Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. Tratamento ortodôntico e ortopédico da mordida cruzada posterior Orthodontic and orthopedic treatment of posterior crossbite Suzana Caroline dos Santos Oliveira1 Vania Cristina Santana2 Luciano Pacheco de Almeida3 Resumo O presente estudo teve como objetivo revisar os trabalhos no que se diz respeito ao tratamento da mordida cruzada posterior e apresentar um caso clínico de uma paciente com mordida cruzada posterior e anterior tratada com disjuntor de Haas e máscara facial. Com uma estimativa de 8% a 23,5%, a mordida cruzada posterior é a má oclusão de maior frequência na clínica, sendo que estes números são similares tanto na dentição decídua quanto na permanente. Os fatores etiológicos podem ser hábitos viciosos, problemas respiratórios, interferências oclusais, más formações congênitas, entre outros, podendo agir isolados ou em conjunto. O tratamento deste tipo de má oclusão exige, além de um conhecimento do profissional para definir qual a melhor terapêutica de acordo com a idade do paciente, um diagnóstico minucioso por diversos meios preconizados como análise clínica, modelos de estudo, telerradiografias em norma lateral e frontal, auxiliando o clínico na elaboração de um plano de tratamento adequado e, como consequência, levando a um prognóstico mais favorável desta má oclusão. A expansão rápida da maxila ou disjunção, além de corrigir a deficiência transversa da maxila, proporciona diversas mudanças na oclusão como expansão indireta do arco inferior, melhora na estética do sorriso e auxílio no tratamento de Classe II. O tratamento deve ser realizado, preferencialmente, na dentadura decídua. Descritores: Disjunção, expansão rápida da maxila, mordida cruzada posterior. Abstract This study aimed to perform a literature review on the treatment of posterior crossbite and present the clinical case of a patient with posterior and anterior crossbite treated with breaker Haas and facemask. The posterior crossbite is the most frequent malocclusion, an estimative of 8% and 23.5%, in both deciduous and permanent dentitions. The etiological factors may include vicious habits, respiratory problems, occlusal interference, and congenital malformations, among others. These factors may act alone as well as combined. Beside a proper knowledge of the professional that will determine the best approach based on the age of the patient, the treatment of this malocclusion also requires an accurate diagnosis obtained through clinical analysis, study models, frontal and lateral teleradiographs. Thereby, a detailed diagnosis may assist the clinician on the development of a treatment plan that may lead to a more favorable prognosis. The fast maxillary expansion, or disjunction, in addition to correct the transverse maxillary deficiency also provides several changes in the occlusion such as in- Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial – UNIABO/SE. Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial – UNIABO/SE, Professora do Curso de Especialização em Ortodontia e Ortopedia Facial – UNIABO/SE. Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial – USP/Bauru, Mestre em Ortodontia – Faculdade Metodista de São Paulo. 1 2 3 E-mail do autor: [email protected] Recebido para publicação: 16/08/2011 Aprovado para publicação: 21/06/2012 Como citar este artigo: Oliveira scs, Santana VC, Almeida LP. Tratamento ortodôntico e ortopédico da mordida cruzada posterior. Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. 