%) P RR (IC 95%) < 0,001 3,3 (1,2 - 9,5) 0,442 - 0,999 - 0,129 - 0,001 1,3 (0,6 – 2,9) 0,778 Sem Medicação Hepatotóxica 15 (41,7%) HAART 1 = 2 NRTIs e 1 NNRTIs; HAART 2 = 2 NRTIs e 1 IP com booster; UDI = Usuário de drogas injetáveis Referências 1 Piot P, Carael M. Global Perspectives on Human Immunodeficiency Virus Infection and Acquired Immunodeficiency Syndrome. In: Mandel GL, Bennet JE, Dolin R, editors. Principles and Practice of Infectious Diseases. 7th ed. Elsevier: 2009. p. 1619-1633. 2 Calza L, Verucchi G, Manfredi R, Chiodo F. Human Immunodeficiency Virus and Hepatitis C Virus Coinfection: Epidemiology, Natural History, Therapeutic Options and Clinical Management. Infection 2004; 32(1):33-46. 3 Rockstroh JK, Spengler U. HIV and hepatitis C virus coinfection. Lancet Infect Dis 2004; 4(7):437-44. 4 Mocroft A, Ledergerber B, Katlama C, Kirk O, Reiss P, d'Arminio Monforte A, et al. Decline in the AIDS and death rates in the EuroSIDA study: an observational study. Lancet. 2003; 362(9377):22-9. 5 Valle Tovo C, Alves de Mattos A, Ribeiro de Souza A, Ferrari de Oliveira Rigo J, Lerias de Almeida PR, Galperim B, et al. Impact of human immunodeficiency virus infection in patients infected with the hepatitis C virus. Liver Int. 2007; 27(1):40-6. 6 Sherman KE, Roustrer SD, Chung RT, Rajicic N. Hepatitis C Virus prevalence among patients infected with Human Immunodeficiency Virus: a cross-sectional analysis of the US adult AIDS Clinical Trials Group. Clin Infect Dis. 2002; 34(6):8317. 7 Benhamou Y, Bochet M, Di Martino V, Charlotte F, Azria F, Coutellier A, et al. Liver fibrosis progression in human immunodeficiency virus and hepatitis C virus coinfected patients. Hepatology 1999; 30(4): 1054–58. 8 Martinez-Sierra C, Arizcorreta A, Díaz F, Roldán R, Martín-Herrera L, PérezGuzmán E, et al. Progression of chronic hepatitis C to liver fibrosis and cirrhosis in patients coinfected with hepatitis C virus and human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis 2003; 36(4):491-8. 9 Anderson KB, Guest JL, Rimland D. Hepatitis C virus coinfection increases mortality in HIV-infected patients in the highly active antiretroviral therapy era: data from the HIV Atlanta VA Cohort Study. Clin Infect Dis 2004; 39(10):1507-13. 10 Pascual-Pareja JF, Caminoa A, Larrauri C, González-García J, Montes ML, Díez J, et al. HAART is associated with lower hepatic necroinflammatory activity in HIVhepatitis C virus-coinfected patients with CD4 cell count of more than 350 cells/microl at the time of liver biopsy. AIDS 2009; 23(8):971-5. 11 Bräu N. Treatment of chronic hepatitis C in human immunodeficiency virus/hepatitis C virus-coinfected patients in the era of pegylated interferon and ribavirin. Semin Liver Dis 2005; 25(1):33-51. 12 Bräu N, Salvatore M, Ríos-Bedoya CF, Fernández-Carbia A, Paronetto F, Rodríguez-Orengo JF, et al. Slower fibrosis progression in HIV/HCV-coinfected patients with successful HIV suppression using antiretroviral therapy. J Hepatol 2006; 44(1):47-55. 13 Thein HH, Yi Q, Dore GJ, Krahn MD. Natural history of hepatitis C virus infection in HIV-infected individuals and the impact of HIV in the era of highly active antiretroviral therapy: a meta-analysis. AIDS 2008; 22(15):1979-91. 14 Bedossa P, Poynard T. An algorithm for the grading of activity in chronic hepatitis C. The METAVIR Cooperative Study Group. Hepatology 1996; 24(2):28993. 15 National Institute of Allergy and Infectious Diseases, Division of AIDS. Division of AIDS Table for Grading the Severity of Adult and Pediatric Adverse Events. Bethesda, MD: US Department of Health and Human Services; 2004. 16 Sulkowski MS, Thomas DL, Chaisson RE, Moore RD. Hepatotoxicity associated with antiretroviral therapy in adults infected with human immunodeficiency virus and the role of hepatitis C or B virus infection. JAMA 2000; 283(1):74-80. 17 Nuñez MJ, Martin-Carbonero L, Moreno V, Valencia E, Garcia-Samaniego J, Gonzalez-Castillo J, et al. Impact of ntiretroviral treatment-related toxicities on hospital admissions in HIVinfected patients. AIDS Res Hum Retroviruses 2006; 22(9):825–829. 18 Soriano V, Puoti M, Garcia-Gasco P, Rockstroh JK, Benhamou Y, Barreiro P, et al. Antiretroviral drugs and liver injury. AIDS 2008, 22(1):1–13. 19 Núñez M, Lana R, Mendoza JL, Martín-Carbonero L, Soriano V. Risk factors for severe hepatic injury after introduction of highly active antiretroviral therapy. J Acquir Immune Defic Syndr. 2001; 27(5):426-31. 20 den Brinker M, Wit FW, Wertheim-van Dillen PM, Jurriaans S, Weel J, van Leeuwen R, et al. Hepatitis B and C virus co-infection and the risk for hepatotoxicity of highly active antiretroviral therapy in HIV-1 infection. AIDS. 2000; 14(18):2895902. 21 Bonfanti P, Valsecchi L, Parazzini F, Carradori S, Pusterla L, Fortuna P, et al. Incidence of adverse reactions in HIV patients treated with protease inhibitors: a cohort study. Coordinamento Italiano Studio Allergia e Infezione da HIV (CISAI) Group. J Acquir Immune Defic Syndr. 2000; 23(3):236-45. 22 Puoti M, Torti C, Ripamonti D, Castelli F, Zaltron S, Zanini B, et al. Severe hepatotoxicity during combination antiretroviral treatment: incidence, liver histology, and outcome. J Acquir Immune Defic Syndr. 2003; 32(3):259-67. 23 Mariné-Barjoan E, Saint-Paul MC, Pradier C, Chaillou S, Anty R, Michiels JF, et al. Impact of antiretroviral treatment on progression of hepatic fibrosis in HIV/hepatitis C virus co-infected patients. AIDS. 2004; 18(16):2163-70. 24 John M, Flexman J, French MA. Hepatitis C virus-associated hepatitis following treatment of HIV-infected patients with HIV protease inhibitors: an immune restoration disease? AIDS 1998; 12(17):2289-93. 25 Cooper CL, Parbhakar MA, Angel JB. Hepatotoxicity associated with antiretroviral therapy containing dual versus single protease inhibitors in individuals coinfected with hepatitis C virus and human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis 2002; 34(9):1259-63. 26 Aranzabal L, Casado JL, Moya J, Quereda C, Diz S, Moreno A, et al. Influence of liver fibrosis on highly active antiretroviral therapy-associated hepatotoxicity in patients with HIV and hepatitis C virus coinfection. Clin Infect Dis 2005; 40(4):58893. 27 Servin-Abad L, Molina E, Baracco G, Arosemena L, Regev A, Jeffers L, et al. Liver enzymes elevation after HAART in HIV-HCV co-infection. J Viral Hepat 2005; 12(4): 429-34. 28 Joshi D, O'Grady J, Dieterich D, Gazzard B, Agarwal K. Increasing burden of liver disease in patients with HIV infection. Lancet 2011; 377(9772): 1198–1209. 29 Servoss JC, Kitch DW, Andersen JW, Reisler RB, Chung RT, Robbins GK. Predictors of antiretroviral-related hepatotoxicity in the adult AIDS Clinical Trial Group (1989-1999). J Acquir Immune Defic Syndr. 2006; 43(3):320-3. 30 French MA, Lenzo N, John M, Mallal SA, McKinnon EJ, James IR, et al. Immune restoration disease after the treatment of immunodeficient HIV-infected patients with highly active antiretroviral therapy. HIV Med 2000; 1(2):107-15. 31 Churg RT, Evans SR, Yang Y, Theodore D, Valdez H, Clark R, et al. Immune recovery is associated with persistent rise in hepatitis C virus RNA, infrequent liver test flares, and is not impaired by hepatitis C virus in co-infected subjects. AIDS 2002; 16(14):1915-23. 4 ARTIGO II Immune Restoration in HIV Infected Patients and Hepatitis C Virus Coinfection during Highly Active Antiretroviral Therapy Formatado conforme as normas da Revista Brazilian Journal of Infectious Diseases Vicente Sperb Antonello1, 2, Marcelo Campos Appel da Silva3,Dimas Alexandre Kliemann2, Breno Riegel Santos2, Cristiane Valle Tovo3. 1 Department of Infection Control, Hospital Fêmina, Porto Alegre, RS. 2 Department of Infectious Diseases, Hospital Nossa Senhora da Conceição, Porto Alegre, RS. 3 Department of Gastroenterology, Hospital Nossa Senhora da Conceição, Porto Alegre, RS. Summary Objective: To evaluate the influence of hepatitis C virus (HCV) coinfection on clinical, immunological, and virological responses after highly active antiretroviral therapy (HAART) initiation compared to monoinfected HIV-positive patients. Methods: This prospective study enrolled 65 HIV-1– positive subjects who initiated HAART and attended follow-up visits over 48 weeks from 2008 to 2010. They were grouped based on HCV RNA test results. Virological and immunological responses and adverse events were monitored at baseline and at the end of weeks 12, 24, 36, and 48. Results: There were 35 patients monoinfected with HIV and 30 patients coinfected with HIV and HCV. In the present study HIV/HCV coinfection does not seem to influence CD4 T-lymphocytes recovery in these patients compared with HIV monoinfected patients. Evaluation of analysis of variance with Generalized Estimating Equations between groups showed no difference between the curves of CD4 T-lymphocytes raise regarding coinfected and monoinfected groups. We observed no statistically significant differences in viral load responses among both groups during follow-up. Conclusions: This prospective study confirms that HCV infection seems not to be associated with an impaired CD4 T-lymphocytes count response to HAART. Introduction Coinfection of hepatitis C virus (HCV) in patients with human immunodeficiency virus (HIV) has become a frequent situation, achieving total prevalence of nearly 30-50%, owing to common modes of transmission. In particular subgroups, as intravenous drug users and hemophiliacs, rates may rise as high as 90% and 100%, respectively [1, 2]. Clinical implications of HIV and HCV coinfection have been the focus of extensive research and controversial data. Several studies suggest a more rapid immune deterioration (lower levels of CD4 T-lymphocytes); higher risk for progression to acquired immunodeficiency syndrome (AIDS); increased HCV load; and a more severe liver disease [3-5]. The introduction of highly active antiretroviral therapy (HAART) for the treatment of HIV-infected individuals has shown to decrease morbidity and mortality, as a result of suppression of HIV viremia, recovery of CD4 T-lymphocytes, and restoring immune function, but regarding to HCV coinfection, combined