SÍNTESE DE NOVOS DERIVADOS NAFTOQUINÔNICOS COM ATIVIDADE LEISHMANICIDA Thamiris Kassia de Barros Queiroz1, Celso de Amorim Camara2 Introdução As quinonas representam uma ampla e variada família de metabólitos de distribuição natural. Nos últimos anos intensificou-se o interesse nestas substâncias, não só devido à sua importância nos processos bioquímicos vitais como também ao destaque cada vez maior que apresentam em variados estudos farmacológicos [1]. O lapachol (1), 2-hidroxi-3-(3-metil-butenil)-1,4naftoquinona, é um produto natural caracterizado como uma naftoquinona prenilada, comum em espécies da família Bignoniaceae. Sendo o composto de partida uma substância de ocorrência natural abundante e uma vez que substâncias naturais do grupo das betalapachonas, dotados de estruturas químicas do tipo 1,2-piranonaftoquinoidal apresentam inúmeras ações farmacológicas [2,3], o desenvolvimento de estudos de protótipos com atividade leishmanicida é de fundamental importância na busca de novos fármacos. A leishmaniose é uma doença infecciosa que vem aumentando consideravelmente em todo mundo, e apesar do grande avanço no conhecimento da biologia celular e imunologia desta patologia, a quimioterapia empregada ainda utiliza preparações contendo antimônio [4]. A partir de modificações estruturais do lapachol (1) pretende-se obter em quantidade semi-micro e de bancada os derivados (2), (5), (6) e avaliar o potencial leishmanicida contra Leishmania chagasi. Material e métodos Extração do lapachol Através de uma extração ácido-base o lapachol é retirado da serragem de madeira do ipê, a reação com a mistura de hidróxido de sódio e carbonato de sódio dá origem a um sal orgânico. O fato deste sal do lapachol ser solúvel em água permite que ele seja separado por filtração simples do restante da serragem. O lapachol pode ser regenerado a partir de seu sal de sódio pela reação com solução de HCl a 10%, havendo a precipitação do sólido de cor amarela, insolúvel em água. O processo de purificação desta naftoquinona se dá por recristalização por Soxhlet com hexano e tem um rendimento de até 2%. Síntese do 3-(2-hidroxi-isopropil)-betalapachona (2) A reação de condensação de Prins intermolecular em meio de ácido fórmico utilizando formaldeído ou paraformaldeído é a reação-chave para obtenção do derivado hidroxilado (2), a partir do lapachol (1) (esquema 1).[5] Ao lado dos produtos de ciclização podem-se obter quantidades variáveis dos produtos de ciclização do lapachol, a betalapachona (3) e alfalapachona (4), que são purificados através de cromatografia em coluna preparativa. Tratando-se de reações em escala ampliada o melhor método para isolamento do produto (2) consiste na cristalização em etanol/água a baixas temperaturas. Reações com 3-(2-hidroxi-isopropil)-betalapachona(2) A. Acetilação As condições para obtenção do éster (5) utilizaram metodologias de uso comum em laboratório, para esta reação utilizou-se o 3-(2-hidroxi-isopropil)betalapachona (2), anidrido acético e piridina, submetendo-se o sistema a agitação em temperatura ambiente (esquema 2). Para o isolamento do produto (5) utilizou-se a técnica de separação por cromatografia em camada delgada preparativa e cromatografia em coluna preparativa. B.Eliminação A reação de eliminação foi realizada a partir da transformação do protótipo (2) no correspondente tosilato, que será eliminado utilizando-se uma base apropriada como a trietilamina (esquema 2). A síntese de xantatos através da reação de Tchugaev também é uma das metodologias propostas para a