227 228 Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. direct expansion of the lower arch, improvement of dental aesthetics, and assistance on the treatment of Class II. This kind of treatment should be conducted in patients with deciduous dentition. Descriptors: Disjunction, rapid maxillary expansion, posterior crossbite. Introdução A mordida cruzada posterior é uma das más oclusões mais prevalentes na clínica ortodôntica, sendo dividida em quatro grupos: mordida cruzada funcional, mordida cruzada esquelética e/ou dentoalveolar unilatera, mordida cruzada esquelética e/ou dentoalveolar bilateral ou mordida cruzada posterior vestibular total²¹. Diversos fatores etiológicos estão presentes. Um correto diagnóstico com manipulação do paciente em relação cêntrica e exames complementares são fundamentais antes do início do tratamento. A abordagem terapêutica foi preconizada, primeiramente, por Haas apenas em crianças, e é voltada para o aumento das dimensões transversas do arco dentário superior, estabelecendo uma relação normal entre maxila e mandíbula18. Aparelhos fixos com parafuso de expansão são utilizados para promover a separação da sutura palatina mediana, aumentando o perímetro do arco dentário6,18. Porém, apesar dos ganhos na direção transversa, a terapia de expansão induz alterações indesejáveis como deslocamento maxilar para baixo com consequente extrusão dos molares e rotação mandibular no sentido horário. Acredita-se que, quando a mordida cruzada posterior não é corrigida precocemente pode afetar o desenvolvimento da dentição permanente, ficando mais difícil o tratamento, uma vez que a sutura palatina mediana se ossifica na idade adulta e a pressão exercida pelo aparelho pode causar sequelas. Entretanto, alguns estudos26,27 mostraram sucesso no aumento da dimensão transversa e abertura da sutura palatina mediana em pacientes adultos, apesar do prognóstico ser duvidoso. Este estudo tem como justificativa a grande prevalência da deficiência transversa da maxila em crianças e adultos (não tratados precocemente), necessitando de uma intervenção ortodôntica para a correção. Relato de caso / Case report Revisão de literatura Haas18 (1965) apresentou dois casos de expansão maxilar, onde enfatizou e verificou a abertura do espaço entre os incisivos na direção da aplicação da força, abertura da sutura palatina mediana em formato triangular e deslocamento lateral da cavidade nasal, facilitando a respiração. O primeiro caso apresentado foi de uma paciente com 09 anos, Classe III com deficiência maxilar, apresentando mordida cruzada posterior, tra- tada com expansão maxilar. O outro caso apresentado foi de um paciente com 14 anos com mordida cruzada, má oclusão de Classe III com prognatismo mandibular e problemas respiratórios. Sandstrom et al.28 (1988) avaliaram o efeito da expansão rápida da maxila sobre as larguras intercaninos e intermolares inferiores durante o tratamento e sua estabilidade após a contenção. As relações entre as alterações interarcos, tipos faciais e a idade dos pacientes da amostra também foram estudadas. As mudanças no decorrer do tratamento e no pós-contenção para as larguras intercaninos e larguras intermolares mesial e distal foram calculadas e testadas. Constatou-se expansões médias na largura intercaninos de 1,1 mm e da largura intermolares de 2,8 mm no pós-contenção. Capelozza et al.6 (1997) enfatizaram conceitos e diagnóstico e um histórico sobre expansão rápida da maxila. Afirmaram que o aparelho adotado atualmente baseia-se no protótipo anunciado por Haas18 (1965), com ancoragem dentomucossuportada, sendo fabricado com fio 1,2 mm de espessura e apoio de resina acrílica justaposto à mucosa palatina e, além disso, o procedimento clínico da expansão rápida da maxila inclui uma fase ativa, que libera forças laterais excessivas, e outra passiva, de contenção. Faltin et al.10 (1999) apresentaram um novo expansor que foi instalado em 16 pacientes brasileiros, sendo que 8 pacientes foram tratados com o expansor tipo HAAS e 8 usaram o aparelho com plano de mordida posterior. Como resultado, observaram que o ângulo do plano palatino com o plano de Frankfurt não sofreu grandes modificações, em contrapartida com o aparelho de Haas que apresentou essa alteração. Handelman et al.17 (1999) demonstraram a expansão maxilar em 5 adultos com graves deficiências