therapy yielded conflicting results [4]. Some observational studies have found that HIV/HCV coinfected patients have an impaired CD4 T-lymphocytes recovery compared with HIV monoinfected patients after initiating HAART [3, 6], whereas others have not found such an effect of HIV and HCV coinfection [4, 7, 8]. Most studies have compared HIV/ HCV populations with CD4 T-lymphocytes count over 200 3 cells/mm . After extensive search at Medline, the authors found no report in the literature about immune restoration in coinfected immunosupressed patients, with 3 CD4 T-lymphocytes count lower than 100 cells/mm . In this prospective study we aimed to assess the CD4 T-lymphocytes count recovery after HAART in HIV and HCV coinfected patients comparing to HIV monoinfected patients. Individuals and Methods Study Population This was a prospective study conducted at a tertiary hospital in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, in Brazil, which included patients from August 2008 until August 2010 initiating HAART and whom achieved virological response in months 3 (reduction of 2-logs or higher in HIV viral load [VL]) and 6 (undetectable HIV VL). All patients included were previously identified as HIV positive and hepatitis B virus negative. Population sample was divided in two groups – HIV monoinfected patients and HIV/HCV coinfected patients for whom demographic characteristics, clinical and laboratory values, and medical history were recorded at enrollment and at medical consultation each 3 months. Hepatic Fibrosis was evaluated with liver biopsy, using METAVIR score [9]. Laboratory Testing Blood samples were collected at enrollment and every 3 months, including liver panel (alanine aminotransferases [ALT], aspartate aminotransferases [AST], albumine), HIV VL and CD4 T-lymphocytes. Serologic testing for HCV infection was performed through ELISA (Abbott Axsym System, N. Chicago, IL, EUA) and polimerase chain reaction (PCR) for RNA-HCV, through AMPLICOR qualitative test (Roche Diagnostics, Nutley, NJ, USA; detection limit: 50 UI/mL). Statistical Analysis All statistical analysis were performed using the SPSS® 10.0 statistical package. The qualitative variables were described in absolute frequency and percentage. The quantitative variables were described in means and standard deviation. For the analysis, we used the chi-squared test, Spearman correlations, and the t-test for comparison of the variables in the study. For the evaluation of analysis of variance we used Generalized Estimating Equations. Ethics All individuals included agreed to join the study protocol. Hospital Nossa Senhora da Conceição Ethical Committee approved the present study in 04/08/2008, number 136/08. So did Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, protocol number 3414/10 (483/10) in 19/11/10. Results Baseline Characteristics From a total of 97 HIV-positive patients initially recruited, 65 (67%) started HAART as their first antiretroviral regimen and were included in the study. Baseline characteristics of the groups are summarized in Table 1. Thirty patients (46%) were HCV positive - all of them were positive for HCV-RNA, and thirty-five (54%) patients were HCV RNA negative. At the end of 48 weeks of follow-up, only three (10%) patients did not reach the end point in the coinfected HIV/HCV group and three patients in the monoinfected group (8.6%). One patient (1.5%) discontinued therapy due to severe gastrointestinal symptoms, and five patients (7.5%) discontinued for unexplained reasons. Those patients had their data included in the study until they had virological confirmation of abandon of therapy. Intravenous drug use was the main route of HCV infection in the coinfected group, with a total of 20 patients (64.5%). The percentage of males was very similar in both groups. Comparing coinfected with monoinfected patients, the HCV positive group had older mean age, but not statistically significant (41.8 vs 38.8 years). None of the patients included were using alcohol or drugs during the follow-up. Regarding HAART, in the coinfected group the regimen was two nucleosideanalogue reverse-transcriptase inhibitor (NRTI) plus non-nucleoside-analogue reverse-transcriptase inhibitor (NNRTI) in 21 (70%) of the patients versus 30 (85%) in the monoinfected group. Only 9 (30%) patients of the coinfected group were under use of two NRTI and a protease inhibitor (PI) versus 5 (15%) for monoinfected. Regarding coinfected group, patients were predominantly of HCV genotype 1 (n=22, 73%). No patient had diagnosis of cirrhosis. Hepatic biopsy, evaluated by METAVIR score [9], was performed in 16 of the 30 patients of coinfected group, and 12% had hepatic fibrosis grade 1, 50% had grade 2 and 6% had grade 3. Thirty-two percent had no hepatic fibrosis (grade 0) on hepatic biopsy. HIV Plasma VL Response Coinfected and monoinfected patients had similar HIV VL before initiation of HAART (182,000 x 207,000 copies/mL, p = 0.51). Because of the study design, as shown in Individuals and Methods, all patients had reduction of at least of 2 logs in month 3 and undetectable HIV VL in month 6. The magnitude of decline in HIV-1 VL among both groups after HAART initiation was similar. Immunological Response Regarding both groups, immunological response was measured comparing evolution of CD4 T-lymphocytes counts in the groups of HIV/HCV coinfected with and HIV monoinfected after HAART introduction and every medical consultation each 3 months until the end of 12 months. There were no statistical differences in the CD4 T-lymphocytes counts between the groups during the entire ambulatory office visit in the analysis, using Bonferroni test. Changes in the CD4 T-lymphocytes subsets are summarized in Table 2 and Figure 1. At the beginning of HAART 13 coinfected (44%) and 20 monoinfected patients (57%) had CD4 T-lymphocytes below 100 cells/mm3. After 48 weeks of treatment with HAART, there was a significant increase in the percentage and absolute number of CD4 T-lymphocytes, in both groups, but no statistically differences were found. Using Generalized Estimating Equations, the most appropriate test for evaluation of behavior of CD4 T-lymphocytes variation during the 48 weeks, there was no difference between the groups (p = 0,402), what demonstrate an similar curve for the coinfected and monoinfected patients, regarding CD4 T-lymphocytes measures after HAART introduction, shown in Figure 1. Discussion The present study intended to examine the impact of HCV infection on the extent of CD4 T-lymphocytes recovery after HAART initiation in cohort of HIV-1– infected patients compared to the controls monoinfected HIV-1 infected patient. Our study differs from previous studies because we evaluated actually 3 immunosuppressed patients (CD4 T-lymphocytes count around 100 cells/mm ) and we determined the CD4 T-lymphocytes increase only in patients with virological response in three months (reduction of 2-logs or higher in HIV viral load [VL]) and six months (undetectable HIV VL). This approach promotes some clear advantages once it eliminates the influence of potential differences in HAART adherence and drug potency between HCV infected and HCV uninfected patients. There are conflicting results as to whether HCV infection does or does not have a deleterious effect on the course of HIV infection. However, most authors support a delay in CD4 T-lymphocytes recovery in HIV/HCV coinfected when compared to HIV monoinfected patients [3, 6, 10]. Antonucci et al support a direct role of HCV viremia as a potencial limitation of CD4 T-lymphocytes count response to HAART [6]. Santín et al suggest that HIV/HCV coinfection blunts early immune restoration during treatment with HAART, with a delay in the CD4 T-lymphocytes recovery in HIV/HCV coinfected patients [3]. Many authors support the concept that after HIV-1 viral replication is kept under control, those differences in CD4 Tlymphocytes recovery disappeared, ranging from 1 to 4 years in different studies [3, 10, 11]. On the other hand Sulkowski et al with a prospective cohort study of 1955 patients found no difference in the increase in CD4 T-lymphocytes count during HAART in HCV infected compared with HCV uninfected patients. Also, no difference was detected in the risk of acquiring an AIDS-defining illness or the risk of death when comparing both groups [12]. Fuping et al evaluated 175 HIV/HCV coinfected and HIV monoinfected patients suggesting that HCV/HIV coinfection does not affect immunological and virological responses to HAART. However, the HCV infected patients were at risk of drug reactions to HAART such as rash and hepatotoxicity in HIV patients, especially those in treatment with Nevirapine [5]. In the present study, we provide evidence that HIV/HCV coinfection does not seem to influence CD4 T-lymphocytes recovery in these patients compared with HIV monoinfected patients. The evaluation of analysis of variance with Generalized Estimating Equations between groups showed no difference between the curves of CD4 T-lymphocytes raise regarding coinfected and monoinfected groups. Regarding the massive prevalence of genotype 1 for HCV-infected patients, it was not possible to compare the differences for immunological restoration inside the coinfection group. It is possible that inclusion of more patients or longer followup could reveal significant differences between the groups, but with the present study, we can rule out large and clinically relevant differences. Additionally the absence of HCV viremia is an important limitation of our study, since it would interfere in CD4 T-lymphocytes restoration. To our knowledge, this is the first prospective study that evaluated 3 immunosuppressed patients, with CD4 T-lymphocytes count around 100 cells/mm , regarding that most studies published have included patients with higher levels of CD4 T-lymphocytes at baseline. In conclusion, data from this prospective study confirm that HCV infection seems not to be associated with an impaired CD4 T-lymphocytes count response to HAART. Table 1. Baseline Characteristics of the Study Population prior HAART introduction. Coinfected Group (n=30) Monoinfected Group (n=35) P Male, n (%) 22 (73%) 23 (66%) > 0.05 Age (years) 41.8 + 7.9 38.8 + 10.1 0.09 23.6 + 2.1 24.3 + 3.6 0.68 116.3 + 87.7 117 + 101.6 0.97 182000 207000 0.56 Body Mass Index (BMI) CD4+, median cells/ mm HIV RNA (copies/mL) 3 Table 2. CD4 T-Lymphocytes variation over 12 months of evaluation 3 Coinfected Group (n=30) Monoinfected Group (n=35) P Baseline (before HAART) 116.3 + 87.7 117 + 101.6 0,97 Month 3 201.4 + 176.9 230 + 158.4 0,53 Month 6 228 + 152.8 251 + 140.2 0,58 Month 9 252.1 + 168.8 311 + 143 0,21 Month 12 274.1 + 184.9 293 + 144.9 0,67 CD4+, median cells/mm References 1 Babik, J.M., Holodniy, M. Impact of Highly Active Antiretroviral Therapy and Immunologic Status on Hepatitis C Virus Quasispecies Diversity in Human Immunodeficiency Virus/Hepatitis C Virus-Coinfected Patients. J Virol 2003; 77(3):1940-50. 