Controle da vaquinha do feijoeiro com o inseto triturado

Revista Agroecologia Hoje, n. 4, pág. 22, 2003.
Controle da vaquinha do feijoeiro com o inseto triturado
por SUELI SOUZA MARTINEZ
A vaquinha do feijoeiro (Diabrotica speciosa) é um
besourinho crisomelídeo com aproximadamente 6 mm de
comprimento, corpo verde, cabeça castanha e manchas
amarelas nas asas. Os ovos são colocados no solo, onde as
larvas
se
desenvolvem,
alimentando-se
de
raízes,
principalmente de gramíneas, como o milho, a aveia, a cevada
e outros. Os adultos migram para as leguminosas, onde se
alimentam das folhas. No feijoeiro, os principais danos são
sentidos durante os 15 primeiros dias após a emergência das plantas, quando elas apresentam poucas
folhas e os insetos consomem também o broto apical, causando sua morte.
O controle químico da vaquinha no feijoeiro, além de ecologicamente indesejável, mostra-se
insatisfatório. Como as migrações de adultos para a cultura são a principal forma de infestação e isso se
dá de forma continuada, as populações eliminadas pelos inseticidas são rapidamente substituídas.
Uma opção eficiente para controlar as vaquinhas, de baixo custo e completamente atóxica para o
ambiente e as pessoas que o manipulam, é a pulverização da lavoura infestada com uma solução de
adultos de vaquinha triturados. Essa técnica, provavelmente aplicável também ao controle de outras
pragas, baseia-se na simples coleta de adultos, trituração em água, filtragem, diluição em água e
pulverização na lavoura, obtendo-se drástica redução da população infestante após cerca de 24h.
Embora a razão dessa ação ainda não tenha sido totalmente esclarecida, eu acredito que esteja
relacionada ao mecanismo hormonal do inseto que controla a sua migração de um local para outro e sua
distribuição na lavoura. Como os adultos migram para as leguminosas, é provável que essa migração seja
controlada também por substâncias químicas, ou feromônios. No caso das vaquinhas, a distribuição dos
adultos na lavoura do feijão segue um padrão levemente agregado, ou seja, os insetos se distribuem em
pequenos grupos. Isso sugere a existência de um feromônio de agregação. Para alguns insetos, como o
percevejo da soja, Nezara viridula, o mesmo feromônio que causa agregação das ninfas (formas jovens)
em baixas concentrações pode causar sua dispersão em altas concentrações. Assim, é possível que a
trituração dos adultos libere algum feromônio que o inseto utiliza em pequenas quantidades para
agregação, causando a dispersão das vaquinhas que se encontram na área. Estudos mais aprofundados
ainda são necessários para comprovar essa hipótese.
Revista Agroecologia Hoje, n. 4, pág. 22, 2003.
Para preparar o triturado, os adultos podem ser coletados diretamente da lavoura infestada. A
vaquinha tem maior atividade depois das 15:00h. Assim, se for coletar diretamente das folhas da planta, é
aconselhável que isso se faça no período da manhã. A coleta à tarde deve ser feita com rede ou puçá.
Os adultos frescos podem ser triturados com água, de preferência em liquidificador, para maior
eficiência.Os insetos vivos podem ser colocados no congelador por cerca de 2h antes da trituração, para
facilitar a operação. A mistura triturada deve ser filtrada em tecido fino. 0 líquido filtrado deve ser
posteriormente diluído em água e pulverizado na lavoura. Indica-se no mínimo 700 vaquinhas por ha (ou
7 g de vaquinhas), em 160 L de água, o que dá uma concentração de 0,0045%. Se for possível, pode-se
acrescentar espalhante adesivo. A pulverização dessa solução em faixas de um metro também se mostrou
eficiente, o que permite a economia de 50% do triturado. É mais comum se observar a redução da
população no dia seguinte à aplicação. Concentrações mais elevadas podem causar melhores efeitos. É
importante se acompanhar a ocorrência de novas infestações posteriores mas, de modo geral, o controle
da vaquinha permanece pelo período mínimo de uma semana.
Para facilitar a utilização dessa técnica, a coleta das vaquinhas adultas pode ser feita com iscas à
base de cucurbitácias. As plantas dessa família apresentam substâncias atraentes para diversos tipos de
besouros crisomelídeos. Pode-se utilizar a cabaça, pedaços de frutos de abóbora ou mesmo ramos de
taiuiá. Há várias espécies de taiuiás, que são plantas nativas não comestíveis, da família das cucurbitácias,
que atraem vaquinhas (Fig. 1). A utilização dessas iscas pode ser um fator adicional de redução das
infestações.
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