transversas. A amostra de seu estudo constava de 47 pacientes adultos que foram submetidos à expansão rápida da maxila não cirúrgica, sendo comparados com dois grupos de controle: pacientes adultos que não realizaram a expansão e crianças submetidas à expansão na dentadura mista. O aumento transversal foi semelhante em adultos e crianças que se submeteram à expansão. A expansão rápida da maxila promoveu vestibularização dos molares com valor de 3° para cada lado. O plano mandibular e a altura facial inferior ficaram inalterados. Bramante et al.5 (2002) com o objetivo de avaliar o tratamento da mordida cruzada posterior com expansores maxilares e cobertura oclusal, analisaram 69 telerradiografias em norma lateral, feitas no início e fi- nal do tratamento e após três meses de contenção de 23 pacientes. As ativações só finalizaram após ter sido observada uma sobrecorreção dos dentes superiores aos inferiores e os aparelhos foram mantidos por três meses na cavidade oral, como forma de contenção. Após a fase ativa de expansão, o grupo com o aparelho colado na oclusal obteve um avanço estatisticamente significante da maxila para a anterior; houve rotação mandibular no sentido horário, o que acarretou o aumento da altura facial anteroinferior. McNamara et al.²² (2003) realizaram um estudo longitudinal para avaliar as mudanças de curto a longo prazo na maxila e mandíbula em pacientes tratados com expansão rápida seguida de aparelhos fixos. A curto prazo, depois de expansão rápida da maxila e terapia com aparelhos fixos, foram observadas mudanças significativas em todas as dimensões do arco quando comparados com o grupo controle. Durante o período pós-tratamento, ocorreram ligeiras mudanças nas medições da largura do arco, tanto na maxila quanto na mandíbula do grupo tratado. A longo prazo, ocorreu um ganho no perímetro do arco maxilar e mandibular de seis milímetros. Barreto et al.4 (2005), a fim de avaliar as mudanças verticais e transversas da maxila, utilizaram o aparelho Hyrax. Os resultados encontrados apresentaram um aumento da largura maxilar, aumento da largura da cavidade nasal, efeitos ortodônticos com a inclinação dos molares superiores para vestibular (média de 2,81 mm) e diastema interincisivo. Garib et al.15 (2005) avaliaram, por meio da tomografia computadorizada, os efeitos dentoesqueléticos e periodontais da expansão rápida da maxila em uma jovem na fase de dentadura permanente. Foram medidas as dimensões transversas maxilares, a inclinação dos dentes posteriores, a espessura das tábuas ósseas vestibular e lingual e o nível da crista óssea alveolar vestibular. Observou-se um aumento no sentido transverso da maxila com inclinação para vestibular dos dentes posteriores, além de uma reabsorção da tábua óssea vestibular e formação de osso na região palatina. Em um estudo, Albuquerque et al.¹ (2006) tentaram observar se a previsibilidade de sucesso da disjunção palatina está correlacionada à algum evento de maturidade esquelética. Foram utilizadas radiografias de mão e punho e os achados registrados em um gráfico do surto de crescimento puberal. Dezenove pacientes de ambos os gêneros, com idades de dez anos e três meses a vinte e oito anos e quatro meses, foram avaliados e supervisionados por radiográficas antes e após o procedimento de disjunção palatina. Pode-se concluir que não foi possível determinar a previsibilidade de sucesso da disjunção palatina na correlação com a ossificação total do osso rádio. Ficou claro que a disjunção palatina em pacientes adultos não é um método seguro, podendo causar danos periodontais e insucessos. Fabrini et al.9 (2006) analisaram em seus estudos o efeito do aparelho disjuntor Hyrax, sendo que a fase ativa compreendeu ativações diárias até alcançar uma sobrecorreção de dois a três milímetros com a abertura da sutura palatina mediana. Com o parafuso fixo, o aparelho deixou de ter a função expansora e passou ser usado como contenção, a fim de evitar uma possível recidiva. Machado et al.