2 Tovo CV, Santos DE, Mattos AZ, Almeida PRL, Mattos AA, Santos BR. Prevalência Ambulatorial em um Hospital Geral de marcadores para Hepatites B e C em pacientes com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Arq Gastroenterol 2006; 43(2):73-76. 3 Santin M, Mestre M, Shaw E, Barbera MJ, Casanova A, Niubo J, et al. Impact of hepatitis C virus coinfection on immune restoration during successful antiretroviral therapy in chronic human immunodeficiency virus type 1 disease. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 2008; 27(1):65–73. 4 Peters L, Mocroft A, Soriano V, Rockstroh JK, Losso M, Valerio L, et al. Hepatitis C Virus Coinfection Does Not Influence the CD4 Cell Recovery in HIV-1–Infected Patients With Maximum Virologic Suppression. J Acquir Immune Defic Syndr 2009; 50(5):457–63. 5 Fuping G, Wei L, Yang H, Zhifeng Q, Lingyan Z, Yanling L, et al. Impact of Hepatitis C Virus Coinfection on HAART in HIV-Infected Individuals: Multicentric Observation Cohort. J Acquir Immune Defic Syndr 2010; 54(2):137–42. 6 Antonucci G, Girardi E, Cozzi-Lepri A, Capobianchi MR, De Luca A, Puoti M, et al. Role of Hepatitis C Virus (HCV) Viremia and HCVGenotype in the Immune Recovery from Highly Active Antiretroviral Therapy in a Cohort of AntiretroviralNaive HIV-Infected Individuals. Clin Infect Dis 2005; 40(12):e101–9. 7 Yacisin K, Maida I, Ríos MJ, Soriano V, Núñez M. Hepatitis C Virus Coinfection Does Not Affect CD4 Restoration in HIV-Infected Patients after Initiation of Antiretroviral Therapy. AIDS Res Hum Retroviruses 2008; 24(7):935–40. 8 Valle Tovo C, Alves de Mattos A, Ribeiro de Souza A, Ferrari de Oliveira Rigo J, Lerias de Almeida PR, Galperim B, et al. Impact of human immunodeficiency virus infection in patients infected with the hepatitis C virus. Liver Int 2007; 27(1):40-6. 9 Bedossa P, Poynard T. An algorithm for the grading of activity in chronic hepatitis C. The METAVIR Cooperative Study Group. Hepatology 1996; 24(2):289-93. 10 Macias J, Pineda JA, Lozano F, Corzo JE, Ramos A, Leon E, et al. Impaired recovery of CD4+ cell counts following highly active antiretroviral therapy in drugnaïve patients coinfected with human immunodeficiency virus and hepatitis C virus. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 2003; 22(11):675–80. 11 Law WP, Duncombe CJ, Mahanontharit A, Boyd MA, Ruxrungtham K, Lange JM, et al. Impact of viral hepatitis co-infection on response to antiretroviral therapy and HIV disease progression in the HIV-NAT cohort. AIDS 2004; 18(8):1169–77. 12 Sulkowski MS, Moore RD, Mehta SH, Chaisson RE, Thomas DL. Hepatitis C and progression of HIV disease. JAMA 2002; 288(2):199-206. 5 ARTIGO III Uso do score APRI na avaliação de doença hepática, após início de terapia antirretroviral, em pacientes portadores do HIV coinfectados com HCV versus monoinfectados por HIV Formatado conforme as normas da Revista Brazilian Journal of Infectious Diseases Vicente Sperb Antonello 1,2,3 , Cristiane Valle Tovo3,4, Dimas Alexandre Kliemann1, Breno Riegel Santos1 e Vanice Ferrazza Zaltron5. 1. Serviço de Infectologia, Hospital Nossa Senhora da Conceição, Porto Alegre, RS. 2. Serviço de Controle de Infecção Hospitalar, Hospital Fêmina, Porto Alegre, RS. 3. Curso de Pós-Graduação em Hepatologia, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. 4. Serviço de Gastroenterologia, Hospital Nossa Senhora da Conceição, Porto Alegre, RS. Brasil. 5. Serviço de Medicina Interna, Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. Resumo Introdução: O impacto da terapia antirretroviral altamente ativa na progressão da fibrose hepática em pacientes coinfectados com HIV e hepatite C não está totalmente esclarecido. Marcadores não invasivos de fibrose hepática podem ser considerados promissores no estadiamento e na monitorização da sua evolução. Métodos: Um total de 24 pacientes, divididos em dois grupos: 12 monoinfectados por HIV e 12 coinfectados com HIV e HCV foram acompanhados de agosto de 2008 a agosto de 2009, desde o início de HAART, a cada três meses, com avaliação de dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, assim como o cálculo do índice da relação aspartato aminotransferase sobre plaquetas. O objetivo deste estudo foi comparar a progressão de APRI, marcador não invasivo de fibrose hepática, entre populações portadoras do vírus do HIV e coinfectados com HIV e HCV. Resultados: Os grupos estudados não mostraram diferenças quando avaliados idade, gênero, medida de linfócitos T-CD4 e carga viral para HIV em todas as visitas, tipo de HAART e APRI antes do início de HAART. O grupo de pacientes coinfectados com HIV e HCV apresentava APRI significativamente maior que o grupo de monoinfectados por HIV no terceiro (0,57 + 0,31 x 0,27 + 0,05, p = 0,02) e sexto mês (0,93 + 0,79 x 0,28 + 0,11, p = 0,04). Conclusões: Neste estudo, HAART foi associado com aumento de APRI no terceiro e sexto mês de seguimento nos pacientes coinfectados, sugerindo que nestes pode estar ocorrendo hepatotoxicidade cumulativa e síndrome inflamatória da reconstituição imune após início dos antirretrovirais. Palavras-chaves: HIV. Hepatite C. AIDS. Coinfecção. APRI. Doença hepática. Abstract Introduction: The impact of highly active antiretroviral therapy (HAART) on hepatic fibrosis progression in HIV and hepatitis C virus coinfected patients is not completely understood. Noninvasive hepatic fibrosis markers show great promise in determining liver fibrosis staging and monitoring disease progression. Methods: Twenty-four patients divided equally into two groups: 12 HIVmonoinfected and 12 with HIV/HCV coinfected patients, were followed from August 2008 to August 2009, after initiating HAART, with clinical, epidemiological and laboratorial assessments every 3 months and calculation of the aspartate aminotransferase to platelet ratio index (APRI). This study aimed to compare the progression of APRI, a noninvasive hepatic fibrosis marker, among populations with HIV and HIV/HCV coinfection. Results: No differences were observed between the groups regarding age, gender, measurement of CD4 T-lymphocytes and HIV viral load in all consultations, type of HAART and APRI before initiating HAART. Coinfected patients showed a significantly higher APRI than the monoinfected group in month 3 (0.57 ± 0.31 x 0.27 ± 0.105, p = 0.02) and 6 (0.93 ± 0.79 x 0.28 ± 0.11, p = 0.04). Conclusions: In the present study, HAART was associated with APRI increases over six months follow-up in HIV/HCV coinfected patients, suggesting that these may be experiencing cumulative hepatotoxicity and immune reconstitution inflammatory syndrome after initiating antiretroviral drugs. Key-words: HIV. Hepatitis C. AIDS. Coinfection. APRI. Liver disease. Introdução Desde seu reconhecimento, em 1981, a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) tem mudado o padrão epidemiológico e a abordagem do tratamento, sendo considerada hoje uma infecção crônica [1, 2]. Estima-se que atualmente 40 milhões de pessoas no mundo estão vivendo com HIV [3, 4]. Com a introdução de HAART (“Highly Active Antiretroviral Therapy” ou Terapia antirretroviral altamente ativa em português), a evolução e a história natural do HIV e da síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) modificaram, fazendo com que o aumento na sobrevida destes pacientes trouxesse à tona problemas como a infecção pelo vírus da hepatite C (HCV). Dessa forma, o HCV tornou-se importante causa de morbimortalidade em indivíduos infectados pelo HIV [3, 4]. Devido a rotas de transmissão semelhantes, a coinfecção entre HIV e HCV é comum, mas difere nos grupos de risco para HIV ou HCV isolados, estando presente, principalmente em usuários de drogas injetáveis e pacientes contaminados através de transfusões de sangue e derivados [3 - 5]. Nos Estados Unidos da América, estima-se que 30 a 35% dos pacientes infectados pelo HIV são coinfectados pelo HCV [3, 4 - 6]. Pacientes coinfectados por HIV e HCV progridem, muitas vezes, para doença hepática crônica com fibrose e cirrose. Dois grandes estudos demonstraram na década de 90 que cirrose ocorreu em 15 a 25% de pacientes coinfectados em 10 a 15 anos, e em 3-6% dos monoinfectados por HCV, no mesmo período de tempo [7, 8]. O HIV parece acelerar a doença hepática pelo HCV, especialmente se associada à imunodeficiência, levando à fibrose hepática [3, 4, 9]. Por outro lado, o papel do HCV na progressão do HIV para AIDS permanece incerto [4, 10]. O papel da HAART na história natural do HCV tem sido amplamente discutido. Há evidências atuais de que a reconstituição imune induzida pela HAART possa reverter o curso acelerado desfavorável da fibrose na doença pelo HCV em pacientes portadores do vírus do HIV com imunodeficiência grave [4]. No entanto, a terapia antirretroviral pode aumentar a atividade necroinflamatória e fibrótica no fígado, e acelerar a doença pelo HCV [3, 4, 10, 11]. Alguns estudos sugerem que o seu uso está associado com aumento de fibrose em coinfectados, com HIV e HCV possivelmente pela hepatotoxicidade cumulativa [12, 13]. Alguns antirretrovirais parecem provocar este efeito, como nevirapina, estavudina e alguns inibidores da protease [12, 14]. Apesar dos estudos, a associação ainda é incerta. Outra hipótese para o aumento de