obtenção dos alcenos. A mesma utiliza-se de quatro etapas partindo-se do 3-(2-hidroxiisopropil)betalapachona (esquema 3). O análogo (6) merece especial atenção, pois se trata ________________ 1. Aluna PIBIC/FACEPE, Curso Licenciatura Plena em Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Campus Dois Irmãos, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, Pernambuco, CEP 52171-900, tel (81) 3320-6380, email: [email protected] 2. Professor Adjunto do Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Campus Dois Irmãos, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, Pernambuco, CEP 52171-900, tel (81) 3320-6382, email: [email protected] de um análogo com uma cadeia de isopreno do composto 3-alil-betalapachona (7), patenteado como um dos mais potentes antitumorais [6]. Resultados Síntese do 3-(2-hidroxi-isopropil)-betalapachona (2) Todas as reações de condensação de Prins para obtenção do 3-(2-hidroxi-isopropil)-betalapachona forma bem sucedidas e observou-se como previsto a formação de um dos produtos de ciclização do lapachol, a betalapachona, em quantidades variáveis. As primeiras reações foram concluídas em aproximadamente 15h, mas com alterações na quantidade de reagentes numa escala piloto o tempo de reação foi reduzido sendo esta concluída em 5h.Com a realização da reação de Prins sem solvente , substituindo-se o formaldeído por paraformaldeído e duplicando-se a quantidade de ácido obtivemos reações com duração de apenas 30 minutos, tendo as mesmas rendimentos próximos. O produto (2) foi obtido com rendimento de cerca de 48%, estando parte deste sendo avaliado quanto à sua atividade biológica no modelo em estudo pela professora Louisianny Guerra da Rocha (DB-UFRN) utilizando metodologias conhecidas e em desenvolvimento[7], composto este estruturalmente análogo da betalapachona já tendo sido feita a caracterização para confirmação da estrutura proposta. O composto foi obtido como um sólido amorfo e também como cristais de coloração alaranjada. Ao realizar-se a fusão dos mesmos observou-se as seguintes faixas: Sólido amorfo: 121-127 ºC Cristais: 141-144 ºC Paralelamente a reações de derivatização para obtenção de novas naftoquinonas dá-se continuidade a síntese do 3-(2-hidroxi-isopropil)-betalapachona. a metodologia proposta para tal objetivo, Ao realizarmos ccd após a terceira etapa, observou-se a possível formação do xantato, pela presença de um produto em rendimento apreciável de coloração amarelada, bem mais apolar que o produto de partida. A mistura foi submetida a aquecimento a 150ºC, onde adquiriu uma coloração escura. Ao realizarmos ccd não observamos mais a presença do xantato, a mistura apresentou características que indicavam degradação. Como alternativa para se evitar a degradação da mistura pretende-se realizar o isolamento do xantato por cromatografia em coluna preparativa e submissão do produto a temperaturas mais baixas que a citada. Discussão A quantidade de produto (2) sintetizado foi menor em relação à esperada mesmo assim obtivemos um bom rendimento, sendo este composto de partida para diversas reações de derivatização. A tentativa de separação mal-sucedida com coluna cromatográfica preparativa em uma das derivatizações nos levou a procurar e utilizar uma nova metodologia para separação do produto que se mostrou eficaz para a separação do produto desejado. Todas as naftoquinonas sintetizadas tiveram suas estruturas confirmadas por RMN1H e RMN13C A busca por diferentes rotas sintéticas para a reação de eliminação é prioridade nesta etapa da