²¹ (2006) avaliaram possíveis modificações cefalométricas decorrentes da expansão da maxila em pacientes adultos, observando as seguintes medidas lineares: largura facial, largura nasal, altura nasal, largura maxilar, largura mandibular e distância intermolares. Houve aumento em todas as medidas estudadas, mostrando a real possibilidade da expansão maxilar em pacientes adultos. Pinto et al.24 (2006) em seu trabalho, analisaram os resultados do tratamento em crianças utilizando aparelho tipo Hyrax e expansor removível. Os resultados indicaram que o grupo tratado com o Hyrax em relação ao grupo tratado com aparelho removível apresentaram distâncias intermolares em média 3 mm maior, além de ter mostrado um aumento na profundidade do palato e maior distância intercanina. Tanto o aparelho fixo como o removível produziram mudanças significantes nas distâncias intercaninos e intermolares, porém, essas mudanças são mais efetivas, em termos de quantidade, na utilização do Hyrax. Ribeiro et al.²6 (2006) apresentaram um caso clínico de uma paciente de 17 anos em que foi realizado o método de ERM sem assistência cirúrgica, visando a correção de uma mordida cruzada posterior. O aparelho expansor utilizado foi o disjuntor de Haas modificado. Após a instalação do disjuntor e ativação de ½ volta no primeiro dia, foi recomendado à paciente que realizasse duas ativações de ¼ de volta por dia, sendo uma no período matutino e outra no período noturno. O ganho em expansão entre os primeiros molares foi de 6,5 mm. Scavini et al.29 (2006) avaliaram cefalometricamente os efeitos da expansão rápida da sutura palatina mediana sobre o posicionamento vertical e sagital da maxila, comparando os aparelhos de Haas e Hyrax. De uma maneira geral, não observaram diferenças entre os resultados obtidos para os dois tipos de aparelhos empregados. O posicionamento da maxila no sentido anteroposterior, em relação à base do crânio, sofreu modificações semelhantes como avanço maxilar na pós-disjunção e ocorrência do deslocamento vertical da maxila para baixo sem sofrer rotação. Carlini et al.7 (2007) avaliaram o resultado do tratamento em pacientes Classe III e deficiência transversa, onde seis pacientes apresentavam retrognatismo maxilar e três mau posicionamento mandibular. Para potencializar o efeito ortopédico da tração reversa, recomendou-se a instalação do aparelho expansor tipo Oliveira scs, Santana VC, Almeida LP. 229 Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. Relato de caso / Case report 230 Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. Hyrax. Os elásticos utilizados promoveram uma força de 500g de cada lado e a máscara facial usada por 16 a 18 horas ao dia, até a sobrecorreção da deficiência. Após este período, o paciente iniciou o tratamento ortodôntico. Pôde-se observar que o avanço da maxila foi, em média, de 5 mm. Figueiredo et al.12 (2007) mostraram em seus estudos um paciente com padrão facial braquifacial que encontrava-se com a dentição decídua completa apresentando uma mordida cruzada posterior unilateral funcional do lado esquerdo, associada a uma mordida aberta e a uma mordida cruzada anterior. O tratamento proposto foi a expansão lenta da maxila com a utilização do aparelho quadrihélice (0,8 mm aço). O paciente foi orientado a utilizar uma mentoneira oblíqua para má oclusão de Classe III. A correção da mordida cruzada posterior permitiu um fechamento vertical normal da mandíbula sem desvio do trajeto. Garib et al.16 (2007) descreveram um inédito sistema para expansão rápida da maxila com ancoragem absoluta, para aplicação na fase de dentadura permanente, em pacientes em crescimento. Procedimentos cirúrgicos e laboratoriais da confecção de um expansor com ancoragem dento-óssea foi detalhado em crânio seco humano. Dois implantes de titânio foram colocados na região anterior do palato, previamente estudados e examinados para que uma melhor posição fosse definida, e o parafuso Hyrax adaptado sendo ancorado nos implantes e nos primeiros molares permanentes. Ao se ancorar o aparelho expansor nos implantes, anula-se os efeitos indesejáveis dos movimentos dentários, preservando sua anatomia periodontal e o sistema de sustentação dos dentes, assim toda força do aparelho seria para abrir a sutura palatina mediana. Ferreira et al.