transaminases e progressão da doença hepática em coinfectados é a ativação da doença pelo HCV com aumento nos níveis de HCV-RNA, após o início de HAART, resultante do mecanismo de síndrome inflamatória da reconstituição imune [15, 16]. Fatores associados com esta condição incluem baixa idade e percentagem de linfócitos T-CD4 menor que 15%. Dessa forma, estas associações podem refletir vulnerabilidade aumentada para desregulação imune em pacientes com imunodeficiência grave antes da recuperação imune induzida pela HAART [17, 18]. A avaliação histológica através da biópsia percutânea do fígado é o teste diagnóstico padrão ouro para determinação de fibrose hepática, do prognóstico e do tratamento em pacientes com hepatite C crônica [4]. Marcadores séricos de fibrose hepática poderiam substituir a necessidade da biópsia ou identificar aqueles pacientes com doença hepática avançada que se beneficiariam ou não do procedimento. O índice da relação aspartato aminotransferase sobre plaquetas (APRI) é um marcador de fibrose hepática em pacientes portadores de HCV [19 21]. O APRI parece não estar aumentado em portadores do vírus do HIV isoladamente em uso de HAART [19]. O atual estudo pretende avaliar risco e progressão de fibrose hepática utilizando o APRI em pacientes coinfectados com HIV e HCV comparados com monoinfectados por HIV. Métodos Este é um estudo observacional e prospectivo. Todos os participantes são portadores de HIV em acompanhamento do Serviço de Infectologia do Hospital Nossa Senhora da Conceição de Porto Alegre, um hospital terciário, referência para o atendimento de pacientes vivendo com HIV. Os pacientes foram categorizados em dois subgrupos: monoinfectados pelo HIV e coinfectados com HIV e HCV. Os dados foram coletados no período entre agosto de 2008 a agosto de 2009, em pacientes que iniciaram HAART. O diagnóstico de HIV foi realizado por meio de ELISA, imunofluorescência indireta e imunoblot, conforme preconizado pelo fluxograma mínimo para o diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 meses do Ministério da Saúde do Brasil [22]. Para o diagnóstico de hepatite C, foi realizado imunoensaio enzimático de micropartículas (MEIA), seguido de reação em cadeia da polimerase (PCR) com genotipagem. Pacientes portadores do vírus da hepatite B, e pacientes em tratamento ou previamente tratados para hepatite C foram excluídos do estudo. Nenhum dos pacientes teve diagnóstico clínico ou histopatológico de cirrose tanto na admissão ou ao final dos seis meses de avaliação no trabalho. Foram excluídos pacientes em uso de drogas ilícitas ou álcool. Também foram excluídos aqueles pacientes com uso irregular de HAART ou falha virológica primária, definida como não queda de dois logaritmos na carga viral para HIV em três meses e a não indetectabilidade no sexto mês. Os grupos de pacientes foram avaliados com dados demográficos (idade, gênero) e laboratoriais desde a instituição do tratamento antirretroviral, e a cada três meses até o sexto mês de tratamento. A cada três meses, os pacientes compareciam a uma visita clínica com orientações, avaliação clínica e laboratorial. Os exames laboratoriais constavam da mensuração de aminotransferases (AST e ALT), plaquetas, tempo de protrombina e albumina, além da medida da contagem de linfócitos T-CD4 e carga viral do HIV. Plaquetas e AST foram utilizadas para calcular o índice APRI a cada visita com a fórmula: 100 x (AST/limite superior da normalidade)/plaquetas (10 3/uL). O tipo de terapia antirretroviral utilizada foi também registrado, sendo posteriormente avaliada e comparada entre os grupos. Conforme descrito por Wai cols21 estabelece-se um ponto de corte para APRI de 1,5 ou mais para determinar a presença de fibrose hepática significativa e 0,5 ou menos para descartar a presença de fibrose. Para a análise estatística foram utilizados avaliação descritiva com média e desvio padrão para variáveis contínuas e frequência e percentagem para variáveis categóricas. Na comparação para as médias entre grupos, utilizamos o teste t de Student - Fischer e, para análise das frequências, o teste qui-quadrado. O programa usado como banco de dados foi o Microsoft Excel e, na análise, o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para Windows. Ética Todos os indivíduos incluídos no estudo concordaram em participar do estudo mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Nossa Senhora da Conceição, protocolo n.º 136/08 de 04/08/2008 e da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de porto Alegre, protocolo n.º 3414/10 com parecer complementar n.º 483/10 de 19/11/10. Resultados No período estudado, foram avaliados 47 pacientes. Destes, dez foram excluídos por terem abandonado o uso de HAART, cinco faleceram devido a infecções oportunistas, e outros sete não retornaram para as visitas no terceiro e sexto mês de tratamento. Apenas um paciente foi excluído do estudo devido à hepatotoxicidade medicamentosa secundária a tuberculostáticos, documentada pela normalização da função hepática após a sua suspensão. A coorte analisada finalmente constou de 24 pacientes, divididos igualmente em dois grupos: 12 monoinfectados e 12 coinfectados, pareados por idade. O grupo de monoinfectados constou de dez homens e duas mulheres, com idade média de 39,5 anos, enquanto o grupo de coinfectados teve oito homens e quatro mulheres, com média de idade de 38,83 anos (p = 0,83). Em relação aos coinfectados, a maioria era portador do genótipo 1 (7 (58%) pacientes). O índice de APRI calculado antes do início de HAART não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos de coinfectados e monoinfectados (0,50 + 0,2 x 0,36 + 0,19, com p = 0,13). No entanto, quando avaliada esta relação durante o tratamento com HAART, o grupo de pacientes coinfectados apresentava APRI significativamente maior que o grupo de monoinfectados no terceiro (0,57 + 0,31 x 0,27 +0,105, p = 0,02) e sexto meses (0,93 + 0,79 x 0,28 + 0,11, p = 0,04). Apenas um paciente coinfectado apresentou APRI maior que 1,5 no sexto mês de tratamento (APRI = 1,9). A Figura 1 demonstra a relação do APRI entre os grupos ao longo dos seis meses de acompanhamento. Foi comparado o tipo de HAART utilizado entre os grupos, com o grupo de monoinfectados utilizando em sua maioria o esquema contendo zidovudina, lamivudina e efavirenz (onze (91%) pacientes) e apenas um paciente utilizando inibidor de protease. Da mesma forma, no grupo de coinfectados o esquema zidovudina, lamivudina e efavirenz também foi o mais utilizado (oito (66%) pacientes). Apenas quatro pacientes do grupo de coinfectados utilizaram inibidores da protease. No grupo dos pacientes coinfectados, três pacientes estavam em uso de tuberculostáticos e dois em uso de sulfonamidas. Já no grupo de monoinfectados, três pacientes estavam em uso de tuberculostáticos e quatro em uso de sulfonamidas. Nenhum destes apresentou hepatotoxicidade medicamentosa documentada. A média da contagem de linfócitos T-CD4 para o grupo de monoinfectados pré-tratamento foi de 116 células/mm³ e a CV para HIV, com média de 245.000 cópias (5,23 log). Já no grupo de pacientes coinfectados, a média das contagens de linfócitos T-CD4 e da CV para o HIV foi de 100 células/mm3 e 165.000 cópias (4,94 log), respectivamente. Não houve diferença estatisticamente significativa. Da mesma forma, após os seis meses de acompanhamento não houve diferença estatisticamente significativa para linfócitos T-CD4 e carga viral do HIV entre os grupos, como mostra a Tabela 1. Discussão Com o advento da HAART, a morbimortalidade dos portadores de HIV foi reduzida dramaticamente [1, 3, 4]. Assim, outras doenças começaram a ter maior destaque nestes pacientes, como a doença pelo HCV, hoje uma das principais causas de morte em infectados pelo HIV [1, 3, 23]. Sabe-se que a doença pelo HCV progride mais rapidamente em coinfectados, entretanto, os efeitos da HAART na progressão da fibrose hepática nestes pacientes ainda não são claros [9, 12]. Neste estudo, encontrou-se significativo aumento no índice APRI em pacientes coinfectados com HCV e HIV, comparados com pacientes monoinfectados por HIV, após o início do tratamento com HAART, apesar de ambos grupos apresentarem um APRI baixo ou limítrofe, indicando possivelmente presença de pouca fibrose. Alguns antirretrovirais como inibidores da protease ou nevirapina, poderiam estar implicados na alteração deste marcador não invasivo de dano hepático. No entanto, do grupo total estudado, a maioria dos pacientes estava utilizando outros medicamentos que não os comumente associados com hepatotoxicidade. Destacamos algumas limitações que precisam ser ponderadas. O número de pacientes e o tempo de acompanhamento são fatores importantes para validação externa. Por outro lado, o estudo faz parte de uma linha de pesquisa e será enriquecido futuramente com inclusão de novos pacientes, assim como terá um tempo maior de seguimento. O uso de drogas hepatotóxicas que não os antirretrovirais também é um ponto a ser discutido, apesar de nenhum paciente incluído ter o diagnóstico de hepatopatia medicamentosa conforme os critérios AIDS Clinical Trial Group [24]. A faixa dos resultados do APRI deve ser avaliada com cautela, pois os dados do grupo de coinfectados estão em zona de pouca precisão. A realização de biópsia hepática para comparação com APRI teria grande validade, tendo em vista que poucos trabalhos estabeleceram esta relação em pacientes coinfectados com HIV e HCV. Embora a variabilidade presente intragrupos para APRI nos meses 0, 3 e 6, não houve diferença estatisticamente significativa na análise. Em nosso trabalho, com a metodologia utilizada, HAART parece ter efeito negativo sobre a evolução da doença hepática, medida a partir do APRI, em pacientes portadores do vírus do HIV. No entanto, esta relação parece ser mais frequente em pacientes coinfectados por HIV e HCV, o que talvez pudesse ser explicada devido à hepatotoxicidade cumulativa e a ativação da hepatite C por reconstituição imune. Os resultados sugerem que a coinfecção possa acelerar a hepatotoxicidade, portanto esses pacientes talvez pudessem se beneficiar de tratamento precoce da hepatite C, a fim de que se reduzisse o alto índice de pacientes com hepatopatia crônica neste subgrupo. O seguimento deste estudo, com um maior número de pacientes e um acompanhamento mais longo dos mesmos, deverá ser realizado para maiores esclarecimentos sobre o assunto. APRI - Índice de Aminotransferases e Plaquetas Tabela 1. Comparação das variáveis nos grupos estudados Monoinfectados HIV Coinfectados HIV-HCV P 39.5 + 8.05 38.8 + 7.04 0.83 10 (83%) 8 (66%) > 0.5 115.91 + 116.5 98.25 + 86.35 0.67 256.8 + 134.45 245.66 + 119.38 0.83 CV HIV (pré-tratamento), cópias/mL 245,000 + 171,386 165,307 + 124,771 0.21 CV HIV (pré-tratamento), log 5.23 4.94 0.19 APRI (pré-tratamento) 0.36 + 0.19 0.5 + 0.2 0.13 APRI (3 meses) 0.27 + 0.11 0.57 + 0.31 0.02 APRI (6 meses) 0.29 + 0.11 0.93 + 0.79 0.04 AST (pré-tratamento) 30.25 + 12.05 36.58 + 12.47 0.21 AST (3 meses) 27.25 + 8.52 50 + 28.42 0.02 Idade (anos) Gênero Masculino, n (%) CD4 (pré-tratamento), células/mm CD4 (6 meses), células/mm 3 3 AST (6 meses) 27.91 + 10.67 59.91 + 30.57 0.004 ALT (pré-tratamento) 24.33 + 12.94 34.08 + 15.21 0.11 ALT (3 meses) 29.91 + 16.66 60.58 + 35.41 0.02 ALT (6 meses) 25 + 13.61 76.33 + 36.34 0.0004 CV: Carga Viral; AST: Aspartato aminotransferase; ALT - Alanina aminotransferase. Referências 1 Piot P, Carael M. Global Perspectives on Human Immunodeficiency Virus Infection and Acquired Immunodeficiency Syndrome. In: Mandel GL, Bennet JE, Dolin R, editors. Principles and Practice of Infectious Diseases. 