pesquisa. Agradecimentos Aos meus familiares, amigos, ao professor orientador Celso de Amorim Câmara, DQ-UFRPE, apoio financeiro FACEPE e CNPq. Referências [1] Reação de acetilação A reação de esterificação em micro-escala foi concluída em cerca de 1h sendo acompanhada por ccd. O método de separação por cromatografia em coluna preparativa não foi eficiente sendo necessária a procura e utilização de uma outra técnica. Com a realização de cromatografia em camada delgada preparativa conseguiu-se isolar o produto com um rendimento de 50,93% tendo este apresentado fusão de 81 a 84 ºC , sendo também já carcterizado. [2] [3] [4] [5] Reação de eliminação Os alcenos análogos ao 3-alil-betalapachona ainda não foram sintetizados, obtivemos o intermediário tosilato, já caracterizado, com um rendimento de 34%, que serviu como material de partida para as demais reações de eliminação. A eliminação utilizando-se a trietilamina ou bases mais fortes como o KOtBu, não se mostrou eficiente, partindo-se para outra metodologia. A síntese de xantatos através da reação de Tchugaev é [6] [7] SILVA, M.N., FERREIRA, V.F., SOUZA, M.C.B.V., “Um panorama atual da química e da farmacologia de naftoquinonas, com ênfase na Beta-Lapachona e derivados”, Química Nova vol.26, nº 3, 407-416, (2003). VALDERRAMA, J.A., BENITES, J., CORTES, M. et al “ Studies on Quinones. Part 38: synthesis and leishmanicidal activity of sequiterpene 1,4-Quinones” Bioorg. Med. Chem. 11, 4713-4718 (2003). LIMA, N.M.F., CORREIA, C.S., LEON, L.L. et al “ Antileishmanial activity of lapachol analogues” Mem. Inst. Oswaldo Cruz 99, 757-61 (2004). RATH, S., TRIVELIN, L.A., IMBRUNITO, T.R. et al. “Antimoniais empregados no tratamento da leishmaniose: estado da arte” Quím. Nova 26,550-555, (2003). CÂMARA, C.A., SILVA, T.M.S., BARBOSA, T. P., COSTA, R.A., VARGAS, M.D., PINTO, A.C., MACEDO, R.O., ROCHA, L.G. “ Processo de Preparação de Naftoquinonas Naturais Modificadas Análogas da Beta-Lapachona Através de Reações de Condensação em meio ácido com propriedades Leishmanicidas”, patente depositada em 17/02/2006, INPI/PB, número provisório 000035/PB. WITIAK, D.T., BOOTHMAN, D.A., FRYDMAN, B.J., “Synthesis of and Use of Beta-Lapachone Analogs”, US Patent 5,763,625(1995). ROCHA, L.G. “ Avaliação da Atividade Leishmanicida de Naftoquinonas Naturais Modificadas e desenvolvimento de Ensaio Biológico para avaliar a Potencia Relativa de 1-AzaAntraquinonas Leishmanicidas”, Tese de Doutorado, LTFUFPB, 2006,160 pp. Estruturas citadas O O O OH O O OH (4) O O O O O (5) O O O O O (3) O O O O (2) (1) O O O O O (6) OSO2 O (8) (7) Esquema 1 O O OH O O a O + OH O O (1) O (3) (2) Condições reagentes: a)HCO2H 88%, H2CO 36%, ETOH 95%, refluxo, 3-6 h Esquema 2 O O O O (1) C4H6O3, Py O O O OH O (5) (2) Esquema 3 O O OH O O KOtBu O O O O CS2 O [K] O + O O Dados S [K] + O O 1. (CH3)2SO4 O O Tabela S O (2) S O (6) CH3 S espectrais 1 de H RMN. Composto 2 5 8 2. H (200 MHz, CDCl3) =PPM 5.1H (300 MHz, CDCl3) =PPM 8.1H (300 MHz, CDCl3) =ppm 1,35 (s, 3H); 1,61 (s, 3H); 2,05 (m, 1H);2,32(dd, 1H, 4/7 Hz); 2,5 (sl, 1H); 2,79 ppm (dd, 2H, 7,2/2,2Hz); 3,64 (dd, 1H, 2,9/4,5 Hz);3,87 (dd, 1H, 2,1/4,5 Hz); 7,49 (m, 1H); 7,64 (m, 1H); 7,79 (m, 1H);8,01 (m, 1H) 1,33 (s, 3H); 1,56 (s, 3H); 2,04 (s, 3H); 2,16 (m, 1H); 2,30 (dd, 1H, 9,4/17,5 Hz); 2,76 (dd, 1H, 5,2/17,5 Hz); 3,89 (dd, 1H, 7,9/ 11,2 Hz); 4,25 (dd, 1H, 5,1/11,4 Hz); 7,48 (m, 1H); 7,62 (m, 1H); 7,76 (m, 1H); 8,00(m, 1H). 1,35 (s, 3H); 1,53 (s, 3H); 2,40 (s, 3H) 2,62 (dd, 1H, 5,2/17,2 Hz); 3,86 (dd, 1H, 6,7/10,0 Hz); 4,20 (dd, 1H, 5,1/10,2 Hz) 1