¹¹ (2007) avaliaram se possíveis efeitos deletérios em curto prazo, da disjunção maxilar com o aparelho Hyrax, são permanentes ou se diluem em médio prazo com o crescimento e desenvolvimento normais. O tratamento foi realizado em crianças e a ativação foi de 2/4 de volta por dia. Após o período de quatro meses, esses aparelhos foram retirados e instalada uma contenção por seis meses. Pôde-se observar que os possíveis efeitos dentoesqueléticos indesejáveis da disjunção maxilar com o aparelho Hyrax desaparecem, provavelmente, compensados pelo crescimento, atividade muscular e a oclusão. No estudo de Franco et al.¹4 (2008) foi apresentado uma paciente, 38 anos, com severa má oclusão de Classe II (Angle), associada a retrusão mandibular e atresia do arco superior, onde o plano de tratamento incluiu cirurgia ortognática de avanço mandibular e disjunção cirúrgica após a instalação do disjuntor de Hyrax. O primeiro dia foi de ativações subsequentes de 1/4 de volta pela manhã e à noite. A partir do segundo dia (duas vezes ao dia), por um período de dez dias. A abordagem terapêutica da paciente demonstra a possibilidade da correção da atresia maxilar em pacientes adultos, por meio da interação do procedimento cirúrgico com tratamento convencional ortodôntico-ortopédico. Recentemente, Almeida et al.² (2009) com o objetivo de avaliar as alterações ocorridas na assimetra labial presente em pacientes portadores de mordida cruzada posterior unilateral, selecionaram 30 pacientes através de fotografias clínicas. Todos apresentavam um desvio do lábio inferior para o lado cruzado, resultando em um aspecto de assimetria labial. Esses pacientes foram tratados com o aparelho de Porter ou com o aparelho disjuntor tipo Hyrax, ainda na dentadura mista, e o resultado do trabalho demonstrou uma melhora na assimetria. Fima¹³ (2009) elucidou as alterações na dimensão transversal pela expansão da maxila. Na expansão da maxila, a sobrecorreção é necessária com as cúspides linguais dos dentes superiores em contato com as cúspides vestibulares dos inferiores. Já em pacientes com espaços negativos, a expansão é necessária para uma melhora na estética do sorriso. Latuf et al.19 (2009) mostraram os efeitos do tratamento da mordida cruzada uni ou bilateral com envolvimento esquelético. O aparelho utilizado foi o de Hyrax com cobertura oclusal e três meses de contenção com o mesmo aparelho. Os pacientes da amostra foram radiografados após um intervalo médio de dois anos pós-contenção da expansão rápida da maxila e durante todo esse período não foi utilizado nenhum tipo de aparelho fixo ou removível. Os efeitos esqueléticos nos pacientes tratados neste estudo mantiveram-se estáveis após o período de observação, já nos efeitos dentários foi observado uma recidiva na distância intermolar superior. Rossi et al.²7 (2009) analisaram e discutiram fatores determinantes para o planejamento da ERM em adultos e adolescentes com maturação esquelética avançada. Nesses pacientes, o aumento da dimensão esquelética transversa do palato promovido pela ERM é pequeno, sendo predominantemente dentoalveolar sem abertura da sutura palatina mediana. Araújo et al.