7th ed. Elsevier: 2009. p. 1619-1633. 2 Palella-Jr FJ, Delaney KM, Moorman AC, Loveless MO, Fuhrer J, Satten GA, et al. Declining morbidity and mortality among patients with advanced human immunodeficiency virus infection. HIV Outpatient Study Investigators. N Engl J Med 1998; 338(13):853-860. 3 Calza L, Verucchi G, Manfredi R, Chiodo F. Human Immunodeficiency Virus and Hepatitis C Virus Coinfection: Epidemiology, Natural History, Therapeutic Options and Clinical Management. Infection 2004; 32(1):33-46. 4 Rockstroh JK, Spengler U. HIV and hepatitis C virus co-infection. Lancet Infect Dis. 2004;4(7):437-44. 5. Valle Tovo C, Alves de Mattos A, Ribeiro de Souza A, Ferrari de Oliveira Rigo J, Lerias de Almeida PR, Galperim B, et al. Impact of human immunodeficiency virus infection in patients infected with the hepatitis C virus. Liver Int. 2007; 27(1):40-6. 6 Sherman KE, Rouster SD, Chung RT, Rajicic N. Hepatitis C virus prevalence among patients infected with human immunodeficiency virus: a cross-sectional analysis of the adult AIDS clinical trials group. Clin Infect Dis 2002; 34(6):831–7. 7. Sanchez-Quijano A, Andreu J, Gavilan F, Luque F, Abad MA, Soto B, et al. Influence of HIV type 1 infection on the natural course of chronic parenterally acquired hepatitis C. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 1995; 14(11):949-953. 8. Soto B, Sanchez-Quijano A, Rodrigo L, del Olmo JA, Garcia-Bengoechea M, Hernandez-Quero J, et al. HIV infection modifies the natural history of chronic parenterally-acquired hepatitis C with an unusually rapid progression to cirrhosis. J Hepatol 1997; 26(1):1-5. 9. Benhamou Y, Bochet M, Di Martino V, Charlotte F, Azria F, Coutellier A, et al. Liver fibrosis progression in human immunodeficiency virus and hepatitis C virus coinfected patients. Hepatology 1999; 30(4): 1054–58. 10. Soriano V, Martin-Carbonero L, Maida I, Garcia-Samaniego J, Nunez M. New paradigms in the management of HIV and hepatitis C virus coinfection. Curr Opin Infect Dis 2005; 18(6):550-560. 11. Sulkowski MS, Thomas DL, Chaisson RE, Moore RD. Hepatotoxicity associated with antiretroviral therapy in adults infected with human immunodeficiency virus and the role of hepatitis C or B virus infection. JAMA 2000; 283(1):74-80. 12. Moodie EE, Pant Pai N, Klein MB. Is antiretroviral therapy causing long-term liver damage? A comparative analysis of HIV-mono-infected and HIV/hepatitis C coinfected cohorts. PLoS One 2009; 4(2):e4517. 13. Mariné-Barjoan E, Saint-Paul MC, Pradier C, Chaillou S, Anty R, Michiels JF, et al. Impact of antiretroviral treatment on progression of hepatic fibrosis in HIV/hepatitis C virus co-infected patients. AIDS. 2004; 18(16):2163-70. 14. Benhamou Y, Di Martino V, Bochet M, Colombet G, Thibault V, Liou A, et al. Factors affecting liver fibrosis in human immunodeficiency virus-and hepatitis C virus-coinfected patients: impact of protease inhibitor therapy. Hepatology 2001; 34(2):283-287. 15. French MA, Lenzo N, John M, Mallal SA, McKinnon EJ, James IR, et al. Immune restoration disease after the treatment of immunodeficient HIV-infected patients with highly active antiretroviral therapy. HIV Med 2000; 1(2):107-115. 16. Churg RT, Evans SR, Yang Y, Theodore D, Valdez H, Clark R, et al. Immune recovery is associated with persistent rise in hepatitis C virus RNA, infrequent liver test flares, and is not impaired by hepatitis C virus in co-infected subjects. AIDS 2002; 16(14):1915-1923. 17. Ratnam I, Chiu C, Kandala NB, Easterbrook PJ. Incidence and risk factors for immune reconstitution inflammatory syndrome in an ethnically diverse HIV type 1infected cohort. Clin Infec Dis 2006; 42(3):418-427. 18. John M, Flexman JP, French MA. Hepatitis C virus-associated hepatitis following treatment of HIV-infected patients with HIV protease inhibitors: an immune restoration disease? AIDS 1998; 12(17):2289-2293. 19. Nunes D, Fleming C, Offner G, O'Brien M, Tumilty S, Fix O, et al. HIV infection does not affect the performance of noninvasive markers of fibrosis for the diagnosis of hepatitis C virus-related liver disease. J Acquir Immune Defic Syndr 2005; 40(5):538-544. 20. Kelleher TB, Mehta SH, Bhaskar R, Sulkowski M, Astemborski J, Thomas DL, et al. Prediction of hepatic fibrosis in HIV/HCV co-infected patients using serum fibrosis markers: the SHASTA index. J Hepatol 2005; 43(1):78-84. 21. Wai CT, Greenson JK, Fontana RJ, Kalbfleisch JD, Marrero JA, Conjeevaram HS, et al. A simple noninvasive index can predict both significant fibrosis and cirrhosis in patients with chronic hepatitis C. Hepatology 2003; 38(2):518-526. 22. Ministério da Saúde. Fluxograma Mínimo para o Diagnóstico Laboratorial da Infecção pelo HIV em Indivíduos com Idade acima de 18 Meses. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde; 2009. Disponível em:http://www.aids.gov.br. 23. Bica I, McGovern B, Dhar R, Stone D, McGowan K, Scheib R, et al. Increasing mortality due to end-stage liver disease in patients with human immunodeficiency virus infection. Clin Infect Dis 2001; 32(3): 492-497. 24. Rockville (MD): National Institute of Health, National Institute of Allergy and Infectious Diseases, Division of AIDS. AIDS Clinical Trials Group Division of AIDS for grading the severity of adult and pediatric adverse advents; 2004. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde a introdução de HAART (“Highly Active Antiretroviral Therapy” ou Terapia antirretroviral altamente ativa em português), a infecção pelo HIV tem se tornado uma infecção crônica com repercussões sistêmicas. Isto tem resultado no aumento da prevalência e incidência de comorbidades entre os pacientes portadores de HIV, requerendo, estes, o uso de medicações por longos períodos [90]. Dessa forma, não é surpresa que estes pacientes experimentem reações inesperadas após o início de HAART, especialmente toxicidade hepática, complicação importante no tratamento destes pacientes [90]. Hepatotoxicidade pode estar relacionada com qualquer tipo de antirretroviral, apesar de ser descrito um risco maior para os pacientes em uso de inibidores da transcriptase reversa não análogos dos nucleosídeos (NNRTIs) ou ritonavir [80, 86]. Grande parte destes pacientes com infecção pelo HIV possui dano hepático prévio secundário à coinfecção o vírus da hepatite C (HCV), ao uso de medicações hepatotóxicas e o abuso de álcool e outras substâncias [91, 92]. A coinfecção HIV e HCV é relativamente comum, já que ambos os vírus possuem rota de transmissão semelhante, principalmente em usuários de drogas [15]. A hepatite crônica pelo HCV causa doença hepática crônica, e adicionalmente, a infecção pelo HIV acelera o processo de progressão de dano hepático, com fibrose hepática, podendo levar à cirrose. Portanto, a infecção pelo HIV pode levar ao aumento da morbimortalidade por doença hepática em pacientes infectados pelo HCV [93]. Por outro lado, a coinfecção HIV e HCV pode aumentar o risco de hepatotoxicidade após a introdução de HAART [81, 94, 95, 96]. Esta situação pode ocorrer por diferentes mecanismos de injúria hepática, como reações imunológicas como a síndrome inflamatória da reconstituição imune e a toxicidade hepática cumulativa. A presente Dissertação de Mestrado foi composta por três artigos que abordam características da evolução e tratamento dos pacientes com HIV/HCV. Estes investigam aspectos relacionados à hepatotoxicidade em coinfectados após a introdução de HAART, evolução imunológica destes pacientes, e fibrose hepática a partir de marcadores não invasivos. No primeiro artigo objetivou-se avaliar o risco e a incidência de hepatotoxicidade nos pacientes coinfectados com HIV e HCV, comparados com os monoinfectados pelo HIV. Foram acompanhados 30 pacientes coinfectados com HIV/HCV e 35 pacientes monoinfectados por HIV desde o início de HAART, a cada três meses, com avaliação clínica e laboratorial por um período de um ano. Do total, 22 (73%) dos pacientes coinfectados apresentaram algum grau de hepatotoxicidade para AST ou ALT. Por outro lado, apenas sete (20%) dos pacientes monoinfectados tiveram algum grau de hepatotoxicidade, com diferença entre os grupos. Nenhum paciente desenvolveu hepatotoxicidade grave, definida como grau três ou quatro. O tipo de HAART não esteve associado ao risco de hepatotoxicidade. O uso de UDI prévio esteve associado ao risco de hepatotoxicidade. O risco de um paciente desenvolver hepatotoxicidade quando coinfectado foi 3,7 vezes maior do que o risco de um monoinfectado. Os dados apresentados no presente estudo demonstram que os pacientes portadores de HIV possuem um risco considerável de hepatotoxicidade secundário ao uso de HAART. Os