³ (2010) apresentaram o resultado de um tratamento da mordida cruzada posterior utilizando o Hyrax. Em todos os pacientes foi observado ganho na dimensão transversa e descruzamento da mordida. Após o período de contenção, verificou-se uma recidiva dos movimentos com redução na distância intermolar e interápice, recomendando-se, então, uma sobrecorreção quando se utiliza o Hyrax, assim como cuidados no tempo de contenção para evitar danos inesperados. Phiton²³ (2010) descreveu um caso clínico de abertura da sutura palatina mediana sem intervenção cirúrgica. O trabalho apresentou um paciente com 28 anos com maxila atrésica. Foi instalado o disjuntor de Hyrax e ativado duas vezes ao dia por sete dias. No décimo quinto dia, observou-se a abertura da sutura palatina 231 Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. mediana e presença de diastema entre os incisivos, sendo que foi totalizado vinte e um dias de ativação. A fim de obter uma distribuição ideal das forças, seis dentes superiores foram bandados ao invés de utilizar quatro dentes. Essa ancoragem permite que as forças sejam melhor distribuídas, evitando assim, a sobrecarga e possível fratura da tábua óssea vestibular e retração gengival. Scavini et al.³0 (2010) avaliaram o efeito da rotação mandibular subsequentes à expansão rápida da maxila em dois tipos de aparelho: Haas e Hyrax. Em ambos verificou-se o deslocamento rotacional da mandíbula no sentido horário, para baixo e para trás, permanecendo na fase final de nivelamento em ambos os grupos. Recentemente, Shiavinato et al.³1 (2010), com o objetivo de analisar a assimetria em indivíduos com mordida cruzada posterior, utilizou fotografias frontais e comparou os ângulos dos olhos e da boca com o plano mediano da face e verificaram que não houve diferença no ângulo dos olhos analisado bilateralmente em cada paciente, podendo sugerir que a presença de mordida cruzada funcional não interfere neste padrão de simetria. Porém, essa assimetria se localizava no terço inferior da face, no ângulo da boca. A B Proposição O presente trabalho tem como objetivo rever na literatura o diagnóstico e o tratamento da mordida cruzada posterior, além de apresentar um caso clínico de uma paciente na dentadura mista com mordida cruzada posterior e anterior tratada com disjuntor de Haas. Relato de caso Paciente do gênero feminino, leucoderma, brasileira, 10 anos, apresentou-se para tratamento ortodôntico na clínica de Ortodontia da ABO/SE com a queixa principal de que os dentes estavam fora do lugar. No exame clínico intrabucal, percebeu-se que a mesma apresentava má oclusão de Classe III, associada a uma mordida cruzada posterior e anterior (Figura 1) na dentadura mista, sem desvio da linha média. O arco superior e inferior apresentavam um apinhamento na região anterior. No exame extrabucal, percebeu-se que a mesma apresentava boa simetria facial, perfil reto (Figura 2), padrão facial mesocefálico e vedamento labial em repouso. A análise cefalométrica inicial apontou um SNA diminuído, com valor de 76º. C Figura 2 – Fotografia extrabucal inicial de perfil. Figura 3 – Telerradiografia lateral inicial. Oliveira scs, Santana VC, Almeida LP. Figura 1 (A-C) – Fotos intrabucais iniciais: A) lateral direita, B) oclusal superior e C) lateral esquerda. 232 Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. A B C Relato de caso / Case report Figura 4 (A-C) – Fotos intrabucais pós-disjunção: A) lateral direita, B) oclusal superior e C) lateral esquerda. Figura 5 – Fotografia extrabucal final de perfil. Figura 6 – Telerradiografia lateral final. Plano de tratamento A partir dos dados clínicos e radiográficos, foi planejado o tratamento com o uso do disjuntor do tipo Haas para descruzar a mordida posterior com ativações diárias de 2/4 de volta duas vezes dia, num total de 10 dias. Associado a ele, utilizou-se uma máscara facial com uma força de 600g por, aproximadamente, 16 horas ao dia, num total de 10 meses para auxiliar no descruzamento da mordida cruzada anterior. Após esse período, obteve a correção da relação anteroposterior. Foram feitas análises fotográficas, como no estudo de Schiavinato et al.