pacientes coinfectados com HIV e HCV estão em maior risco, sugerindo que estes possam desenvolver hepatotoxicidade cumulativa e síndrome inflamatória da reconstituição imune após início da terapia antirretroviral, não estando relacionada com o tipo de HAART em uso. No segundo artigo, a contagem de linfócitos T-CD4 foi avaliada durante as visitas dos pacientes em estudo a cada três meses pelo período de um ano. O objetivo foi avaliar e comparar a recuperação imunológica entre os pacientes coinfectados por HIV e HCV (n=30) e os pacientes monoinfectados por HIV (n=35). Pacientes coinfectados e monoinfectados tinham, na média, CV para HIV semelhantes. Da mesma forma, a magnitude do declínio da CV do HIV após o início de HAART foi similar entre os grupos. Não houve diferença estatística entre as contagens de linfócitos T-CD4 antes do início de HAART. Após o início de HAART os grupos tiveram comportamento muito semelhante quando à recuperação da contagem de linfócitos T-CD4, utilizando-se o teste de Equações de Estimativas Generalizadas, com (p = 0,402). Ambos grupos evoluíram de maneira bastante satisfatória em relação à resposta imunológica pela medida de linfócitos T-CD4. O presente estudo difere de estudos prévios porque avaliou pacientes realmente imunossuprimidos [68, 75, 76, 78, 79, 97]. Existem resultados conflitantes sobre o possível efeito deletério do HCV no curso da infecção pelo HIV. Entretanto, muitos autores postulam que haja um atraso na recuperação imunológica destes pacientes coinfectados, quando comparados com monoinfectados por HIV [75, 76, 97]. No entanto, no presente estudo a coinfecção HIV e HCV não pareceu ter influência na recuperação de linfócitos T-CD4. No terceiro e último artigo avaliou-se o índice da relação aspartato aminotransferase sobre plaquetas (APRI) como marcador de fibrose hepática em 12 pacientes coinfectados com HIV/HCV comparado com o grupo controle, 12 pacientes monoinfectados por HIV. Ambos os grupos foram acompanhados desde a introdução de HAART até o sexto mês de tratamento, observando-se a evolução deste marcador entre os grupos. O índice de APRI calculado antes do início de HAART não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos de coinfectados e monoinfectados. No entanto, quando avaliada esta relação durante o tratamento com HAART, o grupo de pacientes coinfectados apresentava APRI significativamente maior que o grupo de monoinfectados no terceiro e sexto meses. Neste estudo, encontrou-se significativo aumento no índice APRI em pacientes coinfectados com HCV e HIV, comparados com pacientes monoinfectados por HIV, após o início do tratamento com HAART, apesar de ambos os grupos apresentarem um APRI baixo ou limítrofe, indicando possivelmente presença de pouca fibrose. HAART parece ter um efeito inicial deletério sobre a evolução da doença hepática, medida a partir do APRI, em pacientes portadores do vírus do HIV. No entanto, esta relação parece ser mais frequente em pacientes coinfectados por HIV e HCV. O seguimento deste estudo, com um maior número de pacientes e um acompanhamento mais longo dos mesmos, poderia trazer maiores esclarecimentos sobre o assunto. Finalmente, os resultados desta investigação apresentaram evidências que indicam que os pacientes coinfectados por HIV e HCV são pacientes com características peculiares e que merecem atenção especial quanto a sua evolução, prognóstico e tratamento. Os pacientes coinfectados com HIV e HCV possuem recuperação imunológica bastante semelhante em relação ao monoinfectados por HIV. Alguns autores compartilham com esta afirmação, embora muitos estudos avaliem pacientes com medidas de linfócitos T-CD4 maiores que 200 células/mm3 [68, 78, 79]. No entanto, estes pacientes coinfectados estão em maior risco para hepatotoxicidade, avaliados por meio de critérios bem definidos e validados [68, 89, 90, 98]. Da mesma forma estes pacientes têm índices de fibrose hepática maiores que os monoinfectados. Apesar disso, todos pacientes merecem ser tratados da mesma forma com antirretrovirais, entretanto, deve-se observar estes pacientes com mais cautela, periodicamente, e evitar possíveis complicadores e fatores adicionais à hepatotoxicidade, como uso de álcool, drogas e medicações comprovadamente hepatotóxicas. Ainda assim, é inquestionável a superioridade do uso de HAART nos coinfectados em relação os efeitos deletérios que estes provocam, fazendo com que os pacientes evoluam favoravelmente em longo prazo, da sua doença hepática [61, 63]. Colocados os fatos, esses pacientes talvez pudessem se beneficiar de tratamento precoce da hepatite C, a fim de que se reduzisse o alto índice de pacientes com hepatopatia crônica neste subgrupo. Adicionalmente, o seguimento deste estudo, com maior número de pacientes e acompanhamento mais longo dos mesmos poderá acrescentar mais elementos no conhecimento desta população de pacientes. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Piot P, Carael M. Global Perspectives on Human Immunodeficiency Virus Infection and Acquired Immunodeficiency Syndrome. In: Mandel GL, Bennet JE, Dolin R, editors. Principles and Practice of Infectious Diseases. 7th ed. Elsevier: 2009. p. 1619-1633.. 2 Calza L, Verucchi G, Manfredi R, Chiodo F. Human Immunodeficiency Virus and Hepatitis C Virus Coinfection: Epidemiology, Natural History, Therapeutic Options and Clinical Management. Infection 2004; 32(1):33-46. 3 Rockstroh JK, Spengler U: HIV and hepatitis C virus co-infection. Lancet Infect Dis. 2004;4(7):437-44. 4 Mocroft A, Ledergerber B, Katlama C, Kirk O, Reiss P, d'Arminio Monforte A, et al. Decline in the AIDS and death rates in the EuroSIDA study: an observational study. Lancet. 2003; 362(9377):22-9. 5 Sterne JA, Hernán MA, Ledergerber B, Tilling K, Weber R, Sendi P, et al. Longterm effectiveness of potent antiretroviral therapy in preventing AIDS and death: a prospective cohort study. Lancet. 2005; 366(9483):378-84. 6 Adler MW. ABC of Aids: Development of the epidemic. BMJ. 2001; 322(7296):1226-9. 7 Cohen MS, Hellmann N, Levy JA, DeCock K, Lange J. The spread, treatment, and prevention of HIV-1: evolution of a global pandemic. J Clin Invest. 2008; 118(4):1244-54. 8 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Trends in HIV/AIDS diagnoses among men who have sex with men--33 states, 2001-2006. MMWR Morb Mortal Wkly Rep 2008; 57(25):681-6. 9 Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Diagnoses of HIV/AIDS--32 States, 2000-2003. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2004; 53(47):1106-10. 10 Hightow LB, MacDonald PD, Pilcher CD, Kaplan AH, Foust E, Nguyen TQ, et al. The unexpected movement of the HIV epidemic in the Southeastern United States: transmission among college students. J Acquir Immune Defic Syndr. 2005; 38(5):531-7. 11 Quinn TC, Wawer MJ, Sewankambo N, Serwadda D, Li C, Wabwire-Mangen F, et al. Viral load and heterosexual transmission of human immunodeficiency virus type 1. Rakai Project Study Group. N Engl J Med. 2000; 342(13):921-9. 12 Gray RH, Wawer MJ, Brookmeyer R, Sewankambo NK, Serwadda D, WabwireMangen F, et al. Probability of HIV-1 transmission per coital act in monogamous, heterosexual, HIV-1-discordant couples in Rakai, Uganda. Lancet. 2001; 357(9263):1149-53. 13 Dorak MT, Tang J, Penman-Aguilar A, Westfall AO, Zulu I, Lobashevsky ES, et al. Transmission of HIV-1 and HLA-B allele-sharing within serodiscordant heterosexual Zambian couples. Lancet. 2004; 363(9427):2137-9. 14 Valle Tovo C, Alves de Mattos A, Ribeiro de Souza A, Ferrari de Oliveira Rigo J, Lerias de Almeida PR, Galperim B, et al. Impact of human immunodeficiency virus infection in patients infected with the hepatitis C virus. Liver Int. 2007; 27(1):40-6. 15 Sherman KE, Rouster SD, Chung RT, Rajicic N. Hepatitis C virus prevalence among patients infected with human immunodeficiency virus: a cross-sectional analysis of the adult AIDS clinical trials group. Clin Infect Dis 2002; 34(6):831–7. 16 Tovo CV, Santos DE, Mattos AZ, Almeida PRL, Mattos AA, Santos BR. Prevalência Ambulatorial em um Hospital Geral de marcadores para Hepatites B e C em pacientes com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Arq Gastroenterol. 2006; 43(2): 73-76. 17 Piatak M Jr, Saag MS, Yang LC, Clark SJ, Kappes JC, Luk KC, et al. High levels of HIV-1 in plasma during all stages of infection determined by competitive PCR. Science. 1993; 259(5102):1749-54. 18 Nguyen TT, Sedghi-Vaziri A, Wilkes LB, Mondala T, Pockros PJ, Lindsay KL, et al. Fluctuations in viral load (HCV RNA) are relatively insignificant in untreated patients with chronic HCV infection. J Viral Hepat. 1996; 3(2):75-8. 19 Thomas DL, Shih JW, Alter HJ, Vlahov D, Cohn S, Hoover DR, et al. Effect of human immunodeficiency virus on hepatitis C virus infection among injecting drug users. J Infect Dis. 1996; 174(4):690-5. 20 Daar ES, Lynn H, Donfield S, Gomperts E, Hilgartner MW, Hoots WK, et al. Relation between HIV-1 and hepatitis C viral load in patients with hemophilia. J Acquir Immune Defic Syndr. 2001; 26(5):466-72. 21 Ghany MG, Leissinger C, Lagier R, Sanchez-Pescador R, Lok AS. Effect of human immunodeficiency virus infection on hepatitis C virus infection in hemophiliacs. Dig Dis Sci. 1996; 41(6):1265-72. 22 Cooper CL, Cameron DW. Effect of alcohol use and highly active antiretroviral therapy on plasma levels of hepatitis C virus (HCV) in patients coinfected with HIV and HCV. Clin Infect Dis. 2005; 41(Suppl 1):S105-9. 23 Netski DM, Mao Q, Ray SC, Klein RS. Genetic divergence of hepatitis C virus: the role of HIV-related immunosuppression. J Acquir Immune Defic Syndr. 2008; 49(2):136-41. 24 Lin W, Weinberg EM, Tai AW, Peng LF, Brockman MA, Kim KA, et al. HIV increases HCV replication in a TGF-beta1-dependent manner. Gastroenterology. 2008; 134(3):803-11. 25 Staples CT Jr, Rimland D, Dudas D. Hepatitis C in the HIV (human immunodeficiency virus) Atlanta V.A. (Veterans Affairs Medical Center) Cohort Study (HAVACS): the effect of coinfection on survival. Clin Infect Dis. 1999; 29(1):150-4. 