³1 (2010), onde enfocaram que este é o meio de diagnóstico mais acessível e não expõe o indivíduo a um potencial de radiação nociva. Para o tratamento utilizou-se o disjuntor de Haas que causou aumento das dimensões transversais do arco dentário superior liberando força contra a face palatina dos dentes superiores6,7. Machado et al.²¹ (2006) relataram que há controvérsias quanto ao emprego dos tipos de aparelhos para a realização da expansão rápida da maxila e que diversos tipos e desenhos são apresentados na literatura, contudo, todos se constituem basicamente de um parafuso expansor colocado transversalmente à abóbada palatina, diferindo somente quanto ao tipo de ancoragem utilizada. Pinto et al.24 (2006) e Ferreira et al.¹¹ (2007), em seus estudos, ressaltaram que os aparelhos para expansão da maxila podem ser utilizados para corrigir mordidas cruzadas posteriores uni ou bilaterais que envolvam vários Discussão O diagnóstico e avaliação do tratamento da paciente foram realizados não só pela análise clínica, mas também por modelos de estudo e telerradiografias em norma lateral4,7. Uma minuciosa anamnese também foi realizada, concordando com Figueiredo et al.¹² (2007), onde enfatizaram a importância dela para o sucesso do tratamento ortodôntico da mordida cruzada posterior. 233 Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. 5º, foi observado ao final do tratamento¹. Scavini et al.29 (2006) relataram que quando se fala de disjunção palatina, também é preciso expor fatores que possam impedir a realização da mesma, como casos de maxila com dimensão transversal normal; casos de discrepância anteroposterior em idade avançada, casos de má oclusão com indicação cirúrgica e, por fim, má colaboração do paciente. O avanço do ponto A também foi observado ao final do tratamento da paciente¹. Além desses fatores, muitos autores4,12,17,31 relataram que o uso dessa técnica com o aparelho de Haas causa um efeito ortodôntico de movimentação dentária posterior para vestibular, rotacionando a mandíbula e causando efeitos indesejáveis, principalmente para pacientes com face longa e mordida aberta. Mesmo sendo aparelhos com recobrimento oclusal, segundo Bramante et al.5 (2002), não trazem maiores benefícios quando se refere à rotação mandibular e altura da face anterior, havendo um aumento significante dessas medidas, diferindo de Faltin et al.10 (1999), que afirmaram em seus estudos que com o aparelho com recobrimento oclusal não foi notado qualquer alteração na profundidade facial e no ângulo mandibular. O aumento da largura do arco inferior, muitas vezes, também é observado após disjunção maxilar, sem que esse arco sofra qualquer mecânica1,12,29. Conclusão Através dos artigos revisados e discutidos pode-se perceber que a parcela de pacientes portadores de mordida cruzada posterior é grande. A etiologia desta má oclusão é multifatorial, podendo ser tanto por hábitos ou obstrução das vias aéreas superiores, como por fatores traumáticos. É de grande importância um correto diagnóstico e a partir daí aplicar um plano de tratamento ideal para cada paciente. O profissional deverá adaptar a técnica que melhor se enquadre no problema do paciente, considerando as atresias, que podem ser dentárias, dentoalveolares ou esqueléticas. O caso clínico apresentado neste trabalho mostrou a possibilidade de tratamento da mordida cruzada posterior com disjuntor de Haas em pacientes jovens, favorecendo a correção transversal da maxila. Referências 1. 2. 3. 4. Albuquerque RR, Eto LF. Previsibilidade de sucesso na disjunção palatina avaliada pelo estágio de maturação esquelética. Estudo piloto. Rev. Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2006; 11(2):74-86. Almeida MAO, Quintão CCA, Bunharo IMVP, Koo D, Coutinho BR. A correção da mordida cruzada posterior unilateral com desvio funcional melhora a assimetria facial? Rev. Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2009; 14(2):89-94. Araújo MA, Meloti AF, Mundstock KS, Barreto GM, Pinto AS. Efeitos esqueléticos e dentários de correntes da expansão rápida da maxila. Ortod. SPO 2010; 43(2):135-40. Barreto GM, Gandini Jr LG, Raveli DB, Oliveira CA. Avaliação Oliveira scs, Santana VC, Almeida LP. dentes. Pinto et al.24 (2006) ressaltaram, ainda, que os aparelhos podem ser usados quando a discrepância na largura entre os primeiros molares e pré-molares superiores e inferiores for maior que 4 mm. Em pacientes jovens, como a apresentada neste artigo, a expansão rápida da maxila pode ser implementada por meio do aparelho disjuntor que, dentre outros, pode ser de dois tipos: Hyrax e Haas, para propiciar a separação da sutura palatina decorrente de ativações regulares até alcançar a expansão desejada, a qual é confirmada com o diastema entre os incisivos centrais4,6,11,14. Sustentado por alguns autores6,28, o aparelho dentomucossuportado, utilizado neste caso clínico, tenta dividir a força entre os dentes e a porção palatina da maxila com o acréscimo de acrílico no palato, porém com a gengiva marginal aliviada. Outros autores28 concluíram que o Hyrax é o aparelho expansor de escolha para a técnica cirúrgica em pacientes submetidos à expansão cirúrgica, porém em casos de deficiência maxilar severa associada a avançada recessão gengival, perda óssea alveolar, mobilidade e ausências dentárias póstero superiores, o aparelho Haas é o mais indicado. Alguns estudos4,12,18 concluíram que a expansão rápida da maxila com aparelho Hyrax provocou efeitos ortopédicos, aumentando a largura da base maxilar e efeitos ortodônticos com a inclinação dos molares superiores para vestibular. Além disso, a largura da cavidade nasal aumentou em todos os pacientes26,31. A idade mais adequada para aplicar o método expansão maxilar é o período puberal, sendo mais facilmente obtida até os 13 anos de idade, mas pode ser verificadas em jovens de até 18 anos27. Porém, Carlini et al.7 ( 2007) afirmaram que expansão ortocirúgica é recomendada em pacientes com idade acima de 16 anos com discrepância transversa da maxila de 5 mm ou mais. Rossi et al.27 (2009) afirmaram que embora em adultos, após a expansão palatal, o ganho esquelético seja pequeno, a expansão alveolar pode ser uma alternativa para aumentar a largura do palato e promover a intercuspidação posterior ao final do tratamento ortodôntico corretivo, se ocorrer a abertura da sutura palatina mediana. Entretanto, a decisão de qual abordagem utilizar, nas mais diferentes situações de atresia maxilar, está na dependência de alguns fatores, sendo que nenhum deles deve ser analisado de forma isolada. Albuqerque et al.1 (2006) em seus estudos, concluíram que a disjunção palatina em pacientes com maturação esquelética avançada continua sendo um procedimento incerto e sujeito a danos periodontais em casos de insucesso. A separação da sutura palatina mediana e o surgimento de diastema interincisivos obtidos após a disjunção realizada na paciente condizem com os relatos encontrados na literatura5,20,27. O avanço do ponto A auxiliado, também, pela máscara facial, com um ganho 234 Orthod. Sci. Pract. 2015; 8(30):227-234. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. Relato de caso / Case report 22. 23. 24. transversal e vertical da maxila, após expansão rápida, utilizando um método de padronização das radiografias anteroposteriores. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. Facial 2005; 10(6):91-102. Bramante FS, Almeida RR. Alterações dentoesqueléticas verificadas por telerradiografias iniciais e 3 meses após a utilização do aparelho expansor maxilar com cobertura oclusal. J Bras. Ortod. Ortop. Facial. 2002; 7(39):202-216. Capelozza L, Silva OG. Expansão rápida da maxila: considerações gerais e aplicações clínicas. Parte I. Rev. Dental Press Ortod. Ortop. Facial. 1997; 2(3):88-102. Carlini JL., Biron C, Gomes KV, Gebut A, Strujak G. Correção das deficiências transversas e anteroposteriores da maxila em pacientes adultos. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. 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