26 Garfein RS, Vlahov D, Galai N, Doherty MC, Nelson KE. Viral infections in shortterm injection drug users: the prevalence of the hepatitis C, hepatitis B, human immunodeficiency, and human T-lymphotropic viruses. Am J Public Health. 1996; 86(5):655-61. 27 Kim AY, Chung RT. Coinfection With HIV-1 and HCV-A One-Two Punch. Gastroenterology 2009; 137(3):795-814. 28 Alter MJ, Hadler SC, Judson FN, Mares A, Alexander WJ, Hu PY, et al. Risk factors for acute non-A, non-B hepatitis in the United States and association with hepatitis C virus infection. JAMA. 1990; 264(17):2231-5. 29 Thomas DL, Zenilman JM, Alter HJ, Shih JW, Galai N, Carella AV, et al. Sexual transmission of hepatitis C virus among patients attending sexually transmitted diseases clinics in Baltimore--an analysis of 309 sex partnerships. J Infect Dis. 1995; 171(4):768-75. 30 Quinn TC, Wawer MJ, Sewankambo N, Serwadda D, Li C, Wabwire-Mangen F, et al. Viral load and heterosexual transmission of human immunodeficiency virus type 1. Rakai Project Study Group. N Engl J Med. 2000; 342(13):921-9. 31 Osmond DH, Padian NS, Sheppard HW, Glass S, Shiboski SC, Reingold A. Risk factors for hepatitis C virus seropositivity in heterosexual couples. JAMA. 1993; 269(3):361-5. 32 Tohme RA, Holmberg SD. Is sexual contact a major mode of hepatitis C virus transmission? Hepatology. 2010; 52(4):1497-505. 33 Osmond DH, Charlebois E, Sheppard HW, Page K, Winkelstein W, Moss AR, et al. Comparison of risk factors for hepatitis C and hepatitis B virus infection in homosexual men. J Infect Dis. 1993; 167(1):66-71. 34 Alter MJ, Kruszon-Moran D, Nainan OV, McQuillan GM, Gao F, Moyer LA, et al. The prevalence of hepatitis C virus infection in the United States, 1988 through 1994. N Engl J Med. 1999; 341(8):556-62. 35 Urbanus AT, van de Laar TJ, Stolte IG, Schinkel J, Heijman T, Coutinho RA, et al. Hepatitis C virus infections among HIV-infected men who have sex with men: an expanding epidemic. AIDS. 2009; 23(12):F1-7. 36 Danta M, Brown D, Bhagani S, Pybus OG, Sabin CA, Nelson M, et al. Recent epidemic of acute hepatitis C virus in HIV-positive men who have sex with men linked to high-risk sexual behaviours. AIDS. 2007; 21(8):983-91. 37 Götz HM, van Doornum G, Niesters HG, den Hollander JG, Thio HB, de Zwart O. A cluster of acute hepatitis C virus infection among men who have sex with men-results from contact tracing and public health implications. AIDS. 2005; 19(9):96974. 38 Polis CB, Shah SN, Johnson KE, Gupta A. Impact of maternal HIV coinfection on the vertical transmission of hepatitis C virus: a meta-analysis. Clin Infect Dis. 2007; 44(8):1123-31. 39 Ridzon R, Gallagher K, Ciesielski C, Ginsberg MB, Robertson BJ, Luo CC, et al. Simultaneous transmission of human immunodeficiency virus and hepatitis C virus from a needle-stick injury. N Engl J Med. 1997; 336(13):919-22. 40 Strader DB, Wright T, Thomas DL, Seeff LB, American Association for the Study of Liver Diseases. Diagnosis, management, and treatment of hepatitis C. Hepatology. 2004; 39(4):1147-71. 41 Bani-Sadr F, Barange K, Daoud F, Jacomet C, Bicart-See A, Rosenthal E, et al. Persistently normal alanine aminotransferase levels in HIV/HCV-coinfected patients: the role of steatosis. HIV Med. 2009; 10(7):417-21. 42 Bonacini M, Lin HJ, Hollinger FB. Effect of coexisting HIV-1 infection on the diagnosis and evaluation of hepatitis C virus. J Acquir Immune Defic Syndr. 2001; 26(4):340-4. 43 Thio CL, Nolt KR, Astemborski J, Vlahov D, Nelson KE, Thomas DL. Screening for hepatitis C virus in human immunodeficiency virus-infected individuals. J Clin Microbiol. 2000; 38(2):575-7. 44 Chamie G, Bonacini M, Bangsberg DR, Stapleton JT, Hall C, Overton ET, et al. Factors associated with seronegative chronic hepatitis C virus infection in HIV infection. Clin Infect Dis. 2007; 44(4):577-83. 45 Wai CT, Greenson JK, Fontana RJ, Kalbfleisch JD, Marrero JA, Conjeevaram HS, et al. A simple noninvasive index can predict both significant fibrosis and cirrhosis in patients with chronic hepatitis C. Hepatology 2003; 38(2):518-526. 46 Kelleher TB, Mehta SH, Bhaskar R, Sulkowski M, Astemborski J, Thomas DL, et al. Prediction of hepatic fibrosis in HIV/HCV co-infected patients using serum fibrosis markers: the SHASTA index. J Hepatol 2005; 43(1):78-84. 47 Nunes D, Fleming C, Offner G, O’Brien M, Tumilty S, Fix O, et al. HIV infection does not affect the performance of noninvasive markers of fibrosis for the diagnosis of hepatitis C virus-related liver disease. J Acquir Immune Defic Syndr 2005; 40(5):538-544. 48 Yonkers NL, Rodriguez B, Post AB, Asaad R, Jones L, Lederman MM, et al. HIV coinfection impairs CD28-mediated costimulation of hepatitis C virus-specific CD8 cells. J Infect Dis. 2006; 194(3):391-400. 49 Kim AY, Lauer GM, Ouchi K, Addo MM, Lucas M, Schulze Zur Wiesch J, et al. The magnitude and breadth of hepatitis C virus-specific CD8+ T cells depend on absolute CD4+ T-cell count in individuals coinfected with HIV-1. Blood. 2005; 105(3):1170-8. 50 Rohrbach J, Robinson N, Harcourt G, Hammond E, Gaudieri S, Gorgievski M, et al. Cellular immune responses to HCV core increase and HCV RNA levels decrease during successful antiretroviral therapy. Gut. 2010; 59(9):1252-8. 51 Brenchley JM, Price DA, Schacker TW, Asher TE, Silvestri G, Rao S, et al. Microbial translocation is a cause of systemic immune activation in chronic HIV infection. Nat Med. 2006; 12(12):1365-71. 52 Balagopal A, Philp FH, Astemborski J, Block TM, Mehta A, Long R, et al. Human immunodeficiency virus-related microbial translocation and progression of hepatitis C. Gastroenterology. 2008; 135(1):226-33. 53 Allison RD, Katsounas A, Koziol DE, Kleiner DE, Alter HJ, Lempicki RA, et al. Association of interleukin-15-induced peripheral immune activation with hepatic stellate cell activation in persons coinfected with hepatitis C virus and HIV. J Infect Dis. 2009; 200(4):619-23. 54 Volkmann X, Fischer U, Bahr MJ, Ott M, Lehner F, Macfarlane M, et al. Increased hepatotoxicity of tumor necrosis factor-related apoptosis-inducing ligand in diseased human liver. Hepatology. 2007; 46(5):1498-508. 55 Benhamou Y, Bochet M, Di Martino V, Charlotte F, Azria F, Coutellier A, et al. Liver fibrosis progression in human immunodeficiency virus and hepatitis C virus coinfected patients. Hepatology 1999; 30(4): 1054–58. 56 Martinez-Sierra C, Arizcorreta A, Díaz F, Roldán R, Martín-Herrera L, PérezGuzmán E, et al. Progression of chronic hepatitis C to liver fibrosis and cirrhosis in patients coinfected with hepatitis C virus and human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis. 2003; 36(4):491-8. 57 McGovern BH, Ditelberg JS, Taylor LE, Gandhi RT, Christopoulos KA, Chapman S, et al. Hepatic steatosis is associated with fibrosis, nucleoside analogue use, and hepatitis C virus genotype 3 infection in HIV-seropositive patients. Clin Infect Dis. 2006; 43(3):365-72. 58 Gaslightwala I, Bini EJ. Impact of human immunodeficiency virus infection on the prevalence and severity of steatosis in patients with chronic hepatitis C virus infection. J Hepatol. 2006; 44(6):1026-32. 59 Sterling RK, Contos MJ, Smith PG, Stravitz RT, Luketic VA, Fuchs M, et al. Steatohepatitis: Risk factors and impact on disease severity in human immunodeficiency virus/hepatitis C virus coinfection. Hepatology. 2008; 47(4):111827. 60 Anderson KB, Guest JL, Rimland D. Hepatitis C virus coinfection increases mortality in HIV-infected patients in the highly active antiretroviral therapy era: data from the HIV Atlanta VA Cohort Study. Clin Infect Dis. 2004; 39(10):1507-13. 61 Pascual-Pareja JF, Caminoa A, Larrauri C, González-García J, Montes ML, Díez J, et al. HAART is associated with lower hepatic necroinflammatory activity in HIVhepatitis C virus-coinfected patients with CD4 cell count of more than 350 cells/microl at the time of liver biopsy. AIDS 2009; 23(8):971-5. 62 Bräu N. Treatment of chronic hepatitis C in human immunodeficiency virus/hepatitis C virus-coinfected patients in the era of pegylated interferon and ribavirin. Semin. Liver Dis 2005; 25(1):33-51. 63 Bräu N, Salvatore M, Ríos-Bedoya CF, Fernández-Carbia A, Paronetto F, Rodríguez-Orengo JF, et al. Slower fibrosis progression in HIV/HCV-coinfected patients with successful HIV suppression using antiretroviral therapy. J Hepatol 2006; 44(1):47-55. 64 Thein HH, Yi Q, Dore GJ, Krahn MD. Natural history of hepatitis C virus infection in HIV-infected individuals and the impact of HIV in the era of highly active antiretroviral therapy: a meta-analysis. AIDS 2008; 22(15):1979-91. 65 Bani-Sadr F, Goderel I, Morand P, Payan C, Lunel F, Pol S, et al. High hepatitis C virus viral load in HIV/hepatitis C virus-co-infected patients: a different influence of protease inhibitor and non-protease inhibitor-based HAART? AIDS. 2007; 21(12):1645-1648. 66 Berenguer J, Bellón JM, Miralles P, Alvarez E, Castillo I, Cosín J, et al. Association between exposure to nevirapine and reduced liver fibrosis progression in patients with HIV and hepatitis C virus coinfection. Clin Infect Dis. 2008; 46(1):137-43. 67 Macías J, Castellano V, Merchante N, Palacios RB, Mira JA, Sáez C, et al. Effect of antiretroviral drugs on liver fibrosis in HIV-infected patients with chronic hepatitis C: harmful impact of nevirapine. AIDS. 2004; 18(5):767-74. 68 Sulkowski MS, Moore RD, Mehta SH, Chaisson RE, Thomas DL. Hepatitis C and progression of HIV disease. JAMA 2002; 288(2):199-206. 69 Greub G, Ledergerber B, Battegay M, Grob P, Perrin L, Furrer H, et al. Clinical progression, survival, and immune recovery during antiretroviral therapy in patients with HIV-1 and hepatitis C virus coinfection: the Swiss HIV Cohort Study. Lancet. 2000; 356(9244):1800-5. 70 Tedaldi EM, Baker RK, Moorman AC, Alzola CF, Furhrer J, McCabe RE, et al. Influence of coinfection with hepatitis C virus on morbidity and mortality due to human immunodeficiency virus infection in the era of highly active antiretroviral therapy. Clin Infect Dis. 2003; 36(3):363-7. 71 Sherman KE, O'Brien J, Gutierrez AG, Harrison S, Urdea M, Neuwald P, et al. Quantitative evaluation of hepatitis C virus RNA in patients with concurrent human immunodeficiency virus infections. J Clin Microbiol. 1993; 31(10):2679-82. 72 Dorrucci M, Pezzotti P, Phillips AN, Lepri AC, Rezza G. Coinfection of hepatitis C virus with human immunodeficiency virus and progression to AIDS. Italian Seroconversion Study. J Infect Dis. 1995; 172(6):1503-8. 73 Kovacs A, Karim R, Mack WJ, Xu J, Chen Z, Operskalski E, et al. Activation of CD8 T cells predicts progression of HIV infection in women coinfected with hepatitis C virus. J Infect Dis. 2010; 201(6):823-34. 74 Giorgi JV, Hultin LE, McKeating JA, Johnson TD, Owens B, Jacobson LP, et al. Shorter survival in advanced human immunodeficiency virus type 1 infection is more closely associated with T lymphocyte activation than with plasma virus burden or virus chemokine coreceptor usage. J Infect Dis. 1999; 179(4):859-70. 75 Santin M, Mestre M, Shaw E, Barbera MJ, Casanova A, Niubo J, et al. Impact of hepatitis C virus coinfection on immune restoration during successful antiretroviral therapy in chronic human immunodeficiency virus type 1 disease. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 2008; 27(1):65–73. 76 Antonucci G, Girardi E, Cozzi-Lepri A, Capobianchi MR, De Luca A, Puoti M, et al. Role of Hepatitis C Virus (HCV) Viremia and HCVGenotype in the Immune Recovery from Highly Active Antiretroviral Therapy in a Cohort of AntiretroviralNaive HIV-Infected Individuals. Clin Infect Dis 2005; 40(12):e101–9. 77 Peters L, Mocroft A, Soriano V, Rockstroh JK, Losso M, Valerio L, et al. Hepatitis C Virus Coinfection Does Not Influence the CD4 Cell Recovery in HIV-1– Infected Patients With Maximum Virologic Suppression. J Acquir Immune Defic Syndr 2009; 50(5):457–63. 78 Fuping G, Wei L, Yang H, Zhifeng Q, Lingyan Z, Yanling L, et al. Impact of Hepatitis C Virus Coinfection on HAART in HIV-Infected Individuals: Multicentric Observation Cohort. J Acquir Immune Defic Syndr 2010; 54(2):137–142. 79 Yacisin K, Maida I, Ríos MJ, Soriano V, Núñez M. Hepatitis C Virus Coinfection Does Not Affect CD4 Restoration in HIV-Infected Patients after Initiation of Antiretroviral Therapy. AIDS Res Hum Retroviruses. 2008; 24(7):935–40. 80 Bonfanti P, Valsecchi L, Parazzini F, Carradori S, Pusterla L, Fortuna P, et al. Incidence of adverse reactions in HIV patients treated with protease inhibitors: a cohort study. Coordinamento Italiano Studio Allergia e Infezione da HIV (CISAI) Group. J Acquir Immune Defic Syndr. 2000; 23(3):236-45. 81 den Brinker M, Wit FW, Wertheim-van Dillen PM, Jurriaans S, Weel J, van Leeuwen R, et al. Hepatitis B and C virus co-infection and the risk for hepatotoxicity of highly active antiretroviral therapy in HIV-1 infection. AIDS 2000; 14(18):2895902. 82 Núñez M, Lana R, Mendoza JL, Martín-Carbonero L, Soriano V. Risk factors for severe hepatic injury after introduction of highly active antiretroviral therapy. J Acquir Immune Defic Syndr. 2001; 27(5):426-31. 83 Puoti M, Torti C, Ripamonti D, Castelli F, Zaltron S, Zanini B, et al. Severe hepatotoxicity during combination antiretroviral treatment: incidence, liver histology, and outcome. J Acquir Immune Defic Syndr. 2003; 32(3):259-67. 84 Mariné-Barjoan E, Saint-Paul MC, Pradier C, Chaillou S, Anty R, Michiels JF, et al. Impact of antiretroviral treatment on progression of hepatic fibrosis in HIV/hepatitis C virus co-infected patients. AIDS. 2004; 18(16):2163-70. 85 John M, Flexman J, French MA. Hepatitis C virus-associated hepatitis following treatment of HIV-infected patients with HIV protease inhibitors: an immune restoration disease? AIDS. 1998; 12(17):2289-93. 86 Cooper CL, Parbhakar MA, Angel JB. Hepatotoxicity associated with antiretroviral therapy containing dual versus single protease inhibitors in individuals coinfected with hepatitis C virus and human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis. 2002; 34(9):1259-63. 87 French MA, Lenzo N, John M, Mallal SA, McKinnon EJ, James IR, et al. Immune restoration disease after the treatment of immunodeficient HIV-infected patients with highly active antiretroviral therapy. HIV Med. 2000; 1(2):107-15. 88 Churg RT, Evans SR, Yang Y, Theodore D, Valdez H, Clark R, et al. Immune recovery is associated with persistent rise in hepatitis C virus RNA, infrequent liver test flares, and is not impaired by hepatitis C virus in co-infected subjects. AIDS 2002; 16(14):1915-23. 89 Servin-Abad L, Molina E, Baracco G, Arosemena L, Regev A, Jeffers L, et al. Liver enzymes elevation after HAART in HIV-HCV co-infection. J Viral Hepat 2005; 12(4): 429-34. 90 Aranzabal L, Casado JL, Moya J, Quereda C, Diz S, Moreno A, et al. Influence of liver fibrosis on highly active antiretroviral therapy-associated hepatotoxicity in patients with HIV and hepatitis C virus coinfection. Clin Infect Dis 2005; 40(4):58893. 91 Nuñez M, Lana R, Mendoza JL, Martín-Carbonero L, Soriano V. Risk factors for severe hepatic injury after introduction of highly active antiretroviral therapy. J Acquir Immune Defic Syndr 2001; 27(5):426–31. 92 Orenstein R, Tsogas N. Looking beyond active antiretroviral therapy: drugrelated hepatotoxicity in patients with human immunodeficiency virus infections. Pharmacotherapy 2002; 22(11):1468–78. 93 Soto B, Sanchez-Quijano A, Rodrigo L, del Olmo JA, García-Bengoechea M, Hernández-Quero J, et al. Human immunodeficiency virus infection modifies the natural history of chronic parenterally-acquired hepatitis C with an unusually rapid progression to cirrhosis. J Hepatol 1997; 26(1):1–5. 94. Soriano V, García-Samaniego J, Valencia E, Rodríguez-Rosado R, Muñoz F, González-Lahoz J. Impact of chronic liver disease due to hepatites viruses as cause of hospital admission and death in HIV-infected drug users. Eur J Epidemiol 1999; 15(1):1–4. 95 Nuñez M, Ríos P, Martín-Carbonero L, Pérez-Olmeda M, González-Lahoz J, Soriano V. Role of hepatitis C virus genotype in the development of severe transaminase elevation after the introduction of antiretroviral therapy. J Acquir Immune Defic Syndr 2002; 30(1):65–8. 96 Qurishi N, Kreuzberg C, Luchters G, Effenberger W, Kupfer B, Sauerbruch T, et al. Effect of antiretroviral therapy on liver-related mortality in patients with HIV and hepatitis C virus coinfection. Lancet 2003; 362(9397):1708–13. 13. 97 Macias J, Pineda JA, Lozano F, Corzo JE, Ramos A, Leon E, et al. Impaired recovery of CD4+ cell counts following highly active antiretroviral therapy in drugnaïve patients coinfected with human immunodeficiency virus and hepatitis C virus. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 2003; 22(11):675–80. 98 Soriano V, Puoti M, Garcia-Gasco P, Rockstroh JK, Benhamou Y, Barreiro P, et al. Antiretroviral drugs and liver injury. AIDS 2008, 22(1):1–13. APÊNDICE A HEPATOTOXICIDADE APÓS TERAPIA ANTIRRETROVIRAL EM PACIENTES PORTADORES DO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA, COINFECTADOS COM O VÍRUS DA HEPATITE C. Idade:_____ Sexo: _____ Cor: ___________ Registro: _____________ Coomorbidades: _______________ Usuário de drogas: ____ Usuário ativo de álcool (quanto): _______________ HIV: ____ HBV: ______ Homossexual: ____ HCV: ____ Transfusão?_____ Medicações:_________________________________________ Regime de tratamento para HIV: _______________ Início de HAART:___________ Data de suspensão de HAART:__________ EXAME PRÉ-TTO 3 MESES 6 MESES 9 MESES 12 MESES AST ________ ________ ________ ________ ________ ALT ________ ________ ________ ________ ________ TP (%) ________ ________ ________ ________ ________ RNI ________ ________ ________ ________ ________ BT ________ ________ ________ ________ ________ BD ________ ________ ________ ________ ________ FA ________ ________ ________ ________ ________ GGT ________ ________ ________ ________ ________ ALB ________ ________ ________ ________ ________ CD4 ________ ________ ________ ________ ________ Carga Viral ________ ________ ________ ________ ________ APÊNDICE B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DECLARAÇÃO Eu,_________________________________________________,fui informada pelo pesquisador(a) ________________________________________dos objetivos específicos e das justificativas da pesquisa “Hepatotoxicidade por Antirretrovirais em Pacientes Portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e Infectados com HIV e o Vírus da Hepatite C (HCV)” de forma bem clara e detalhada. Compreendi que este estudo pretende entender quais as modificações, principalmente no fígado, que ocorrem em pacientes com o vírus do HIV e também com o vírus da Hepatite C, utilizando antirretrovirais (medicações para o HIV) e com os pacientes que tem o vírus do HIV e não tem o vírus da Hepatite C, também utilizando as mesmas medicações. Entendi também que estudo poderá trazer benefícios no futuro para todos os pacientes portadores do vírus do HIV, e que não serei remunerado em participando deste estudo. A minha inclusão no estudo não implicará na realização de procedimentos ou exames além dos necessários para a assistência médica habitual. Todas as minhas dúvidas foram respondidas com clareza, e sei que poderei solicitar novos esclarecimentos a qualquer momento. Estou ciente que as informações por mim fornecidas serão de caráter confidencial e usadas somente para presente pesquisa. Caso tiver novas perguntas sobre a presente pesquisa posso chamar o pesquisador pelo telefone 3357.2487, para qualquer dúvida sobre os meus direitos como participante deste estudo. Esta pesquisa tem aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Nossa Senhora da Conceição, com aval do Dr. Lauro Luis Hagemann, Coordenador Executivo do Comitê de Ética em Pesquisa do HNSC-GHC. Sob as condições acima mencionadas, concordo em participar do presente estudo, tendo autonomia para desistir da participação do mesmo em qualquer momento. Declaro que recebi cópia do presente Termo de Consentimento e Esclarecido, aproveitando-o e assinando-o após lê-lo com todo o cuidado possível. Porto Alegre, de 2008. ____________________________ Paciente ________________________ Vicente Sperb Antonello Endereço para contato: Vicente Sperb Antonello, Avenida Francisco Trein, 596, 4 andar, Departamento de Infectologis do Hospital Nossa Senhora da Conceição, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected] APÊNDICE C APÊNDICE D